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87
BREVIÁRIO 
Semana 1
Competências 4 e 5
Habilidades 12, 13, 15 e 17
CLASSICISMO
Nos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica do mundo, que caracterizou a Idade Média, cedeu lugar ao antropocen-
trismo, ou seja, o Homem e a Ciência vão para o centro dos acontecimentos e do universo. O Renascimento marca 
o apogeu dessa era, que se propõe a iluminar com a razão as trevas da civilização medieval. 
Características do Classicismo 
O Classicismo queria recuperar a “classe” dos autores antigos a partir do cultivo dos valores greco-latinos, inclusive 
da mitologia pagã, própria dos antigos. Isso levou os poetas renascentistas a recorrer às entidades mitológicas 
para pedir inspiração, simbolizar emoções, exemplificar comportamentos. Pastores, deuses, deusas e ninfas estão 
presentes nas obras de arte e na literatura renascentista de uma forma natural, convivendo até mesmo com tradi-
ções cristãs, herdadas da época medieval. 
É hora de o ser humano se orgulhar de suas conquistas terrenas. O homem descobre que a Terra é redonda 
e passa a ter um olhar universalista para a realidade. O marco de seu início se dá em 1527, quando o poeta Sá 
de Miranda retorna de sua incursão de estudos pela Itália renascentista e introduz em Portugal novas formas de 
composição. Ele trouxe a postura amorosa, o soneto e, principalmente, a forma fixa do verso decassílabo chamado 
de medida nova, o dolce stil nuovo (doce estilo novo), criado pelo escritor italiano Francesco Petrarca. 
Tendências fundamentais 
 Criação e imitação: retomado do princípio aristotélico da mimese, ou seja, reproduzir os comportamen-
tos humanos por intermédio da arte. 
 Racionalismo: o desenvolvimento de um raciocínio completo sobre os temas abordados, inclusive o amor. 
Na poesia, essa tentativa de conciliar razão e emoção se apresentou por meio de uma figura de linguagem 
chamada “paradoxo”. 
 Humanismo e ideal de beleza: recriação da natureza humana por meio de um ideal de beleza, propor-
ção, harmonia e simetria. 
 Universalismo: a busca por novos territórios, expansão marítima. O homem quer se colocar acima da 
natureza e automaticamente, acima de Deus. O planeta Terra passa a ser um espaço de dominação humana. 
88
Camões lírico: “Tu, só tu, puro amor” 
 
A obra lírica de Camões compreende poemas feitos na medida velha e na medida nova. A medida velha obedece 
à poesia de tradução popular, na forma e no conteúdo. 
São exploradas as redondilhas, de cinco ou de sete sílabas (menor ou maior, respectivamente). 
Quanto à medida nova, os poemas são relacionados à tradição clássica: sonetos, éclogas, elegias, oitavas, 
sextinas. Quanto ao conteúdo, a poesia lírica clássica se relaciona com o petrarquismo. Francesco Petrarca foi o 
responsável por fixar a forma do soneto, no século XIV; o conteúdo de sua poesia delineia um lirismo amoroso 
platônico, relacionado indissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a quem dedicou perto de 360 sonetos, 
no seu cancioneiro. 
A lírica amorosa 
O tema amoroso é explorado na lírica camoniana sob dupla perspectiva. Com frequência, aparece o amor sensual, 
próprio da sensualidade renascentista, inspirada no paganismo da cultura greco-latina. Predomina, porém, o amor 
neoplatônico, espécie de extensão e aprofundamento da tradição da poesia medieval portuguesa ou da poesia 
humanista italiana, em que o amor e a mulher se configuram como idealizados e inacessíveis. 
Na poesia lírica camoniana, tal qual no modelo legado por Petrarca, o amor é um sentimento que eleva o 
homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Beleza e a Verdade, de acordo com a filosofia platônica. Para Platão, 
a realidade se divide em “mundo dos sentidos” e “mundo das ideias”. No mundo sensorial, nada é perene; no 
mundo das ideias, tudo é terno, imutável. O amor ideal, de acordo com Platão, é um sentido essencialmente puro 
e desprovido de paixões, ao passo que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. 
Em Camões, percebe-se o conflito entre o sentimento espiritual, idealizado, e o sentimento de manifestação 
carnal. O amor é, dessa forma, complexo, contraditório. Esse duplo enfoque do amor é bastante acentuado no 
soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”. 
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
89
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
“Amor é fogo que arde sem se ver”. In: CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.
ROMANTISMO
Poesia romântica
Contexto histórico
No século XIX, o público consumidor da literatura romântica era eminentemente formado pela burguesia. As ori-
gens populares dessa classe não condiziam com o refinamento da arte clássica, cuja compreensão exige conheci-
mento das culturas grega e latina. A burguesia ansiava por uma literatura que enfocasse seu próprio tempo, seus 
problemas e sua forma de viver. O romance relatava acontecimentos da vida cotidiana e dava vazão ao gosto 
burguês pela fantasia e pela aventura. Tornou-se, por isso, o mais importante meio de expressão artística desse 
segmento social.
Em algum aspecto, o romance substituiu a epopeia, um dos gêneros de mais prestígio da tradição clássica. Con-
tudo, alterou-lhe o foco de interesse. Enquanto a epopeia narra um fato passado – em geral, um mito da cultura de um 
povo –, o romance narra o presente, os acontecimentos comuns da vida das pessoas, numa linguagem simples e direta.
As gerações do Romantismo 
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos. Essa divisão, contudo, compreende, prin-
cipalmente, os autores de poesia. Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas 
obras apresentam traços característicos de mais de uma geração. 
 Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa, com destaque para Gonçalves Dias e Gonçalves de 
Magalhães. 
 Segunda geração: marcada pelo “mal-do-século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa-
tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes 
Varela e Junqueira Freire. 
 Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A 
maior expressão desse grupo é Castro Alves. 
Durante o Segundo Reinado, os românticos foram firmando o projeto de uma literatura autenticamente 
nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da poesia romântica brasileira, cujos 
poetas reúnem distintas gerações com características em comum. 
90
INDIANISMO: PRIMEIRA GERAÇÃO POÉTICA 
Compreendida entre os anos de 1836 e 1852, a primeira geração contou com os poetas Gonçalves de Magalhães 
e Gonçalves Dias. 
O nacionalismo e o patriotismo predominam em seus poemas, que exaltam aspectos característicos da paisa-
gem tropical, realçam o exotismo e a beleza natural e exuberante em oposição à paisagem e à natureza europeias. 
As obras de ambos encaram o indígena como elemento formador do povo brasileiro, bem como revelam 
forte religiosidade predominantemente católica, em oposição ao “paganismo” da poesia neoclássica ligada à tradi-
ção greco-latina. São de caráter amoroso, fortemente sentimental, fruto de relativa influência da lírica portuguesa, 
medieval, camoniana e romântica – de Garrett, principalmente. 
Em 1862, foi à Europa para tratar da saúde. Combalido pela tuberculose e reduzido à miséria, decidiu voltar 
ao Brasil, onde morreu em decorrência do naufrágio do navio em que viajava, já próximo da costa maranhense. 
Herdou de Gonçalves de Magalhães certo apego à poesia harmônica do Neoclassicismo e dos primeirosromânticos portugueses. No entanto, imprimiu à sua poesia um tom particular – uma inalienável necessidade de 
aliar o pensamento ao sentimento –, legando ao Romantismo brasileiro uma obra equilibrada, “a mais equilibrada 
poesia romântica”, segundo Manuel Bandeira. 
Gonçalves Dias criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa lite-
ratura. Seus versos encerraram eloquência e unção, lirismo, grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são: 
Primeiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Dicionário da língua tupi, Os timbiras; 
as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul. 
 
Gonçalves Dias
Primeiros cantos
Em 1846, os Primeiros cantos apareceram em livros, numa edição financiada pelo próprio autor. No prólogo da 
obra, Gonçalves Dias explica que não obedeceu a nenhuma das regras tradicionais da poesia porque menospreza 
“regras de mera convenção”. Adotou todos os ritmos da metrificação portuguesa e usou-os conforme melhor lhe 
pareceram. 
A obra revela “as marcas do Romantismo” – liberdade formal (a primeiríssima delas) contida naquele “me-
nosprezo das regras de mera convenção”, respeito à imaginação e ao indivíduo e valorização das emoções e das 
circunstâncias, com todas as contradições que acaso proviessem. Tanto no Brasil como em Portugal, a obra recebeu 
elogios. O escritor português Alexandre Herculano saudou o poeta de Primeiros cantos, colocando-o na categoria 
de uma nova voz no contexto da literatura brasileira. Herculano ainda observou que “salta à vista a proposta de 
casar o coração com o entendimento; a ideia com a paixão”. 
91
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.
ULTRARROMANTISMO OU GERAÇÃO BYRONIANA 
 
Algumas décadas depois da introdução do Romantismo no Brasil, a poesia ganhou novos rumos com o apareci-
mento dos ultrarromânticos. Desvinculados do compromisso com a nacionalidade da primeira geração, desinteres-
savam-se da vida político-social e voltavam-se para si mesmos, numa atitude profundamente pessimista. Como 
forma de protesto contra o mundo burguês, viviam entediados e à espera da morte.
A publicação do livro Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Johann Wolfgang von Goethe, na Ale-
manha, influenciou os escritores da segunda geração romântica brasileira. Sua história conta o triste suicídio de 
Werther, quando vê findada sua chance de ser feliz ao lado de seu amor, a jovem Carlota. 
92
O “mal-do-século”
Os jovens e estudantes de hoje encontram diferentes maneiras de protestar contra os valores sociais ou o poder ins-
tituído. Alguns se organizam em associações ou agremiações estudantis e manifestam-se em jornais, assembleias 
e passeatas. Outros preferem as chamadas tribos urbanas. Para mostrar que pertencem a elas, pintam os cabelos, 
usam coturnos, roupas rasgadas, pulseiras e colares, roupas escuras com caveiras estampadas, piercings, cabelos 
longos. Nas décadas de 1850 e 1860, jovens poetas universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro se reuniram e 
deram origem à poesia romântica brasileira, conhecida como Ultrarromantismo. Sem acreditar nas ideias e valores 
que levaram à Revolução Francesa e sem ter nenhum outro projeto, essa segunda geração romântica se sentia 
como uma “geração perdida”. A forma encontrada para expressar seu pessimismo e sua inadequação à realidade 
foi, no plano pessoal, levar uma vida desregrada, dividida entre os estudos acadêmicos, ócio, casos amorosos e 
leitura de obras literárias de Musset e Byron, escritores cujo estilo de vida imitavam.
No plano literário, essa geração se caracterizou por cultivar o mal-do-século, uma onda de pessimismo que 
se traduzia em atitudes e valores considerados decadentes na época, como atração pela noite, pelo vício e pela 
morte. No caso de Álvares de Azevedo, o principal representante do grupo, esses traços foram acrescidos ainda de 
temas macabros e satânicos, o que o aproxima de Horace Walpole, escritor inglês que, alguns anos antes, tinha 
dado início ao romance gótico com O castelo de Otranto (1765).
Os ultrarromânticos desprezam certos temas e posturas da primeira geração, como o nacionalismo e o 
indianismo; contudo, acentuam traços como o subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, ampliando a ex-
periência da sondagem interior e preparando terreno para a investigação psicológica que, três décadas mais tarde, 
iria caracterizar o Realismo.
Lord Byron: ousadia e negação
O poeta inglês Lord Byron (1788-1824) foi um dos principais escritores do Romantismo europeu. Dividia a vida 
luxuosa das cortes entre a literatura e as mulheres, e escandalizou a Inglaterra com seu estilo boêmio de vida e com 
suas relações amorosas extraconjugais. Foi ainda acusado de pederastia e de manter relações incestuosas com a 
irmã. Escreveu Don Juan e Jovem Haroldo.
O medo de amar
O amor foi tratado pelos ultrarromânticos sob uma perspectiva dualista, atração e medo, desejo e culpa. Segundo 
Mário de Andrade, escritor e crítico modernista, os ultrarromânticos temiam a realização amorosa. O ideal feminino 
é associado a figuras incorpóreas ou assexuadas: anjo, criança, virgem etc. As referências ao amor físico se dão 
apenas de modo indireto, sugestivo ou superficial. 
O poema a seguir, “Amor e medo”, do ultrarromântico Casimiro de Abreu, deixa bastante claro seu medo 
de amar.
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!...
CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Presença da literatura brasileira. v. 2. São Paulo: Difel, 1968. p. 44.
93
Neste poema, o medo de amar se traduz no receio de macular a virgem, no temor de entregar-se ao apelo 
dos sentidos e ferir a pureza da mulher amada. A imagem de “anjo enlodado” dá a medida exata do ideal feminino 
para os românticos: mulher virgem, assexuada e incorpórea.
A seguir, os principais escritores do Ultrarromantismo e suas produções:
 Álvares de Azevedo (poesia lírica, contos e teatro) – Lira dos vinte anos; Noite na taverna; Macário.
 Casimiro de Abreu (poesia lírica) – As primaveras.
 Fagundes Varela (poesia lírica) – Cantos e fantasias.
 Junqueira Freire (poesia lírica) – Inspirações do claustro.
Álvares de Azevedo: a antítese personificada 
 
Álvares de Azevedo (1831-1852) é a principal expressão da geração ultrarromântica de nossa poesia. Paulista, fez 
os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu um acidente 
(queda de cavalo), cujas complicações o levaram à morte, antes de completar 21 anos.
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram escritos 
em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário. O conjunto de sua obra é de qualidade irre-
gular, mas significativa sob o ponto de vista da evolução da poesia nacional.
As faces de Ariel e Caliban 
As características intrigantes da obra de Álvares de Azevedo residem na articulação consciente de um projeto 
literário baseado na contradição que, talvez, ele experimentasse na adolescência. Enquadrada no dualismoque ca-
racteriza a linguagem romântica, essa contradição é evidente em sua principal obra poética, “Lira dos vinte anos”.
A primeira e a terceira partes da obra revelam um eu lírico adolescente, casto, sentimental e ingênuo. A face 
de Ariel, a face do bem. 
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
94
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
HELLER, Bárbara; BRITO, Luís Percival L.; LAJOLO, Marisa. Álvares de Azevedo. Seleção de textos. 
São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada.
Observe que o soneto “Pálida, à luz da lâmpada sombria” está organizado a partir de relações antitéticas: 
a escuridão e a claridade; a noite e o amanhecer; o ambiente onírico (de sonho) e o real; a virgem pálida e distante 
e a mulher corporificada e sensual; o amor e a morte.
Note ainda que, da primeira para a última estrofe, há um processo de materialização da mulher amada: no 
início, ela é uma “virgem do mar” ou um “anjo”; depois, torna-se uma mulher sensual e nua na cama. 
Essa gradação ocorre paralelamente à gradação da luz, conforme o dia amanhece.
Numa atitude tipicamente adolescente, o eu lírico, como um verdadeiro voyeur, observa de longe a mulher 
amada, sem ter com ela nenhum comprometimento.
Trata-se de um comportamento resultante do “medo de amar”, ligado à dúvida e ao prazer reprimido, cuja 
saída é a sublimação pela morte.
Quando se inicia a segunda parte da Lira dos vinte anos, contudo, o leitor se depara com um segundo pre-
fácio da obra, com os seguintes dizeres:
Cuidado, leitor, ao voltar esta página!
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira 
ilha Barataria de D. Quixote, onde Sancho é rei; [...]
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro e capítulo funda-se numa binomia. Duas almas que moram 
nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas 
faces.
Nos meus lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde.
CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Ob. cit., v. 2. p.14.
Com esse comentário, o poeta introduz o leitor no mundo de Caliban, representado principalmente pelo 
poema “Ideias íntimas” e por uma série intitulada “Spleen e charutos”. Embora não se incluam na Lira dos vinte 
anos, aproximam-se desse grupo de textos os contos de “Noite na taverna” e a peça teatral “Macário”. Os poemas 
retratam um mundo decadente, povoado de viciados, bêbados, prostitutas, andarilhos solitários sem vínculos e sem 
destino. Observe essas atitudes nestes versos:
Poema do frade
Meu herói é um moço preguiçoso
Que viveu e bebia porventura
Como vós, meu leitor... se era formoso
Ao certo não o sei. Em mesa impura
Esgotara com lábio fervoroso
Como vós e como eu a taça escura.
Era pálido sim... mas não d’estudo:
No mais... era um devasso e disse tudo!
[...]
95
Não quisera mirar a face bela
Nesse espelho de lodo ensanguentado!
A embriaguez preferida: em meio dela
Não viriam cuspir-lhe o seu passado!
Como em nevoento mar perdida vela
Nos vapores do vinho assombreado
Preferia das noites na demência
Boiar (como um cadáver!) na existência!
[...]
Na leitura de alguns trechos do poema “Ideias íntimas”, entra-se na “terra fantástica” do mundo de Cali-
ban. O ambiente é um quarto de estudante, no qual o jovem se entrega a uma viagem pelo interior de si mesmo. 
Reconhece os objetos que formam seu pequeno mundo e a relação entre este e aqueles, de modo que a solidão e 
o desarranjo do quarto são um prolongamento da condição interior do eu lírico.
Casimiro de Abreu: a poesia bem-comportada
 
Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poetas românticos mais populares. Natural de Barra de São João, no 
Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua obra poética, Primaveras, em Portugal. Apesar de ligado à segunda 
geração da poesia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares de Azevedo 
deixara ao morrer, sete anos antes. Diferentemente da obra de Azevedo, em que o amor se confunde com a morte, 
nos poemas de Casimiro o amor se associa sempre à vida e à sensualidade. Contudo, essa sensualidade – mais 
natural que em Álvares de Azevedo, porque é mais concreta – ainda não alcança maturidade, conserva-se ligada 
ao medo de amar, é sempre disfarçada, resultado de insinuações e do jogo de mostrar e esconder. Sua poesia se 
destaca também pela abordagem graciosa de certos temas: infância, pátria, saudade, solidão, natureza, amor, que 
agradavam ao público, já acostumado a eles. 
 Aproveitando-se de novidades introduzidas pela primeira geração – variações métricas e rítmicas, forte 
musicalidade, emprego de uma língua brasileira –, a poesia de Casimiro se serve delas ao esgotamento, numa 
época em que tais inovações já não eram ruptura, uma vez incorporadas ao gosto do público.
 Com o tratamento brando dado aos temas, a poesia de Casimiro de Abreu não amplia nem modifica os 
horizontes do Romantismo brasileiro. A abordagem mais natural da sensualidade é a inovação que ela proporciona, 
bem como contribui para a consolidação e popularização definitiva do Romantismo entre nós.
96
Meus oito anos
Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
[...]
Casimiro de Abreu. As primaveras. Publicado em 1859.
97
PROSA ROMÂNTICA
As origens do Romance
 
Iracema (1881), de José Maria de Medeiros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).
A palavra romance tem origem do termo medieval romano, que designava as línguas usadas pelos povos sob do-
mínio do Império Romano. Essas línguas eram uma forma popular e evoluída do latim, bem como eram chamadas 
de romance as composições de cunho popular e folclórico, escritas nesse latim vulgar, em prosa ou em verso, que 
contavam histórias cheias de imaginação, fantasia e aventuras. 
Como gênero literário, o romance foi se modificando até assumir as formas de romance de cavalaria, ro-
mance sentimental e romance pastoral. Foi no século XVIII que a palavra romance tomou o sentido que tem hoje: 
texto em prosa, regularmente longo, que desenvolve vários núcleos narrativos organizados em torno de um núcleo 
central e narra fatos relacionados a personagens, numa sequência de tempo relativamente ampla e em determina-
do lugar ou lugares. 
Os primeiros romances, como se compreende atualmente, surgiram na Europa, já identificados com o início 
da revolução romântica. Entre os primeiros, destacam-se Manon Lescaut, do abade Prévost (1731), e A história de 
Tom Jones, de Henry Fielding (1749). 
98
O romancebrasileiro e a busca do nacional
Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de construir 
uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente, da 
nossa língua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais. Nessa busca, o romance se voltou para os es-
paços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que deram origem, respectivamente, ao romance 
indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional (a vida rural) e ao romance urbano (a vida citadina). 
O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja 
meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade 
brasileira. Esse objetivo foi alcançado. 
 
José de Alencar e o romance indianista
José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica. Cearense, cursou Direito em 
São Paulo (1850) e viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Dedicou-se à carreira de advogado e atuou 
também como jornalista. Na política, foi eleito várias vezes deputado e chegou a ocupar o cargo de ministro da 
Justiça, que exerceu de 1868 a 1870. Candidatou-se a uma cadeira no Senado, mas seu nome foi vetado. Por isso, 
encerrou sua vida pública e dedicou-se inteiramente à literatura. 
Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como “Mãe” e “O jesuíta”, 
encenadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles 
foram classificados de acordo com o tema. 
 Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874).
 Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875).
 Romances históricos: As minas de prata (dois volumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volu-
mes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro).
 Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola 
(1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877).
A produção diversificada de Alencar estava voltada para o projeto de construção da cultura brasileira, no 
qual o romance indianista ganhou papel de destaque em busca de um tema nacional e de uma língua mais bra-
sileira.
As principais realizações indianistas em prosa de nossa literatura são os três romances de José de Alencar. 
Neles, o ambiente é sempre a selva. Em O guarani, o índio Peri vive próximo dos brancos; em Iracema, o branco é 
que vive entre os índios; Ubirajara é o único romance que trata apenas da vida entre os índios.
99
O guarani: o mito da povoação
 
O guarani, romance histórico-indianista, foi publicado pela primeira vez sob a forma de folhetim no Diário do Rio 
de Janeiro, em 1857. D. Antônio de Mariz, fidalgo português, muda-se para o Brasil com a família: D. Lauriana, sua 
esposa; Cecília e D. Diogo, seus filhos; e Isabel, oficialmente sobrinha do fidalgo, mas, na verdade, filha dele com 
uma índia. Acompanha a família o jovem cavaleiro D. Álvaro de Sá, além de muitos outros empregados.
 A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri à Cecília; 
o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, provocada por D. 
Diogo, e a consequente revolta e ataque dos aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de D. 
Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília.
Iracema
 
Em capítulos curtos, superpõem-se imagens e comparações de cunho poético para surgir o nascimento de um 
mundo, que é o tema desse romance. Desenvolve-se no livro a lenda da fundação do Ceará e a história de amor 
entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de castida-
de, que rompe ao tornar-se esposa de Martim.
Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscigenado.
Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. 
Enterra-a ao pé de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos 
que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfu-
mado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua 
guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia 
a terra com as primeiras águas.
100
A crítica social no romance urbano de Alencar
Além de ter se dedicado ao romance indianista e ao romance regional, José de Alencar foi também um de nossos 
melhores romancistas urbanos. Suas obras, além de conter os ingredientes próprios do romance urbano romântico 
– intrigas amorosas, chantagens, amores impossíveis peripécias –, conseguem analisar com profundidade certos 
temas delicados daquele contexto social. Em Senhora, são abordados os temas do casamento por interesse, da 
independência feminina e da ascensão social a qualquer preço. Em Lucíola, é discutida a prostituição nas altas 
camadas sociais e, como em Senhora, a oposição entre o amor e o dinheiro. O romance Diva, ao lado de Senhora 
e Lucíola, constitui a série “Perfis femininos”. 
Senhora 
 
Publicada em 1875, Senhora é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamento como forma 
de ascensão social, o autor deu início à discussão sobre certos valores e comportamentos da sociedade carioca da 
segunda metade do século XIX. Embora Senhora ainda esteja presa ao modelo narrativo romântico, que considera 
o amor como o único meio de redimir todos os males, a obra apresenta alguns elementos inovadores, que anun-
ciam a grande renovação realista. Entre tais elementos estão a vigorosa crítica à futilidade dos comportamentos 
e à fragilidade dos valores burgueses resultantes do então emergente capitalismo brasileiro e, em certo grau, da 
introspecção psicológica. 
Aurélia Camargo é uma moça pobre e órfã de pai, noiva de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona 
ascender rapidamente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar 
todos os homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se milionária, e, consequentemente, uma das mulheres 
mais cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda oferecer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem 
revelar seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento. Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia 
revela-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto fora vil em sua ganância. 
Vivem como estranhos na mesma casa durante onze meses, mas, socialmente, formam o “casal perfeito”. 
Ao longo desse período, Seixas trabalha arduamente até conseguir obter a quantia que recebera como sinal pelo 
“acordo”. Devolve os cem contos de réis à esposa e se despede dela.
Aurélia lhe revela seu amor. Os dois, igualados no amor e na honra, podem desfrutar o casamento, que 
ainda não havia se consumado. 
Os convidados, que antes lhe admiravam a graça peregrina, essa noite a achavam deslumbrante, e compre-
endiam que o amor tinha colorido com as tintas de sua palheta inimitável, a já tão feiticeira beleza, envolvendo-a 
de irresistível fascinação.
– Como ela é feliz! – diziam os homens.
– E tem razão! – acrescentaram as senhoras volvendo os olhos ao noivo.
Também a fisionomia de Seixas se iluminava com o sorriso da felicidade. O orgulho de ser o escolhido da-
quela encantadora mulherainda mais lhe ornava o aspecto já de si nobre e gentil.
101
O romance regionalista e a sociedade rural 
A narrativa romântica também se debruçou sobre a sociedade de regiões interioranas do Brasil, buscando na 
geografia delas os aspectos culturais, os costumes, as crenças e a linguagem. Surgido no Romantismo da década 
de 1870, constituiu um dos aspectos singulares da literatura brasileira, especialmente em oposição ao excesso de 
imaginação empregada na elaboração dos romances indianistas e históricos do próprio Alencar. 
O romance regionalista foi criado por Bernardo Guimarães, que escreveu O ermitão de Muquém e A escrava 
Isaura. Também foi cultivado por José de Alencar, que criou O sertanejo, Til, O gaúcho e o O tronco do ipê. Contudo, 
seu defensor mais convicto foi Franklin Távora, autor de O cabeleira e Lourenço. O regionalismo faz parte da inten-
ção nacionalista dos românticos de reconhecer e identificar literariamente as várias culturas brasileiras. O romance 
de Bernardo Guimarães e dos primeiros escritores atentos a particularidades da cultura constituiu uma porção para 
a literatura que o leitor estava habituado a consumir. Sob a perspectiva romântica de imprimir um sentido nacional 
à nossa literatura, o sertanismo foi uma forma de regionalismo cultivado como registro das variedades culturais do 
Brasil com dados mais abrangentes e de mais atualidade que o indianismo que o precedera. As situações da vida 
social e cultural do campo são idealizadas e não faltam na literatura regional os quadros exóticos e a natureza 
exuberante, plenos de brasilidade. Os escritores românticos desejam mostrar um Brasil despojado, sem influências 
estrangeiras, o que não o fizeram plenamente. Seus relatos estão repletos da ideologia romântica europeia, ansio-
sa pela expressão literária do pitoresco regional. O registro de pequenos quadros de costumes insere, entretanto, 
muitas dessas produções como precursoras do movimento realista. 
Visconde de Taunay e o Centro-Oeste
 
Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843-1899), o visconde de Taunay, era carioca, fez carreira militar e, com apenas 20 
anos, participou da Guerra do Paraguai. 
Mais do que a guerra, o que o seduzia na carreira de militar era a possibilidade de viajar e conhecer a diver-
sidade natural do Brasil. Apaixonado pela natureza, registrava em desenhos espécies da fauna e da flora nacionais 
e, já no século XIX, protestava contra a destruição das matas na cidade do Rio de Janeiro. 
Em suas andanças por Mato Grosso, Taunay colheu experiências para compor suas obras. Ressalta-se nelas 
a capacidade do escritor de reproduzir com precisão aspectos visuais da paisagem sertaneja, especialmente da 
fauna e da flora da região. Foi autor do romance Inocência (1872), sua obra-prima, e de livros sobre a guerra e o 
sertão, como Retirada da Laguna (1871).
102
Inocência: a busca do sertão
Inocência é considerada a obra-prima de Taunay e do romance regionalista do Romantismo. Sua qualidade resulta 
do equilíbrio alcançado na contraposição de vários aspectos: ficção e realidade, valores românticos e valores da 
realidade bruta do sertão, linguagem culta e linguagem regional. Trata-se de uma história de amor impossível, que 
envolve Cirino, prático de farmácia, que se autopromovera a médico, e Inocência, uma jovem do sertão de Mato 
Grosso, filha de Pereira, pequeno proprietário, representante típico da mentalidade vigente entre os habitantes 
daquela região.
A realização amorosa entre os jovens é inviável, porque Inocência fora prometida em casamento pelo pai 
a Manecão Doca, um rústico vaqueiro da região; bem como porque Pereira exerce forte vigilância sobre a filha; de 
acordo com seus valores, ele tem de garantir a virgindade de Inocência até o dia do casamento. Ao lado dos acon-
tecimentos que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista 
alemão colecionador de borboletas que se hospedara na casa do pequeno proprietário.
Esse choque de valores revela as diferenças entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu.
Bernardo Guimarães 
 
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1825-1884) tornou artísticos os “casos” da literatura oral, valendo-se 
das técnicas narrativas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875), 
construídas com temas básicos dos romances de ênfase social de sua época, respectivamente o celibato clerical e 
a escravidão.
 A escrava Isaura 
Em uma fazenda em Campos (RJ), vive a bela e sedutora Isaura, escrava cuja filha a mãe de seu dono, Leôncio, 
criou, dando-lhe educação aprimorada de moça branca. Após a morte da mãe, a fazenda passa a ser administrada 
por Leôncio, casado com Malvina. 
103
Então, Isaura passa a sofrer o assédio dele. Malvina pretende libertar Isaura, mas quando percebe a paixão 
do marido, retira-se para a Corte. Isaura fica em situação embaraçosa, até que um dia resolve fugir com seu pai, 
Miguel, para o Recife. Lá, conhece Álvaro, um rapaz rico, defensor da República e apaixonam-se. Leôncio, no en-
tanto, vai à procura de Isaura e a recupera. Depois de dois meses, Álvaro vai para Campos a fim de resgatar Isaura: 
compra todos os bens de Leôncio, que está falido, incluindo a escrava. Leôncio se suicida. 
A escrava Isaura revela a ausência de uma visão crítica mais profunda. A escrava tem dotes físicos e psicoló-
gicos das cândidas heroínas românticas, padrões de beleza do europeu branco, como revela a seguinte passagem 
do romance.
Fugiu da fazenda do Sr. Leôncio Gomes da Fonseca, no município de Campos, província do Rio de Janeiro, 
uma escrava por nome Isaura, cujos sinais são os seguintes: cor clara e tez delicada como de qualquer branca; 
olhos pretos e grandes; cabelos da mesma cor, compridos e ligeiramente ondeados; boca pequena, rosada e bem 
feita; dentes alvos e bem dispostos; nariz saliente e bem talhado; cintura delgada e estatura regular; tem na face 
esquerda um pequeno sinal preto [...] Traja-se com gosto e elegância, canta e toca piano com perfeição.
A denúncia da escravidão perde seu impacto, que poderia ser demolidor, mas conseguiu comover (e comove 
ainda hoje).
REALISMO
A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi 
decisiva para os autores realistas brasileiros fortemente influenciados por eles. A família burguesa já não era mais o 
único foco da literatura, como havia acontecido no Romantismo. Os realistas ocupavam-se de outras classes sociais 
e da alma delas. A crise matrimonial, o papel da mulher nas relações sociais e o operariado passam a ser temas e 
personagens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade, descrever cenas, ambientes e comportamentos passa 
a fazer parte considerável das obras literárias. Registrar a realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos 
disfarçados, as falsas devoções e a moral de aparência são temas que passam a integrar o universo do romance. 
Tal como em Portugal, o Realismo-Naturalismo no Brasil esteve muito ligado às ideias estéticas, científicas 
e filosóficas europeias – positivismo, darwinismo, naturismo, cientificismo – que provocaram bastante repercussão. 
As mudanças que o tempo impôs coincidiram, por sua vez, com o rápido declínio do Segundo Império de Pedro II, 
após a Guerra do Paraguai. Não só o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo-Naturalismo. O movimento 
republicano, em 1870, também propunha trocar o trabalho escravo pela mão de obra imigrante. 
Machado de Assis
Machado de Assis (1839-1908)
Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas 
e tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era pela leitura. Inteligente e esforçado, Joaquim Maria 
Machado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais e de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos 
dezesseis anos, empregou-se na tipografia de Paula Brito. 
104
Aos dezenove, já era colaboradorassíduo de jornais e revistas cariocas: Correio Mercantil, O Espelho, Diário 
do Rio de Janeiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias. Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultura, 
enquanto sua carreira de escritor mostrava-se cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portugue-
sa Carolina Xavier de Novais. 
Na passagem do Império para a República, Machado de Assis já era um intelectual respeitável. Formado 
escritor à luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo, o que, a depender da fase, sua obra seja 
caracterizada ou romântica, até 1880, ou realista, de então em diante. 
O romance machadiano
O estilo
Elegância e certa contenção, rápidas pinceladas e muita discrição na composição da personagem, eis o estilo 
machadiano. Adepto de personagens fortes, as narrativas revelam excepcional capacidade de observação do ser 
humano e da sociedade, impressa, aliás, desde o início.
As lições que aprendeu dos românticos José de Alencar, Almeida Garrett, Victor Hugo e Swift levaram-no a 
apenas organizar seus personagens de modo diverso ao deles.
Entrelinha
“No romance machadiano, praticamente não há frase que não tenha segunda intenção ou propósito espirituoso. A 
prosa é detalhista ao extremo, sempre à cata de efeitos imediatos, o que amarra a leitura ao pormenor e dificulta 
a imaginação do panorama. Em consequência, e por causa também da campanha do narrador para chamar a 
atenção sobre si mesmo, a composição do conjunto pouco aparece.”
(SCHARZ, Roberto. In: Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.18).
O olhar detrás das máscaras
Nos romances iniciais, Machado é um romântico crítico, um pouco diferente dos demais, característica singular que 
haveria de constituir. O casamento não é a cura para todos os males (como diziam os românticos), mas um tipo de 
comércio, uma certa troca de favores.
Nos romances escritos após 1881, essa crítica social é acentuada e assume uma fina ironia ao contemplar 
o casamento, o adultério, a exploração do homem pelo próprio homem. Acostumou-se a olhar detrás das máscaras 
sociais, a desmascarar o jogo das relações sociais, a compreender a natureza humana mediante personagens com 
penetrante espírito de análise. Nos indivíduos sempre há intenções supostas para objetivos reais. Disso resultam 
suas atitudes, veículos de satisfação pessoal para quem as pratica.
Primeira fase: ciclo romântico
Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis considerados românticos, já se revela a característica que 
haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos 
leitores por parte do narrador e cheios de considerações sobre os comportamentos. Seus personagens não são line-
ares como os dos demais românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não são transparen-
tes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados.
Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de 
contos Histórias da meia-noite e Contos fluminenses.
105
Helena
No ano de 1859, morre o conselheiro Vale, figura de primeira classe da sociedade do Segundo Reinado, homem 
bem relacionado e respeitado. Ele deixa um filho, Estácio, de 27 anos, e uma irmã, D. Úrsula, que desde a morte da 
cunhada cuidara com desvelo da bela chácara em que vivem, no Andaraí. 
A leitura do testamento revela uma segunda filha do conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união até 
então desconhecida de toda a família. Enquanto Estácio aceita o último pedido do pai – levar Helena para morar na 
chácara e tratá-la com muito carinho – D. Úrsula vê na jovem uma intrusa e usurpadora. No entanto, o testamento 
é obedecido. Helena sai do colégio interno para morar na chácara, onde começa a mudar a vida de todos.
Segunda fase: ciclo realista
Com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra. 
Amadureceu como escritor e passou a escrever para leitores mais exigentes. Seus personagens tornaram-se mais 
elaborados, pois eram compostos à luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição do romance foi aperfei-
çoada: os capítulos e frases passam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior contato com o leitor. Observa-se 
também uma apurada análise da sociedade brasileira do final do Segundo Império, ambiente no qual o casamento 
começa a ser um grande alvo da crítica tecida pelo autor. 
As estruturas narrativas fogem à linearidade, entremeadas de digressões temporais, intromissões do narra-
dor e a análise apurada dos acontecimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, 
Esaú e Jacó, Memorial de Aires são romances do ciclo realista. 
Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos contos a partir de 1869, começando com os “Contos 
fluminenses”, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da meia-noite, 
Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha. Merecem destaque os 
contos “A cartomante”, “Missa do galo”, “O alienista”, “O espelho”, “Cantiga de esponsais”, “Noite de almirante”, 
“A igreja do diabo”, entre outros. A produção poética de Machado de Assis está reunida em Falenas, Crisálidas, Ame-
ricanas, Ocidentais. Destacam-se as peças de teatro “Queda que as mulheres têm para os tolos”, “Quase ministros” 
e “Lição de botânica”. 
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Memórias póstumas de Brás Cubas
 
A posição de Machado de Assis na literatura brasileira é a de renovador – um abridor de caminhos –, pois revo-
lucionou a narrativa, atribuindo-lhe um tom de mais verossimilhança e menos superficialidade, e foi além de seu 
tempo, imprimindo à literatura um senso psicológico notável. O caráter inovador de Memórias póstumas de Brás 
Cubas é a respeito das reflexões do personagem, como elas se encadeiam e se misturam aos eventos que ele vive. 
Dom Casmurro
 
Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback da ve-
lhice para a adolescência, Bentinho conta sua própria história. Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito 
carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida 
sacerdotal. 
Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa 
a uma promessa que fizera, aceita a ideia inteligente de Escobar de enviar um menino órfão ao seminário para ser 
ordenado no lugar do Bentinho. 
Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba casando-se mesmo com Capitu. 
O casal vive muito bem. Bentinho vai progredindo, mantém amizade com Escobar, antigo colega de seminá-
rio, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel.
Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar Capitu estranha. Surpreende-a contemplando 
o cadáver de uma forma que ele interpreta como apaixonada.
A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o casamento entra em crise. Cada vez mais Ezequiel 
torna-se parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O casal separa-
-se, Capitu e Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre.
Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que comprova a semelhança do filho com Escobar. Eze-
quiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de “Casmurro” e 
põe-se a escrever a história de sua vida.
107
Quincas Borba
 
Quincas Borba foi publicado entre 1886 e 1891 na revista Estação. Para alguns estudiosos, a obra é a continuação 
do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, já que o personagem Quincas atravessa os dois romances. O per-
sonagem torna-se um símbolo do “humanitismo”, teoria desenvolvida por ele segundo a qual serão vitoriosos na 
vida os que forem mais ricos, maisfortes e mais espertos. Quincas Borba habita uma chácara na cidade de Barba-
cena (MG) na companhia do enfermeiro Rubião, que nunca consegue aprender a teoria que o paciente lhe ensina. 
 Quando Quincas morre, sua fortuna é deixada para Rubião. O enfermeiro teria acesso ao dinheiro com a 
condição de que cuidasse do cachorro de Quincas, que também se chama Quincas Borba. Na companhia do cachor-
ro e com as mãos na herança, Rubião se muda para o Rio de Janeiro, onde conhece o casal Sofia e Cristiano Palha. 
Estes percebem que o enfermeiro é ingênuo e, em pouco tempo, o enfermeiro passa a perder sua fortuna. 
NATURALISMO 
 
Contexto histórico
Na tentativa de acabar com os cortiços no Rio de Janeiro, muitos pobres foram literalmente empurrados para longe 
da cidade e para os morros, onde se formaram as favelas. O fim da escravidão e o início do período republicano 
no Brasil foram marcados por conflitos e revoltas populares também no Rio de Janeiro. Em 1904, estourou um 
movimento de caráter popular desencadeado contra a campanha de vacinação obrigatória de combate à varíola, 
imposta pelo governo federal. 
108
A revolta engrossava a cada dia, impulsionada pela crise econômica – desemprego, inflação e alto custo de 
vida. A reforma urbana retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando cortiços e habitações simples. 
Espalhados pelas ruas, populares destruíam bondes e apedrejavam prédios públicos. Em 16 de novembro de 
1904, o presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação obrigatória e mandou que o Exército, a Marinha e 
a polícia acabassem com os tumultos. 
Burguesia versus proletariado
A segunda metade do século XIX foi caracterizada pela consolidação do poder da burguesia, do materialismo e 
do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de outro, 
o crescimento dos bairros pobres, onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo 
poder, o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram e 
desenvolveram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o 
idealismo e o tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise 
e compreensão da realidade. Teorias desse naipe deram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, 
quais sejam: a teoria determinista, de Hippolyte Taini (1825-1893), que encarava o comportamento humano como 
determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809-
1882), que defendia a tese de que o homem descende dos animais. 
As características do Naturalismo literário são ligadas à realidade da época, cujo tom deixa de ser tão poé-
tico e subjetivo como nas escolas precedentes. 
Os romances naturalistas revelam: 
 veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade;
 contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas;
 detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa, o amor é materializado, e a 
mulher passa a ser vista como objeto de prazer masculino;
 denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito, 
e a ambição humanos;
 determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens; 
consideração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista; 
homem próximo ao animal (zoomorfismo); 
 linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns ao das personagens cotidia-
nas; linguagem é simples, natural e clara;
 cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados;
 personagens patológicos – mórbidos, adúlteros, assassinos, bêbados, miseráveis, doentes, prostitutas 
procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano.
109
Aluísio Azevedo 
Aluísio Azevedo (1857-1913) deixou São Luís, no Maranhão, onde nasceu, aos dezenove anos e foi para o Rio de 
Janeiro. Lá, morou com o irmão, Artur Azevedo, e dedicou-se persistentemente ao desenho e à pintura na Imperial 
Academia de Belas-Artes.
Aos 21 anos, voltou a São Luís, onde passou a colaborar na imprensa local. Em 1879, já havia lançado o ro-
mance romântico Uma lágrima de mulher. Mas foi em 1881 que seu nome tornou-se conhecido, com a publicação 
do romance O mulato, cuja temática, bastante criticada pela sociedade local, atacava o preconceito racial. Por isso, 
Aluísio foi aconselhado a “pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo”. 
De volta ao Rio de janeiro, produziu folhetins românticos para jornais. “Memórias de um condenado” e 
“Mistérios da Tijuca” foram alguns deles ditados pelas necessidades de sobrevivência. Escreveu também obras 
mais bem elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram 
seu prestígio. 
Em 1895, foi nomeado vice-cônsul em Vigo, na Espanha. Foi o início de uma atribulada carreira diplomática, 
que o levaria a Yokohama, no Japão, a La Plata, na Argentina, a Salto Oriental, no Uruguai, a Cardiff, na Inglaterra, 
a Nápoles, na Itália e, finalmente, a Buenos Aires, na Argentina. 
Fase romântica 
Dentre os seus folhetins românticos destacam-se “Uma lágrima de mulher”; “Memórias de um condenado” ou 
“A Condessa Vésper”; “Filomena Borges”; “A mortalha de Azira”; “Mistério da Tijuca” ou “Girândola de amores”. 
Fase naturalista
Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os livros de contos 
Demônios; Pegadas; O touro negro. 
Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração da 
patologia humana, como ocorre, por exemplo, na obra do paradigma francês Émile Zola. Aluísio prefere a obser-
vação direta da realidade da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre o homem, segundo a 
teoria determinista de Hippolyte Taine. 
110
O cortiço 
 
Nesse seu melhor romance naturalista, focaliza o proletariado urbano do Rio de Janeiro que vive num ambiente 
coletivo: um cortiço. Os personagens são criados sob uma visão de conjunto, cujo meio influi categoricamente, des-
personalizando-os e a tudo dominando. O espaço é o elemento de destaque na obra que está intimamente ligado 
aos personagens. Como o romance possui muitos deles, a coletividade torna-se um fator preponderante na obra, o 
que faz com que O cortiço seja considerado um romance da multidão. As personagens espelham o nascimento do 
proletariado no Rio de Janeiro, em fins do século XIX. 
O mulato
Publicado em 1881, o romance O mulato, de Aluísio Azevedo, causou verdadeiro escândalo na sociedade mara-
nhense. Primeiramente, devido à linguagem naturalista, repleta de descrições, por vezes, e também pelo tema de 
que tratava: o preconceito racial. Ainda com tal recepção, a obra fez muito sucesso na corte carioca, embora não 
tivesse feito sucesso nenhum no Maranhão, terra natal de Aluísio, cujos leitores dirigiam ao autor a alcunha de 
“Satanás da cidade”. 
Na obra estão presentes a ávida crítica social, construída por meio da sátira impiedosa dos tipos que ha-
bitavam a capital maranhense, o anticlericalismo, composto na figura de um padre devasso e assassino; além do 
aspecto sexual, do triunfo do mal e da oposição ao preconceito racial que é a base para a composição do livro. 
PRÉ-MODERNISMO 
Contexto histórico
Avenida Paulista, 1902. Fotógrafo Guilherme Gaensly
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Durante os primeiros anos da República Velha, como ficou conhecido o período compreendido entre o final do sé-
culo XIX e as duas primeiras décadas do século XX (1885-1920), São Paulo tornou-se uma espécie de sede da bur-
guesia cafeeira – fazendeiros enriquecidos que construíram suas mansões na recém-inaugurada Avenida Paulista.
Na época, o Brasilera governado pelos políticos da aliança “café com leite”, que se tratava de um reveza-
mento de presidentes da República de origem mineira e paulista. 
O Rio de Janeiro, capital da República, passava por uma modernização estrutural. As ruas da cidade já 
contavam com trilhos para o novo veículo de massas: o bonde. Mas a sede do Governo Federal também era palco 
de rebeliões, como a famosa Revolta da Vacina (contra a vacinação obrigatória para conter a varíola). No cenário 
de um proletariado emergente, a cidade ia assistindo à ocupação das periferias desde a abolição da escravatura, 
em 1888. 
Com a imigração proletária intensiva, os socialistas e anarquistas passaram a ter atuação destacada: mo-
vimentos populares, greves e revoltas avolumaram-se. Em 1917, uma greve marcou um dos mais importantes 
movimentos resultantes da politização do proletariado. Em São Paulo, cerca de 100 mil trabalhadores reivindica-
ram melhores condições de vida. Nesse período, o maior conglomerado industrial do Brasil, São Paulo, também se 
firmou como centro político. Em 1922, foi fundado o Partido Comunista. 
Um período de transição
O momento histórico das duas primeiras décadas do século XX criou uma literatura social, cuja ênfase recaiu sobre 
a análise da realidade nacional com preocupações socioculturais. 
Voltada para os problemas sociais do País, essa nova literatura buscava o nacional autêntico sem a idealiza-
ção das fórmulas europeias importadas. O Pré-modernismo abrangeu um período literário de transição compreen-
dido entre 1902 e 1922, cujo marco inicial foi a publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides 
da Cunha, ambos em 1902. A Semana de Arte Moderna, em São Paulo, em 1922, marcou o fim do Pré-modernismo 
e a inauguração do movimento modernista no Brasil. 
Como em qualquer fase de transição, no Pré-modernismo coexistiram tendências opostas. O elemento novo 
leva tempo para ser implantado. As novidades injetadas na literatura social por Graça Aranha e Monteiro Lobato, 
por exemplo, foram sendo assimiladas aos poucos.
Desse modo, a linguagem ornamental do Parnasianismo persistiu em muitos poetas daquele período, que 
escreviam ao gosto do público das camadas dominantes sem finalidade de denúncia, de análise ou de crítica. 
Perspectivas nacionalistas e renovação 
Típicas dessa fase de transição foram as obras de Graça Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lo-
bato. Todos produziram literatura de caráter nacionalista, mas com perspectivas diferentes. Graça Aranha renegou 
gradativamente o passado para se tornar uma das personalidades da Semana de Arte Moderna. 
Euclides da Cunha repensou o interior do País, completamente afastado do ufanismo social. Em Os sertões, 
trouxe uma voz inconformada com o massacre de Canudos e um retrato realista da situação do homem sertanejo. 
Lima Barreto foi o mais radical dos renovadores. Posicionou-se contra a literatura acadêmica e fez ressaltar 
a realidade triste dos subúrbios cariocas e as problemáticas atitudes de políticos tiranos e ineficazes. 
Monteiro Lobato fez uma literatura de advertência, sob a óptica da caricatura, denunciando a miséria cam-
pesina e buscando uma sociedade moderna, como revelado neste trecho de Zé Brasil: 
Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre viveu em casebres de sapé e barro, desses de chão batido 
e sem mobília nenhuma – só a mesa encardida, o banco duro, o mocho de três pernas, os caixões, as cuias... Nem 
cama tinha. 
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Zé Brasil sempre dormiu em esteira de tábua. Que mais na casa? A espingardinha, o pote d’água, o caco de 
cela, o rabo de tatu, a arca, o facão, um santinho na parede. Livros, só folhinhas – para ver as luas e se vai chover ou 
não, e aquele livrinho na Fontoura com história de Jeca Tatu. – Coitado desse Jeca! – dizia Zé Brasil olhando para 
aquelas figuras. Tal qual eu. Tudo que ele tinha eu também tenho. A mesma opilação, a mesma maleita, a mesma 
miséria e até o mesmo cachorrinho. Pois não é que o meu cachorro também se chama Joli?...
(Monteiro Lobato. Zé Brasil. In: LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato. São Paulo: Abril Educação, 1981).
Euclides da Cunha 
 
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909) terminou o curso de Engenharia Militar, na Escola Superior de 
Guerra, em 1892. Trabalhou na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil e, mais tarde, atuou na cidade de 
São Carlos do Pinhal, SP, como engenheiro-assistente, na Superintendência de Obras. Ao mesmo tempo, colaborava 
com artigos para o jornal O Estado de S. Paulo, que o convidou para ser correspondente em Canudos – cidade do 
interior da Bahia – durante o conflito entre o líder Antônio Conselheiro e as forças governistas. Permaneceu no 
sertão baiano, de agosto a outubro de 1897, e testemunhou o massacre de Canudos. 
Ao regressar, em 1899, foi transferido para o município de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, 
onde deveria construir uma ponte sobre o rio Pardo. Lá escreveu Os sertões, obra que publicaria em 1902 e que o 
consagraria no panorama cultural brasileiro. 
Os sertões
Os sertões situa-se entre a literatura, a sociologia e a ciência. Trata-se de uma análise sociocultural que revelou ao 
brasileiro um mundo desconhecido, de miséria absoluta. O rigor científico de Euclides da Cunha – de linha cienti-
ficista do final do século XIX, que analisa o ser humano em razão de seu ambiente –, aliado à linguagem vibrante 
e pomposa, faz do livro uma fonte preciosa de informação e de expressão. Serviram de roteiro as reportagens que 
Euclides da Cunha, como correspondente especial, escrevera no dia a dia da guerra de Canudos. 
Armado de cultura técnico-científica, o engenheiro trouxe para Os sertões o vocabulário preciso de seu 
ofício, que foi organizado em três partes – a terra, o homem e a luta – com intuito de trazer ao leitor uma visão 
completa do que se passava em Canudos.
Na primeira parte, o narrador descreve a terra, palco onde foi representada a trágica peleja entre brasileiros- 
-irmãos que se desconheciam e que o destino colocou no papel de antagonistas. 
Na segunda parte, retrata o homem brasileiro que se defronta naquele palco: de um lado, o sertanejo resis-
tente; de outro, o militar incumbido de domá-lo. Emerge nesta parte a figura do chefe da revolta, Antônio Conse-
lheiro, o sertanejo que representava todos os combatentes/lutadores, ponto de agregação para o qual convergiam 
as características da sociedade sertaneja. Nessa parte, alguns personagens secundários do sertão são trazidos à 
cena: Volta-Grande, Pajeú, Pedrão, João Abade, Trança-Pés, Boca-Torta, Chico-Ema, bem como os coronéis Moreira 
César e Tamarindo, o general Machado Bitencourt e muitos militares.
 Na terceira parte, finalmente, desenrola-se a luta, organizada em seis episódios: Preliminares, Travessia do 
comboio, Expedição Moreira César, Quarta expedição, Nova fase da luta e Últimos dias. 
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Lima Barreto 
 
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) teve uma infância difícil em um internato, pois perdera a mãe, uma 
professora, quando tinha apenas sete anos de idade. 
Aos 14, ingressou no curso superior na Escola Politécnica, no Rio de Janeiro, mas precisou abandoná-lo para 
cuidar do pai. 
Iniciou a vida profissional como escrevente, na Secretaria de Guerra, em 1903. Dois anos mais tarde, in-
gressou no jornalismo, atuando no jornal Correio da Manhã, e na vida política, militando no Partido Operário 
Independente. 
Em 1909, estreou como escritor com a publicação, em Lisboa, do romance Recordações do escrivão Isaías 
Caminha. Em 1911, passou a publicar no Jornal do Comércio, em forma de folhetins o romance Triste fim de Poli-
carpo Quaresma. 
Foi acolhido como grande jornalista e participou das lutas esquerdistas que culminaram na greve operária 
de 1917. 
 Dominado pelo álcool, foi internado pela primeira vez em 1914. Em 1919, recolhido novamente ao sana-
tório, escreveu Clara dos Anjos e o relato Cemitério dos vivos.Legítimo representante do Pré-modernismo, Lima Barreto nasceu no mesmo ano em que se iniciou o Realis-
mo-Naturalismo no Brasil (1881) e morreu no mesmo ano em que se realizou a Semana de Arte Moderna (1922). 
Triste fim de Policarpo Quaresma
 
Publicado em folhetins, em 1911, e depois em livro, em 1915, esse romance relata a vida do major Quaresma, que 
trabalha como subsecretário do Arsenal de Guerra. Nacionalista exaltado, julgava-se, pelas meditações patrióticas 
que fizera, em condições de lutar por reformas radicais no País. 
Estudioso das tradições folclóricas, defensor do modo de vida dos índios tupinambás e admirador das mo-
dinhas populares, Quaresma considera que o povo brasileiro deveria emancipar-se. 
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O major Quaresma é visto como louco e perigoso, depois de mandar um requerimento ao Congresso Na-
cional sugerindo a adoção do tupi, língua indígena, como idioma oficial do Brasil. É suspenso temporariamente 
do trabalho, depois de traduzir um ofício para a língua indígena. Declarado louco, é internado em hospício, onde 
projeta reformas e mais reformas. 
Apenas o amigo fiel Ricardo Coração dos Outros, um violeiro, e a afilhada do major, Olga Coleoni, acreditam 
naquilo que Quaresma prega. 
Ao sair do hospício, seis meses depois, resolve defender uma reforma na agricultura brasileira. O seu sítio 
“Sossego” transforma-se em verdadeiro quartel-general da reforma agrária. Admirador do marechal Floriano Pei-
xoto, Quaresma atrai para si mais ódio. 
Quando eclodiu a Revolta Armada, o major apoia Floriano e pretende lutar contra os rebeldes amotinados 
na baía de Guanabara em defensa da ordem republicana. Enquanto isso, os amigos militares só pensam em tirar 
proveito da revolta. Posteriormente, o próprio Floriano Peixoto chega a desprezar Quaresma. Já doente, quando do 
fim da revolta, Quaresma é preso e mandado para a ilha das Cobras, pena imposta por ele ter redigido um protesto 
em defesa dos presos. Nesse local, o personagem é injustamente fuzilado.
Monteiro Lobato 
 
Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté, São Paulo. Foi um dos mais influentes escritores 
brasileiros. Muito criticado pelo seu conservadorismo, especialmente entre os modernistas, chegando a ser conside-
rado por muitos preconceituoso, além de um crítico voraz da Semana de Arte Moderna, pois julgava o movimento 
fruto de teorias meteóricas e passageiras. De alguma maneira, equivocou-se em relação ao seu vaticínio, pois anta-
gonizou aquela que foi a maior e mais importante escola literária e artística dos últimos tempos. Foi um importante 
editor, criando, em 1918, a “Lobato Editora”, além de ser o criador da Literatura Infantil no Brasil. Formou-se em 
Direito e atuou como promotor público. Antes de seu falecimento, em 1948, em São Paulo, Lobato também teve 
uma passagem política.
Negrinha
 
O conto “Negrinha” apresenta as ações das personagens centradas na figura da pobre órfã adotada e aquilo 
que acontece a sua volta. O conto mostra uma realidade em que a palavra negrinha, ao invés de ser um adjetivo, 
tornou-se um nome próprio. Narrado em terceira pessoa, o narrador apresenta a personagem órfã desde o seu nas-
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cimento até a sua morte. Dona Inácia é patroa de Negrinha, caracterizada pela igreja como “excelente senhora”, 
uma vez que era uma mulher de muitos dotes, e que contribuía com sua riqueza regularmente com a Igreja. Daí, 
a ironia na fala do reverendo dizendo que Dona Inácia era uma: “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da 
religião e da moral”. Para Dona Inácia, a Negrinha era como se fosse um animal doméstico, sem direitos, apenas 
sobrevivendo. Apesar disso, tudo que Dona Inácia fazia na sociedade era para construir a imagem de uma boa 
senhora, mas tratava de maneira cruel a Negrinha em sua casa. Qualquer coisa era motivo para que Negrinha 
apanhasse, recebesse xingamentos etc. 
Um dos exemplos que marca o sadismo e crueldade da patroa é a cena em que ela pede para a Negrinha 
abrir a boca e engolir um ovo recém-cozido. 
Da metade para o final do conto surgem as duas sobrinhas de Dona Inácia para passar as férias de dezem-
bro. O que a princípio parecia uma coisa boa, pois pela primeira vez Negrinha pode brincar, logo se propõe uma 
realidade cruel, em que fica claro que ela é adotada e, mais do que isso, sempre colocada numa situação como se 
fosse um bichinho, um animal de estimação mesmo. 
Quando as meninas vão embora, dado o final das férias, a vida da pobre Negrinha volta ao normal, com 
os achaques da “Santa Inácia”, como ironicamente descrevia Lobato. Fato que é preponderante na narrativa, uma 
vez que diante da retomada de sua solidão existencial e de sua condição zoomórfica frente ao tratamento de sua 
dona, pouco tempo depois que as meninas brancas vão embora, ela morre. Seu falecimento deixa nítido que o fato 
de ela adoecer, na verdade, é um grito contra o mundo, um desfile de seu desgosto. Fraca e em estado de delírio, 
ela fica lembrando das brincadeiras que teve com as garotas brancas, brinquedo e bonecas.
Trecho
 — Traga um ovo. 
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da 
tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a 
um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou: 
— Venha cá! 
Negrinha aproximou-se. 
— Abra a boca! 
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água 
“pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até 
que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a 
perceber aquilo.

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