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INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA A definição de insuficiência renal aguda (IRA) foi modificada várias vezes, mas a mais atual está no anexo 1. Ela é caracterizada pela elevação da ureia e creatinina, consequentemente queda da TFG em cerca de horas ou dias. São 3 os mecanismos básicos da IRA: (1) hipofluxo renal (pré-renal), (2) lesão no parênquima renal (renal ou intrínseca) e (3) obstrução do sistema uroexcretor (pós-renal). A azotemia pré-renal é a elevação das “escórias nitrogenadas” causada pela diminuição do fluxo sanguíneo renal. Trata-se do tipo mais comum de IRA (60%) e se caracteriza pela reversibilidade. As principais causas estão em anexo (2). Nossos rins possuem um mecanismo para proteger desse fenômeno, chamado “autorregulação do fluxo renal”. Quando a pressão arterial média (PAM) cai, as arteríolas vasodilatam, reduzindo a resistência vascular do rim, evitando o hipofluxo renal. Entretanto, existem algumas condições em que esse mecanismo não é suficiente, instalando-se o quadro de azotemia pré-renal. A redução do volume circulante efetivo estimula a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, do sistema adrenérgico e a liberação de ADH (vasopressina). A angiotensina II, as catecolaminas e a vasopressina promovem vasoconstricção periférica de modo a desviar o fluxo sanguíneo para os órgãos “nobres”. Quando o estímulo é intenso, a vasoconstricção acomete também os vasos renais, contribuindo para a azotemia pré-renal. O uso de drogas com efeito vasoconstrictor renal pode também precipitar o quadro. Na tentativa de conservação hidrossalina, a angiotensina II aumenta a reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal, enquanto a aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron proximal e a vasopressina aumenta a reabsorção de água livre no néfron distal. O resultado disso tudo é oligúria, com urina muito concentrada e pobre em sódio. A azotemia renal intrínseca é responsável por 35-40% dos casos de IRA. Pode cursar com oligúria (necrose tubular aguda isquêmica, rabdomiólise, glomerulonefrites ou nefropatias microvasculares), anúria (necrose cortical aguda, algumas glomerulonefrites) ou não oligúria/poliúria (necrose tubular aguda por aminoglicosídeos). As causas estão no anexo 3 e o tipo mais comum de IRA intrínseca é a Necrose Tubular Aguda (NTA), responsável por cerca de 90% dos casos. Para levar à NTA, a isquemia renal deve ser grave ou prolongada, entretanto se o paciente for nefropata crônico ou estiver tomando medicamentos nefrotóxicos, a NTA pode ocorrer com graus menos severos de isquemia. No caso da sepse, o principal mecanismo é a combinação de vasoconstricção renal associado a vasodilatação sistêmica, com a endotoxina também exercendo um efeito tóxico direto sobre os túbulos renais. A NTA, assim como outras causas, pode ser uma complicação de uma azotemia pré-renal (como falamos na tutoria de modo informal “o problema pode subir ou descer”). O paciente com isquemia renal evolui de imediato com azotemia pré-renal, a qual se não corrigida precocemente (ex.: reposição de fluidos), tende a evoluir para NTA isquêmica. Se isso acontecer, a azotemia e a oligúria não mais responderão à reposição volêmica. A azotemia pós-renal é causada por uma obstrução aguda do sistema uroexcretor, sendo responsável por 5-10% dos casos de IRA. As causas estão no anexo 4, sendo a hiperplasia prostática benigna a causa mais comum. Clinicamente, o paciente se apresenta com oligoanúria, desconforto hipogástrico e “bexigoma”, sendo que alguns evoluem com síncope vasovagal, desencadeada reflexamente pela distensão aguda da bexiga. A presença de diurese não descarta a possibilidade de obstrução. A passagem de um cateter de Foley costuma resolver a obstrução e, portanto, a azotemia. Em seguida, falamos sobre nefrolitíase, um assunto bastante comum, com uma prevalência em torno de 3% da população. Dados afirmam que cerca de 12% das pessoas irão desenvolver cálculos urinários em algum momento da vida. Os principais fatores de risco são: (1) história pessoal de nefrolitíase; (2) história familiar de nefrolitíase; (3) baixa ingesta hídrica; (4) urina ácida (como acontece na vigência de resistência à insulina, obesidade, diabetes mellitus tipo 2, diarreia crônica); (5) história de gota; (6) hipertensão arterial sistêmica; (7) cirurgia bariátrica; (8) uso prolongado de certos medicamentos (ex.: indinavir em adultos e ceftriaxone em crianças); e (9) infecção urinária crônica ou recorrente. Os tipos de cálculos estão no anexo 5. Aproximadamente 70 a 80% dos cálculos são formados por oxalato de cálcio. O segundo tipo mais frequente é o de Estruvita, ou fosfato de amônio magnesiano (fosfato triplo) correspondendo a 10-20% do total. Ele é chamado de “cálculo infeccioso”, pois só se desenvolve na presença de bactérias produtoras de urease na urina. Em terceiro lugar está o cálculo de Ácido Úrico, representando 5-10% dos casos e, por fim, o cálculo de Cistina, responsável por 2-3% dos casos. Os cálculos são formados pelo acúmulo de cristais, agregados de sais insolúveis produzidos na urina. Algumas condições propiciam a formação desses aglomerados de sais, como a hiperexcreção de solutos, volume urinário reduzido, alterações do pH e deficiência dos inibidores da cristalização favorecem a formação de cálculos. Além disso, alterações anatômicas facilitam a formação de cálculos ao produzirem estase urinária, por exemplo: duplicidade pielocalicial, rim esponjoso medular, rim em ferradura, ureterocele etc. A supersaturação de um sal sofre influência do pH. O pH favorece a supersaturação do fosfato de cálcio (apatita) e do fosfato de amônio magnesiano (estruvita), enquanto um pH urinário < 5,0 (ácido) reduz a solubilidade do ácido úrico e da cistina. O processo de formação dos cristais chama-se Nucleação, e pode ser de dois tipos: (1) Homogênea (2) Heterogênea. A primeira se dá quando é somente um tipo de sal, enquanto que a segunda é quando o cristal é formado sobre a superfície de outro cristal de composição diferente. Depois que os cristais são formados eles podem ou não se transformar em cálculos macroscópicos. Após a nucleação, existem outros dois processos: crescimento e agregação. É importante pontuar que o aumento da ingesta hídrica inibe todas as fases de formação de um cálculo renal (nucleação, crescimento e agregação). Além da água, existem outros inibidores da formação de cálculos renais, como proteínas, citrato, magnésio. A patogênese da nefrolitíase está resumida no anexo 6. É importante pontuar que os cálculos por si só não provocam sintomas, mas sim o seu deslocamento. Quando penetram o ureter ou quando causam obstrução de uma via, o paciente pode apresentar dor, comumente chamada de cólica nefrótica, de forte intensidade, e possivelmente associada a hematúria. A dor também pode ser irradiada para os testículos nos homens e para os grandes lábios nas mulheres (devido ao nervo ilioinguinal e ao ramo genitofemoral). Outras manifestações podem ser encontradas no paciente com nefrolitíase: náuseas, vômitos, sudorese fria, síncope, taquicardia, hipertensão arterial. No parcial de urina podemos encontrar: cristais, hematúria e alteração do pH urinário. Mas o diagnóstico de certeza pode ser dado a partir da visualização da litíase, cujo exame de primeira escolha é a tomografia computadorizada sem contraste, mas a USG também é de grande valia. A maioria dos cálculos menores de 5 mm são eliminados espontaneamente. Para os demais, o tratamento é feito através da terapia expulsiva (TME), que pode ser feita com AINEs e bloqueadores alfa adrenérgicos. Cálculos pequenos (menores ou iguais a 10 mm), com sintomas controlados podem tentar a TME por 4 a 6 semanas A abordagem intervencionista deve ser feita quando os cálculos são maiores de 10 mm pode ser feito: litotripsia com ondas de choque extracorpórea(LOCE), litotripsia por ureterorrenoscopia, nefrototomia percutânea e nefrototomia aberta. Nos casos de complicações com infecção (pielonefrite) e IRA pós-renal (obstrutiva) é preciso primeiro desobstruir a via e estabilizar o paciente para evitar a perda irreversível do rim. Por fim, abordamos brevemente as infecções do trato urinário (ITU), as quais podem ser sintomáticas ou assintomáticas. Quando sem sintomas, não necessariamente precisam ser tratadas, a não ser em casos especiais como gestantes. As mulheres são mais acometidas do que os homens devido a diferença anatômica da uretra. Em geral, os patógenos causadores de ITU são bacilos Gram-negativos entéricos, que migraram para o trato urinário. Na maioria dos casos, as bactérias estabelecem uma infecção por meio de sua ascensão até a bexiga através da uretra. A continuação do ureter até o rim constitui o caminho para a maioria das pielonefrites. A interação entre fatores do hospedeiro, do patógeno e ambientais determina se haverá invasão tecidual e infecção sintomática ou não. Também pode haver contaminação por via hematogênica, porém são muito mais incomuns. Nas citites, o paciente geralmente apresenta: disúria, polaciúria e urgência. Frequentemente, observa-se também a noctúria, hesitação, desconforto suprapúbico e hematúria macroscópica. A dor lombar ou no flanco unilateral é geralmente uma indicação de uma evolução para acometimento do parênquima renal. A febre também é uma indicação de infecção invasiva do rim ou da próstata. A pielonefrite leve pode se manifestar com febre baixa, com ou sem dor lombar inferior ou no ângulo costovertebral. Já a pielonefrite grave pode ter febre alta, tremores, náusea, vômitos e dor no flanco e/ ou lombar. Em geral, os sintomas são de início agudo, e pode não haver sintomas de cistite. A febre é a principal característica que diferencia a cistite da pielonefrite. A pielonefrite pode ser complicada pela formação de abscesso intraparenquimatoso. A prostatite é composta por anormalidades tanto infecciosas quanto não infecciosas da próstata. As infecções podem ser agudas ou crônicas. A prostatite bacteriana aguda manifesta-se na forma de disúria, polaciúria e dor na área prostática, pélvica ou perineal. Em geral, o paciente apresenta febre e calafrios, e são comuns sintomas de obstrução do orifício vesical. Já a prostatite bacteriana crônica se manifesta de forma insidiosa, podendo haver episódios recorrentes de cistite. REFERÊNCIAS: Johnson, R. J. Nefrologia Clínica. Rio de Janeiro – RJ – Brasil: Grupo GEN, 2016. 9788595156272. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595156272/. Acesso em: 09 Apr 2021 LARRY, J.J.; JOSEPH, L. Nefrologia e Distúrbios Acidobásicos de Harrison. Porto Alegre : AMGH, 2014. Grupo A, 2014. 9788580553888. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580553888/. Acesso em: 16 Apr 2021 ANEXOS: ANEXO 1: ANEXO 2: ANEXO 3: ANEXO 4: ANEXO 4: ANEXO 5: ANEXO 6:
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