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Classificação das doenças alimentares INFECÇÃO: ocorre quando um patógeno penetra no TGI e se multiplica; os microrganismos podem penetrar na mucosa intestinal e crescer ali ou podem passar para outros órgãos sistêmicos. INTOXICAÇÃO é causada pela ingestão de uma toxina pré-formada. TOXINFECÇÕES são causadas por microrganismos toxigênicos, cujo quadro clínico é provocado por toxinas liberadas quando estes se multiplicam, esporulam ou sofrem lise na luz intestinal. Salmonella Alimentos mais frequentemente associados a infecções por Salmonella: A carne de animais de consumo, o leite e os ovos são os principais veículos de transmissão de Salmonella. Estes alimentos, quando insuficientemente cozinhados, permitem a sobrevivência da bactéria. Os alimentos portadores da bactéria, ao entrarem em contacto físico (directo ou indirecto) com outros alimentos, podem contaminá-los, tornando-os num novo veículo de infecção, caso não sejam sujeitos a qualquer tratamento térmico antes de serem consumidos. Outros alimentos que têm sido implicados em surtos e casos de salmonelose incluem enchidos fermentados, sumos de fruta, peixe, chocolate, molhos, bolos com recheio, manteiga de amendoim e rebentos de alfafa. Principais sintomas de infecção por Salmonella Febre entérica: A febre tifóide tem um período de incubação de 3 a 56 dias. Os sintomas mais comuns incluem perda de forças, dores de cabeça, febre alta e persistente, dores abdominais, dores musculares e suores. A antibioterapia é necessária no tratamento da infecção. O período de convalescença é longo (1-8 semanas). Após o desaparecimento dos sintomas, o estado de portador pode persistir por vários meses. Enterocolite: O aparecimento dos sintomas surge entre 5h e 5 dias (a maioria entre 12 e 36h) após a ingestão do alimento contaminado. Embora seja geralmente aceite que é necessária a ingestão de um elevado número de células (superior a um milhão) para que ocorra a infecção, em determinadas condições um número de células entre 10 e 100 pode causar doença. É o que acontece quando o alimento contaminado apresenta elevados teores de gordura. Os sintomas mais comuns incluem vómitos, diarreia, febre, náuseas e dores abdominais. Os sintomas desaparecem normalmente entre 2 e 5 dias após ingestão do alimento contaminado, mas alguns indivíduos continuam portadores assintomáticos da bactéria ao fim de 3 meses. A taxa de mortalidade nos indivíduos infectados é de 1%. Shigella Shigella spp. é a principal causa de disenteria no mundo. A Shigelose, caracteriza-se por ser uma infecção intestinal aguda com sinais clínicos que vão desde diarreia leve até uma severa disenteria com fortes dores abdominais, febre e fezes contendo muco e sangue. O período de incubação da doença é de 1 a 7 dias, mas os sintomas geralmente ocorrem dentro de 3 dias. A transmissão da bactéria de pessoa a pessoa dá-se por via oral-fecal, sendo a maioria dos casos causados por ingestão de água ou alimentos. O maior fator de contaminação é a falta de higiene dos manipuladores de alimentos e o segundo é a estocagem imprópria de alimentos que contribui para os surtos da doença. OBS: Características comuns EHEC, Shigella e Salmonella são bacilos gram negativos, sendo assim possuem: Membrana externa, membrana interna, espaço periplasmático (está contido o peptídeoglicano), LPS, plasmídeo, cromossomo único e circular e podem conter flagelos e cápsula (antígenos K). E. coli enterohemorrágica (EHEC) E. coli: Características gerais Pertencem a família Enterobacteriaceae, são bacilos gram-negativos, móveis, não formadores de esporos, anaeróbios facultativos, com metabolismo respiratório e fermentativo. Possuem a capacidade de fermentar a lactose, com produção de gás e ácidos (características importantes para o diagnóstico, pois a diferenciam da shiguella e salmonela). A maioria das cepas de E. coli não provocam doenças e constituem parte da microbiota dos seres humanos Pertencem ao grupo dos coliformes e são utilizados como indicadores de contaminação fecal em água e alimentos, como também são bioindicadores de contaminação sanitária. A capacidade de causar doença de determinadas cepas de EHEC se deve a ganhos genéticos, como a obtenção de genes de virulência durante a evolução da espécie. Estes genes permitem a codificação de proteínas que viabilizam a colonização, penetração e a invasão em seus hospedeiros, além da produção de toxinas Transmissão A principal via de infecção dos humanos é pelo consumo de alimentos e água contaminados, porém também pode haver infecção direta entre pessoas pela via fecal-oral, o que ocorre com menor frequência. Essa última via tem maior relevância entre familiares infectados, manipuladores de alimentos, unidades prestadoras de serviços e à população e indivíduos com hábitos inadequados de higiene. Resíduos de humanos ou animais também são potenciais fonte de infecção. Vários alimentos podem veicular EHEC, sendo a carne e o leite os mais envolvidos. A E. coli O157:H7 é a variante da bactéria que mais ocasiona colite hemorrágica, cujo principal reservatório natural é o trato gastrointestinal da espécie bovina. Assim, durante o abate, o extravasamento intestinal e o contato das vísceras com a carne ou com a superfície de equipamentos podem resultar em contaminação cruzada Shiga-toxinas Alguns sorovares de E. coli produzem toxinas conhecidas como shiga-toxinas, semelhantes às produzidas pela bactéria Shigella dysenteriae. E. coli produtoras dessas toxinas são conhecidas como E. coli produtoras de toxinas shiga (STEC) que abrange a E. coli enterohemorrágica. O sorovar mais envolvido em surtos alimentares é o O:157, que é frequentemente isolado de pacientes com infecções alimentares. As shiga-toxinas podem ser do tipo 1 ou 2 (Stx 1 e Stx 2, respectivamente), que podem ser diferenciadas pela sequência genética, gene estruturais e mecanismos de regulação da expressão. As STEC são capazes de produzir ambas as toxinas As EHEC se aderem ao enterócito e injetam toxinas Shigalike, que atravessam a sua superfície, chegam ao endotélio vascular e atuam em órgão ricos em receptores glicolipidicos Gb3. Essa interação resulta na internalização do complexo em endossomos que, paradoxalmente, não se ligam aos lisossomos. A toxina é, então, transportada para o retículo endoplasmático rugoso, onde sofre a ação de uma protease, o que permite a liberação de sua porção ativa, a subunidade A1. Esta subunidade inibe de modo irreversível o ribossomo eucariótico, removendo uma adenina do rRNA 28S da subunidade maior, resultando na interrrupção da síntese protéica. O processo desencadeia um mecanismo de resposta de estresse ribotóxico, que culmina na apoptose, destruindo as vilosidades intestinais, resultando em uma redução da absorção, e um considerável aumento da secreção de líquidos (justificando a diarreia sanguinolenta) O órgão mais intensamente acometido pelas toxinas Stx é o rim, que expressa receptores Gb3 em suas células glomerulares: endoteliais, mesangiais e os podócitos. Elas atuam diminuindo o ritmo da filtração glomerular, com consequente insuficiência renal aguda, devido a predileção dessa toxina pelas células do glomérulo renal, acarretando na Síndrome Urêmica Hemolítica (SHU). OBS: A presença do lipopolissacarídeo (LPS) na Stx promove supra-regulação do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Tanto o TNF-α como a interleucina 1-β (IL-1β) aumentam a sensibilidade do endotélio celular à toxina, aumentando assim o número de fatores pró-inflamatórios, inclusive IL-1β, interleucina 6 (IL-6), interleucina 8 (IL-8) e interferon-γ (INF- γ). A toxina parece marcar o endotélio glomerular diretamente ou agir através dos efeitos às células mesangiais ou tubulares. Pode ainda induzir a produção intra-renal de citocinas que afetam a expressão dos receptores. Uma vez dentro das células endoteliais da vasculatura, a Stx age nos ribossomos como uma N-glicosidase, bloqueandoirreversivelmente a síntese de proteínas. SHU A SHU é definida como um quadro de insuficiência renal de início abrupto, com oligúria ou anúria, acompanhada por elevação dos níveis séricos de uréia e creatinina, trombocitopenia (< 150.000 plaquetas/mm3) e anemia hemolítica – hemoglobina inferior a 10 g/dL com presença de hemácias fragmentadas no esfregaço de sangue periférico. A microangiopatia glomerular decorrente da lesão endotelial mediada pela ligação da toxina Stx resulta na diminuição do ritmo de filtração glomerular, provocando insuficiência renal aguda. Por outro lado, a exposição de moléculas de adesão pelo endotélio lesado provoca agregação e sequestro plaquetário, além de ruptura mecânica das hemácias que circulam pela luz dos pequenos vasos subocluídos, o que dá origem aos fenômenos de trombocitopenia e anemia hemolítica microangiopáticas. Fatores de risco - Crianças menores que 5 anos: pois apresentam maior concentração do receptor Gb3 em relação aos adultos - Uso de anti-diarréicos: devido ao fato de as vísceras ficarem expostas por mais tempo às toxinas devido diminuição do ritmo intestinal. Mecanismo de defesa Estrutura da mucosa intestinal: Na lâmina intestinal contém células dendríticas (DC), células intra-epiteliais (IEDCs), macrófagos, linfócitos intra-epiteliais, células T reguladoras (T Regs), linfócitos TCD4+ e linfócitos B. Os componentes extracelulares são representados pelo muco que é secretado pelas células caliciformes. O muco representa a primeira barreira física contra os microrganismos exercendo um papel importante, como proteção do epitélio intestinal pela ação de enzimas digestivas que estão presentes no lúmen intestinal, evitando à adesão de bactérias às células epiteliais e impedindo a invasão da mucosa. Tal função é complementada pela ação de imunoglobulinas secretoras, destacando a IgA. A mucosa intestinal apresenta uma complexa rede de células do sistema imunológico denominado de tecido linfóide associado ao intestino (GALT) Os linfócitos intra-epiteliais atuam como CD8+ em resposta aos antígenos, que são expressos na superfície da mucosa pelas células epiteliais. A inibição da colonização da mucosa intestinal por patógenos é realizada por estas células efetoras, por meio da lise das células epiteliais infectadas. Os linfócitos predominantes na lâmina intestinal são CD4+ e em uma porcentagem superior a 95% expressando o fenótipo CD45R0. Há também linfócitos que expressam marcardores para a ativação de células produtoras de MHC II. Os linfócitos B na lâmina intestinal são compostos por células secretoras de IgA e uma porcentagem maior de células B ativadas secretoras de IgG e IgM durante uma resposta inflamátoria. Na lâmina própria também estão presentes células dendríticas. Na mucosa intestinal o sistema imune apresenta locais indutores e efetores da resposta imune. Os locais indutores correspondem aos folículos linfáticos, que são estruturas aferentes onde é apresentado o antígeno e ocorre a diferenciação dos linfócitos B e T. As funções da IgA secretora na mucosa são impedir a entrada de antígenos microbianos na mucosa e ou toxinas A IgG também pode ser transportada atráves do epitélio intestinal desempenhando seu papel neutralizante de toxinas. A microbiota intestinal induz a manutenção de células importantes para a imunidade de mucosa, bem como a expansão de células T CD4+ e a resposta Th1, Th2 e Th17. Desse modo, a integridade da mucosa é necessária para a manutenção da homeostase do intestino. O desequilíbrio desta homeostase conduz a ativação do sistema imune levando a uma resposta a estes estímulos e indução da inflamação. Diagnostico O diagnóstico é baseado no cultivo e identificação da bactéria por métodos moleculares, fenotípicos e sorológicos, a partir de amostras de fezes e de alimentos dos pacientes infectados. Quando se utiliza o método tradicional de cultivo, as amostras de fezes devem ser inoculadas em ágar-McConkey com a inclusão do carboidrato D-sorbitol, que tem fermentação lenta ou praticamente nula pela bactéria. Outra forma de confirmar a ação citotóxica da EHEC, é pela demonstração da ação da toxina em culturas de tecidos (células VERO), porém é um método trabalhoso para se executar. Tratamento O tratamento consiste na terapia de suporte para reposição de fluidos. Em pacientes que apresentem somente sinais clínicos compatíveis com desidratação, é recomendada a reposição hídrica oral. Em casos de evolução da infecção em que se tenha manifestação de diarreia aguda, é indicada a reposição por meio de sonda gástrica e/ou via intravenosa, que deve ocorrer também em pacientes pediátricos, pois a desidratação pode ter como consequência o choque. O volume de fluido indicado para administração intravenosa deve ser calculado com base na perda de volume de água corporal. A duração da administração varia entre quatro e seis horas, e a solução de escolha vai depender do estado geral do paciente. O uso de antibióticos não é indicado, pois além de não ter eficácia comprovada nesses casos, aumentam o risco do desenvolvimento da SHU, uma vez que a morte da bactéria aumentaria a liberação de toxinas, predispondo à síndrome. Profilaxia A população mais vulnerável a adquirir a infecção alimentar por EHEC são gestantes, neonatos, crianças, idosos e indivíduos imunodeprimidos, como os portadores de HIV e diabetes. Práticas de higiene, como lavagem correta das mãos após usar o banheiro, são um meio eficaz de prevenção. O cozimento adequado das carnes, a uma temperatura de 70° C é também uma medida protetiva contra as infecções por este patógeno, assim como consumir água sempre filtrada e produtos lácteos pasteurizados. Além disso, sempre deve-se adotar boas práticas no abate e 17 no beneficiamento e preparo dos alimentos, evitando a contaminação cruzada
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