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SEMANA ESPECIALISTA EM SUCESSÕES COM DESEMBARGADOR AMAURI PINTO FERREIRA (TJ-MG) DE 7 A 10 DE SETEMBRO PARTICIPE DO CANAL NO TELEGRAM DA SEMANA ESPECIALISTA EM SUCESSÕES E SEJA NOTIFICADO DE TODOS OS CONTEÚDOS EXCLUSIVOS Nessa jornada de troca de conhecimentos e, sobretudo, de experiências, iremos analisar e debater os atuais entendimentos dos Tribunais Estaduais e Superiores acerca do vasto campo das sucessões, inclusive as decisões que deram novas interpretações a textos literais de leis e também aquelas polêmicas que tendem a acompanhar a evolução da sociedade. Herança: Podemos conceituar “herança”, como sendo o conjunto do patrimônio da pessoa falecida, incluindo tanto o acervo ativo como também o passivo (bens e dívidas). Neste ponto, é importante ressaltar de antemão que o art.1.792 do Código Civil assegura que o herdeiro não responderá por dívida do espólio que vá além do valor da herança que ele tenha direito, devendo, todavia, provar o excesso. Tal cenário é muito comum de ser visto em sede de Embargos à Execução, Embargos à Ação Monitória ou por meio de Contestação em Ação de Cobrança, onde o espólio ou os herdeiros, conforme for o caso (se houve ou não a abertura do inventário), assumem o polo passivo da demanda e poderão discutir os aspectos da dívida que agora lhes é dirigida. Sucessões: https://t.me/joinchat/AAAAAE958Vsdz3vmaFjUZw https://t.me/joinchat/AAAAAE958Vsdz3vmaFjUZw A sucessão propriamente dita, deve ser entendida como sendo o ato de transferência de relação jurídica de uma para a outra pessoa, a qual assumirá os direitos e também as obrigações daquela que sucedeu. A sucessão em sentido amplo, não está vinculada exclusivamente ao Direito das Sucessões, possuindo lastros diretos com o Direito das Obrigações (contrato de compra e venda, cessão de crédito), Direito das Coisas (tradição), Direito de Família (sucessão no exercício do poder familiar), daí porque a existência da subdivisão de “sucessões inter vivos e causa mortis”, onde a primeira trata de relações jurídicas entre pessoas vivas, e a segunda trata da relação hereditária decorrente da morte. Sucessão causa mortis: A sucessão causa mortis, que é o objeto deste estudo, ocorre quando há transmissão de patrimônio em decorrência da morte de uma pessoa, aos herdeiros ou legatários desta. A sucessão causa mortis está diretamente atrelada ao art.1.784 do Código Civil, segundo o qual “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. Abertura da Sucessão: A abertura da sucessão (causa mortis) tem como fato gerador, a morte, que pode ser natural ou presumida. A abertura da sucessão decorrente da morte é inicialmente regida pelo art.1.784 do Código Civil. A expressão “desde logo” trazida pela legislação civilista, significa dizer que a transmissão da herança aos sucessores ocorre no exato momento da morte, a qual, conforme destacado acima, por ser natural, como sendo aquela decorrente de atestado médico, ou presumida, que é reconhecida em situações excepcionais previstas em lei (art.7º, CC). Princípio de Saisine: A abertura da sucessão é, em si, a materialização do chamado “droit de saisine” ou direito de saisine, que nada mais é do que “posse”. Indo um pouco ao campo teórico, Maria Berenice Dias leciona que “é no momento da morte que ocorre a sucessão hereditária. Independentemente de qualquer formalidade, o acervo patrimonial do falecido transmite-se aos herdeiros (CC 1.784). Isso decorre do chamado princípio do saisine, palavra de origem francesa que significa agarrar, prender, apoderar-se”. Esse princípio consagra uma ficção: a imediata transferência de pleno direito dos bens do falecido para os seus herdeiros quando da abertura da sucessão. Como os dogmas de fé, esta é uma verdade que se tem de aceitas sem discutir. Morto o titular, seu patrimônio – com o nome de herança – se transfere a todos os herdeiros, necessários, legítimos, testamentários e legatários. Claro que transmissão e dá com relação aos herdeiros com capacidade sucessória”. (Dias, Maria Berenice, Manual das Sucessões/Maria Berenice Dias, 4 ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, pág.114) Na legislação civilista, o referido Princípio vai ao encontro da norma descrita no art.1.784, segundo a qual “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu: AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. MEAÇÃO DO CÔNJUGE SUPÉRSTITE. HERDEIROS. MONTE AINDA NÃO PARTILHADO. LEGITIMIDADE. SÚMULA 83/STJ. VERBA HONORÁRIA. SÚMULA 284/STF. 1. Se as questões trazidas à discussão foram dirimidas, pelo Tribunal de origem, de forma suficientemente ampla, fundamentada e sem omissões, obscuridades ou contradições, devem ser afastadas as alegadas ofensas ao artigo 1022 do Código de Processo Civil de 2015. 2. A jurisprudência desta Corte orienta que, aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, em virtude do princípio da saisine, permanecendo como um todo unitário até a partilha, sendo regida pelas disposições relativas ao condomínio (em que também está abarcada a fração relativa à meação). 3. A ausência de indicação da ofensa à legislação federal em relação ao arbitramento da verba honorária atrai a incidência do enunciado n. 284 da Súmula do STF quanto ao ponto. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 1220947/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 04/06/2019, DJe 07/06/2019) Comoriência: Além da morte natural (aquela atestada materialmente por um profissional – médico) e da morte presumida (aquela que a lei autoriza sua presunção caso provada algumas situações taxativas), há ainda uma outra hipótese atrelada ao evento morte. Conforme vimos acima, a morte gera a abertura da sucessão, e a herança, por sua vez, transmite-se “desde logo” aos herdeiros legítimos e testamentários, o que implica a necessidade de averiguar, no caso de morte simultânea, quem dos falecidos veio primeiramente a óbito para, então, ser realizada regularmente a partilha de acordo com as regras sucessórias, ainda que um ou outro falecido tenha recepcionado a herança do outro por reduzido lapso temporal. Todavia, não sendo possível apurar quem primeiramente faleceu, a Lei Civil não deixou de antever a referida hipótese, instituindo a figura da “comoriência”. O caso prático que didaticamente exemplifica a situação é aquele em que, ocorrendo um acidente automobilístico, onde se encontravam no interior do veículo o pai e o filho, e fatalmente ambos falecem, no caso de impossibilidade de se verificar qual dos dois primeiramente faleceu, incide a norma contida no art.8º do Código Civil, segundo a qual “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendoaveriguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. Nessa situação, não haverá transmissão de herança nem do pai para o filho e nem do filho para o pai. A título ilustrativo, temos o seguinte precedente: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO SUCESSÓRIO - ALVARÁ JUDICIAL - PRELIMINAR - REMESSA ÀS VIAS ORDINÁRIAS - REJEIÇÃO - PROVENTOS DE TRABALHO E FGTS - COMORIÊNCIA - TRANSMISSÃO DA HERANÇA ENTRE OS COMORIENTES - IMPOSSIBILIDADE - MEAÇÃO - RESSALVA. Apesar de a certidão de óbito dispor que a de cujus deixou bens a inventariar, as partes, intimadas, declararam nos autos a inexistência destes bens, anexando, ainda, certidão negativa de distribuição de ação. O caso, portanto, se subsome ao disposto no art. 2º da Lei nº 6.858/90, podendo, o direito das partes, ser aferido neste procedimento voluntário de alvará judicial. Diante da impossibilidade de se identificar o exato momento da morte dos cônjuges em acidente automobilístico, impõe-se a presunção da morte simultânea - comoriência, na forma do art. 8º do CC/02. Nesse contexto, não há de se falar em transmissão de herança entre eles, recaindo sobre o único herdeiro necessário o direito relativo aos bens integrantes do patrimônio particular da de cujus. Quanto à meação, esta recairá tão somente sobre os valores de FGTS e PASEP depositados na constância do casamento, devendo, pois, esta quantia, ser abatida do montante que se pretende levantar via alvará judicial. (TJMG - Apelação Cível 1.0216.13.003338-6/004, Relator(a): Des.(a) Yeda Athias, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/08/2016, publicação da súmula em 02/09/2016) Modalidades Sucessórias: Sucessão Universal: Ocorre uma sub-rogação do herdeiro para a posição do falecido, ou seja, o herdeiro receberá todo o ativo e o passivo (créditos e dívidas). A transmissão se dá em torno da totalidade do acervo patrimonial. Sucessão Singular (Legado): A sucessão singular é a hipótese em que o autor da herança deixa para alguém um bem determinado, uma coisa certa, o que se denomina “legado”. A pessoa que recebe o legado é denominada legatário(a). É o sucessor a título singular. A figura do legado (bem determinado) e respectivamente do legatário (pessoa que recebe o legado), só vai existir em sede da sucessão testamentária. Sucessão legítima: Também chamada de “testamento tácito” ou “ab intestato”, é a sucessão em que o autor da herança não deixou testamento e, deste modo, o patrimônio será transferido de acordo com a ordem preferencial estabelecida pelo legislador (art.1.829, CC). É a modalidade sucessória tida como regra geral. Sucessão testamentária: Diferente da sucessão legítima, é a exceção. O autor da herança indica quem ele quer que fique com seu patrimônio após a sua morte, devendo-se, todavia, respeitar a legítima (parcela de bens reservada aos herdeiros necessários – aqueles que não podem ser excluídos da sucessão, salvo em caso de indignação ou deserdação). A extensão da parte disponível é condicionada à existência ou não de herdeiros necessários, quando então será verificado se o autor da herança poderá dispor integralmente ou apenas da metade do patrimônio. As disposições testamentárias que ultrapassam a legítima (parcela reservada aos herdeiros necessários) não possuem eficácia. Sucessão mista: É a junção da sucessão legítima (quando o autor da herança não deixou testamento) e a sucessão testamentária (quando há testamento). É a hipótese em que simultaneamente concorrem à herança herdeiros legítimos e testamentários. O autor da herança, neste caso, deve preservar a legítima (parcela resguardada aos herdeiros necessários), podendo dispor apenas da outra metade.
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