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1)Caracterizar Síndrome Nefrótica e diferenciar de síndrome nefrítica 2)Caracterizar fisiopato do edema na síndrome nefrótica 3)Caracterizar a diálise e suas indicações 4)Diferenciar Insuficiência Renal Aguda/Crônica (classificação) 1) SÍNDROME NEFRÓTICA Definição: síndrome caracterizada pela presença de edema devido a hipoalbuminemia secundária a proteinúria. Na prática, a albuminemia costuma ser inferior a 3,0 g/dL e a proteinúria superior a 3,0 g/24h; não são constituintes essenciais da definição hiperlipidemia (aumento de colesterol e triglicerídeos) e lipidúria, embora em geral também estejam presentes. Epidemio A síndrome nefrótica acomete tanto adultos quanto crianças, sendo causada por doenças primariamente renais (síndrome nefrótica idiopática ou primária) ou por diversas outras doenças (síndrome nefrótica secundária). A síndrome nefrótica primária ou idiopática é a mais frequente tanto em adultos quanto em crianças. Em adultos, apenas 20%-25% dos casos são de síndrome nefrótica secundária (diabetes melito, lúpus eritematoso sistêmico, amiloidose, infecções bacterianas e virais, neoplasias, medicamentos, entre outros). As doenças renais que causam síndrome nefrótica primária são glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), glomerulonefrite membranosa idiopática (GNMI), alterações glomerulares mínimas (AGM), glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) e mais raramente glomerulonefrite por IgA (GNIgA). Segundo dados internacionais, os principais tipos histológicos de glomerulonefrite que se manifestam por síndrome nefrótica primária em adultos são GESF (35%) e GNMI (33%)(4). Atualmente, a GESF mostra uma incidência crescente e suplantou a da GNMI conforme relatado em algumas séries de casos. Nas fases iniciais da síndrome nefrótica, as principais complicações são infecções, trombose venosa ou arterial e insuficiência renal aguda. Pacientes que não respondem ou não utilizam os protocolos de tratamento específicos da glomerulonefrite podem permanecer durante meses ou anos em “estado nefrótico” sob risco de desenvolver tais complicações. Adicionalmente, outras complicações podem ocorrer, como hiperlipidemia, desnutrição, insuficiência renal crônica pela má evolução da glomerulonefrite, alteração de várias funções endócrinas e distúrbios hidroeletrolíticos, entre outras(6,7). As principais infecções bacterianas que acometem pacientes nefróticos são peritonite espontânea, infecções cutâneas e pneumonia(1,2). Complicações tromboembólicas, principalmente trombose venosa, são vistas em até 40% dos pacientes adultos(7). As mais frequentes são trombose de veia renal (29%), tromboembolia pulmonar (17%-28%) e trombose venosa profunda de membros inferiores (11%), podendo ocorrer ainda em outros leitos vasculares. A trombose arterial também se verifica em adultos, sendo o acidente vascular cerebral isquêmico uma complicação com elevada morbimortalidade(8). Em adultos, a presença de síndrome nefrótica aumenta o risco de doença arterial coronariana em quatro vezes em relação a controles pareados para idade e sexo(9). Insuficiência renal nos pacientes com síndrome nefrótica pode ocorrer de forma aguda ou em função da evolução progressiva da doença renal intrínseca. Entre as possíveis causas de insuficiência renal aguda encontram-se hipovolemia, que pode ser devida ao uso de diuréticos, emprego de medicamentos nefrotóxicos e, mais raramente, trombose de veias renais(10). A evolução para insuficiência renal crônica (IRC) depende do tipo histológico da doença primária renal e da resposta ao tratamento. Em torno de 50% dos pacientes com GESF ou GNMP evoluem para IRC em 10 anos, havendo ainda a possibilidade de recorrência nos pacientes submetidos a transplante renal(11,12). Nos casos de GNMI, observa-se remissão espontânea em 20%-30% dos casos e outros 20%-40% evoluem para IRC em 5 a 10 anos. O tipo AGM raramente evolui para IRC progressiva(11, 12). Entretanto, independentemente do tipo histológico, pacientes com proteinúria nefrótica (acima de 3,5 g/dia) têm risco 35% maior de evoluir para IRC em 2 anos quando comparados a pacientes com proteinúria não nefrótica (abaixo de 2,0 g/dia), nos quais o risco é de apenas 4%. A lesão estrutural do rim é atribuída à passagem das proteínas pelo mesângio glomerular e pelo interstício renal que, associado a alterações da hemodinâmica glomerular, a secreção de citocinas e a fatores de crescimento, resulta em glomeruloesclerose, fibrose intersticial e atrofia tubular progressivas(13). A identificação dos fatores etiológicos e da doença em seu estágio inicial e o encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado dão à Atenção Básica um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos. Investigação Definição: síndrome caracterizada pela presença de edema devido a hipoalbuminemia secundária a proteinúria. Na prática, a albuminemia costuma ser inferior a 3,0 g/dL e a proteinúria superior a 3,0 g/24h; não são constituintes essenciais da definição hiperlipidemia (aumento de colesterol e triglicerídeos) e lipidúria, embora em geral também estejam presentes. Deve-se avaliar a presença e extensão do edema, assim como caracterizá-lo (locais e horários de surgimento ou agravamento, tempo de instalação, outras). Uma vez constatadas as alterações urinárias que levam à suspeita do quadro, a investigação deve ser completada com a determinação de creatinina sérica, das proteínas séricas (proteínas totais e frações ou eletroforese) e proteinúria de 24 horas, assim como pela realização de um exame ultra-sonográfico renal. Uma vez feito o diagnóstico da síndrome nefrótica em si, deve-se proceder à investigação etiológica, que terá implicações na conduta terapêutica. Os exames a serem feitos com esse objetivo incluem: 1 - hemograma 2 - glicemia 3 - exame de fezes: pacientes com esquistossomose podem apresentar lesão glomerular com síndrome nefrótica; se os antecedentes para esquistossomose forem positivos e o exame de fezes não demonstrar a presença de ovos de S. mansoni, deve-se fazer biópsia de valva retal na tentativa de estabelecer esse diagnóstico 4 - pesquisa de anticorpos antinucleares 5 - sorologia para hepatites B e C; 6 - reação sorológica para sífilis, não só para diagnóstico de sífilis em si, mas ressaltando-se a aplicação do VDRL (falso-positivo) como indício de lúpus eritematoso sistêmico; 7 - pesquisa de anticorpos anti-HIV, em pacientes pertencentes a grupo de risco para síndrome de imunodeficiência adquirida; 8 - exames específicos para outras doenças infecciosas com base na suspeita clínica. 9 - avaliação dirigida a neoplasias: neoplasia é uma possibilidade a ser aventada, particularmente em pacientes idosos, mas a extensão da investigação deve ser julgada criteriosamente. Diagnóstico O diagnóstico de síndrome nefrótica é feito por critérios clínicos, laboratoriais e por exame histopatológico de material de biópsia renal. Em adultos, uma análise clínica e laboratorial criteriosa permite diagnosticar até 25% dos casos como síndrome nefrótica secundária(1,2,6). 4.1 DIAGNÓSTICO CLÍNICO O achado clínico mais característico é edema, que se apresenta inicialmente de forma insidiosa, evoluindo posteriormente para edema generalizado. Na fase inicial, algumas manifestações clínicas decorrem de complicações comuns, como perda aguda da função renal, fenômenos tromboembólicos e infecções(6). Na avaliação inicial, a história e o exame clínico bem elaborados permitem levantar suspeitas de potenciais causas secundárias, como diabetes, lúpus, infecções virais ou bacterianas, uso de medicamentos, neoplasias, etc. 4.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL - Proteinúria nefrótica: excreção urinária acima de 3,5 g de proteína por 1,73 m2 de superfície corporal em 24 horas ou acima de 50 mg/kg de peso em 24 horas. A relação proteína/creatinina em amostra aleatória de urina igual ou acima de 3 tem sensibilidade em torno de 90%, em qualquer nível de função renal, para o diagnóstico de “proteinúria nefrótica”(14-17). - Hipoproteinemia:albumina sérica abaixo de 3 g/dl. - Dislipidemia: elevação dos níveis de colesterol total ou do colesterol de baixa densidade (LDL) ou de triglicerídios, presente na grande maioria dos pacientes nefróticos. - Diagnóstico histopatológico: em todos os casos de síndrome nefrótica primária e na maioria dos casos de síndrome nefrótica secundária, a punção biópsia renal percutânea deve ser feita, pois o exame histopatológico define, além da etiologia, o planejamento terapêutico e o prognóstico. 4.3 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Outros exames são necessários para excluir condições ou doenças sistêmicas subjacentes, como diabetes melito, hepatites virais, soropositividade para HIV, sífilis e colagenoses, como lúpus eritematoso sistêmico, crioglobulinemia e vasculites sistêmicas ANCA positivas (granulomatose de Wegener, poliarterite microscópica). Como o diagnóstico definitivo da glomerulopatia é estabelecido pelo exame histopatológico de material obtido por biópsia renal, é necessária a realização de hemograma, de provas de coagulação e de exame de imagem renal pré-biópsia. O exame comum de urina é fundamental para estabelecer a atividade da doença. Seguemse os exames que contemplam o diagnóstico daquelas condições ou doenças: hemograma, plaquetas, creatinina sérica, glicemia, exame comum de urina, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial, anti-HIV, HBsAg, anti-HCV, VDRL, fator antinuclear, anti-DNAds, complemento (C3, C4), crioglobulinas, anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (ANCAc e ANCAp) e ultrassonografia renal. 5 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos neste Protocolo os pacientes que apresentarem os dois seguintes critérios: - síndrome nefrótica definida pela presença de edema, dislipidemia e excreção urinária acima de 3,5 g de proteína por 1,73 m2 de superfície corporal em 24 horas ou acima de 50 mg/kg de peso em 24 horas ou índice proteína/creatinina (IPC) em amostra aleatória de urina acima de 3; e - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), glomerulonefrite membranosa idiopática (GNMI), alterações glomerulares mínimas ou lesões mínimas (AGM), glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) ou glomerulonefrite por IgA (GNIgA). Para o uso de ciclofosfamida e de ciclosporina serão necessários apresentar, também, um dos seguintes critérios abaixo: Para uso de ciclofosfamida(18-25): - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) ou alterações glomerulares mínimas (AGM) com pelo menos um dos seguintes: ocorrência de recidivas frequentes, dependência do uso de corticosteroides, resistência ou intolerância ao tratamento inicial com prednisona conforme Tabela 1. - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomerulonefrite membranosa idiopática (GNMI) em pacientes com médio ou alto risco de progressão para insuficiência renal, isto é, proteinúria de 24 horas igual ou acima de 4 e 8 g respectivamente(23); - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) e uma forma rapidamente progressiva da glomerulonefrite (declínio de mais de 50% da taxa de filtração glomerular, ao longo de dias ou semanas, geralmente em associação a manifestações de síndrome nefrítica aguda)(25); ou - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de nefropatia por IgA e uma forma rapidamente progressiva da glomerulonefrite (conforme acima).(25) Para uso de ciclosporina (21, 23-26): - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) ou alterações glomerulares mínimas (AGM) com dependência ou resistência, ou efeitos colaterais como uso de corticosteroides, ou com recidivas frequentes (ver Tabela 1.); - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomerulonefrite membranosa idiopática (GNMI) em pacientes com médio ou alto risco de progressão para insuficiência renal, isto é, proteinúria de 24 horas igual ou acima de 4 e 8 g respectivamente (23, 25-28); ou - diagnóstico histopatológico (de material de biópsia renal) de glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) e resistência ao tratamento com prednisona (25); 6 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão excluídos deste Protocolo os pacientes que apresentarem uma das condições abaixo. Para uso de prednisona e metilprednisolona: - Hipersensibilidade ou contraindicações a prednisona ou - Impossibilidade de adesão e de acompanhamento contínuo. Para uso de ciclosporina: - Neoplasia maligna em atividade; - Hipertensão arterial não controlada; - Taxa de filtração glomerular abaixo de 40 ml/min /1,73 m2 de superfície corporal; - Hipersensibilidade ou contraindicações a ciclosporina; ou - Impossibilidade de adesão e de acompanhamento contínuo. Para uso de ciclofosfamida: - Gestação; - Qualquer uma das evidências de disfunção da medula óssea: a) contagem de leucócitos abaixo de 3.000/mm3; b) neutrófilos abaixo de 1.500/mm3; ou c) plaquetas abaixo de 100.000/mm3; - Hipersensibilidade ou contraindicações aos medicamentos; ou - Impossibilidade de adesão e de acompanhamento contínuo. Medidas gerais para controle e tratamento 1 – Dieta: Muitos pacientes com síndrome nefrótica voltam a apresentar uma diurese satisfatória após repouso no leito e restrição leve de sódio. A dieta do paciente com síndrome nefrótica que mantém função renal normal deve ser hipossódica e normoprotéica. A ingestão de líquidos deve ser controlada. 2 - Restauração do volume extracelular: Já que o volume plasmático pode estar contraído, os diuréticos devem ser usados com cautela para evitar hipotensão e insuficiência renal aguda. São mais efetivos, nessa condição, os diuréticos de alça. Eventualmente é necessário usar uma combinação de diuréticos para obter o efeito desejado (por exemplo, diuréticos que atuem em dois sítios diferentes, como clortalidona e furosemida). Pacientes em anasarca podem requerer a administração endovenosa de diuréticos de alça, às vezes associada ao uso de expansores plasmáticos. Infusões de albumina permitem aumentar a pressão oncótica do plasma transitoriamente e, podem, dessa maneira, expandir o volume plasmático, aumentando a eficácia dos diuréticos utilizados. Pelo fato de a maior parte da albumina ser excretada para a urina nas 24 a 48 horas que se sucedem à sua administração, esse tratamento deve ser reservado para aqueles pacientes com evidências clínicas de depleção profunda do volume intravascular. 3 - Prevenir complicações imediatas e tardias 4 - Controle rigoroso da pressão arterial 5 - Limitar progressão para insuficiência renal crônica (IRC): medidas de renoproteção. 6 - Avaliar o risco do uso de drogas imunossupressoras no caso em questão versus medidas preventivas que podem ser instituídas TRATAMENTO SÍNDROME NEFRÓTICA Tratamento Específico das Glomerulopatias que se apresentam predominantemente com síndrome nefrótica de acordo com os tipos histológicos Tratamento de Doença de Lesões Mínimas (DLM) (Recomendações baseadas sobretudo em estudos feitos em crianças) Tratamento de escolha: corticoterapia O tratamento de primeira escolha para DLM é prednisona VO (Grau A), na dose de 1mg/kg/dia (máximo de 80 mg/dia), por até 16 semanas em adultos (Grau C). Pacientes que apresentam recidiva após o tratamento inicial, devem ser tratados com prednisona VO Pacientes que recidivam freqüentemente deveriam ser tratados com um dos seguintes esquemas (1) ciclofosfamida – 2 mg/kg/dia, 8 semanas (Grau A) ou (2) c l o r a m b u c i l – 0,1-0,2 mg/kg/dia, 8 semanas (Grau A) o u (3) prednisona (novamente) (Grau D) ou (4) prednisona em dias alternados por tempo prolongado (Grau D) Pacientes com DLM córtico-dependentes deveriam ser tratados com (1) ciclofosfamida - 2 mg/kg/dia – 12 semanas (Grau A) ou (1) CsA – 4-5 mg/kg/dia para adultos (Grau A), por tempo não-definido (Córtico-dependência é definida como 2 recidivas consecutivas que ocorrem durante o tratamento ou nos 14 dias que se seguem à conclusãoda corticoterapia. O uso repetido ou prolongado de corticóide nos recivantes freqüentes ou córtico-dependentes associa-se ao risco de efeitos colaterais como retardo de crescimento, osteoporose, obesidade e catarata. Agentes alquilantes e CsA são efetivos em situações de córtico-dependência e produzem remissão mais prolongada() As seguintes opções podem ser consideradas: (1) Ciclofosfamida – 2 mg/kg/dia – 12 semanas (Grau D); (2) CsA – 4-5 mg/kg/dia para adultos, por tempo não definido (Grau D) Proposta de algoritmo de tratamento de DLM O curso da doença é variável. Os pacientes que não respondem a tratamento tendem a evoluir para insuficiência renal crônica, num percentual de casos que varia de 30 a 63%. Os pacientes não-tratados apresentam uma evolução semelhante à dos que não respondem a tratamento. São considerados como fatores de mau prognóstico: • Creatinina sérica inicial aumentada; • Fibrose intersticial; • Hipertensão arterial sistêmica; • Proteinúria de nível nefrótico; • Ausência de resposta a tratamento. Não há achados clínicos ou histológicos definitivos capazes de prever a resposta a tratamento. SÍNDROME NEFRÍTICA D e f i n i ç ã o: caracteriza-se por início súbito de hematúria, proteinúria, oligúria, hipertensão arterial sistêmica e déficit de função renal, embora não seja essencial que todas essas alterações ocorram simultaneamente; está sempre presente a hematúria, associada a pelo menos uma das outras anormalidades. Edema pode estar presente em grau variável. Trata-se de síndrome de expansão do volume extracelular, incluindo-se o compartimento intravascular. Investigação proposta em caso de suspeita de síndrome nefrítica aguda e possíveis achados: • Urina I: hematúria macro ou microscópica com dismorfismo eritrocitário; se proteinúria presente, fazer determinação em 24h: proteinúria pode estar presente, mas geralmente é menor do que 3,0 g/dia. • Creatinina sérica: pode ou não estar aumentada. • Complemento: diminuição de CH50 e C3. • Pesquisa de doenças de base – vide investigação de glomerulonefrite rapidamente progressiva 2) Fisiopatologia do edema nefrótico A integridade anatômica e a presença do poliânion glomerular, constituído por substâncias com cargas negativas como as sialoglicoproteínas, fazem da membrana capilar do glomérulo uma barreira eficiente à passagem de proteínas plasmáticas, com peso molecular acima de 70 kd, para o espaço de Bowman. Os diafragmas das células epiteliais (slit pores) da camada externa da membrana têm poros retangulares e constituem um filtro adicional à passagem de proteínas com peso molecular superior a 150 kd (1). Existem duas hipóteses para explicar a formação do edema nefrótico, o mecanismo clássico de enchimento incompleto (underfilling) e o de enchimento demasiado (overflow ou overfilling), descrito posteriormente (1,2). No mecanismo de underfilling ocorrem em seqüência hipoalbuminemia, redução da pressão oncótica que em determinado nível provoca hipovolemia, ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAA), retenção de sódio e formação de edema (5). No mecanismo de overflow (figura 1) não há hipovolemia e o componente determinante do edema é a intensa retenção de sódio (e não a hipoalbuminemia) que ocorre em nível de túbulo distal. Um estado de resistência à ação do peptídeo natriurético atrial (PNA) parece ser o principal fator associado ao balanço positivo de sódio, que acarreta um aumento do volume plasmático e da filtração glomerular, levando ao edema (6). Diversas evidências têm sido descritas contra a existência do mecanismo de hipovolemia como causa do edema na SN (1,5). Em crianças, a hipovolemia é mais comum (7), mas em adultos predomina a normo ou a hipervolemia (8), o que é mais consistente com o aumento do PNA observado no mecanismo de overfilling. Igualmente, o bloqueio do eixo RAA não desencadeia natriurese, o que deveria ocorrer se a retenção de sódio estivesse associada ao sistema RAA (1). Está bem estabelecido que a retenção de sódio ocorre na fase inicial da SN, e que precede a hipoalbuminemia e a redução da pressão oncótica. Neste período, a quantidade de sódio excretada na urina é muito baixa, em níveis que variam de 10 a 20 mEq/dia (0,5 a 1,0 grama) (1). Este balanço positivo de sódio se traduz clinicamente por edema e aumento de peso, e a magnitude da retenção de sódio apresenta maior correlação com o grau de proteinúria do que com o volume intravascular ou com o nível de albumina sérica (9). Adicionalmente, na fase inicial de remissão da SN, ocorre natriurese antes da reversão da proteinúria, o que é mais compatível com uma retenção primária de sódio pelo rim. Em crianças, entretanto, a hipovolemia estabelecese nas fases iniciais da SN, quando a perda urinária de albumina excede a capacidade de mobilização de albumina do extravascular e também de sua síntese hepática (1,7). Tratamento do edema nefrótico O edema nefrótico somente será controlado se obtivermos um balanço negativo de sódio com o uso racional e judicioso de dieta hipossódica e de diuréticos. A indução de balanço negativo de sódio com diuréticos é extremamente facilitada pelo uso de dietas com 2 a 3 gramas de sal por dia (1). Em alguns pacientes, o edema pode ser discreto, sem ascite ou derrame pleural e, nestes casos, podem ser suficientes uma restrição moderada de sódio (aproximadamente 4 gramas de sal por dia) e o uso de diuréticos tiazídicos (4). O efeito diurético do furosemide é dependente da ligação da droga a um transportador específico de sódio localizado na alça de Henle, resultando em inibição deste. Como 90% do furosemide se liga às proteínas, atinge a luz tubular por secreção a nível de túbulo proximal, e não por filtração glomerular (9). Esse fármaco tem uma meia-vida curta, e o seu efeito diurético dura de 6 a 8 horas em pacientes com função renal normal.Nos pacientes com SN e diminuição da função renal, ocorre uma importante redução da resposta diurética, menor excreção urinária da droga e um aumento de seu período de ação (10). A hipoalbuminemia diminui a secreção tubular do furosemide; como conseqüência, há redução de seu efeito natriurético. A ação diurética também é limitada por sua ligação com as proteínas tubulares, mas este efeito pode ser inibido pela administração concomitante de warfarin ou sulfisoxazole (11,12). Em pacientes com função renal normal, a dose inicial de furosemide é de 40 mg endovenoso (EV) ou 80 mg via oral (VO). Se houver edema severo, inicia-se com administração EV; se houver insuficiência renal, a dose pode ser dobrada. Caso não se obtenha uma resposta satisfatória, a dose inicial pode ser repetida até 3 ou 4 vezes por dia. Doses de furosemide entre 160 e 240 mg por dia podem ser necessárias em pacientes com filtração glomerular (FG) entre 20 e 50ml/min. Se houver insuficiência renal avançada (FG < 20ml/min) podemos utilizar doses de 360 a 400mg por dia (10). Na maioria dos pacientes, a redução do edema deve ser lenta e gradual. O melhor parâmetro para a avaliação da resposta terapêutica é o controle diário do peso, o qual deve ser reduzido em 0,5 a 2,0 kg por dia (1). Perdas de peso maiores do que esta podem causar ou acentuar a hipovolemia, desencadear insuficiência renal e hemoconcentração, aumentando o risco de tromboembolismo. Pacientes nefróticos com edema refratário Alguns pacientes permanecem edemaciados apesar das medidas citadas anteriormente. As causas da resistência ao tratamento diurético podem ser divididas em 3 grupos: a) fatores relacionados ao pacientes; b) alterações farmacocinéticas; e c) alterações farmacodinâmicas, como mostra a tabela 3. Dentre as causas relacionadas ao paciente estão a não adesão à dieta hipossódica, dose e/ou freqüência de administração do diurético inadequadas e o uso concomitante de drogas que antagonizam a ação diurética (9). Uma vez que o furosemide tem duração de ação de 6 a 8 horas, o mesmo deve ser usado em 2 a 3 doses diárias (1). Drogas, como a fenitoína, os antiinflamatórios não esteróides (AINEs) e os agentes uricosúricos(como a indometacina e o probenecide) antagonizam o efeito dos diuréticos de alça, devendo-se avaliar a possibilidade de suspensão dessas drogas. As alterações farmacocinéticas incluem: 1) diminuição da biodisponibilidade devido à menor absorção gastrintestinal pelo edema da mucosa e ao aumento do metabolismo não renal; 2) aumento do volume de distribuição devido à hipoalbuminemia; 3) ligação do furosemide à albumina na luz tubular, competindo com a ligação à molécula alvo, o co-transportador Na/K/2Cl (12,13). Por exemplo, se a concentração de albumina urinária exceder 4g/l, 66% do diurético que alcança o fluido tubular estará ligado à albumina; consequentemente, serão necessárias doses 2 a 3 vezes maiores do que as usuais para se obter quantidades adequadas do fármaco no sítio de ação (10). A ligação do furosemide à albumina pode ser inibida com a administração concomitante de warfarin ou sulfisoxazole (12), porém em um ensaio clínico randomizado (14) não houve benefício do uso concomitante de sulfisoxazole com o furosemide. Para pacientes com edema refratário aos esquemas terapêuticos citados, alguns autores sugerem a expansão do volume plasmático com albumina humana (200 ml de albumina a 20% durante 60 minutos, seguido de 80 a 160 mg de furosemide EV). No entanto, o efeito na excreção de sódio é modesto e transitório (15), já que toda a albumina infundida é excretada em 24 a 48 horas.Além disso, a infusão de colóide pode provocar um aumento súbito na pressão arterial e desencadear edema pulmonar agudo em pacientes já hipervolêmicos (1). As alterações farmacodinâmicas envolvidas na resistência aos diuréticos incluem: 1) hiporresponsividade tubular intrínseca que pode ocorrer em alguns pacientes; 2) adaptação do néfron distal pelo uso crônico de diuréticos de alça (hipertrofia reabsortiva); e 3) diminuição da FG, quando então menos sódio será filtrado e menos diurético será secretado (9,13). A efetividade dos diuréticos de alça está diretamente relacionada à quantidade de sua excreção na urina, e não aos níveis séricos (9). Nos pacientes com função renal normal, 50% da dose é excretada na urina em 24 horas, enquanto que nos pacientes com insuficiência renal, esta quantidade é aproximadamente de 10%. As alterações na farmacodinâmica podem ser corrigidas pelo aumento da concentração do diurético no fluido tubular, administrando-se doses maiores, tanto por via oral quanto parenteral (9). A hipertrofia reabsortiva pode ser contrabalançada com o uso concomitante de diuréticos com ação no túbulo distal, como a hidroclorotiazida. É importante salientar que tal regime pode provocar hipocalemia, podendo-se então associar diuréticos poupadores de potássio. Quando a FG é inferior a 30 ml/min, prefere-se a infusão contínua de um diurético de alça como o furosemide, que parece ser superior à administração oral e endovenosa em bolus (9,16). A associação de diuréticos com ação em diferentes sítios do néfron, como os tiazídicos (túbulo distal) e os diuréticos de alça (alça ascendente de Henle), potencializa o efeito natriurético e pode controlar o edema em casos severos e refratários, mesmo quando a filtração glomerular está abaixo de 30 ml/min (9,10). 3) INDICAÇÕES DE TRANSPLANTE RENAL (Diálise) Recomendação O transplante renal está indicado quando houver insuficiêcia renal crônica em fase terminal, estando o paciente em diálise ou mesmo em fase pré-dialítica (pré-emptivo)1,2(B)3(C). Comentários O transplante renal é uma importante opção terapêutica para o paciente com insuficiência renal crônica, tanto do ponto de vista médico quanto social ou econômico. Ele está indicado quando houver insuficiência renal crônica em fase terminal, estando o paciente em diálise ou mesmo em fase prédialítica (pré-emptivo), considerando-se clearance de creatinina < 20 ml/min/1,73m2 superfície corporal. O transplante renal pré-emptivo pode ser oferecido para todos os candidatos a transplante renal, mas particularmente para pacientes diabéticos (para reduzir a incidência de complicações vasculares, cardíacas, oculares e neurológicas próprias do diabetes) e em crianças (para se evitar prejuízo no crescimento, osteodistrofia renal e, principalmente, pelas dificuldades dialíticas)1,2(B)3(C). CONTRA-INDICAÇÕES PARA O TRANSPLANTE RENAL Recomendações • Poucas são as contra-indicações para transplante renal. Os critérios absolutos incluem as seguintes situações: Pacientes portadores de neoplasias malignas (ou já tratados, com menos de 2 anos de seguimento)4(C). Pacientes portadores de doença pulmonar crônica avançada(D); Pacientes portadores de doença cardíaca grave sem indicação de tratamento cirúrgico ou intervencionista(D); Pacientes portadores de vasculopatia periférica grave, com sinais clínicos evidentes de insuficiência vascular periférica ou com estudo de doppler mostrando lesões graves em artérias ilíacas(D); Pacientes portadores de cirrose hepática5(D). Como critérios relativos de contra-indicação para transplante renal são consideradas as seguintes situações: Pacientes portadores de sorologia positiva para HIV6-8(D); Pacientes portadores de oxalose primária9-10(C); Pacientes com idade maior que 60 anos com cateterismo e/ou mapeamento cardíaco alterados; Pacientes portadores de diabetes mellitus com cateterismo e/ou mapeamento cardíaco alterados ou doppler de artérias ilíacas demonstrando arteriopatia moderada; Pacientes portadores de doença neuropsiquiátrica; Pacientes portadores de anomalias urológicas e/ou disfunção vesical grave. • Poderão ser aceitos após estudo clínico e cirúrgico do caso: Crianças com peso inferior a 8 kg poderão ser aceitas após estudo clínico e cirúrgico do caso; Obesidade mórbida; Ausência de suporte familiar ou pessoal para aderência ao tratamento, pelas condições sociais, de vida e de moradia. • As seguintes situações são consideradas critérios de exclusão temporária: Pacientes portadores de infecção em atividade ou com tratamento incompleto; Transfusão sangüínea recente (< 15 dias); Perda recente de enxerto por causa imunológica; Úlcera gastroduodenal em atividade; Pacientes portadores de glomerulonefrites ou vasculites em atividade. Comentários Nos dias de hoje, poucas são as contra-indicações para o transplante renal. A idade do paciente não constitui mais contra-indicação, como ocorria até alguns anos atrás, pois já foram realizados transplantes em recém-nascidos, inclusive em prematuros, o que também por ser realizada em pacientes selecionados com idade superior a 70 anos. A contra-indicação de transplante renal em pacientes portadores de neoplasia maligna baseia-se no risco aumentado de metástases potencialmente induzido pela imunossupressão9(C). O transplante só será considerado se não houver nenhuma evidência de persistência do câncer. O tempo de espera recomendado entre o tratamento do tumor e o transplante dependerá do tipo de câncer. Neoplasia renal não constitui uma contra-indicação absoluta para o transplante. A conduta, nestes casos, deve tratar o tumor e aguardar dois anos. Se não houver recidiva, pode-se transplantar sem maiores riscos. Pacientes portadores de doença pulmonar crônica avançada ou de doença cardíaca grave ou vasculopatia periférica grave não têm indicação de transplante renal devido à gravidade da doença de base, que implica em falta de condições clínicas para o procedimento anestésico, cirúrgico e de imunossupressão. Em pacientes portadores de hepatopatia, a presença de cirrose hepática contra-indica o transplante renal isolado. Uma alternativa de tratamento constitui o transplante duplo de fígado e rim, particularmente nos casos de hepatite por vírus C6(B). A presença de sorologia positiva para HIV já foi considerada contra-indicação absoluta para o transplante renal6(D). No entanto, em casos de pacientes HIV⊕ recebendo terapia anti-viral específica, com carga viral indetectável, níveis adequados de CD4 e sem sinais de doença, o transplante renal pode ser discutido como alternativa de terapia renal substitutiva7,8(B). Oxalose primáriaé uma doença metabólica que sempre recidiva no enxerto, mas não é mais considerada uma contra-indicação para o transplante renal, uma vez que existem esquemas terapêuticos profiláticos ou mesmo a associação com transplante hepático com bons resultados. Medidas terapêuticas que previnem a deposição de oxalato incluem: diálise pré-operatória para depletar o pool de oxalato; após o transplante, forçar diurese, administrar piridoxina (que diminui o oxalato por aumentar a conversão de glioxilato para glicina)10(D); no entanto, a terapêutica de escolha é o transplante duplo fígado-rim, pois correlaciona-se com melhores resultados em termos de sobrevida do enxerto, segundo estudo multicêntrico9(C). Pacientes com infecção aguda devem ser excluídos do transplante até a recuperação completa do quadro pelos riscos causados pela imunossupressão. Do mesmo modo, tuberculose em atividade deve ser eficientemente tratada11(C) e recomenda-se profilaxia com isoniazida nos primeiros seis meses póstransplante12(B). Pacientes com doença renal aguda ou em atividade como a glomerulonefrite rapidamente progressiva, nefropatia lúpica, vasculites, ou portadores de glomeruloesclerose focal de evolução rápida devem ser transplantados numa fase de inatividade da doença. 4) CONCEITO DE INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA) IRA é definida como a redução aguda da função renal em horas ou dias. Refere-se principalmente a diminuição do ritmo de filtração glomerular e/ou do volume urinário, porém, ocorrem também distúrbios no controle do equilíbrio hidro-eletrolítico e ácidobásico. Existem na literatura mais de 30 definições de IRA. A utilização de diferentes definições dificulta a comparação de estudos, a análise da evolução destes pacientes, bem como, a comparação de diferentes estratégias terapêuticas e de tratamentos dialíticos. Recentemente, uma rede internacional de especialistas propôs uma nova definição e classificação de IRA, a fim de uniformizar este conceito para efeitos de estudos clínicos e principalmente, prevenir e facilitar o diagnóstico desta síndrome, na tentativa de diminuir a alta morbidade e mortalidade ainda encontrada nos dias atuais. Um grupo multidisciplinar internacional (AKIN) propõe a seguinte classificação baseada na dosagem sérica da creatinina e no volume urinário (Tabela 1): CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DA IRA 1. IRA PRÉ-RENAL – Este quadro ocorre devido à redução do fluxo plasmático renal e do ritmo de filtração glomerular. Principais causas: hipotensão arterial, hipovolemia (hemorragias, diarréias, queimaduras). Observações complementares no diagnóstico de IRA pré-renal: a) oligúria não é obrigatória b) idosos podem ter a recuperação após 36h da correção do evento - aguardar 48h c) NTA por sepse, mioglobinúria e por contraste podem ser não-oligúricas e nos casos de oligúria, podem apresentar FENa < 1% e/ou FEU < 35% d) diuréticos podem aumentar a FENa na IRA pré renal - usar FEU < 35% 2. IRA RENAL (Intrínseca ou estrutural) – A principal causa é a necrose tubular aguda (NTA isquêmica e/ou tóxica). Outras causas: nefrites tubulo-intersticiais (drogas, infecções), pielonefrites, glomerulonefrites e necrose cortical (hemorragias ginecológicas, peçonhas). Situações especiais comuns: a) NTA SÉPTICA (associada a duas ou mais das seguintes condições de SIRS) temperatura > 38o C ou < 36o C frequência cardíaca > 90 bpm frequência respiratória > 20 ipm PaCO2 < 32 mmhg leucócitos > 12.000 ou < 4.000 mm3 mais de 10% de bastões ou metamielócitos foco infeccioso documentado ou hemocultura positiva b) NTA NEFROTÓXICA uso de nefrotoxina em tempo suficiente níveis séricos nefrotóxicos precedendo a ira ausência de outras causas possíveis reversão após a suspensão da nefrotoxina recidiva após a reinstituição e.g. são não-oligúricas c) IRA POR GLOMERULOPATIAS Exame de urina I com proteinúria e proteinúria acima de 1g/dia hematúria com dismorfismo eritrocitário positivo ou cilindros hemáticos no sedimento urinário biópsia renal positiva d) IRA POR NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA manifestações periféricas de hipersensibilidade febre e rash cutâneo ou eosinofilia uso de droga associada a NIA – Por ex., penicilinas, cefalosporinas, quinolonas, alopurinol, cimetidina, rifampicina forte suspeita clínica patologias frequentemente associadas: leptospirose, legionella, sarcoidose biópsia renal positiva e) IRA VASCULAR dor lombar hematúria macroscópica contexto clínico predisponente ICC, estados de hipercoagulação, vasculites, síndrome nefrótica evento cirúrgico precipitante confirmação com exame de imagem cintilografia compatível Tomografia ou angioressonância magnética arteriografia compatível f) EMBOLIZAÇÃO POR COLESTEROL evento precipitante até 30 dias manipulação de grandes vasos. QUADRO CLÍNICO História Clínica – É importante para estabelecer a causa subjacente (diminuição do volume extracelular, drogas, contrastes radiológicos, sepse), os fatores de risco (idade, disfunção renal prévia, co-morbidades) e a gravidade da IRA. Manifestações clínicas específicas são incomuns, mas febre, mal estar, “rash” cutâneo e sintomas musculares ou articulares podem estar associados a nefrites intersticiais, vasculites ou glomerulonefrites. Dor lombar ou supra-púbica, dificuldade de micção, cólica nefrética e hematúria podem sugerir IRA pósrenal. Exame físico – Sinais e sintomas da IRA dependem da causa e do grau de comprometimento da função renal, sendo frequentemente inespecíficos e mascarados pela doença de base. A observação de sinais de hipovolemia e hipotensão arterial ou sinais de obstrução do trato urinário auxiliam o diagnóstico diferencial de IRA pré ou pós-renal. Devem-se procurar sinais associados com a etiologia e complicações da IRA. A presença de livedo reticular e micro-infartos digitais podem sugerir doença renal ateroembólica. Pacientes com dispnéia, ortopnéia, edema, turgência jugular e estertoração pulmonar podem estar hipervolêmicos, enquanto aqueles com fraqueza muscular ou paralisia ascendente podem estar com hiperpotassemia. A Tabela 2 descreve as principais manifestações órgão-específicas encontradas em pacientes com IRA CLASSIFICAÇÃO DA IRA QUANTO A DIURESE i. anúrica total: 0-20 ml/dia ii. anúrica: 20 a 100 ml /dia iii. oligúrica: 101 a 400 ml /dia iv. não-oligúrica: 401 a 1200 ml/dia v. poliúrica: 1201 a 4000 ml/dia vi. hiperpoliúrica: > 4000 ml DIAGNÓSTICO LABORATORIAL - 1. Sangue: Elevação de escórias nitrogenadas (uréia, creatinina, ácido úrico), acidose metabólica, hipo ou hipernatremia, hiperpotassemia, hipo ou hipercalcemia e hiperfosfatemia e anemia normocítica e normocrômica. Deve-se utilizar o clearance estimado de creatinina para o estabelecimento do nível real da função renal. Pode-se utilizar duas fórmulas para a estimativa do RFG: - Cockcroft & Gault – Clearence de Cr (ml/min) = (140-idade) x Peso / (72 x Cr) Sexo feminino = clearance x 0,85 Idade: anos; peso: kg; Cr plasmática: mg/dL - MDRD simplificada (Levey) – Clearance de Cr (ml/min) = 186 x Cr-1,154 x idade-0,203 Sexo feminino = clearance x 0,742 Negros = clearance x 1,21 2. Urina: Avaliação de osmolalidade, sódio, creatinina, uréia e sedimento urinário. 3. Exames de Imagem: ultra-sonografia com doppler (tamanho, forma, ecogenicidade, simetria, número de rins, obstrução/estenose vascular e uropatia obstrutiva). Exames contrastados devem ser evitados, inclusive os exames de ressonância magnética nuclear devido ao risco de Fibrose Nefrogênica Sistêmica. 4. Biópsia renal: Indicada apenas em casos selecionados. Estes incluem a causa desconhecida para o quadro, evolução atípica e/ou prolongada, suspeita de nefrite intersticial, necrose cortical, doença ateroembólica, glomerulonefrites agudas ou rapidamente progressivas e vasculites. V) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL – IRA PRÉ RENAL VS. RENAL (NTA) Quadro Clínico – Sintomas e Sinais de hipovolemia, hipotensão arterial ou desidratação. Índices de função tubular que podem auxiliar no diagnóstico diferencial (Tabela 3) Tabela 3 – Diagnóstico diferencial dasoligúrias Índice IRA Pré-renal NTA Osmolaridade urinária > 500 mOsm < 350 mOsm Osmolaridade urinária/ plasmática > 1,3 < 1,1 Creatinina urinária / plasmática > 40 < 20 Sódio urinário < 20 mEq/l > 40 mEq/l Excreção fracional de sódio (%) Excreção fracional de uréia (%) < 1 < 35 > 3 >35 Dentre os índices tradicionais, a FeNa apresenta o melhor desempenho, mas é falseada por diversas situações prevalentes em pacientes com IRA, incluíndo a ausência de oligúria, presença de disfunção hepática, uso de diuréticos de alça, manitol, contraste radiológico ou excreção de elevada carga osmolar por aporte dietético. Nestes casos, a fração de excreção da uréia (FeU), calculada como [(uréia urinária / uréia plasmática) / (creatinina urinária / creatinina plasmática)] x 100 (%), pode ser utilizada para o diagnóstico diferencial da IRA pré-renal versus parenquimatosa em pacientes com doença crítica. Embora pouco utilizados, deve-se considerar que existem sérios problemas potenciais na ressuscitação de pacientes sépticos que podem ser prevenidos pela utilização judiciosa dos índices urinários. Em pacientes oligúricos, com FeNa ou FeU elevadas, a ressuscitação volêmica forçada não tem a capacidade de melhorar a função renal e pode resultar em edema pulmonar, hipóxia, necessidade de ventilação mecânica e síndrome de desconforto respiratório. Por fim, deve ter em mente que nenhum dos índices oferece discriminação perfeita. Estes testes devem ser considerados como ferramentas auxiliares que não substituem as informações complementares fornecidas pela história, exame físico e exame do sedimento urinário. V) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL – IRA VS. IRC Perda de função renal lenta e progressiva, presença de sinais e sintomas de uremia avançada (anemia, coloração amarelo-palha, sintomas neurológicos e digestivos) são sugestivos de IRC. Cilindros largos no sedimento urinário também sugerem IRC. Antecedentes de HA, diabetes, nefropatias, doença vascular podem auxiliar, mas também são causas predisponentes para IRA agudizada (que se desenvolve em pacientes com algum comprometimento prévio da função renal). Em caso de dúvida persistente, a ultra-sonografia pode mostrar rins contraídos ou hipercogênicos na IRC e rins de aspecto normal ou aumentado na IRA. A exceção é a nefropatia diabética que podem evoluir para IRC com preservação do aspecto renal sonográfico próximo da normalidade VII) PREVENÇÃO DA IRA Existem situações clínicas em que é previsível a possibilidade de lesão renal, tais como, no uso de drogas nefrotóxicas, cirurgias de grande porte, quadros infecciosos sistêmicos graves e liberação de pigmentos (mioglobina, hemoglobina, bilirrubina). Nestas situações é possível prevenir ou ao menos amenizar a gravidade da insuficiência renal. 1. Estabeleça o nível basal de função renal por dosagem de creatinina sérica ou depuração de creatinina. Lembre-se que a dosagem de creatinina é um marcador pouco sensível de função renal, isto é, pacientes com creatinina sérica menor do que 1,5 mg/dl podem estar com reduções significativas da filtração glomerular. Pacientes com creatinina elevada apresentam maior possibilidade de desenvolver lesão renal após procedimentos de risco ou uso de drogas nefrotóxicas. Deve-se utilizar o clearance estimado de creatinina para o estabelecimento da função renal. 2. Otimize as condições clínicas do paciente. A medida mais importante é assegurar que o volume intravascular esteja convenientemente expandido. Mantenha pressão arterial média acima de 80 mmHg (ou mais, se o paciente for hipertenso), hematócrito acima de 30% e oxigenação tecidual adequada. 3. Em doentes sob terapia intensiva e mantidos com drogas vasoativas é particularmente difícil estimar a adequação do volume intravascular. Nesses casos, pode ser preciso utilizar medidas complementares para avaliação da volemia. Estas incluem a pressão venosa central, a saturação venosa de oxigênio, ecocardiografia e testes dinâmicos de volemia como a variação da pressão de pulso (deltaPP) após infusão rápida ou elevação passiva dos membros inferiores. 4. Evite o uso de drogas nefrotóxicas em pacientes com função renal já comprometida. Corrija as doses das drogas de acordo com a função renal, mantenha o paciente adequadamente hidratado e monitorize a função renal. Evite associação de drogas nefrotóxicas. 5. Não utilize diuréticos de alça para prevenção de nefrotoxicidade. 6. Em caso de mioglobinúria e hemoglobinúria, o uso de solução salina expansora, bicarbonato de sódio e manitol reduzem a prevalência e a gravidade da lesão renal. VIII) TRATAMENTO CLÍNICO 1. Assegure-se que o volume intravascular esteja expandido. Mantenha pressão arterial média acima de 80 mmHg, hematócrito acima de 30% e oxigenação tecidual adequada. 2. Evite hiperhidratação, que poderá causar edema, hipertensão, insuficiência cardíaca e hiponatremia. IRA é um processo hipercatabólico e um paciente que não estiver perdendo ao redor de 300 g de peso corporal por dia quase certamente está em balanço positivo de água. Lembre-se que o melhor parâmetro para diagnosticar precocemente hiperhidratação é o peso diário. 3. Previna hipercalemia diminuindo a ingestão de potássio e evite drogas que interfiram com a sua excreção. Trate agressivamente hipercalemias graves ou sintomáticas através de infusão endovenosa de cálcio, soluções polarizantes (glicose e insulina), uso de agonistas ß2, correção da acidose, resinas de troca iônica e hemodiálise. 4. Tome precauções extremas contra processos infecciosos. Evite antibioticoterapia desnecessária, quebras da barreira cutâneo-mucosa (sondas, cateteres, etc) e pesquise cuidadosamente a presença de focos infecciosos. A maior causa de mortalidade em pacientes com IRA é septicemia. 5. Nutra o paciente. Tente obter o balanço nitrogenado menos negativo possível através da administração de uma relação calórico/protéica adequada. Evite restrições alimentares severas. Se a sobrecarga de volume for um problema não contornável clinicamente, inicie diálise precocemente ou a intensifique. IX) TRATAMENTO DIALÍTICO - INDICAÇÕES DE DIÁLISE NA IRA Existem situações onde o tratamento dialítico (hemodiálise, diálise peritoneal e hemofiltração) é emergencial por haver um risco iminente para a vida do paciente. Entretanto, a melhor conduta é prevenir a necessidade de diálise de urgência pela prática da indicação precoce de diálise antes do surgimento do quadro de uremia franca e/ou de complicações clínicas, metabólicas e eletrolíticas. As principais indicações dialíticas são: - Hiperpotassemia – acima de 5,5 meq/L com alterações ao ECG ou maior que 6,5 meq/L - Hipervolemia: edema periférico, derrames pleural e pericárdico, ascite, hipertensão arterial e ICC - Uremia: sistema nervoso central (sonolência, tremores, coma e convulsões) 4. Tome precauções extremas contra processos infecciosos. Evite antibioticoterapia desnecessária, quebras da barreira cutâneo-mucosa (sondas, cateteres, etc) e pesquise cuidadosamente a presença de focos infecciosos. A maior causa de mortalidade em pacientes com IRA é septicemia. 5. Nutra o paciente. Tente obter o balanço nitrogenado menos negativo possível através da administração de uma relação calórico/protéica adequada. Evite restrições alimentares severas. Se a sobrecarga de volume for um problema não contornável clinicamente, inicie diálise precocemente ou a intensifique. IX) TRATAMENTO DIALÍTICO - INDICAÇÕES DE DIÁLISE NA IRA Existem situações onde o tratamento dialítico (hemodiálise, diálise peritoneal e hemofiltração) é emergencial por haver um risco iminente para a vida do paciente. Entretanto, a melhor conduta é prevenir a necessidade de diálise de urgência pela prática da indicação precoce de diálise antes do surgimento do quadro de uremia franca e/ou de complicações clínicas, metabólicas e eletrolíticas. As principais indicações dialíticas são: - Hiperpotassemia – acima de 5,5 meq/L com alterações ao ECG ou maior que 6,5 meq/L - Hipervolemia: edemaperiférico, derrames pleural e pericárdico, ascite, hipertensão arterial e ICC - Uremia: sistema nervoso central (sonolência, tremores, coma e convulsões) TUTORIA 2 1)Descrever protocolo de dor torácica (“ ”). 2)Descrever aneurisma da aorta ( fisiopato, etiologia, diagnóstico, QC, classificação, prgnóstico, tratamento, complicações). 3)Descrever dissecção de aorta (“ ”). DOR (DESCONFORTO) TORÁCICA É importante estruturar a avaliação diagnóstica inicial e o rastreamento dos pacientes com dor torácica aguda em três categorias: (1) isquemia miocárdica; (2) outras causas cardiopulmonares (doença pericárdica, emergências aórticas e condições pulmonares); e (3) causas não cardiopulmonares. Causas de dor torácica: Graves: dissecção aguda de aorta, o tromboembolismo pulmonar (TEP), o pneumotórax hipertensivo, o tamponamento cardíaco, a ruptura e a perfuração esofagiana Cardiopulmonar: Cardíaco: Condição: Isquemia miocárdica • Início/duração: Angina estável: Precipitada por exercício, frio ou estresse; 2-10 min Angina instável: Padrão de aumento em repouso Infarto do miocárdio: Em geral > 30 min • Qualidade: Pressão, aperto, compressão, peso, queimação • Localização: Retroesternal; em geral se irradia para o pescoço, a mandíbula, os ombros ou braços; às vezes epigástrica • Características associadas: Galope B4 ou sopro de regurgitação mitral (raro) durante a dor; B3 ou estertores se houver isquemia grave ou complicação de infarto do miocárdio Condição: Pericardite • Início/duração:Variável; horas a dias; pode ser episódica • Qualidade:Pleurítica, aguda • Localização:Retroesternal ou em direção ao ápice cardíaco; pode irradiar para o ombro esquerdo • Características associadas:Pode ser aliviada se o paciente sentar-se ereto e inclinar-se para frente; som de atrito pericárdico Vascular Condição: Síndrome aórtica aguda • Início/duração:Início súbito de dor que não é aliviada • Qualidade:Lacerante ou lancinante; em facada • Localização:Tórax anterior, frequentemente irradiando-se para as costas, entre as omoplatas • Características associadas: Associada a hipertensão e/ou distúrbio subjacente do tecido conectivo; sopro de insuficiência aórtica; perda de pulsos periféricos Condição: Embolia pulmonar • Início/duração: Início súbito • Qualidade: Pleurítica; pode manifestar-se com embolia pulmonar maciça • Localização: Frequentemente lateral, no lado da embolia • Características associadas: Dispneia, taquipneia, taquicardia e hipotensão Condição: Hipertensão pulmonar • Início/duração: Variável; em geral com exercício • Qualidade: Pressão • Localização: Subesternal • Características associadas: Dispneia, sinais de aumento da pressão venosa Pulmonar Condição: Pneumonia ou pleurite • Início/duração: Variável • Qualidade: Pleurítica • Localização: Unilateral, frequentemente localizada • Características associadas: Dispneia, tosse, febre, estertores, às vezes atrito Não cardiopulmonar: Gastrintestinal Condição: Refluxo esofágico • Início/duração: 10-60 min • Qualidade: Queimação • Localização: Subesternal, epigástrica • Características associadas: Agravada por decúbito pós-prandial; aliviada por antiácidos Condição: Espasmo esofágico • Início/duração: 2-30 min • Qualidade: Pressão, aperto, queimação • Localização: Retroesternal • Características associadas: Pode imitar bastante bem a angina Condição: Úlcera péptica • Início/duração: Prolongada; 60-90 min após as refeições • Qualidade: Queimação • Localização: Epigástrica, subesternal • Características associadas: Aliviada por alimentos ou por antiácidos Condição: Doença na vesícula biliar • Início/duração: Prolongada • Qualidade: Intensa ou em cólica • Localização: Epigástrica, quadrante superior direito; às vezes para as costas • Características associadas: Pode seguir-se a uma refeição Neuromuscular Condição: Costocondrite • Início/duração: Variável • Qualidade: Intensa • Localização: Esternal • Características associadas: Às vezes edema, sensibilidade, calor sobre a articulação; pode ser reproduzida por pressão localizada ao exame Condição: Doença discal cervical • Início/duração: Variável; pode ser súbita • Qualidade:Intensa; pode incluir obnubilação • Localização: Braços e ombros • Características associadas: Pode ser exacerbada pela movimentação do pescoço Condição: Trauma ou estiramento • Início/duração: Geralmente constante • Qualidade: Intensa • Localização: Localizada na área de estiramento • Características associadas: Reproduzida por movimento ou à palpação Condição: Herpes-zóster • Início/duração: Geralmente prolongada • Qualidade: Aguda ou em queimação • Localização: Distribuição por dermátomo • Características associadas: Exantema vesicular na área do desconforto Condição: Transtornos emocionais ou psiquiátricos • Início/duração: Variável; pode ser transitória ou prolongada • Qualidade: Variável; em geral se manifesta como aperto e dispneia com sensação de pânico ou desespero • Localização: Variável; pode ser retroesternal • Características associadas: Fatores situacionais podem precipitar os sintomas; história de crises de pânico, depressão Pode ser o resultado de dois mecanismos: 1. Fibras somáticas: por exemplo, inervação de pele, estruturas superficiais e pleura parietal 2. Fibras viscerais: por exemplo, coração, esôfago e pleura visceral ¬ Causas Os cinco principais grupos de etiologias de dor torácica, por ordem decrescente de prevalência, são as causas musculoesqueléticas, gastrointestinais, cardíacas, psiquiátricas e pulmonares. Além da Síndrome Coronária Aguda (SCA), algumas se destacam por seu caráter potencialmente fatal, como a dissecção aguda de aorta, o tromboembolismo pulmonar (TEP), o pneumotórax hipertensivo, o tamponamento cardíaco, a ruptura e a perfuração esofagiana Diagnóstico diferencial A caracterização precisa da dor torácica é fundamental para o diagnóstico diferencial. As características essenciais são: início e duração do sintoma, qualidade, localização, irradiação, intensidade, (Figura 1) fatores desencadeantes, fatores de alívio, sintomas associados e evolução no tempo. (Figura 2) Na Tabela 2 são apresentadas e esquematizadas as características da dor torácica nas diferentes etiologias. Objetivo principal do atendimento ao paciente com dor torácica: excluir imediatamente as causas que implicam em risco iminente de morte através da medida de sinais vitais, como: frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória e oximetria de pulso para a identificação da presença ou não de instabilidade hemodinâmica e/ou de insuficiência respiratória. Para os pacientes fora do contexto de risco de morte, é necessária a caracterização detalhada da dor, a avaliação dos fatores de risco para doença arterial coronária (DAC) (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia, tabagismo, obesidade, história familiar precoce para DAC, antecedentes de procedimento de revascularização miocárdica [angioplastia e / ou cirurgia]) e a realização de exame físico dirigido. Classificação o quanto à probabilidade da dor torácica ser origem isquêmica: Dor Tipo A (definitivamente anginosa): dor em aperto ou queimação, em repouso, ou desencadeada pelo esforço ou estresse, com irradiação para o ombro, mandíbula ou face interna do braço, aliviada pelo repouso ou nitrato. Não são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. Dor Tipo B (provavelmente anginosa): as características da dor torácica fazem da insuficiência coronária a principal hipótese, porém, são necessários exames complementares para a definição diagnóstica. Dor Tipo C (possivelmente anginosa): dor torácica cujas características não fazem da insuficiência coronária a principal hipótese (dor torácica atípica), porém, são necessários exames complementares para excluí-la. Dor Tipo D (definitivamente não anginosa): dor torácica atípica, cujas características não incluem a insuficiência coronária aguda no diagnóstico diferencial. Da mesmaforma, para identificar se pacientes com dor torácica aguda no Pronto-Socorro apresentam sintoma de origem isquêmica, na Tabela 4 tem-se a probabilidade dos sinais e sintomas representarem uma SCA secundária a DAC obstrutiva. Com a suspeita diagnóstica inicial elaborada por meio da história clínica e do exame físico, utiliza-se dos exames complementares para confirmação diagnóstica e/ou estratificação do risco para eventos adversos em curto prazo. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Para auxiliar os médicos da emergência na escolha da hipótese diagnóstica e na decisão da melhor estratégia terapêutica, foi desenvolvido o escore HEART.O escore HEART facilmente identifica a probabilidade de eventos adversos (morte, infarto, revascularização miocárdica urgente [angioplastia ou cirurgia]), no período de seis meses após a apresentação, auxiliando na triagem de pacientes com dor torácica aguda na emergência. Os pacientes com escore de 0 a 3 pontos apresentam chance de 1,6% de experimentarem um evento adverso; para aqueles com escore de 4 a 6 pontos uma chance 13%; e para os com pontuação 7 ou mais, 50% de chance de apresentarem um evento adverso. Com o escore HEART é possível imediatamente identificar os pacientes elegíveis para alta hospitalar sem a necessidade de testes adicionais ou procedimentos invasivos. Exames complementares Eletrocardiograma: O ECG deve ser realizado e analisado em até 10 minutos do primeiro contato médico. São necessários ECGs seriados, com o objetivo de aumentar a sensibilidade para a presença de alterações isquêmicas, conforme a necessidade. (No contexto clínico de SCA, a elevação do segmento ST medida a partir do ponto J, é considerada sugestiva de oclusão arterial coronária aguda nas seguintes apresentações: presença do supradesnível do segmento ST ≥ 2,5mm em homens com idade inferior a 40 anos, ≥ 2mm em homens com 40 anos ou mais, ou ≥ 1,5mm em mulheres nas derivações V2–V3 e / ou ≥ 1mm em outras derivações, na ausência de hipertrofia ventricular esquerda ou bloqueio de ramo esquerdo. A presença do bloqueio de ramo esquerdo “novo” ou “presumivelmente novo” na presença de sintomas típicos também deve ser interpretada como IAM por oclusão arterial aguda, podendo ser levados em consideração os critérios de Sgarbossa que, quando igual ou maior que três pontos apresentam 90% especificidade e 36% de sensibilidade para o diagnóstico de IAM com supradesnível do segment ST. Elevação concordante de ST com QRS ≥ 1 mm= 5 pontos Infradesnível do segmento ST ≥ 1 mm em derivação V1, V2, or V3= 3 pontos. Elevação discordante do segmento ST com QRS ≥ 5 mm= 2 pontos. Dentro ainda do contexto de SCA, o ECG pode apresentar alterações isquêmicas, como o infradesnível dinâmico do segmento ST e/ou inversão das ondas T, que implicariam em risco aumentado de complicações cardiovasculares. O ECG também pode ser uma importante ferramenta para o diagnóstico diferencial das causas cardíacas de dor torácica, como o achado de supradesnível difuso do segmento ST na pericardite, baixa voltagem e/ou alternância elétrica no derrame pericárdico e a taquicardia sinusal e sinais de sobrecarga ventricular direita do TEP). Radiografia de Tórax: É importante salientar que um ECG normal reduz sensivelmente a probabilidade de IAM, porém, não a exclui. Cerca de 6% dos pacientes que procuram a unidade de emergência com um ECG normal, irão apresentar IAM, não descartando, portanto, a possibilidade de etiologia cardiogênica da dor torácica, onde o quadro clínico deve sempre prevalecer. A sensibilidade do ECG inicial para o IAM é de 45% a 60% quando se utiliza o supradesnível do segmento ST como critério diagnóstico. Dessa forma, metade dos pacientes com IAM não é diagnosticada com um único ECG, sendo importante a realização de forma seriada. Tomografia de tórax e angiotomografia de coronárias: A tomografia de tórax é um exame mais sensível e mais específico que a radiografia de tórax para o diagnóstico de doenças pleurais, do parênquima e da vasculatura pulmonar. Auxilia no diagnóstico diferencial da dissecção aguda da aorta, do TEP e de doenças pulmonares (pneumotórax, pneumonia). A angiotomografia de coronárias é capaz, de forma não invasiva, de avaliar a anatomia coronária por meio de sua análise luminal e parietal, identificando a presença de placas ateroscleróticas e classificando o seu grau de estenose. Esse exame possui alta acurácia na identificação de estenoses coronárias significativas (≥ 50%), apresentando elevados valores preditivos negativos e positivos, sendo hoje bem difundido em nosso meio, e fazendo parte da triagem de pacientes com dor torácica aguda nas unidades de emergência dos hospitais de referência em cardiologia. Portanto, tem sua indicação nas unidades de emergência como um dos métodos diagnósticos em pacientes com suspeita de SCA com risco baixo e tendo a vantagem de rápida aquisição das imagens e de não ser necessário tempo adicional após a estratificação de risco para a sua realização. Ecocardiograma: O ecocardiograma é um exame com boa indicação nos pacientes com suspeita de derrame pericárdico, valvopatias, cardiomiopatia hipertrófica, dissecção aguda da aorta, (Figura 7) embolia pulmonar e hipertensão pulmonar, tendo pouca utilidade na emergência para os pacientes com SCA, exceto em situações em que as alterações isquêmicas ao ECG são mascaradas como, por exemplo, na presença de bloqueio de ramo esquerdo ou ritmo de marcapasso. Nesses casos, a alteração da mobilidade segmentar miocárdica “nova” pode sugerir IAM atual. Porém, o ecocardiograma pode ser utilizado nas SCAs para avaliar a etiologia isquêmica da dor torácica, para investigar isquemia induzida por estresse em pacientes em que foram excluídos o IAM e a isquemia em repouso, para avaliação prognóstica e na suspeita de complicações das SCAs. Teste Ergométrico: O teste ergométrico é recomendado nas unidades de dor torácica como exame complementar seguro em pacientes de riscos baixo, com o objetivo de investigar a isquemia induzida por estresse. Apresenta importante valor diagnóstico e prognóstico.10 É um exame simples, amplamente disponível, de baixo custo e de alto valor preditivo negativo (> 95%) para eventos cardíacos adversos.11,13 Portanto, pode ser realizado nos pacientes com dor torácica possivelmente anginosa ou mesmo nos pacientes com SCA estratificados inicialmente como de baixo risco, cujo resultado normal confere um risco menor que 2% de eventos cardiovasculares em um ano. Para a sua realização devem ser afastadas as situações de risco moderado a alto, doenças agudas da aorta, TEP, miocardite e pericardite. Entre as condições necessárias para a realização do exame incluem: ausência de sintomas e alterações eletrocardiográficas sugestivos de isquemia miocárdica nas últimas 24 horas, presença de pelo menos duas amostras seriadas de marcadores de necrose miocárdica negativas. Marcadores de Necrose Miocárdica: A necrose do músculo cardíaco promove a liberação de enzimas e proteínas estruturais dos miócitos que podem ser quantificadas por técnicas específicas no sangue dos pacientes com IAM.10 Os principais marcadores séricos de necrose miocárdica são a mioglobina, a creatinoquinase isoenzima MB (CK-MB), a CK-MB massa e as troponinas I e T.11 As diretrizes brasileiras e americanas recomendam a utilização das troponinas I e T e, se não disponível, a CK-MB massa para o diagnóstico de IAM ou para o diagnóstico de reinfarto em decorrência da sua normalização mais precoce. Portanto, as troponinas T e I são os marcadores laboratoriais mais sensíveis e específicos de lesão miocárdica. Em média, a troponina T tem sensibilidade de 96,9% e especificidade de 94,5% para o diagnóstico de IAM. Já a CK-MB massa pode ser uma alternativa às troponinas cardíacas, quando da não disponibilidade destas. Os marcadores de necrose miocárdica devem ser solicitados em todos os pacientes com suspeita de SCA e repetidos entre seis e 12 horas. A elevação de tais marcadores não é exclusiva dos casos de IAM, mas também pode estar presente nas situaçõesque cursam com injúria miocárdica de outra natureza, tais como taquiarritmias, miocardite, insuficiência cardíaca, pós-ressuscitação cardiopulmonar, trauma torácico, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar. Na Tabela 6 apresenta-se a cinética dos marcadores de necrose miocárdica. A radiografia de tórax tem importância para o diagnóstico diferencial da dor torácica (dissecção da aorta, TEP, pneumotórax e pneumomediastino) e na identificação de complicações do IAM.10 (Figura 4) Portanto, tem sua maior utilidade no diagnóstico diferencial de dor torácica não isquêmica e pode sugerir a presença de pneumonia, pneumotórax, derrame pleural, derrame pericárdico, embolia pulmonar e hipertensão pulmonar. ANEURISMA DA AORTA Define-se como aneurisma da aorta a dilatação de um ou mais segmentos da aorta envolvendo todas as suas camadas ou seja, intima, média e adventícia. Na prática considera-se aneurisma quando o diâmetro da aorta for duas vezes maior do que seu tamanho normal. Deve-se diferenciar os aneurismas das ectasias aórticas nas quais o vaso é dilatado uniformemente assumindo o aspecto alongado e fusiforme caracterizando as dolico-mega aortas. Estas têm prognóstico mais favorável e não exigem os mesmos critérios de conduta cirúrgica como nos aneurismas. A incidência de aneurismas da aorta torácica atinge de seis a oito indivíduos em cada 100 mil pacientes por ano sendo 50% dos casos na aorta ascendente, 10% na croça e os 40% restantes na descendente. Não temos dados nacionais como referência, mas seguramente a detecção dos casos vem aumentando em função da melhora dos métodos diagnósticos assim como o aumento da população idosa. Pacientes com aneurismas não tratados seguem o curso natural que invariavelmente acabam na ruptura quando não falecem antes por comorbidades como doença coronariana, acidente vascular cerebral ou doença renal associadas.Os recursos terapêuticos cirúrgicos e endovasculares que passaram a ser utilizados nas últimas décadas com melhores resultados e menor risco, modificaram consideravelmente a conduta e permitiram maior e melhor expectativa de vida.Vamos dividir arbitrariamente para fins didáticos a aorta torácica em três segmentos: ascendente, croça e descendente por apresentarem características distintas quanto à conduta, anatomia e seleção de procedimento cirúrgico O aneurisma é definido como uma dilatação patológica segmentar de um vaso sanguíneo. Um aneurisma verdadeiro envolve as três túnicas da parede vascular, sendo diferenciado do pseudoaneurisma, no qual as túnicas íntima e média são lesadas e o segmento dilatado da aorta é delineado somente pela adventícia e, algumas vezes, por coágulos perivasculares. Os aneurismas também podem ser classificados de acordo com sua aparência macroscópica. Um aneurisma fusiforme afeta toda a circunferência de um segmento vascular, resultando em artéria difusamente dilatada. Já o aneurisma sacular envolve somente uma seção da circunferência, resultando em formação sacular na parede vascular. Os aneurismas aórticos também são classificados, segundo sua localização, em abdominais ou torácicos. Os aneurismas da aorta torácica descendente são, em geral, contíguos aos infradiafragmáticos e denominados aneurismas aórticos toracoabdominais. Fisiologia da Aorta A aorta torácica é dividida em três segmentos. O segmento inicial, ou aorta ascendente, é dividido em dois. A porção proximal que se estende da valva aórtica à junção sinotubular, que compreende os seios de Valsalva, que sustenta as válvulas da valva aórtica e de onde originam os óstios coronarianos, e a porção distal, que se estende da junção sinotubular ao arco aórtico. O arco aórtico é o segmento médio, compreendido entre o início do tronco braquiocefálico à artéria subclávia esquerda. O segmento distal ou aorta descendente se estende desde a artéria subclávia esquerda até o diafragma. Os diâmetros médios das aortas normais nas porções da junção sinotubular, aorta ascendente, arco aórtico e aorta descendente são, respectivamente, de 3,0 cm; 3,1 cm; 2,8 cm e 2,5 cm (com desvios padrões médios de ± 0,2 cm). Etiologia Os aneurismas aórticos resultam de distúrbios que causam a degradação ou produção anormal de componentes estruturais da parede aórtica: elastina e colágeno. As causas dos aneurismas aórticos podem ser amplamente categorizadas como doenças degenerativas, doenças genéticas ou do desenvolvimento, infecções, vasculite e traumatismos (Quadro 301.1). Inflamação, estresse oxidativo, proteólise e estresse biomecânico de parede contribuem para os processos degenerativos que caracterizam a maior parte dos aneurismas da aorta torácica abdominal e descendente. Estes são mediados por linfócitos das células B e células T, macrófagos, citocinas inflamatórias e metaloproteinases da matriz que degradam a elastina e o colágeno, alterando a força de tensão e a capacidade da aorta de acomodar o estiramento pulsátil. A histopatologia associada demonstra destruição da elastina e do colágeno, redução do músculo liso vascular, crescimento para dentro de novos vasos sanguíneos e inflamação. Os fatores associados aos aneurismas aórticos degenerativos consistem em envelhecimento, tabagismo, hipercolesterolemia, hipertensão e sexo masculino. Causas de aneurisma aórtico: Degenerativo Envelhecimento, Tabagismo, Hipercolesterolemia, Hipertensão arterial e Aterosclerose Genético ou de desenvolvimento Síndrome de Marfan, Síndrome de Loeys-Dietz, Síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV, Síndrome de Turner Familiar e Valva aórtica bicúspide Dissecção aórtica crônica Traumatismos Síndromes aórticas agudas (dissecção aórtica, hematoma intramural agudo, úlcera aterosclerótica penetrante) Doenças degenerativas, Doenças genéticas/de desenvolvimento, Hipertensão arteria,l Aortite, Gestação e Traumatismos Oclusão aórtica Aterosclerose e Tromboembolismo Aortite • Vasculite: Arterite de Takayasu. Arterite de células gigantes • Reumático: Espondiloartropatias associadas ao HLA-B27, Síndrome de Behçet, Síndrome de Cogan e Aortite idiopática • Infecciosa: Sífilis, Tuberculose e Micótica (Salmonella, estafilocócica, estreptocócica, fúngica) O distúrbio patológico mais comum associado aos aneurismas aórticos degenerativos é a aterosclerose. Muitos pacientes com aneurismas aórticos apresentam fatores de risco coexistentes para aterosclerose, assim como aterosclerose em outros vasos sanguíneos. Degeneração da média, previamente designada necrose cística da média, é o termo histopatológico utilizado para descrever a degeneração do colágeno e das fibras elásticas na túnica média da aorta, assim como a perda de células da média substituídas por múltiplas fissuras no material mucoide, como os proteoglicanos. A necrose cística da média afeta caracteristicamente a aorta proximal e resulta em enfraquecimento, bem como dilatação circunferencial, levando ao desenvolvimento de aneurismas fusiformes que envolvem a aorta ascendente e os seios de Valsalva. Esse distúrbio é particularmente prevalente nos pacientes com a síndrome de Marfan, síndrome de Loeys-Dietz, síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV, hipertensão, valvas aórticas bicúspides congênitas e síndromes de aneurisma aórtico torácico familiar; algumas vezes aparece como condição isolada nos pacientes sem outra patologia aparente. Os casos familiares de aneurismas aórticos ocorrem em 20% dos pacientes, sugerindo uma base hereditária da patologia. Mutações dos genes que codificam a fibrilina 1 estão presentes nos pacientes com síndrome de Marfan. A fibrilina 1 é um importante componente das microfibrilas extracelulares que sustentam a arquitetura das fibras elásticas e outro tecido conectivo. A deficiência de fibrilina 1 na matriz extracelular leva a uma sinalização excessiva pelo fator de crescimento transformador β (TGF-β). A síndrome de Loeys-Dietz é causada por mutações nos genes que codificam os receptores 1 de TGF-β (TGFBR1) e 2 (TGFBR2). A sinalização aumentada por TGF-β e as mutações de TGFBR1 e TGFBR2 podem causar aneurismas aórticos torácicos. Asmutações do procolágeno do tipo III estão implicadas na síndrome de Ehlers-Danlos IV. As mutações de SMAD3, que codifica uma proteína de sinalização de fluxo descendente envolvida com a ligação de TGF aos seus receptores, foram descritas em uma síndrome de aneurisma aórtico torácico; anomalias craniofaciais, esqueléticas e cutâneas; e osteoartrite. As mutações dos genes que codificam a α-actina específica do músculo liso (ACTA2), cadeia pesada 11 de miosina específica de células do músculo liso (MHC11) e quinase de cadeia leve de miosina (MYLK) e mutações de TGFBR2 e SMAD3 foram relatadas em alguns pacientes com aneurisma aórtico torácico familiar não sindrômico. As causas infecciosas dos aneurismas aórticos consistem em sífilis, tuberculose e outras infecções bacterianas. A sífilis é uma causa relativamente incomum de aneurisma aórtico. As periaortite e mesoaortite sifilíticas lesam as fibras elásticas, resultando em espessamento e enfraquecimento da parede aórtica. Cerca de 90% dos aneurismas sifilíticos estão localizados na aorta ascendente ou no arco aórtico. Os aneurismas tuberculosos afetam a aorta torácica e resultam de disseminação direta da infecção a partir de linfonodos hilares ou abscessos contíguos, bem como por semeadura bacteriana. A perda de elasticidade da parede aórtica resulta em destruição granulomatosa da túnica média. O aneurisma micótico é um distúrbio raro que advém de infecções estafilocócica e estreptocócica, salmonelose ou outras infecções bacterianas ou fúngicas da aorta, geralmente em uma placa aterosclerótica. Esses aneurismas costumam ser saculares. As hemoculturas muitas vezes são positivas, revelando a natureza do agente infeccioso. As vasculites associadas ao aneurisma aórtico incluem as arterites de Takayasu e de células gigantes, as quais podem ocasionar aneurismas do arco aórtico e da aorta torácica descendente. As espondiloartropatias, como a espondilite anquilosante, artrite reumatoide, artrite psoriásica, policondrite recidivante e artrite reativa (conhecida como síndrome de Reiter), estão associadas a dilatações da aorta ascendente. Os aneurismas aórticos ocorrem em pacientes com síndrome de Behçet, síndrome de Cogan e doença sistêmica associada à imunoglobulina G (IgG) 4. Os aneurismas aórticos também resultam da aortite idiopática. Os aneurismas traumáticos podem surgir após traumas penetrantes ou não penetrantes e costumam afetar a aorta torácica descendente logo após o ponto de inserção do ligamento arterial. As dissecções aórticas crônicas estão associadas a enfraquecimento da parede aórtica, que podem levar ao desenvolvimento de dilatação aneurismática. Aneurismas da aorta torácica Independentemente da etiologia, eles dão origem a sinais e sintomas referíveis a: (1) invasão de estruturas do mediastino; (2) dificuldades respiratórias causadas por invasão dos pulmões e das vias aéreas; (3) dificuldade para deglutir pela compressão do esôfago; (4) tosse persistente por irritação dos nervos laríngeos recorrentes ou pressão sobre eles; (5) dor causada por erosão do osso (i. e., costelas e corpos vertebrais); (6) doença cardíaca, pois o aneurisma aórtico leva à dilatação da valva aórtica, com insuficiência valvar ou estreitamento dos óstios coronarianos, causando isquemia do miocárdio e (7) ruptura. Aneurisma Aorta Abdominal O diâmetro máximo normal da aorta abdominal é de 2,0 cm. A dilatação da aorta abdominal quando atinge um diâmetro 50% maior do que o esperado, ou 3,0 cm nos adultos, é chamada de aneurisma. Aneurismas da aorta abdominal (AAA) são encontrados incidentalmente com frequência, sobretudo na população idosa, sendo responsáveis por 90% a 95% de todos os casos de aneurisma de aorta. Estima-se que a prevalência dos AAA é de 2% na população com 60 anos de idade e em cerca de 5% após os 70 anos, sendo 2 a 3 vezes mais comum no sexo masculino(1) . O principal risco relacionado aos aneurismas é a ruptura, evento com alta letalidade. Os aneurismas rompem-se devido à incapacidade das fibras de colágeno e de elastina da parede da aorta comprometida em conter a pressão arterial. Quanto maior o diâmetro transverso do aneurisma, maior a chance de rotura. Aneurismas de aorta abdominal com diâmetro maior que 5,5 cm apresentam risco significativo de rotura e devem ser corrigidos eletivamente. Quando o aneurisma se rompe na parede anterior, ocorre hemorragia para a cavidade peritoneal (rotura livre), o que causa perda maciça de sangue gerando choque circulatório grave, geralmente fatal. No entanto, na rotura da parede lateral ou posterior, as estruturas retroperitoneais contêm temporariamente o sangramento (rotura contida), formando hematoma, mantendo a estabilidade hemodinâmica e havendo tempo hábil para a tentativa de correção cirúrgica. Em algumas situações, o aneurisma expande-se rapidamente (expansão aguda), causando dor pela compressão dos tecidos adjacentes e, apesar da estabilidade hemodinâmica, o aneurisma tem alto risco de rotura, devendo ser corrigido em caráter de emergência. O AAA geralmente resulta de uma degeneração da túnica média arterial, gerando um aumento lento e contínuo do lúmen do vaso. A causa mais comum é a degeneração da parede pela doença aterosclerótica e, entre outras causas, incluem-se infecção, necrose cística da túnica média, artrite, trauma, doença do tecido conjuntivo e degeneração anastomótica. A maioria dos AAA é assintomática e detectados de forma ocasional em exames de diagnóstico por imagem realizados com outros objetivos. Fatores de risco: idade avançada, sexo masculino, tabagismo, história familiar opositiva para AAA, altura elevada, doença cerebrovascular, hipercolesterolemia, hipertensão, arteriosclerose, raça negra ou asiática 3. Diagnóstico 3.1. Sinais e sintomas Maioria assintomático, porém sintomáticos referem dor abdominal atípica ou “dor nas costas” podem estar presentes em casos de AAA, mas não são sintomas específicos, uma vez que a maioria dos casos é silenciosa, e em geral são achados ocasionais durante exames de imagem para outras finalidades diagnósticas. 3.2. Exame físico Palpação clínica da massa abdominal pulsátil pode ser alerta da presença de AAA. Estudo caso-controle estimou que a sensibilidade da palpação para diagnóstico de AAA maior do que três centímetros é de 68% e a especificidade de 75%. Metanálise feita com base em 15 estudos de rastreamento em pacientes assintomáticos, estimou que a sensibilidade do exame de palpação abdominal é cerca de 39%. Assim, ela não é recomendada como método único de rastreamento ou planejamento terapêutico. 3.3. Exames de imagem Devido às limitações do exame clínico, os exames de imagem são fundamentais para o rastreamento, diagnóstico e seguimento do AAA. Dentre esses os mais utilizados são a Ultrassonografia (USG), a Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Nuclear Magnética (RNM). Vale ressaltar que o exame de RNM apresenta algumas contraindicações: presença de marcapasso transitório ou definitivo, presença de clipes intracerebrais e próteses metálicas no quadril. Tanto a TC como a RNM podem ser utilizadas sem contraste, porém para melhor visualização da luz do aneurisma e sua anatomia usam-se dois tipos de contraste administrados por via endovenosa, o contraste iodado e o gadolíneo respectivamente. A administração de contraste iodado em pacientes diabéticos que usam de hipoglicemiante oral (metformina) deve gerar cuidados, pois 90% deste medicamento é excretado pelos rins e portanto acumula-se a no organismo em estados de insuficiência renal. O contraste iodado pode desencadear ou agravar uma insuficiência renal, o que por sua vez levaria ao acúmulo de metformina e este ao desenvolvimento de acidose láctica grave, fatal em até 50% dos casos. Por isso, recomenda-se que a administração da metformina deva ser interrompida no período de 48 horas antes e 48 horas após o exame contrastado. Pacientes assintomáticos com histórico familiar: A Ultrassonografia é o método diagnóstico por imagem de escolha para o rastreamento do
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