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Fonte: Rotinas em Ginecologia – Freitas 6ed. 1 Rayane Aguiar – P5 AMENORREIAS Amenorreia – ausência de menstruação durante menacme (período fértil) É um sintoma que pode estar presente em diversas entidades clinicas CLASSIFICAÇÃO: • Primaria – não ocorrência de menarca (primeira menstruação) até os 16 anos de idade, com presença de caracteres sexuais secundários ou a não ocorrência de menarca até os 14 anos em menina sem desenvolvimento de caracteres secundários • Secundaria – ausência de menstruação por 6 meses ou por um período equivalente a 3 ciclos habituais, em mulher que previamente menstruava Obs.: períodos menores de ausência de menstruação são referidos como atraso menstrual CAUSAS: • Fisiológica – gestação, lactação, menopausa • Patológica – atraso do desenvolvimento puberal, pseudo-hermafroditismo, sinéquias uterinas Para que ocorra o fluxo menstrual, é necessária integridade anatômica e fisiológica do sistema reprodutor feminino: 1. Hipotálamo e SNC – controle primário (sofre influência endógena – esteroides sexuais e outros hormônios por mecanismos de feedback – e exógena – ambiente) 2. Hipófise anterior – atua em resposta ao GnRH, liberando FSH e LH 3. Ovário – secreta estrogênio e progesterona em resposta às gonadotrofinas (LH e FSH) 4. Vagina e útero – Devem ser patentes para exteriorização do fluxo (útero deve ter endométrio responsivo às variações hormonais) AMENORRÉIAS PRIMÁRIAS É resultado de alguma anormalidade genética ou anatômica, entretanto, todas as causas de amenorreia secundária podem se apresentar como amenorreia primaria Causas mais comuns: • Digenesia gonadal • Hipogonadismo de causa hipotalâmica • Ausência de útero, cérvice ou vagina • Septo vaginal ou hímen imperfurado • Doença hipofisária Aspecto importante – presença ou ausência de caracteres sexuais secundários (mamas desenvolvidas), presença ou ausência de útero e níveis de FSH: • Ausência de desenvolvimento mamário – ausência de telarca → atraso funcional do desenvolvimento puberal (FSH baixo/normal) ou disgenesia gonadal (FSH elevado) • Desenvolvimento mamário – sinal de ação estrogênica (funcionamento ovariano) → útero ausente → agenesia mulleriana / insensibilidade androgênica • Desenvolvimento mamário – sinal de ação estrogênica (funcionamento ovariano) → útero presente → mesmas etiologias da amenorreia secundaria ÚTERO PRESENTE: • Dosar o FSH e LH → alto → hipogonadismo hipergonadotrófico→ cariótipo → digenesia gonadal: Turner (XO) → ovários em fita, apesar de níveis de FSH, o ovário não responde. Tratamento para Turner: terapia hormonal e hormônio do crescimento. • Dosar o FSH e LH→ baixo → hipogonadismo hipogonadotrófico → causa central → Sindrome de kalkman, turmores no SNC ou atraso fisiológico • Kalkman- falha nas células produtoras de GnRH e nas células neuronais olfatórias. Cariótipo XX, anosmia, cegueira para cores e amenorreia. Tratamento: GnRH ou estrogênio e progesterona ÚTREO AUSENTE: Cariótipo XY → deficiência 5- alfa-redutase → não transforma testosterona em di-hidrotestosterona → impede a diferenciação da genitália externa masculina (é ambígua) Em casos de amenorreia primaria com telarca presente, deve-se: 1. Descartar gestação pela história clínica ou por exames laboratoriais 2. Criptomenorréia: ausência de fluxo menstrual por bloqueio da saída da menstruação (hímen imperfurado ou septo vaginal) → é frequente a dor pélvica cíclica, podendo ocorrer hemotocolpo, Fonte: Rotinas em Ginecologia – Freitas 6ed. 2 Rayane Aguiar – P5 hematometra e até derrame intraperitoneal – tratamento cirúrgico 3. Verificar normalidade do restante da anatomia – presença de útero, vagina (completa ou curta) – exame físico, USG e RM 4. Prova de progesterona – positiva: anovulação como etiologia → anatomia integra e responsiva à estimulação hormonal – disfunção no eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (investigação se segue igual para amenorreias secundárias) 5. TSH anormal → hipo ou hipertireoidismo 6. PRL elevada → hiperprolactemia 7. FSH elevado → falência ovariana ou Síndrome de Savage 8. FSH normal → dosa o estrogênio 9. Estrogênio norma → SOP, hiperplasia de adrenal congênita 10. Estrogenio diminuído → faz TC ou RNM → anorexia, doença crônica, tumor Obs.: pacientes com vagina ausente ou curta, útero ausente ou rudimentar → é aconselhável a realização do cariótipo • Normal – 46 XX → Sindrome de Mayer-Rokitansky- Küster-Hauser • 46 XY → insensibilidade completa aos androgênios (síndrome de Morris ou feminização testicular) AMENORREIA SECUNDÁRIA PRIMEIRO TEMPO: 1. Descartar gravidez – solicitação de β-hCG 2. Sindrome de Asherman (sinéquias uterinas) – única causa uterina de amenorreia secundaria, deve ser excluída e buscada na história clínica (deve-se questionar sobre hemorragia pós-parto, infecção endometrial, manipulação uterina – curetagem, histeroscopia cirúrgica, dilatação, etc) 3. IMC > 30 é observado em 50% das pacientes com síndrome dos ovários policísticos (SOP) 4. IMC < 18,5 → amenorreia funcional hipotalâmica associada com distúrbios dietéticos ou exercícios extenuantes (aumento de serotonina, inibidora de GnRH) 5. Sintomas de deficiência estrogênica – fogachos, secura vaginal, diminuição de libido e alterações no sono → estágios iniciais de falência ovariana 6. Uso de medicamentos – contraceptivos orais, drogas androgênicas (danazol e progestágenos em alta dose), drogas que podem cursar com aumento da prolactina (metoclopramida, antipsicoticos, ranitidina) 7. Hiperandrogenismo – acne, hirsuitismo → SOP SEGUNDO TEMPO – SOLICITAR: • Prolactina – excluir hiperprolactinemia • FSH – excluir falência ovariana • TSH – doenças tireoidianas • Teste da progesterona ✓ Sinais de hiperandrogenismo → sulfato de de- hidroepiandrosterona (S-DHEA) + testosterona para ver se menstrua Teste da progesterona – verifica, além da patencia do trato genital, a presença de estrogênio suficiente circulante: administra-se 5-10mg de um progestágeno durante 7-10 dias. Decorridos 2-7 dias do fim da administração, se ocorrer hemorragia de privação – teste positivo → trato genital competente, endométrio se prolifera em resposta aos estrogênios circulantes, ovário secreta estrogênios, hipófise e hipotálamo atuam conjunta e adequadamente, estimulando a secreção ovariana → causa da amenorreia: anovulação Obs.: caso não ocorra hemorragia de privação – teste negativo → gestação / obstrução nas vias de drenagem ou ausência de útero / inexistência de endométrio ou ausência de receptores endometriais para estrogênio / ausência de atividade estrogênica (hipogonadismo) → A prova de progesterona é uma maneira indireta e clássica de determinar se há estrogênio suficiente para produzir proliferação endometrial TERCEIRO TEMPO • Prolactina elevada – estresse ou alimentação → repete a medida do pool da prolactina e a pesquisa da macroprolactina, após confirmação da alteração – hiperprolactinemia • TSH diminuído/aumentado – investigação e tratamento para hipo ou hipertireoidismo • FSH aumentado – hipogonidismo hipergonadotrófico → falência ovariana precoce (ou digenesia gonadal nas amenorreias primarias) • FSH diminuído ou normal – indicativo de hipogonidismo hipogonadotrófico – realizar teste da progesterona - teste da progesterona + → SOP / interferência medicamentosa / perda de peso / estresse / exercícios físicos moderados a intensos / disfunção hipotálamo-hipofisária autolimitada sem causa especifica - teste da progesterona - → investigar anamnese – infecção ou manipulação uterina (principalmente instrumentada) QUARTO TEMPO Fonte: Rotinas em Ginecologia – Freitas 6ed. 3 Rayane Aguiar – P5 • Em casos de alteração/manipulaçãouterina • Prova de progesterona negativa e excluídas outras causas de amenorreia Teste de estrogênio + progestágeno – determina se fluxo menstrual é ausente por inoperância dos órgãos- alvo ou por ausência de proliferação endometrial induzida por estrógeno • Administra-se um estrogênio para induzir proliferação, seguido de progestageno para decidualização • Negativo – amenorreia de causa uterina • Positivo – cavidade endometrial normal, seguir investigação QUINTO TEMPO • Exames de neuroimagem – identificar lesões orgânicas no crânio (disfunção no hipotálamo ou na hipófise) CAUSAS E MANEJO ANOVULAÇÃO • Não há formação de corpo lúteo, nem produção de progesterona → não ocorre transformação secretora do endométrio → ausência de menstruação • Ocorre naturalmente nos primeiros anos de maturação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal; mulheres com alterações em outros hormônios correlacionados; climatéricas; esporadicamente em mulheres em menacme • Maioria dos casos → disfunção hipotalâmica (por vezes transitória), alterações ovarianas e hipofisárias também são comuns • Anovulação crônica → SOP (hiperandrogenismo) – níveis de LH e androgenios aumentados → hirsuitismo, obesidade, acne, amenorreia e, muitas, subfertilidade • USG – múltiplos pequenos folículos em cada ovário – SOP → avaliar nível sérico de testosterona e de S-DHEA • Manejo: orientação, tratamento conforme desejo reprodutivo e controle de manifestações clinicas associadas CAUSAS HIPOTALÂMICAS • Lesões anatômicas no tronco cerebral e no hipotálamo, por interferir na secrelçao de GnRH podem causar amenorreia secundaria • Craniofaringiomas, doença granulomatosa (tuberculose, sarcoidose) e sequela de encefalite • Níveis elevados de prolactina → ação direta no hipotálamo → redução de GnRH • Medicações que podem agir no hipotálamo, depletando a circulação da dopamina (inibidor da secreção de prolactina) → hiperprolactinemia – fenotiazianas, antidepressivos tricíclicos, opioides, benzodiazepínicos, haloperidol, hormônios femininos, metildopa, verapamil, metoclopramida, sulprida, cimetidina • Eixo hipotálamo-hipófise permanece bloqueado por muito tempo → pode não haver o retorno imediato da função hipotalâmica: - Após o parto pode ocorrer amenorreia prolongada, mesmo na ausência de lactação - Após interrupção do uso de anticoncepcional (fisiológica até 6 meses após o último comprimido) • Atividade física intensa e constante → oligomenorreia ou amenorreia secundaria – aumento dos níveis de betaendorfinas e catecolestrogênios que interferem em substancias inibidoras do hipotálamo • Perda de peso ou restrição dietética (desnutrição ou anorexia nervosa) – redução de LH → ausência de secreção de GnRH • Amenorreia hipotalâmica funcional / disfunção hipotálamo-hipofisária de etiologia incerta – perda das variações cíclicas que ocorrem normalmente nos pulsos de GnRH • Amenorreia hipotalâmica → perda da densidade mineral óssea (diminuição da produção de estrogênio) CAUSAS HIPOFISÁRIAS • Tumores hipofisários – maioria secreta prolactina (micro e macroprolactinomas) • Tumores hipofisarios sem hiperprolactinemia – adenomas cromófobos (secretores de hormônio adrenocorticotrófico – ACTH) • Anoxia, trombose, doença autoimune ou hemorragia → lesão/necrose das células hipofisarias – após episódio hipotensivo da gravidez ou puerpério → Síndrome de Sheehan / não relacionado à gravidez → doença de Simmonds • Diagnostico: exames de imagem (TC, RM) e dosagens dos demais hormônios hipofisários • Tratamento: reposição hormonal + cirúrgico / radioterápico (eventualmente) CAUSAS OVARIANAS • Irradiação gonadal, quimioterapia sistêmica, alterações no suprimento sanguíneo, depleção de folículos, cistectomias bilaterais, cauterizações Fonte: Rotinas em Ginecologia – Freitas 6ed. 4 Rayane Aguiar – P5 ovarianas → para de produzir estrogênio suficiente para crescimento endometrial • Falência ovariana prematura (FOP) – para de produzir estrogênio antes dos 40 anos – sintomas amenorreicos estão associados → maior risco de osteoporose • Síndrome de Savage – folículos primordiais sem progressão de estagio, hipofoliculogênese ovariana • Tireoidite de Hashimoto, hipoparatireoidismo, doença de Addison, mistenia grave – FOP associada à distúrbios autoimunes • Pacientes com FOP < 35 anos → pesquisar doenças autoimunes: fator antinuclear, anticorpo antitireoperoxidase, cortisolúria de 24 horas, TSH CAUSAS ANATÔMICAS UTERINAS • Função endocrinológica normal Aderências intrauterinas ou sinéquias: • Após curetagem → Síndrome de Asherman • Infecção pélvica – endometrite pós-parto, DIP, tuberculose • Histeroscopia ou outras formas de manipulação uterina – quando início dos sintomas coincide com evento cirúrgico • Tratamento: ressecção das sinequias por curetagem suave ou histeroscopia; inserção de dispositivo intrauterino ou administração de estrogênio e progestágeno após a lise das sinéquias (evitar paredes acoladas enquanto ocorre reepitelização) OUTRAS CAUSAS: • Pseudogravidez • Tratamento de miomatose, endometriose ou da síndrome pré-menstrual • Hipoparatireoidismo • Hiperplasia adrenal congênita • Doença de Addison • Doença de Cushing • Diabete melito • Insuficiência hepática / renal /cardíaca • Processos infecciosos crônicos • Quimioterapia
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