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1 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO PODER E POLÍTICA: ANTIGUIDADE E MEDIEVAL 2 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, des- tacando-se pela oferta de cursos de gradua- ção, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimen- to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem- pre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com cons- ciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui- ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MiSSÃo Formar profissionais com consciência cida- dã para o mercado de trabalho, com ele- vado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. viSÃo Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. GRUPO MULTIVIX 3 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO BiBlioteca MultiviX (dados de publicação na fonte) As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com Leão, Aniele Fernandes de Sousa. Poder e Política Antiguidade Medieval / Aniele Fernandes de Sousa Leão; Fábio Luiz da Silva de Sousa Leão. – Serra: Multivix, 2018. editorial Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra 2018 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Faculdade caPiXaBa da Serra • MultiviX Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina Diretor Administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga Diretor Geral Helber Barcellos da Costa Diretor da Educação a Distância Pedro Cunha Conselho Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão de Língua Portuguesa Leandro Siqueira Lima Revisão Técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix Educação a Distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD 4 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Aluno (a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei- ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo- dalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprova- da pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo en- tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa- -se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, pro- cura fazer a sua parte, investindo em projetos so- ciais, ambientais e na promoção de oportunida- des para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina diretor executivo do grupo Multivix 5 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Caro (a) aluno (a), é com enorme satisfação que apresentamos esse material. Nessa apostila abordaremos a temática da antiguidade medieval e os aspectos políticos e de poder que envolvem a formação histórica do mundo medieval. Dialogaremos sobre o contexto de desagregação do Império Romano e a resistência do Império Romano do Oriente, que durante séculos resistiu às pressões militares de povos vi- zinhos e se expandiu congregando culturas dos povos diversos que compunham a sociedade bizantina. Ao final desta disciplina, esperamos que você: • Identifique as transformações que foram arquitetadas no fim da antiguidade como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. • Identifique os significados sócio-históricos das relações de poder entre os povos. • Associe as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos. 6 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO liSta de FiguraS > FIGURA 1 - Império Romano 14 > FIGURA 2 - Povos chamados de “bárbaros” pelos romanos 17 > FIGURA 3 - Forte na cidade de Istambul 19 > FIGURA 4 - Moeda bizantina retratando o imperador 20 > FIGURA 5 - Basílica de Santa Sofia 24 > FIGURA 6 - Península Arábica 28 > FIGURA 7 - Caaba 29 > FIGURA 8 - Alcorão 32 > FIGURA 9 - Ruínas de uma Medina muçulmana, em Córdoba, Espanha 36 > FIGURA 10 - Idade Média 42 > FIGURA 11 - Castelo Germânico 46 > FIGURA 12 - Carlos Magno 49 > FIGURA 13 - Castelo medieval 51 > FIGURA 14 - Castelo medieval 54 > FIGURA 15 - 05 – Servos 57 > FIGURA 16 - Hierarquia do clero 63 > FIGURA 17 - Freiras beneditinas 64 > FIGURA 18 - Reis Católicos e Cristóvão Colombo 65 > FIGURA 19 - Dama de Ferro 68 > FIGURA 20 - Cepo de madeira 69 > FIGURA 21 - Elementos diversos de tortura 69 > FIGURA 25 - Cerâmica turca 82 > FIGURA 26 - Mapa do Império Turco otomano 83 > FIGURA 27 - Gengis Cã 85 > FIGURA 28 - Ritual xamânico 88 > FIGURA 29 - A Charrua pesada e outros sistemas de arado primitivos. 95 > FIGURA 30 - Vila medieval espanhola 99 > FIGURA 31 - A dança macabra. 103 7 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO SuMÁrio 1UNIDADE2UNIDADE 1 a deSagregaÇÃo do iMPÉrio roMano e a ForMaÇÃo do iMPÉrio BiZantino 12 1.1 IMPÉRIO ROMANO: PRIMEIROS TEMPOS 12 1.1.1 IMPERADORES ROMANOS: PERSEGUIÇÕES, CONSPIRAÇÕES E ASSASSI- NATOS 13 1.1.2 PAX ROMANA 14 1.1.3 ECONOMIA E SOCIEDADE DO IMPÉRIO 15 1.1.4 CRISE DO IMPÉRIO 16 1.1.5 PROCESSO DE INVASÃO E QUEDA DO IMPÉRIO 16 1.2 O IMPÉRIO BIZANTINO 18 1.2.1 O IMPÉRIO BIZANTINO A CAMINHO DO ESPLENDOR 18 1.2.2 APOGEU DO IMPÉRIO BIZANTINO 19 1.2.3 O CÓDIGO JUSTINIANO 21 1.2.4 A CRISE DO IMPÉRIO BIZANTINO 21 1.2.5 A RELIGIÃO BIZANTINA 22 1.2.6 A CULTURA BIZANTINA 23 concluSÃo 25 2 o Mundo ÁraBe iSlÂMico 27 2.1 O MUNDO ÁRABE 27 2.2 OS ÁRABES E O ISLAMISMO 29 2.2.1 JIHAD E O ISLAMISMO 30 2.2.2 O ISLÃ E A SUBMISSÃO AO DEUS ÚNICO 31 2.2.3 A EXPANSÃO DO ISLÃ: SUNITAS E XIITAS 33 2.3 FORMAÇÃO DO IMPÉRIO ISLÂMICO 34 2.3.1 ULTURA NO MUNDO ISLÂMICO 35 2.4 IMPÉRIO ISLÂMICO: DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA 36 2.5 O ISLÃ NA PENÍNSULA IBÉRICA 37 2.6 A CRISE DO IMPÉRIO 38 concluSÃo 40 8 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3 o Mundo Medieval 42 3.1 IDADE MÉDIA: DESCONSTRUINDO ESTEREÓTIPOS 42 3.1.1 OS REINOS GERMÂNICOS 45 3.1.2 AS RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA E O PROCESSO DE RURALIZAÇÃO 47 3.2 OS FRANCOS 48 3.2.1 CARLOS MAGNO E O RENASCIMENTO CAROLÍNGIO 48 3.2.2 O FIM DO IMPÉRIO CAROLÍNGIO 50 3.3 O FEUDALISMO 51 3.4 A SOCIEDADE FEUDAL 52 3.4.1 A ECONOMIA FEUDAL 53 3.4.2 O FEUDO: SUSERANOS E VASSALOS 54 3.5 AS RELAÇÕES SERVIS 57 concluSÃo 58 4 a idade MÉdia e o criStianiSMo 61 4.1 A IGREJA CATÓLICA E A IDADE MÉDIA 61 4.1.1 A HIERARQUIA ECLESIÁSTICA 62 4.2 HERESIAS, INQUISIÇÃO E PERSEGUIÇÕES 64 4.2.1 O PROCESSO INQUISITÓRIO 67 4.3 a igreJa catÓlica no início do SÉculo Xi 70 4.4 aS cruZadaS 72 4.4.1 PRIMEIRA CRUZADA 72 4.4.2 SEGUNDA CRUZADA 74 4.4.3 TERCEIRA CRUZADA 74 4.4.4 CRUZADAS SUBSEQUENTES 74 concluSÃo 76 3UNIDADE 4UNIDADE 9 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO 5UNIDADE 6UNIDADE 5 oS PovoS turcoS e MongÓiS durante a idade MÉdia 78 5.1 BREVE HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA 78 5.2 OS TURCOS 80 5.2.1 A ARTE DOS TURCOS SELJÚCIDAS 81 5.2.2 O IMPÉRIO TURCO OTOMANO E SUAS CARACTERÍSTICAS 82 5.3 OS MONGÓIS 84 5.3.1 O XAMANISMO E A CULTURA MONGÓLICA 87 concluSÃo 90 6 a BaiXa idade MÉdia e a criSe do FeudaliSMo 92 6.1 A BAIXA IDADE MÉDIA 92 6.2 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO 92 6.2.1 FATORES DE REDUÇÃO DA MORTALIDADE 94 6.2.2 FATORES DE ESTÍMULO 94 6.2.3 RENASCIMENTO DO COMÉRCIO 96 6.3 O CRESCIMENTO URBANO 98 6.3.1 A MONETARIZAÇÃO DA ECONOMIA 100 6.4 A CRISE DO SÉCULO XIV E O FIM DO FEUDALISMO 101 6.4.1 ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS 101 6.4.2 A PESTE NEGRA 102 6.5 A CRISE DEMOGRÁFICA E AS REVOLTAS CAMPONESAS 103 6.6 A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS 104 6.7 A CRISE DA IGREJA CATÓLICA 106 concluSÃo 107 gloSSÁrio 108 reFerÊnciaS 109 10 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO iconograFia ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS 11 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: >Identificar as transformações políticas, econômicas e culturais na passagem do mundo antigo ao período medieval. > Associar as manifestações culturais expressadas pelos povos a partir de suas dinâmicas culturais. > Reconhecer a dinâmica de organização coletiva e sua importância nos processos de transformação da realidade. UNIDADE 1 12 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1 A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO E A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO BIZANTINO Nesta unidade, abordaremos o processo de transição entre o mundo antigo e o me- dieval, a partir da desagregação do Império Romano, identificando as dinâmicas eco- nômicas, políticas e sociais que possibilitaram transformações nas relações de poder naquele período. Neste contexto, destacamos a transferência da capital do Império para o Oriente e o apogeu do Império Bizantino, ressaltando sua resistência para manter sua unidade política e cultural. 1.1 IMPÉRIO ROMANO: PRIMEIROS TEMPOS No início da Era Cristã, os domínios do Império Romano abrangiam grande parte da Europa, além do norte do continente africano e terras asiáticas próximas ao Mar Me- diterrâneo. Ao longo de sua história, esse imenso território teve muitos governantes. Em 27 a. C., Caio Otávio assumiu o comando do império, depois de derrotar Marco Aurélio em um confronto militar e exilar Lépido que, como ele, eram senadores que compunham o Segundo Triunvirato. Ao assumir o poder, Otávio manteve o Senado e a figura dos Cônsules, símbolos im- portantes durante a República. O Senado lhe concedeu os títulos de Augusto (até então reservado apenas aos deuses), Príncipe (chefe do Senado) e Sumo Pontífice (cargo mais alto da hierarquia religiosa). Assim, Otávio passou a ser chamado de Au- gusto e o exército o aclamou Imperador. Otávio Augusto governou por quatro décadas e promoveu inúmeras reformas na so- ciedade romana. Destituiu senadores acusados de corrupção, perdoou dívidas de camponeses com o governo, distribuiu alimentos para o povo em períodos de crise, criou tribunal que julgava casos simples para agilizar a justiça e incentivou espetácu- los públicos. 13 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO 1.1.1 IMPERADORES ROMANOS: PERSEGUIÇÕES, CONSPIRAÇÕES E ASSASSINATOS Em 14 d. C., com a morte de Otávio Augusto, assumiu o poder seu genro, Tibério (14 d. C. até 37 d. C). Relevante apontar que até o ano 68 d.C., apenas pessoas das dinastias Júlia (de Augusto) e Cláudia (de Tibério) governaram o Império. Todos se envolveram em persegui- ções, conspirações e assassinatos. O sucessor de Tibério, Calígula (37 d. C. – 41 d. C.) condenou à morte diversas pessoas, confiscou bens e concedeu títulos de honra ao próprio cavalo. Ao ser assassinado em 41, foi sucedido por seu tio Cláudio (41 d. C. – 54 d. C.), que foi envenenado pela esposa para que Nero (filho dela de outro casamento) as- sumisse o poder. Com Nero no poder (54 d. C. – 68 d. C.), chegou ao fim a dinastia iniciada com Tibério. Nero matou a própria mãe e reprimiu severamente os cristãos. Entretanto, no final do período republicano, parte da população passou a seguir dou- trinas que pregavam o aperfeiçoamento interior e a crença na vida após a morte. Particularmente importante foi o cristianismo, religião monoteísta originária do ju- daísmo. O cristianismo baseia-se nos ensinamentos de Jesus, que teria vivido na Palestina no século I de nossa era, época em que a região era dominada pelos romanos. Seus seguidores, os cristãos, acreditam ser Jesus o filho de Deus, enviado à Terra como o Messias para redimir a humanidade de seus pecados e, assim, trazer paz ao mundo. Com sua doutrina, Jesus entrou em conflito com os sacerdotes judeus, que não o reconheciam como Messias enviado por Deus, e com as autoridades romanas, para as quais apenas o imperador tinha caráter divino. Considerado perigoso, Jesus foi condenado a morrer na cruz. ATENÇÃO PARA SABER A religião sempre desempenhou um papel importante entre os romanos. Com Otávio, os cultos religiosos ganharam importância e o imperador era veneradocomo um deus. 14 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Após sua morte, seguidores de Jesus se espalharam por diversas regiões e passaram a divulgar seus ensinamentos. A partir de então, o cristianismo se difundiu rapidamen- te. Durante certo tempo, os imperadores romanos perseguiram comunidades cristãs. 1.1.2 PAX ROMANA Após a morte de Nero, o general Vespasiano assumiu o governo, iniciando um pe- ríodo de esplendor do Império Romano. Novas cidades surgiram e o modo de vida romano tornou-se modelo e exemplo a ser adotado nas mais distantes províncias, colaborando para o acentuado processo de romanização dessas regiões. As condições de vida nas províncias melhoraram, fazendo com que o Império vives- se um período de calmaria, razão pela qual essa época ficou conhecida como pax romana. Apesar da fase de esplendor, para os povos dominados, essa era uma paz imposta pela força. Além disso, o Império enfrentou problemas como epidemias, incêndios e até a destruição das cidades de Pompéia, Herculano e Estábia pela erupção do vul- cão Vesúvio no ano 79 d. C. FIGURA 1 - IMPÉRIO ROMANO Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Em meados do século II, o Império Romano atingiu sua máxima extensão com cerca de 4 milhões de metros quadrados. Estima-se que a população do Império variava em torno de 70 a 100 milhões de habitantes. 15 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO Entretanto, no final desse século, o Império Romano passou a sofrer constantes inva- sões de povos vindos, inicialmente, do interior da Europa e, posteriormente, da Ásia. Por não dominarem o latim e não ter os mesmos costumes dos romanos, eram cha- mados depreciativamente de “bárbaros”. Portanto, a Pax Romana não era uma garantia de estabilidade duradoura. A partir da dinastia Severa (193 d. C. – 235 d. C.) os sinais da crise tornaram-se cada vez mais frequentes. A população sofria com os altos impostos e com uma crise econômica e agrícola. A tensão política na sociedade romana era tão grande que entre os anos 235 d. C. e 284 d. C., por exemplo, somente um entre 26 imperadores teve morte natural. O imperador Diocleciano (284 d. C. – 305 d. C.), preocupado com o governo e a esta- bilidade do Império, resolveu dividi-lo em duas partes: uma oriental, sob seu governo, e outra ocidental, sob o comando do general Maximiano. Diocleciano também instituiu a chamada tetrarquia, ao dividir o poder do Império en- tre quatro governantes. A partir desse sistema de governo, o Império continuava dividi- do em dois territórios governados por dois imperadores, ambos com título de Augusto. Cada imperador tinha o poder de nomear um sucessor que lhe auxiliava na adminis- tração de um dos territórios. Essa fragmentação contribuiu para enfraquecer ainda mais o Senado, que vinha perdendo poder desde o governo de Otávio. No ano 395 d. C. o imperador Teodósio dividiu o império em duas partes novamente, criando o Império Romano do Oriente, com sede na cidade de Constantinopla. Essa parte do Império ficou sob o comando de um de seus filhos, Arcádio, e ficou conhe- cida como Império Bizantino. O Império Romano do Ocidente, que formou a outra parte do Império, ficou sob o governo de Honório, o outro filho de Teodósio. Essa parte do Império continuou a ser cada vez mais assediada e pressionada pelos povos provenientes da Europa Central e Oriental, situação que levou ao seu fim sob a ação de povos invasores. 1.1.3 ECONOMIA E SOCIEDADE DO IMPÉRIO A economia do Império, durante os dois primeiros séculos, foi impulsionada pela existência de uma moeda comum, pela generalização do Direito romano e pelo in- vestimento em obras públicas, destacando-se a construção de estradas. 16 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Houve uma redução no número de escravos na sociedade romana devido à desa- celeração e interrupção das conquistas. Dessa forma, esse grupo social passou a ser constituído, majoritariamente, por filhos de escravos. Uma nova forma de trabalho passou a ser adotada pelos senhores. Alguns senhores no meio rural, por exemplo, concediam liberdade para alguns escravos, que se trans- formavam em colonos ligados à terra com uma série de obrigações a cumprir. Essa nova forma de trabalho possibilitou o enriquecimento de alguns escravos que se tornaram cidadãos romanos. Entretanto, não conquistaram todos os direitos que usufruíam os nascidos livres, como, por exemplo, o direito a candidatar-se a determi- nados cargos públicos. 1.1.4 CRISE DO IMPÉRIO A partir do século III, o Império Romano entrou em uma longa e grave crise. As des- pesas econômicas para mantê-lo em segurança exigiam elevados gastos públicos, si- tuação que fez com que as autoridades do Império ampliassem a carga de impostos ao longo do tempo, tornando-se pesada diante do enfraquecimento da economia ro- mana – que se ressentia, por exemplo, da falta de reposição da mão de obra escrava. Outra situação que agravou a crise romana está ligada ao fato de terem de enfrentar em suas fronteiras a pressão militar dos povos designados por eles de “bárbaros” (visi- godos, ostrogodos, alamanos, entre outros). Muitos soldados do Império tinham sido recrutados entre esses diferentes povos e incorporados ao exército romano como mercenários. Disputas internas entre chefes militares romanos também contribuíram para deses- tabilizar o comando central de Roma, gerando indisciplina entre os soldados. Essa crise afetava de maneira mais intensa a porção ocidental do Império. 1.1.5 PROCESSO DE INVASÃO E QUEDA DO IMPÉRIO O Império Romano, enfraquecido pelas divisões internas, pela desobediência e indis- ciplina do exército e pela crise econômica e social que intensificou a miséria entre a população, não teve condições de resistir aos sucessivos e intermitentes ataques, que se prolongaram por quase duzentos anos. 17 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO FIGURA 2 - POVOS CHAMADOS DE “BÁRBAROS” PELOS ROMANOS Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Os exércitos inimigos levavam vantagem nos combates localizados devido à expe- riência dos soldados, união das tropas e à utilização de armas mais avançadas. No início do século V, o exército romano foi expulso da Bretanha pelos saxões. Por vol- ta de 400 d. C., os visigodos destruíram a Gália, invadiram a Península Itálica e saquea- ram Roma (410 d. C.). Em 452 d. C., os hunos, comandados pelo rei Átila, invadiram e arrasaram as cidades de Pádua e Milão, na Península Itálica. Diante dessa situação, em 476 d. C., Rômulo Augusto, último imperador de Roma, foi deposto pelo rei dos Hérulos, Odoacro. De acordo com Quintana, Com a queda do último imperador romano, o cristianismo procura erigir-se em força capaz de unificar a civilização ocidental e fazer da Igreja Católica uma instituição hegemônica, mas não sem conflitos com o poder temporal (QUINTANA, 2014; p.34). O autor ainda ressalta a invasão do Império Romano pelos povos chamados de “bár- baros” pelos romanos. [...] vândalos, alanos e suevos atravessam a Gália, saqueando-a; visigodos pi- lham Roma (410), antes de instalar-se na Espanha; ostrogodos fixam-se na Itália e francos colonizam progressivamente a Gália. O Império Romano deixa de existir no Ocidente. (QUINTANA, 2014; p. 34) A partir do século III, à medida em que a crise aumentava, os territórios conquistados pelo Império Romano tornaram-se alvos de constantes invasões. A maioria desses povos era de origem germânica, com exceção dos hunos, que tinhaminvadido as 18 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO planícies da Rússia e da Europa Oriental, obrigando os povos germânicos irem para os territórios romanos. Muito diferentes um do outro, entre os povos germânicos não havia nenhuma unidade política e cultural. Por outro lado, após diversas transformações, o Império Romano do Oriente sobrevi- veu até 1453, ano em que Constantinopla foi tomada pelos Turcos. 1.2 O IMPÉRIO BIZANTINO No final do século IV, enquanto o Império Romano do Ocidente se esfacelava com as invasões, o Império Bizantino (Oriente) se consolidava como uma potência da Ásia e do Mediterrâneo. O Império Bizantino adotou uma forma de governo chamada de autocracia absolu- ta. O Imperador, chamado basileu (rei), controlava a justiça, comandava o exército e tinha poderes ilimitados para nomear ou exonerar pessoas de cargos. Além disso, o basileu era o chefe da igreja e tinha o poder de nomear bispos, criar regras religiosas, convocar concílios, entre outras coisas. O basileu era considerado um representante de Deus na Terra e seu poder era consi- derado divino. Nesse sentido, torna-se relevante destacar que a sociedade bizantina era altamente hierarquizada. O imperador e sua família encontravam-se no topo des- sa sociedade. Em torno deles encontrava-se uma nobreza urbana, (constituída por comerciantes, banqueiros e altos funcionários públicos), e a rural, grandes proprietá- rios de terras. Na base da sociedade se encontravam, respectivamente, os trabalhado- res livres, os servos (presos à terra) e os escravos. 1.2.1 O IMPÉRIO BIZANTINO A CAMINHO DO ESPLENDOR Apesar do colapso da parte ocidental, o Império Bizantino conseguiu resistir às pres- sões militares inimigas e manter a sua unidade política, cultural e geográfica. Sem ce- der às ondas invasoras, o Império Bizantino sobreviveu por mil anos e herdou diversos aspectos da tradição romana, mantendo-as ao longo de sua existência e associando 19 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO a novos valores e hábitos culturais. É possível perceber o resgate intenso da cultura romana nos primeiros séculos do Império Bizantino: preservação das instituições po- líticas e administrativas, a utilização do latim como língua oficial do Estado e o obje- tivo de manter um império universal. FIGURA 3 - FORTE NA CIDADE DE ISTAMBUL Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Entretanto, a partir do século VII – VIII, é possível perceber uma influência acentuada da cultura grega e oriental. O próprio cristianismo, que havia se espalhado por toda Europa, apresentou características peculiares na sociedade bizantina, por meio da sua submissão completa ao controle do Estado (Teocracia). Importante ressaltar que a cultura greco-romana foi, em grande parte, preservada graças à atuação dos bizantinos, que mantiveram e intensificaram os contatos co- merciais e culturais entre o Ocidente e o Oriente, além da cristianização de diversos povos europeus. 1.2.2 APOGEU DO IMPÉRIO BIZANTINO A partir de 527, com a chegada do Imperador Justiniano ao poder, o desejo dos bi- zantinos de reconstruir o Império Romano ganhou força. Em 533, após reestruturar o exército e fortificar as áreas fronteiriças, Justiniano se lançou à conquista do norte da África. Com a conquista dessa região, suas tropas ocuparam a Península Itálica. 20 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Em 550, a Península Ibérica também foi invadida pelo exército bizantino, que após quatro anos de batalha, conquistou o sul da região. Foi durante o governo de Justiniano (527 – 565) que o Império Bizantino viveu seu momento de maior esplendor. Nesse período, verificou-se a expansão territorial e a reconquista de territórios que haviam pertencido ao Império Romano. Grande parcela da população bizantina vivia nos campos e eram pobres. As grandes propriedades agrárias pertenciam à Igreja e aos nobres. A nobreza, por sua vez, era composta por chefes militares que haviam recebido terras como recompensa a ser- viços prestados ao imperador. E o trabalho nos campos agrícolas era realizado pelos servos, que dependiam da terra para sobreviver. O comércio foi uma das atividades mais lucrativas de Constantinopla e contribuiu para ampliar e dinamizar a vida urbana. Por volta do ano 1000, Constantinopla che- gou a ter cerca de 1 milhão de habitantes. Era o governo Bizantino que controlava as atividades econômicas. Toda mercadoria era supervisionada e a produção era distribuída em corporações de ofício, oficinas especializadas em um determinado ramo como carpintaria, marcenaria e sapataria. De acordo com a Historiadora Cláudia Beltrão, os artesãos e comerciantes bizantinos Estavam agrupados em corporações regulamentadas e supervisionadas pelo Estado, que decidia quase tudo: preços, salários, lucros etc., não deixando muito espaço para a iniciativa privada [...] (2000; p.29) FIGURA 4 - MOEDA BIZANTINA RETRATANDO O IMPERADOR Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 21 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO Dessa maneira, o governo controlava os preços e o abastecimento das cidades. Vale ressaltar que parte da elite bizantina vivia nas cidades e ostentava uma vida de luxo. Eram eles grandes comerciantes, membros do alto clero, donos de oficinas arte- sanais e funcionários do alto escalão do governo. Por outro lado, existiam pessoas vivendo de maneira miserável, perambulando pelas ruas, sem acesso a alimentação e moradia. Para atenuar as tensões sociais que essa situação provocava, foram criadas medidas para socorrer essas pessoas por meio da distribuição gratuita de alimentos pelo governo. 1.2.3 O CÓDIGO JUSTINIANO Durante seu governo, Justiniano buscou restaurar o antigo Império Romano e a sis- tematizar os principais preceitos legais do Direito Romano para regular a vida na sociedade bizantina. Em 529, o chamado Código de Justiniano entrou em vigor. Os juristas bizantinos adaptaram os textos jurídicos às transformações sociais e políticas que ocorreram desde o desaparecimento do Império Romano. Esse trabalho deu origem ao Corpus Juris Civilis, uma extensa obra contendo leis, normas, decretos e códigos. Dentre as novas medidas jurídicas, destaca-se o Jus Civilis (Direito Civil) que, indepen- dente da nacionalidade, seria aplicado a todos os cidadãos do Império. Justiniano ainda reformou as escolas de Direito e desenvolveu um manual voltado para estudantes sobre a legislação bizantina. Esse documento foi utilizado durante muito tempo como a base do Direito europeu e é considerado o maior legado do período que Justiniano esteve no poder. 1.2.4 A CRISE DO IMPÉRIO BIZANTINO Após a morte de Justiniano em 565, seus sucessores não conseguiram manter a uni- dade do Império. A administração central do Império Bizantino foi se enfraquecendo após uma série de ataques externos e, como consequência, entre os séculos VII e VIII, muitos territórios foram perdidos para povos inimigos. 22 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Nos séculos seguintes, o Império sofreu crises internas, revoltas e conflitos religiosos. No ano de 1204, uma cruzada veneziana que seguia em direção a Jerusalém alterou sua rota e invadiu Constantinopla. A cidade foi saqueada: obras de arte, bibliotecas, tesouros preservados durante séculos foram roubados ou destruídos. Constantinopla foi incendiada enão conseguiu se estabilizar. Sucessivamente, os lombardos, povo de origem germânica, dominaram a Península Itálica; o norte da África, o sul da Península Ibérica e parte do Império Bizantino na Ásia foram conquistados pelos árabes muçulmanos. Após longas semanas de resistência, em 1453, os turcos otomanos, povo de origem asiá- tica, ocuparam a Península Balcânica e conquistaram a capital do Império Bizantino. Esse episódio marcou o fim do Império Bizantino e, mais do que isso, o término do que a historiografia convencionou em chamar de Idade Média. 1.2.5 A RELIGIÃO BIZANTINA O cristianismo era a religião oficial do Império e a Igreja exercia poderosa influência em diversos setores da sociedade. Além de fundamentar o poder imperial, arrecada- va parte dos recursos econômicos e se fazia presente na vida cotidiana do Império. Entre os líderes da Igreja Ortodoxa, estava o patriarca de Constantinopla, que figura- va como uma das principais autoridades eclesiásticas. Porém, em termos práticos, o imperador era considerado protetor da Igreja e principal representante da fé cristã. As questões religiosas marcaram profundamente a sociedade bizantina e era comum os debates teológicos em Constantinopla. Entre as questões debatidas, podemos destacar o monofisismo, doutrina que negava a natureza humana de Cristo, afirman- do que Ele tinha somente natureza divina. E a iconoclastia, doutrina que repudiava a utilização de imagens de santos e a adoração de ícones religiosos, condenando sua utilização nos templos. Em muitos casos, as disputas religiosas escondiam acentuadas rivalidades políticas. O conflito entre o imperador e os sacerdotes dos mosteiros que fabricavam imagens de santos, atribuindo a eles milagres, é um exemplo da questão iconoclasta. Preten- 23 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO dendo fiscalizar e controlar o poder dos mosteiros, em 726, o imperador proibiu a adoração de imagens. SAIBA MAIS Justiniano e seus sucessores buscaram, por meio da religião, impor sua autoridade e manter a unidade política do Império. Os imperadores adotaram o título de basileus, que em grego quer dizer “autoridade suprema”. Assim, se apresentavam como principais representantes de Deus, cabendo-lhes proteger a Igreja e dirigir o Estado. Essa junção de poderes estatal e religioso é chamada de cesaropapismo, em referência ao poder imperial (césar) e religioso (papa). 1.2.6 A CULTURA BIZANTINA A cultura bizantina recebeu a contribuição dos diversos povos com origens diferentes que integravam a sociedade. A língua predominante em Constantinopla era o grego, mas o império agrupava povos egípcios, gregos, persas, eslavos e judeus. Por isso mesmo, a produção cultural bizantina mesclou elementos como o idioma grego, o Direito Romano, a religião cristã, a arquitetura de inspiração persa, entre ou- tros. A produção artística bizantina misturava elementos da cultura greco-romana com características da arte oriental. Os mosaicos se destacam na cultura bizantina: com composições artísticas feitas de peças coloridas (vidro ou esmalte), representavam pessoas de grande prestígio político, figuras religiosas e, ainda, a estilização de ani- mais ou plantas. 24 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO CURIOSIDADE A arte bizantina é uma síntese do cristianismo, do orientalismo e do helenismo. Sua imponência pode ser observada na arquitetura, nos mosaicos e nas pinturas que decoram o interior das igrejas. O mosaico foi a forma de expressão preferida de muitos artistas bizantinos. Paralelamente, os monges bizantinos inventavam ícones que representavam figuras sagradas do cristianismo. Veneradas pelos fiéis, essas figuras eram decoradas com joias e pedras preciosas. A arquitetura bizantina também se destaca como modelo de imponência e beleza. O projeto arquitetônico da Basílica de Santa Sofia, por exemplo, tornou-se modelo para construção de muitos templos religiosos cristãos e muçulmanos. Na construção des- sa basílica foram utilizadas a mão de obra de cerca de 10 mil pessoas, que finalizaram a obra em apenas cinco anos (532 – 537). Interessante ressaltar que, após a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, a Basílica de Santa Sofia foi transformada em uma mesquita. Os mosaicos bizantinos foram encobertos com cal e só foram res- taurados no século XX. FIGURA 5 - BASÍLICA DE SANTA SOFIA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 25 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO As esculturas bizantinas também chamavam a atenção pela beleza e servia aos ideais religiosos. As peças eram produzidas com materiais de grande valor, como marfim, ouro e vidro, apresentavam um aspecto místico e eram caracterizadas pelo uso de cores vivas. Boa parte das esculturas foram destruídas pelo movimento iconoclasta. CONCLUSÃO Estudar a história do Império Romano não é uma tarefa fácil. Foram longos anos até os domínios do Império formarem uma dimensão continental. Durante esse proces- so, vimos que o Império foi dividido, visto que governar um território tão extenso era muito complicado, mesmo porque aquelas eram áreas disputadas por povos de di- versas origens. Essas dificuldades somadas a crises econômicas e sociais culminaram com a divisão do Império em uma porção ocidental e outra oriental. Contudo, no final do século V, diversos povos invadiram o Império Romano do Ocidente, destituindo o último im- perador romano do ocidente, Odoacro. Resistindo às invasões e pressões militares, a porção oriental do Império Romano (Bi- zantino) ainda sobreviveria por longos mil anos. Durante esse período, os bizantinos resgataram diversos costumes romanos. Além disso, a sociedade bizantina estabele- ceu contatos com povos de diversas origens, absorvendo, assim, diversos costumes e hábitos desses povos. No campo econômico e cultural, a sociedade bizantina viveu anos de grande esplen- dor, que pode ser observado na expansão territorial do Império e em diversas obras arquitetônicas. A história do Império Bizantino é muito complexa e cheia de detalhes. No entanto, compreender o seu processo de formação e os desdobramentos históricos e sociais que o levaram à queda é de extrema relevância para entender a formação dos Es- tados modernos e o contexto do que a historiografia chama de fim da Idade Média. 26 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: UNIDADE 2 > Descrever as origens do império muçulmano. > Examinar a formação e alguns fundamentos do islamismo. > Identificar o papel do islamismo no processo de unificação e expansão da cultura árabe. > Analisar a formação do império islâmico e seus desdobramentos. > Apreciar o legado do mundo islâmico. 27 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO 2 O MUNDO ÁRABE ISLÂMICO Nesta unidade, você conhecerá o Islã, religião fundada no século VII, onde hoje é a Arábia Saudita, pelo profeta Maomé. Serão analisados como se deu a expansão do islamismo e o processo histórico que levou à formação do império islâmico. Também será abordada a diversidade de povos e culturas que habitavam o território islâmico e como essa doutrina desempenhou um papel importante no processo de unificação dos povos árabes em torno de um governo centralizado. O Islã é hoje a segunda maior religião do mundo e apresentauma grande diversi- dade entre os povos que professam a religião. Com cerca de 1,3 bilhão de adeptos, essa doutrina defende a justiça e a prática da generosidade entre as pessoas. Seus seguidores são conhecidos como muçulmanos, que em árabe significa aqueles que se subordinam a Deus. 2.1 O MUNDO ÁRABE A Península Arábica situa-se em uma região de clima quente e seco, onde o deserto predomina em cerca de 80% do território. Os habitantes da península, por volta de 1200 a. C., encontravam-se divididos em pequenas tribos. Os árabes, de origem semita, dedicavam-se principalmente ao pas- toreio e ao comércio. Com o decorrer dos séculos, as atividades comerciais se desenvolveram e se amplia- ram. Rotas comerciais foram abertas, e tornaram-se frequentes as caravanas que se- guiam em direção aos atuais territórios da Síria e Palestina, onde eram vendidas mer- cadorias que vinham do Oriente e que chegavam pelo Oceano Índico. Em meio às áreas desérticas percorridas por caravanas comerciais, alguns núcleos ur- banos foram se formando em torno de oásis. Esses núcleos contavam com governos e leis próprias, por isso eram chamadas de cidades-estado. Alguns desses núcleos urbanos prosperaram nas atividades comerciais e se transfor- maram em reinos. Os árabes, inicialmente, cultuavam diversos deuses relacionados aos astros e fenômenos naturais. Eles eram animistas, ou seja, cultuavam objetos ina- nimados e acreditavam que eles tinham alma. 28 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A cidade de Meca, situada em um oásis no lado ocidental da Península Arábica, era o ponto de encontro de diversas caravanas, pois abrigava um intenso comércio. Além disso, em Meca localizava-se um santuário construído em forma de cubo, conhecido como Caaba. Nesse local, as pessoas reverenciavam deuses e deusas e prestavam homenagens à Pedra Negra, considerada sagrada pelos árabes. De acordo com o is- lamismo, a pedra teria sido recebida por Abraão das mãos do anjo Gabriel. Os povos que habitavam a Península Arábica até o século VI tinham diferentes for- mas de viver. Alguns historiadores classificam esses povos em dois grupos: árabes do litoral, que eram constituídos de povos sedentários que moravam em cidades próximas ao Mar Vermelho, tais como Meca e Yatrib, importantes centros comerciais por onde passavam caravanas de comerciantes; e os árabes do deserto, povos que se dedicavam ao artesanato e à criação de ovelhas. Eram povos seminômades que viviam em torno dos oásis da península. Importante ressaltar que, até o século VII, a Arábia não teve um Estado unificado. A ligação entre os povos se dava pelos laços de parentesco e por elementos culturais comuns, como, por exemplo, falar o mesmo idioma (apesar das variações que ocor- riam entre uma região e outra) e as crenças religiosas politeístas. Em Meca, cidade situada em um oásis no lado ocidental da Península Arábica, loca- lizava-se a Caaba, um templo onde se cultuava os principais deuses e deusas e onde se encontrava a Pedra Negra. FIGURA 6 - PENÍNSULA ARÁBICA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 29 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO FIGURA 7 - CAABA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 2.2 OS ÁRABES E O ISLAMISMO Em Meca, o governo era exercido por um con- selho e um clã. Entretanto, a partir de 613, Maomé, um condutor de caravanas, passou a difundir a ideia da existência de um único Deus, a quem ele chamava de Alá, denomi- nando essa nova religião de Islã, que significa submissão a Deus. De acordo com a tradição islâmica, Maomé te- ria sido escolhido por Deus para ser o último profeta enviado. Em suas pregações, Maomé dizia que havia um só Deus criador do univer- so. Esses discursos desagradavam os sacerdo- tes, pois ameaçava o politeísmo, além de que poderia prejudicar as peregrinações à Meca e o comércio das caravanas. ATENÇÃO PARA SABER Assista ao filme Maomé, o mensageiro de Alá, de Moustapha Akkad (1977, 220 minutos). O filme mostra o início do islamismo, os conflitos de Maomé com os poderosos de Meca e sua peregrinação para Medina. 30 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Hostilizado pelos grandes comerciantes da região, que viam no monoteísmo pregado por Maomé uma ameaça à prosperidade comercial da cidade, Maomé foi pressiona- do a deixar Meca e, no ano de 622, refugiou-se em Yatreb (cidade que posteriormen- te foi denominada Medina). Esse episódio ficou conhecido como Hégira (emigração) e marca o início do calendário da religião difundida por Maomé. Os seguidores do islamismo passaram a ser chamados de muçulmanos. 2.2.1 JIHAD E O ISLAMISMO Em Yatreb, surgiu a primeira comunidade regida pelos princípios islâmicos. Sob a liderança de Maomé, o governo da cidade se tornou teocrático. O profeta tornou-se representante de Deus na Terra, assumiu as funções de juiz, líder espiritual, militar e administrativo. Maomé organizou ataques às tribos vizinhas e às caravanas que cruzavam o deserto. Para o profeta, a luta contra as pessoas que não seguiam o Islã era um esforço em fa- vor de Deus, ou seja, um Jihad, isto é, quem morresse em prol da fé muçulmana seria considerado mártir e seria recompensado com a salvação eterna no paraíso. O Jihad provocou um aumento no número de pessoas dispostas a combaterem em nome de Alá. Vários líderes tribais da região, percebendo a força militar conquistada por Maomé, converteram-se ao islamismo. Na cidade de Medina, Maomé e seus discípulos organizaram um exército de fiéis para difundir a nova religião. Em 630, o profeta Maomé e cerca de dez mil seguido- res conquistaram Meca e destruíram os ídolos do templo. A Caaba e a Pedra Negra foram preservadas e consideradas sagradas para os muçulmanos e centros de suas peregrinações. Com esses fundamentos religiosos, o islamismo se expandiu pela Península Arábica e diversos povos foram se unificando em torno dessa religião que também provocou um forte sentimento de identidade entre os árabes, fazendo surgir um estado árabe- -muçulmano. Em 632, com a morte de Maomé, praticamente toda a região ocidental da Península Arábica estava sob o domínio da teocracia islâmica. 31 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO o islamismo O islamismo conta atualmente com mais de 1 bilhão de fiéis no mundo; a maioria deles concentrada na Ásia (70%) e na África (26%). Maomé é o principal profeta da crença islâmica. Segundo a tradição, quando tinha 40 anos, ele recebeu uma missão do anjo Gabriel, que lhe ordenou pregar a existência de um Deus único: Alá, em árabe. Entre 610 e 632, ano de sua morte, Maomé teria recebido revelações divinas reunidas no Corão, ou Alcorão, livro sagrado do islamismo, que guarda todos os preceitos econômicos, jurídicos, políticos e religiosos dos muçulmanos. Nele, estão definidos os cinco pilares da religião muçulmana: aceitar que há um só Deus e que seu profeta é Maomé; rezar cinco vezes por dia voltado para Meca; ajudar os pobres; jejuar no mês sagrado do Ramadã; e peregrinar ao menos uma vez na vida à Meca. Para os muçulmanos, abraçar o Islã significa assumir o total compromisso de viver nos moldes prescritos no Alcorão. Trata-se de um Jihad, ou seja, de um esforço físico, moral, intelectual e espiritual em favor de Deus. 2.2.2 O ISLÃ E A SUBMISSÃO AO DEUS ÚNICO O islamismo é uma das religiões mais influentes do mundo na atualidade. Durante o Ramadã, mês sagrado no calendário muçulmano, as cidades de Meca e Medina, situa- das naatual Arábia Saudita, recebem cerca de 2 milhões de peregrinos muçulmanos. A religião islâmica prega a submissão total do ser humano aos preceitos de Alá, o Deus único. Em árabe, a palavra Alá significa O Deus. A submissão a Deus é chamada de islã. Aquele que tem fé em Deus é muçulmano (do árabe muslin, que significa aquele que se submeteu a Deus). Os princípios da religião islâmica encontram-se reunidos no Corão ou Alcorão (do árabe al = a + corão = leitura, ou seja, A Leitura). 32 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO De acordo com o Alcorão, Alá é, em essência, bom e justo. No dia do juízo final, os seres humanos que a Ele tiverem obedecido integralmente serão recompensados por seus atos, sendo enviados ao paraíso. Aos que desobedeceram, o inferno será a condenação. Além dos preceitos religiosos, o Alcorão também inclui em seus textos diretrizes jurí- dicas, morais, econômicas e políticas, visando orientar o cotidiano da vida social. FIGURA 8 - ALCORÃO Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Além do Alcorão, outra importante fonte da religião islâmica é o Hadiç (ou hadith), que significa diálogos, e consiste em um conjunto de pregações e narrativas atribuí- das ao profeta Maomé. O hadith foi reunido nos primeiros séculos após a morte do profeta, e recorre-se a ele quando não se encontra no Alcorão determinada instrução sobre como se deve agir em alguma situação imprevista. Interessante ressaltar que, por se basearem tanto nos textos alcorânicos, como no hadith, a lei islâmica permite diversas interpretações, o que significa que uma mesma questão pode apresentar variadas respostas. Sobre essa situação, a professora Safa Jubran aponta: Essa diversidade é, certamente, a principal e melhor evidência de que nenhu- ma interpretação da lei religiosa muçulmana pode ser considerada “a única”, que, portanto, bastaria para impedir, no seio dessa religião, a existência de “donos da verdade” (JUBRAN, 2001, p. 10.). 33 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO Muitas pessoas sustentam que o livro sagrado dos muçulmanos deve chamar- se, em português Corão, e não Alcorão, pois o al já representa o artigo o. Etimologicamente, ambas as palavras estão corretas. Acontece, contudo, que ao ser passada para o português, a maioria das palavras árabes veio com o artigo al já incorporado a elas e inseparável delas. Dizemos açúcar (e não o çucar), o arroz (e não o roz) [...] Em francês, por oposição, a maioria dessas mesmas palavras é usada sem o artigo original. Assim dizem: le sucre, le riz, etc. Também dizem Le Coran. Cada língua tem seus caminhos. A palavra Alcorão obedece, portanto, à tendência geral da língua portuguesa no que diz respeito às palavras de origem árabe e já foi consagrada sob essa forma (CHALLITA, p. 31). 2.2.3 A EXPANSÃO DO ISLÃ: SUNITAS E XIITAS Após a morte de Maomé, dois grupos islamitas, sunitas e xiitas, com ideias conflitan- tes (até hoje) definiriam seu sucessor. Para os sunitas, a pessoa escolhida deveria ser a mais capacitada (a palavra arábe sunni significa aqueles que seguem os costumes). Para os xiitas, o sucessor de Maomé deveria ser seu parente mais próximo por consan- guinidade, no caso, Ali, primo e genro do profeta. A própria palavra xiita vem do arábe shi’at Ali, ou seja, Partido de Ali. Os sunitas venceram as eleições e Abu-Bakr, sogro de Maomé, foi escolhido com o tí- tulo de Califa (sucessor). Interessante ressaltar que enquanto Maomé era considerado profeta pelos muçulmanos, os califas eram encarados apenas como representantes políticos e religiosos. Em 634, ano da morte de Abu-Bakr, praticamente todas as tribos da Península Arábi- ca tinham se convertido ao islamismo. Omar ibn al-Khattab, seu sucessor, deu início à expansão para além da Península Arábica, o que resultou na formação de um grande império. 34 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO São variadas as razões que explicam essa expansão, entre elas pode-se destacar a busca de terras férteis, as guerras santas contra os infiéis, ou seja, a luta para difundir e preservar o islamismo e os interesses comerciais. 2.3 FORMAÇÃO DO IMPÉRIO ISLÂMICO Após a morte de Maomé, e sob a liderança dos califas, ocorreu uma grande expansão territorial árabe. Entre os anos 632 e 661, os califas eleitos conquistaram a Pérsia, a Síria, a Palestina e o Egito. Entre os anos 661 e 749, a Dinastia dos Omíadas passou a governar o império e tor- nou-se uma monarquia laica, ou seja, os cargos administrativos seguiam critérios de competência e conhecimento, não sendo mais ocupados de acordo com a hierar- quia religiosa. Damasco, na Síria, passou a ser a capital do império, e o árabe passou a ser o idioma oficial e obrigatório para todas as pessoas convertidas ao islamismo. Em 711, com a continuidade da expansão do islamismo, os árabes conquistaram, a leste, a região dos atuais países Paquistão e Afeganistão e, a oeste, a Península Ibérica, onde atual- mente ficam Portugal e Espanha. Entre 749 e 750, os Omíadas perderam seu poder sob o império para a Dinastia dos Abássidas e ficaram na Península Ibérica, onde criaram, em 756, um califado inde- pendente. A Dinastia dos Abássidas governou entre 749 e 1258 e consolidou o islamismo nas regiões conquistadas. Nesse período, o império deixou de ser unicamente árabe para se tornar um império muçulmano. O califa passou a concentrar poder absoluto em suas mãos. Tendo reconhecida a ori- gem divina de seu poder, foi criado o cargo de vizir, que o tornava responsável pela administração do império. Em 762, a capital foi transferida de Damasco para a cidade de Bagdá, no Iraque, que havia acabado de ser construída. 35 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO 2.3.1 ULTURA NO MUNDO ISLÂMICO Os árabes, ao longo da Idade Média, reelaboraram e assimilaram aspectos culturais de diversos povos, o que oportunizou uma produção cultural rica e peculiar. Nas bi- bliotecas públicas de Bagdá, diversos copistas se dedicavam à tradução para o árabe de manuscritos e obras de Filosofia, Ciências, Matemática e Astronomia, escritas em grego, latim, persa e outras línguas. Durante esse período, Bagdá passou a atrair intelectuais de diversas regiões e o mun- do muçulmano vivenciou momentos de relevante prosperidade cultural e científi- ca. Muitos comerciantes ricos e autoridades tornaram-se protetores das artes e das ciências, investindo e patrocinando artistas e intelectuais. O contato com culturas diferentes permitiu o avanço dos muçulmanos em diversas áreas de conhecimento. Sobre a valorização da cultura islâmica, Farah ressalta uma atividade importante na cultura árabe-muçulmana: a caligrafia. Sobre essa arte, aponta: Inicialmente, calígrafos eram incumbidos de escrever o texto corânico de for- ma magnífica, mas a manifestação estética de uma escrita bela (significado de “caligrafia”, palavra de origem grega) aparece também em decretos, trata- dos, cartas, assinaturas, poesias e até em livros científicos. [...] Muitos dos calígrafos atuais trabalham em atividades voltadas à publicidade ou em gráficas. Outros se dedicam a obras artísticas; e ainda são comuns ex- posições de caligrafia em países islâmicos, além da França, da Espanha, de Portugal e da Alemanha, principalmente (2001; p. 57-59). Em 711, os muçulmanos chegaram à Península Ibérica e lá ficaram quase oito sécu- los, quando foram expulsos definitivamente. Por isso, as culturas portuguesa e espa- nhola foram impactadas de maneirarelevante durante o domínio árabe. Atualmente, a arquitetura árabe destaca-se em diversas construções, praças, monu- mentos e ruas portuguesas e espanholas, além da influência em muitas palavras do idioma oficial desses países. 36 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.4 IMPÉRIO ISLÂMICO: DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA Ao mesmo tempo em que ampliavam seus territórios, os muçulmanos expandiam a atividade comercial e dominavam rotas comerciais importantes. Nas regiões con- quistadas, realizaram obras de irrigação que tornaram terras estéreis em terras produ- tivas, permitindo o desenvolvimento da agricultura de forma variada, pois as lavouras eram adaptadas ao clima de cada região. Tanto pelo mar quanto por terra, os muçulmanos realizaram transações comerciais em diversas regiões do mundo. Detinham o controle do comércio entre o Oriente e o Ocidente. Eram constantes suas viagens pelos mares Mediterrâneo, Índico e Verme- lho. Percorriam em caravanas de camelos por terras africanas e asiáticas. Para facilitar seus negócios, os muçulmanos criaram diversos instrumentos jurídicos, tais como recibos, cheques, letras de câmbio etc. A intensidade comercial também foi acompanhada de uma produção artesanal volumosa. Bagdá, por exemplo, des- tacou-se na produção de vidros, cerâmicas, sedas e joias. Já a cidade de Damasco (atual Síria), destacou-se pela metalurgia, principalmente na produção de armas e ferramentas. Além disso, também era famosa pelo tecido de seda e linho. Importante ressaltar que a cultura e a religião islâmica não foram impostas aos povos das regiões conquistadas, embora muitos tenham se convertido ao islamismo. FIGURA 9 - RUÍNAS DE UMA MEDINA MUÇULMANA, EM CÓRDOBA, ESPANHA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 37 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO 2.5 O ISLÃ NA PENÍNSULA IBÉRICA Os muçulmanos chegaram à Península Ibérica em 711 e, em menos de três anos, já dominavam grande parte da península. Eram chamados pelos portugueses e es- panhóis de mouros, palavra que tem origem do latim maures, que significa negro, em referência à pele escura do povo africano que vivia onde hoje fica o Marrocos. A ocupação moura durou quase oito séculos e só terminou no ano de 1492. Os mouros se converteram ao islamismo após o contato com os árabes que vinham do Oriente, pregando os mandamentos do profeta Maomé. Interessante ressaltar que essa ocupação foi incentivada por povos que habitavam essa região. Os visigodos, de origem germânica, envolvidos em disputas na região, pediram ajuda ao líder árabe Musa ibn Nusayr, que dominava o norte da África. O exército do líder árabe ocupou, em pouco mais de vinte anos, toda península, e só não avançou pelo restante da Europa porque foi barrado pelos francos, povo cristão que habitava o território francês. A partir do século XI, cresceu nos territórios cristãos ocupados um sentimento anti- muçulmano de resistência e retomada, principalmente no norte da Espanha, onde se situava o reino de Castela. Nos séculos XII e XIII, o ideal de reconquista ganhou força e, por volta de 1250, os cris- tãos haviam recuperado parte considerável da península. O ano de 1492 marca o fim do domínio muçulmano na região. Devido aos séculos de ocupação, os muçulmanos deixaram uma relevante produção científica e cultural na região. A engenharia naval é um exemplo disso: os conheci- mentos muçulmanos possibilitaram que navegadores espanhóis e portugueses cru- zassem oceanos e estabelecessem essas nações como dois grandes impérios mun- diais. Além disso, com as traduções de textos clássicos gregos e latinos feitas pelos muçulmanos, foi possível a recuperação de obras importantes para o movimento renascentista europeu. 38 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO os algarismos Estamos tão habituados aos números, segundo o assim chamado sistema arábico, que o consideramos totalmente natural. Obviamente, não é bem assim. Trata-se de uma invenção que vem de muito longe, da Índia. Foram, no entanto, os árabes que a desenvolveram e, através da Espanha, difundiram- na em toda a Europa: a mais antiga atestação está, justamente em um manuscrito espanhol de 976. Os romanos tinham um sistema de numeração que, mesmo com o uso de ábaco, instrumento feito de pequenas argolas que deslizam sobre fios metálicos, não permitia operações complexas. Era possível adicionar e subtrair, mas era muito difícil realizar operações que nos parece rudimentares, como a multiplicação e a divisão, sendo necessário, para tanto, dirigir-se a matemáticos profissionais. Os romanos nunca chegaram, de fato, à ideia que está na base do sistema de numeração arábico: o valor de um algaritimo, inclusive o zero - conquista importantíssima -, depende do lugar que ocupa em número. Por exemplo, no número 222, o algarismo 2 representa sucessivamente, duzentos, vinte e dois. No final do século XII, Leonardo Fibonacci (fi bonacci, isto é, filho de Bonaccio), um mercador de Pisa (c. 1170-1245), encontrou por motivos profissionais, alguns colegas de língua árabe em Bugia, perto de Argel, onde o pai era empregado da alfândega. Ali aprendeu o sistema de contas que usamos até hoje. Voltando à pátria, organizou, em 1202, o novo método em um tratado, o Liber abbaci, que formalizou definitivamente em 1228. Graças a ele, a nova numeração difundiu-se, primeiro na Itália e, logo, em toda Europa (FRUGONI, 2007. p. 48-50). 2.6 A CRISE DO IMPÉRIO A partir do século VIII, as disputas entre os califados levaram ao desmembramento do império islâmico e à formação de diversos califados independentes. Dessa forma, a ideia de se pensar em um império islâmico passa a ter uma conotação voltada à unidade cultural e religiosa, visto que formavam um conjunto de reinos ligados pelo islamismo, mas que não formavam um Estado único e centralizado. 39 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO No final do século XI, a Igreja Católica, com o objetivo de reconquistar Jerusalém, deu início a uma série de investidas militares contra os muçulmanos. Naquele período, toda a região da Palestina e Jerusalém, cidade sagrada para os cristãos, estavam sob o domínio muçulmano. Essas campanhas se estenderam até o século XIII e ficaram conhecidas como cruzadas. Em 1258, ano em que os mongóis invadiram e saquearam Bagdá, o imenso território sob domínio muçulmano se fragmentou e deu origem a diversos Estados muçulma- nos independentes. Na Península Ibérica, os povos muçulmanos foram expulsos no final do século XV. No Oriente, entre os séculos XIII e XV, uma série de povos invasores acabou conquistando os territórios dominados pelos árabes, entretanto o islamismo manteve seu predomí- nio em grande parte dos Estados que surgiram com o fim do império islâmico. Jerusalém foi fundada há mais de quatro mil anos e é considerada sagrada pelo judaísmo, cristianismo e islamismo, ou seja, por três das maiores religiões monoteístas do mundo. Para os cristãos que a dominaram entre 300 e 628, aquele lugar é guardião da memória dos últimos dias de Jesus Cristo, pois lá ele teria sido julgado, crucificado e sepultado. Para os muçulmanos, que conquistaram a cidade em 638, a cidade de Jerusalém teria sido o lugar em que o profeta Maomé ascendeu aos céus, em um episódio conhecido como Jornada Noturna, ocorrido em 620. 40 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIOCONCLUSÃO Enquanto no Ocidente o processo de feudalização fragmentou a região em diversos reinos, no Oriente do Mar Mediterrâneo consolidou-se o império árabe-muçulmano, que contava com um eficiente desenvolvimento comercial e urbano. A religiosidade marcou profundamente a vida no império, servindo de impulso para a unificação do Estado por meio da pregação da expansão e da guerra em nome de Alá. O islamismo, fundado por Maomé no século VII, desenvolveu-se a partir da Península Arábica, conquistando povos e territórios em várias partes do mundo. Após a morte de Maomé (632), a expansão islâmica passou a ser dirigida pelos califas. Durante o governo dos califas, o império árabe expandiu seu território e conquistou diversos povos. O califa passou a concentrar os poderes políticos e religiosos, sendo nomeado ao título de vizir. No campo da cultura e da ciência, os povos muçulmanos desempenharam um papel importantíssimo. Seus contatos com povos de diferentes culturas possibilitou um co- nhecimento importante para o desenvolvimento tecnológico. Os próprios povos ibéricos, que viveram ao longo de quase oito séculos sob a ocu- pação dos povos muçulmanos, beneficiaram-se do conhecimento acumulado pelos árabes. O processo das grandes navegações portuguesas e espanholas no início do século XVI só foi possível com a utilização desse conhecimento. Outro importante e relevante fator da cultura árabe-muçulmana foi a tolerância com os povos que eram submetidos a seu poder. Esse foi um dos principais fundamentos para consolidar sua hegemonia nesses territórios. Em 1258, o império muçulmano se fragmentou, dando origem a diversas cidades- -estado independentes. No final do século XV, na guerra de Reconquista, o último reduto muçulmano na Europa foi expulso. Apesar da fragmentação do império, o Islã predominou na maioria dos Estados que se formaram. 41 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: UNIDADE 3 > Conhecer a sociedade da Europa ocidental no período da Idade Média. > Compreender o processo de formação dos reinos germânicos e a ascensão do reino franco. > Identificar as origens e analisar as características do feudalismo. > Entender as relações de suserania e vassalagem. 42 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3 O MUNDO MEDIEVAL O período denominado Idade Média, que abrange cerca de mil anos, recebeu duran- te algum tempo da historiografia um olhar que remetia ao retrocesso, sendo chama- do muitas vezes de “Idade das Trevas”. Contudo, muitos historiadores medievalistas demonstraram, e continuam demonstrando em seus estudos, a enorme variedade de produção cultural (seja no campo das artes, da tecnologia ou na ciência) e de transfor- mações sociais, políticas e econômicas que aconteceram durante esse período. Ao longo desta unidade, será discutido o conceito de Idade Média e compreender o processo de formação dos reinos germânicos. Também será analisada a organização política dos francos e o processo que levou à formação do chamado Império Carolín- gio. Será abordado, ainda, o processo de feudalização da sociedade da Europa Oci- dental e as relações sociais, econômicas e políticas que foram característicos desse período. 3.1 IDADE MÉDIA: DESCONSTRUINDO ESTEREÓTIPOS FIGURA 10 - IDADE MÉDIA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 43 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO O século V marca o início do que a historiografia denomina Idade Média. Esse perío- do se estende por mil anos e seu conceito foi cunhado pelos humanistas do século XVI. Entretanto, é relevante ressaltar que a própria historiografia não tem um senso em relação quando teria se iniciado esse período histórico. Essa indefinição também se dá para pensar quando o mesmo teria chegado ao fim. Sobre essa questão, Hilário Franco Júnior aponta: De momento, lembremos que, se hoje se reconhece o direito de cidadania histórica à Idade Média, ainda não conhecemos sua certidão de nascimento e seu atestado de óbito. Na verdade, não se trata de um ponto essencial, mas por muito tempo a historiografia procurou estabelecer balizas cronológicas medievais. Seguindo uma perspectiva muito particularista (às vezes políticas, às vezes religiosas), já se falou, dentre outras datas, em 476 (deposição do últi- mo imperador romano), 392 (oficialização do cristianismo) ou 330 (reconheci- mento da liberdade de culto aos cristãos) como o ponto de partida para a Ida- de Média, Para seu término já se pensou em 1453 (queda de Constantinopla e fim da Guerra dos Cem Anos), 1492 (descoberta da América) e 1517 (início da Reforma Protestante). Hilário Franco Júnior. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Bra- ziliense. 1999. P. 23 Inicialmente, a designação Idade Média tinha um caráter pejorativo. Esse termo de- signava como inferior os séculos que se passaram entre a Antiguidade Clássica e a Idade Moderna. Hilário Franco Júnior acrescenta que: No caso do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que elaborou tal conceito. Ou melhor, tal preconceito, pois o termo expressava um desprezo indisfarçado pelos séculos localizados entre a Antiguidade Clássica e o próprio século XVI. Este se via como o Renascimento da civilização greco-latina, e, por- tanto tudo que estivera entre esses picos de criatividade artístico-literária (de seu próprio ponto de vista, é claro) não passava de um hiato, de um intervalo. Logo, de um tempo intermediário, de uma idade média. Admirador dos clássicos, o italiano Petrarca (1304 – 1374) já se referira ao pe- ríodo anterior como de tenebrae: nascia o mito historiográfico da Idade das Trevas. Hilário Franco Júnior. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Bra- ziliense. 1999. P. 56 44 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Durante a Idade Moderna, o termo Idade Média se enraizou com um sentido figurado de flagelo, ruína, assim como se popularizou o termo “renascimento” (cunhado pelo artista e escritor Giorgio Vasari em meados do século XVI) designando que o medievo teria sido um período de interrupção do progresso intelectual humano e que seriam os “homens” do século XVI responsáveis por resgatar os conhecimentos deixados pe- las sociedades do mundo antigo. Opunha-se o século XVI, que buscava na sua produção literária utilizar o latim nos moldes clássicos, aos séculos anteriores, caracterizado por um latim “bár- baro”. A arte medieval, por fugir aos padrões clássicos, também era vista como grosseira, daí o grande pintor Rafael (1483 – 1520) chamá-la de “gótica”, termo então sinônimo de “bárbara”. Na mesma linha, Rabelais (1483 – 1553) falava da Idade Média como a “espessa noite gótica”. Hilário Franco Júnior. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Bra- ziliense. 1999. P. 61 A mentalidade das sociedades europeias modernas já não compactuava com o idea- lismo religioso e com as relações de dependência pessoal presentes no pacto feudal. Os humanistas designavam o medievo como período de retrocesso no campo cultu- ral, intelectual e econômico na Europa Ocidental. Os séculos que compreendem a Idade Média eram vistos como de barbárie e supers- tição. Entusiastas do uso da razão, os intelectuais modernos teciam profundas críticas àquela cultura ligada diretamente aos valores religiosos. As autoridades governamentais, representadas pela imagem das poderosas monar- quias absolutas, lamentavam o período medieval, devido a sua característicade frag- mentação política. A limitada atividade comercial do período também gerava des- prezo entre a crescente burguesia. Além disso, setores ligados às igrejas protestantes denunciavam a supremacia da Igreja Católica na época. O desprezo pela Idade Média foi acentuado pelos iluministas do século XVIII, que viam naquele período o ápice dos privilégios e do poder da nobreza e do clero. A filosofia iluminista, por se guiar pela racionalidade, refutava as explicações religiosas medievais para os fenômenos naturais e sociais. 45 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO Essa visão negativa da Idade Média só começou a mudar no século XIX, quando esse período passou a ser visto como uma etapa decisiva para o fim do Império Romano e da antiguidade. A questão da identidade nacional ganhou muita relevância com o advento da Revo- lução Francesa. As pretensões napoleônicas de reunir toda a Europa sob um único governo despertaram nas regiões dominadas e ou ameaçadas um processo de valo- rização das identidades nacionais. Por isso, muitos estudiosos apontam a Idade Média como o período em que se lan- çou as bases para a formação dos Estados Nacionais e de uma sociedade alicerçada na fé, no Estado e na família, características que ainda fazem parte dos modos de vida dos povos contemporâneos. O estudioso Jacques Le Goff aponta que: Esta longa Idade Média (...) criou a cidade, a nação, o Estado, a universidade, o moinho, a máquina, a hora e o relógio, o livro, o garfo, o vestuário, a pessoa, a consciência e finalmente a revolução (...) LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa, Estampa, 1980. Segundo Hilário Franco, foi no século XX que a Idade Média foi revisitada por pensa- dores preocupados em entendê-la com “os olhos dela própria”. Para isso, foram ela- boradas novas metodologias e técnicas investigativas. A historiografia medieval deu um grande salto de qualidade e abriu caminho para novas investigações sobre esse período. 3.1.1 OS REINOS GERMÂNICOS No início do século V, diversos povos ocuparam o território que compunha o Império Romano do Ocidente. Entre esses povos, destacam-se os germânicos (também cha- mados visigodos, ostrogodos, burgúndios, anglos, saxões, francos, hérulos, vândalos e outros). 46 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO FIGURA 11 - CASTELO GERMÂNICO Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Esses povos apresentavam variadas formas de se organizar politicamente e cultural- mente. Possuíam crenças, idiomas, valores e hábitos totalmente diferentes entre si. De acordo com o historiador Perry Anderson, esses novos reinos passaram por um lento processo de integração de elementos culturais românicos e germânicos. Esse processo resultou na formação de dois grupos sobre os quais se estruturou a sociedade. Seriam esses dois grupos a aristocracia rural, representada por grandes proprietários de terra, e o campesinato, que congregava a maioria da população e era dependente dos donos de terra. Da miscigenação cultural entre romanos e germânicos nasceu um novo modelo de organização social, que se tornaria a base de surgimento dos povos europeus da atualidade. Economicamente, os germânicos se dedicavam à agricultura e cultivavam alimentos variados. Eles utilizavam a terra até seu total esgotamento. Além disso, se dedicavam também à caça e à pesca. Em função do poderio e da cultura militar, outra atividade exercida era a promoção de saques e invasões a territórios vizinhos. Cabe destacar que os germânicos não possuíam uma estrutura política fortemen- te centralizada. Apesar das hierarquias entre os guerreiros, as relações pessoais e a autonomia individual prevaleciam naquela sociedade. Com o tempo, um grupo de 47 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Poder e Política: antiguidade e Medieval SUMÁRIO guerreiros passou a deter e concentrar um papel político mais importante, que os diferenciava dos camponeses que trabalhavam em suas terras. A sociedade germânica era dividida em clãs e tribos patriarcais que possuíam la- ços consanguíneos. As decisões que afetavam a população eram tomadas por uma assembleia de guerreiros. O comitatus, nome dado a essa assembleia, estipulava a união militar dos guerreiros. Além disso, era de caráter transitório e influenciou a for- mação social do mundo medieval. 3.1.2 AS RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA E O PROCESSO DE RURALIZAÇÃO Os povos germânicos compreendiam seus reinos como propriedade privada e, por isso, o dividiam entre seus herdeiros, ou doavam a pessoas que lhes prestavam serviços. Para manter povos de diferentes culturas em torno de uma única autoridade, os ger- mânicos eram constantemente mobilizados em campanhas militares. As guerras permitiam que a nobreza organizasse um exército particular que, para lutar, recebia um soldo e a garantia de subsistência. Muitos guerreiros doavam suas pequenas propriedades aos nobres poderosos. A es- ses guerreiros era assegurado o direito de continuar trabalhando nas antigas terras, contudo, embora juridicamente fossem livres, tornavam-se dependentes dos senho- res por meio de laços de servidão. Esse processo culminou na fragmentação do poder real. Essa descentralização do poder fortaleceu os senhores (nobres), detentores de grandes extensões de terra. Em meados do século VI, um surto de peste bubônica atingiu a Europa, reduzindo boa parte da população. Esse surto se propagou rapidamente nas cidades, fazendo com que muitas pessoas fossem para o campo, situação que provocou um processo de ruralização. Essa situação fez com que as atividades comerciais sofressem um de- clínio acentuado. Nas cidades, que não ficaram totalmente despovoadas, aconteciam, esporadicamen- te, algumas festas religiosas. A religiosidade germânica era marcada por uma crença diversificada e pela adoração de diversas divindades. 48 Poder e Política: antiguidade e Medieval FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3.2 OS FRANCOS Os francos ocuparam a região da Gália no início do século V e ainda no final desse século já dominavam grande parte da Europa Central. O expansionismo franco era bem visto pelas autoridades eclesiásticas, pois significava a difusão da fé cristã. Isso porque, em 496, o rei franco, Clóvis, se converteu ao cristianismo. Clóvis é considerado o primeiro rei franco e representa a Dinastia Merovíngia. Seu governo foi marcado pela unificação de tribos e clãs francos e por um processo de centralização. Importante ressaltar que a conversão do rei Clóvis ao cristianismo abriu caminho para uma forte aliança entre a Igreja Católica e o poder real. Essa união foi relevante para ambos os lados: a Igreja obtinha o apoio de uma importante força política e militar capaz de garantir sua sobrevivência. Por outro lado, o rei utilizava a Igreja para legiti- mar seu poder e ainda usufruía da administração clerical para governar. No ano de 732, já sob o governo da Dinastia Carolíngia, os francos, por meio de seu forte exército, impediram o avanço muçulmano na Europa, na batalha de Poitiers. Essa vitória deu aos carolíngios o título de defensores do cristianismo. Nos séculos posteriores, a Igreja Católica e os reis francos iriam fortalecer ainda mais seus laços. Em 771, Carlos Magno consolida seu poder e inicia um período de conquistas terri- toriais e expansão do cristianismo. Carlos Magno pretendia reconquistar os territórios do Império Romano do Ocidente. 3.2.1 CARLOS MAGNO E O RENASCIMENTO CAROLÍNGIO Vale destacar o governo de Carlos Magno, que durou por 46 anos