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Lucas Gustavo Novaes Gonçalves ABRANGÊNCIA DAS AÇÕES DE SAÚDE - AAS Lucas Gustavo Novaes Gonçalves AAS – Problema 2 (abertura) Explicar as estratégias e organização da ESF. Explicar sobre medicina de saúde da família e comunidade (princípios e prática) Elucidar a diferença entre a demanda espontânea e demanda programada Explanar sobre a tríade e os pilares de Donabedian Planejamento de pessoas hipertensas Explicar as estratégias e organização da ESF. A partir da correlação entre prevenção de doenças, vigilância e promoção da saúde e integralidade do cuidado, culmina o modelo de atenção da Estratégia Saúde da Família (ESF) e na sua articulação com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). PORTARIA Nº 2.488, DE 21 DE OUTUBRO DE 2011 Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). ESF é um modelo que procura reorganizar a Atenção Básica de acordo com os preceitos do SUS e com o apoio do NASF, estrutura vinculada à Atenção Básica de Saúde que busca ampliar, aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na ESF, privilegiando a construção de redes de atenção e cuidado, constituindo- se em apoio às equipes de saúde da família e ampliando sua resolutividade e sua capacidade de compartilhar e fazer a coordenação do cuidado. O governo federal, no decorrer dos anos, tem feito tentativas de adequar as normas nacionais da Atenção Básica, definindo parâmetros que estejam adaptados à atual realidade vivida pelo SUS. Com essa finalidade, o Ministério da Saúde, respeitando diversas leis, portarias e decretos presidenciais anteriormente, pactuou na reunião da Comissão Intergestores Tripartite, realizada em setembro de 2011, o lançamento da Portaria MS/GM no. 2.488, de 21 de outubro de 2011, que revisava as diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para a ESF e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). As normas e resoluções das portarias anteriores permanecem em vigor desde que não conflitem com a atual. Além disso, a ESF e outras estratégias organizativas da Atenção Básica devem seguir as diretrizes da Atenção Básica e do SUS, considerando e incluindo as especificidades locorregionais. A definição de território adstrito, tão cara à sua organização, coloca-se como estratégia central, procurando reorganizar o processo de trabalho em saúde mediante operações intersetoriais e ações de promoção, prevenção e atenção à saúde permitindo a gestores, profissionais e usuários do SUS compreender a dinâmica dos lugares e dos sujeitos (individual e coletivo), desvelando as desigualdades sociais e as iniquidades em saúde. A ação na Atenção Básica, principal porta de entrada do sistema de saúde, inicia-se com o ato de acolher, escutar e oferecer resposta resolutiva para a maioria dos problemas de saúde da população, monitorando danos e sofrimentos e responsabilizando-se pela efetividade do cuidado, ainda que este seja ofertado em outros pontos de atenção da rede, garantindo sua integralidade Para isso, é necessário que o trabalho seja realizado em equipe, de forma que os saberes se somem e possam se concretizar em Lucas Gustavo Novaes Gonçalves cuidados efetivos dirigidos a populações de territórios definidos, pelos quais essa equipe assume a responsabilidade sanitária. Nível estadual Compete às Secretarias Estaduais de Saúde definir, em sua estrutura organizacional, qual setor terá a responsabilidade de articular a estratégia de Saúde da Família, cabendo-lhe o papel de interlocutor com o Ministério da Saúde e municípios, bem como as seguintes atribuições: - participar, junto ao Ministério da Saúde, da definição das normas e diretrizes da estratégia de Saúde da Família - planejar, acompanhar e avaliar a implantação da estratégia de Saúde da Família em seu nível de abrangência - negociar com a Comissão Intergestores Bipartite os requisitos específicos e prerrogativas técnicas e financeiras para implantação e ou implementação da estratégia de Saúde da Família - integrar os polos de capacitação, formação e educação permanente para a equipe do PSF no que se refere à elaboração, execução, acompanhamento e avaliação de seus objetivos e ações - articular, com as universidades e instituições de ensino superior, a introdução de inovações curriculares nos cursos de graduação e ou a implantação de cursos de especialização ou outras formas de cursos de pós - graduação lato sensu - participar da rede nacional/regional de intercâmbio de experiências no processo de produção do conhecimento em Saúde da Família - promover intercâmbio de experiências entre os municípios de sua área de abrangência 27 - promover articulações com outras instâncias da esfera estadual, visando garantir a consolidação da estratégia de Saúde da Família - identificar recursos técnico-científicos para o processo de controle e avaliação de resultados e de impacto das ações desenvolvidas pelas equipes de Saúde da Família - contribuir para o incremento da gestão plena da atenção básica nos municípios, visando a reorientação do modelo assistencial - identificar e estruturar parcerias com organizações governamentais e não-governamentais - prestar assessoria técnica aos municípios para a implantação e desenvolvimento da estratégia de Saúde da Família Nível municipal Como espaço de execução da estratégia de Saúde da Família, esse nível define a melhor adequação dos meios e condições operacionais, cabendo-lhe as seguintes competências: - elaborar o projeto de implantação da estratégia de Saúde da Família para a reorientação das unidades básicas de saúde - eleger áreas prioritárias para a implantação do projeto - submeter o projeto à aprovação do Conselho Municipal de Saúde - encaminhar o projeto para parecer da Secretaria Estadual de Saúde e Comissão Intergestores Bipartite - selecionar e contratar os profissionais que comporão a equipe de Saúde da Família - promover, com apoio da Secretaria Estadual de Saúde, a capacitação das equipes de saúde - implantar o sistema de informações e avaliação da estratégia de Saúde da Família - acompanhar e avaliar sistematicamente o desempenho das unidades de Saúde da Família - inserir o financiamento das ações das unidades de Saúde da Família na programação ambulatorial do município, 28 definindo a contrapartida municipal - garantir a infra- estrutura/funcionamento da rede básica necessária ao pleno desenvolvimento das ações da estratégia de Saúde da Família - definir os serviços responsáveis pela referência e contrareferência das unidades de Saúde da Família. Unidade Básica de Saúde deve possuir: consultórios médicos e de enfermagem e, caso possuam profissionais de saúde bucal, consultório odontológico; salas de acolhimento, procedimento, vacina, inalação, coleta de material biológico, curativo, observação, administração e gerência, além de áreas de recepção, arquivos, dispensação e armazenagem de medicamentos. Aquelas com ESF recomenda-se, no máximo, 12 mil habitantes, em que cada Lucas Gustavo Novaes Gonçalves equipe deve ser responsável por, no máximo, 4 mil pessoas, sendo a média recomendada de 3 mil pessoas ou menos quanto maior o grau de vulnerabilidade Cada equipe deve ser constituída por no mínimo, médico generalista ou especialista em saúde da família ou médico de família e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde, podendo acrescentar a esta composição, como parte da equipe multiprofissional, os profissionais de saúde bucal. Estes devem estar vinculados a uma equipe de saúde da família, mantendo responsabilidadesanitária pela mesma população e território que a ESF. Cada um desses profissionais, exceção feita ao médico, deve cadastrar-se em apenas uma equipe, com carga horária de 40 horas semanais, sendo 32 horas dedicadas a atividades na equipe de saúde da família, as atribuições de todos os profissionais, do ponto de vista organizacional: participar do processo de territorialização, identificando situações de risco e vulnerabilidade, realizando busca ativa e notificando doenças e agravos de notificação compulsória; cadastrar famílias e indivíduos, garantindo a qualidade dos dados coletados e a fidedignidade do diagnóstico de saúde do grupo populacional da área adstrita de maneira interdisciplinar, com reuniões sistemáticas, organizadas de forma compartilhada, para planejamento e avaliação das ações. Associadas a estas, outras ações devem ser desenvolvidas, a fim de promover atenção integral, contínua e organizada da população adstrita. O acolhimento dos usuários deve garantir escuta qualificada e encaminhamentos resolutivos para que o vínculo, uma das peças-chave da ESF, ocorra de forma efetiva. Responsabilidade dos profissionais das equipes da Estratégia Saúde da Família: ao enfermeiro cabe atender a saúde dos indivíduos e famílias cadastradas, realizando consulta de enfermagem, procedimentos, atividades em grupo e, conforme protocolos, solicitar exames complementares, prescrever medicações e gerenciar insumos e encaminhar usuários a outros serviços. Também, atividades de educação permanente. O médico é um profissional que se ocupa da saúde humana, promovendo saúde, prevenindo, diagnosticando e tratando doenças, com competência e resolutividade, responsabilizando-se pelo acompanhamento do plano terapêutico do usuário. Para que possa atender à demanda dos indivíduos sob sua responsabilidade, deve realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea, de forma compartilhada, consultas clínicas e pequenos procedimentos cirúrgicos, quando indicado na Unidade de Saúde, no domicílio ou em espaços comunitários, responsabilizando- se pela internação hospitalar ou domiciliar e pelo acompanhamento do usuário. Além disso, o médico deve, em um trabalho conjunto com o enfermeiro, realizar e fazer parte das atividades de educação permanente dos membros da equipe e participar do gerenciamento dos insumos. Agente comunitário de saúde (ACS) exerce o papel de “elo” entre a equipe e a comunidade, devendo residir na área de atuação da equipe, vivenciando o cotidiano das famílias/individuo/comunidade com mais intensidade em relação aos outros profissionais. É capacitado para reunir informações de saúde sobre a comunidade e deve ter condição de dedicar oito horas por dia ao seu trabalho. Realiza visitas domiciliares na área adstrita, produzindo dados capazes de dimensionar os principais problemas de saúde de sua comunidade. Estudos identificam que o ACS, no seu dia a dia, apresenta dificuldade de lidar com o tempo, o excesso de trabalho, a preservação do espaço familiar, o tempo de descanso, a desqualificação do seu trabalho e o cansaço físico. O ACS também é responsável por cobrir toda a Lucas Gustavo Novaes Gonçalves população cadastrada, com um máximo de 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de saúde da família. Ao técnico e auxiliar de enfermagem cabe, sob a supervisão do enfermeiro, realizar procedimentos regulamentados no exercício de sua profissão tanto na Unidade de Saúde quanto em domicílio e outros espaços da comunidade, educação em saúde e educação permanente. Cirurgião-dentista é o profissional de saúde capacitado na área de odontologia, devendo desenvolver com os demais membros da equipe atividades referentes à saúde bucal, integrando ações de saúde de forma multidisciplinar. A ele cabe, em ação conjunta com o técnico em saúde bucal (TSB), definir o perfil epidemiológico da população para o planejamento e a programação em saúde bucal, a fim de oferecer atenção individual e atenção coletiva voltadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais, de forma integral e resolutiva. Sempre que necessário, deve realizar os procedimentos clínicos, incluindo atendimento das urgências, pequenas cirurgias ambulatoriais e procedimentos relacionados com a fase clínica da instalação de próteses dentárias elementares, além de realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea e ao controle de insumos. Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. As situações de saúde e adoecimento nesse nosso país continental são díspares e, assim, a par das doenças definidas pelo perfil epidemiológico da população e outras que, frente à globalização, emergem e reemergem fazendo com que a população apresente uma pluralidade de agravos à saúde, surgem os problemas de violência, de saúde mental, pobreza, uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, acidentes externos, entre outros. Essa realidade tão complexa necessita de um olhar multifacetado, em que diferentes profissionais possam apoiar a inserção da Estratégia Saúde da Família na rede de serviços, garantindo a continuidade e a integralidade da atenção. Dentro desse escopo foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF, compostos por profissionais de diferentes áreas de conhecimento que atuam de maneira integrada com as Equipes de Saúde da Família, com as equipes de Atenção Básica para populações específicas e com o Programa Academia da Saúde, sendo o objetivo deste último a implantação de polos para a orientação de práticas corporais e atividade física e de lazer e modos de vida saudável É importante lembrar que o NASF, apesar de estar vinculado à Atenção Básica, não se constitui em porta de entrada do sistema para os usuários, e sua função é oferecer apoio ao trabalho das Equipes de Saúde da Família. Ele, à semelhança desta, leva em conta a territorialização, a educação permanente em saúde, a participação social, a promoção da saúde e a integralidade O NASF está organizado em duas modalidades: NASF 1 e NASF 2, e a composição de cada uma delas deverá ser definida pelos gestores municipais, a partir dos dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas. Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista/Obstetra; Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico Internista (clínica médica); Médico do Trabalho; Médico Veterinário; profissional com formação em arte e educação (arte-educador); e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós- graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente em uma dessas áreas. É importante observar que não há diferença entre o NASF 1 e 2 quanto aos profissionais que os compõem, diferindo Lucas Gustavo Novaes Gonçalves apenas na carga horária semanal e no número de equipes de Saúde da Família e/ou equipes de Atenção Básica para populações específicas. Lucas Gustavo Novaes Gonçalves Explicar sobre medicina de saúde da família e comunidade (princípios e prática) A MFC é definida como a especialidade médica que presta assistência à saúde de forma continuada, integral e abrangente para as pessoas, suas famílias e a comunidade. O médico de família e comunidade age como defensor dos direitos, dos interesses e das necessidades das pessoas que atende e da população pela qual é responsável. Isso exige aspectos característicos em sua prática que o diferenciam dos demais especialistas no que se refere à relação clínica e à abordagem diagnóstica, que facilitam o desenvolvimento e fortalecem o vínculo com as pessoas. A primeira característica refere-se ao foco na prática, que, para o médico de famíliae comunidade, é na pessoa em sua integralidade, e não apenas na doença que ela traz. Soma-se a isso o atendimento às pessoas em vários cenários, incluindo o domicílio. A segunda característica está relacionada com a continuidade dos cuidados que o médico de família e comunidade presta às pessoas ao longo da vida, que são sustentados ao longo do tempo mediante repetidos contatos, caracterizando o que se chama de longitudinalidade, levando à construção de um conhecimento particular sobre as pessoas, sem deixar de ver os aspectos de seu universo. A terceira e a quarta características se relacionam com o estilo diagnóstico e a classificação diagnóstica dos problemas de saúde, pois a demanda do médico de família e comunidade apresenta-se em seus formatos iniciais por meio de queixas ou problemas de saúde na maioria das vezes inespecíficos, caracterizando sua atuação pela geração e pelo teste de hipóteses diagnóstica, classificando-as de modo pouco específico, o que faz a pessoa necessitar de repetidos contatos. A quinta característica tem relação com o momento da história natural das doenças, em que o médico de família entra em contato com as pessoas, vendo os problemas em seu início e ainda pouco definidos, o que exige raciocínio clínico apurado e estratégias de abordagem diferentes dos demais especialistas, que em geral recebem as pessoas com quadros mais definidos ou mesmo já diagnosticadas. O médico de família e comunidade deve dominar tais conceitos, ter amplo conhecimento médico e ser bem treinado, para tornar-se uma liderança na organização do sistema de saúde. Essa atuação exige experiência, e a experiência exige ações governadas por quatro princípios fundamentais, a serem incorporados à atuação do médico de família e comunidade Princípios são igualmente importantes na formação e na prática do médico de família e comunidade, servindo de base para o desenvolvimento de outras características de atuação mais específicas. PRINCÍPIO I – O médico de família e comunidade é um clínico qualificado. O médico de família e comunidade deve ser competente no método clínico centrado na pessoa ao receber aqueles que buscam ajuda, devendo investigar suas queixas de maneira integrada, sensível e apropriada, demonstrando empatia e harmonizando a relação clínica. É essencial ser um especialista em conhecer profundamente os problemas de saúde que mais frequentemente acometem as pessoas no cenário da APS. As pessoas sentem coisas e experimentam sensações e percepções denominadas queixas; quando elas fazem seu relato, é realizada uma abstração, traduzida para sinais e sintomas, os quais, agrupados, permitem que se chegue ao diagnóstico. Na APS, as queixas traduzidas das pessoas podem não caracterizar imediatamente um diagnóstico ou preencher os critérios de urgência e emergência dos protocolos da medicina tradicional, centrada na doença. Nessa área, a pessoa trazendo suas Lucas Gustavo Novaes Gonçalves queixas é quem determina sua urgência em ser atendida, cabendo ao médico e à equipe avaliar e dar uma resposta. O médico de família e comunidade precisa desenvolver uma compreensão acerca da experiência da pessoa sobre a doença, particularmente suas ideias, sentimentos e expectativas sobre o que está acontecendo com ela, e identificar que pode haver impacto da doença na sua vida pessoal, familiar, profissional e social. Procurar entender os reais motivos da vinda das pessoas à consulta, utilizando a anamnese como ferramenta tecnológica que permite obter a maioria das informações necessárias ao manejo do caso, é atribuição do médico de família e comunidade. PRINCÍPIO II – A atuação do médico de família e comunidade é influenciada pela comunidade. A prática do médico de família e comunidade é influenciada significativamente por fatores da comunidade em que atua, o que determina que deva ser capaz de responder às necessidades das pessoas, corresponder às mudanças nessas necessidades, adaptando-se rapidamente às alterações na situação de saúde, e referenciá-las para os recursos apropriados às suas condições de saúde. As condições de saúde da população de abrangência (tais como problemas de saúde mais frequentes, condições de meio ambiente ou contexto do local de trabalho) influenciam a demanda que procura o médico de família e comunidade. Estudos realizados em vários locais do mundo: a variação detectada é decorrente de aspectos ambientais, culturais e de algumas doenças endêmicas locais. Portanto, o médico de família e comunidade deve conhecer bem a ecologia da saúde de sua população, dominando com habilidade os problemas mais frequentes. O médico de família e comunidade deve estar capacitado para a abordagem de problemas de saúde mental, os quais, na APS, costumam assumir uma apresentação caracterizada por sintomas somáticos ou sem explicação médica, além das patologias frequentes, como ansiedade, depressão, neuroses e esquizofrenia, perfazendo grande parte de sua demanda. O médico de família e comunidade trabalha na construção da rede social mediante participação intersetorial como forma de promover cidadania. Para tanto, deve conhecer o território no qual está inserido, os recursos e as instituições da comunidade, bem como saber utilizar as referências do sistema de saúde e os benefícios sociais. PRINCÍPIO III – O médico de família e comunidade é o recurso de uma população definida. O médico da família e comunidade é o acesso das pessoas ao sistema de saúde, devendo ter uma população adequada, sob seus cuidados, da qual possa “dar conta”. A relação clínica que se busca na medicina é de que se estabeleça um relacionamento entre pessoas, e isso envolve aspectos da relação interpessoal em que a empatia, a harmonia e a confiança são essenciais para que o médico de família alcance resultados em suas intervenções mediante as situações de doença e prevenção. A forma como o médico de família e comunidade se organiza para cuidar de sua população requer habilidade para avaliar novas informações e sua relevância para sua atuação no dia a dia, conhecimento e capacidade para examinar a eficácia do cuidado prestado às pessoas, aptidão para planejar e programar políticas que melhorem a saúde das pessoas e responsabilidade ao recomendar e defender políticas públicas de promoção da saúde para as pessoas e a comunidade; exige ainda condições para aceitar sua responsabilidade no sistema de saúde no uso sensato dos recursos, considerando as necessidades individuais e coletivas. Sendo recurso de uma população delimitada, o médico de família e comunidade deve assumir sua responsabilidade sobre as pessoas que dela fazem parte. Ao referenciá-las para outros especialistas, deve acompanhar o Lucas Gustavo Novaes Gonçalves caso e intervir em prol do paciente quando julgar necessário e adequado. PRINCÍPIO IV – A relação médico- pessoa é fundamental para o desempenho do médico de família e comunidade. A relação do médico de família com cada pessoa sob seus cuidados deve ser caraterizada pela compaixão, compreensão e paciência, associada a uma elevada honestidade intelectual. O profissional deve saber abordar todos os problemas trazidos com a profundidade necessária, além de saber utilizar o humor, sendo capaz de transmitir à pessoa doente o que for fundamental para a sua recuperação. O médico de família e comunidade possui entendimento e apreciação da condição humana, especialmente da experiência da pessoa doente, colocando-a em primeiro lugar, e tendo uma relação clínica utilizando o método clínico centrado na pessoa. A visita domiciliar e a abordagem familiar são recursos de intervenção de que poucas especialidades ou disciplinas dispõem. Atender uma pessoa em sua casa proporciona informações diagnósticas, possibilita intervenções terapêuticas e fortalece o vínculo da relação clínica de uma formaespecial e definitiva. É uma experiência única. Utilizar a família como fonte de informações ou recurso de intervenção é outro aspecto de excepcional resultado. Lucas Gustavo Novaes Gonçalves Elucidar a diferença entre a demanda espontânea e demanda programada Chama-se de demanda espontânea aquele que comparece a unidade inesperadamente, seja para problemas agudos ou por motivos que o próprio paciente julgue como necessidade de saúde. E ela deve ser acolhida na atenção básica por que: 1) o usuário apresenta queixas que devem ser acolhidas e problematizadas junto ao paciente, 2) a atenção básica consegue absorver e ser resolutiva em grande parte dos problemas de saúde, 3) para criação e fortalecimento de vínculos e 4) cria-se oportunidade para invenção de novas estratégias de cuidado e de reorganização do serviço. Demanda programada, a Estratégia Saúde da Família tem como um dos principais desafios o desenvolvimento do processo de trabalho embasado em planejamento de ações. Foi implantado com o intuito de reorganizar o acesso ao SUS e dar direcionamento as demandas da população adstrita, além de ter como um de seus eixos a promoção de saúde e prevenção de agravos, por meio da longitudinalidade. Para isso, as agendas dos profissionais são organizadas de forma programada com períodos específicos para procedimentos e atividades. Lucas Gustavo Novaes Gonçalves Explanar sobre a tríade e os pilares de Donabedian Avedis Donabedian descreve pela primeira vez os três elementos do modelo de Donabedian em seu artigo 1966, "Avaliação da qualidade dos cuidados médicos." Como um prefácio a sua análise das metodologias utilizadas na pesquisa de serviços de saúde, Donabedian identificou as três dimensões que podem ser utilizados para avaliar qualidade dos cuidados (estrutura, processo e resultado), que mais tarde se tornaria as divisões principais do Modelo Donabedian. Assim, Donabedian criou a Tríade Donabedian ou modelo de Donabedian, o qual é um modelo conceitual que fornece um enquadramento para examinar os serviços de saúde e avaliação de qualidade dos cuidados de saúde. De acordo com o modelo, as informações sobre a qualidade dos cuidados podem ser extraídas três categorias: "estrutura", "processo" e "resultados" DIMENSÕES DO CUIDADO O modelo é mais frequentemente representado por uma cadeia de três caixas contendo estrutura, processo e resultado conectados por setas unidirecionais nessa ordem. Estas caixas representam três tipos de informações que podem ser coletadas, a fim de fazer inferências sobre a qualidade dos cuidados em um determinado sistema: Estrutura: Inclui todos os fatores que afetam o contexto em que os cuidados são prestados. Isso inclui a instalação física, equipamentos e recursos humanos, bem como as características organizacionais, como medidas que se referem à organização administrativa da atenção médica; descrição das características das instalações, da equipe médica disponível, fundamentalmente em relação à sua adequação com as normas vigentes; perfil dos profissionais empregados, seu tipo, preparação e experiência. Na estruturação também está incluso as amenidades, que aumentam o bem-estar de profissionais e usuários e, por essa razão, influenciam na qualidade dos serviços prestados, como por exemplo a decoração dos ambientes de trabalho, a refrigeração e o conforto das instalações. Processo: É a soma de todas as ações que compõem saúde. Estes geralmente incluem diagnóstico, tratamento, cuidados preventivos. Esse tipo de avaliação está orientado, principalmente, para a análise da competência médica no tratamento dos problemas de saúde, isto é, o que é feito para o paciente com respeito à sua doença ou complicação particular. A avaliação do processo compara os procedimentos empregados com os estabelecimentos como normas pelos próprios profissionais de saúde. Geralmente os critérios são estabelecidos pelo estudo da eficácia de práticas médicas rotineiras. Informações sobre o processo também podem ser obtidos a partir de registros médicos, entrevistas com pacientes e profissionais, ou observações diretas de visitas de saúde. Resultado: Contém todos os efeitos de cuidados de saúde sobre os pacientes ou populações, incluindo alterações ao estado de saúde (desejáveis ou indesejáveis), comportamento, ou conhecimento, bem como a satisfação do paciente e saúde relacionados com qualidade de vida. Os resultados são muitas vezes vistos como os mais importantes indicadores de qualidade, porque a melhoria do estado de saúde do paciente é o principal objetivo dos cuidados de saúde. APLICAÇÃO Além de analisar a qualidade dentro de uma unidade de cuidados de saúde, o modelo de Donabedian é aplicável à estrutura e processo para o tratamento de certas doenças e condições com o objetivo de melhorar a qualidade da gestão de doenças crônicas. O modelo de Donabedian também pode ser aplicado a um sistema de saúde amplo para medir a qualidade global e alinhar trabalho de melhoria através de um hospital, prática de Lucas Gustavo Novaes Gonçalves grupo ou o sistema de saúde integrado grande para melhorar a qualidade e os resultados para uma população. Para Donabedian (1990) a qualidade pode ser vista como um conceito abrangente e complexo, formado por sete pilares: 1. Eficácia 2. Efetividade 3. Eficiência Vigilância sanitária 4. Acessibilidade 5. Legitimidade 6. Otimização 7. Aceitabilidade (Satisfação do usuário). Também Vuori considerava a qualidade como algo complexo e a subdividiu em oito componentes. Destes, cinco coincidiam com os pilares de Donabedian: 1. Eficácia; 2. Efetividade; 3. Eficiência; 4. Acessibilidade; 5. Aceitabilidade. Os três componentes adicionais introduzidos eram: 1. Adequação (cobertura); 2. Qualidade técnico-científica; 3. Equidade A qualidade técnico-científica corresponderia à incorporação do conhecimento científico vigente pela prática cotidiana. Já a adequação propriamente dita refere-se à relação entre necessidades e oferta de serviços, e, nesse sentido, aproximasse da ideia de cobertura, como a proporção da população-alvo que se beneficia de um programa. Já a equidade, conceito complexo que não cabe desenvolver completamente no escopo desse texto, corresponderia à justiça na distribuição social das ações. Delimitando o foco da avaliação da qualidade Diante da complexidade do conceito de avaliação, qualquer iniciativa relacionada com a sua operacionalização requer a delimitação do seu foco. Numa primeira aproximação há que definir se o objeto da avaliação são as práticas da vigilância sanitária (ações de fiscalização sobre a produção, comercialização e transporte de produtos, medicamentos e alimentos) ou se são os “produtos, medicamentos e alimentos”. Ambas as Vigilância sanitária interessam à organização da vigilância, porém, nem sempre podem ser objeto concomitante de avaliação. No exemplo dado anteriormente, a fiscalização dos alimentos pode ter sido de qualidade por ter utilizado as normas e o conhecimento mais atual. Contudo, os alimentos fiscalizados podem não ter sido considerados como de qualidade por estarem armazenados em temperaturas inadequadas, por exemplo. Em seguida, é necessário definir qual o componente da qualidade que se irá avaliar, se o técnico, se a dimensão interpessoal ou se alguns dos sete pilares acima mencionados. Lucas Gustavo Novaes Gonçalves Planejamento de pessoas hipertensas HIPERDIA - Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos. O Hiperdia destina-se ao cadastramento e acompanhamento de portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus atendidos na rede ambulatorial do Sistema Único de Saúde – SUS, permitindo gerar informação para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentosde forma regular e sistemática a todos os pacientes cadastrados. O sistema envia dados para o Cartão Nacional de Saúde, funcionalidade que garante a identificação única do usuário do Sistema Único de Saúde – SUS. Benefícios • Orienta os gestores públicos na adoção de estratégias de intervenção; • Permite conhecer o perfil epidemiológico da hipertensão arterial e do diabetes mellitus na população. Funcionalidades • Cadastra e acompanha a situação dos portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus em todo o país; • Gera informações fundamentais para os gerentes locais, gestores das secretarias e Ministério da Saúde; • Disponibiliza informações de acesso público com exceção da identificação do portador; • Envia dados ao CadSUS (O Cadastramento Único de Saúde – ou CadSUS, como é conhecido popularmente – se trata de uma ferramenta online desenvolvida especialmente para que os profissionais do Sistema Único de Saúde tenham conhecimento e controle de tudo o que está acontecendo e que é relacionado ao SUS). Gestor Federal • Coordenação do Plano Nacional de Reorganização da Atenção a HA e a DM • Acompanhamento dos portadores de HA E DM cadastrados por municípios, através do sistema HiperDia • Estabelecimento de rotinas que garantam o fornecimento continuo dos medicamentos padronizados a todos os pacientes cadastrados.
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