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PROCESSO PENAL 2020

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2 
 
 
 
Sumário 
Introdução ao Processo Penal ....................................................................................................................... 3 
Lei processual penal: eficácia no tempo e no espaço ................................................................................. 40 
Sujeitos do Processo .................................................................................................................................... 51 
Comunicação dos atos processuais ............................................................................................................. 75 
Inquérito Policial .......................................................................................................................................... 85 
Ação Penal ................................................................................................................................................. 133 
Ação Civil Ex Delicto ................................................................................................................................... 163 
Questões e Processos Incidentes .............................................................................................................. 169 
Jurisdição e competência .......................................................................................................................... 201 
Prova penal ................................................................................................................................................ 231 
Procedimentos........................................................................................................................................... 291 
Prisão processual, medidas cautelares e liberdade provisória ................................................................. 343 
Sentença penal .......................................................................................................................................... 400 
Nulidades ................................................................................................................................................... 423 
Recursos criminais ..................................................................................................................................... 436 
 
 
 
 
 
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Introdução ao Processo Penal 
 O processo penal é um instrumento que viabiliza o exercício do poder punitivo do 
Estado. 
I. Fontes do direito processual penal 
A doutrina divide a classificação em: 
 Fontes materiais 
 Fontes formais 
a) Fontes materiais 
Nas fontes materiais, quer-se saber qual o sujeito ou a entidade que produziu a 
norma. A fonte, neste caso, é a União, pois a CF prevê que compete privativamente à 
União legislar sobre direito processual penal. Isto significa que, por meio de lei 
complementar, poderá delegar aos Estados para tratar sobre questões específicas. 
Por outro lado, não se confunda com o direito penitenciário, que é de competência 
legislativa concorrente da União, Estados e Distrito Federal, os quais irão tratar de questões 
específicas, devendo observar as normas gerais fixadas pela União. 
Compete ainda à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente 
sobre procedimento em matéria processual. Procedimento não é processo, como é o caso 
de inquérito policial. 
O STF, quando analisou uma questão similar, considerou constitucional uma lei do 
Estado do RJ que estabelece que após 30 dias, em se tratando de investigado solto, caso 
o delegado de polícia não tivesse concluído o procedimento, poderia o MP requisitar 
justificativa para tanto. A lei estadual prevê isto, mas o STF a considerou constitucional, pois 
inquérito não é processo e sim procedimento. 
b) Fontes formais 
Fonte formal busca saber como foi feita a norma. 
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A fonte formal poderá ser: 
 Imediata (direta): é a lei em sentido amplo, abrangendo a CF, 
legislação infraconstitucional, tratados e regras de direitos 
internacional. 
 Mediatas (indireta): segundo Avena, são os princípios gerais do direito, analogia, 
costumes, doutrina, direito comparado e a jurisprudência. Ex.: ninguém é 
obrigado a produzir prova contra si mesmo. A analogia é aplicada em situação 
que não tem norma reguladora, devendo se utilizar de um caso similar para 
aplicar ao caso. O direito comparado é o que os outros Estados regulamentam 
a matéria. A jurisprudência é a posição que um tribunal adota, após 
reiteradamente ter enfrentado a matéria. 
Atualmente, há uma questão que ganha relevância, que é a denominada súmula 
vinculante. Esta súmula vincula os demais órgãos do poder judiciário e a administração 
direta e indireta. Neste caso, seria considerada fonte formal imediata. 
Todavia, a doutrina prevalente entende que a súmula vinculante não possui força 
de lei, motivo pelo qual seria ela uma fonte formal mediata (ou indireta) do direito 
processual penal. 
II. Sistemas processuais penais 
Existem 3 sistemas processuais penais: 
 Sistema acusatório: no sistema acusatório há uma separação entre o 
órgão acusado, órgão defensor e órgão julgador. Aqui, assegura-se 
ao réu o contraditório e a ampla defesa. Incumbe à acusação o ônus 
da prova de que o acusado praticou o crime, bem como incumbirá à 
defesa a tarefa de apresentar excludente de ilicitude. O juiz não é 
proibido de produzir provas, desde que isso não implique quebra da 
imparcialidade. Perceba que a função de acusar e provar que o réu 
praticou o crime deverá ser feita pelo MP. Caso não o faça, o sujeito 
será inocente, por conta do princípio da presunção de inocência. O 
processo é público e há prevalência da oralidade. 
 Sistema inquisitivo: no sistema inquisitivo, o juiz poderá acusar, 
defender e julgar. O juiz concentra essas funções. Não há contraditório 
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e ampla defesa, pois quem acusa e defende é a mesma pessoa. 
Como quem acusa e quem defende é quem julga, é forçoso 
compreender que é em razão de que o sujeito acredita que o 
acusado cometeu o crime, pois, do contrário, não acusaria. E como é 
o acusador que irá julgar, então significa dizer que a acusação é 
presumida. O processo é secreto e há prevalência do processo escrito. 
 Sistema misto (ou francês): no sistema misto, há uma divisão das funções, pois 
um órgão acusará, outro defende e outro julgará. Todavia, é possível que o 
magistrado, em determinadas situações, substitua as partes. É observado o 
princípiodo contraditório e à ampla defesa. 
No Brasil, prevalece o entendimento de que foi adotado o sistema acusatório. 
III. Princípios processuais penais e constitucionais 
a) Princípio da verdade real (material ou substancial) x Princípio da verdade formal 
(ou busca da verdade) 
No âmbito processual penal, estando em discussão a liberdade de locomoção do 
acusado, direito indisponível, o magistrado seria dotado de amplos poderes instrutórios, 
podendo determinar a produção de provas ex officio, sempre na busca da verdade 
material. Dizia-se então que, no processo penal, vigorava o princípio da verdade material, 
também conhecido como princípio da verdade substancial ou real. 
A descoberta da verdade, obtida a qualquer preço, era a premissa indispensável 
para a realização da pretensão punitiva do Estado. Essa busca da verdade material era, 
assim, utilizada como justificativa para a prática de arbitrariedades e violações de direitos, 
transformando-se, assim, num valor mais precioso do que a própria proteção da liberdade 
individual. 
A doutrina faz uma crítica, afirmando que esta verdade real é impossível, motivo 
pelo qual deveria ser considerado apenas a verdade dos autos, sendo, portanto, uma 
verdade formal. 
Esta busca da verdade real, que legitima uma atuação do magistrado no sentido 
de descobrir efetivamente o que ocorreu, não legitima a inobservância de direitos e 
garantias estabelecidos na CF e na legislação infraconstitucional. 
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Ex.: não se admite a produção de provas por meios ilícitos, motivo pelo qual a 
verdade real não irá se sobrepor à ilicitude da prova. Da mesma forma, caso o sujeito seja 
absolvido, tendo a sua sentença transitado em julgado, não é possível revisão criminal, 
ainda que surjam novas provas. Ou seja, não é possível revisão criminal pro societate. 
No caso da sentença de óbito falsa é diferente, pois a sentença é inexistente, razão 
pela qual seria admissível a propositura de uma nova ação penal. 
Atualmente, essa dicotomia entre verdade formal e material deixou de existir. Já 
não há mais espaço para a dicotomia entre verdade formal, típica do processo civil, e 
verdade material, própria do processo penal. 
No âmbito processual penal, hodiernamente, admite-se que é impossível que se 
atinja uma verdade absoluta. A prova produzida em juízo, por mais robusta e contundente 
que seja, é incapaz de dar ao magistrado um juízo de certeza absoluta. O que vai haver é 
uma aproximação, maior ou menor, da certeza dos fatos. 
Há de se buscar, por conseguinte, a maior exatidão possível na reconstituição do 
fato controverso, mas jamais com a pretensão de que se possa atingir uma verdade real, 
mas sim uma aproximação da realidade, que tenda a refletir ao máximo a verdade. Enfim, 
a verdade absoluta, coincidente com os fatos ocorridos, é um ideal, porém inatingível. 
Por esse motivo, tem prevalecido na doutrina mais moderna que o princípio que 
vigora no processo penal não é o da verdade material ou real, mas sim o da busca da 
verdade. Seu fundamento legal consta do art. 156 do Código de Processo Penal. 
Por força dele, admite-se que o magistrado produza provas de oficio, porém apenas 
na fase processual, devendo sua atuação ser sempre complementar, subsidiária. Na fase 
preliminar de investigações, não é dado ao magistrado produzir provas de oficio, sob pena 
de evidente violação ao princípio do devido processo legal e à garantia da 
imparcialidade do magistrado. 
Essa produção de prova de ofício pelo magistrado é duramente criticada pela 
doutrina, pois fere diretamente o sistema ACUSATÓRIO. Aury Lopes Jr critica as reformas 
pontuais no CPP feitas pela “lei anticrime”. “Reformas pontuais resultam em colchas de 
retalhos”, diz ele. Um desses retalhos que sobraram foi o artigo 156 do CPP. Ele permite que 
o juiz, de ofício, determine diligências ou a produção de provas. “Isso é um absurdo, é um 
erro. Não condiz com o sistema acusatório.” 
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E o que se entende por princípio da busca da verdade consensual no âmbito dos 
Juizados? 
De acordo com Renato Brasileiro, a Lei n° 9.099/95 trouxe consigo quatro 
importantes medidas despenalizadoras: 
1) Nas infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, contravenções penais e 
crimes cuja pena máxima não seja superior a 2 anos, cumulada ou não com 
multa, e submetidos ou não os crimes a procedimento especial, havendo 
composição civil dos danos, estará extinta a punibilidade nos casos de 
infrações de iniciativa privada ou pública condicionada à representação 
(art. 74, parágrafo único); 
2) Não havendo composição civil, a lei prevê a aplicat1,ão imediata de pena 
restritiva de direitos ou multa através da transação penal (art. 76); 
3) Os crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa passaram a exigir 
representação da vítima (art. 88); 
4) Desde que o crime tenha pena mínima igual ou inferior a um ano, e estejam 
preenchidos outros requisitos de natureza subjetiva, será cabível a suspensão 
condicional do processo (art. 89). 
Com a criação desses institutos despenalizadores, percebe-se que, no âmbito dos 
Juizados, a busca da verdade processual cede espaço à prevalência da vontade 
convergente das partes. 
Nos casos de transação penal ou de suspensão condicional do processo, não há 
necessidade de verificação judicial da veracidade dos fatos. O conflito penal é 
solucionado através de um acordo de vontade, dando origem ao que a doutrina 
denomina de verdade consensuada. 
b) Princípio do devido processo legal 
O devido processo legal encontra previsão no art. 5º, LIV, da CF, mas também há 
vários outros dispositivos no mesmo sentido. 
Por conta disso, ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal. 
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São corolários do devido processo legal o contraditório e a ampla defesa. No 
aspecto material, o devido processo legal é defendido como sendo a proporcionalidade. 
Do devido processo legal, há uma série de direitos consagrados: 
 Direito do acusado ser ouvido pessoalmente pelo juiz no seu interrogatório 
 Direito de defesa com capacidade técnica por um advogado ou por um 
defensor público 
 Direito de observância das regras jurídicas processuais e procedimentais 
estabelecidas 
c) Princípio da vedação à utilização de provas ilícitas 
Este é um “freio” ao princípio da verdade real. 
Segundo a CF, são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. 
Ou seja, não se admitem provas ilícitas como fator de convicção do magistrado. Na 
verdade, há algumas exceções que o CPP traz, como a teoria da descoberta inevitável e 
da prova independente, que será estudado mais à frente. 
Segundo o art. 157, são inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as 
provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. 
O §1º afirma que são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo 
quando: 
 Não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras; ou 
 As derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
O §2º explica que se considera fonte independente aquela que por si só, seguindo 
os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz 
de conduzir ao fato objeto da prova. 
O §3º diz que, preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada 
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o 
incidente. 
A doutrina diferencia prova proibida, vedada ou ilegal como gênero, mas há duas 
espécies: 
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 Prova ilegítima: é uma prova com relação ao direito processual.Ex.: juntada fora 
do prazo uma documentação ou testemunha. 
 Prova ilícita: há uma relação com uma regra de direito material ou com uma 
regra de direito constitucional. Ex.: interceptação telefônica sem que houvesse 
decisão judicial nesse sentido. Prova obtida por meio de tortura também é 
exemplo. 
As teorias estão descritas no capítulo das provas, mencionando a teoria da fonte 
independente (§1º do art. 157 do CPP) e a teoria da descoberta inevitável. 
Poderá o juiz que tomou conhecimento sobre as provas ilícitas julgar o processo? 
SIM. Mesmo a prova sendo desentranhada, poderá o juiz julgar o processo. 
A doutrina e jurisprudência entendem que é possível a utilização de prova ilícita 
pelo réu, quando for a única forma de o réu comprovar algo em seu favor, importante à 
sua defesa. 
Neste caso, haverá a aplicação do princípio da proporcionalidade. Isto é, haverá 
uma colisão de direitos fundamentais, pois o réu estaria violando o direito à intimidade, 
mas consegue uma prova que justifica a sua inocência. A prova é ilícita, mas serve para 
evitar uma condenação injusta. Sendo assim, há de ser feita uma ponderação. 
d) Princípio da presunção de inocência (não culpabilidade ou do estado de 
inocência) 
Trata-se de um desdobramento do devido processo legal, pois, segundo o art. 5º, 
LVII, da CF, ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença 
penal condenatória. 
Por isso, decorre do devido processo legal, visto que enquanto não transitar em 
julgado o sujeito não poderá ser considerado culpado. 
Segundo Badaró, não há diferença entre presunção de inocência e presunção de 
não culpabilidade, sendo inútil e contraproducente a tentativa de apartar ambas as ideias 
- se é que isto é possível -, devendo ser reconhecida a equivalência de tais fórmulas. 
Contudo, há fundamento para a terminologia distinta: 
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 Convenção Americana de Direitos Humanos (presunção de inocência): CADH, art. 
8º, § 2º: “Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua 
inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa”. 
 Constituição Federal de 1988 (presunção de não culpabilidade): CF, art. 5º, LVII: 
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória” 
Geralmente, os tratados internacionais sobre direitos humanos usam a palavra 
“inocência” e “presunção”. Assim, normalmente fala-se em “presunção de inocência”. 
Assim, pelo menos enquanto o processo criminal não for concluído, o indivíduo é 
presumido inocente. 
Já na Constituição Federal a terminologia é um pouco diversa porque ela não usa 
o termo “inocente”. Ela é redigida de maneira negativa dizendo que “ninguém será 
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” – 
presunção de não culpabilidade. 
Trata-se de um princípio reitor do processo penal, impondo um dever de tratamento 
ao réu, surgindo daí 3 regras: 
Ainda, o princípio da presunção de inocência deve ser considerado em três 
momentos distintos: 
 
a) Na instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade, 
invertendo-se o ônus da prova; 
b) Na avaliação da prova, impondo-se seja valorada em favor do acusado quando 
houver dúvidas sobre a existência de responsabilidade pelo fato imputado; 
c) No curso do processo penal, como parâmetro de tratamento do acusado, em 
especial no que concerne à análise quanto à necessidade ou não de sua segregação 
provisória. 
 
Assim, incumbe aos Poderes da República torná-lo efetivo, da seguinte forma: 
 
(i) o Legislativo, criando normas que visem a equilibrar o interesse do Estado na 
satisfação de sua pretensão punitiva com o direito à liberdade do acusado; 
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(ii) o Executivo, sancionando essas normas; 
(iii) e o Judiciário, deixando de aplicar no caso concreto (controle difuso da 
constitucionalidade) ou afastando do mundo jurídico (controle concentrado da 
constitucionalidade) disposições que não se coadunem com a ordem constitucional 
vigente. 
 
ATENÇÃO! Na dosimetria da pena podem ser considerados registros criminais 
pertinentes a processos a que responde o acusado sem trânsito em julgado de 
decisão condenatória? 
A jurisprudência dos Tribunais Superiores é amplamente majoritária no sentido de 
que tais referências não podem ser valoradas contra o acusado, em homenagem 
ao princípio da presunção de inocência. Em razão disso, na esteira da Súmula 444 
do STJ, tem-se decidido que os maus antecedentes referentes a inquéritos e 
processos em andamento, quando utilizados para a exacerbação da pena-base e 
do regime prisional, violam o princípio constitucional da presunção de inocência. 
Por maus antecedentes criminais, em virtude do que dispõe o art. 5.º, inciso LVII, da 
Constituição de República, entenda-se a condenação transitada em julgado, 
excluída aquela que configura reincidência. 
Decorrência deste entendimento, também, a impossibilidade de levar em conta, no 
momento da fixação da pena, inquéritos policiais, arquivados ou em andamento, 
procedimentos de apuração de ato infracional a que tenha respondido imputado 
quando menor de 18 anos e fatos em relação aos quais tenha sido aceito o 
benefício da transação penal no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (art. 76, §§ 
4.º e 6.º, da Lei 9.099/1995). 
 
É constitucional a regressão de regime carcerário em consequência da prática de 
crime doloso, enquanto ainda não houver, quanto a esse delito, sentença 
condenatória transitada em julgado? 
O art. 118, I, da Lei 7.210/1984 (Lei de Execuções Penais) estabelece que a execução 
da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência 
para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado praticar fato 
definido como crime doloso ou falta grave, não exigindo o trânsito em julgado de 
sentença condenatória para esse fim. Acerca da constitucionalidade desta regra 
em face da presunção de inocência, duas posições existem: 
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12 
 
- Primeira: O art. 118 da LEP viola frontalmente o princípio do estado de inocência, 
pois, diante de um fato apenas teoricamente criminoso (certeza mesmo deste 
caráter apenas haverá com o trânsito em julgado da decisão condenatória), 
determina a punição do apenado com regressão de seu regime para outro mais 
severo. Desconsidera o dispositivo, ainda, a possibilidade de ser o reeducando 
absolvido da imputação realizada no processo criminal que lhe venha a ser 
instaurado em razão desse novo fato, caso em que teria sido desarrazoada a 
regressão imposta. 
- Segunda: Não importa o art. 118, I, da Lei 7.210/1984 em violação ao princípio da 
presunção de inocência, na medida em que o apenado que cumpre pena no 
regime semiaberto ou aberto tem o dever de demonstrar sua responsabilidade e 
adaptação ao convívio social. Além disso, entendimento diverso reduziria a um 
nada a efetividade do processo de execução, ressaltando-se que o não 
cometimento de crime doloso ou falta grave é, por força da LEP, condição para a 
permanência do reeducando em regime menos rigoroso. 
Em termos de jurisprudência, tem prevalecido essa segunda linha de pensamento. 
Consideram os Tribunais Superiores que o princípio da presunção de inocência não 
é absoluto, impondo-se que seja mitigado em certas circunstâncias, como já ocorre 
em relação ao instituto da prisão preventiva, que permite seja o denunciado preso 
antes da condenação para assegurar a aplicação da lei penal. 
Pode o juiz ordenar a revogação do benefício da suspensão condicional do 
processo concedido ao acusado em face do art. 89 da Lei 9.099/1995 tão somente 
em razão da prática de outro crime, isto é, mesmo ausente sentença condenatóriatransitada em julgado quanto a esse novo delito? 
Estabelece o art. 89, § 3.º, da Lei 9.099/1995 que a suspensão condicional do 
processo será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado 
por outro crime. Quanto à constitucionalidade desse dispositivo, já que autoriza a 
cassação de benefício legal independentemente de condenação definitiva do 
indivíduo, assim como no caso anterior, duas posições existem, uma no sentido de 
que implica violação ao princípio da presunção de inocência e outra, em sentido 
contrário, compreendendo que se o acusado vier a ser processado por outro crime, 
impõe-se a revogação da suspensão já que deixa ele de ser merecedor do 
benefício, que é norma excepcional. Prevalece este último entendimento. 
 
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O conhecimento da apelação do réu em face da sentença condenatória pode ser 
condicionado a que se recolha à prisão? 
Dispunha o art. 595 do CPP que se o réu condenado fugisse depois de haver 
apelado, seria declarada deserta a apelação. Na esteira desse dispositivo, foi 
editada pelo STJ a Súmula 9, dispondo que “a exigência da prisão provisória, para 
apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência”. Anos 
mais tarde, curvando-se ao entendimento da maioria, o STJ, amparado no 
postulado da presunção de inocência, revisou seu entendimento e publicou a 
Súmula 347, estabelecendo que “o conhecimento de recurso de apelação do réu 
independe de sua prisão”. Tal previsão implicou o cancelamento tácito da referida 
Súmula 9, consolidando-se em termos definitivos com a revogação do art. 595 do 
CPP pela Lei 12.403/2011. 
*A execução provisória da pena infringe o princípio da presunção de inocência? 
No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), 
retornou para a sua posição anterior e afirmou que o cumprimento da pena somente 
pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. 
Assim, é proibida a execução provisória da pena. 
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes 
do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja 
proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o 
magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva 
previstos no art. 312 do CPP. 
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas 
cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. 
Principais argumentos: 
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que 
“ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e 
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença 
condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, 
em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente 
compatível com a Constituição em vigor. 
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado 
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa 
margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação. 
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• É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de 
inocência pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A 
repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos 
e garantias fundamentais dos investigados. 
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o 
Poder Judiciário embasar suas decisões no clamor público. 
 
Desse princípio, derivam duas regras fundamentais: a regra probatória e a de 
tratamento. 
 
Regra probatória (in dubio pro reo) 
 
A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado além de 
qualquer dúvida razoável. Recai exclusivamente sobre a acusação o ônus da prova. 
 
JURISPRUDÊNCIA: CRIMINAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. ROUBO. 
EMPREGO DE ARMA. DESNECESSIDADE DE APREENSÃO E REALIZAÇÃO DE PERÍCIA. 
UTILIZAÇÃO DE OUTROS MEIOS DE PROVA. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE. EMBARGOS 
CONHECIDOS E REJEITADOS. I – Para a caracterização da majorante prevista no art. 157, § 
2º, inciso I, do Código Penal, prescinde-se da apreensão e realização de perícia em arma 
utilizada na prática do crime de roubo, se por outros meios de prova restar evidenciado o 
seu emprego. Precedentes do STF. II – Os depoimentos do condutor, da vítima, das 
testemunhas, bem como qualquer meio de captação de imagem, por exemplo, são 
suficientes para comprovar a utilização de arma na prática delituosa de roubo, sendo 
desnecessária a apreensão e a realização de perícia para a prova do seu potencial de 
lesividade e incidência da majorante. III - A exigência de apreensão e perícia da arma 
usada na prática do roubo para qualificá-lo constitui exigência que não deflui da lei 
resultando então em exigência ilegal posto ser a arma por si só -- desde que demonstrado 
por qualquer modo a utilização dela – instrumento capaz de qualificar o crime de roubo. 
IV – Cabe ao imputado demonstrar que a arma é desprovida de potencial lesivo, como 
na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou arma incapaz de 
produzir lesão. V – Embargos conhecidos e rejeitados, por maioria. 
 
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- Consectários: 
a) Incumbência do acusador de demonstrar a culpabilidade do acusado; 
b) Necessidade de comprovar a existência dos fatos imputados, não de demonstrar 
a inconsistência das desculpas do acusado; 
c) Tal comprovação deve ser feita legalmente (conforme o devido processo legal); 
d) Impossibilidade de se obrigar o acusado a colaborar na apuração dos fatos 
(decorrente do direito ao silêncio). 
e) Deve ser usado no momento da valoração das provas: na dúvida, a decisão tem 
que favorecer o imputado, pois o imputado não tem a obrigação de provar que não 
praticou delito. 
f) Só incide até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Assim, na 
revisão criminal, não há que se falar em in dubio pro reu, mas sim em in dubio contra reu. 
O ônus da prova recai única e exclusivamente sobre o postulante – por isso, na dúvida, o 
Tribunal deve julgar improcedente o pedido revisional. 
 
 Regra de tratamento 
 
A privação cautelar da liberdade, sempre qualificada pela excepcionalidade, 
somente se justifica em hipóteses estritas, ou seja, a regra é responder ao processo penal 
em liberdade; a exceção é estar preso. 
 
Assim, por força da regra de tratamento oriunda do princípio constitucional da não 
culpabilidade, o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação ao 
suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao acusado, como se estes já houvessem sido 
condenados, definitivamente, enquanto não houver sentença condenatória com trânsito 
em julgado (#CUIDADO com o tema execução provisória da pena!). 
 
Há quem entenda que esse princípio atua em duas dimensões: 
 
a) Interna ao processo: funciona como dever imposto, inicialmente, ao 
magistrado, no sentido de que o ônus da prova recai integralmente sobre a parte 
acusadora, devendo a dúvida favorecer o acusado. E as prisões cautelares devem ser 
excepcionais, comprovada a necessidade; 
 
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b) Externa ao processo: proteção contra a publicidade abusiva e a 
estigmatização do acusado. Os princípios, a presunção de inocência e as garantias 
constitucionais da imagem funcionam como limites democráticos à abusiva exploração 
midiática em torno do fato criminoso e do processo judicial. 
 
OBS.: A vedação à execução provisória da pena, decorrente do princípioda presunção 
de não culpabilidade, não impede a antecipação cautelar dos benefícios da execução 
penal definitiva ao preso processual. Assim, na antecipação dos benefícios, seria possível 
a incidência de institutos como a progressão de regime e outros incidentes da execução 
– já que a LEP estende seus benefícios aos presos provisórios (Lei 7.210/84, art. 2o, § único). 
SÚMULA 716, STF: Admite-se a progressão do regime de cumprimento da pena ou a 
aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em 
julgado da sentença condenatória. 
SÚMULA 717, STF: Não impede a progressão do regime de execução da pena, fixada em 
sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial. 
 
 ENTENDIMENTO ATUAL SOBRE A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA: 
Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o 
julgamento de recurso sem efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É 
possível a execução provisória da pena? 
1ª Período 
 
Até fev/2009: 
 
SIM 
 
É possível a 
execução 
provisória da pena 
Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a 
execução provisória da pena. 
Desse modo, se o réu estivesse condenado e interpusesse 
recurso especial ou recurso extraordinário, teria que iniciar o 
cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o 
julgamento. 
Os recursos extraordinário e especial são recebidos no efeito 
devolutivo. Assim, exauridas estão as instâncias ordinárias 
criminais é possível que o órgão julgador de segundo grau 
expeça mandado de prisão contra o réu (STF. Plenário. HC 
68726, Rel. Min. Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991). 
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2ª Período 
 
De fev/2009 a 
fev/2016: 
 
NÃO 
 
NÃO é possível a 
execução 
provisória da pena 
No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros 
Grau), mudou de posição e passou a entender que não era 
possível a execução provisória da pena. 
Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento do 
REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem previstos os 
pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 
do CPP). 
Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente 
(preventivamente) e não como execução provisória da 
pena. 
Principais argumentos: 
• A prisão antes do trânsito em julgado da condenação 
somente pode ser decretada a título cautelar. 
• A execução da sentença após o julgamento do recurso 
de apelação significa restrição do direito de defesa. 
• A antecipação da execução penal é incompatível com 
o texto da Constituição. 
Esse entendimento durou até fevereiro de 2016. 
3º Período: 
 
De fev/2016 a 
nov/2019: 
 
SIM 
 
É possível a 
execução 
provisória da pena 
No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. 
Teori Zavascki), retornou para a sua primeira posição e 
voltou a dizer que era possível a execução provisória da 
pena. 
Principais argumentos: 
• É possível o início da execução da pena condenatória 
após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau e isso 
não ofende o princípio constitucional da presunção da 
inocência. 
• O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem 
efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso significa que, mesmo 
a parte tendo interposto algum desses recursos, a decisão 
recorrida continua produzindo efeitos. Logo, é possível a 
execução provisória da decisão recorrida enquanto se 
aguarda o julgamento do recurso. 
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• Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 
2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse 
momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, até 
porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau ao 
STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas 
apenas matéria de direito. 
• É possível o estabelecimento de determinados limites ao 
princípio da presunção de não culpabilidade. Assim, a 
presunção da inocência não impede que, mesmo antes do 
trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza 
efeitos contra o acusado. 
• A execução da pena na pendência de recursos de 
natureza extraordinária não compromete o núcleo 
essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que 
o acusado tenha sido tratado como inocente no curso de 
todo o processo ordinário criminal, observados os direitos e 
as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas as 
regras probatórias e o modelo acusatório atual. 
• É necessário equilibrar o princípio da presunção de 
inocência com a efetividade da função jurisdicional penal. 
Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os interesses 
dos acusados, como também da sociedade, diante da 
realidade do intrincado e complexo sistema de justiça 
criminal brasileiro. 
• “Em país nenhum do mundo, depois de observado o 
duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação 
fica suspensa aguardando referendo da Suprema Corte”. 
4º Período: 
 
Entendimento 
atual: 
 
NÃO 
No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. 
Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda posição e 
afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter 
início com o esgotamento de todos os recursos. 
Assim, é proibida a execução provisória da pena. 
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do 
trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os 
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NÃO é possível a 
execução 
provisória da pena 
recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja 
proferida uma decisão judicial individualmente 
fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão 
presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no 
art. 312 do CPP. 
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em 
julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não 
como execução provisória da pena. 
Principais argumentos: 
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 
12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso senão 
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada 
da autoridade judiciária competente, em decorrência de 
sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso 
da investigação ou do processo, em virtude de prisão 
temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente 
compatível com a Constituição em vigor. 
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém 
será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória”, não deixa margem a 
dúvidas ou a controvérsias de interpretação. 
• É infundada a interpretação de que a defesa do princípio 
da presunção de inocência pode obstruir as atividades 
investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a 
crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica 
e os direitos e garantias fundamentais dos investigados. 
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos 
poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar suas 
decisões no clamor público. 
 
CUIDADO: Os réus que estavam presos por força da execução provisória da pena deverão 
ser soltos com essa nova decisão? 
Deverá ser analisada a situação individual de cada um desses réus. Se eles estavam presos 
unicamente por força da execução provisória da pena, é provável que sejam soltos. Se 
eles estavam presos porque presentes os requisitos da prisão cautelar (art. 312 do CPP), a 
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decisão do STF não altera a sua situação. Por isso, os Tribunais deverão analisar cada um 
dos casos. 
 
A nova decisão do STF é vinculante? 
SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a constitucionalidade do art. 
283 do CPP: 
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delitoou por ordem escrita e 
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença 
condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em 
virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. 
 
Apesar de haver certa divergência doutrinária, prevalece que as decisões proferidas pelo 
STF em ação declaratória de constitucionalidade possuem efeitos vinculantes e erga 
omnes. 
 
O cenário acima está consolidado? 
Por enquanto, sim. No entanto, não é possível afirmar, com segurança, que irá prevalecer 
por muito tempo. Isso porque a decisão do STF foi construída com um placar apertado 
(6x5). Um dos Ministros que votou pela proibição da execução provisória da pena foi Celso 
de Mello. O Ministro Celso de Mello se aposenta em novembro de 2020. Se o novo Ministro 
que tomar posse defender a possibilidade da execução provisória da pena, o cenário 
acima poderá ser, novamente, alterado. 
Por enquanto, contudo, o que foi explicado acima é o que vale. 
 
Também não é possível a execução da pena RESTRITIVA DE DIREITOS antes do trânsito em 
julgado da condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). 
 
JURISPRUDÊNCIA O art. 33, § 4º, DA LEI 11.343/06 leciona que as penas do crime de tráfico 
de drogas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja 
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas, nem integre 
organização criminosa. O STJ entendeu SER POSSÍVEL a utilização de inquéritos policiais 
e/ou ações penais em curso para formação da convicção de que o réu se dedica a 
atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art. 33, § 4º, da Lei 
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n.º 11.343/2006. De acordo com o julgado, os princípios constitucionais devem ser 
interpretados de forma harmônica e, por isso, o princípio da presunção de inocência não 
pode impedir que a existência de inquéritos ou ações penais sejam utilizados para 
mensurar a dedicação do réu em atividade criminosa, sob pena de se equiparar o 
acusado que responde a inúmeras ações penais com aquele que numa única ocasião na 
vida se envolveu com as drogas, situação que ofende o princípio também previsto na 
Constituição Federal de individualização da pena. Do mesmo modo, o princípio da 
vedação de proteção deficiente também deve ser parâmetro, uma vez que intimamente 
interligado com o mandamento constitucional de criminalização do tráfico de drogas, que 
deve ser ponderado na avaliação, em atenção ao direito fundamental de segurança (art. 
5º, caput, CF/88). Importante frisar que o STJ não vedou, de forma absoluta, a concessão 
do benefício a quem responde a outros inquéritos ou ações penais. Nas palavras do Min. 
Relator Felix Fischer, “não se pretende tornar regra que a existência de inquérito ou ação 
penal obste o benefício em todas as situações”. Por fim, necessário destacar que o STF 
possui um precedente aplicando este entendimento (HC 108135, Rel. Min. Luiz Fux, julgado 
em 05/06/2012). 
 
IMPORTANTE: Pedro foi condenado a uma pena de 8 anos de reclusão e o TJ manteve a 
condenação. O Ministério Público foi intimado do acórdão e requereu que o Tribunal 
determinasse imediatamente a prisão do condenado, dando início à execução provisória 
da pena. Vale ressaltar, no entanto, que a Defensoria Pública ainda não foi intimada do 
acórdão. Diante deste caso, o TJ poderá determinar a imediata prisão do condenado, 
mesmo antes da intimação da defesa acerca do acórdão? NÃO. Se ainda não houve a 
intimação da Defensoria Pública acerca do acórdão condenatório, mostra-se ilegal a 
imediata expedição de mandado de prisão em desfavor do condenado. Como a 
Defensoria Pública ainda não foi intimada, não se encerrou a jurisdição em 2ª instância, 
considerando que é possível que interponha embargos de declaração, por exemplo. STJ. 
5ª Turma. HC 371.870-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 13/12/2016 (Info 597). 
 
O desaforamento de um caso se encerra com o veredicto do júri popular. Por isso, a 
execução provisória da pena (que ocorre depois de a condenação ser confirmada pelo 
Tribunal em 2ª instância) deverá ser determinada pelo juízo originário da causa, e não pelo 
presidente do Tribunal do Júri onde se deu o julgamento. Em outras palavras, em caso de 
desaforamento, o deslocamento da competência ocorre apenas para o julgamento no 
Tribunal do Júri. Uma vez tendo este sido encerrado, esgota-se a competência da 
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comarca destinatária, devendo a execução provisória ser conduzida pelo juízo originário 
da causa. STJ. 6ª Turma. HC 374.713-RS, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 
6/6/2017 (Info 605). 
 
Obs. Tendo em vista a recente proibição pelo STF da execução provisória da pena, tais 
julgados perderam a aplicabilidade. 
 
e) Princípio da obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais 
O art. 93, IX, da CF exige que as decisões judiciais sejam motivadas. 
O juiz não é eleito pelo povo, razão pela qual não goza de legitimidade da sua 
decisão, necessitando justificar seus atos, o que dará legitimidade à população. 
Ademais, a motivação assegura o exercício da ampla defesa, pois se o juiz profere 
uma condenação, poderá o réu alegar fatos contrários para o tribunal. Veja, o 
fundamento permite que o indivíduo exerça a ampla defesa. 
Não existe violação pela fundamentação per relationem (motivação aliunde), que 
é aquela em que o juiz faz uma remissão a uma outra manifestação existente nos autos, 
como é o caso do parecer do MP, a fim de justificar a decisão, desde que se dê de forma 
clara. 
O princípio da obrigatoriedade das motivações não é absoluto, comportando 
temperamentos, como é o caso do sistema da íntima convicção, adotado no 
procedimento do júri com relação aos jurados. 
f) Princípio da publicidade 
Segundo o art. 5º, LX, da CF, a lei só poderá restringir a publicidade dos atos 
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. 
O art. 5º, XXXIII, da CF, estabelece que todos têm direito a receber dos órgãos 
públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que 
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo 
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 
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Por meio desse princípio, é necessário que se dê transparência aos atos do processo, 
tendo em vista que o Brasil adota a república, a qual comporta prestação de contas e 
responsabilização pelos atos praticados. 
Segundo Luigi Ferrajoli, cuida-se de garantia de segundo grau, ou garantia de 
garantia. Isso porque, para que seja possível o controle da observância das garantias 
primárias da contestação da acusação, do ônus da prova e do contraditório com a 
defesa, é indispensável que o processo se desenvolva em público. 
Em regra, a publicidade é ampla, geral, popular e plena. No entanto, o princípio da 
publicidade na seara processual penal comporta exceções, como é o caso da 
publicidade restrita. Determinados atos serão públicos apenas para as partes, ou apenas 
para as partes e seus advogados. 
Como observa a doutrina, a publicidade do processo implica os direitos de: a) 
assistência, pelo público em geral, à realização dos atos processuais; b) narração dos atos 
processuais, ou reprodução de seus termos, pelos meios de comunicação social; c) 
consulta dos autos e obtenção de cópias, extratos e certidões de quaisquer partes dele. 
Há uma publicidade diminuída e específica, conforme estabelece o art. 93, IX, o 
qual permite que a lei limite a presença das próprias partese a seus advogados, ou 
somente a estes, para determinados atos, em casos nos quais a preservação do direito à 
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. 
Veja que há um embate entre o interesse público à informação e o direito à 
intimidade, prevalecendo, nos casos em que não viole o direito de informação, a 
instauração de segredo de justiça do processo pelo magistrado. Outro exemplo é a 
retirada de pessoas da audiência para estabelecer a ordem. 
g) Princípio do contraditório 
Segundo o art. 5º, LV, da CF, aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, 
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios 
e recursos a ela inerentes. 
O contraditório sempre deve ser visto sob 3 viés: 
 Informação: o réu deve ser informado sobre a acusação e sobre os atos 
processuais. 
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 Reação: com essas informações, o réu poderá reagir, por meio de defesa, 
recursos, etc. 
 Participação: é a atuação de autodefesa, interrogatório, etc. 
O princípio do contraditório é corolário do devido processo legal, assegurando às 
partes de serem cientificadas de todos os atos no curso do processo, podendo se 
manifestar sobre esses atos. 
Ademais, as partes poderão produzir provas que reputarem necessárias. 
Perceba que, havendo um ato no processo, antes de o juiz decidir, a parte deverá 
ser cientificada do ato, a fim de se manifestar sobre o ato, produzindo a sua prova acerca 
do ato. Posteriormente, o juiz deverá prolatar a sua decisão. 
O contraditório pode ser imediato, direto ou real, sendo aquele em que ocorre no 
momento de colheita ou feitura da prova. 
Assim como todos os outros, o contraditório poderá ser mitigado, como é o caso do 
contraditório diferido ou postergado. Nesse caso, é assegurada posteriormente a 
possibilidade de impugnação da parte sobre pronunciamentos judiciais. 
Ex.: é inviável, por exemplo, que o juiz intime o acusado sobre a sua prisão 
preventiva. Neste caso, haveria um grande risco de inviabilidade da medida. Por conta 
disso, deve o juiz determinar a prisão inaudita altera pars. O mesmo ocorre com relação à 
interceptação telefônica, a qual perderá a eficácia, caso seja informada ao acusado no 
momento processual em que será determinada. 
O art. 155 do CPP dispõe que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da 
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão 
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as 
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. 
Nesse caso, se o juiz condenar o réu, exclusivamente, com base em elementos 
informativos colhidos na investigação, será caso de nulidade absoluta, pois não foi 
concedido contraditório ao réu. 
No inquérito policial, por não ser processo, e sim procedimento, não haverá a 
incidência do contraditório. Por isso, via de regra, não se garante o contraditório na fase 
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pré-processual. Quando ele passar a ser considerado acusado, aí sim deverá ser garantido 
o contraditório. 
Com relação ao pleno acesso do inquérito policial pelo advogado, este será 
garantido, desde que se refira ao exercício do direito de defesa, relativamente aos 
documentos de informação já documentados. 
Este é justamente o teor da Súmula Vinculante 14, que diz ser direito do defensor, no 
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já 
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de 
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 
Segundo o STF, não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega 
a réu denunciado com base em um acordo de colaboração premiada o acesso a outros 
termos de declarações que não digam respeito aos fatos pelos quais ele está sendo 
acusado, especialmente se tais declarações ainda estão sendo investigadas, situação na 
qual existe previsão de sigilo, nos termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013. (Inf. 814, STF). 
h) Princípio da ampla defesa 
Primeiramente, vale lembrar que a ampla defesa não se confunde com a plenitude 
de defesa. 
O princípio da ampla defesa faculta ao acusado de fazer a sua defesa da forma 
mais completa possível. 
Esta ampla defesa se divide em: 
 Defesa técnica; 
 Autodefesa. 
i. Defesa técnica 
A defesa técnica é aquela realizada pelo advogado. A defesa técnica é 
indispensável, salvo nos casos previstos em lei. 
O réu não pode ser julgado sem advogado, sendo indisponível. O art. 261 diz 
que nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem 
defensor. O parágrafo único estabelece que a defesa técnica, quando realizada por 
defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada. 
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Caso o réu não tenha advogado, será nomeado defensor pelo juiz. 
Sendo o acusado advogado, será possível que ele se defenda. No entanto, há 
alguns atos em que o réu não poderá estar presente, motivo pelo qual o juiz deverá nomear 
um defensor dativo ou ad hoc, em razão de que o réu não poderá permanecer na sala. 
Ex.: advogado-acusado não poderá permanecer na oitiva de um corréu, pois os 
interrogatórios são realizados separadamente. Outro exemplo é o caso do art. 217 do CPP, 
em que o réu deverá sair da sala, quando não houver videoconferência, para que a vítima 
ou testemunha seja ouvida. 
O réu tem o direito de escolher o seu defensor a todo o tempo, conforme o art. 263 
do CPP. 
Segundo a Súmula 707 do STF, constitui nulidade a falta de intimação do denunciado 
para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo 
a nomeação de defensor dativo. Deve dar ciência ao denunciado para que ele ofereça 
contrarrazões, não podendo o juiz determinar diretamente a intimação de defensor dativo 
(ou público). 
A Súmula 708 do STF afirma que é nulo o julgamento da apelação se, após a 
manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado 
para constituir outro. O réu deverá ser previamente intimado para constituir defensor e 
seguir o julgamento da apelação. 
Para que seja preservada a ampla defesa a que se refere a Constituição Federal, a 
defesa técnica, além de necessária e indeclinável, deve ser plena e efetiva. Não basta 
assegurar a presença formal de defensor técnico. No curso do processo, é necessário que 
se perceba efetiva atividade defensiva do advogado no sentido de assistir seu cliente. 
A Súmula 523 do STF estabelece que, no processo penal, a falta da defesa constitui 
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o 
réu. A defesa é necessária, motivo pelo qual a sua ausência gera nulidade absoluta. No 
entanto, caso a defesa seja deficiente, é preciso comprovar prejuízo para anular o 
processo. Trata-se de nulidade relativa com relação à deficiência. 
Para que essa defesa seja ampla e efetiva, deve-se deferir ao acusado e a seu 
defensor tempo hábil para sua preparação e exercício. Entre as várias garantias que o 
devido processo legal assegura está o direito de dispor de tempo e facilidades necessárias 
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para preparar a defesa. Há de se assegurar ao acusado e a seu defensor o tempo e os 
meios adequados para a preparação da defesa. É o que entende Renato Brasileiro. 
ii. Autodefesa 
Na autodefesa, é o acusado ou investigado que afirma não ser ele o autor do crime. 
Não se justifica na primeira fase do interrogatório, a qual o investigado deve se manifestar 
sobre suas qualificações, sob pena de responder por falsa identidade. 
É possívelque o acusado abra mão da sua autodefesa, ou seja, é renunciável e 
disponível. Ex.: réu não quer comparecer ao interrogatório e nem à audiência. 
Alguns autores apresentam a autodefesa sob 3 viés: 
 Direito de audiência: é o direito de ser ouvido, de falar, etc. Ex.: interrogatório. O 
réu então poderá não comparecer. 
 Direito de presença: é aquele que se dá através da presença física, ou virtual. 
Ex.: comparecimento à audiência. 
 Capacidade postulatória autônoma do acusado: além dos vieses acima, o réu 
tem o direito de exercício de sua defesa. Ex.: impetração de HC em benefício 
próprio. 
Segundo a Súmula 522 do STJ, a conduta de atribuir-se falsa identidade perante 
autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. Este é o crime 
do art. 307 do CP. 
A Súmula 533 do STJ estabelece que, para o reconhecimento da prática de falta 
disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento 
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a 
ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado. 
Veja, só é possível punir o preso após o procedimento administrativo disciplinar. 
Neste caso, será obrigatoriamente a presença de advogado, sendo ele imprescindível. 
Observe que não se aplica a Súmula Vinculante à execução penal, eis que ela somente 
se aplicaria aos processos administrativos não criminais. 
Com relação à plenitude de defesa, esta é mais aberta e é mais liberal. Os 
argumentos podem ser religiosos, políticos, sentimentais, etc., a fim de convencer os 
jurados. Não precisam ser jurídicos os fundamentos. 
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DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o 
seguinte: Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, 
reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade 
poderá mandar conduzi-lo à sua presença. O STF declarou que a expressão “para o 
interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição 
Federal. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus 
para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: • a responsabilidade disciplinar, civil e 
penal do agente ou da autoridade • a ilicitude das provas obtidas • a responsabilidade 
civil do Estado. Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não 
desconstitui (não invalida) os interrogatórios que foram realizados até a data do 
julgamento, ainda que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o 
referido ato processual. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, 
julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906). 
 
 
i) Princípio do juiz natural 
Segundo o dispositivo constitucional, ninguém será processado nem sentenciado 
senão pela autoridade competente. Este artigo vai estabelecer as regras de competência 
e o juízo que irá julgar o caso. 
Portanto, as regras de competência em razão da matéria, pessoa e lugar deverão 
ser observados. 
O princípio do juiz natural permite saber quem será o órgão, segundo as regras 
objetivas de competência, que irá julgar. Há uma previsibilidade do juiz, evitando-se assim 
o juiz ad hoc. 
Existem casos que a doutrina discute sobre se haveria ou não a violação ao princípio 
do juiz natural. Todavia, são casos que já foram decididos pela inexistência de violação ao 
juiz natural: 
 Delegação de atos instrutórios ao juiz de primeira instância decorrente 
de processos de competência originária dos Tribunais. Ex.: prefeito 
cometeu um crime comum, mas o TJ delega ao juiz de 1ª instância a 
competência para praticar atos instrutórios. Não haverá violação ao 
princípio do juiz natural. 
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 Convocação de juízes de 1º grau para compor o órgão julgador do 2º 
grau não viola o princípio do juiz natural. Ainda que essa composição 
do órgão seja majoritariamente de juízes de 1º grau convocados, caso 
tenham sido legalmente convocados, não há qualquer ofensa ao juiz 
natural. 
 Designação genérica para o juiz atuar em uma vara, não ofende o princípio do 
juiz natural. Essas designações não são para processos específicos, e sim de 
forma genérica. E como o juiz não irá atuar em apenas um processo específico, 
mas em diversos, não haverá violação ao princípio do juiz natural. 
 Segundo o STF, não viola o princípio do juiz natural o julgamento de apelação 
por órgão colegiado presidido por desembargador, sendo os demais integrantes 
juízes convocados (Inf. 814). 
 
j) Princípio da identidade física do juiz 
Como se sabe, não havia antes de 2008 o princípio da identidade física do juiz. 
A ideia é de que o juiz que presidiu a instrução deverá julgar o feito. Isso porque ele 
teria o maior conhecimento dos fatos, visto que participou da audiência, ouviu e viu o réu 
e as testemunhas. 
Esta é a ideia de vinculação obrigatória dos processos que o juiz teve contato. 
Este princípio comporta exceções, inclusive pela aplicação analógica do CPC, 
como é o caso de convocação do juiz, licenças, férias, afastamentos gerais, 
aposentadoria, etc. Neste caso, o sucessor irá assumir o caso e julgará o processo. 
Cabe ressaltar que o NCPC retirou o princípio da identidade física do juiz para o 
processo civil. 
Essa presença poderá ser imediata ou remota, a qual poderá se dar por 
videoconferência. 
Diante do art. 7º, XXI, do Estatuto da OAB, é possível o delegado entender que a 
presença do advogado seja obrigatória na investigação preliminar. Cabe ressaltar que 
ainda que haja advogado na fase investigatória, os elementos produzidos ali serão 
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elementos informativos, visto que a prova somente é assim considerada quando produzida 
na presença do juiz. 
k) Princípio do in dubio pro reo (favor rei) 
O princípio do in dubio pro reo decorre do sistema acusatório e da presunção de 
inocência. 
Quem acusa deve provar essa alegação. Caso não prove a acusação, será o réu 
inocente. 
O CPP incorpora esse princípio, pois no art. 386, VII, do CPP que o juiz absolverá o 
réu, desde que reconheça não existir prova suficiente para a condenação. 
Veja, o CPP traz a ideia de que, na dúvida, deverá haver a absolvição. 
Este princípio não tem caráter absoluto, pois na fase de pronúncia ou recebimento 
da denúncia, vigora o princípio in dúbio pro societate. Mas no momento da sentença será 
o princípio do in dubio pro reo que prevalecerá. 
l) Princípio do nemo tenetur se detegere 
De acordo com o art. 5°, inciso LXIII, da Constituição Federal, "o preso será informado 
de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a 
assistência da família e de advogado". 
O direito ao silêncio, previsto na Carta Magna como direito de permanecer calado, 
apresenta-se apenas como uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, 
segundo o qual ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. 
Além da Constituição Federal, o princípio do nemo tenetur se detegere também se 
encontra previsto no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 14.3, "g"), e na 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art. 8°, § 2°, “g"). 
De acordo com Renato Brasileiro, trata-se de uma modalidade de autodefesa 
passiva, que é exercida por meio da inatividade do indivíduo sobre quem recai ou pode 
recair uma imputação. 
O titular do direito de não produzir prova contra si mesmo é, portanto, qualquer 
pessoa que possa se autoincriminar. Não é válido, por outro lado, arrolar alguém como 
testemunha e querer, em razão do dever de dizer a verdade aplicável à hipótese, forçá-
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la a responder sobre uma pergunta que importe, mesmo que indiretamente, em 
incriminação do depoente. 
Lembre-se que a testemunha, diferentemente do acusado, tem o dever de falar a 
verdade, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho (CP, art. 342), porém não 
está obrigada a responder sobre fato que possa, em tese, incriminá-la. Daí ter decidido o 
Supremo que não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo 
como testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam 
incriminá-la. 
Diante do teor expresso do art. 5°, LXIII, da CF, segundo o qual o preso será 
informado de seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado, deve, sim, haver 
prévia e formal advertência quanto ao direito ao silêncio, sob pena de se macular de 
ilicitude a prova então obtida. 
A omissão do dever de informação ao preso dos seus direitos, no momento 
adequado, gera efetivamente a nulidade e impõe a desconsideração de todas as 
informações incriminatórias dele anteriormente obtidas, assim como das provas delas 
derivadas. 
O art. 5°, inciso LXIII, da CF tem mandamento semelhante ao famoso Aviso de 
Miranda do direito norte-americano, em que o policial, no momento da prisão, tem de ler 
para o preso os seus direitos, sob pena de não ter validade o que por ele for dito. 
Como decorrência da necessidade de advertência quanto ao direito de não 
produzir prova contra si mesmo, não se pode considerar lícita, portanto, gravação 
clandestina de conversa informal de policiais com o preso, em modalidade de 
"interrogatório" sub-reptício, quando, além de o capturado não dar seu assentimento à 
gravação ambiental, não for advertido do seu direito ao silêncio. 
Por isso, também não podem ser consideradas válidas entrevistas concedidas por 
presos à imprensa, antes ou após a lavratura do flagrante, sem o conhecimento de seu 
direito constitucional. 
Não foi essa, todavia, a orientação do Supremo Tribunal Federal. Em habeas corpus 
apreciado pela 2ª Turma, em que se alegava a ilicitude da prova juntada aos autos, 
consistente em entrevista concedida ao jornal, na qual o acusado narrara o modus 
operandi de 2 homicídios a ele imputados, sem ter sido previamente advertido de seu 
direito ao silêncio, reputou-se que a Constituição teria conferido dignidade constitucional 
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ao direito ao silêncio, dispondo expressamente que o preso deve ser informado pela 
autoridade policial ou judicial da faculdade de manter-se calado. 
Consignou-se que o dever de advertir os presos e os acusados em geral de seu 
direito de permanecerem calados consubstanciar-se-ia em uma garantia processual 
penal que teria como destinatário precípuo o Poder Público. Concluiu-se, entretanto, não 
haver qualquer nulidade na juntada da prova, entrevista concedida espontaneamente a 
veículo de imprensa. 
No direito norte-americano o dever de advertência é conhecido como “aviso de 
Miranda” (“Miranda rights”/”Miranda warnings”). Os Miranda rights ou Miranda warnings 
têm origem no famoso julgamento Miranda V. Arizona, verificado em 1966, em que a 
Suprema Corte americana, por cinco votos contra quatro, firmou o entendimento de que 
nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não 
ser que antes ela tenha sido claramente informada de: 1) que tem o direito de não 
responder; 2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 3) que tem o direito 
à assistência de defensor escolhido ou nomeado. 
Alguns desdobramentos do direito de não produzir prova contra si mesmo devem 
ser elencados: 
a) direito ao silêncio ou direito de ficar calado: corresponde ao direito de não 
responder às perguntas formuladas pela autoridade, funcionando como 
espécie de manifestação passiva da defesa. Não é sinônimo de confissão 
ficta ou de falta de defesa; 
b) direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal: o 
acusado não é obrigado a confessar a prática do delito. 
c) inexigibilidade de dizer a verdade: alguns doutrinadores entendem que o 
acusado possui o direito de mentir, por não existir o crime de perjúrio no 
ordenamento pátrio. Na verdade, por não existir o crime de perjúrio no 
ordenamento pátrio, pode-se dizer que o comportamento de dizer a 
verdade não é exigível do acusado, sendo a mentira tolerada, porque dela 
não pode resultar nenhum prejuízo ao acusado. Se essa mentira defensiva é 
tolerada, especial atenção deve ser dispensada às denominadas mentiras 
agressivas, quando o acusado imputa falsamente a terceiro inocente a 
prática do delito. Nessa hipótese, dando causa à instauração de 
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investigação policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito 
civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém que o sabe 
inocente, o agente responderá normalmente pelo delito de denunciação 
caluniosa (CP, art. 339). 
Tem prevalecido o entendimento de que o direito ao silêncio não abrange o 
direito de falsear a verdade quanto à identidade pessoal. Para o Supremo, 
tipifica o crime de falsa identidade o fato de o agente, ao ser preso, 
identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus 
antecedentes. A propósito, eis o teor da Súmula n. 522 do STJ: “A conduta de 
atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em 
situação de alegada autodefesa”. 
d) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-
lo: doutrina e jurisprudência têm adotado o entendimento de que não se 
pode exigir um comportamento ativo do acusado, caso desse fazer possa 
resultar a autoincriminação. Tem predominado o entendimento de que não 
se admitem medidas coercitivas contra o acusado para obrigá-lo a cooperar 
na produção de provas que dele demandem um comportamento ativo. Por 
isso, o acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a 
subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor; não está obrigado a 
fornecer material para exame grafotécnico; configura constrangimento 
ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa 
destes em participarem de reconstituição do crime; direito de não produzir 
nenhuma prova incriminadora invasiva, salvo se houver consentimento; 
e) Direito de não ser conduzido coercitivamente para prestar interrogatório: vide 
abaixo. 
f) Bafômetro: a infração administrativa de embriaguez ao volante e a nova 
redação do crime de embriaguez ao volante (Lei n" 12.760/12): é dominante 
o entendimento de que a recusa do condutor em submeter-se ao bafômetro 
ou a um exame de sangue não configura crime de desobediência nem pode 
Ser interpretada em seu desfavor, pelo menos no âmbito criminal. Nessa linha, 
há precedentes do Supremo Tribunal Federal no sentido de que não se pode 
presumir a embriaguez de quem não se submete a exame de dosagem 
alcoólica: afinal, a Constituição da República impede que se extraia 
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qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de 
praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova 
contra si mesmo (princípio do nemo tenetur se detegere). O art. 306, § 1º, do 
CTB, com redação dada pela Lei no 12.760/12, dispõe que o novel crime de 
embriaguez ao volante será constatado por: I - concentração igual ou 
superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 
0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou por sinais que indiquem, na 
forma disciplinada pelo CONTRAN, alteração da capacidade psicomotora. 
Ademais, nos termos do art. 306, § 2°, do CTB, com redação determinada 
pela Lei n° 12.971/14, a verificação da embriaguez ao volante poderá ser 
obtida mediante testede alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, 
vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, 
observado o direito à contraprova. 
Direito de não ser conduzido coercitivamente para prestar interrogatório: 
De acordo com Márcio André Lopes Cavalcanti, a condução coercitiva para 
interrogatório é, portanto, a ordem judicial, materializada em um mandado, por meio do 
qual a polícia fica autorizada a levar o investigado, compulsoriamente, para a Delegacia 
(ou outro lugar escolhido) a fim de que ali ele seja interrogado, no dia e horário escolhidos 
pela autoridade policial. 
Em geral, o objetivo idealizado para a condução coercitiva é que o órgão de 
investigação criminal atue com o “fator surpresa”, fazendo com que o investigado preste 
suas declarações no interrogatório sem ter tido muito tempo para refletir naquilo que irá 
responder e sem ter tido a oportunidade de conversar com os outros investigados ou ainda 
de conhecer quais os outros elementos informativos que a polícia já dispõe contra ele. 
Por isso, normalmente, o mandado de condução coercitiva é cumprido logo no 
início do dia, por volta das 6h, ao mesmo tempo em relação a todos os investigados 
naquela operação. A polícia chega à residência do investigado, explica o mandado, 
pede que ele se vista e já segue com ele imediatamente para a Delegacia, onde já há 
um Delegado esperando para conduzir o interrogatório. 
Vale ressaltar que, na condução coercitiva, o investigado é obrigado a comparecer 
à Delegacia, mas lá poderá permanecer em silêncio e não responder a qualquer das 
perguntas formuladas. 
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Importante destacar também que o investigado, durante o interrogatório, poderá 
se fazer acompanhar por advogado ou Defensor Público. 
O caso mais famoso de condução coercitiva ocorreu com o ex-Presidente Lula. O 
Juiz Federal Sérgio Moro, a requerimento da Polícia Federal, deferiu 
a condução coercitiva de Lula, que foi efetivada em 04/03/2016, tendo o ex-Presidente 
sido levado para prestar interrogatório em uma sala no aeroporto de Congonhas. 
Confira a explicação de Vladimir Aras para a condução coercitiva: 
A condução coercitiva autônoma – que não depende de prévia intimação da pessoa 
conduzida – pode ser decretada pelo juiz criminal competente, quando não cabível a 
prisão preventiva (arts. 312 e 313 do CPP), ou quando desnecessária ou excessiva a prisão 
temporária, sempre que for indispensável reter por algumas horas o suspeito, a vítima ou 
uma testemunha, para obter elementos probatórios fundamentais para a elucidação da 
autoria e/ou da materialidade do fato tido como ilícito. 
Assim, quando inadequadas ou desproporcionais a prisão preventiva ou a 
temporária, nada obsta que a autoridade judiciária mande expedir mandados 
de condução coercitiva, que devem ser cumpridos por agentes policiais sem qualquer 
exposição pública do conduzido, para que prestem declarações à Polícia ou ao Ministério 
Público, imediatamente após a condução do declarante ao local do depoimento. Tal 
medida deve ser executada no mesmo dia da deflagração de operações policiais 
complexas, as chamadas megaoperações. 
Em regra, para viabilizar a condução coercitiva será necessário demonstrar que 
estão presentes os requisitos para a decretação da prisão temporária, mas sem a limitação 
do rol fechado (numerus clausus) do art. 1º da Lei 7.960/89. A medida 
de condução debaixo de vara justifica-se em virtude da necessidade de acautelar a 
coleta probatória durante a deflagração de uma determinada operação policial ou 
permitir a conclusão de uma certa investigação criminal urgente. 
Diante das circunstâncias do caso concreto, a prisão temporária pode ser 
substituída por outra medida menos gravosa, a partir do poder geral de cautela do Poder 
Judiciário, previsto no art. 798 do CPC e aplicável ao processo penal com base no art. 3º 
do CPP. Tal medida cautelar extranumerária ao rol do art. 319 do CPP reduz a coerção do 
Estado sobre o indivíduo, limitando-a ao tempo estritamente necessário para a 
preservação probatória, durante a fase executiva da persecução policial. 
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De fato, a condução coercitiva dos suspeitos sempre será mais branda que a prisão 
temporária; a medida restringe de modo mais suave a liberdade pessoal, somente 
enquanto as providências urgentes de produção de provas (cumprimento de mandados 
de buscas, por exemplo) estiverem em curso. 
Se o legislador permite a prisão temporária por (até) 5 dias, prorrogáveis por mais 5 
dias nos crimes comuns, a condução coercitiva resolve-se em um dia ou menos que isto, 
em algumas horas, mediante a retenção do suspeito e sua apresentação à autoridade 
policial para interrogatório sob custódia, enquanto as buscas têm lugar. Ou seja, 
a condução sob vara deve durar apenas o tempo necessário à instrução preliminar de 
urgência, não devendo persistir por prazo igual superior a 24 horas, caso em que se 
trasveste em temporária. 
Sendo menos prolongada que as prisões cautelares, a condução coercitiva guarda 
ainda as mesmas vantagens que a custódia temporária, pois permite que a Polícia 
interrogue todos os envolvidos no mesmo momento, visando a evitar, pela surpresa, as 
versões “combinadas” ou que um suspeito oriente as declarações de uma testemunha ou 
a pressione, na fase da apuração preliminar, ou que documentos ou ativos sejam 
suprimidos, destruídos ou desviados. (ARAS, Vladimir. Debaixo de vara: 
a condução coercitiva como cautelar pessoal autônoma. Disponível em: 
https://vladimiraras.blog/2013/07/16/a-conducao-coercitiva-como-cautelar-pessoal-
autonoma/>; acesso em 27 ago. 2018. 
A condução coercitiva viola o direito à não autoincriminação? 
NÃO. Isso porque o conduzido, ao chegar na Delegacia, é informado de que possui 
direito ao silêncio. A autoridade policial interrogante faz a advertência ao investigado de 
que ele pode permanecer em silêncio se assim desejar. 
A condução coercitiva viola o direito ao tempo necessário à preparação da 
defesa? 
NÃO. Na investigação, não há uma acusação formada. O investigado não tem o 
ônus de preparar defesa, na medida em que não está enfrentando uma acusação. 
A condução coercitiva viola o devido processo legal? 
A condução coercitiva não é uma medida completamente atípica. Isso porque o 
art. 260 do CPP admite a condução coercitiva, muito embora mencione a prévia 
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intimação. Ou seja, há base legal para restringir a liberdade do imputado, forçando-o a 
comparecer ao ato processual. Existe previsão legal de condução coercitiva. O problema 
estaria na inobservância do rito legal, considerando que os juízes têm decretado 
a condução coercitiva mesmo sem o investigado manifestar qualquer recusa. 
Desse modo, a questão aqui não envolve discutir se seria possível a concessão de 
medidas cautelares atípicas, mas sim a possibilidade de se afastar o rito legal previsto para 
a sua produção (art. 260 do CPP). 
Assim, não se pode falar que a condução coercitiva viole o devido processo legal 
por se tratar de medida cautelar atípica. 
A condução coercitiva viola o direito à imparcialidade, à paridade de armas e à 
ampla defesa? 
O STF também não concordou com este argumento e afirmou que 
a condução coercitiva não viola o direito à imparcialidade, à paridade de armas e à 
ampla defesa. 
Na fase de investigação, o juiz atua como garantidor de liberdades. É do sistema 
constitucional que algumas medidas sejam requeridas a um magistrado mesmo antes da 
instauração da relação processual. Várias dessas medidas são expressamente 
mencionadas na Constituição Federal, como, por exemplo, busca domiciliar (art. 5º, XI), 
interceptação telefônica (art. 5º, XII), prisão (art. 5º,

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