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HANSENÍASE Conceito • Infecção crônica granulomatosa de evolução lentamente progressiva causada pelo Mycobacterium leprae • Homem: reservatório natural do bacilo • Contágio: interhumano – Contato direto com a lesão erosada – Aerossóis do aparelho respiratório • Eliminação do bacilo: urina, fezes, suor, leite, secreções vaginais e esperma Mycobacterium leprae • 1873 G.H. Armauer Hansen • Bacilo Gram-positivo e álcool-ácido resistente (BAAR+) – parasita intracelular obrigatório com predileção pelos histiócitos do sistema nervoso periférico, células da pele e mucosa nasal. • Método de Ziehl-Nielsen: bactérias em forma de bastonete que se coram em vermelho ( 1 a 8 micra x 0,3 micra ) – Isoladas ou agrupadas em globias – Inviáveis: quando apresentam falhas na coloração • Não há cultura para o BH • Inoculação em coxim plantar de camundongo; reprodução em macacos e tatus (Shepard) para estudos • Multiplicação binária simples em 13-14 dias (lenta) • Viáveis fora do organismo humano: – 36 horas na temperatura ambiente; – 7 a 9 dias em 36,7°C + 77,6% de umidade média • Vacina não disponível Classificações • 1. Madri (1953) é a mais utilizada – Dois polos estáveis e opostos (T e V) – Dois polos instáveis (I e D) que evoluirão para um dos polos • 2. Ridley e Jopling – TT; DT; DD; DV; VVs e VV • 3. Operacional – Paucibacilar: até 5 lesões – Multibacilar: mais de 5 lesões Transmissão e evolução • Contágio inter-humano – Contato íntimo e prolongado com o doente sem tratamento – Foco familiar promíscuo: risco de 1:3 contatos – Contatos eventuais: 2 a 5% adoecem – População em geral: risco varia com a prevalência de casos bacilíferos • Incubação varia de 2 a 5, podendo ser de meses até mais de 10 anos • São necessários muitos anos para que a carga bacilar aumente até provocar clínica Transmissão e evolução • Eliminação do agente por paciente bacilífero por solução de continuidade da pele ou secreções nasais e orofaríngeas • Penetração do bacilo em áreas erosadas da pele ou vias aéreas superiores de paciente suscetível • Ou o bacilo é destruído ou se localiza nas células de Schwann e na pele – Alta infectividade – Baixa patogenicidade e virulência • A imunidade humoral (anticorpos) não é eficaz contra o M. leprae e a defesa é somente com a imunidade celular, que fagocita os bacilos. Há produção de citocinas TNF-α e IFN-γ • Na forma paucibacilar, predomina a resposta Th1, com produção de IL-2 e IFN-γ • Na forma multibacilar, predominam linfócitos T supressores e Th2, com produção de IL-4,5 e 10. • Na MHT, o aumento da imunidade celular e a produção de linfocinas pró-inflamatórias (IL-1 e TNF-γ) impedem a proliferação bacilar mas causam lesões cutâneas e neurais por falta de regulação da inflamação • Na MHV, existe produção de substâncias pelos bacilos (PLG-1) que impedem a atividade dos macrófagos e favorecem a disseminação. Evolução da infecção 1. O indivíduo tem resistência natural # Aborta a infecção 2. Evolução para manifestação subclínica # Regride espontaneamente 3. Evolução para hanseníase indeterminada # Pode desaparecer ou 4. Evolução para as formas tuberculóide ou virchowiana, de acordo com a imunidade individual • Paciente imunocompetente: forma T – Mitsuda + – Boa resposta imune com formação de granuloma tuberculóide – Maioria dos bacilos eliminados • Falta de resistência ao bacilo: forma V – Mitsuda negativo – Multiplicação livre dos bacilos nos macrófagos – Disseminação nos tecidos – Forma grave e contagiante (bacilífera) • Grau de resistência intermediário: forma D – Evolução para forma Dimorfa – Mitsuda varia entre positivo e negativo – Clínica varia entre os dois pólos – Esta forma varia entre a virchowiana e a tuberculóide Manifestações clínicas • Mycobacterium leprae tem tropismo especial por nervos periféricos, com perda da sensibilidade cutânea (mais nos paucibacilares) • Há comprometimento neural em todas as formas de Hanseníase • Ramuscular • Nervos superficiais • Troncos nervosos mais profundos Lesão ramos nervosos • Comprometimento ramuscular – Alterações sensitivas • Alteração da sensibilidade térmica – dolorosa - tátil • Progressão proximal afetando ramos secundários e após os troncos periféricos com espessamento e dor à palpação ou percussão (sinal de Tinnel) Lesões de nervos • Alterações sensitivas – Sempre precedem as demais – Impedem a defesa nas agressões diárias • Alterações motoras – Paresias ou paralisias • Fraqueza muscular, amiotrofias, retrações tendíneas e fixações articulares • Alterações autonômicas – Distúrbios vasculares e da sudorese Segmento cefálico • Trigêmio (sensibilidade da córnea e face) • Facial (musculatura da mímica facial) – Lesões completas, uni ou bilaterais – Lesão do orbicular das pálpebras (lagoftalmo) Espessamento neural Membros superiores • Ulnar – Musculatura intrínseca da mão (interósseos) – Garra ulnar – Anestesia da borda interna e 4º e 5º dedos – Anidrose e distúrbios circulatórios Comprometimento neural • Mediano – Paralisia músculos intrínsecos – Anestesia borda externa da mão e 1º, 2º e 3º dedos – Alteração sudorese e distúrbios vasculares – “mão simiesca” ou deformidade de Aran Duchène: lesão de ulnar e mediano concomitantes Comprometimento neural • Comprometimento de ulnar e mediano em fase avançada com reabsorção óssea Comprometimento neural • Radial – Musculatura extensora da mão – “mão caída” ou “mão de cadáver” Comprometimento neural MMII • Fibular – Músculos da loja ântero- lateral da perna (dorsiflexão do pé) – “pé caído” – Anestesia da face lateral da perna e dorso do pé – Distúrbios vasculares e circulatórios Comprometimento neural MMII • Tibial posterior – Paralisia dos músculos intrínsecos do pé (“dedos em garra”) – Anestesia plantar – Alterações vasculares e glandulares – Participação na patologia do mal perfurante plantar Comprometimento neural MMII • Mal perfurante plantar é uma das graves incapacidades e pode causar osteomielite, com amputações e septicemia Seqüelas de lesões neurais Características das lesões nervos • Forma tuberculóide – Lesões precoces, agressivas, assimétricas. Podem ser mononeurais – Destruição das fibras pelos granulomas – Pode ocorrer necrose caseosa de nervos afetados • Forma virchoviana – Lesões extensas, simétricas e pouco intensas – Compressão lenta pelo infiltrado inflamatório – Manifestações tardias • Forma dimorfa – Comprometimento extenso e intenso – Destruição dos nervos por granulomas de maneira generalizada Lesões cutâneas • Hanseníase indeterminada – Máculas ou áreas circunscritas com distúrbios de sensibilidade, sudorese ou vasomotores – Pode existir alopécia parcial ou total – Podem ser lesões hipocrômicas ou eritemato- hipocrômicas com eritema marginal ou difuso • Infiltrado inflamatório inespecífico perianexial • Infiltrado células mononucleares em torno de e invadindo filetes nervosos Forma indeterminada • Máculas hipocrômicas ou eritemato-hipocrômicas (com eritema marginal difuso) únicas ou em pequeno número, ou áreas circunscritas com distúrbios de sensibilidade, sudoral ou vasomotor • Pode existir alopécia parcial ou total Forma indeterminada Forma indeterminada Forma tuberculóide • Máculas ou placas bem delimitadas anestésicas – Contorno nítido, formando círculos – Únicas ou em pequeno número, assimétricas – Alterações sensitivas, sudorais, vasculares Forma tuberculóide • As lesões acometem as áreas frias do tegumento • A imunidade determina a delimitação da lesão, com maior atividade nas bordas Forma tuberculóide Forma tuberculóide Forma tuberculóide infantil Forma virchoviana • Lesões iniciais discretas • Máculas múltiplas hipocrômicas, róseas, de contornos imprecisos • É necessário examinar comdiferentes incidências de luz Forma virchoviana • Observam-se lesões eritematosas com limites imprecisos • Roséola hansênica – Lesões róseas menores que 1,0 cm Forma virchoviana • Evolução: • Lesões eritemato- pigmentadas caracterizam a forma intermediária • Nesta fase, pode haver alopecia nas lesões, nos membros , cílios e supercílios Forma virchoviana • Lesões eritemato- ferruginosas na face e comprometimento do lóbulo auricular Forma virchoviana • As lesões mais tardias são sólidas, papulosas, o tegumento está infiltrado, espessado • Surgem nódulos e placas confluentes (hansenomas) • Lesões geralmente simétricas, poupando regiões quentes Forma virchoviana • Na variedade histoide observam-se lesões firmes, quase cartilaginosas, semelhantes a pequenos tumores Forma virchoviana • Comprometimento do lóbulo da orelha Fase tardia • A facies leonina é observada quando existe infiltração difusa extensa e riqueza de hansenomas tuberosos, madarose ( queda de cílios e supercílios) com preservação dos cabelos • Pode haver desabamento do nariz (nariz em sela) e perfuração do septo nasal Lesões da mucosa bucal • Mucosa oral • Infiltração difusa com ou sem nódulos nos lábios, língua, palato mole, palato duro, úvula, peridentais Forma dimorfa • Lesões com contorno não bem definido, denominadas foveolares • Lesões bizarras, reticuladas, com a confluência de várias lesões anulares Forma dimorfa • Lesões em alvo, “esburacadas” ou em “queijo suiço” sempre eritemato-pigmentar com limites imprecisos Forma dimorfa • Lesões anulares confluentes • A clínica é intermediária entre a tuberculóide e a virchoviana Lesões extra-cutâneas • SNP: infiltração difusa e simétrica dos ramos nervosos – Pesquisa cuidadosa de sensibilidade • Nariz: rinite específica e precoce – Obstrução nasal, rinorreia sanguinolenta – Tardiamente perfuração e desabamento do septo • Laringe: epiglote, cordas vocais – Fase avançada: afonia Comprometimento ocular • Espessamento da córnea • Conjuntivite • Ceratite pontuada • Aumento da vascularização • Iridociclite aguda • Nódulos • Cegueira e glaucoma eventual Comprometimento ocular • Linfonodos: – linfoadenomegalia cervical, axilar, supratroclear, inguino-femorais, porta-hepáticos, ilíacos externos e internos • Hepatomegalia, esplenomegalia, granulomas na suprarrenal • Testículos: – Diminuição da produção de testosterona, queda da libido e eventualmente ginecomastia • Medula óssea: – Alterações na hematopoiese, provocando anemia • Ossos: – Rarefações, atrofia, absorção (mãos e pés) – Osteíte rarefaciente por trauma repetido – Osteoporose generalizada por atrofia testicular – Osteomielite (complicação de úlceras crônicas) – Atrofia da espinha nasal anterior com desabamento – Atrofia do processo alveolar maxilar com perda dos incisivos superiores Comprometimento muscular • Amiotrofias com reabsorção das extremidades • Amiotrofias de músculos interósseos do antebraço e loja anterior da tíbia Reações hansênicas • Surtos de agudização no decurso da doença • Reação de hipersensibilidade a antígenos liberados pela destruição bacilar provocada pelas defesas do hospedeiro ou pela ação dos medicamentos Reação tipo 1 • Na hanseníase dimorfa • Podem ocorrer em qualquer momento durante o tratamento, após a alta e inclusive antes de iniciada a medicação • Caracterizadas por eritema polimorfo; neurites agudas; espessamento de nervo e muita dor; mal-estar; febre e comprometimento do estado geral Reação hansênica tipo 1 • Agudização de lesões pré-existentes que se tornam violáceas, edematosas e dolorosas Reação hansênica tipo 1 • Novas lesões exuberantes agudas, em qualquer lugar do tegumento cutâneo Reação hansênica tipo 1 Reação tipo 2 (ENH) • Surto de eritema nodoso hansênico (ENH) disseminado que podem cronificar acompanhado de febre e comprometimento importante do estado geral • Pode ocorrer antes do tratamento mas é mais freqüente a partir do 6° mês • Virchovianos e dimorfos Reação tipo 2 (ENH) • Febre, mal-estar • Dores no corpo • Linfadenomegalia • Hepatoesplenomegalia • Icterícia • Placas e nódulos em vários estágios • Neurites, artralgias • Orquite • Trombose Reação hansênica • Exames laboratoriais inespecíficos: – Leucocitose com desvio à esquerda – Reações leucemóides – Aumento VHS e proteína C reativa – Aparecimento auto-anticorpos (FAN) – Aumento bilirrubinas – Aumento transaminases – Hematúria – Proteinúria Provas clínicas complementares • Pesquisa da sensibilidade – Térmica • Tubo com água quente e fria • Algodão embebido em éter e algodão seco – Dolorosa • Alfinete – Ponta e cabeça – Tátil • Chumaço de algodão • Monofilamentos de Semmes-Weistein Provas clínicas • Teste de Mitsuda – Avalia a integridade da imunidade celular ao Mycobacterium leprae – Injeta-se antígeno intradermicamente (0,1ml) – supensão de bacilos mortos – Reação localizada 48-72 horas após: reação de Fernandez – 30 dias após surge nódulo no local: reação tardia ou de Mitsuda – A reação de Mitsuda é positiva em pacientes com algum grau de imunidade, e negativa nas formas V Exames específicos • Baciloscopia – Exame da linfa corada pelo método de Ziehl-Nielsen (borda de lesão, nódulo, placa) – Observa-se a presença, número e integridade dos bacilos – Usa-se o Indice de Ridley para quantificar (de 0 a 6) – Índice Morfológico para determinar a viabilidade dos bacilos Exames histopatológicos • Forma indeterminada – Infiltrado inespecífico perianexial ou perineural • Forma tuberculóide – Granulomas de células epitelióides com coroa linfocítica • Forma virchoviana – Infiltrado monomorfo de macrófagos com numerosos bacilos no seu interior • Forma dimorfa – Os dois tipos de infiltrado estão presentes Forma indeterminada • Escasso infiltrado inflamatório crônico linfohistiocitário presente na derme superficial e profunda, perianexial, principalmente ao redor de nervos • Bacilos encontrados raramente infiltrando nervos Forma indeterminada Forma tuberculóide • Infiltração na derme e gordura subcutânea por granulomas não caseosos • Bacilos são vistos raramente, mais nos casos subpolares • Pode haver células gigantes mas necrose não é padrão Forma tuberculóide Forma virchoviana • Não há formação de granulomas • Infiltrado macrofágico monótono na derme Microscopia forma V • Macrófagos repletos de bacilos BAAR+ Microscopia forma V • Globias: Mycobacterium leprae é o único que forma este tipo de aglomerado, nos pacientes sem resistência ao bacilo Exames sorológicos • Hipergamaglobulina com predomínio de IgG nos virchovianos • Pode haver VDRL falso positivo – Por anticorpos antilipídios • Reação de Rubino positiva nos virchovianos – Sedimentacão de hemáceas formoladas de carneiro Tratamento • Formas paucibacilares (I e T) – Dapsona 100 mg/dia autoadministrada – Rifampicina 600 mg/mês, supervisionada – 6 meses de tratamento Tratamento • Formas multibacilares (D e V) – Dapsona 100 mg/dia autoadministrada + – Clofazimina 50 mg/dia autoadministrada e 300 mg/mês supervisionada + – Rifampicina 600 mg/mês supervisionada – 12 meses de tratamento Tratamento dos estados reacionais • Reação tipo 1 – Manter a medicação específica – Corticóide (prednisona) 1 a 2 mg/kg/dia com diminuição lenta – Analgésicos e antiinflamatórios não hormonais Tratamento dos estados reacionais • Reação tipo 2 – Manter a medicação específica – Casos leves: analgésicos e AINES – Casos moderados ou intensos • Talidomida 100 a 400 mg/dia Profilaxia • Exame dermatoneurológico de todos os contatos intra-domiciliares • Vigilância dos contatos por 5 anos • Vacinação BCG 2 doses para os contatos intra- domiciliares – Se o paciente jáé vacinado, recebe somente uma dose de reforço Diagnóstico diferencial • Hanseníase indeterminada – Pitiríase alba; vitiligo; pitiríase versicolor; pinta; nevo hipocrômico • Hanseníase tuberculóide – Tíneas da pele glabra; sarcoidose; necrobiose lipoídica • Hanseníase dimorfa – Linfomas e micose fungóide • Roséola hansênica – Roséola luética; doenças exantemáticas; reações alérgicas • Hansenomas tuberosos – Carcinomas basocelulares; histiocitomas; xantomas tuberosos; leiomiomas e sarcoidose
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