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Bueno/Cap 13.pdf 147 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção As populações de plantas alógamas são constituídas por indivíduos genotipicamente diferentes entre si e que em geral apresentam alto nível de heterozigose. Uma planta diplóide heterozigota para n genes pode produzir 2n tipos de gametas, com diferentes combinações de alelos parentais. Assim, nessas populações ocorrem os mais variados tipos de genótipos. Uma população alógama é caracterizada pelo somatório dos seus genes em formas alélicas alternativas, ou conjunto gênico. Conforme Mettler e Gregg (1973), o conjunto gênico constitui toda a informação genética dos indivíduos que compõem a população. A combinação dos alelos dos diferentes genes é responsável pelo elevadíssimo número de genótipos que podem ocorrer na população. Porém, o comportamento médio da população em que ocorrem intercruzamentos ao acaso é mais ou menos estável ou constante ao longo das gerações, desde que não atuem forças modificadoras, como seleção, migração, mutação, etc. As proporções dos diferentes alelos de um loco que ocorrem no conjunto gênico constituem as freqüências alélicas. O melhorista sempre vai procurar elevar a freqüência de alelos favoráveis numa população com o objetivo de conseguir genótipos de melhor desempenho agronômico. 13.1. EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG A atual Genética de Populações baseia-se numa proposição deduzida em 1908, independentemente, por G. H. Hardy, na Inglaterra, e W. Weinberg, na Alemanha. A base dessa proposição demonstra que em uma população grande, sob panmixia, ou seja, com intercruzamentos ao acaso, e na ausência de forças modificadoras, as freqüências de alelos e de genótipos se mantêm constantes, de geração para geração, sendo as freqüências de genótipos determinadas pelas freqüências alélicas. Nessas condições a população encontra-se em equilíbrio. 148 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Para observar melhor como isso acontece pode-se imaginar uma população de intercruzamento ao acaso, em que o alelo dominante A tem um a freqüência p e o alelo recessivo a tenha a freqüência q. Nesse caso, as freqüências dos genótipos AA, Aa e aa poderiam ser representadas por P, H e Q, respectivamente. Tem-se ainda que p + q = 1 e P + H + Q = 1. Se os indivíduos AA possuem dois alelos A e os indivíduos Aa um alelo A, o total de A na população é, portanto, 2P + H, ou P + 1/2H. Identicamente, o total de a será Q + 1/2H. Assim, as relações entre as freqüências dos alelos e dos genótipos serão: p = P + 1/2 H q = Q + 1/2 H Imaginando, por exemplo, que a amostra de uma população tem 300 indivíduos AA, 600 Aa e 100 aa, ou freqüência genotípica de 0,3 AA : 0,6 Aa : 0,1 aa, as freqüências dos alelos serão: p = 0,3 + 1/2 (0,6) = 0,6 q = 0,1 + 1/2 (0,6) = 0,4 Pode verificar-se se a população está em equilíbrio observando as freqüências alélicas p e q e as genotípicas P, H e Q em relação aos vários cruzamentos possíveis, quando esses ocorrem ao acaso, como apresentadas no Quadro 13.1. QUADRO 13.1. Cruzamentos ao acaso entre progenitores que apresentam a freqüên- cia de P genótipos AA, H genótipos Aa e Q genótipos aa. Progênies e freqüências são apresentadas no Quadro 13.2. Genótipos e freqüências do progenitor masculino AA Aa aa P H Q Genótipos e fre- AA P P 2 PH PQ qüências do pro- Aa H PH H 2 HQ genitor feminino aa Q PQ HQ Q 2 149 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção QUADRO 13.2. Freqüências de progênies de cruzamentos em uma população de intercruzamentos ao acaso, na qual as proporções zigóticas são P AA : H Aa : Q aa. Somando-se as freqüências totais dos três diferentes genótipos da progênie, como apresentadas no Quadro 13.1, tem-se: (P + 21 H) 2 AA + 2 (P + 21 H) (Q + 21 H) Aa + (Q + 21 H)2 aa = 1 Sendo P + 21 H = p e Q + 21 H = q, a expressão acima pode ser transformada em: p2 AA + 2pq Aa + q2 aa = 1 Esta última expressão representa a Lei do Equilíbrio de Hardy-Weinberg. O mesmo resultado poderia ser obtido pela expansão do binômio (p + q)2 = p2 + 2pq + q2. Considera-se que a freqüência total de ambos os alelos (p + q) é igual a 1. Portanto, (p + q)2 = p2 + 2pq + q2 = soma das freqüências genotípicas = 1. Constata-se assim que para quaisquer freqüências alélicas, considerando um único loco gênico, com intercruzamentos ao acaso entre os genótipos e na ausência de seleção, migração ou mutação, em apenas uma geração as freqüências genotípicas estabilizam-se. Estabelecido o equilíbrio, este se mantém até que as freqüências alélicas sejam alteradas por uma das forças modificadoras, como seleção, ausência de panmixia, migração, mutação e efeito de amostragem. A mutação é importante apenas sob o ponto de vista evolutivo, pois só altera as freqüências alélicas significativamente quando ocorre de forma recorrente, durante centenas ou milhares de gerações. Cruzamento Genótipos e suas freqüências na progênie Tipo Freq. AA Aa aa AA x AA P2 P2 AA x Aa 2PH PH PH AA x aa 2PQ 2PQ Aa x Aa H2 4 1 H2 41 H 2 4 1 H2 Aa x aa 2HQ HQ HQ aa x aa Q2 Q2 1,00 (P+ 21 H) 2 2 (P+ 21 H) (Q 21 H) (Q+ 21 H) 2 150 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Numa população grande com intercruzamento ao acaso, em que todos os genótipos são igualmente viáveis, as freqüências de alelos dependem das freqüências alélicas da geração anterior e não das freqüências genotípicas. Estas, por sua vez, dependem unicamente da freqüência alélica. Voltando ao exemplo dado em que p(A) = 0,60 e q(a) = 0,40, verifica-se que a composição da geração seguinte será 0,36 AA + 0,48 Aa + 0,16 aa. A geração anterior apresentava 0,30 AA + 0,60 Aa + 0,10 aa. Portanto, não estava em equilíbrio. 13.2. MELHORAMENTO DE POPULAÇÕES O melhoramento de populações de plantas alógamas consiste no aumento da freqüência de alelos favoráveis. É conseguido através de diferentes métodos de seleção, constituindo um processo contínuo e progressivo. Na prática procuram obter-se populações com proporção de alelos favoráveis cada vez maiores, enquanto se sucedem os ciclos seletivos. À medida em que as freqüências dos alelos favoráveis tornam-se maiores os ganhos genéticos tendem a reduzir-se. Nessas condições podem ocorrer, embora raramente, fixações alélicas, motivadas por oscilações de freqüências sob condições de pequeno tamanho populacional. Vários fatores influenciam a taxa de elevação das freqüências alélicas, como a variabilidade genética da população original, a precisão e a técnica com que os genótipos são avaliados, a influência do ambiente, efeito da interação com o ambiente, ligações gênicas, efeitos pleiotrópicos, correlações fenotípicas e genotípicas. O melhoramento normalmente provoca um estreitamento da base genética da população. Porém, isso não chega a ser um fator limitante ao processo, pois a não fixação de alelos preserva alguma variabilidade, enquanto quebras de blocos gênicos e recombinações a ampliam. Assim, uma população melhorada será constituída por vários genótipos e apresentará maior estabilidade fenotípica. Alguns dos objetivos gerais que devem ser considerados no melhoramento de populações são os seguintes: a) Comparar os diferentes métodos e técnicas de seleção; b) Conhecer a estrutura e composição do material básico, em termos de seus parâmetros genéticos e fenotípicos, visando maximizar os ganhos que possam advir pela utilização de qualquer método de melhoramento; 151 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção c) Obter populações superiores em relação a um ou mais caracteres de interesse agronômico. Tais populações podem ser destinadas ao uso per se ou como fonte de linhagens para obtenção de híbridos superiores. 13.3. MÉTODOS DE SELEÇÃO São utilizadas diversas modalidades de seleção, caracterizadas pelo grau de controle parental dos progenitores selecionados, existência ou não de avaliações de progênies, e controle ambiental. Utilizou-se o milho para exemplificar os métodos descritos a seguir, porém estes podem ser aplicados a todas as espécies alógamas: 13.3.1. Seleção massal A seleção massal ou seleção massal simples constitui-se no método em que o controle de ambiente é quase insignificante e o controle parental ocorre apenas do lado materno. Consiste na seleção das melhores plantas em relação ao caráter desejado, no momento da colheita, e, a utilização de suas sementes para a realização do plantio seguinte. Assim, tem-se o controle apenas do progenitor feminino. Como não é feito o controle de ambiente a variação fenotípica entre as plantas pode estar relacionada a variações na fertilidade do solo. A seleção massal foi praticada durante centenas ou milhares de anos pelos povos nativos da América, talvez de forma inconsciente, tendo contribuído para originar a grande variabilidade entre as raças e tipos de milho. Foi importante para que a espécie Zea mays L. atingisse o elevado grau de domesticação e produtividade apresentados hoje em dia, com um aumento de até 15 vezes no número de grãos produzidos em cada espiga. A utilização racional da seleção massal começou nos Estados Unidos, no final do Século XIX, mas em geral os resultados não foram muito expressivos. Certamente vários fatores contribuíram para o relativo insucesso da seleção massal, destacando-se os seguintes: a) Dificuldade de identificar bons genótipos pelo aspecto fenotípico de plantas individuais; b) Seleção muito rigorosa em populações pequenas e amostragem deficiente, provocando perda de alelos importantes e endogamia muito rápida, com a conseqüente perda de vigor; 152 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos c) Contaminação com pólen de plantas estranhas de populações adjacentes; d) Interação da cultivar obtida com o local onde a seleção foi realizada, determinando baixa estabilidade fenotípica. Além disso, o grande número de gerações com seleção massal contribuiu para que as atuais cultivares de milho apresentassem pequena variabilidade genética aditiva, como sugere Hull (1945, 1952). Todavia, Sprague e Tatum (1942) já haviam ressaltado a importância dessa variabilidade e vários trabalhos mais recentes demonstram que a maior proporção da variação hereditária das cultivares modernas de milho é constituída pela variância aditiva, conforme Gardner (1963). Assim, a seleção massal pode ser eficaz em determinadas situações. Seleção massal estratificada Um esquema baseado no controle parcial da heterogeneidade do solo, proposto por Gardner em 1961, pode tornar a seleção massal mais eficiente. Consiste em dividir a área em estratos, sendo a seleção efetuada dentro de cada um destes, independentemente dos demais. Para o milho, usando-se sementes da variedade que se quer melhorar semeia-se um lote isolado, no espaçamento convencional, em linhas distanciadas de 1m, com 5 sementes por metro linear, por exemplo. Para garantir um estande suficiente podem ser colocadas 10 sementes/metro e depois realizar-se o desbaste. Na colheita, o campo é dividido em estratos semelhantes a parcelas, constituídos por uma fileira de 10 metros ou duas fileiras de 5 metros, perfazendo 10 metros quadrados de área, nos quais a colheita se faz separadamente. A intensidade de seleção fica a critério do melhorista, podendo situar-se entre 5 a 20%. Para uma intensidade de seleção de 10% selecionam-se três ou quatro plantas superiores e que estejam em competição com as demais, em cada estrato. Sementes obtidas de espigas colhidas dessas plantas serão utilizadas para o plantio seguinte. Para garantir uma amostragem representativa toma-se o mesmo número de sementes de cada espiga. O ciclo seguinte é conduzido de modo idêntico. A seleção massal estratificada apresenta vantagens e também limitações. Algumas das vantagens, são: a) Execução relativamente fácil; b) Tamanho efetivo populacional grande, isto é, o número de plantas que contribui para formar a população na geração seguinte normalmente representa bem a variabilidade genética existente; 153 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção c) Pode ser aplicada intensidade de seleção forte, de até 1%, possibilitando maiores ganhos genéticos; d) O material sob seleção é avaliado todos os anos, o que reduz problemas de interação com anos; e) Um ciclo seletivo é completado a cada ano. As limitações relacionam-se às seguintes questões: a) Não se fazem testes de progênies. Assim não se sabe se as plantas selecionadas vão realmente produzir descendentes superiores; b) Como o material é avaliado em um único local há tendência de adaptação a áreas específicas; c) Plantas altas, mais produtivas, tendem a inibir a manifestação do potencial de plantas baixas, quando em condições de competitividade entre si. Visando minimizar esses problemas, algumas modificações foram sugeridas. A mais eficiente delas é a seleção massal estratificada geneticamente. Seleção massal estratificada geneticamente O processo visa controlar o efeito da heterogeneidade do solo através do plantio intercalado de plantas de um genótipo constante, como um híbrido simples, ou até mesmo um triplo ou duplo. Esse é plantado intercaladamente ao material a ser selecionado, de modo que após duas plantas da população tenha-se uma do material de genótipo constante, apresentando a seguinte disposição no campo: Nesse esquema, P representa a planta da população e C representa a planta de genótipo constante. Um estrato é constituído por duas plantas da população e uma de genótipo constante. A seleção é feita com base nas produções das plantas da população ajustadas em relação a esta. Por exemplo, se num estrato a planta do híbrido produziu 200g de grãos e as adjacentes 220g e 190g, então essas plantas produziram 110% e 95%, respectivamente, em relação ao híbrido. Em outro estrato a planta híbrida pode ter produzido 150g e, as adjacentes, 170g e 160g. Assim, a produção relativa de cada uma será 133% e 106%, respectivamente. A seleção é feita em função desses valores relativos. P C P P C P P C P P C P P C P 154 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Para evitar a contaminação das plantas da população com pólen produzido pelos híbridos pode-se tomar uma das seguintes medidas: a) Usar uma população em homozigose recessiva para um loco gênico que controle uma característica do endosperma da semente, isto é, que apresente efeito de xenia; b) Empregar plantas de genótipo constante que sejam macho-estéreis; c) Despendoar as plantas de genótipo constante no início do florescimento. 13.3.2. Seleção com testes de progênies Conforme Allard (1971) o teste de progênie consiste na avaliação do genótipo dos progenitores com base no fenótipo de seus descendentes. Tem sido adotado tradicionalmente para avaliar o genótipo de animais e de plantas perenes ou de propagação vegetativa. A seleção com teste de progênie é mais eficiente que a seleção massal porque possibilita uma avaliação mais precisa das plantas selecionadas, pois as progênies são avaliadas em ensaios com repetições, resultando maior precisão das médias. Além disso, a possibilidade de avaliações em vários locais reduz o efeito da interação genótipo x ambiente no resultado da seleção, o que permite a utilização mais ampla do material selecionado. No milho, que é uma espécie anual, as plantas não sobrevivem em relação às suas progênies e assim torna-se necessário usar os descendentes para a manutenção da base genética. Em razão dessa particularidade tornou-se comum usar o termo família como designativo da progênie que constitui a própria base genética de uma planta parental. Seleção espiga-por-fileira Este método foi empregado nos Estados Unidos a partir de 1897, na Estação Experimental de Illinois, com o objetivo de alterar o teor de óleo e proteína na semente do milho. Seleções foram conduzidas separadamente no sentido de aumentar e também reduzir a manifestação do caráter. Após a publicação dos primeiros resultados o método passou a ter grande aceitação. Vieira (1976a) descreve os passos para a sua execução: a) Numa população de polinização livre, selecionam-se de 50 a 100 espigas. Parte das sementes de cada espiga é utilizada para semeadura, em fileira, e parte é identificada e guardada, vindo a constituir sementes remanescentes; 155 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção b) Cada fileira é avaliada com base em todas as suas plantas. Aquelas que se mostrarem superiores são colhidas separadamente e a produção de sementes é determinada; c) Sementes remanescentes das plantas que deram origem às 20 melhores fileiras são misturadas e semeadas em campo isolado no ano seguinte. Nesse ano selecionam-se novamente as espigas, repetindo-se o processo. São necessários dois anos para se completar cada ciclo, podendo o processo ser repetido enquanto ocorrer resposta à seleção. O método foi eficaz para modificar a composição química dos grãos de milho durante um grande número de gerações. Todavia mostrou-se pouco eficiente para aumento de produtividade de grãos. Isso pode ser explicado, pois a produtividade é um caráter de baixa herdabilidade, não sendo possível sua avaliação precisa em fileiras, sem repetições, em um único ambiente. Admite- se assim que o insucesso do método em alguns casos não foi devido a limitações genéticas, mas sim a técnicas experimentais de campo inadequadas, o que não possibilitou a avaliação correta dos genótipos. É possível também que a endogamia advinda do uso de populações de tamanho restrito e a falta de isolamento tenham atuado como fatores limitantes ao aumento da produtividade em alguns dos casos. Teor de óleo e proteína são caracteres pouco afetados pelo ambiente, com herdabilidade alta. Para esses caracteres o método é eficiente. O mesmo pode dizer-se em relação à precocidade. Seleção entre e dentro de famílias de meios-irmãos Uma alteração no método espiga-por-fileira foi proposta por Lonnquist (1964) com o objetivo de torná-lo mais eficiente. O método espiga-por-fileira- modificado, como ficou conhecido, consiste essencialmente na avaliação e seleção de progênies de meios-irmãos, juntamente com a seleção das melhores plantas dentro de cada progênie. Por isso é também denominado seleção entre e dentro de família de meios-irmãos, por sugestão de Paterniani, 1967. O termo meios-irmãos vem sendo usado regularmente; a rigor, etimologicamente, seria mais adequada a expressão meios-irmãos. O processo inicia-se com a obtenção de espigas de polinização livre, colhidas nas melhores plantas da população que se quer melhorar. As espigas de cada planta constituem uma única progênie de meios-irmãos. Sementes de cada progênie são guardadas separadamente. 156 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Avalia-se o desempenho das progênies de meios-irmãos, em relação aos caracteres de interesse, em experimentos com repetições. Normalmente são avaliadas de 200 a 500 progênies. Aplica-se uma intensidade de seleção de 10% a 20%. Essa etapa constitui a seleção entre famílias de meios-irmãos. As famílias selecionadas são recombinadas entre si na geração seguinte, utilizando-se sementes remanescentes. Em um campo isolado são plantadas as progênies selecionadas, constituindo o progenitor feminino, em linhas paralelas. Intercaladamente a estas planta-se o progenitor masculino, o qual é constituído por uma mistura das sementes de todas as progênies selecionadas na etapa anterior, na proporção de uma fileira masculina para duas ou três femininas. Na época do florescimento as fileiras femininas são despendoadas. Por ocasião da colheita são escolhidas as melhores plantas dentro de cada fileira feminina, o que constitui a seleção dentro de famílias de meios- irmãos. As espigas colhidas dessas plantas constituirão novas progênies de meios-irmãos que poderão ser usadas para começar outro ciclo de seleção. Conforme Paterniani e Miranda Filho (1987) esse método tem proporcionado aumento de 2,0% a 13,8% na produtividade de grãos em milho, por ciclo. Seleção entre e dentro de famílias de irmãos-completos Famílias de irmãos completos constituem a descendência do cruzamento entre pares de plantas. São também denominadas famílias de irmãos germanos. O método é bastante antigo e tem sido eficiente no melhoramento de populações de milho. A partir de uma população-base podem ser obtidas inúmeras famílias de irmãos-completos pelo cruzamento de plantas duas a duas. Assim, a partir de 400 plantas da população podem ser obtidas 200 famílias de irmãos-completos. Essas progênies podem então ser avaliadas para seleção. O processo de execução das etapas para seleção entre e dentro é o mesmo descrito para famílias de meios-irmãos. Seleção entre e dentro de famílias endogâmicas S1 ou S2 Progênies endogâmicas são obtidas pela autofecundação de plantas da população. Normalmente são autofecundadas aproximadamente 500 das melhores plantas da população. No momento da colheita são selecionadas e colhidas as espigas mais sadias e portadoras de características desejáveis. Sementes de cada espiga são mantidas separadamente. 157 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção A etapa seguinte consiste na colocação das progênies selecionadas em ensaios para avaliação, como se faz em outros métodos de seleção de progênies. Aplicando-se uma intensidade de seleção de 10% a 20% escolhem-se as melhores famílias. Estas são então recombinadas do modo usual já descrito para outros métodos, utilizando-se para isso as sementes remanescentes. As sementes obtidas da recombinação constituem o produto do primeiro ciclo seletivo. A recombinação pode ser repetida por mais uma geração, após a qual inicia-se o ciclo seguinte com a autofecundação das melhores plantas da população gerada no ciclo anterior. O método de progênies endogâmicas é recomendado especialmente para caracteres de baixa herdabilidade, pois a endogamia proporciona a liberação da variabilidade genética entre as progênies, possibilitando assim o aumento do ganho genético com a seleção. A realização de polinizações controladas e o pequeno tamanho efetivo populacional, que é o menor de todos, constituem as limitações do método. Seleção recorrente O processo em que a seleção é repetida em gerações sucessivas, após intercruzamentos de materiais selecionados, com a finalidade de se obter recombinações gênicas, foi denominado seleção recorrente por Hull (1945). É um processo contínuo de melhoramento, no qual vários ciclos se sucedem. Atualmente esse método vem sendo empregado também no melhoramento de autógamas, como arroz, feijão e soja, Borém (1997). A técnica básica consiste na seleção de plantas superiores em uma população base, com posterior intercruzamento, para se obter a população de primeiro ciclo. Nesta, o processo é repetido, originando a população de segundo ciclo. Vários métodos, como a seleção massal e técnicas de melhoramento populacional baseadas em testes de progênies, enquadram-se nessa modalidade de seleção, como lembram Paterniani e Miranda Filho (1987). A seleção recorrente com testes de progênies inicia-se com a obtenção destas por uma dos métodos já descritos. Sementes de cada progênie são guardadas separadamente. Na geração seguinte as progênies são avaliadas em ensaios de produção, anotando-se também os dados referentes a outros caracteres de interesse agronômico, selecionando-se então as superiores, sob intensidade de seleção de 10% a 20%. Na geração seguinte faz-se a recombinação das progênies selecionadas, usando sementes remanescentes, em lotes de despendoamento. Ao final, o material obtido é usado para iniciar um novo ciclo de seleção. 158 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos O processo pode ser mais rápido obtendo-se, por exemplo, progênies de irmãos completos já na primeira geração. Para isso são escolhidas as melhores plantas dentro de cada progênie, e estas são então cruzadas uma a uma com as melhores plantas de outras progênies. Conforme literatura sobre o assunto, esse método tem proporcionado ganhos de 2,5% a 9,3% por ciclo, em populações de milho, sempre com o mínimo de quatro ciclos. A aplicação da seleção recorrente visa aumentar continuamente a freqüência de alelos favoráveis, o que se consegue nos diversos ciclos. Alguns métodos têm sido mencionados na literatura como esquemas bem definidos que os enquadram no conceito que hoje se adota para definir a seleção recorrente, caracterizada em quatro modalidades: a) Seleção recorrente fenotípica. b) Seleção recorrente para capacidade geral de combinação. c) Seleção recorrente para capacidade específica de combinação. d) Seleção recorrente recíproca. Seleção recorrente fenotípica A seleção recorrente fenotípica, ou simples, é apropriada para os casos em que a seleção na população inicial é feita com base no fenótipo da planta; portanto, tem sido indicada para caracteres de alta herdabilidade, ou seja, pouco influenciados pelo ambiente, em grande parte devidos a efeitos gênicos aditivos. É relativamente simples, pois os caracteres são avaliados no próprio indivíduo, na geração S0. Também não se faz necessária a autofecundação, podendo-se completar um ciclo em cada geração. Paterniani e Miranda Filho (1987) ressaltam que o método tem sido eficiente para caracteres como resistência a doenças e pragas, composição química do grão, altura da planta e capacidade de expansão em milho pipoca. Segundo Brauer (1973) esse método é usado quando a capacidade combinatória não é de importância principal. A descendência obtida pelo intercruzamento das plantas selecionadas em um ciclo é utilizada para identificar a capacidade de combinação das linhas e simultaneamente é usada como fonte para um novo ciclo de seleção. Desse modo, reduz-se consideravelmente o tempo requerido para cada ciclo. Sprague e Brimhall (1950) compararam dois métodos de seleção fenotípica para teor de óleo em grãos de milho e verificaram que a seleção recorrente foi nitidamente superior. 159 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção Em 1954 Jenkins e colaboradores apresentaram dados que mostravam a eficiência da seleção recorrente para concentrar alelos de resistência a Helminthosporium turcicum em milho a partir de uma população na qual 50% das plantas apresentavam resistência satisfatória. No primeiro, segundo e terceiro ciclo de seleção recorrente foram obtidas 52,2%, 72,5% e 79,5% de plantas resistentes, respectivamente. Seleção recorrente para capacidade geral de combinação Trata-se de um método mais indicado para caracteres controlados predominantemente por genes de efeito aditivo, muito afetados pelo ambiente, portanto de herdabilidade baixa. O esquema foi proposto por Jenkins (1940), como uma maneira de obtenção de variedades sintéticas superiores, apesar de que nessa época ainda não se usasse o termo seleção recorrente. O método é aplicável a plantas prolíficas. Inicia-se com autofecundação de um número suficiente de plantas de uma população heterogênea e simultaneamente com cruzamento das plantas autofecundadas com um testador de base genética ampla, que pode ser uma variedade de polinização aberta ou um híbrido duplo, com o fim de se avaliar a capacidade geral de combinação. A seguir são conduzidos ensaios de produção onde são identificados os genótipos com melhor desempenho, os quais são cruzados entre si. O processo consiste nas seguintes etapas, cada uma efetuada em um ano: a) Autofecundação de centenas de plantas de uma população heterogênea. b) Cruzamento das progênies S0, com um testador de base genética ampla, usando-se geralmente a variedade parental como testador. Isto constitui a obtenção de top-crosses ; eliminam-se as progênies inferiores. c) As progênies, ou top-crosses , selecionadas na etapa anterior, são avaliadas em ensaios de produção. d) Intercruzamentos de um grupo de progênies escolhidas com base nos resultados dos ensaios. Utilizam-se para isso sementes remanescentes. Assim é obtida a população sintético-1. e) Plantio de sementes de sintético-1 em campo isolado, obtendo-se o sintético-2 por cruzamento livre. 160 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos A eficiência da capacidade geral de combinação tem sido demonstrada pelo comportamento das populações per se , pelo comportamento em cruzamento e pela capacidade geral de combinação das linhagens delas extraídas. Seleção recorrente para capacidade específica de combinação Sugerido por Hull (1945) este esquema difere do anterior apenas pela utilização de um testador de base genética estreita, como uma linhagem endogâmica ou mesmo um híbrido simples. A pressuposição básica do método é que as interações alélicas de sobredominância são altamente responsáveis pelo vigor híbrido ou heterose. Assim o método oferece a possibilidade de se concentrar numa população heterogênea os alelos que podem proporcionar máxima heterose em relação a um determinado testador. Muitos pesquisadores, no entanto, vêm o método com reservas, argumentando que: a) Pode não ser tão vantajoso dirigir esforços no sentido de se obter uma linhagem com alta capacidade específica de combinação, pois esta, por melhor que seja, pode vir a apresentar algum problema, tornando- se necessária sua substituição. Assim, aqueles esforços seriam perdidos; b) Há evidências de que grande parte do vigor híbrido seja devida à interação alélica de dominância completa e não à sobredominância; c) O uso de um testador homozigoto tende a contribuir para que a interação entre o material testado e ambientes, como locais e anos, torne-se mais expressiva, como destaca Sprague (1955). Parece que o estudo da capacidade específica de combinação, ao nível de populações, é de interesse mais acadêmico. A proporção de linhagens superiores possíveis de serem extraídas de uma população, capazes de produzir híbridos também superiores, depende teoricamente de dois fatores, conforme Allard (1971): a) Proporção de genótipos superiores na população base; b) Eficiência da seleção em elevar a freqüência de alelos favoráveis, ou combinações destes, durante o processo de autofecundações sucessivas. A freqüência de alelos favoráveis no conjunto gênico de uma população determina a proporção de genótipos superiores. 161 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção Seleção recorrente recíproca O método foi proposto por Comstock, Robinson e Harvey (1949) com o objetivo de aumentar a resposta heterótica entre duas populações. Considerando-se duas populações básicas A e B o processo consiste em se tomar em cada ciclo os melhores genótipos de A, que produzem descendentes mais vigorosos em cruzamentos com B, assim como os melhores de B que produzem maior vigor quando cruzados com A, e recombiná-los entre si, gerando novas populações A e B. Essas duas populações assim melhoradas apresentarão maiores probabilidades de dar origem a linhagens que venham a apresentar boa capacidade específica de combinação. Além disso podem ser obtidas progressivamente melhores linhagens ao longo dos ciclos sucessivos de seleção. Comparações teóricas têm demonstrado que a seleção recorrente recíproca é tão eficiente quanto os demais métodos de seleção recorrente, ou mesmo superior, dependendo dos tipos de ação gênica em questão. A seleção recorrente recíproca explora os vários tipos de ação gênica conjuntamente, como os efeitos aditivos dos genes e as interações alélicas de dominância parcial, completa e sobredominância. Segundo Paterniani e Miranda Filho (1987) esse método não tem sido adotado em larga escala pelos melhoristas de milho. A execução do método se dá através das seguintes etapas: a) Autofecundação de plantas da população A e cruzamento simultâneo com plantas de B. De igual modo, plantas de B são autofecundadas e também cruzadas com outras de A. Os cruzamentos são realizados colocando-se pólen de uma planta autofecundada em estigmas de quatro ou cinco plantas da outra população, tomadas ao acaso. b) Avaliação das progênies obtidas dos cruzamentos em ensaios. c) Recombinação das melhores linhagens S1 de A, identificadas na etapa anterior. O mesmo é feito em relação às melhores linhagens S1 de B. Se necessário, um novo ciclo de seleção pode ser iniciado. Aceita-se, comumente, que a seleção recorrente recíproca seja um método geneticamente correto, devendo ser mais eficiente, teoricamente, que os outros esquemas de seleção recorrente quando estejam envolvidos locos com diferentes graus de dominância. Porém, Schnell (1961) fez objeções a essa hipótese por entender que o método não aproveita a capacidade específica de 162 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos combinação, pelo menos nos primeiros ciclos de seleção. Posteriormente, Cress (1966) encontrou evidências de que a eficiência da seleção recorrente recíproca em relação à seleção intrapopulacional depende das freqüências alélicas e do tipo de ação gênica. Algumas limitações de ordem prática, destacadas por Paterniani e Miranda Filho (1987), parecem dificultar o uso generalizado do método: a) Autofecundações e cruzamentos simultâneos são operações que exigem muita mão de obra. b) Falta de representatividade do testador, pois são tomadas apenas quatro ou cinco plantas de uma população para serem cruzadas com uma planta autofecundada da outra população. c) Inadequada recombinação entre progênies S1 selecionadas. Deveria ser conduzida pelo menos mais uma geração de intercruzamentos. d) O grande intervalo de tempo entre os ciclos acarretaria alguns inconvenientes, como menor ganho por ano e menor oportunidade para se selecionar com base em condições climáticas mais representativas. O processo possibilita uma atuação muito intensa da interação genótipo x ano, pois em quatro ou cinco anos é feita apenas uma avaliação dos ensaios. Para evitar esses inconvenientes foram sugeridas as seguintes modificações para a seleção recorrente recíproca, descritas detalhadamente por Paterniani e Miranda Filho (1987): a) Seleção recorrente recíproca com famílias de meios-irmãos. b) Seleção recorrente recíproca com famílias de meios-irmãos obtidas de plantas prolíficas. c) Seleção recorrente recíproca com famílias de irmãos completos. d) Métodos combinados. Considerações: Brauer (1973) faz as seguintes considerações sobre a seleção recorrente: a) Reduzindo-se o tamanho da amostra que dará origem às populações pode obter-se maior ganho em um determinado ciclo de seleção, mas isso provocará redução também na possibilidade de ganhos em futuros ciclos, pelo estreitamento da base genética. 163 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção b) Os resultados finais dependerão do tipo de ação gênica e da forma em que se vai aproveitar a seleção recorrente. Se o objetivo é a formação de uma variedade sintética, os resultados da seleção serão mais eficientes sobre caracteres de ação gênica aditiva. Se o produto final for linhagens para a obtenção de híbridos, poderão ser aproveitadas interações alélicas de dominância e sobredominância. c) A seleção recorrente recíproca é muito eficiente para melhorar caracteres agronômicos, em geral qualitativos. A eficiência dependerá da herdabilidade, do tamanho da amostra, das freqüências alélicas e do grau de homozigose dos indivíduos da população que está sendo selecionada. d) A seleção recorrente para capacidade geral de combinação está baseada na ação gênica aditiva; e) Os limites teóricos da seleção recorrente são determinados pelo tamanho da amostra e pelas freqüências alélicas. Uma amostra pequena tomada na população original limita os resultados finais, por reduzir consideravelmente a variabilidade genética, enquanto amostras muito grandes são de difícil manuseio. Além disso o grau de homozigose pode ser alto, pois uma amostra pequena conduz a cruzamentos entre plantas intimamente relacionadas entre si, condicionando endogamia em níveis que podem afetar todo o processo de seleção. A freqüência de alelos favoráveis na população original determina o resultado final da seleção em relação ao caráter ou caracteres desejados. 164 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Bueno/Cap 3 - Centro da diversidade de plantas cultivadas.pdf 31 Centros de Diversidade das Plantas Cultivadas O maior conhecimento sobre a expansão mundial e origem das espécies cultivadas deve-se ao trabalho sistemático do biólogo russo Nikolai Ivanovich Vavilov, diretor do Instituto de Investigações Científicas de Leningrado na Rússia, de 1916 a 1936. A enorme quantidade de material que reuniu através de várias expedições realizadas em diferentes partes do mundo possibilitou o estabelecimento dos centros de origem ou de diversidade de um grande número de espécies cultivadas. Ao final de seu trabalho, Vavilov reconheceu a existência de oito centros primários de origem, ainda hoje aceitos: I - Chinês II - Indiano II a - Indo-Malaio III - Asiático Central IV - Oriente Próximo V - Mediterrânico VI - Abissínio VII - Mexicano do Sul e Centro-Americano VIII - Sul-Americano VIII a - Chiloé VIII b - Brasileiro-Paraguaio É sabido que alguns cereais desempenharam importante papel nas civilizações antigas. Como exemplos têm-se o trigo e a cevada no Egito e Babilônia, o arroz na China e o milho nas Américas. Sempre teve importância a movimentação de plantas cultivadas de região, país ou continente para outro, no desenvolvimento da agricultura mundial. A descoberta da América foi muito significativa na história da introdução de plantas. Diversas culturas foram levadas para o Velho Mundo, como o milho, a mandioca, o tomate, a batata, o fumo, o feijão e a abóbora. Por outro lado, de lá vieram o trigo, o arroz, a cevada, o centeio, a aveia, a cana-de-açúcar, diversas fruteiras, hortaliças e forrageiras. 32 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Um aspecto curioso da migração de plantas relaciona-se à sua adaptação fora do local de origem. Em alguns casos a espécie se adapta melhor fora de seu centro de diversidade, por estar livre de pragas e de doenças, pelo menos nos primeiros anos. Exemplos são a seringueira (Hevea brasiliensis), levada da Amazônia brasileira para a Malásia, região livre do mal-das-folhas , doença causada pelo fungo Microcyclus ulei (P. Henn) v. Arx e o eucalipto (Eucaliptus spp), trazido da Austrália, onde muitos insetos pragas prejudicam seu desenvolvimento, para o Brasil. Vavilov realizou expedições por todo o mundo e observou que algumas áreas concentram maior variabilidade para determinadas espécies. Essas áreas, quase sempre, mantêm-se isoladas umas das outras por montanhas, desertos ou mares, que presumivelmente permitiram o isolamento de antigos grupos humanos e algumas espécies vegetais. Jennings e Cock (1977) enfatizam que o homem tem domesticado e conduzido as plantas para além de seus centros de origem, de tal modo que algumas delas hoje estão difundidas por quase todo o mundo, destacando o trabalho de Purseglove, que mostrou com clareza que as principais áreas de produção de algumas das mais importantes culturas encontram-se longe dos locais de onde se originaram. 3.1. CENTROS A seguir são citadas algumas espécies mais conhecidas, entre outras existentes e os diversos centros estabelecidos. Vavilov descreveu cerca de 600 espécies, das quais aproximadamente 500 são provenientes do Velho Mundo; dessas, cerca de 400 foram encontradas no sul da Ásia. I Centro Chinês É considerado o mais antigo e o mais rico em número de espécies. Glycine max - soja Phaseolus vulgaris - feijão (Centro secundário) Espécies de bambu Raphanus sativus - rabanete Espécies de Brassica e Allium Espécies de Prunus Espécies de Pyrus Espécies de Citrus - a China é importante centro secundário de Citrus sinensis (laranja). 33 Centros de Diversidade das Plantas Cultivadas II Centro Indiano Oryza sativa - arroz Sorghum bicolor - sorgo Cajanus cajan - guandu Solanum melonjeana - berinjela Cucumis sativus - pepino Mangifera indica - manga Diversas espécies de Citrus Sacharum officinarum - cana-de-açúcar Cocos nucifera - coco Gossypium arboreum - algodão Crotalaria juncea - crotalária Piper nigrum - pimenta-do-reino II a Centro Indo-Malaio Considerando como suplemento do Centro Indiano, inclui todo o Arquipélago Malaio e a Indochina. Espécies de Musa - banana Cocos nucifera - coco Saccharum officinarum - cana-de-açúcar Piper nigrum - pimenta-do-reino III Asiático Central Triticum aestivum - trigo-comum Outras espécies de Triticum Secale cereale - centeio (centro secundário) Pisum sativum - ervilha Cicer arietinum - grão-de-bico Linum usitatissimum - linho Gossypium herbaceum - algodão Daucus carota - cenoura Allium cepa - cebola Allium sativum - alho Pyrus communis - pêra Vitis vinifera - uva Cucumis melo melão 34 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos IV Do Oriente Próximo Nove espécies de Triticum Secale cereale - centeio Avena sativa - aveia Medicago sativa - alfafa Beta vulgaris - beterraba (Centro secundário) Brassica oleracea - repolho, couve, couve-flor, etc. Lactuca sativa - alface Ficus carica - figo Espécies de Pyrus Espécies de Prunus V Mediterrânico Espécies de Triticum Lens esculenta - lentilha Beta vulgaris - beterraba Brassica napus - nabo Brassica cepa - cebola Allium sativum - alho Asparagus officinalis aspargo VI Abissínio Espécies de Triticum Hordeum sativum - cevada Sorghum bicolor - sorgo Vigna sinensis - ervilha-de-vaca Vicia faba - fava Ricinus communis - mamona Coffea arabica - café arábica VII Mexicano do Sul e Centro-Americano Inclui também as Antilhas. Zea mays - milho Phaseolus vulgaris - feijão (comum) Phaseolus lunatus - feijão (fava) Espécies de Cucurbita 35 Centros de Diversidade das Plantas Cultivadas Ipomea batatas - batata-doce Gossypium hirsutum - algodão Agave sisalana - sisal Carica papaya - mamão Persea americana - abacate Psidium guayava - goiaba Anacardium occidentale - caju Theobroma cacao cacau VIII Sul-Americano Abrange áreas montanhosas do Peru, Bolívia e parte do Equador. Solanum tuberosum - batata Zea mays - milho amiláceo, grãos grandes (Centro secundário) Phaseolus lunatus - feijão-fava (Centro secundário) Phaseolus vulgaris - feijão-comum (Centro secundário) Lycopersicon esculentum - tomate Cucurbita maxima - moranga Gossypium barbadense - algodão Psidium guayava - goiaba Nicotiana tabacum - fumo VIII. a Chiloé Pequena ilha localizada nas costas do Chile. São mencionadas apenas quatro espécies, sendo a mais importante a batata (Solanum tuberosum). VIII. b Brasileiro-Paraguaio Manihot esculenta - mandioca Arachis hypogaea - amendoim Theobroma cacao - cacau Hevea brasiliensis - seringueira Ilex paraguayensis - chá-mate Myrciaria jaboticaba, M. cauliflora - jabuticaba Ananas comosus - abacaxi Bertholetia excelsa - castanha do Pará Anacardium occidentale - caju Passiflora edulis - maracujá 36 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Vavilov propôs que é nos centros de origem que ocorre a maior diversidade genética das espécies. Esse fato, todavia, é discutido por alguns pesquisadores, que afirmam que nem sempre o centro de origem coincide com o centro de maior diversidade genética de uma espécie. Realmente, alguns centros definidos por Vavilov são áreas de agricultura recente. Todavia, para os melhoristas de plantas essa discussão não tem maior importância, pois o que interessa é que nesses centros sejam realmente encontradas formas genéticas diferenciadas entre si, que podem ser usadas em introduções e no melhoramento genético. Estabeleceu ainda a existência de Centros Secundários de Origem, geralmente com formas oriundas dos Centros Primários, ou com menor diversidade. FIGURA 3.1. Centros de origem das plantas cultivadas, segundo Vavilov: I - Chinês; II - Indiano; IIa - Indo-Malaio; III - Asiático Central; IV - do Oriente Próximo; V - Mediterrânico; VI - Abissínio; VII - Mexicano do Sul e Centro-Americano; VIII - Sul Americano; VIIIa - Chiloé; VIIIb - Brasileiro-Paraguaio (Briggs e Knowlles, 1967). Acredita-se que na atualidade os principais centros de diversidade estejam bem distantes dos reais centros de origem. Estudos recentes têm modificado em parte a distribuição de espécies feita por Vavilov e, também, determinado a criação de alguns centros secundários, além de localizar prováveis centros de algumas espécies que ainda não haviam sido estudadas. 3.2. INTRODUÇÃO DE PLANTAS Sabe-se que a maioria das espécies cultivadas no Brasil foram introduzidas de outros países e continentes; algumas delas vieram com os colonizadores. 37 Centros de Diversidade das Plantas Cultivadas Como exemplos citam-se a cana-de-açúcar, o trigo, o arroz, várias espécies de fruteiras e hortaliças. Em contrapartida, foram encontradas a mandioca, o amendoim, o milho, entre outras plantas cultivadas pelos índios. O café foi introduzido no Brasil, pelo Estado do Pará, em 1727 e, posteriormente, a soja e outras espécies. De modo geral, novas cultivares podem ser obtidas a partir de introduções das seguintes maneiras: a) Utilização direta como cultivar, após avaliação em ensaios de competição com materiais já cultivados; b) Seleção de genótipos no material original, se este for heterogêneo, procedendo-se principalmente à eliminação de tipos indesejáveis; c) Cruzamento com outras cultivares, visando a transferência de alelos de interesse. Muitas vezes se introduzem genótipos por apresentarem características especiais de interesse para o melhoramento de uma cultura em particular. Costuma-se introduzir uma variedade simplesmente por apresentar resistência apreciável a determinados patógenos que constituem sério problema em algumas regiões ou, até mesmo, estados ou países. A simples introdução pode, às vezes, resolver problemas sérios na agricultura de alguns países. No Brasil, a introdução de canas javanesas e indianas solucionou o problema de ataque de doenças em canaviais nacionais, entre 1920 e 1940. Outro exemplo é o da cultivar de feijão preto Rico-23, introduzida em 1954, da Costa Rica. Essa cultivar foi diretamente submetida a ensaios regionais, com variedades comerciais e outras introduções, tendo-se sobressaído em termos de produção de grãos, resistência a doenças e outras características. Após cinco anos de testes, passou a ser distribuída aos agricultores, alcançando todo o País. É fato conhecido que certas culturas podem ser exploradas com maior sucesso em zonas ou países que não os da sua origem, principalmente por não estarem sujeitas a doenças e pragas ali encontradas. No processo de introdução de plantas é importante considerar o tipo de material que deve ser introduzido. Normalmente, não é aconselhável a introdução de material vegetativo na forma de estacas, manivas, toletes, etc., para evitar a introdução concomitante de patógenos e pragas, mesmo presumindo-se a realização de tratamentos preventivos. A introdução de sementes previamente tratadas é um processo que vem sendo feito regularmente para muitas espécies. 38 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Atualmente, tem sido dada ênfase ao intercâmbio de materiais reprodutivos das plantas de valor econômico, na forma de cultura de tecidos, livres de patógenos. A aplicação da biotecnologia vem sendo cada vez maior nesse tipo de intercâmbio, principalmente quando se trata de transferir materiais provenientes de locais onde alguma doença constitua problema sério na agricultura local. Em vários países são comuns as instituições que cuidam da introdução de plantas, nas quais se faz a catalogação do material recebido. No Brasil a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) dispõe do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN), que tem, entre outras atribuições, a competência de realizar triagens no intercâmbio de material genético entre o Brasil e outros países. Esse intercâmbio ocorre, por exemplo, com genótipos de mandioca, in vitro , na forma de cultura de meristemas, do Brasil com a Colômbia (Centro Internacional de Agricultura Tropical-CIAT) e outros países, e vice-versa. Nos locais para onde são introduzidas as variedades passam a fazer parte da coleção de material genético básico, para uso em progamas de melhoramento. Bueno/Cap 4 - Banco de germoplasma.pdf 39 Banco de Germoplasma Com o advento de novas técnicas agrícolas, especialmente nos países mais desenvolvidos, vem ocorrendo a substituição gradual de antigas cultivares por outras geralmente de base genética mais estreita, porém mais produtivas e portadoras de certas características superiores que as credenciam à aceitação pelos agricultores. Este fato pode ser considerado normal, quando se verifica a necessidade de maior produtividade para atender às necessidades de uma população mundial sempre crescente e a certas exigências das indústrias processadoras de produtos agrícolas. Apesar dessas justificativas é preciso lembrar que o melhoramento de plantas é um processo contínuo e que se deve reconhecer que, muitas vezes, tem-se que recorrer a antigas variedades ou a populações primitivas, em busca de genes específicos para utilização, em determinadas circunstâncias. A extinção desses materiais cultivados ou existentes nos centros de diversidade, conhecida como erosão genética , é altamente preocupante, por implicar na perda de genes valiosos que podem ser de importância em futuros programas de melhoramento genético. Exemplos típicos são variedades ou espécies selvagens portadoras de genes que conferem resistência às doenças, muitas dessas extremamente graves. Para solucionar esses problemas tornou-se necessária a formação de coleções de germoplasma contendo o maior número possível de componentes genéticos, como variedades, linhagens, clones, ou seja, com a maior variabilidade possível. Tais coleções recebem, genericamente, a denominação de Bancos de Germoplasma. O milho é um exemplo típico. A obtenção de cultivares melhoradas de milho, especialmente híbridos, relegou por muito tempo as antigas variedades indígenas a segundo plano, no Brasil e em outros países da América Tropical, como o México e o Peru, onde eram cultivadas por civilizações antigas, como os maias, astecas e incas. Esses dois últimos países são, coincidentemente, reconhecidos como Centros de Origem ou Diversidade Primário e Secundário, respectivamente, desse cereal. 40 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Quase sempre é praticamente impossível uma mesma instituição manter uma coleção completa, ou seja, com todos os materiais genéticos existentes, a nível mundial, de uma determinada cultura. Assim, geralmente recorre-se ao intercâmbio de material genético entre órgãos de pesquisa e/ou ensino em Ciências Agrárias que trabalham com as mesmas espécies e que, às vezes, colecionam também espécies afins. 4.1. FORMAS DE MANUTENÇÃO E CONTROLE Os bancos de germoplasma são compostos ou mantidos de formas variáveis, em função das espécies com que se trabalha, suas características específicas e também com os recursos humanos e físicos disponíveis. Para certas culturas, como a mandioca, de propagação vegetativa, é comum a instalação de grandes coleções em campo, do maior número de clones conhecidos ou de material in vitro , em âmbito regional, interestadual, ou mesmo internacional. Os melhoristas podem indicar alguns deles diretamente para plantio, como é o caso de certas introduções ou utilizá-los em programas de cruzamentos visando a obtenção de novos genótipos que combinem características existentes nos progenitores. Um exemplo é a utilização de materiais resistentes à bacteriose da mandioca, moléstia causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. manihots (Berthet & Bondar). Também se colecionam sementes botânicas de mandioca em câmaras com controle ambiente de temperatura e umidade atmosférica. Tais sementes são produtos, geralmente, de hibridações controladas ou policruzamentos, envolvendo variedades melhoradas. O armazenamento de sementes nessas condições é utilizado para quase todas as culturas que produzem grãos. O armazenamento em recipientes a vácuo sob temperatura de 2 a 5oC e umidade relativa de 4 a 7% possibilita a manutenção do poder germinativo por vários anos. Por isso, a intervalos de alguns anos, é recomendável realizar-se o plantio para renovação do material reprodutivo. Durante essa multiplicação periódica devem ser tomados cuidados em função do sistema reprodutivo da espécie, com vistas ao isolamento dos campos em termos de locais e épocas. A distribuição de grande quantidade de tipos ou variedades, no campo, é um trabalho que exige muito cuidado, especialmente na identificação e manutenção da identidade genética. Isto se aplica, especialmente, às plantas alógamas, como o milho, para as quais são necessárias técnicas especiais de proteção de inflorescências. É comum a multiplicação escalonada. 41 Banco de Germoplasma A principal finalidade da manutenção ou preservação de um banco de germoplasma é proteger a variabilidade evitando a erosão genética e disponibilizar o material para o melhorista. Com o aumento acentuado no número de entradas há dificuldades no manuseio do material, elevando-se o custo de sua manutenção. Uma alternativa, em alguns casos, é a mistura de tipos semelhantes quando o número de entradas é elevado e proveniente da coleta de variedades em uso por agricultores de uma dada região. O interesse, nesse caso, é manter uma amostra dos alelos para os vários genes presentes no material em questão. Culturas perenes como o cafeeiro, fruteiras e essências florestais, normalmente são mantidas em coleções vivas em condições de campo. Para outras espécies adota-se a técnica de cultivo in vitro , especialmente através da cultura de tecidos, mais comumente cultura de meristemas, que tem ainda a vantagem de limpeza de viroses e outras doenças. Essa técnica é hoje bastante empregada no intercâmbio internacional de material genético. O controle dos bancos de germoplasma, até recentemente, era realizado utilizando-se fichários descritivos, contendo anotações das características principais dos itens, ou acessos, que compõem a coleção. Atualmente, utiliza- se sistema informatizado, que contém as informações desejáveis a respeito de todos os acessos, facilitando a identificação do material disponível. Assim, a qualquer momento, os melhoristas têm em mãos informações importantes, especialmente quando se tratam de Instituições que mantêm coleções muito grandes. Essas instituições mantêm milhares de componentes genéticos e, evidentemente, a caracterização de cada um deles é impossível de ser memorizada pelos melhoristas. As descrições são aquelas de natureza botânico- agronômica que identificam seguramente as variedades e, até mesmo, espécies afins colecionadas juntamente. 4.2. CENTROS DE IMPORTÂNCIA PARA INTERCÂMBIO DE GERMOPLASMA Centros de diversidade são locais onde se podem encontrar materiais com possibilidade de utilização em programas de melhoramento de plantas, por serem ricos em termos de variação genética, apesar de que alguns deles não se encontram mais atualmente nas condições em que foram descobertos. O desenvolvimento de populações humanas, até mesmo a urbanização ocorrida em algumas dessas áreas geográficas, contribuíram muito para essa situação. 42 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Muitas instituições de pesquisa em melhoramento têm recorrido a esses locais visando a coleta e preservação de materiais aí existentes para uso em seus programas e ampliação da variabilidade dos bancos de germoplasmas. Como exemplo, sabe-se que o Serviço de Introdução de Plantas dos Estados Unidos enviou pesquisadores à Etiópia, um dos centros de origem do trigo, à procura de formas resistentes à virulenta raça 15B do fungo Puccinia graminis Pers. f. sp. tritici Eriks. & Henn, causador da ferrugem do colmo do trigo. Germoplasma resistente a doenças do tomateiro pode ser encontrado no Peru. Na América Latina, especialmente no México e América Central, existem antigas variedades indígenas de milho, que evoluíram através de milhares de anos sob domesticação, que têm sido utilizadas como fontes de alelos no melhoramento dessa cultura. Governos de muitos países se preocupam com o assunto. O Grupo Consultivo para a Investigação Agrícola Internacional (Consultive Group on International Agricultural Research - CGIAR) é o órgão que coordena a atuação de várias instituições no mundo voltadas para a preservação de germoplasmas, especialmente os centros internacionais de pesquisa que trabalham em programas com diferentes espécies. A seguir, citam-se institutos ou centros que fazem parte dessa rede internacional, encarregados de gerar tecnologia agrícola para vários países ou continentes e que possuem coleções vivas de materiais genéticos ou bancos de germoplasma, além de realizarem intercâmbio com diversos outros órgãos. Os centros internacionais de pesquisas localizam- se, em sua maioria, em países em desenvolvimento, em decorrência da finalidade com que foram criados, normalmente para promover desenvolvimento sócio-econômico na região. São eles, entre outros: - CIAT - Centro Internacional de Agricultura Tropical, sediado em Cali, Colômbia, com programas de arroz, feijão, mandioca e forrageiras tropicais. - CIP - Centro Internacional de La Papa, no Peru. Dedica-se ao melhoramento de batata. - CIMMYT - Centro Internacional de Mejoramiento de Maiz Y Trigo, sediado no México (milho e trigo). - IRRI - International Rice Research Institute. Localizado nas Filipinas, dedica-se ao melhoramento de arroz. - IITA - International Institute of Tropical Agriculture. Sediado em Ibadan, Nigéria, trabalha com alguns produtos agrícolas consumidos pelos 43 Banco de Germoplasma africanos de modo geral. Dedica-se a pesquisas com mandioca, milho, arroz, batata, inhame e leguminosas comestíveis. - IICA - Instituto Interamericano de Cooperación para la Agricultura, em Turrialba, Costa Rica. - NATIONAL INSTITUTE OF AGRICULTURAL SCIENCES - Universidade de Kyoto - Japão. - INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGACIONES AGRICOLAS - México. - AGRICULTURAL RESEARCH SERVICE - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. - VIR - Vavilov All - Union Institute of Plant Industry -Rússia. Em Wageningen, Holanda, há um programa de recursos genéticos mantido pelos órgãos Foundation for Agricultural Plant Breeding e Governement Institute for Research on Varieties of Cultivated Plants . Na Suécia encontra-se um banco de genes escandinavo coordenado pela Swedish Seed Testing and Certification Station . No Brasil, várias instituições se responsabilizam pela manutenção de coleções de germoplasma de diferentes espécies. A EMBRAPA e empresas de pesquisas estaduais mantêm coleções específicas. Por exemplo, no caso do milho, o Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (CNPMS/EMBRAPA), em Sete Lagoas-MG, e o Instituto de Genética da ESALQ, em Piracicaba-SP; para a soja, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo/EMBRAPA), em Londrina-PR; para o cacau, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CEPLAC, mantém na Bahia o maior banco ativo de germoplama da espécie no mundo, com 21000 acessos; para arroz e feijão, o Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão (CNPAF/EMBRAPA), em Goiânia-GO e outros. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mantém bancos de germoplasma de café, mandioca, arroz e outras culturas. Pesquisadores desse Instituto também estiveram na Etiópia, realizando coleta de formas selvagens de café. Vários outros órgãos, públicos principalmente, inclusive Instituições de ensino, cuidam também da manutenção de germoplasmas de diferentes espécies, como por exemplo, a Universidade Federal de Viçosa, com as culturas de feijão, soja e diversas hortaliças. Existem centros que desenvolvem trabalhos a nível nacional, como os centros de pesquisas da EMBRAPA, no Brasil e o ICA (Instituto Colombiano Agropecuário). 44 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos 4.3. FONTES DE GERMOPLASMA Na Figura 4.1. são apresentados os diferentes tipos de fontes ou formas de germoplasma de uma cultura, de acordo com a classificação de Sneep e Hendriksen (1979): 1. Cultivares modernas elites ou cultivares altamente produtivas. 2. Principais cultivares comerciais. 3. Tipos específicos para determinados propósitos. 4. Tipos obsoletos. 5. Estoques ( stocks ) para melhoramento (germoplasma elite). 6. Mutantes, testadores genéticos, poliplóides e aneuplóides. 7. Raças regionais ( land races ) - tipos primitivos ou não testados. 8. Fontes usuais de variabilidade citoplasmática. 9. Weed races (formas selvagens daninhas ou competidoras). 10. Espécies selvagens. 11. Híbridos artificiais interespecíficos ou intergenéricos. 12. Gêneros relacionados. CENTRO DE DIVERSIDADE Cultivares primitivas de "cultigens"(*) Híbridos naturais entre "cultigens" e espécies selvagens relacionadas Espécies selvagens e raças Gêneros relacionados PROGRAMAS DE MELHORAMENTO Linhas puras de cultivares de agricultores Cultivares híbridas elites ou híbridos F1 Linhagens Material estoque ("stock") Poliplóides Aneuplóides Híbridos interespecíficos e intergenéticos Compostos ou sintéticos CENTRO DE CULTIVO Tipos comerciais Cultivares obsoletas Cultivares inferiores Tipos para determinados propósitos. RESERVATÓRIO DE GENES (*) Cultigen - Termo da língua inglesa para designar um organismo cultivado de uma variedade ou espécie para a qual não se conhece um ancestral selvagem (segundo Webster s Thirdy New Internacional Dictionary). FIGURA 4.1. Espectro total de germoplasma em espécies cultivadas ( cultigens ) e suas fontes (Sneep e Hendriksen, 1979). 1 Bueno/Cap 8 - Seleção em plantas autógamas.pdf 91 Seleção em Plantas Autógamas A seleção é o meio pelo qual indivíduos com características superiores, em populações geneticamente variáveis, são favorecidos para a reprodução, deixando, portanto, maior número de descendentes. Este processo se dá tanto no âmbito da evolução (seleção natural) como no trabalho do melhorista. A seleção artificial, executada pelo homem nos programas de melhoramento genético, aplica-se às plantas autógamas e alógamas. Serão feitas considerações sobre a seleção como método de melhoramento, ressaltando-se as diferenças particulares relativas ao seu emprego, em função da estrutura genotípica diferente desses dois grupos de plantas. Consideram-se, basicamente, dois atributos da seleção, a saber: a) A seleção não cria variabilidade. Apenas atua na variação existente; b) A seleção somente age e é efetiva quando estão presentes diferenças hereditárias, ou genéticas. 8.1. PRÁTICAS ANTIGAS DE SELEÇÃO A prática de seleção como um processo empírico, baseado unicamente na sutileza e capacidade humana de percepção de certas diferenças entre plantas, é um procedimento muito antigo. Muitos conhecimentos sobre as técnicas de seleção foram se acumulando durante séculos, como conseqüência das práticas agrícolas. Entretanto, foi somente no final do século XVIII que o melhoramento de plantas tornou-se mais metódico, evidenciando a eficiência da seleção. Muito contribuíram para isso os trabalhos de Van Mons na Bélgica, Knight na Inglaterra, e Cooper nos Estados Unidos. No Século XIX apareceram informações com base mais sólida sobre o assunto. John le Couteur, um fazendeiro da Ilha de Jersey, verificou a diversidade de tipos encontrados em uma plantação de trigo, demonstrando a capacidade de perceber a uniformidade da progênie de plantas individuais, assim como as diferenças, em valor agronômico, entre as várias seleções 92 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos efetuadas. Segundo Allard (1971), seu trabalho, cujos resultados foram publicados em 1843, constituiu a primeira contribuição sobre a seleção individual de plantas no melhoramento de cereais (o trigo é uma planta autógama, e, portanto, a população original deveria constar de uma mistura de genótipos, ou linhas). Mais ou menos na mesma época, o escocês Patrick Sheriff, utilizando o mesmo procedimento, conseguiu desenvolver algumas variedades de trigo e aveia. A contribuição mais significativa para esclarecer os efeitos da seleção foi dada por Louis de Vilmorin, ainda no século XIX, concebendo um método de seleção de linhagens com teste de progênie, que passou a ser conhecido como Método de Vilmorin ou Princípio do Isolamento de Vilmorin . Durante muito tempo esse pesquisador trabalhou com trigo, não obtendo resultado algum, certamente por se tratarem de variedades puras. Todavia, seu método foi eficaz no aumento do teor de açúcar em beterraba açucareira, que é uma planta de fecundação cruzada. Isso vem corroborar as informações sobre as diferenças do processo seletivo plantas autógamas ou alógamas. O método de Vilmorin foi empregado de modo aprimorado pela Associação Sueca de Sementes, no final do Século XIX. Nessa época a seleção de linhagens puras passou a ser um método de melhoramento organizado e bem fundamentado. Todavia, somente no início do século seguinte os geneticistas puderam esclarecer a origem da variação, base da seleção. Nessa mesma ocasião, Johannsen (1903), botânico dinamarquês, estabeleceu as bases genéticas da teoria das linhas puras. 8.2. A TEORIA DAS LINHAS PURAS Johannsen (1903), com a conceituação de linhas puras e descrição do fundamento genético de sua formação, proporcionou sólida base científica para a seleção em plantas de autofecundação. Em seus experimentos, estudou os efeitos da seleção para o caráter peso das sementes de feijão, que é uma espécie essencialmente autógama. Iniciou o trabalho com um lote de sementes da cultivar Princess , que continha grãos de vários tamanhos e observou que as progênies de sementes mais pesadas, em geral, apresentavam maior peso médio de grãos, enquanto as derivadas de sementes mais leves tinham peso médio menor. Através da semeadura de progênies derivadas de dezenove diferentes sementes do lote original, obteve dezenove linhagens (linhas puras). Duas 93 Seleção em Plantas Autógamas observações importantes seguiram-se a essa primeira fase. Em primeiro lugar, constatou-se que cada lote tinha um peso característico. A linha no 1, a mais pesada, produziu sementes com peso médio de 68 cg. Foram observados valores intermediários desde esta média até 35 cg, que foi o peso médio da linhagem no 19. Johannsen concluiu, então, que o lote de sementes comerciais era constituído por uma mistura de linhas puras. Uma linha pura ficou definida como toda a descendência ou progênie obtida da autofertilização de um só indivíduo homozigoto. Em segundo lugar, observou-se a existência de sementes de diversos tamanhos dentro de cada progênie. Essa variação era, entretanto, muito menor do que aquela observada no lote original. Johannsen certificou-se de que tal variabilidade não era de natureza genética, mas sim devida a pequenas diferenças ambientais que afetavam cada planta com intensidade diferente. Inicialmente, as sementes de cada linha pura foram agrupadas em classes de 10 cg. Em seguida, cada conjunto foi semeado separadamente. Observou- se logo que as diferentes classes da mesma linha pura produziam progênies cujas sementes tinham o mesmo peso médio. As categorias de 20, 30, 40 e 50 cg, por exemplo, ocorreram na linhagem no 13. O peso médio das respectivas progênies foi de 47,5, 50,0, 45,1 e 45,5 cg. Deduz-se, então, que as sementes de uma linha pura, mesmo sendo de diferentes tamanhos, produzem progênies cujo peso médio é aquele que caracteriza a linhagem, ou seja, não importa o tamanho das sementes, se essas possuem a mesma constituição genética. Os resultados foram ainda confirmados pela seleção sucessiva de feijões grandes e pequenos, em cada linhagem, o que se observa no Quadro 8.1. Após seis gerações de seleção na linhagem número 1, o peso médio das sementes provenientes de feijões mais pesados foi 69 cg e das sementes de feijões mais leves, 68 cg. Assim, verificou-se que o peso médio permanecia constante em cada linhagem, produzida tanto a partir da semente mais pesada quanto da mais leve. Estes experimentos proporcionaram as bases para esclarecer os atributos fundamentais da seleção. Sendo o feijão uma planta autógama e como autofecundações sucessivas conduzem à homozigose, pode concluir-se que o lote original de sementes era constituído por uma mistura de linhagens homozigotas. Portanto, a descendência de uma semente não deveria mostrar qualquer segregação genética. As variações observadas dentro de uma linhagem, conseqüentemente, deveriam ter apenas o componente ambiental. A 94 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos seleção dentro das linhagens não produziu resultado algum, porque dentro de qualquer linha os indivíduos tinham exatamente o mesmo genótipo e, portanto, respondiam às influências do meio ambiente semelhantemente aos progenitores ou a outro indivíduo da mesma linhagem. Na população original, todavia, a seleção foi eficiente porque a variação tinha também um componente hereditário. A correção da interpretação dada por Johannsen a esses resultados precisos possibilitou estabelecer claramente a diferença entre fenótipo e genótipo e criou uma base científica sólida para a seleção. QUADRO 8.1. Efeitos da seleção durante seis gerações na linhagem número 1 da variedade Princess (Allard, 1971). Peso Médio das Sementes Paternais Peso Médio das Sementes Filiais Ano de Colheita Sementes de Peso Menor Sementes de Peso Maior Dif. Sementes de Peso Menor Sementes de Peso Maior Dif. 1902 60,00 70,00 10,00 63,15 64,85 +1,70 1903 55,00 80,00 25,00 75,19 70,88 -4,31 1904 50,00 87,00 37,00 54,59 56,68 +2,09 1905 43,00 73,00 40,00 63,55 63,64 +0,09 1906 46,00, 84,00 38,00 74,38 73,00 -1,38 1907 56,00 81,00 25,00 69,07 67,66 -1,41 Em que pesem as considerações feitas a respeito do trabalho de Johannsen, sabe-se que a variação genética manifesta-se novamente em linhagens puras, às vezes com intensidade suficiente para ser considerada em programas de melhoramento de plantas. A grande diversidade de tipos existentes nas coleções mundiais de plantas autógamas é uma clara evidência da magnitude e importância, a longo prazo, das variações genéticas espontâneas. Tais variações se originam de mutações; sua dispersão pelas populações e sua combinação com outros mutantes se efetuam por meio de hibridação natural e suas conseqüências mendelianas. O conhecimento desses processos é da maior importância para o melhorista, pois as variações naturais em populações de plantas autógamas constituem as bases fundamentais para o seu melhoramento (Allard, 1971). Também podem ocorrer cruzamentos indesejáveis no campo e misturas mecânicas, em sacarias, máquinas, etc., inadvertidamente, que ampliam a variabilidade nas cultivares comerciais. 95 Seleção em Plantas Autógamas As mutações, certamente, proporcionaram a matéria-prima para as modificações ocorridas na evolução e na obtenção de novos e diferentes tipos de plantas, tendo contribuído muito mais do que a maior parte das aberrações cromossômicas, à exceção da poliploidia que teve importância significativa no processo evolutivo das plantas. Allard (1971) considera que a mutação é um processo recorrente, isto é, qualquer mutação que se observa hoje já ocorreu, provavelmente, muitas vezes na história do organismo, podendo supor-se que a maioria das mutações nas espécies cultivadas já tenha ocorrido durante os milhares de anos em que estas estiveram sob cultivo e que, devido à seleção natural e artificial, a maioria dos alelos hoje existentes tenha boa adaptação. Assim, não se espera que novas mutações venham a contribuir, na prática, para o cultivo de plantas. 8.3. SELEÇÃO DE LINHAS PURAS E SELEÇÃO MASSAL A seleção em plantas autógamas é um método antigo de melhoramento. Todavia, o conhecimento de suas bases científicas, como visto, é mais recente. A dispersão dos alelos mutantes nas populações depende de taxas de hibridação natural seguida de recombinação gênica através de muitas gerações. Como conseqüência do sistema reprodutivo natural dessas espécies, o melhorista pode estar razoavelmente seguro de que qualquer planta que selecione deverá ser homozigota e, portanto, originará uma linha pura que se reproduz com grande precisão. Essa é a base da seleção de linhas puras e da seleção massal em espécies autógamas. A seleção, como método, não é mais utilizada nos países ou regiões de agricultura avançada onde praticamente não existem mais as chamadas variedades antigas . A maioria das cultivares usadas, quando mantidas por instituições especializadas na produção de sementes comerciais, como as sementes certificadas, é constituída por linhas puras. Daí serem preferidos os métodos que envolvem hibridação, com os quais podem ser obtidos novos e valiosos genótipos (variedades puras). Todavia, a seleção como método de melhoramento ainda é viável em países ou regiões de agricultura menos desenvolvida. Os métodos de seleção de linhas puras e massal diferem entre si apenas quanto ao número de linhagens puras selecionadas que caracterizará a nova variedade. Na seleção de linhas puras, ou seleção de plantas individuais com 96 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos teste de progênie, a nova variedade é constituída por uma única linha pura. No método massal, as progênies de muitas linhas puras são combinadas para formar a nova variedade. 8.4. SELEÇÃO DE LINHAS PURAS Este método basicamente se desenvolve em três fases complementares: a) Na primeira fase seleciona-se um grande número de plantas da população ou variedade original que é geneticamente variável. Este processo inicial de seleção individual, com base em características aparentes de valor agronômico, é muito importante, pois é entre as progênies descendentes que ocorrerão diferenças genéticas e muito pouca ou nenhuma variação ocorrerá dentro de uma mesma progênie. Não se pode determinar qual o número de indivíduos a serem selecionados e que seja aquele adequado para todas as situações. Admite-se, no entanto, que esse número deva ser o maior possível, dependendo dos recursos disponíveis de tempo, mão-de-obra, existência de outros programas, etc. Em geral, várias centenas ou alguns milhares de indivíduos poderão ser selecionados, dependendo muito das diferenças fenotípicas aparentes. Uma seleção cuidadosamente feita é muito importante quando o espaço e outras limitações restringem o número de linhagens que podem ser cultivadas nas gerações subseqüentes. b) A segunda fase compreende o cultivo das progênies das plantas selecionadas em linhas, para que possam ser observadas criteriosamente. Essa qualificação visual pode ser feita em alguns anos, porque as condições ambientais costumam variar de ano para ano. Às vezes, faz-se a disseminação artificial de doenças, e outros auxílios à seleção que permitem a eliminação adicional de tipos inferiores. As progênies selecionadas são cultivadas por alguns anos, continuando- se a fazer as eliminações necessárias, que devem ser drásticas nesse período, reduzindo o número de linhagens a um tamanho manejável, pois a etapa final do programa é trabalhosa e geralmente de alto custo financeiro. Recomenda-se que nessa fase sejam instalados ensaios preliminares em locais e épocas de plantio usuais na região para a qual o material está sendo melhorado, mesmo que o número de 97 Seleção em Plantas Autógamas repetições e o tamanho das parcelas sejam limitados. c) A terceira fase começa quando o melhorista não pode mais selecionar apenas pelas observações, para isolar as melhores linhagens. É necessário, a partir daí, recorrer a experimentos com repetições, para que as linhagens remanescentes sejam comparadas entre si e também com as variedades comerciais, quanto à produção e outras características importantes para a cultura. Para isso o programa é conduzido em diferentes ambientes, durante três anos, pelo menos. Durante todas as fases do programa as avaliações dependem, evidentemente, do tipo de cultura, pois cada espécie tem as suas características botânico-agronômicas e fisiológicas específicas. Seguindo um processo natural e rigoroso procede-se então à produção de sementes genéticas, básicas, registradas ou certificadas. Finalmente, após multiplicação das sementes, novas cultivares são distribuídas aos agricultores. 8.5. SELEÇÃO MASSAL No método de seleção massal, a maioria das linhagens selecionadas são incluídas na população. Inicialmente, esse método foi utilizado com duas finalidades básicas: a) Obter cultivares locais melhoradas de modo rápido e seguro. Estas cultivares foram, em alguns casos, a base da agricultura em regiões ou países menos desenvolvidos e incluem linhagens diferentes quanto ao ciclo (muito precoces ou muito tardias), resistência a doenças, etc. As de qualidade inferior, obviamente, contribuem para a redução da produtividade da cultivar. Observa-se que, após a eliminação dessas linhagens e com a uniformização do ciclo, o material restante evidencia uma representação melhorada da cultivar, resultando um produto que pode ser distribuído aos agricultores sem muita experimentação. O tamanho da população inicial não é estabelecido com rigor. Pode iniciar- se o programa com algumas centenas ou dois ou três milhares de plantas. É importante considerar que se o número de plantas (linhagens) eliminadas for muito pequeno, ou muito grande, a variedade final poderá não atender aos objetivos básicos a que se destina. A eliminação não deve alterar as características agronômicas básicas essenciais da variedade original. Tal 98 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos procedimento permite que o melhorista não tenha que testar exaustivamente o produto resultante, o que lhe possibilita dar mais atenção a outros programas de melhoramento; além disso, a variedade melhorada pode ser distribuída aos agricultores em tempo relativamente curto. b) Purificar cultivares para a produção de sementes. Para isso, algumas centenas de plantas são selecionadas em campos representativos da cultivar. As progênies obtidas dessas plantas individuais são cultivadas no ano seguinte, sendo inspecionadas nos primeiros estádios de desenvolvimento, permitindo que progênies com mutantes, híbridos naturais e misturas varietais, sejam eliminadas. As remanescentes, geralmente, são colhidas em conjunto e misturadas, originando um tipo de semente pura. Trata-se, nesse caso, de uma seleção inversa. Acredita-se que o cultivo de uma única linha pura pode induzir a alguns problemas, dada a sua uniformidade. Isto é válido especialmente quando há ataque de patógenos. A mistura de várias linhagens aparentadas proporciona uma flexibilidade conveniente às variedades de espécies autógamas, nesse caso. Assim, durante a purificação de sementes, procuram-se excluir somente os tipos ou progênies que visivelmente estão fora do padrão. Bueno/Centro de diversidade das plantas cultivadas.pdf 39 Banco de Germoplasma Com o advento de novas técnicas agrícolas, especialmente nos países mais desenvolvidos, vem ocorrendo a substituição gradual de antigas cultivares por outras geralmente de base genética mais estreita, porém mais produtivas e portadoras de certas características superiores que as credenciam à aceitação pelos agricultores. Este fato pode ser considerado normal, quando se verifica a necessidade de maior produtividade para atender às necessidades de uma população mundial sempre crescente e a certas exigências das indústrias processadoras de produtos agrícolas. Apesar dessas justificativas é preciso lembrar que o melhoramento de plantas é um processo contínuo e que se deve reconhecer que, muitas vezes, tem-se que recorrer a antigas variedades ou a populações primitivas, em busca de genes específicos para utilização, em determinadas circunstâncias. A extinção desses materiais cultivados ou existentes nos centros de diversidade, conhecida como erosão genética , é altamente preocupante, por implicar na perda de genes
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