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Moita_Lopes_Por_uma_Linguistica_Aplicada

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.. ~ 
POR UMA LINGUISTICAAPLICADA 
INDISCIPLINAR 
l ,INt:LJAJ GBM] 
1. Português ou brasileiro? Vm convite à pesquisa 
Marcos Bagno, 6" ed. 
2. Linguagem & comunicação social- visões da lingüística moderna 
Manoel Luiz Gonçalves Corrêa 
3. Por uma lingüística crítica 
Kanavillil Rajagopalan, 2" ed. 
4. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula 
Stella Maris Bortoni-Ricardo, 4' ed. 
5. Sistema, mudança e linguagem- um percurso pela história da linr1üística moderna 
Dante Lucchesi 
6. "O português são dois" - novas fronteiras, velhos problemas 
Rosa Virgínia Mattos e Silva, 2ª ed. 
7. Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro 
Rosa Virgínia Mattos e Silva, 2• ed. 
8. A lingüística que nosfazfalhar- lnvestigação crítica 
Kanavillil Rajagopalan j Fábio Lopes da Silva [orgs.] 
9 . Do signo ao discurso - Introdução à filosofia da linguagem 
Inês Lacerda Araújo 
10. Ensaios dejllosofia da lingüística 
José Borges Neto 
11. Nós cheguemu na escola, e agora? 
Stella Maris Bortoni-Ricardo, 2" ed. 
12. Doa-se lindos filhotes de poodlc- Variação lingüística, mídia e preconceito 
Maria Marta Pereira Scherre 
13. A geopolítica do inglês 
Yves Lacoste [org.] j Kanavillil Rajagopalan 
14. Gêneros-teorias, métodos, debates 
J. L. Meurer J Adair Bonini 1 Désirée Motta-Roth [orgs.], 2ª ed. 
15. O tempo nos verbos do português- uma introdução a sua interpretação semântica 
Maria Luiza Monteiro Sales Corôa 
16. Considerações sobre a fala e a escrita- fonologia em nova chave 
Darcilia Simões 
17. 
18. 
19. 
. .w. 
2 1. 
.!2. 
.a 
' i 
Princípios de lingüística descritiva - Introdução ao pensamento gramatical 
M. A; Perini, 2" ed. 
Por uma lingüística aplicada INdisciplinar 
Luiz Paulo da Moita Lopes (org.) 
/11111cla111e11tos empíricos para uma teoria da mudança lingüística 
ll. Wcinreich J W. Labov 1 M. I. Herzog 
/Is or lr1m1s do português brasileiro 
/\11lho11y Julius Nélro 1 Maria Marta Pereira Scherrc 
11111'C11/11('1ro tl 11m11111I im lização - Pri11típio:; le1íricos f., 11p/imrrio 
Sl'1111slli10C'urlos L.<:on~·alvcs j Maria ('(·ll; 1 l.lm;1-I lcrnandes J V;i11la C'rlslh11 1 C'11ssd) ( :11Ivno lorgs. J 
< l m•1111I 11 ,, ,,, flOr l 11111111s /\ lwrrlnw11s ji1110/o11lrns 
e l1 1hrh•l /\ 11l 111 H'N d1• /\ru i •lo J org. J 
,\'1wl11lt1111i'lfsllr•1111111111 1/1111/vrt l11slm1111·11111 / 1/,o m111//s1· 
t li 111101 y H. C :11 y j /\1 111 M. S. Y. lll l'~ 
li 11•111/11111 
LUIZ PAULO DA MOITA LOPES [org.] 
.. , 
UMA LINGUISTICAAPLICADA 
DISCIPLINAR 
Ulrlkc Meinhof 
nvt1lcontl 
li 1 m1 RodrlguC's Rojo 
I
DIBLIO TE=C A" 
f\ 1l 1l1ntfM:ft d•• (.1,111 1 1,1•1 1 
llllllO: ran UMA l IN~UI ll CI\ Ai'l IC AÔI\ INOI CIPI INN1 
Compl1m1m to: 
Preoo: 40, 00 
Doador: DIVERSOS Eo1ToR: Marcos Marclonllo 
CAPA E PROJETO GRAF1co: Andréia Custódio 
CONSELHO EDITORIAL 
F u - CIO-o 52?J1 55 
Ana Stahl Zilles {Unisinos] 
Carlos Alberto Faraco {UFPRJ 
Egon de Oliveira Rangel [PUCSPJ 
Gilvan Müller de Oliveira {UFSC, lpo/J 
Henrique Monteagudo {Universidade de Santiago de Compostela] 
Kanavillil Rajagopalan {Unicamp] 
Marcos Bagno {UnBJ 
Maria Marta Pereira Scherre [UFRJ, UnBJ 
Rachel Gazol/a de Andrade {PUC-SP] 
Salmo Tannus Muchail {PUC-SPJ 
Stella Maris Bortoni-Ricardo {UnB] 
CIP·BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES OE LIVROS, RJ 
Por uma lingülsllca aplicada INdlsclplinar/ Branca Fabrfcio ... 
let ai.); organizador Luiz Paulo da Moita Lopes.· São Paulo: 
Parfüola Editorial, 2006. ·(Llnguatgem]; 19) 
Inclui bibliografia 
ISBN978·8S·88456-49·S 
1. Ungülstica aplicada. 2. Abordagem interdisciplinar do 
conhecimento 3. Linguagem e línguas. 4. Linguagem e cultura. 
5. Sociolingüfstica. I. Moita Lopes, Luiz Paulo. li. Série. 
Direitos reservados à 
PARÃBOLA EDITORIAL 
Cll0410 
CDU811 
Rua Sussuarana, 216 - Alto do lpiranga 
04281-070 São Paulo, SP 
PABX: [11) 5061 -9262 \ 5061-1522 
home page: www.parabolaeditorial.com.br 
e-mail: parabola@parabolaeditorial.com.br 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode serreproduzida 
ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou me-
cânko, Incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou 
banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda. 
ISBN: 978-85-88456-49-5 (antigo 85-88456-49-4) 
2' edlç11o: março de 2008 
IO do texto: Luiz Paulo da Moita Lopes et alii 
IO da edlç11o: Parábola Editorial, São Paulo, julho de 2006 , 
... 
Para 
MARIA ANTONIETA ALBA CELANI 
Pelo trabalho inovad or em lingüística aplicada 
quando poucos ainda pensavam esse campo no 
Brasil. Especialmente, pelo exemplo de 
profissionalismo, pelo entusiasmo contagiante com as 
questões referentes à educação lingüística e pelos 
sonhos compartilhados para pensar e construir oucros 
caminhos e outros mundos. 
Sumário 
AGRADECIMENTOS .......... ... .......... ............. .... ........ .............. ...................... 11 
INTRODUÇÃO: UMA LINGÜÍSTICA APLICADA MESTIÇA E IDEOLÓGICA: 
INTERROGANDO O CAMPO COMO LINGÜISTA APLICADO 
Luiz Paulo da Moita Lopes ... .. .. . .. . . . .. ... .. ... . .. . . . . . . .. . . . .. . . .. .. .. .. . . .. . .. .. . . . . .. .. .. . . ... . . .. . . 13 
Como surgiu o livro.. .. .... .................. .................... ........... ........ ................ 13 
Uma primeira palavra .. .......... .. ......... .. .. .. . ...... ...... .. ...... .. .. ... .. .... .. .... ... .... .. 14 
Para além da distinção entre aplicação de lingüística e lingüística aplicada . 17 
Por que repensar outros modos de teorizar e fazer lingüística aplicada? 21 
Novos tempos, novas teorizações...................... ...................... ................ 22 
O preço da !Ndisciplina em lingüística aplicada . . ...... ......... .. . .. ... ..... .. ..... 26 
Saboreando os capítulos.................. .................... ........... ........ ...... ............ 27 
Referências ................... . .. ...... ...... ...... . ....... ........ . ..... . ... ....... .... .... .. .. ....... .. . 42 
CAPÍT ULO 1: LINGÜÍSTICA APLICADA COMO ESPAÇO DE DESAPRENDIZAGEM: 
REDESCRIÇÔES EM CURSO 
Branca FalabeLla Fabrício ..... ... ... ....... .......... ...... .... .... ... ....... ........... ..... .............. 45 
Mundo em movimento .. ...... . ..... ......... .. .... .. ..... .. ... .. .... ... .. .. .. . . ..... .. .. ..... .... 45 
O momento contemporâneo .... ............................................................ ..... 46 
Epistemologias concorrentes em lingüística aplicada: mutações em curso 48 
O território movente da linguagem: um olhar contemporâneo .............. 53 
A desaprendizagem como possibilidade de conhecimento....... .... .......... 59 
A pluralidade de nossos tempos: ética como horizonte norteador ... ... ... 61 
Referências . .......... ... ... .. .... ..... ... ..... .. ...... ....... ..... ... .. ........... ..... ....... .. ... . ... .. 63 
CAPÍTULO 2 : ÜMA LINGÜÍSTICA APLICADA TRANSGRESSIVA 
Alastair Pennycook ......................................... .. .. .. . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 
Teorias transgressivas ...... .. ... ... .... .. ......... ... .. .... .... .... ....... ..... .. ... .. ..... ... .... .. 72 
As viradas lingüística, somática e performativa. .... ..... .. ....... ... .. ........... ... 77 
A lingüística aplicada transgressiva.. ...................... .................. ... ............. 82 
Referências .. ......................................................... .. .......... ........ ......... ....... 83 
CAPÍTULO 3: LINGÜÍSTICA APLICADA E VIDA CONTEMPORÂNEA: 
PROBLEMATIZAÇÃO DOS CONSTRUTOS QUE T~M ORIENTADO A PESQUISA 
Luiz Paulo da Moita Lopes ........ .... ......... .. ............ .. ... ......... ....... ....................... 85 
Outras vozes e outros conhecimentos .... ................................................. 85 
Preparando uma agenda para a lingüística aplicada contemporânea: 
renarrara viciai.social .... ...... ... .................. :. .............................. ....... ........ . 90 
Uma lingüística aplicada contemporânea ........................... ....... ............ .. 
A imprescindibilidade de uma lingüística aplicada híbrida ou mestiça . 
A lingüística aplicada como uma área que explode a relação entre teoria 
e prática ................................................................................................... . 
Um outro sujeito para a lingüística aplicada: as vozes do Sul.. ........... .. . . 
A lingüística aplicada como área em que ética e poder são os novos pilares 
A lingüística aplicada como lugar de ensaio da esperança ........ ........... .. . 
Referências .............................................................................................. . 
CAPÍTULO 4: CONTINUIDADE E MUDANÇA NAS VISÕES DE SOCIEDADE EM 
LINGüfSTICA APLICADA 
Ben Rampton ..................................... ............. ................. ................................ . 
Introdução ............................................................................................... . 
A sociolingüística na interface tradição/modernidade ........................ ... . 
A sociolingüística na interface modernidade/pós-modernidade ............ . 
Alguns temas da sociolingüística pós-moderna ...................................... . 
A lingüística aplicada na modernidade recente ...................................... . 
A situação negligenciada ......................................................................... . 
Referências .............................................................................................. . 
Anexo ...................................................................................................... . 
CAPÍTULO 5: A LINGÜÍSTICA APLICADA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO 
B. Kumaravadivelu ........... ......................... ...................................................... . 
Introdução .... ................ .................. ... ................... ................................... . 
O conceito de globalização ..................................................................... . 
A fase atual da globalização ........ .................. ........... .. ... .................. .... ... . . 
Globalização cultural ............................................................ .. .................. . 
Transformação de derivante para autônoma ........................... ... ............ . 
Transformação do moderno para o pós-moderno .................................. . 
Transformação de colonial para pós-colonial.. ........................................ . 
Conclusão ................................................................................................ . 
Referências .............................. ................................................................ . 
CAPÍTULO 6: REPENSAR o PAPEL DA LINGÜÍSTICA APLICADA 
Kanavillil Rajagopalan ......................................................................... ............. . 
Introdução: um esclarecimento .................. ...................... ............ .......... . 
Sinais positivos de mudança ................................................................... . 
A crise na/da lingüística ............................... ........................................... . 
A promessa ........... ........................... .. .......... ........................................ . 
Uma lingüística de resultados .......... ................. ................................... . 
rr. ·• · · ' "b d,+;· " v mfl czencza para nznguem otar 0ezto ...... ........ ..... ..................... .. . 
f )ecepçáo ........................................................................... ................. .. 
A lingüís1ica teórica e a fàlta de compromisso com questões de ordem prática 
A Lingiilstita f' a neutralidade científica ............................................... . 
96 
97 
100 
101 
103 
104 
105 
109 
109 
110 
113 
115 
119 
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128 
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129 
130 
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131 
136 
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146 
147 
149 
149 
149 
150 
151 
152 
152 
152 
155 
155 
li li11.~ll/11im <' 11 tl1°11'1M m111 rt opi11irl11 ll'ir.t1 ........................ ... .............. 155 
A li11J!/ l/J·1itr1 1• 11 rll'.1mw m111 o socirtl .. ....... .. ..... ... ..... .......... ..... ....... .... .. J 56 
A lingllístic:a na 1or1·e de marfim e sua relevância para a vida na terra .. 158 
LJma lingüíst ica voltada para questões práticas ....................................... 159 
Bons ventos ......................... ..... .......... ....................... ........ ....... ......... ....... 160 
Lingüística de corpus... ......................... ................................. ... ... ........ 160 
M etacogniçáo ............................ ......... .......... ... ....... .. .. ............. ............. 161 
Lingüística crítica e objetivo intervencionista.. ....... ............ .................. 163 
Teorias globais, práticas locais . . . . . . . .. . . .. . . .. . . . .. . . . . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . . .. . . . . . .. . .. . . . 164 
C onsiderações finais .... ............................................................... .... ......... 165 
Referências.. ........ ................................ ... ... ................ ... ........... ................. 166 
CAPÍTULO 7: A QUESTÃO DA LÍNGUA LEGÍTIMA NA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA: 
UM DESAFIO PARA A LINGÜÍSTICA APLICADA CONTEMPORÁNEA 
Inês Signorini ... ....... .... .............. .......................... .. ..... .. ..... ... .. ...... .. ............. .. ... 169 
Introdução. ...................................... .. .... ................................... ........... ..... 170 
Inverter a lógica vigente de legitimação pela norma............ ................... 171 
Rever a lógica vigente da polarização d iglóssica .. ........ .... ... .. . ..... .. ... ... . .. . 173 
Rever a partilha vigente entre afásicos e porta-vozes .. ..... .. ... . ..... .. ... .... .. . 177 
Pressupostos e desafios no campo aplicado dos estudos da linguagem .. 181 
Considerações finais.. ... ....................... ........................ ............................ 188 
Referências................... ......... ........... .... .... ......... ...... ............. ...... ........ ... ... 189 
CAPÍTULO 8: LINGÜÍSTICA APLICADA NA ÁFRICA: DESCONSTRUINDO A NOÇÃO 
DE LfNGUA 
Sinfree Makoni & Ulrike Meinhof.. .......... ... ...................... ... ............. ... .. ... ...... 191 
Introdução................. ...................................................................... ......... 191 
Pro'cessos na construção social da língua ...... ....... ....................... ............ 193 
A noção de língua em lingüística aplicada e o público leigo....... .......... .. 195 
Pressuposto 1: A função primária da linguagem é u·ansmicir informação factual 198 
Línguas nativas como línguas cristãs .. . .. . .. . . .. . .. . . . .. . .. . . .. . .. .. .. . .. . . . . . .. . . .. . . .. . 199 
Pressuposto 2: As línguas existem ontologicamente fora de um evento 
comunicativo ..................................................................... ..... .. .... ........ .... 201 
Pressuposto 3: As línguas compreendidas como constituídas de unidades 
distintas e o linguacismo duplo . .. ..... ..... ........ ..................... ... .. . ...... .. .... ... 202 
Pressuposto 4: As línguas têm nomes .. ..... .. .. ..... .. ... .. ..... .. .. ... ........... .... ... 207 
Do conhecimento local para a lingüística aplicada .. ... .... ... ... ...... .... .... . ... 208 
Conclusão . .. ...... .. ............. ...... ...... .. ... ........ ... ... . .. . ... .. ..... .. . . .. . . . .. ... .. .. ... ... ... . 209 
Referências..................................................................................... ...... .... 211 
CAPÍTULO 9: A TEORIA QUEER EM LINGÜÍSTICA APLICADA: ENIGMAS SOBRE 
"SAIR DO ARMÁ.RIO" EM SALAS DE AULA GLOBALIZADAS 
Cynthia D. Nelson .. . .. . .. . . .. . .. .. .. . . .. .. .. . .. . . .. . .. .. .. . .. .. .. . .. .. .. .. . . .. . .. . . .. .. .. . .. . .. .. . .. .. . . .. . .. 21 5 
Enigmas sobre "sair do armário" ........... ... ...... ...... ......... ... .. ..... ...... .. .... .. .. 2 17 
10 POR UMA 1 INGÜfSTICA APLICADA INDISCIPLINAR 
Tony: no armário?...... .... ...................... ............................................... 217 
A perspectiva do professor................................... ...................... ............ 218 
As perspectivas dos estudantes .. .. .... ......... .... ... ... . . . .. ........ .. . ... ... .. .... .. .. ... . 218 
Pensando transculturalmente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 
Gina: 'saindo do armário'?............................. ..................................... 222 
A perspectiva da professora . .. . . . . . . . . . . . .. .. . .. . . . . .. . . . .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222 
A perspectiva de uma estudante . . .. . .. . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . .. .. . .. .. . . .. .. .. .. .. . 223 
As ambigüidades da construção do significado . . .. . . . .. . .. . .. .. .. . . .. .. .. .. .. .. . .. . . 224 
Roxanne: nenhuma identidade sexual? ............................................... 225 
A perspectiva da professora . . .. .. . . ... ... . . . . . ... .. ... . . .. . . .. .. .. .. . .. .. ... ... .. .. . ... . . .. .. . 225 
A perspectiva de um estudante..................................... .... ...... ............... 226 
Desfazendo os n6s das identidades sexuais............................................ 227 
Desencontros queer de significados............................. ............................ 229 
Referências...... ....................................... .......................... ...... .. ......... .. ..... 231 
CAPÍTULO 10: UM OLHAR METATEÓRICO E METAMETODOLÓGICO EM PESQUISA 
EM LlNGüfSTICA APLICADA: IMPLICAÇÕES .t.TICAS E POLfTICAS 
Marilda C. Cavalcanti ............. .............................. ........................................... 233 
Introdução................ ................... ............... .............................................. 233 
O contexto e a metodologia de pesquisa: no "território do Outro" onde 
estou eu, pesquisadora, também uma outra Outra?................................ 236 
O arcabouço teórico - o território consmúdo na e além da lingüística aplicada 239 
Caminhos da pesquisa aplicada em situações-limite: 
o olhar demandado pelo interesse s6cio-hist6rico..... ... .. . . . . .. ... .. .. . . . .. . . . . ... 239 
Foco na construção de identidades étnicas e representações sociais......... 240 
Continuando a Leitura da teia em que me enredo - uma entrada na 
análise dos dados . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . .. . . . . . .. .. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . .. . .. . ... . . . . . . . . 242 
Excertos de aula de português . .. .. .. ... . . . . . .. . .. .. ... .. . . . ... .. .. .. . .. .. ........ ... .. ... . .. 242 
Escola e identidades étnicas................................................ ......... .. ....... 247 
Considerações finais - Foco em minorias: questões éticas e compromisso 
político, implicações para o fazer pesquisa e para o fazer pesquisa "de dentro" 249 
Referências................................................ .. ....... .... .................................. 251 
CAPÍTULO 11: F AZER LINGüfSTICA APLICADA EM PERSPECTfVA 
SÓCIO-HISTÓRICA: PRIVAÇÃO SOFRIDA E LEVEZA DE PENSAMENTO 
Roxane Helena Rodrigues Rojo ........................................................................ .. 
lnterdisplinaridade em lingüística aplicada: condição de 
possibilidade da perspectiva sociocultural ou sócio-histórica ................ . 
O que é fazer Lingüística aplicada? Um consenso atual da comunidade .. 
Como fazer lingüística aplicada? Um dissenso da comunidade ... .......... . 
Uma maneira de fazer lingüística aplicada: a perspectiva sócio-histórica 
E1n sí111csc .. ........................ ..... ................................................................ . 
Rdl· 1C: nli.l~ .............................................................................................. . 
253 
254 
257 
259 
26 1 
273 
27/i 
1 . , .. , 
J 
Agradecimentos 
S 
ou muito grato a Alastair, Ben, Branca, Cynthia, Inês, Kumar, 
Marilda, Rajan, Sinfree, Ulrike e Roxane, autores dos capítulos 
que constituem o livro, por confiarem seus textos a mim, para 
que eu pudesse organizar este volume à luz da proposta inicial 
que lhes apresencei. Também agradeço p ela colaboração no longo processo 
de ed itoração e tradução. Em especial, sou grato a Marlene Soares dos 
Santos (UFRJ) , a Branca Falabella Fabrício (UFRJ) e a Myriam Brito Corrêa 
Nunes (UFRJ), pelo estímulo e apoio constantes, sem os quais não seria 
possível pensar a lingüística aplicada. 
Quero agradecer também aos colegas e alunos de várias universidades 
brasileiras (PUC-SP, UNICAMP, UNB, UFMG, PUC-MG, UNISINOS, 
lJFF, UFAL e UFPA) e da Universidade Autônoma do México, onde estive 
ministrando palestras nos últimos anos; a meus orientandos e participantes 
das reuivões semanais de nosso projeto, notadamente, Alba Regina Loredo 
(:ama Tamanini, Andersen da Silva Lopes, Andréia de Almeida Lopes, Fabiana 
1 ê:ixeira Lopes, Mima Cristina de Andrade Palmeira, Rogéria de Arruda 
M.lltos e Sonia Izabel Fabris Campos; e aos bolsistas de iniciação científica, 
'li lvia Barros da Silva Freire, Paula Pacheco Alves, Thiago de Oliveira Garcia 
"i1rnões, Lêda Maria Vieira Boaventura, pelas infindáveis discussões sobre os 
11·111as que me levaram a pensar sobre a organização deste volume. 
Sou ainda grato a Isaías Alexandre Rodrigues (bolsista de apoio técnico do 
NPq), pela ajuda com o manuscrito; a Liliana Cabral Bastos (PUC-Rio) e 
.1 Maria das Graças Dias Pereira (PUC-Rio), pelas idéias compartilhadas; e a 
l 111 ia Pacheco de Oliveira (PUC-Rio) e a Antônio Flávio Barbosa Moreira 
(l ll"RJ) , pelo apoio bibliográfico. Agradeço, especialmente, ainda ao CNPq, 
< 'At>l~S, FAPERJ e Fulbrighc pelos auxílios recebidos. E, por fim, agradeço a 
l<n~t· Z uanclti, já que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". 
l~TRODUÇÃO 
Uma lingüística aplicada 
mestiça e ideológica 
INTERROGANDO O CAMPO 
COMO LINGÜISTA APLICADO 
Luiz Paulo da Moita Lopes 
"Os cmzamentos de disciplinas ainda estão para acontecer ... " (GRUZINSKJ, 2001 : 44). 
"Concebemos a pós-modernidade não como uma etapa 011 tendência que mbstituiu o mundo 
moderno, mas como uma maneira de problematizar os vínculos equívocos que ele amarrou com 
as tradições que quis excluir ou mperar para constituir-se" (CANCLINI, 1997: 28). 
"[Precisamos fazer a nós mesmos} perguntas rigorosas de natureza política, metodológica 
e epistemológica sobre os interesses a que serve todo empreendimento de pesquisa" 
(R OMAN, 1993: 78). 
H 
COMO SURGIU O LIVRO 
á quatro anos venho pensando sobre as idéias que acabaram 
por me levar à organização deste volume. Primeiramente, 
comecei a expressá-las na mesa-redonda de abertura do VI 
Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada (Associação 
de Lingüística Aplicada do Brasil - ALAB), em 2001, na UFMG; a seguir, 
no simpósio que coordenei no Congresso Mundial de Lingüística Aplicada 
da Associação Internacional de Lingüística Aplicada (AILA, 2002), em 
Cingapura, e, finalmente, em uma mesa-redonda que organizei no Congres-
so Internacional da Associação Brasileira de Lingüística (ABRALIN), em 
2003, no Rio de Janeiro. O livro é, portanto, resultado de debates em 
eventos no campo da lingüística aplicada dos quais participei nesse período, 
no Brasil e no exterior, com alguns colegas (notadamente, Inês Signorini, 
Kanavillil Rajagopalan e Alastair Pennycook), cujas contribuições são incluí 
das aqui. ~ i.ambém influenciado por minhas parlicipaçõcs cmco ngressos 
interdisciplinares em várias partes do mundo (especialmente, nos ca mpos de 
estudos culturais, ciências sociais, estudos de gênero e sexualidade e teorias 
socioculturais) que me conduziram à necessidade de pensar uma lingüística 
aplicada (1A) que dialogasse com teorias que estão atravessando o campo das 
ciências sociais e das humanidades. Esse movimento que vou chamar de LA 
m estiça, obviamente de natureza interdisciplinar/transdisciplinar, tem sido 
notado no trabalho de muitos pesquisadores, que, ao tentarem criar 
inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem um papel cen-
tral (a visão de LA com que opero hoj e), têm sentido a necessidad e de 
vincular seu trabalho a uma epistemologia e a teorizações que falem ao 
mundo atual e que questionem uma série de pressupos tos que vinham 
informando uma lA modernista (veja, por exemplo, a crítica que Pennycook, 
1998, faz a tal 1A). 
Explica-se assim a tentativa que este livro representa ao reunir pesquisa-
dores que têm procurado ir além da discussão, agora já envelhecida, sobre a 
diferença entre aplicação de lingüística e lingüística aplicada, no interesse de 
construir novos modos de teorizar e fazer LA. Dessa forma, inicio esta intro-
dução recuperando visões anteriores de lA, na tentativa de situar como vejo 
os desenvolvimentos acuais para, a seguir, levantar posições contemporâneas e, 
concluir, apresentando as várias contribuições que constituem este livro. 
UMA PRIMEIRA PALAVRA 
Começar um livro cujo objetivo é apontar novos direcionamentos para 
uma área de pesquisa em que se trabalha é um empreendimento difícil, uma 
vez que está implícita em tal proposição uma insatisfação em relação ao 
modo como as coisas estão nesse campo, ainda que se fale como um pesqui-
sador de dentro dessa área e se discorde dos próprios percursos anteriores de 
investigação. O ponto a que estou me referindo tem a ver, portanto, com 
o desejo de propor uma mudança possível do curso do barco em uma área 
de investigação, sem pular fora dele, ao mesmo tempo em que se contempla 
a hipótese de que nem todos têm que tomar o mesmo barco. Está aqui, já 
de início, explícita a idéia de que não se almeja com este livro uma unifor-
mização para o nosso campo (ainda que tal empreitada fosse possível!), ou 
seja, não se objetiva que todos tenham de optar pelas mesmas escolhas 
teóricas e metodológicas e seguir uma "nova verdade". 
Aqu i St' .lpl'l'M.'111.ll ll c.c11.1s 1 e 11d~ 11 c i :1.s de c.:o mo ver a l.A, c.1ue representam 
d1•tl't tnin.1das escolhas tcóric.:as, visocs <lc mundo, valo res etc., o que não 
qttt·r c.li1.cr que essas sejam as únicas possíveis e nem que todos os pesqui-
~.1d o rcs in cl uídos neste volume concordariam em relação à vasta gama de 
lflll'\IOCS discutidas em todos os capítulos. Em outras palavras, não se pre-
11•1Hle aqui apontar que estamos diante de uma nova "escolà' de LA, com 
pri11dpios explícitos, na qual aqueles que assinam os trabalhos que consti-
111cm o volume se encaixem perfeitamente em um quadro bem delineado. 
1 k ÍalO, na pesquisa como na vida social, raramente, os pesquisadores/as 
1wssoas se amoldam em fo rmas ou pensam homogeneamente. Seria incon-
g1 uente com a proposta abaixo de um sujeito social heterogêneo e de uma 
1 A continuamente auto-reflexiva (veja a posição de Pennycook, neste volume, 
\ohrc LA como prática problematizadora), argumentar diferentemente. Além 
disso, Rampcon (1997) indica que a LA está se tornando "um espaço aberto" 
!Ili "com múltiplos centros" (Rampton, neste volume), no qual se encontram 
1 oncepções similares e divergentes de LA. Note-se, porém, o lamento expres-
:m por Davies (1999: 141) em relação à desistência da construção de um 
projeto de uma LA unificada e coesa, que a visão de Rampton (1997), como 
de fato a de outros pesquisadores, neste livro, indica. 
Por outro lado, mesmo não compreendendo minha pos1çao como a de 
.tlguém que possa ser colocado no rol dos pesquisadores que fazem o que 
Davies (1999: 145) chama de "LA 'normal"' 1, acredito que todos aqueles que 
l ontribuem para este volume também não o possam. Isso não quer dizer que 
l'SSes pesquisadores são aqui carimbados com o rótulo daqueles que fazem LA 
'.111 ormal' (como se normalidade e ano rmalidade não fossem construções 
M>ciais, refletindo posicionamentos a respeito de que lado da fronteira se está 
localizado na produção de conhecimento), mas que compartilham alguns 
princípios gerais, notadamente, a necessidade de atentar para teorizações 
cxtremamente relevantes nas ciências sociais e nas humanidades que prcci 
sam ser incorporadas à LA. Tais teorizações, corno se verá, se prendem prin 
cipalrnente a compreensões referentes à natureza do sujeito social, advind." 
de uma problematização dos ideais modernistas, que têm implicaçõo d1· 
natureza epistemológica. 
1 Davies (1999: 145), no glossário incluído ao final de seu livro, define a chamnd.1JA•11111 111111111 
"uma abordagem avaliaciva da LA 'normal', desenvolvida por alguns lingüistas aplic.1dm,, 0111 li1 • 111 111 1 
de que a LA não está imeressada na transformação da sociedade. LA 'normal', ele .1u11d11111111111l11l11 I 11 111 
de Davies (1999), se refere à rradição de estudos que cem uma force dcpc11d~ 1H i,1 11.1 111 111111 ih t ' 1 
rnmbém marcada por visões modernistas de produção de conhecimenio. 
As áreas de investigação mudam quando novos modos <le fazer pesquisa, 
tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico, são percebidos como 
mais relevantes para alguns pesquisadores que, ao adotar persuasões particu-
lares, começam a ver o mundo por meio de um par diferente de óculos, por 
assim dizer, passando a construir (enfatizo: construir) o quê e o como se 
pesquisa de modos diferentes. O que este livro faz é apontar algumas ten-
dências em relação à necessidade de usar cal par de óculos de forma que seja 
possível abordar o campo da l.A de um ângulo diferente. 
Após ter escrito e ministrado cursos continuamente sobre a natureza da 
IA, interrompi essas atividades durante oito anos. Minha última contribuição 
(Moita Lopes, 1998) para essa questão aparece em um volume sobre 
transdisciplinaridade e pesquisa em LA, organizado por Signorini & Cavalcanti, 
em 1998. Por um lado, isso indica que eu não tinha então mais nada a dizer 
sobre o tema; e, por outro, que a necessidade política de estabelecer o campo 
da IA no Brasil como uma área de investigação, o que estava, de fato, por trás 
de muitos textos e da discussão nos anos 1980 e 1990 (cf., por exemplo, 
Cavalcanti, 1986; Moita Lopes, 1990; Celani, 1992, Kleiman, 1992), havia 
desaparecido. A LA é um campo agora relativamente bem estabelecido no 
Brasil, apoiado institucionalmente por muitos programas de pós-graduação e 
pelas agências que financiam a pesquisa, assim como por uma associação cien-
tífica (a Associação de Lingüística Aplicada do Brasil - AIAB). O que não quer 
dizer, porém, que muitos de fora do campo não se perguntem o que é LA. 
D e fato, não têm sido poucas as vezes que tenho visto, ainda nos nossos 
dias, a pesquisa em LA caracterizada como a "outra lingüísticà'. Trata-se, na 
verdade, de uma área que é fonte de perplexidade para muitos colegas de 
outros campos dos chamados escudos lingüísticos (cf. Moita Lopes, 2004). As 
relações com a lingüística têm sido fonte de constante indagação e confusão, 
uma vez que a lógica da lingüística (ainda que seja difícil estabelecer clara-
mente isso hoje) não funciona diante dos princípios que caracterizam a inves-
tigação em LA (cf Signorini, 1998a). A perplexidade advém freqüentemente 
do empreendimento de tentar encontrar na IA o que é ou não lingüística, o 
que serviria como instrumento de validação. Ecoando Evensen (1998), pode-
se dizer que a pêra só é legitimada com base no que cem de m açã na pêra. 
E é claro que o próprio nome da área, lingüística aplicada, colabora na 
formulação e uso dessa lógica da maçã, o que também já foi bastantediscutido 
(cf Cavalcanti, 1998), embora Pennycook, neste volume, aponte que a lin-
güística, "em muitas de suas manifestações atuais'', seja de "interesse perifé-
rico" e "[tire] nossa atenção das questões que precisamos focalizar". 
> 
Aiml.1 qm· .\l' po~~.1 rnmide1 ,1r que muito tk·ssL' desconforto sobre a IA seja 
11111.1 1L·a~.10 ao foto de da ser uma área que atrai muitos alunos no Brasil e 
1111 cx1erior e que sua afirmação e fonalecimento nos últimos quinze anos no 
l\1 .1sil provocou uma reorganização dos escudos lingüísticos em relação ao 
poder acadêmico e ao financiamento da pesquisa, acredito que seja necessário 
1 onsiclerar a razão pela qual o campo da l.A causa tal dificuldade de compre-
1011sao. Penso que este livro não vai tornar as coisas mais fáceis para a IA. Sou 
d1• opinião de que vamos continuar a ser vistos com o "o outro" no vasto campo 
dos estudos lingüísticos, e, na verdade, cada vez mais assim, devido à natureza 
do que fazemos e de como o fazemos, uma vez que uma das características da 
IJ\ contemporânea é o envolvimento em uma reflexão contínua sobre si mes-
111a: um campo que se repensa insistentem ente (cf. Pennycook, 2001: 171). 
1 '.ti característica pode ser bastante problemática para campos cristalizados, 
wguidores de visões de conhecimento com o construção de verdade. 
Essa dificuldade é principalmente maior para aqueles que atuam no 
1 ;1mpo dos estudos lingüísticos sem familiaridade com muito da discussão 
nas humanidades e nas ciências sociais, onde a pesquisa em l.A está situada 
(1.J. Cavalcanti, neste volume) . Em outras palavras, isso é especialmente um 
problema para aqueles que trabalham com definições muito claras 
(f undamentaliscas ou essencialistas, talvez?) do que o campo de escudos da 
linguagem é e faz, ainda que eu seja de opinião de que cal distinção é cada 
vez mais difícil de fazer, no Brasil e em outras partes do mundo, mesmo no 
rampo do que é chamado de lingüística atualmente. Basta examinar os 
prnj etos vinculados ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) , na macroárea 
de lingüística, para entender a d iversidade de cal cam po. Ao apontar as 
mudanças que vejo em nossa área e, na verdade, em muitas outras áreas, e, 
.10 introduzir os capítulos que seguem, espero deixar claros os problemas 
relacionados com as perplexidades que envolvem o campo da LA. 
p ARA ALÉM DA DISTINÇÃO ENTRE APLICAÇÃO 
DE LINGÜÍSTICA E LINGÜÍSTICA APLICADA 
A compreensão de que a LA não é aplicação de lingüística é agora um 
truísmo para aqueles que atuam no campo (cf. Widdowson, 1979; Cavalcanti, 
1986; Moita Lopes, 1996; Kleiman , 1998). Tendo começado sob a visão de 
que seu objetivo seria aplicar teorias lingüísticas (veja, por exemplo, o livro 
~csbrava<lor ~l c Cordcr, 1973), principal menu:, ao ensino de IC11gu,1l1 ', ,1 l.A 
Já f~z ª. cdnc~ a essa fo rmulação red ucionista e unidirecional de que as 
teonas lrngüímcas forneceriam a solução para os problemas relativos à lin-
guagem com que se defrontam professores e alunos em sala de aula. O 
~implismo aqui é claro. Como é possível pensar que teorias lingüísticas, 
tndependentemente das convicções dos teóricos, poderiam apresentar res-
postas para a problemática do ensinar/aprender línguas em sala de aula? 
Uma teoria lingüística pode fornecer uma descrição mais acurada de um 
aspecto lingüístico do que outra, mas ser completamente ineficiente do 
ponto de vista do processo de ensinar/aprender línguas. 
. Tal processo está sob contingências outras que nenhuma teoria lingüís-
uca pode contemplar: aspectos sociais e psicológicos da aprendizagem em 
sala de aula são somente algumas delas, estando bem distantes do escopo de 
uma teoria lingüística (cf M oita Lopes, 1996). É possível que uma descri-
ção lingüística que tenha mais a ver com o modo como as pessoas (falantes, 
reda~ores etc.) compreendem o uso da língua (as regras intuitivas que dizem 
segutr no uso de uma língua), ou seja, os conhecimentos que as pessoas têm 
de suas práticas lingüísticas, seja mais útil para o processo de ensinar/ 
aprender do que uma descrição informada por determinada teoria (cf. 
Widdowson, 1979: 241-242; Moita Lopes, 1996: 84). Nessa direção, Makoni 
(2003: 135) argumenta que, para ser adequada ao contexto africano, a LA 
terá de usar "categorias analíticas tão próximas quanto possível das percep-
ções locais sobre a linguagem". 
Esse equívoco aplicacionista deve-se possivelmente ao entusiasmo que a 
~o:~ulação, de uma área de conhecimento nova, a lingüística, despertou no 
m1c10 do seculo XX, e a compreensão apressada e pouco lúcida de que o seu 
aparato teórico poderia focalizar questões além de seu alcance (cf. a visão de 
Kleiman, 1998, em relação às vocações aplicacioniscas na área de língua 
materna - LM). Daí, então, ser possível explicar essa relação unidirecional 
entre teoria lingüística e a prática de ensinar/aprender línguas, típica da 
2 
Em muitos. dr: ulos, a LA ainda está voltada somente para o ensino de língua estrangeira (1.E), 
notadamente, do mgl~s (cf. Karam.adivelu, neste volume, e Bygate, 2004), área em que começou a se 
desenvol~er e que ~tr~u e atrai muitos pesquisadores. No Brasil, o escopo da LA tem sido cada vez mais 
amplo, nao se resmngmdo, de modo algum, ao ensino de LE, ainda que, da mesma forma que em outras 
partes do mundo, o fo,co .preponderante ~ejam questõe~ relativas a linguagem e educação (veja, por 
exemplo, a mesma tendenc1a na LA da Austrália e da Nova Zelândia em Kleinsasser, 2004). Muitos autores 
(Brumfir, .1997 e Cook, 2003, por exemplo), porém, indicam que os in teresses da LA vão além da 
educação lmgüística e focalizam "práticas lingüísticas''. 
> 
h.1ma(b .iplita~.w til· lingilfstica , l (llC 11;10 rnn11:111pla nem a possibilidade.: 
dl· a pdlica alterar a teoria (cf. Cavalcanti , 20Ü'i, para uma crítica <lo 
dt·senvolvimento da LA como parte da lingüística no Brasil e sua lura para 
1 onstruir seu próprio espaço). 
Assim, para dar conta da complexidade dos fatos envolvidos com a 
linguagem em sala de aula, passou-se a argumentar na direção de um 
.ircabouço teó rico interdisciplinar. Isso acarretou a compreensão de que o 
1 ipo de conhecimento teórico com o qual o lingüista aplicado precisaria se 
1• 11volver, para tentar teoricamente entender a questão de pesquisa com que 
1l' defrontava, atravessava outras áreas do conhecimento, gerando "configu-
1.1ções teórico-metodológicas próprias, isto é, não coincidentes e nem redutíveis 
~\ contribuições das disciplinas de referência" (Signorini, 1998a: 13). Essa 
lógica da interdisciplinaridade possibili ta então à LA escapar de visões 
preestabelecidas e trazer à tona o que não é facilmente compreendido ou o 
que escapa aos percursos de pesquisa já traçados, colocando o foco da pes-
quisa no que é marginal (Signorini, 1998a). Foi assim que o problema de 
pesquisa passou a ser construído interdisciplinarmente e a relevância desse 
t•nfoque na problematização de questões de uso da linguagem dentro ou fora 
d.1 sala de aula (cf. Cavalcanti, 1986) começou a ser levantada. 
Ao contrário do que freqüentemente acontece em outras partes do mun-
do, no Brasil, a pesquisa em LA tem se espraiado para uma série de contextos 
diferentes da sala de aula de LE: da sala de aula de LM para as empresas, para 
.is clínicas de saúde, para a delegacia de mulheres etc., ainda que predominem 
.1spectos referentes à educação lingüística. E a questão da pesquisa, em uma 
variedade de contextos de usos da linguagem, passou a ser iluminada e 
lOnstruída imerdisciplinarmente. Tal perspectiva tem levado à compreensão 
da LA não como conhecimento disciplinar, mas como INdisciplinar (Moita 
Lopes, 1998) ou como antidisciplinar e transgressivo (Pennycook, 2001 e 
neste volume)3. É assim que o lingüista aplicado pode ser compreendido 
como "um rei sem reino" (Fauré, 1992: 68), como indica Moita Lopes (1998). 
No entanto, Celani (1998: 142), sabiamente pergunta: "Há lugar para reinos 
no domínio do saber?". Essa indagaçãoencerra em si um desafio para as 
formas tradicionais de organização do conhecimento em "igrejas" na academia, 
por ~im dizer, nas quais não se pode entrar sem obter permissão ou visto. 
3 Pennycook (2001: 173), em sua caracterização de uma LA antidisciplinar, relaciona-a com "11 m 
modo de pensar e fazer que está sempre questionando, sempre procurando novos esquemas de poliriz~ção" . 
Oulrn p~mto que men:ce destaque aqui é a revisão patent e c111 compre-
ensócs contemporâneas de LA que criticam lógicas solucionistas como aquela 
encontrada em Moita Lopes (1996), quando se afirma que a LA não tenta 
encaminhar soluções ou resolver os problemas com que se defronta ou cons-
trói. Ao contrário, a LA procura problematizá-los ou criar inteligibilidades 
sobre eles, de modo que alternativas para tais contextos de usos da lingua-
gem possam ser vislumbradas. Havia nessa perspectiva uma simplificação da 
área, então entendida como lugar de encontrar soluções para problemas 
relativos ao uso da linguagem, apagando a complexidade e efemeridade das 
situações de uso estudadas, que não, necessariamente, se replicam da mesma 
forma, o que impossibilita pensar em soluções. 
No entanto, foi certamente o viés de interdisciplinaridade que causou 
mais impacto no desenvolvimento da LA contemporânea. E é esse viés que 
leva à formulação de uma LA mestiça ou nômade, que, provavelmente, causa 
mais desconforto nos círculos de estudos lingüísticos a que já me referi4 
como também nos próprios formuladores da chamada LA "normal", que 
entendiam interdisciplinaridade com base em uma disciplina-mãe, a lin-
güística (ou seja, interdisciplinaridade pero no mucho!) . O percurso da 
interdisciplinaridade, na verdade, fez parte de minha educação como lin-
güista aplicado, assim como da de muitos outros lingüistas aplicados, entre 
os quais aqueles incluídos neste volume (por exemplo, Cavalcanti, Rampton 
e Pennycook). A questão é que tal percurso me tornou cada vez mais inte-
ressado no que outras áreas do conhecimento tinham a dizer sobre a lingua-
gem (ou seja, na chamada "virada lingüístico-discursiva'' nas ciências sociais 
e humanas) assim como sobre o mundo contemporâneo, de forma a poder 
construir minha investigação de modo situado. Tal forma de construir co-
nhecimento só era possível em um viés interdisciplinar, desgarrado das li-
mitações de qualquer tipo de lingüística (veja o argumento de Cavalcanti, 
1998: 209, sobre a ausência de "laços fixos com a lingüística" da parte da 
LA). É claro que esse percurso foi longo e envolveu o questionamento da 
4 
Não deve surpreender, como indico em Moita Lopes (2004), o riso de uma colega em relação ao 
título de um trabalho meu, i.e., "Como ser homem, hererossexual e branco na escola: posicionamcnrns 
múlriplos em narrarivas orais". Para rradições acostumadas a remarizar fonemas, sintagmas, ensino/ 
aprendizagem de línguas erc. (questões perfeiramenre legítimas em suas tradições, deve-se enfatizar) , a 
surpresa é compreensível diante de um trabalho que foca o uso da linguagem na vida social, de forma 
interdisciplinar, com intenção explícita de politi7..ação. O referido rexro, porém, acaba de ser publicado com 
o título em inglês "On being male, white and hererosexual ar school: mulriple positionings in oral 
narratives" pela Cambridge Universiry Press (Moita Lopes, 2006), o que parece ser indicador de que a 
perspecriva em que esrá inserido tem respaldo. 
; 
11 ,11ll1i .10 t' lll lllll' lui forn1ndo 1 <.:mhora muitos tamhém conlinu<.:m a viv<.: r <.:ssa 
11.11lh,.10 <.:a seguir seus prindpios. P<.:nso, porém, que a n<.:cess idade de reinvenção 
il i v.1 st·1· compreendida como central em qualquer empreendimento de pes-
q111s11 (cJ. Moita Lopes, 2004), ainda que não queira clamar aqui que estamos 
d1i111t l' de uma nova verdade, mas sim de alternativas para a pesquisa em nosso 
l 1111po1 que refletem visões de mundo, ideologias, valores etc. de seus propo-
111 lll l'S <.: que, claro, como outras, têm suas limitações e são contingentes. 
1 11111pnrtilho a idéia de que, no mundo contemporâneo, "não podemos mais 
d1 p1·11dcr de grandes argumentos e idéias transcendentais infalíveis" (Butler, 
'li() : 119). Precisamos justificá-los, discuti-los e considerá-los à luz de esco-
ll 1.1'1 éticas para as práticas sociais que vivemos, ao pensar alternativas para o 
l 111111 o (cf. Moita Lopes, neste volume). 
POR QUE REPENSAR OUTROS MODOS 
DE TEORIZAR E FAZER LINGÜÍSTICA APLICADA? 
A necessidade de repensar outros modos de teorizar e fazer 1A surge do fato 
il11 que uma área de pesquisa aplicada, na qual a investigação é fundamental-
1111•111 (.' centrada no contexto aplicado (cf. Moita Lopes, 1998 e Gibbons et alii, 
l 'J'Jl1) onde as pessoas vivem e agem, deve considerar a compreensão das mudanças 
11 l11t ionadas à vida sociocultural, política e histórica que elas experienciam. O 
q111• não quer dizer que muito da pesquisa que se reconhece como LA contemple 
1 vida social, cultural, política e histórica. Ao contrário, em muitos casos na LA, 
111•\qttisa e vida social são como água e óleo: não se misturam. É assim que 
l'l11llipson & Skutnabb-Kangas (1986) criticam uma LA que, mais do que passar 
111 l.irgo das questões sociopolíticas, colabora na manutenção das injustiças 
111 tais ao não situar seu u·abalho nas contingências e vicissitudes sócio-históricas 
1 110 não se indagar sobre os interesses a que seu trabalho serve. 
Nas palavras de Rampton (1995), esses pesquisadores estão envolvidos 
111 111 uma LA autônoma, o que está muito distante do que este livro apre-
~· 111;1. Situo este volume no contexto de uma LA ideológica5, compreenden-
do, co mo Pennycook (2001 : 43), que "todo conhecimento é político" e que, 
il1·~se modo, é essencial "a consciência dos limites do conhecimento" (Spivak, 
l 1JIJ.3: 25, citado em Pennycook, 2001: 43) ou, parafraseando Nagel (1986: 
' Ra.mprnn (1995) se inspira na distinção entre letramento autônomo e ideológico, conforme formulado 
11111 S1rce1 (1984), para'avançar essas duas visões de LA. 
68), citado em Makoni & Meinhof (neste volume): rodo conhecimento vem 
de .algum lugar. Politizar o ato de pesquisar e pensar alternativas para a vida 
social são parte intrínseca dos novos modos de teorizar e fazer LA. Assim, a 
LA .nece~~ita da te~rização que considera a centralidade das questões 
soc10poht1cas e da linguagem na constituição da vida social e pessoal (cf. 
Pennycook, 2001; Moita Lopes, 2002) . 
O ponto principal, que explica a necessidade de pensar novos percursos 
~ara a LA, subja~ente à maior parte dos capítulos deste livro, diz respeito ao 
1i:1pa~to produzido nas ciências sociais e nas humanidades por teorias que 
tem interrogado a modernidade, acarretando profundos questionamentos 
sobre os tipos de conhecimento p roduzidos e tentando explicar as mudanças 
contemporâneas que vivemos. Nas palavras de Semprini (1999: 172), tal 
problemática se refere à consideração dos modos de fazer pesquisa ao avaliar: 
nossas teorizações e m etodologias 
estão ainda em condições de compreender as mutações em curso nas sociedades 
contemporâneas, de explicar os problemas antigos e novos que as entrecortam e de 
dar uma resposta às perguntas da sociedade que mudaram de natureza e modalidade 
de expressão? 
A questão que se coloca tem a ver com a pertinência e relevância dos 
conhecimentos teóricos e metodológicos que utilizam os para fazer nossas 
pesquisas no contexto aplicado em um mundo em mudança. Para ver tal 
mundo, é necessário usar um novo par de óculos, por assim dizer, que vá 
além do que Pennycook (1998), entre outros, chama de uma LA modernista. 
NOVOS TEMPOS, NOVAS TEORIZAÇÕES 
V ivemos tempos de grande ebulição sócio-cultural-político-histórica e 
ep istemológica que muitos chamam de pós-modernos (Venn, 2000), de 
modernidade recente (Ch ouliaraki & Fairclough, 1999), de modernidade 
reflexiva (Giddens, Beck & Lash, 1997) etc., caracterizados por desenvolvi-
~encos tecnológicos que afetamo modo como vivemos e pensamos nossas 
~ida~ tanto na esfera privada quanto na pública. São tempos em que os 
1dea1s da modernidade têm sido questionados e reescritos, principalmente 
aqueles referentes à definição do sujeito social como homogêneo, trazendo 
à tona seus atravessam entos identitários, construídos n o discurso (Mo ita 
> 
l 11pC',, 2.002.), lOlllo 1.1mhém º·' ide.1 is l(lll' di·1.em 1espeito a form.1s de 
p1od11 'l.ir ui nh et. irnento sobrt• tal s uj e ito, que tradici o nalme nte o 
d1H01 poriflcavam no inccresse de apagar sua história, sua classe social, seu 
nll 11l·ro, seu desejo sexual, sua raça, sua etnia etc. Como indica Pennycook 
()()() 1: 1 lt2), "muito da pesquisa na LA é contrária a qualquer engajamento 
,, 1 io com a alteridade, negligenciando as possibilidades reais da diferençà'. 
1 11ecessário mudar o sujeito da LA, conforme H enriques et alii (1984) 
q11111taram em relação ao sujeito da psicologia. 
11 assim que a LA precisa dialogar com teorias que têm levado a uma 
p111f11nda reconsideração dos modos de produzir conhecimento em ciências 
111 i.iis (cf. Signorini, 1998b)6, na tentativa de compreender nossos tempos e 
1 l1 .1brir espaço para visões alternativas ou para ouvir outras vozes que possam 
11 vi11iorar nossa vida social ou vê-la compreendida por outras histórias. Isso 
p.lll'Ce ser imperioso em uma área aplicada, que, em última análise, quer 
lllll' lvir na ou falar à prática sociaF. Como já apontei (Moita Lopes, 1998), 
11111.1 das questões mais cruciais da pesquisa contemporânea é considerar a 
lll'l l'Ssidade de ir além da tradição de apresentar resultados de pesquisa para 
m pares, como forma de legitimá-los. Para tal, são necessárias teorizações que 
il1.iloguem com o mundo contemporâneo, com as p ráticas sociais que as 
prw>as vivem , como também desenhos de pesquisa que considerem direta-
1111•1uc os interesses daqueles que trabalham, agem etc. no contexto de apl i-
' ·'~ · 'º - uma dimensão que o campo da LA raramente contempla (cf., porém, 
1 '..1valcanti, neste volume). É preciso que aqueles que vivem as práticas sociais 
\ 1·).1111 chamados a opinar sobre os resultados de nossas pesquisas, como tam-
111• 111 a identificar nossas questões de pesquisa com o sendo válidas de seus 
1'11111os de vista: uma dimensão essencial em áreas aplicadas (Bygate, 2004). 
' làis teorias que tentam compreender a contemporaneidade têm sido 
1 l1.1111adas de pós-modernas (Jameson, 1991/2002; Venn, 2000; Rosenau, 
l 1J'J2, Butler, 2002), pós-coloniais (Said, 1978/1996; Venn, 2000), pós-
l ~ I 1uturalistas (Louro, 1997; Belsey, 2002) , anti-racistas (Fine et alii, 1997), 
l1•111inistas (Cameron, 1985; Crawford, 1995), queer (Sedgewick, 1994; Jagose, 
"Signorini (l 998b: 108) chama a arenção para o modo como uma LA arual se expõe "à multiplicidade 
.11 p.11 adigmas que conscicuem o universo científico conremporâneo", promovendo um repensar continuo 
111 "~eu universo de referência". 
1 Igualmente, Signorini (1998b: 101) indica q ue, embora reconheça o faro de "a LA não conseguir 
r\1,1pnr compleramence à tradição científica moderna ( ... ) cem buscado cada vez mais a referência de 
1111111 llngua real, ou seja, uma língua falada por falanres reais em suas práticas reais e especificas''. 
1996) ele." e LCm se caracu.:riz.a<lo por uma rdciwra de visões modcrnislas, 
oriundas do iluminismo europeu (tradicionalmente positivista e esLrutura-
lisca), e possibilitado, conseqüentemente, uma reinvenção de modos de 
compreender o mundo social, ao problematizar os construtos teóricos que 
guiaram a pesquisa e o pensamento modernista e que ainda nos orientam 
em grande escala. Em cal contexto modernista, uma LA autônoma era per-
feitamente compreensível, com seu interesse em separar o sujeito do mundo 
que pesquisa dos significados que constrói e pelos quais é também construído 
nas relações alceritárias, para garantir objetividade científica, situando-o em 
um vácuo social9. Tal tradição ignorava os atravessamentos da vida social 
pelo poder, pautando-se na crença em uma racionalidade e em significados 
anteriores ao discurso e à história, acreditando na possibilidade de verdades 
universais, produto de uma racionalidade a-histórica, que levariam ao pro-
gresso e ao desenvolvimento. É claro que o conceito de modernidade é uma 
simplificação, uma vez que a modernidade conviveu com práticas que esta-
vam longe dos ideais modernos de progresso, desenvolvimento científico, 
direitos humanos etc. É verdade que, apesar de a modernidade estar em 
crise agora, os discursos modernistas ainda circulam em nossas práticas 
sociais. Também se deve deixar claro que muitos dos ideais modernistas 
(direitos humanos, cidadania, conhecimento científico etc.) são de nosso in-
teresse, mas queremos concretizá-los com base em outra lógica, que, além 
de problematizar o exercício multidirecionado do poder por trás deles, 
contemple a idéia de que não é possível ter controle sobre as praticas com-
plexas que podem levar até eles em uma ótica objetivista e positivista de 
causa e efeito, comum no pensamento modernista. 
Além disso, para caracterizar a contemporaneidade, tem sido comum 
falar de urna nova ordem mundial ou de um novo capitalismo (Gee, 2000), 
que atravessa o mundo, em todas as esferas, por meio da globalização. Nesse 
percurso, tal capitalismo promove as elites que passam a viver transglobalmente 
e deixam aqueles que vivem vidas locais restritos a um mundo sem alterna-
tivas ou ao lixo dos que vivem transglobalmente (Bauman, 1999; 2005). 
Como esses aspectos de um mundo que faz a crítica da modernidade e que 
8 Nocc-sc, porém, a crírica que Pennycook, ncsre volume, faz às chamadas rcorias do "pós", que 
entende corno estando sempre aradas aos domínios além dos quais prerendem ir. 
'' Pcnnycook (200 l : 5) indica que, embora seja comum haver uma preocupação com o conrexro 
em LA, ela "é limicada a uma visão superlocalizada e subreorizada das relações sociais", apagando as 
relações complexas entre farores micro e macrossociais (cf. Moira Lopes, 2006, para uma renrariva de 
considerar tais farorcs conjun ramenre). 
vivi ~oh ,1 l h,111rda d.1 ~loh.1li1a~.1t> podem M~ r· teorizados e encarados pela 
1 " 1•111 p.dsts c..omo 0 Brasil ou cm regiões do chamado Prim_ciro Mun_do, que 
1 1,111 longe de ter conseguido alcançar os ideais da modern1da~~ e v1v~m na 
11111 fl- 1i,1 da globalização? Como as novas descrições para o sujeito so~1.al cm 
\ IHI hl· tcrogc ncidade podem ser construídas por teorias que auxiliem a 
11111
\ilcmat izar as imbricações de poder, diferença e desigualdade? Essas são 
q11<·~ t hcs que os capítulos deste volume pretendem contemplar e que pare-
1 111 l'sscnciais em uma LA de nossos tempos. 
/\s mudanças epistemológicas nesse cenário complexo têm sido 
linp.lt tantes. Originária de um mundo que entendia a pesquisa co~o ne-
r 
1 
~~.iria mente positivista, a pesquisa em ciências sociais hoje questiona as 
1111111 ,1s tradicionais de conhecimento e abre um leque muito grande de 
.li•M·nhos de pesquisa de natureza interpretativista (Moita Lopes, 1994) e de 
nu1tlos de construir conhecimento sobre a vida social. O sociólogo Norman 
1 h'nzin (1997), por exemplo, ao discutir as práticas etnográficas para. o 
11 11 t0 XXI, argumenta em favor da ciência performativa (veja também Smff, 
'OOJ) na qual a forma tradicional de ler um trabalho científico diante de 
11111 ,1 platéia é substituída por relatos de histórias em que tal apresentação 
l'•' ~~;I a ser entendida como narrativas que se contam. O objeti~o é trazer à 
11111 ,1 os significados que circulam na experiência narrada por meio do contar 
,1 história uma vez que, como Denzin (1997: 95) aponta, "se a performance 
1t1tcrpreração, então os textos da peiformance têm a habilidade de criticar 
1 desconstruir as comprecnsões naturalizadas em relação a como as expen-
d 
)) 
1 m i.1s vividas devem ser representa as . 
/\s questões que este livro focaliza estão, dessemodo, muitíssimo discan-
11., da LA tradicional (normal?), que ainda é muito positivista (embora não 
11 seja, em geral, na formulação da metodologia de investigação no, ~rasil!) 
1 , 111c ai nda entende a LA como área exclusivamente centrada em praticas de 
rn~ino/aprendizagem de línguas (sobretudo, estrangeiras), tanto no modo 
l'll'Scncial ou à distância, com forte dependência da lingüística (ignorando 
1111 lusive incravisões sobre linguagem provenientes de outros campos). Tal 
pr i spectiva cem situado as práticas a serem investigadas em u~ vác~o so~ia1, 
1 
oi\\ base em um sujeito homogêneo, imune à história e às práncas d1scurs1vas 
1 111 que acua e que 0 constituem. Em contraposição, ~ste livr~ pret~nde 
1 
ol.iborar na construção de uma LA como área de pesquisa mesnça e 1deo-
logica, que precisa considerar, inclusive, os interesses a que servem os conhe-
cimemos que produz. Os vários capítulos deste volume são uma 1c1wuiva 
de apresentar novas alternativas de desenvolvimento para a área. 
Ü PREÇO DA INDISCIPLINA EM LINGüfSTICA APLICADA 
E aqui volto, à guisa de conclusão, antes de apresentar os capítulos do livro, 
a me referir à perplexidade que em geral acomete aqueles que acuam no campo 
dos escudos lingüísticos ou sob a égide da LA tradicional quando se defrontam 
com a l.A em seus contornos contemporâneos, que compartilha a visão de que 
"as fundações do conhecimento legítimo desmoronaram" e de que "há novos 
objetos de conhecimento socialmente construídos, e novos modos de vê-los, que 
radicalmente transgridem os limites disciplinares" (Aronowicz & Giroux, 1991: 
140). Não surpreende que essa visão da LA como INdisciplina, além de causar 
desconforto, represente muitas v~ uma ameaça para aqueles que vivem dentro 
de limites disciplinares, com verdades únicas, transparentes e imutáveis. 
O preço a pagar por tal indisciplina é ter de responder continuamente a 
perguntas como: "O que é LA?", ou ouvir afirmações cais como "essa é a área 
dos escudos lingüísticos sobre a qual sei menos" ou "você pertence a outra 
lingüística" ou, de fato, "a outra LA". A perplexidade dos colegas pode ser 
explicada pela própria natureza do tipo de investigação auto-reflexiva apresen-
tada neste volume, que requer um exercício constante de atravessamento de 
fronteiras e de mostrar passaportes, sem os quais não se pode entrar, sob o 
risco de levar um tiro (Greenblatt & Gunn, 1992) metafórico. 
Como Banhes mostrou, "o trabalho interdisciplinar não é uma operação 
tranqüila: começa efetivamente quando a solidariedade das velhas disciplinas 
colapsa" (From Work 73, apud Marcus, 1992: 42) . Ou, ainda, para con-
tinuar com a mesma metáfora militar: 
O que está para além da fronteira existente é um inimigo - cujas forças são remidas, 
cujo território é considerado com um olhar hostil. Tal olhar pode ter dentro de si 
mesmo desejo, inveja, a vontade de se apropriar, ou, alternativamente, a vontade de 
erradicar, destruir, invejar, reconstruir em um padrão melhor .... a fronteira é o ponto 
além do qual eles falam línguas, comem alimentos e adoram deuses que simplesmente 
náo são os nossos (Greenblatt & G unn, 1992: 6). 
Q uero ainda chamar a atenção para dois outros pontos. O primeiro diz 
respeito à posição de outridade em que a LA é freqüentemente colocada. 
Creio que cal localização é uma posição politicamente relativa e tem a ver com 
q11.111 l.'1t'11mll·1.1do M' l'\ l,t pw.ido 11.1do 11.1~ pdtic..111 M>c. 1.1111 p.11 ;1 .111,11 l ' rc.\i,, ti1. 
l'.11 ,1 11111ito11 llllc foí'.c lll pesquisa cm LA e cm ci~ncias sociais atualmenll:, a 
1111 11d.1dl.· é representada por aqueles que operam dencro dos limites discipli-
11.11 r,, <.om visões objetivistas de conhecimento, com base em uma racionalidade 
1 l1 \1e11 pori llcada, sem compreensão acerca da heterogeneidade, fragmentação e 
111111.d>ilidade do sujeito social, compreendido como situado em um vácuo 
~111 lo hisrórico, e sem contemplar questões de ética e poder. A alteridade é um 
11111hlcma que cem a ver com o lado da fronteira em que se está localizado. 
() segundo ponto se refere à visão implícita na alternativa de LA aqui 
q11 l'\CIHada: a possibilidade política de que a pesquisa contemple outras 
lt1•11Srias sobre quem somos ou outras formas de sociabilidade que tragam 
1'•11.1 o centro de atenção vidas marginalizadas do ponto de vista dos 
111 .1 vcssamentos identitários de classe social, raça, etnia, gênero, sexualidade, 
11 1H ionalidade etc. Esse percurso parece essencial, uma vez que tais vozes 
pnck·m não só apresentar alternativas para entender o mundo contemporâ-
111•0 como também colaborar na construção de uma agenda anti-hegemônica 
1 111 um mundo globalizado, ao mesmo tempo em que redescreve a vida 
~,,, i.11 e as formas de conhecê-la. Esse é um propósito de teorias que fazem 
11 1 dtica da modernidade e que informam grande parte desse volume e que 
11•11'-lem o pedido de Foucault (1979: 190) sobre a necessidade de "imagi-
11,11 e criar novos esquemas de politização", que estão além de "um feixe 
p1 l'Cxistente de possibilidades". É para essa agenda sociopolítica, informada 
pi- l.1 sócio-história de nossos corpos, que espero a LA possa contribuir. 
SABOREANDO os CAPÍTULOS 
Ao pôr a mesa, por assim dizer, para que o leitor possa se deleitar, achei 
1 c·kvante enfatizar as reco rrências de idéias e temas que percorrem o livro 
uns vários capítulos, tentando ressaltar o diálogo que um volume dessa 
11.11 ureza enceta entre os autores. Desse modo, procuro, a seguir, fazer os 
1 .1pfculos conversarem entre si ao cruzar referências entre eles, ao passo que 
1.1mbém realço os fios que percorrem a trama discursiva que constitui o 
livro. Isso pode motivar o leitor a caminhar pelo volume em várias direções, 
dl· modo a construir uma maneira possível de teorizar e fazer LA. lnicialmen-
11·, porém, aparecem os textos com temáticas mais gerais e, na parte final do 
volume, são encontrados os trabalhos mais específicos em seus tópicos, ou 
~l·ja, aqueles que focalizam práticas de pesquisa. 
No primeiro capítulo, FA11Rfc 10 foca liza n segui1ue pergu nla: como a ~rea 
de LA pode responder às mudanças evidenciadas na vida contemporânea? 
Argumentando que existir sempre foi estar em fluxo ou em mudança, ela 
entende que tal percepção atualmente pode ter ficado mais aparente tendo 
em vista a compressão espaço-tempo que experimentamos. Fabrício inicia o 
capítulo explicitando o fenômeno da globalização (veja também a mesma 
questão nos capítulos de Moita Lopes e Kumaravadivelu): um momento de 
novos discursos que tecem "uma trama movente", afetando a vida institucional 
e nossas subjetividades. Essa trama começa a ser problematizada na área de 
LA, levando a uma compreensão da linguagem como prática social, imbricada 
crucialmente em elementos con textuais. 
A seguir, ela argumenta que, como resultado do mundo em que vivemos, 
a LA está se envolvendo em um processo de repensar suas construções 
epistemológicas e tem apontado para a impossibilidade de compreender a lin-
guagem autonomamente, embora tal compreensão ainda perdure em muito do 
que se faz no campo de estudos lingüísticos (veja também a mesma visão nos 
capítulos de Pennycook e Rajagopalan). Fabrício caracteriza tais mudanças em 
nossos campos como influenciadas pela virada lingüístico-cultural, virada crítica 
e virada icônica, que têm levado à articulação da área com base em "uma agenda 
política, ... transformadora e ... ética" (essa perspectiva também é perceptível 
nos capítulos de Moita Lopes e Pennycook). A autora critica, porém, certas 
tradições que têm se pautado pela construção de "novas certezas" sobre a lin-
guagem e a vida social, que ela vê como derivadas de visões representacionistas 
da linguagem: um posicionamento realista calcado na separação entre conheci-
mento/linguagem e realidade, que não contempla os comprometimentos ideo-
lógicos da linguagem e do conhecimento (veja ainda os capítulos de MoitaLopes e Pennycook, assim como o argumento em favor de uma LA ideológica). 
Essa posição tem possibilitado o surgimento de uma LA auto-reflexiva, 
que assume suas "escolhas ideológicas, políticas e éticas'', além de uma 
mestiçagem teórico-metodológica, assim como o enfrentamento da questão 
da responsabilidade social no mundo da pesquisa (veja também os capítulos 
de Moita Lopes, Rojo e Rajagopalan, neste volume). Fabrício ainda ressalta 
uma tendência em algumas pesquisas contemporâneas na LA que tem privi-
legiado o estudo das práticas discursivas daqueles situados às margens da 
globalização (a posição de Moita Lopes, neste volume, em relação a uma 
pesquisa que contribui na direção da anti-hegemonia ressoa aqui), que 
possibilitam "ver com outro olhos". A seguir, a autora aponta que a LA está 
~1 11·i1tVl'11t.1 11do 101110 ,{tl·.1 d1· "11,10 vt·rd:1d1·,,", liaM'.ld:t t•m 1d.1~ocs disdpli 
11111., 11.111sf 1011td1 i~.1~ (d. os t.1píwlos de Moi1,1 Lopes, Cavalc:inti, Rojo e 
l'i 1111y1 oolc) c na compreensão de qu<.: as verdades são produzidas por agentes 
~111 i.d~ ~· s<.:us posicionan1cntos no mundo, sempre movenres. 
tlah1 k io íundamenta a discussão de tal reinvenção no pensamento de 
N1i•1tsrhc, Foucault e W ittgenstein. Ao concluir, elenca uma série de pro-
11 dltfü·n tos metodológicos que vê como já em uso em algumas tradições no 
1111 po da LA, que poderiam levar ao que chama de "desaprendizagem como 
1111,Hihilidade de conhecimento": uma prática auto-reflexiva política ~obre _as 
1 1 • 1 ~ 1., de nosso próprio conhecimento sem objetivar verdades umversais, 
1r udo a ética como elemento central (note a questão ética também levantada 
11111 
Moita Lopes e Cavalcanti, neste volume). Essa prát~c~, sempre movente, 
11m livraria de conhecimentos aprisionadores e essenciahzados. 
No capitulo dois, PENNYCOOK articula princípios para embasar. uma LA 
11 , 1 m~rcssiva ou antidisciplinar, que se caracteriza tanto por ser híbnda (cf. a 
1'""~·10 em favor de uma lA mestiça de Moita Lopes, neste volume) com~ por 
11 dinâm ica, uma vez que, mais do que criar "um corpo fixo de conhecimen-
111", almeja pensar formas alternativas de politização (cf. o ca~ítulo de. Moita 
l t1pl'S sobre uma lA que tanto visa a novas formas de construir conhecim_ento 
q ii.1tll O a novos modos de politizar a vida soei~, ou seja, uma_ lA que vis~ a 
im1iumcncos políticos e epistemológicos), temauzando uma séne de questoes, 
'llll' tCm estado afastadas do campo. O autor rebate as críticas, fori:nuladas por 
1 >,1vics (1999) e por Widdowson (2001) às visões pós-modernistas de. LA, 
11pontando a hipocrisia da chamada LA 'normal' a) ao i~norar temas at~ais e 
1 posição de marginalização que o racismo, pobreza, sexismo, homofobia etc. 
11111Mroem; b) ao advogar que o conhecimento acadêmico deve ter uma po-
,1,,10 de neutralidade; c) ao rejeitar teorizaç.óes cont~mporâ~eas autom'a~ca­
llH'llt e; d) ao não contemplar visões alternanvas da vida soetal como válidas. 
Pennycook indica que na LA transgressiva se opera tanto com as idéias 
dr !'anon sobre as ações do poder (enfocando o inter-relacionamento entre 
dnmf nio, disparidade, diferença e desejo) quanto com o questionamento das 
l'"~prias bases do conhecimento, como em Foucault, desfamiliar!zando ca-
ti•gorias naturais do conhecimento, que devem ser compreendidas con_io 
1 
nnstruídas localmente e não como entidades anteriores às práticas, ou sep, 
ih-vemos atentar para a natureza contingencial de nossas categorias. A seguir, 
p1ossegue criticando visões estáticas de interdisciplinaridad~ que ig~oram os 
,11 1,1vessamentos disciplinares e a necessidade de transgredir fronteiras entre 
as disciplinas, dcsLruindo os limilcs que as separam. Assim, :i l.A tran/lgrcssiva 
envolve a necessidade de pensar diferentemente, de politizar e problematizar 
o próprio conhecimento que produz. 
Além disso, argumenta que a teoria transgressiva quer ir além das teorias 
chamadas de "pós-", uma vez que tais teorias parecem eternamente vincu-
ladas às posições teóricas que criticam: estruturalismo, modernismo e 
colo~i~.ismo. Sugere, então, que passemos a pensar em teorias "trans", que 
poss1bil1tem um conjunto mais variado de teorias do que aqueles represen-
tados pelas teorias "pós" (note que embora Rojo, neste volume, utilize ar-
gumentos totalmente diversos, sua posição em relação à "leveza do pensa-
mento" em defesa da transdisciplinaridade ressoa aqui) . O autor discute, a 
seguir, como as chamadas viradas lingüística, somática e performática têm 
implicações para a LA transgressiva e ressalta que a LA tem demorado a 
~erceber a relevância dessas "viradas", por ter ficado muito aliada à lingüís-
trca, que tem permanecido presa a visões autônomas e representacionistas da 
linguagem. A visão do discurso como constitutivo da vida social e de um 
sujeito heterogêneo e contraditório começa a surgir na LA (veja, nessa dire-
ção, .também a posição de Moita Lopes, neste volume) assim como teorizações 
que incorporam nossa existência corpórea e aspectos identitários, notadamente, 
aquelas que dizem respeito a identidades como performances. 
No terceiro capítulo, ao mesmo tempo em que traça um mapa da vida 
contemporânea com base em autores da sociologia, estudos culturais, filosofia 
e geografia, MOITA LOPES argumenta que o grande desafio para a epistemologia 
de nossos dias é construir uma forma de produzir conhecimento que, ao com-
preender as contingências do mundo em que vivemos, possibilite criar alterna-
tivas sociais para aqueles que sofrem às margens da sociedade (veja a posição de 
Pennycook, neste volume, na mesma direção, em sua visão de LA como instru-
mento político e epistemológico). Mais do que isso, defende a visão de que 
aqueles que vivem em cais condições podem apresentar conhecimentos sobre a 
vida social que nos ajudem a esclarecer as questões que a pesquisa coloca. Essa 
posição é inspirada também em um projeto político, que compreende como 
prevalenre em Milton Santos, Boaventura Santos, Mushakoji e Ziiek: ouvir "as 
v~zes do Sul" (daqueles à margem) de modo a colaborar na construção de uma 
aliança anti-hegemônica em tempos de discursos globalizados e hegemônicos. 
Moita Lopes entende que muito do trabalho - já em desenvolvimento 
na LA, conforme evidenciado neste volume - que faz a crítica de muitos 
11lr.1i'i d.1 111t1dt• 1111tl.tdt· t.1111i11h .1 1H·1111.1 dirt·~.w, .10 prmu1 .11 1cdc11t.1cvcr o 
•11jrito da t.A com base em teorias pós coloniais, queer, !Cminisrns etc. (veja, 
p111 cxcmplo, os capítulos de Nelson, Cavalcami, Makoni & Meinhof sobre 
11 11rn de teorias queer e pós-coloniais em LA). O autor situa tal visão em 
11111.1 crítica de "uma episteme ocidentalista", que criou outridades, marcadas 
I" lo sofrimento humano, que precisam ser redescritas, de modo a reinventar 
11 vida social e construir novos conhecimentos. Para tal é necessário questio-
11111 os conscrutos que vêm orientando a pesquisa. Argumenta, então, que são 
111·1 t•ssárias canto uma renarração da vida social como uma reestruturação na 
1111111,1 de produzir conhecimento para preparar uma nova agenda para a LA. 
1'111n·de explicitando as mudanças de natureza histórica, econômica, políci-
111, niltural, midiática e tecnológica que experimentamos, as quais represen-
1.1111 tanto avanços como também sofrimento e exclusão para muitas pessoas. 
l >rf t·nde então, seguindo Boaventura Santos, "um pós-modernismo de opo-
-1\.lo" ou "um pós-modernismo ético" para a LA contemporânea. 
Moita Lopes aponta, a seguir, quatro aspectos que devem constituir tal LA: 
1 . a imprescindibilidade de uma LA mestiça, que corresponde, na verdade, 
à mesma reestruturação interdisciplinar que está ocorrendo em outros 
campos do conhecimento, de modo a poder dialogar com o mundo 
contemporâneo (cf. o capítulo de Pennycook); 
2 . uma LA que explode a relação entre teoria e prática, porque é inadequado 
construir teorias sem considerar as vozes daqueles que vivem as práticas 
sociaisque queremos estudar; mesmo porque no mundo de 
contingências e de mudanças velozes em que vivemos a prática está 
adiante da teoria (observe posicionamentos semelhantes nos capítulos 
de Rajagopalan e de Makoni & Meinhof); 
3. uma LA que redescreve o sujeito social ao compreendê-lo como 
heterogêneo, fragmentado e fluido, historicizando-o (cf. Pennycook, 
neste volume); 
li. LA como área em que ética e poder são pilares cruciais (note uma posição 
similar nos capítulos de Fabrício e Cavalcanti), uma vez que não é possível 
relativizar todos os significados: há limites éticos que devem nos orientar. 
E conclui enfatizando uma LA como lugar de investimento em uma 
1 rdescrição da vida social. 
No quarto capítulo, advogando que a LA é uma área "com múltiplos 
11•11tros", R.AMPTON discute a sociolíngüística como parte da LA. Situa a dis-
cussão cm dois momcnws hi.sLóricos e cpisLcmológicos que afharam essas 
duas áreas: as tensões entre tradição e modernidade e modernidade e pós-
modernidade. O ponto central do capítulo é mostrar que a LA, na área de 
ensino de línguas estrangeiras, está mais bem colocada na tensão entre 
modernidade e pós-modernidade, em uma posição de vanguarda, e que 
muito da discussão que começa a surgir agora em epistemologias contem-
porâneas já está no campo da LA há trinta anos. Diferentemente, visões 
típicas da sociolingüística operam na tensão entre tradição e modernidade, 
com "uma corrente romântica muito force", que preconiza a competência 
lingüística intrínseca de todos os falantes, colocando os professores sob 
suspeita e defendendo a autenticidade daqueles situados à margem, com 
base na sistematicidade e coerência de sua linguagem. 
A discussão se fundamenta em teorizações da sociologia sobre tradição, 
modernidade e pós-modernidade, apoiada em Giddens e Bauman, que argu-
mentam na direção de visões fluidas e heterogêneas da sociedade contemporâ-
nea, construídas "no aqui e no agora", ao contrário de visões unificadoras da 
tradição, baseadas no ideal do estado-nação. Assim, a ciência social deixa de ser 
"legisladorà' e passa a ser um modo de criar inteligibilidade sobre a vida social, 
constituindo uma nova forma de construir conhecimento em nossos tempos, 
ainda que diversas visões da tradição, da modernidade e da pós-modernidade 
coexistam em conflito. Além disso, Rampton argumenta que, em nosso mundo 
fluido, o acaso e o incomum devem ser mais prestigiados do que o que é regular, 
consistente e sistemático, questionando seriamente uma ciência da significância 
estatística, o que o leva a defender uma mudança da lingüística do sistema para 
uma lingüística da prática situada. Essa, da mesma forma que em outras áreas 
das ciências sociais, em vez de focalizar "os traços centrais de qualquer grupo", 
passou a focar o ir-e-vir das pessoas, do conhecimento e de textos entre grupos 
e fronteiras (observe, na mesma direção, o argumento de Signorini, neste volu-
me, sobre a língua legítima) e os sentidos ambíguos e indeterminados que 
constroem e com os quais operam. 
É aqui então que ele mostra como a LA no campo de LF.s tem de ser vista 
por meio de um outro olhar, porque se situa na interface entre modernidade e 
pós-modernidade, uma vez que tem operado necessariamente nas margens, nas 
fronteiras, nas ambigüidades e nas incertezas - tendo em vista a prática de 
linguagem que enfoca -, o que tem sido exatamente enfatizado nas ciências 
sociais. É assim que pesquisadores em LA anteciparam muito do que se discute 
hoje sobre a necessidade e relevância da interdisciplinaridade/transdisciplinaridade 
1 ,11l 1t l' o l.110 dt• iodo conlu:d11u.:nto/sig11ific...1do ser siLUado (c.J. Moita Lopes, 
l'l'lH, p.11.1 ,,t·mdhanças entre modos contempor~neos de produzir conhecimen-
"' , .. ilgumas tradições da LA) . Rampton conclui criticando a falta de pesquisa 
ili 111iuoanálise situada sobre a linguagem na LA da Grã-Bretanha, do tipo 
!I 111111·1.i representada pelo trabalho de Fred Erickson nos Estados Unidos, ao 
I'·'''" que também defende as intravisões da análise crítica do discurso, que têm 
,1d11 u iiicadas por alguns lingüistas aplicados naquele país. 
No capítulo cinco, KUMARAVADIVELU constrói seu argumento, tendo em mente 
1111111 IA que enfrente as problemáticas advindas de um mundo globalizado (note 
1,1111lit<m cal foco nos capítulos de Fabrício e Moita Lopes), com base nos 
dl~1 111·sos críticos da globalização, do pós-modernismo e do pós-colonialismo. 
1 11 t< de opinião de que tais discursos vão conduzir a uma transformação da LA 
11111tc> área de conhecimento. Inicia o capítulo discutindo três fases diferentes da 
1~111li.dização na história: a cristianizadora, representada pela colonização espa-
111101;1 e portuguesa, a civilizadora, ou seja, a colonização britânica e francesa, e 
11 1111pcrialismo americano. Defende a posição de que a fase atual da globalização 
, 1 lc· natureza diferente dos períodos anteriores, tendo em vista a comunicação 
1 11 ti l'lnica, notadamente via internet, que norteia as relações econômicas, por 
11w10 do uso do inglês. A relevância da globalização para compreender os nossos 
d 111\, segundo afirma, não foi ainda compreendida pela LA. 
A seg uir, Kumaravadivelu discute três modos de compreender a 
p,lol>alização contemporânea: uma visão de globalização como homogeneiza-
~·'º cultural do mundo, outra como heterogeneização cultural e outra como 
1 ~ ist indo na tensão entre essas duas forças, levando à glocalização: o conflito 
1 111 rc o particular e o universal. No caso da LA, argumenta que o enfrenta-
lllt' IHO do mundo globalizado envolve o fato crucial de, em grande parte, os 
pi•squisadores em cal campo trabalharem com uma língua colonial de natu-
1 r1,1 global (veja nota 2 acima), compreendida, em muitos círculos, como 
1mt rumento de alavanca social, o que a LA precisa encarar. 
O autor argumenta que para tal é necessária a "transformação discipli-
11.1r", que pode ser efetivada de três modos: 
a) uma concepção de LA como não sendo derivada da lingüística (veja 
considerações semelhantes nos capítulos de Rajagopalan, Pennycook 
e Moita Lopes). Kumaravadivelu ainda critica aqui lingüistas aplica-
dos que atuam como policiais do campo, excluindo áreas que não 
entendem (a perspectiva crítica na pesquisa) ou que ignoram (World 
Englishes), na concepção de uma disciplina lOLalmcnlc th.:rivada da 
lingüística, na vertente aplicacionista (veja também acima a cdtica 
feita a essa vertente); 
b) uma LA que deixa de ser moderna e caminha por um ideário pós-
moderno, que desconstrói posições hegemônicas e contra-hegemônicas, 
trazendo à tona a ideologia, o poder, o gênero, a classe e a raça, tratando 
a linguagem como discurso. E aqui enfatiza a influência do pensamento 
de Foucault e sua visão de que o significado é intrínseco a formações 
discursivas em que está inscrito, como também a de Bourdieu a respeito 
das relações entre "o discurso e estruturas macrossociais", mostrando que 
a LA não pode deixar de contemplar a ideologia; 
c) uma LA que considera teorias pós-coloniais (cf. Cavalcanti e Makoni 
& Meinhof, neste volume), notadamente no que se refere ao papel 
do inglês no mundo contemporâneo, que entende como associado a 
dimensões acadêmica, lingüística e cultural, sendo as três atravessa-
das pela dimensão econômica. Ressalta que alguns lingüistas aplica-
dos começam a se interessar por essa problemática, embora a área 
não tenha ainda, no geral, contemplado a questão. 
Finalizando, indica que nenhuma área nas ciências sociais e nas humani-
dades pode passar imune às questões da globalização. 
No sexto capítulo, RAJAGOPAlAN encaminha a necessidade de a LA romper 
com a própria história que a construiu, de modo a poder avançar na construção 
de formas de conhecimento inovadoras, que, embora já sejam discutidas na 
literatura, não têm encontrado um canal de divulgação mais amplo. O autor 
argumenta que, na verdade, está nas mãos da LA a possibilidade de

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