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Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 2 Sumário Introdução ao Processo Penal ....................................................................................................................... 3 Lei processual penal: eficácia no tempo e no espaço ................................................................................. 40 Sujeitos do Processo .................................................................................................................................... 51 Comunicação dos atos processuais ............................................................................................................. 75 Inquérito Policial .......................................................................................................................................... 85 Ação Penal ................................................................................................................................................. 133 Ação Civil Ex Delicto ................................................................................................................................... 163 Questões e Processos Incidentes .............................................................................................................. 169 Jurisdição e competência .......................................................................................................................... 201 Prova penal ................................................................................................................................................ 231 Procedimentos........................................................................................................................................... 291 Prisão processual, medidas cautelares e liberdade provisória ................................................................. 343 Sentença penal .......................................................................................................................................... 400 Nulidades ................................................................................................................................................... 423 Recursos criminais ..................................................................................................................................... 436 Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 3 Introdução ao Processo Penal O processo penal é um instrumento que viabiliza o exercício do poder punitivo do Estado. I. Fontes do direito processual penal A doutrina divide a classificação em: Fontes materiais Fontes formais a) Fontes materiais Nas fontes materiais, quer-se saber qual o sujeito ou a entidade que produziu a norma. A fonte, neste caso, é a União, pois a CF prevê que compete privativamente à União legislar sobre direito processual penal. Isto significa que, por meio de lei complementar, poderá delegar aos Estados para tratar sobre questões específicas. Por outro lado, não se confunda com o direito penitenciário, que é de competência legislativa concorrente da União, Estados e Distrito Federal, os quais irão tratar de questões específicas, devendo observar as normas gerais fixadas pela União. Compete ainda à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre procedimento em matéria processual. Procedimento não é processo, como é o caso de inquérito policial. O STF, quando analisou uma questão similar, considerou constitucional uma lei do Estado do RJ que estabelece que após 30 dias, em se tratando de investigado solto, caso o delegado de polícia não tivesse concluído o procedimento, poderia o MP requisitar justificativa para tanto. A lei estadual prevê isto, mas o STF a considerou constitucional, pois inquérito não é processo e sim procedimento. b) Fontes formais Fonte formal busca saber como foi feita a norma. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 4 A fonte formal poderá ser: Imediata (direta): é a lei em sentido amplo, abrangendo a CF, legislação infraconstitucional, tratados e regras de direitos internacional. Mediatas (indireta): segundo Avena, são os princípios gerais do direito, analogia, costumes, doutrina, direito comparado e a jurisprudência. Ex.: ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. A analogia é aplicada em situação que não tem norma reguladora, devendo se utilizar de um caso similar para aplicar ao caso. O direito comparado é o que os outros Estados regulamentam a matéria. A jurisprudência é a posição que um tribunal adota, após reiteradamente ter enfrentado a matéria. Atualmente, há uma questão que ganha relevância, que é a denominada súmula vinculante. Esta súmula vincula os demais órgãos do poder judiciário e a administração direta e indireta. Neste caso, seria considerada fonte formal imediata. Todavia, a doutrina prevalente entende que a súmula vinculante não possui força de lei, motivo pelo qual seria ela uma fonte formal mediata (ou indireta) do direito processual penal. II. Sistemas processuais penais Existem 3 sistemas processuais penais: Sistema acusatório: no sistema acusatório há uma separação entre o órgão acusado, órgão defensor e órgão julgador. Aqui, assegura-se ao réu o contraditório e a ampla defesa. Incumbe à acusação o ônus da prova de que o acusado praticou o crime, bem como incumbirá à defesa a tarefa de apresentar excludente de ilicitude. O juiz não é proibido de produzir provas, desde que isso não implique quebra da imparcialidade. Perceba que a função de acusar e provar que o réu praticou o crime deverá ser feita pelo MP. Caso não o faça, o sujeito será inocente, por conta do princípio da presunção de inocência. O processo é público e há prevalência da oralidade. Sistema inquisitivo: no sistema inquisitivo, o juiz poderá acusar, defender e julgar. O juiz concentra essas funções. Não há contraditório Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 5 e ampla defesa, pois quem acusa e defende é a mesma pessoa. Como quem acusa e quem defende é quem julga, é forçoso compreender que é em razão de que o sujeito acredita que o acusado cometeu o crime, pois, do contrário, não acusaria. E como é o acusador que irá julgar, então significa dizer que a acusação é presumida. O processo é secreto e há prevalência do processo escrito. Sistema misto (ou francês): no sistema misto, há uma divisão das funções, pois um órgão acusará, outro defende e outro julgará. Todavia, é possível que o magistrado, em determinadas situações, substitua as partes. É observado o princípiodo contraditório e à ampla defesa. No Brasil, prevalece o entendimento de que foi adotado o sistema acusatório. III. Princípios processuais penais e constitucionais a) Princípio da verdade real (material ou substancial) x Princípio da verdade formal (ou busca da verdade) No âmbito processual penal, estando em discussão a liberdade de locomoção do acusado, direito indisponível, o magistrado seria dotado de amplos poderes instrutórios, podendo determinar a produção de provas ex officio, sempre na busca da verdade material. Dizia-se então que, no processo penal, vigorava o princípio da verdade material, também conhecido como princípio da verdade substancial ou real. A descoberta da verdade, obtida a qualquer preço, era a premissa indispensável para a realização da pretensão punitiva do Estado. Essa busca da verdade material era, assim, utilizada como justificativa para a prática de arbitrariedades e violações de direitos, transformando-se, assim, num valor mais precioso do que a própria proteção da liberdade individual. A doutrina faz uma crítica, afirmando que esta verdade real é impossível, motivo pelo qual deveria ser considerado apenas a verdade dos autos, sendo, portanto, uma verdade formal. Esta busca da verdade real, que legitima uma atuação do magistrado no sentido de descobrir efetivamente o que ocorreu, não legitima a inobservância de direitos e garantias estabelecidos na CF e na legislação infraconstitucional. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 6 Ex.: não se admite a produção de provas por meios ilícitos, motivo pelo qual a verdade real não irá se sobrepor à ilicitude da prova. Da mesma forma, caso o sujeito seja absolvido, tendo a sua sentença transitado em julgado, não é possível revisão criminal, ainda que surjam novas provas. Ou seja, não é possível revisão criminal pro societate. No caso da sentença de óbito falsa é diferente, pois a sentença é inexistente, razão pela qual seria admissível a propositura de uma nova ação penal. Atualmente, essa dicotomia entre verdade formal e material deixou de existir. Já não há mais espaço para a dicotomia entre verdade formal, típica do processo civil, e verdade material, própria do processo penal. No âmbito processual penal, hodiernamente, admite-se que é impossível que se atinja uma verdade absoluta. A prova produzida em juízo, por mais robusta e contundente que seja, é incapaz de dar ao magistrado um juízo de certeza absoluta. O que vai haver é uma aproximação, maior ou menor, da certeza dos fatos. Há de se buscar, por conseguinte, a maior exatidão possível na reconstituição do fato controverso, mas jamais com a pretensão de que se possa atingir uma verdade real, mas sim uma aproximação da realidade, que tenda a refletir ao máximo a verdade. Enfim, a verdade absoluta, coincidente com os fatos ocorridos, é um ideal, porém inatingível. Por esse motivo, tem prevalecido na doutrina mais moderna que o princípio que vigora no processo penal não é o da verdade material ou real, mas sim o da busca da verdade. Seu fundamento legal consta do art. 156 do Código de Processo Penal. Por força dele, admite-se que o magistrado produza provas de oficio, porém apenas na fase processual, devendo sua atuação ser sempre complementar, subsidiária. Na fase preliminar de investigações, não é dado ao magistrado produzir provas de oficio, sob pena de evidente violação ao princípio do devido processo legal e à garantia da imparcialidade do magistrado. Essa produção de prova de ofício pelo magistrado é duramente criticada pela doutrina, pois fere diretamente o sistema ACUSATÓRIO. Aury Lopes Jr critica as reformas pontuais no CPP feitas pela “lei anticrime”. “Reformas pontuais resultam em colchas de retalhos”, diz ele. Um desses retalhos que sobraram foi o artigo 156 do CPP. Ele permite que o juiz, de ofício, determine diligências ou a produção de provas. “Isso é um absurdo, é um erro. Não condiz com o sistema acusatório.” Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 7 E o que se entende por princípio da busca da verdade consensual no âmbito dos Juizados? De acordo com Renato Brasileiro, a Lei n° 9.099/95 trouxe consigo quatro importantes medidas despenalizadoras: 1) Nas infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, contravenções penais e crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 anos, cumulada ou não com multa, e submetidos ou não os crimes a procedimento especial, havendo composição civil dos danos, estará extinta a punibilidade nos casos de infrações de iniciativa privada ou pública condicionada à representação (art. 74, parágrafo único); 2) Não havendo composição civil, a lei prevê a aplicat1,ão imediata de pena restritiva de direitos ou multa através da transação penal (art. 76); 3) Os crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa passaram a exigir representação da vítima (art. 88); 4) Desde que o crime tenha pena mínima igual ou inferior a um ano, e estejam preenchidos outros requisitos de natureza subjetiva, será cabível a suspensão condicional do processo (art. 89). Com a criação desses institutos despenalizadores, percebe-se que, no âmbito dos Juizados, a busca da verdade processual cede espaço à prevalência da vontade convergente das partes. Nos casos de transação penal ou de suspensão condicional do processo, não há necessidade de verificação judicial da veracidade dos fatos. O conflito penal é solucionado através de um acordo de vontade, dando origem ao que a doutrina denomina de verdade consensuada. b) Princípio do devido processo legal O devido processo legal encontra previsão no art. 5º, LIV, da CF, mas também há vários outros dispositivos no mesmo sentido. Por conta disso, ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 8 São corolários do devido processo legal o contraditório e a ampla defesa. No aspecto material, o devido processo legal é defendido como sendo a proporcionalidade. Do devido processo legal, há uma série de direitos consagrados: Direito do acusado ser ouvido pessoalmente pelo juiz no seu interrogatório Direito de defesa com capacidade técnica por um advogado ou por um defensor público Direito de observância das regras jurídicas processuais e procedimentais estabelecidas c) Princípio da vedação à utilização de provas ilícitas Este é um “freio” ao princípio da verdade real. Segundo a CF, são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Ou seja, não se admitem provas ilícitas como fator de convicção do magistrado. Na verdade, há algumas exceções que o CPP traz, como a teoria da descoberta inevitável e da prova independente, que será estudado mais à frente. Segundo o art. 157, são inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. O §1º afirma que são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando: Não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras; ou As derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. O §2º explica que se considera fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. O §3º diz que, preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. A doutrina diferencia prova proibida, vedada ou ilegal como gênero, mas há duas espécies: Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 9 Prova ilegítima: é uma prova com relação ao direito processual.Ex.: juntada fora do prazo uma documentação ou testemunha. Prova ilícita: há uma relação com uma regra de direito material ou com uma regra de direito constitucional. Ex.: interceptação telefônica sem que houvesse decisão judicial nesse sentido. Prova obtida por meio de tortura também é exemplo. As teorias estão descritas no capítulo das provas, mencionando a teoria da fonte independente (§1º do art. 157 do CPP) e a teoria da descoberta inevitável. Poderá o juiz que tomou conhecimento sobre as provas ilícitas julgar o processo? SIM. Mesmo a prova sendo desentranhada, poderá o juiz julgar o processo. A doutrina e jurisprudência entendem que é possível a utilização de prova ilícita pelo réu, quando for a única forma de o réu comprovar algo em seu favor, importante à sua defesa. Neste caso, haverá a aplicação do princípio da proporcionalidade. Isto é, haverá uma colisão de direitos fundamentais, pois o réu estaria violando o direito à intimidade, mas consegue uma prova que justifica a sua inocência. A prova é ilícita, mas serve para evitar uma condenação injusta. Sendo assim, há de ser feita uma ponderação. d) Princípio da presunção de inocência (não culpabilidade ou do estado de inocência) Trata-se de um desdobramento do devido processo legal, pois, segundo o art. 5º, LVII, da CF, ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Por isso, decorre do devido processo legal, visto que enquanto não transitar em julgado o sujeito não poderá ser considerado culpado. Segundo Badaró, não há diferença entre presunção de inocência e presunção de não culpabilidade, sendo inútil e contraproducente a tentativa de apartar ambas as ideias - se é que isto é possível -, devendo ser reconhecida a equivalência de tais fórmulas. Contudo, há fundamento para a terminologia distinta: Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 10 Convenção Americana de Direitos Humanos (presunção de inocência): CADH, art. 8º, § 2º: “Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa”. Constituição Federal de 1988 (presunção de não culpabilidade): CF, art. 5º, LVII: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” Geralmente, os tratados internacionais sobre direitos humanos usam a palavra “inocência” e “presunção”. Assim, normalmente fala-se em “presunção de inocência”. Assim, pelo menos enquanto o processo criminal não for concluído, o indivíduo é presumido inocente. Já na Constituição Federal a terminologia é um pouco diversa porque ela não usa o termo “inocente”. Ela é redigida de maneira negativa dizendo que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” – presunção de não culpabilidade. Trata-se de um princípio reitor do processo penal, impondo um dever de tratamento ao réu, surgindo daí 3 regras: Ainda, o princípio da presunção de inocência deve ser considerado em três momentos distintos: a) Na instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; b) Na avaliação da prova, impondo-se seja valorada em favor do acusado quando houver dúvidas sobre a existência de responsabilidade pelo fato imputado; c) No curso do processo penal, como parâmetro de tratamento do acusado, em especial no que concerne à análise quanto à necessidade ou não de sua segregação provisória. Assim, incumbe aos Poderes da República torná-lo efetivo, da seguinte forma: (i) o Legislativo, criando normas que visem a equilibrar o interesse do Estado na satisfação de sua pretensão punitiva com o direito à liberdade do acusado; Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 11 (ii) o Executivo, sancionando essas normas; (iii) e o Judiciário, deixando de aplicar no caso concreto (controle difuso da constitucionalidade) ou afastando do mundo jurídico (controle concentrado da constitucionalidade) disposições que não se coadunem com a ordem constitucional vigente. ATENÇÃO! Na dosimetria da pena podem ser considerados registros criminais pertinentes a processos a que responde o acusado sem trânsito em julgado de decisão condenatória? A jurisprudência dos Tribunais Superiores é amplamente majoritária no sentido de que tais referências não podem ser valoradas contra o acusado, em homenagem ao princípio da presunção de inocência. Em razão disso, na esteira da Súmula 444 do STJ, tem-se decidido que os maus antecedentes referentes a inquéritos e processos em andamento, quando utilizados para a exacerbação da pena-base e do regime prisional, violam o princípio constitucional da presunção de inocência. Por maus antecedentes criminais, em virtude do que dispõe o art. 5.º, inciso LVII, da Constituição de República, entenda-se a condenação transitada em julgado, excluída aquela que configura reincidência. Decorrência deste entendimento, também, a impossibilidade de levar em conta, no momento da fixação da pena, inquéritos policiais, arquivados ou em andamento, procedimentos de apuração de ato infracional a que tenha respondido imputado quando menor de 18 anos e fatos em relação aos quais tenha sido aceito o benefício da transação penal no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (art. 76, §§ 4.º e 6.º, da Lei 9.099/1995). É constitucional a regressão de regime carcerário em consequência da prática de crime doloso, enquanto ainda não houver, quanto a esse delito, sentença condenatória transitada em julgado? O art. 118, I, da Lei 7.210/1984 (Lei de Execuções Penais) estabelece que a execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave, não exigindo o trânsito em julgado de sentença condenatória para esse fim. Acerca da constitucionalidade desta regra em face da presunção de inocência, duas posições existem: Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 12 - Primeira: O art. 118 da LEP viola frontalmente o princípio do estado de inocência, pois, diante de um fato apenas teoricamente criminoso (certeza mesmo deste caráter apenas haverá com o trânsito em julgado da decisão condenatória), determina a punição do apenado com regressão de seu regime para outro mais severo. Desconsidera o dispositivo, ainda, a possibilidade de ser o reeducando absolvido da imputação realizada no processo criminal que lhe venha a ser instaurado em razão desse novo fato, caso em que teria sido desarrazoada a regressão imposta. - Segunda: Não importa o art. 118, I, da Lei 7.210/1984 em violação ao princípio da presunção de inocência, na medida em que o apenado que cumpre pena no regime semiaberto ou aberto tem o dever de demonstrar sua responsabilidade e adaptação ao convívio social. Além disso, entendimento diverso reduziria a um nada a efetividade do processo de execução, ressaltando-se que o não cometimento de crime doloso ou falta grave é, por força da LEP, condição para a permanência do reeducando em regime menos rigoroso. Em termos de jurisprudência, tem prevalecido essa segunda linha de pensamento. Consideram os Tribunais Superiores que o princípio da presunção de inocência não é absoluto, impondo-se que seja mitigado em certas circunstâncias, como já ocorre em relação ao instituto da prisão preventiva, que permite seja o denunciado preso antes da condenação para assegurar a aplicação da lei penal. Pode o juiz ordenar a revogação do benefício da suspensão condicional do processo concedido ao acusado em face do art. 89 da Lei 9.099/1995 tão somente em razão da prática de outro crime, isto é, mesmo ausente sentença condenatóriatransitada em julgado quanto a esse novo delito? Estabelece o art. 89, § 3.º, da Lei 9.099/1995 que a suspensão condicional do processo será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime. Quanto à constitucionalidade desse dispositivo, já que autoriza a cassação de benefício legal independentemente de condenação definitiva do indivíduo, assim como no caso anterior, duas posições existem, uma no sentido de que implica violação ao princípio da presunção de inocência e outra, em sentido contrário, compreendendo que se o acusado vier a ser processado por outro crime, impõe-se a revogação da suspensão já que deixa ele de ser merecedor do benefício, que é norma excepcional. Prevalece este último entendimento. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 13 O conhecimento da apelação do réu em face da sentença condenatória pode ser condicionado a que se recolha à prisão? Dispunha o art. 595 do CPP que se o réu condenado fugisse depois de haver apelado, seria declarada deserta a apelação. Na esteira desse dispositivo, foi editada pelo STJ a Súmula 9, dispondo que “a exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência”. Anos mais tarde, curvando-se ao entendimento da maioria, o STJ, amparado no postulado da presunção de inocência, revisou seu entendimento e publicou a Súmula 347, estabelecendo que “o conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão”. Tal previsão implicou o cancelamento tácito da referida Súmula 9, consolidando-se em termos definitivos com a revogação do art. 595 do CPP pela Lei 12.403/2011. *A execução provisória da pena infringe o princípio da presunção de inocência? No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua posição anterior e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. Principais argumentos: • O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com a Constituição em vigor. • O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 14 • É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados. • A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar suas decisões no clamor público. Desse princípio, derivam duas regras fundamentais: a regra probatória e a de tratamento. Regra probatória (in dubio pro reo) A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável. Recai exclusivamente sobre a acusação o ônus da prova. JURISPRUDÊNCIA: CRIMINAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. ROUBO. EMPREGO DE ARMA. DESNECESSIDADE DE APREENSÃO E REALIZAÇÃO DE PERÍCIA. UTILIZAÇÃO DE OUTROS MEIOS DE PROVA. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE. EMBARGOS CONHECIDOS E REJEITADOS. I – Para a caracterização da majorante prevista no art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, prescinde-se da apreensão e realização de perícia em arma utilizada na prática do crime de roubo, se por outros meios de prova restar evidenciado o seu emprego. Precedentes do STF. II – Os depoimentos do condutor, da vítima, das testemunhas, bem como qualquer meio de captação de imagem, por exemplo, são suficientes para comprovar a utilização de arma na prática delituosa de roubo, sendo desnecessária a apreensão e a realização de perícia para a prova do seu potencial de lesividade e incidência da majorante. III - A exigência de apreensão e perícia da arma usada na prática do roubo para qualificá-lo constitui exigência que não deflui da lei resultando então em exigência ilegal posto ser a arma por si só -- desde que demonstrado por qualquer modo a utilização dela – instrumento capaz de qualificar o crime de roubo. IV – Cabe ao imputado demonstrar que a arma é desprovida de potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou arma incapaz de produzir lesão. V – Embargos conhecidos e rejeitados, por maioria. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 15 - Consectários: a) Incumbência do acusador de demonstrar a culpabilidade do acusado; b) Necessidade de comprovar a existência dos fatos imputados, não de demonstrar a inconsistência das desculpas do acusado; c) Tal comprovação deve ser feita legalmente (conforme o devido processo legal); d) Impossibilidade de se obrigar o acusado a colaborar na apuração dos fatos (decorrente do direito ao silêncio). e) Deve ser usado no momento da valoração das provas: na dúvida, a decisão tem que favorecer o imputado, pois o imputado não tem a obrigação de provar que não praticou delito. f) Só incide até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Assim, na revisão criminal, não há que se falar em in dubio pro reu, mas sim em in dubio contra reu. O ônus da prova recai única e exclusivamente sobre o postulante – por isso, na dúvida, o Tribunal deve julgar improcedente o pedido revisional. Regra de tratamento A privação cautelar da liberdade, sempre qualificada pela excepcionalidade, somente se justifica em hipóteses estritas, ou seja, a regra é responder ao processo penal em liberdade; a exceção é estar preso. Assim, por força da regra de tratamento oriunda do princípio constitucional da não culpabilidade, o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao acusado, como se estes já houvessem sido condenados, definitivamente, enquanto não houver sentença condenatória com trânsito em julgado (#CUIDADO com o tema execução provisória da pena!). Há quem entenda que esse princípio atua em duas dimensões: a) Interna ao processo: funciona como dever imposto, inicialmente, ao magistrado, no sentido de que o ônus da prova recai integralmente sobre a parte acusadora, devendo a dúvida favorecer o acusado. E as prisões cautelares devem ser excepcionais, comprovada a necessidade; Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 16 b) Externa ao processo: proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado. Os princípios, a presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem funcionam como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do processo judicial. OBS.: A vedação à execução provisória da pena, decorrente do princípioda presunção de não culpabilidade, não impede a antecipação cautelar dos benefícios da execução penal definitiva ao preso processual. Assim, na antecipação dos benefícios, seria possível a incidência de institutos como a progressão de regime e outros incidentes da execução – já que a LEP estende seus benefícios aos presos provisórios (Lei 7.210/84, art. 2o, § único). SÚMULA 716, STF: Admite-se a progressão do regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. SÚMULA 717, STF: Não impede a progressão do regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial. ENTENDIMENTO ATUAL SOBRE A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA: Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena? 1ª Período Até fev/2009: SIM É possível a execução provisória da pena Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena. Desse modo, se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou recurso extraordinário, teria que iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o julgamento. Os recursos extraordinário e especial são recebidos no efeito devolutivo. Assim, exauridas estão as instâncias ordinárias criminais é possível que o órgão julgador de segundo grau expeça mandado de prisão contra o réu (STF. Plenário. HC 68726, Rel. Min. Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991). Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 17 2ª Período De fev/2009 a fev/2016: NÃO NÃO é possível a execução provisória da pena No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a entender que não era possível a execução provisória da pena. Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP). Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como execução provisória da pena. Principais argumentos: • A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar. • A execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação significa restrição do direito de defesa. • A antecipação da execução penal é incompatível com o texto da Constituição. Esse entendimento durou até fevereiro de 2016. 3º Período: De fev/2016 a nov/2019: SIM É possível a execução provisória da pena No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira posição e voltou a dizer que era possível a execução provisória da pena. Principais argumentos: • É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau e isso não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência. • O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso significa que, mesmo a parte tendo interposto algum desses recursos, a decisão recorrida continua produzindo efeitos. Logo, é possível a execução provisória da decisão recorrida enquanto se aguarda o julgamento do recurso. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 18 • Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito. • É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da presunção de não culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado. • A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não compromete o núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que o acusado tenha sido tratado como inocente no curso de todo o processo ordinário criminal, observados os direitos e as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas as regras probatórias e o modelo acusatório atual. • É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a efetividade da função jurisdicional penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os interesses dos acusados, como também da sociedade, diante da realidade do intrincado e complexo sistema de justiça criminal brasileiro. • “Em país nenhum do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa aguardando referendo da Suprema Corte”. 4º Período: Entendimento atual: NÃO No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 19 NÃO é possível a execução provisória da pena recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. Principais argumentos: • O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com a Constituição em vigor. • O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação. • É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados. • A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar suas decisões no clamor público. CUIDADO: Os réus que estavam presos por força da execução provisória da pena deverão ser soltos com essa nova decisão? Deverá ser analisada a situação individual de cada um desses réus. Se eles estavam presos unicamente por força da execução provisória da pena, é provável que sejam soltos. Se eles estavam presos porque presentes os requisitos da prisão cautelar (art. 312 do CPP), a Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 20 decisão do STF não altera a sua situação. Por isso, os Tribunais deverão analisar cada um dos casos. A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a constitucionalidade do art. 283 do CPP: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delitoou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. Apesar de haver certa divergência doutrinária, prevalece que as decisões proferidas pelo STF em ação declaratória de constitucionalidade possuem efeitos vinculantes e erga omnes. O cenário acima está consolidado? Por enquanto, sim. No entanto, não é possível afirmar, com segurança, que irá prevalecer por muito tempo. Isso porque a decisão do STF foi construída com um placar apertado (6x5). Um dos Ministros que votou pela proibição da execução provisória da pena foi Celso de Mello. O Ministro Celso de Mello se aposenta em novembro de 2020. Se o novo Ministro que tomar posse defender a possibilidade da execução provisória da pena, o cenário acima poderá ser, novamente, alterado. Por enquanto, contudo, o que foi explicado acima é o que vale. Também não é possível a execução da pena RESTRITIVA DE DIREITOS antes do trânsito em julgado da condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). JURISPRUDÊNCIA O art. 33, § 4º, DA LEI 11.343/06 leciona que as penas do crime de tráfico de drogas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas, nem integre organização criminosa. O STJ entendeu SER POSSÍVEL a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art. 33, § 4º, da Lei Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 21 n.º 11.343/2006. De acordo com o julgado, os princípios constitucionais devem ser interpretados de forma harmônica e, por isso, o princípio da presunção de inocência não pode impedir que a existência de inquéritos ou ações penais sejam utilizados para mensurar a dedicação do réu em atividade criminosa, sob pena de se equiparar o acusado que responde a inúmeras ações penais com aquele que numa única ocasião na vida se envolveu com as drogas, situação que ofende o princípio também previsto na Constituição Federal de individualização da pena. Do mesmo modo, o princípio da vedação de proteção deficiente também deve ser parâmetro, uma vez que intimamente interligado com o mandamento constitucional de criminalização do tráfico de drogas, que deve ser ponderado na avaliação, em atenção ao direito fundamental de segurança (art. 5º, caput, CF/88). Importante frisar que o STJ não vedou, de forma absoluta, a concessão do benefício a quem responde a outros inquéritos ou ações penais. Nas palavras do Min. Relator Felix Fischer, “não se pretende tornar regra que a existência de inquérito ou ação penal obste o benefício em todas as situações”. Por fim, necessário destacar que o STF possui um precedente aplicando este entendimento (HC 108135, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 05/06/2012). IMPORTANTE: Pedro foi condenado a uma pena de 8 anos de reclusão e o TJ manteve a condenação. O Ministério Público foi intimado do acórdão e requereu que o Tribunal determinasse imediatamente a prisão do condenado, dando início à execução provisória da pena. Vale ressaltar, no entanto, que a Defensoria Pública ainda não foi intimada do acórdão. Diante deste caso, o TJ poderá determinar a imediata prisão do condenado, mesmo antes da intimação da defesa acerca do acórdão? NÃO. Se ainda não houve a intimação da Defensoria Pública acerca do acórdão condenatório, mostra-se ilegal a imediata expedição de mandado de prisão em desfavor do condenado. Como a Defensoria Pública ainda não foi intimada, não se encerrou a jurisdição em 2ª instância, considerando que é possível que interponha embargos de declaração, por exemplo. STJ. 5ª Turma. HC 371.870-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 13/12/2016 (Info 597). O desaforamento de um caso se encerra com o veredicto do júri popular. Por isso, a execução provisória da pena (que ocorre depois de a condenação ser confirmada pelo Tribunal em 2ª instância) deverá ser determinada pelo juízo originário da causa, e não pelo presidente do Tribunal do Júri onde se deu o julgamento. Em outras palavras, em caso de desaforamento, o deslocamento da competência ocorre apenas para o julgamento no Tribunal do Júri. Uma vez tendo este sido encerrado, esgota-se a competência da Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 22 comarca destinatária, devendo a execução provisória ser conduzida pelo juízo originário da causa. STJ. 6ª Turma. HC 374.713-RS, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 6/6/2017 (Info 605). Obs. Tendo em vista a recente proibição pelo STF da execução provisória da pena, tais julgados perderam a aplicabilidade. e) Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais O art. 93, IX, da CF exige que as decisões judiciais sejam motivadas. O juiz não é eleito pelo povo, razão pela qual não goza de legitimidade da sua decisão, necessitando justificar seus atos, o que dará legitimidade à população. Ademais, a motivação assegura o exercício da ampla defesa, pois se o juiz profere uma condenação, poderá o réu alegar fatos contrários para o tribunal. Veja, o fundamento permite que o indivíduo exerça a ampla defesa. Não existe violação pela fundamentação per relationem (motivação aliunde), que é aquela em que o juiz faz uma remissão a uma outra manifestação existente nos autos, como é o caso do parecer do MP, a fim de justificar a decisão, desde que se dê de forma clara. O princípio da obrigatoriedade das motivações não é absoluto, comportando temperamentos, como é o caso do sistema da íntima convicção, adotado no procedimento do júri com relação aos jurados. f) Princípio da publicidade Segundo o art. 5º, LX, da CF, a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. O art. 5º, XXXIII, da CF, estabelece que todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 23 Por meio desse princípio, é necessário que se dê transparência aos atos do processo, tendo em vista que o Brasil adota a república, a qual comporta prestação de contas e responsabilização pelos atos praticados. Segundo Luigi Ferrajoli, cuida-se de garantia de segundo grau, ou garantia de garantia. Isso porque, para que seja possível o controle da observância das garantias primárias da contestação da acusação, do ônus da prova e do contraditório com a defesa, é indispensável que o processo se desenvolva em público. Em regra, a publicidade é ampla, geral, popular e plena. No entanto, o princípio da publicidade na seara processual penal comporta exceções, como é o caso da publicidade restrita. Determinados atos serão públicos apenas para as partes, ou apenas para as partes e seus advogados. Como observa a doutrina, a publicidade do processo implica os direitos de: a) assistência, pelo público em geral, à realização dos atos processuais; b) narração dos atos processuais, ou reprodução de seus termos, pelos meios de comunicação social; c) consulta dos autos e obtenção de cópias, extratos e certidões de quaisquer partes dele. Há uma publicidade diminuída e específica, conforme estabelece o art. 93, IX, o qual permite que a lei limite a presença das próprias partese a seus advogados, ou somente a estes, para determinados atos, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. Veja que há um embate entre o interesse público à informação e o direito à intimidade, prevalecendo, nos casos em que não viole o direito de informação, a instauração de segredo de justiça do processo pelo magistrado. Outro exemplo é a retirada de pessoas da audiência para estabelecer a ordem. g) Princípio do contraditório Segundo o art. 5º, LV, da CF, aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. O contraditório sempre deve ser visto sob 3 viés: Informação: o réu deve ser informado sobre a acusação e sobre os atos processuais. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 24 Reação: com essas informações, o réu poderá reagir, por meio de defesa, recursos, etc. Participação: é a atuação de autodefesa, interrogatório, etc. O princípio do contraditório é corolário do devido processo legal, assegurando às partes de serem cientificadas de todos os atos no curso do processo, podendo se manifestar sobre esses atos. Ademais, as partes poderão produzir provas que reputarem necessárias. Perceba que, havendo um ato no processo, antes de o juiz decidir, a parte deverá ser cientificada do ato, a fim de se manifestar sobre o ato, produzindo a sua prova acerca do ato. Posteriormente, o juiz deverá prolatar a sua decisão. O contraditório pode ser imediato, direto ou real, sendo aquele em que ocorre no momento de colheita ou feitura da prova. Assim como todos os outros, o contraditório poderá ser mitigado, como é o caso do contraditório diferido ou postergado. Nesse caso, é assegurada posteriormente a possibilidade de impugnação da parte sobre pronunciamentos judiciais. Ex.: é inviável, por exemplo, que o juiz intime o acusado sobre a sua prisão preventiva. Neste caso, haveria um grande risco de inviabilidade da medida. Por conta disso, deve o juiz determinar a prisão inaudita altera pars. O mesmo ocorre com relação à interceptação telefônica, a qual perderá a eficácia, caso seja informada ao acusado no momento processual em que será determinada. O art. 155 do CPP dispõe que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Nesse caso, se o juiz condenar o réu, exclusivamente, com base em elementos informativos colhidos na investigação, será caso de nulidade absoluta, pois não foi concedido contraditório ao réu. No inquérito policial, por não ser processo, e sim procedimento, não haverá a incidência do contraditório. Por isso, via de regra, não se garante o contraditório na fase Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 25 pré-processual. Quando ele passar a ser considerado acusado, aí sim deverá ser garantido o contraditório. Com relação ao pleno acesso do inquérito policial pelo advogado, este será garantido, desde que se refira ao exercício do direito de defesa, relativamente aos documentos de informação já documentados. Este é justamente o teor da Súmula Vinculante 14, que diz ser direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. Segundo o STF, não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega a réu denunciado com base em um acordo de colaboração premiada o acesso a outros termos de declarações que não digam respeito aos fatos pelos quais ele está sendo acusado, especialmente se tais declarações ainda estão sendo investigadas, situação na qual existe previsão de sigilo, nos termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013. (Inf. 814, STF). h) Princípio da ampla defesa Primeiramente, vale lembrar que a ampla defesa não se confunde com a plenitude de defesa. O princípio da ampla defesa faculta ao acusado de fazer a sua defesa da forma mais completa possível. Esta ampla defesa se divide em: Defesa técnica; Autodefesa. i. Defesa técnica A defesa técnica é aquela realizada pelo advogado. A defesa técnica é indispensável, salvo nos casos previstos em lei. O réu não pode ser julgado sem advogado, sendo indisponível. O art. 261 diz que nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. O parágrafo único estabelece que a defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 26 Caso o réu não tenha advogado, será nomeado defensor pelo juiz. Sendo o acusado advogado, será possível que ele se defenda. No entanto, há alguns atos em que o réu não poderá estar presente, motivo pelo qual o juiz deverá nomear um defensor dativo ou ad hoc, em razão de que o réu não poderá permanecer na sala. Ex.: advogado-acusado não poderá permanecer na oitiva de um corréu, pois os interrogatórios são realizados separadamente. Outro exemplo é o caso do art. 217 do CPP, em que o réu deverá sair da sala, quando não houver videoconferência, para que a vítima ou testemunha seja ouvida. O réu tem o direito de escolher o seu defensor a todo o tempo, conforme o art. 263 do CPP. Segundo a Súmula 707 do STF, constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo. Deve dar ciência ao denunciado para que ele ofereça contrarrazões, não podendo o juiz determinar diretamente a intimação de defensor dativo (ou público). A Súmula 708 do STF afirma que é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro. O réu deverá ser previamente intimado para constituir defensor e seguir o julgamento da apelação. Para que seja preservada a ampla defesa a que se refere a Constituição Federal, a defesa técnica, além de necessária e indeclinável, deve ser plena e efetiva. Não basta assegurar a presença formal de defensor técnico. No curso do processo, é necessário que se perceba efetiva atividade defensiva do advogado no sentido de assistir seu cliente. A Súmula 523 do STF estabelece que, no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. A defesa é necessária, motivo pelo qual a sua ausência gera nulidade absoluta. No entanto, caso a defesa seja deficiente, é preciso comprovar prejuízo para anular o processo. Trata-se de nulidade relativa com relação à deficiência. Para que essa defesa seja ampla e efetiva, deve-se deferir ao acusado e a seu defensor tempo hábil para sua preparação e exercício. Entre as várias garantias que o devido processo legal assegura está o direito de dispor de tempo e facilidades necessárias Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 27 para preparar a defesa. Há de se assegurar ao acusado e a seu defensor o tempo e os meios adequados para a preparação da defesa. É o que entende Renato Brasileiro. ii. Autodefesa Na autodefesa, é o acusado ou investigado que afirma não ser ele o autor do crime. Não se justifica na primeira fase do interrogatório, a qual o investigado deve se manifestar sobre suas qualificações, sob pena de responder por falsa identidade. É possívelque o acusado abra mão da sua autodefesa, ou seja, é renunciável e disponível. Ex.: réu não quer comparecer ao interrogatório e nem à audiência. Alguns autores apresentam a autodefesa sob 3 viés: Direito de audiência: é o direito de ser ouvido, de falar, etc. Ex.: interrogatório. O réu então poderá não comparecer. Direito de presença: é aquele que se dá através da presença física, ou virtual. Ex.: comparecimento à audiência. Capacidade postulatória autônoma do acusado: além dos vieses acima, o réu tem o direito de exercício de sua defesa. Ex.: impetração de HC em benefício próprio. Segundo a Súmula 522 do STJ, a conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. Este é o crime do art. 307 do CP. A Súmula 533 do STJ estabelece que, para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado. Veja, só é possível punir o preso após o procedimento administrativo disciplinar. Neste caso, será obrigatoriamente a presença de advogado, sendo ele imprescindível. Observe que não se aplica a Súmula Vinculante à execução penal, eis que ela somente se aplicaria aos processos administrativos não criminais. Com relação à plenitude de defesa, esta é mais aberta e é mais liberal. Os argumentos podem ser religiosos, políticos, sentimentais, etc., a fim de convencer os jurados. Não precisam ser jurídicos os fundamentos. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 28 DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. O STF declarou que a expressão “para o interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição Federal. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: • a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade • a ilicitude das provas obtidas • a responsabilidade civil do Estado. Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato processual. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906). i) Princípio do juiz natural Segundo o dispositivo constitucional, ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Este artigo vai estabelecer as regras de competência e o juízo que irá julgar o caso. Portanto, as regras de competência em razão da matéria, pessoa e lugar deverão ser observados. O princípio do juiz natural permite saber quem será o órgão, segundo as regras objetivas de competência, que irá julgar. Há uma previsibilidade do juiz, evitando-se assim o juiz ad hoc. Existem casos que a doutrina discute sobre se haveria ou não a violação ao princípio do juiz natural. Todavia, são casos que já foram decididos pela inexistência de violação ao juiz natural: Delegação de atos instrutórios ao juiz de primeira instância decorrente de processos de competência originária dos Tribunais. Ex.: prefeito cometeu um crime comum, mas o TJ delega ao juiz de 1ª instância a competência para praticar atos instrutórios. Não haverá violação ao princípio do juiz natural. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 29 Convocação de juízes de 1º grau para compor o órgão julgador do 2º grau não viola o princípio do juiz natural. Ainda que essa composição do órgão seja majoritariamente de juízes de 1º grau convocados, caso tenham sido legalmente convocados, não há qualquer ofensa ao juiz natural. Designação genérica para o juiz atuar em uma vara, não ofende o princípio do juiz natural. Essas designações não são para processos específicos, e sim de forma genérica. E como o juiz não irá atuar em apenas um processo específico, mas em diversos, não haverá violação ao princípio do juiz natural. Segundo o STF, não viola o princípio do juiz natural o julgamento de apelação por órgão colegiado presidido por desembargador, sendo os demais integrantes juízes convocados (Inf. 814). j) Princípio da identidade física do juiz Como se sabe, não havia antes de 2008 o princípio da identidade física do juiz. A ideia é de que o juiz que presidiu a instrução deverá julgar o feito. Isso porque ele teria o maior conhecimento dos fatos, visto que participou da audiência, ouviu e viu o réu e as testemunhas. Esta é a ideia de vinculação obrigatória dos processos que o juiz teve contato. Este princípio comporta exceções, inclusive pela aplicação analógica do CPC, como é o caso de convocação do juiz, licenças, férias, afastamentos gerais, aposentadoria, etc. Neste caso, o sucessor irá assumir o caso e julgará o processo. Cabe ressaltar que o NCPC retirou o princípio da identidade física do juiz para o processo civil. Essa presença poderá ser imediata ou remota, a qual poderá se dar por videoconferência. Diante do art. 7º, XXI, do Estatuto da OAB, é possível o delegado entender que a presença do advogado seja obrigatória na investigação preliminar. Cabe ressaltar que ainda que haja advogado na fase investigatória, os elementos produzidos ali serão Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 30 elementos informativos, visto que a prova somente é assim considerada quando produzida na presença do juiz. k) Princípio do in dubio pro reo (favor rei) O princípio do in dubio pro reo decorre do sistema acusatório e da presunção de inocência. Quem acusa deve provar essa alegação. Caso não prove a acusação, será o réu inocente. O CPP incorpora esse princípio, pois no art. 386, VII, do CPP que o juiz absolverá o réu, desde que reconheça não existir prova suficiente para a condenação. Veja, o CPP traz a ideia de que, na dúvida, deverá haver a absolvição. Este princípio não tem caráter absoluto, pois na fase de pronúncia ou recebimento da denúncia, vigora o princípio in dúbio pro societate. Mas no momento da sentença será o princípio do in dubio pro reo que prevalecerá. l) Princípio do nemo tenetur se detegere De acordo com o art. 5°, inciso LXIII, da Constituição Federal, "o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado". O direito ao silêncio, previsto na Carta Magna como direito de permanecer calado, apresenta-se apenas como uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Além da Constituição Federal, o princípio do nemo tenetur se detegere também se encontra previsto no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 14.3, "g"), e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8°, § 2°, “g"). De acordo com Renato Brasileiro, trata-se de uma modalidade de autodefesa passiva, que é exercida por meio da inatividade do indivíduo sobre quem recai ou pode recair uma imputação. O titular do direito de não produzir prova contra si mesmo é, portanto, qualquer pessoa que possa se autoincriminar. Não é válido, por outro lado, arrolar alguém como testemunha e querer, em razão do dever de dizer a verdade aplicável à hipótese, forçá- Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com31 la a responder sobre uma pergunta que importe, mesmo que indiretamente, em incriminação do depoente. Lembre-se que a testemunha, diferentemente do acusado, tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho (CP, art. 342), porém não está obrigada a responder sobre fato que possa, em tese, incriminá-la. Daí ter decidido o Supremo que não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo como testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam incriminá-la. Diante do teor expresso do art. 5°, LXIII, da CF, segundo o qual o preso será informado de seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado, deve, sim, haver prévia e formal advertência quanto ao direito ao silêncio, sob pena de se macular de ilicitude a prova então obtida. A omissão do dever de informação ao preso dos seus direitos, no momento adequado, gera efetivamente a nulidade e impõe a desconsideração de todas as informações incriminatórias dele anteriormente obtidas, assim como das provas delas derivadas. O art. 5°, inciso LXIII, da CF tem mandamento semelhante ao famoso Aviso de Miranda do direito norte-americano, em que o policial, no momento da prisão, tem de ler para o preso os seus direitos, sob pena de não ter validade o que por ele for dito. Como decorrência da necessidade de advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo, não se pode considerar lícita, portanto, gravação clandestina de conversa informal de policiais com o preso, em modalidade de "interrogatório" sub-reptício, quando, além de o capturado não dar seu assentimento à gravação ambiental, não for advertido do seu direito ao silêncio. Por isso, também não podem ser consideradas válidas entrevistas concedidas por presos à imprensa, antes ou após a lavratura do flagrante, sem o conhecimento de seu direito constitucional. Não foi essa, todavia, a orientação do Supremo Tribunal Federal. Em habeas corpus apreciado pela 2ª Turma, em que se alegava a ilicitude da prova juntada aos autos, consistente em entrevista concedida ao jornal, na qual o acusado narrara o modus operandi de 2 homicídios a ele imputados, sem ter sido previamente advertido de seu direito ao silêncio, reputou-se que a Constituição teria conferido dignidade constitucional Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 32 ao direito ao silêncio, dispondo expressamente que o preso deve ser informado pela autoridade policial ou judicial da faculdade de manter-se calado. Consignou-se que o dever de advertir os presos e os acusados em geral de seu direito de permanecerem calados consubstanciar-se-ia em uma garantia processual penal que teria como destinatário precípuo o Poder Público. Concluiu-se, entretanto, não haver qualquer nulidade na juntada da prova, entrevista concedida espontaneamente a veículo de imprensa. No direito norte-americano o dever de advertência é conhecido como “aviso de Miranda” (“Miranda rights”/”Miranda warnings”). Os Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no famoso julgamento Miranda V. Arizona, verificado em 1966, em que a Suprema Corte americana, por cinco votos contra quatro, firmou o entendimento de que nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes ela tenha sido claramente informada de: 1) que tem o direito de não responder; 2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 3) que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado. Alguns desdobramentos do direito de não produzir prova contra si mesmo devem ser elencados: a) direito ao silêncio ou direito de ficar calado: corresponde ao direito de não responder às perguntas formuladas pela autoridade, funcionando como espécie de manifestação passiva da defesa. Não é sinônimo de confissão ficta ou de falta de defesa; b) direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal: o acusado não é obrigado a confessar a prática do delito. c) inexigibilidade de dizer a verdade: alguns doutrinadores entendem que o acusado possui o direito de mentir, por não existir o crime de perjúrio no ordenamento pátrio. Na verdade, por não existir o crime de perjúrio no ordenamento pátrio, pode-se dizer que o comportamento de dizer a verdade não é exigível do acusado, sendo a mentira tolerada, porque dela não pode resultar nenhum prejuízo ao acusado. Se essa mentira defensiva é tolerada, especial atenção deve ser dispensada às denominadas mentiras agressivas, quando o acusado imputa falsamente a terceiro inocente a prática do delito. Nessa hipótese, dando causa à instauração de Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 33 investigação policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém que o sabe inocente, o agente responderá normalmente pelo delito de denunciação caluniosa (CP, art. 339). Tem prevalecido o entendimento de que o direito ao silêncio não abrange o direito de falsear a verdade quanto à identidade pessoal. Para o Supremo, tipifica o crime de falsa identidade o fato de o agente, ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus antecedentes. A propósito, eis o teor da Súmula n. 522 do STJ: “A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa”. d) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá- lo: doutrina e jurisprudência têm adotado o entendimento de que não se pode exigir um comportamento ativo do acusado, caso desse fazer possa resultar a autoincriminação. Tem predominado o entendimento de que não se admitem medidas coercitivas contra o acusado para obrigá-lo a cooperar na produção de provas que dele demandem um comportamento ativo. Por isso, o acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor; não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico; configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa destes em participarem de reconstituição do crime; direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva, salvo se houver consentimento; e) Direito de não ser conduzido coercitivamente para prestar interrogatório: vide abaixo. f) Bafômetro: a infração administrativa de embriaguez ao volante e a nova redação do crime de embriaguez ao volante (Lei n" 12.760/12): é dominante o entendimento de que a recusa do condutor em submeter-se ao bafômetro ou a um exame de sangue não configura crime de desobediência nem pode Ser interpretada em seu desfavor, pelo menos no âmbito criminal. Nessa linha, há precedentes do Supremo Tribunal Federal no sentido de que não se pode presumir a embriaguez de quem não se submete a exame de dosagem alcoólica: afinal, a Constituição da República impede que se extraia Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 34 qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo (princípio do nemo tenetur se detegere). O art. 306, § 1º, do CTB, com redação dada pela Lei no 12.760/12, dispõe que o novel crime de embriaguez ao volante será constatado por: I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou por sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo CONTRAN, alteração da capacidade psicomotora. Ademais, nos termos do art. 306, § 2°, do CTB, com redação determinada pela Lei n° 12.971/14, a verificação da embriaguez ao volante poderá ser obtida mediante testede alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. Direito de não ser conduzido coercitivamente para prestar interrogatório: De acordo com Márcio André Lopes Cavalcanti, a condução coercitiva para interrogatório é, portanto, a ordem judicial, materializada em um mandado, por meio do qual a polícia fica autorizada a levar o investigado, compulsoriamente, para a Delegacia (ou outro lugar escolhido) a fim de que ali ele seja interrogado, no dia e horário escolhidos pela autoridade policial. Em geral, o objetivo idealizado para a condução coercitiva é que o órgão de investigação criminal atue com o “fator surpresa”, fazendo com que o investigado preste suas declarações no interrogatório sem ter tido muito tempo para refletir naquilo que irá responder e sem ter tido a oportunidade de conversar com os outros investigados ou ainda de conhecer quais os outros elementos informativos que a polícia já dispõe contra ele. Por isso, normalmente, o mandado de condução coercitiva é cumprido logo no início do dia, por volta das 6h, ao mesmo tempo em relação a todos os investigados naquela operação. A polícia chega à residência do investigado, explica o mandado, pede que ele se vista e já segue com ele imediatamente para a Delegacia, onde já há um Delegado esperando para conduzir o interrogatório. Vale ressaltar que, na condução coercitiva, o investigado é obrigado a comparecer à Delegacia, mas lá poderá permanecer em silêncio e não responder a qualquer das perguntas formuladas. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 35 Importante destacar também que o investigado, durante o interrogatório, poderá se fazer acompanhar por advogado ou Defensor Público. O caso mais famoso de condução coercitiva ocorreu com o ex-Presidente Lula. O Juiz Federal Sérgio Moro, a requerimento da Polícia Federal, deferiu a condução coercitiva de Lula, que foi efetivada em 04/03/2016, tendo o ex-Presidente sido levado para prestar interrogatório em uma sala no aeroporto de Congonhas. Confira a explicação de Vladimir Aras para a condução coercitiva: A condução coercitiva autônoma – que não depende de prévia intimação da pessoa conduzida – pode ser decretada pelo juiz criminal competente, quando não cabível a prisão preventiva (arts. 312 e 313 do CPP), ou quando desnecessária ou excessiva a prisão temporária, sempre que for indispensável reter por algumas horas o suspeito, a vítima ou uma testemunha, para obter elementos probatórios fundamentais para a elucidação da autoria e/ou da materialidade do fato tido como ilícito. Assim, quando inadequadas ou desproporcionais a prisão preventiva ou a temporária, nada obsta que a autoridade judiciária mande expedir mandados de condução coercitiva, que devem ser cumpridos por agentes policiais sem qualquer exposição pública do conduzido, para que prestem declarações à Polícia ou ao Ministério Público, imediatamente após a condução do declarante ao local do depoimento. Tal medida deve ser executada no mesmo dia da deflagração de operações policiais complexas, as chamadas megaoperações. Em regra, para viabilizar a condução coercitiva será necessário demonstrar que estão presentes os requisitos para a decretação da prisão temporária, mas sem a limitação do rol fechado (numerus clausus) do art. 1º da Lei 7.960/89. A medida de condução debaixo de vara justifica-se em virtude da necessidade de acautelar a coleta probatória durante a deflagração de uma determinada operação policial ou permitir a conclusão de uma certa investigação criminal urgente. Diante das circunstâncias do caso concreto, a prisão temporária pode ser substituída por outra medida menos gravosa, a partir do poder geral de cautela do Poder Judiciário, previsto no art. 798 do CPC e aplicável ao processo penal com base no art. 3º do CPP. Tal medida cautelar extranumerária ao rol do art. 319 do CPP reduz a coerção do Estado sobre o indivíduo, limitando-a ao tempo estritamente necessário para a preservação probatória, durante a fase executiva da persecução policial. Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 36 De fato, a condução coercitiva dos suspeitos sempre será mais branda que a prisão temporária; a medida restringe de modo mais suave a liberdade pessoal, somente enquanto as providências urgentes de produção de provas (cumprimento de mandados de buscas, por exemplo) estiverem em curso. Se o legislador permite a prisão temporária por (até) 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias nos crimes comuns, a condução coercitiva resolve-se em um dia ou menos que isto, em algumas horas, mediante a retenção do suspeito e sua apresentação à autoridade policial para interrogatório sob custódia, enquanto as buscas têm lugar. Ou seja, a condução sob vara deve durar apenas o tempo necessário à instrução preliminar de urgência, não devendo persistir por prazo igual superior a 24 horas, caso em que se trasveste em temporária. Sendo menos prolongada que as prisões cautelares, a condução coercitiva guarda ainda as mesmas vantagens que a custódia temporária, pois permite que a Polícia interrogue todos os envolvidos no mesmo momento, visando a evitar, pela surpresa, as versões “combinadas” ou que um suspeito oriente as declarações de uma testemunha ou a pressione, na fase da apuração preliminar, ou que documentos ou ativos sejam suprimidos, destruídos ou desviados. (ARAS, Vladimir. Debaixo de vara: a condução coercitiva como cautelar pessoal autônoma. Disponível em: https://vladimiraras.blog/2013/07/16/a-conducao-coercitiva-como-cautelar-pessoal- autonoma/>; acesso em 27 ago. 2018. A condução coercitiva viola o direito à não autoincriminação? NÃO. Isso porque o conduzido, ao chegar na Delegacia, é informado de que possui direito ao silêncio. A autoridade policial interrogante faz a advertência ao investigado de que ele pode permanecer em silêncio se assim desejar. A condução coercitiva viola o direito ao tempo necessário à preparação da defesa? NÃO. Na investigação, não há uma acusação formada. O investigado não tem o ônus de preparar defesa, na medida em que não está enfrentando uma acusação. A condução coercitiva viola o devido processo legal? A condução coercitiva não é uma medida completamente atípica. Isso porque o art. 260 do CPP admite a condução coercitiva, muito embora mencione a prévia Licenciado para - Matheus carneiro de Sousa - 06550834139 - Protegido por Eduzz.com 37 intimação. Ou seja, há base legal para restringir a liberdade do imputado, forçando-o a comparecer ao ato processual. Existe previsão legal de condução coercitiva. O problema estaria na inobservância do rito legal, considerando que os juízes têm decretado a condução coercitiva mesmo sem o investigado manifestar qualquer recusa. Desse modo, a questão aqui não envolve discutir se seria possível a concessão de medidas cautelares atípicas, mas sim a possibilidade de se afastar o rito legal previsto para a sua produção (art. 260 do CPP). Assim, não se pode falar que a condução coercitiva viole o devido processo legal por se tratar de medida cautelar atípica. A condução coercitiva viola o direito à imparcialidade, à paridade de armas e à ampla defesa? O STF também não concordou com este argumento e afirmou que a condução coercitiva não viola o direito à imparcialidade, à paridade de armas e à ampla defesa. Na fase de investigação, o juiz atua como garantidor de liberdades. É do sistema constitucional que algumas medidas sejam requeridas a um magistrado mesmo antes da instauração da relação processual. Várias dessas medidas são expressamente mencionadas na Constituição Federal, como, por exemplo, busca domiciliar (art. 5º, XI), interceptação telefônica (art. 5º, XII), prisão (art. 5º,
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