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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE CUSTOS EMPRESARIAIS Resenha Crítica de Caso Gabrielli Lopes Calazans Palmeira Trabalho da disciplina Análises das Demonstrações Contábeis Tutor: Ricardo Barbosa da Silveira Resende 2021 http://portal.estacio.br/ 2 FRAUDE CONTÁBIL NA WORLDCOM Referências: KAPLAN, Robert S; KIRON, David, Fraude Contábil na WorldCom, Havard Business School, Rev: 14 de Setembro de 2007. O objeto de estudo desta disciplina, conta a impressionante história de fraude da empresa de telecomunicações WorldCom nos Estados Unidos. Relatada pelos autores Robert S. Kaplan e David Kiron, a fraude da WorldCom causou muitos estragos aos acionistas, funcionários e ao governo após seu requerimento de proteção contra falência em julho de 2002, considerado o maior erro de cálculo da história, a empresa que tinha o estoque mais bem avaliado do mundo, deu baixa em todo os seus ativos com o valor quase zerado. Seus efeitos devastadores seguiram causando consequências a 20 milhões de clientes no varejo, a 80 milhões de beneficiários da Seguridade Social, ao controle de Tráfego Aéreo (Associação Federal de Aviação), ao Departamento de Defesa, as Casas do Congresso e ao Escritório Geral de Contabilidade. Neste contexto, para o entendimento mais completo, os autores relatam a rápida ascensão da WorldCom desde o primórdio de sua criação: A WorldCom não poderia ter fracassado como resultado das ações de apenas um número limitado de indivíduos. O que houve foi um imenso colapso do sistema de controles internos, governança corporativa e responsabilidade individual, todos trabalhando juntos para criar uma cultura na qual poucas pessoas assumiriam responsabilidades até que fosse tarde demais. Richard Thornburgh, ex-procurador geral norte americano O sistema de telecomunicações dos Estados Unidos era formado por pequenas empresas de telefonia local, operando com chamadas locais, de curta distância e as grandes empresas que operavam com chamadas a longa distância. As empresas AT&T, fundada em 1983 e a LDDS fundada em 1984 (esta precursora da gigante WorldCom), foram consideradas “pequenas empresas” regionais que ofereciam serviços locais. Neste mesmo contexto, existia a MCI, uma empresa bem estabelecida, que 3 realizava ligações a longa distância, mas que ainda não tinha participação expressiva nos estados do Sul. A empresa LDDS apareceu, e como diferencial ofertava a seus clientes chamadas a longa distância, entretanto, para realizar esse feito, contratava os serviços de empresas telefônicas provedoras e pagava pelo uso das redes locais, as empresas de telecomunicações. Dessa maneira, conseguia ofertar aos seus clientes ligações a longa distância, através do elo criado entre pequenas e grandes empresas de telefonia. As ligações a longa distância saiam por custos elevados, pois era pago por cada operadora que participava no serviço prestado. No decorrer do texto, vemos que os autores relatam um grande problema nas finanças da empresa, já no início das operações, desde quando a LDDS iniciou as atividades com um capital de $ 650 mil dólares e logo acumulou uma dívida de $ 1.5 milhão de dólares. Este problema foi atribuído ao pouco conhecimento técnico da empresa para lidar com complexas contas de grandes negócios. Neste período, entra em cena um dos nove investidores originais, chamado Bernard J. (Bernie) Ebbers, para dirigir a empresa. Apesar de deter pouco conhecimento empresarial e do negócio de telecomunicações, levou menos de um ano para tornar a empresa altamente lucrativa. O então novo diretor conseguiu consolidar a jovem LDDS através da compra de pequenas empresas de longa distância, essa com áreas de serviços geograficamente limitada e agregou maior valor ao associa-las com operadoras de longa distância de terceiro nível. Sendo assim proporcionou economia de escala. A LDDS cresceu no Sul e Oeste dos Estados Unidos e também internacionalmente, especialmente na Europa e América Latina. No ano de 1993 a LDDS consegue tornar-se a quarta maior operadora de longa distância nos EUA, e dois anos depois através de uma votação recebe oficialmente o nome de WorldCom. A mesma seguiu crescendo, e em 1996, novas aquisições foram feitas, como a compra da MFS Communications Company. Já em 1997 mais uma grande aquisição, com a compra da MCI, segunda maior operadora de longa distância do país. Em 1999, a WorldCom tenta adquirir a Sprint, mas em Julho de 2000 o Departamento de Justiça dos EUA se recusou a permitir a fusão dessas empresas. O bloqueio dessa fusão foi um evento significativo na história da WorldCom. Para os executivos da empresa este canal já não era mais garantia de viabilidade de expansão do negócio, e ao diretor Ebbers 4 faltou um sentido estratégico de direção, que foi notado por parte dos empregados da WorldCom, e foi quando a empresa começou a declinar e entrar em deriva. Ao longo do artigo, os autores relatam como era a cultura empresarial, esta era uma verdadeira mistura de pessoas e culturas. As estruturas físicas dos departamentos eram divididas e em postos distantes um do outro, a matriz estava no Texas, o departamento pessoal na Flórida, o departamento jurídico em Washington DC. Ebbers não valorizou os advogados corporativos da empresa e nem as suas informações, pois desenvolveu a cultura de que um ambiente corporativo saudável era mais importante que as funções jurídicas da empresa. Conforme relato de um ex-gerente, não havia congruência na forma de gerenciar. E o próprio Ebbers em certo momento chamou um projeto de código de conduta corporativa de uma “perda de tempo colossal”. Os funcionários não podiam questionar seus superiores, apenas deveriam obedecer às ordens. Se alguém tivesse opinião contraria do seu chefe, era criticado com frequência e até mesmo ameaçado. Sendo assim, inexistente um canal de comunicação aberta e independente para os empregados expressarem suas preocupações sobre políticas ou comportamento da empresa. Para aumentar o valor de mercado da companhia, os gestores tinham como foco prioritário, o crescimento da receita, para isso chegavam a fazer muitos gastos de longo prazo, em projetos que não viabilizaria a obtenção de ganhos a curto prazo. Como por exemplo a WorldCoom assumia contratos a longo prazo adquirindo grande quantidade de linhas telefônicas as quais não utilizavam e terminavam tendo um custo muito alto, criavam uma expectativa de vendas de linhas, mas essa não existira e além disso as companhias de comunicação estavam declinando. No ano de 2000 a indústria telefônica começou a deteriorar em meio a recessão economia originária do estouro da bolha das empresas ponto.com. A relação de receita e despesas D/R da WorldCom era em torno de 42% no primeiro trimestre de 2000, e manter esse patamar era a meta do trimestre seguinte. Como essa meta não tinha como ser atingida o CFO Sullivan utilizou-se da manipulação de dados contáveis para chegar no resultado esperado. Sullivan e sua equipe utilizaram duas táticas, que são consideradas principais dentro da contabilidade: 1) Reversão de provisionamento e 2) Capitalização das despesas com linhas em 2001 e 2002. 5 Na contabilidade da WorldCom os custos eram estimados pelas despesas mensais e por linhas. Considera-se que os custos dessas linhas não vinham no mês, vinham meses depois e por isso eram pagas também meses depois. Para isso era realizado um provisionamento e este, registrado, ia para o passivo da empresa, para um futuro lançamento como pagamento ao proprietário da linha. Caso as contas fossem menores do que foi provisionado a WorldCom poderia reverter esse provisionamento justificando haver uma redução nas despesas com linha e este valorseria lançado no Demonstrativo de Resultados, justificando assim suas receitas altas e despesas baixas na proporção 42%. Esses movimentos foram realizados inúmeras vezes e milhões de dólares foram movimentados nesta contabilidade fraudulenta de 1999 ao ano de 2000. Quando os provisionamentos foram reduzidos a zero, foi hora de mais uma vez ser utilizada outra manobra contábil para justificar a relação D/R da empresa em 42%. Então chegou a vez de capitalizar as despesas, os custos de linhas deveriam ser tratados como gastos de capital e não como custos operacionais. Em 2001, Sullivan decidiu reconhecer que as despesas com a capacidade de rede não utilizada deveriam ser contas do ativo e nomeou um lançamento como o nome “Construção em andamento”. Os gerentes de Sullivan foram ordenados a capitalizar $ 771 milhões como despesas de “construção em andamento” e a seguir, que estornassem $ 227 milhões do montante capitalizado e $ 227 milhões de provisionamento de passivos relativos a cabos oceânicos. No relatório trimestral em abril 2001 novamente a empresa se supera com 42% a relação de D/R. Alguns contadores da empresa a princípio não queriam concordar com esses lançamentos e por isso foram ameaçados de demissão. Dentro da WorldCom, haviam duas auditorias uma interna e outra externa, e apesar das informações terem sido propositalmente ocultadas, a auditoria interna dirigida por Cynthia Cooper, foi responsável pela descoberta das fraudes. Enquanto a auditoria externa comandada por Arthur Andersen fazia vista grossa aos fatos ocorridos na empresa e deixou passar o montante de fraudes nesta empresa, este tinha receio de prejudicar o relacionamento com a sua maior cliente WorldCom, sua “Joia da Coroa”. O conselho administrativo não desempenhou um bom papel, pois não avaliavam fatos importantes, e sim, fatos superficiais em suas curtas análises realizadas durante as reuniões. Segundo investigações o Conselho Administrativo estava “distante e alheio ao funcionamento da companhia”, junto com Ebbers, que mantinha diversos outros negócios além do seu trabalho em tempo integral como CEO da WorldCom. 6 O Conselho apresentou-se como um órgão da empresa sem muita importância, era sem vida e sem direção para cultura empresarial da WorldCom. Relevante também é mencionar que o comitê de Auditoria não se dedicou como deveria, o problema apresentado era de grande porte e não foi dada a tratativa necessária por parte deste comitê. Em junho de 2002 a WorldCom finalmente anunciou que seus lucros foram aumentados durante os últimos quatro trimestres e suas ações foram suspensas da Nasdaq. O rating de credito fora rebaixado pela Standard & Poor’s. Todos os responsáveis pela fraude sofreram severas consequências, alguns foram presos, e para alguns os bens foram confiscados pela justiça. Somente a Arthur Andersen não foi chamada a responsabilidade sobre a auditoria fraudulenta na WorldCom, mas encerrou suas atividades em Agosto de 2002, logo após o final das investigações federais serem concluídas e todas as sentenças deliberadas. Temos muitos ensinamentos através deste artigo de Kaplan e Kiron. Nessa história de sucesso e fracasso vemos a rápida expansão da empresa sem o devido planejamento e cuidado. Uma empresa que alicerçou sua base de crescimento visando apenas o patrimonial e a alta lucratividade, mas sem estável e firme base de sustentabilidade. Sua estratégica foi a expansão desmedida, não tendo uma definição sólida no mercado de telecomunicações, não considerou sua missão, visão e valores mostrando claramente que não houve um plano de negócio. O próprio Ebbers desconsiderou o possível código de ética, mostrando assim sua conduta e o que era a cultura da empresa. Não valorizou a importância do capital humano/intelectual. Correndo desesperado atrás de resultados sempre maiores, e tendo uma visão egoísta, orquestrou a equipe em busca de receita e definhou quando encontrou na fraude contábil a saída para a sua falta de controle e de aceitação da realidade. Enquanto o mercado sinalizava declínio, a WorldCom desafiava a todos com seu enigmático resultado. Enquanto alguns funcionários se sujeitaram a realizar tarefas inaceitáveis, outros como a auditora Cynthia Cooper, não temeu e foi fundo na revelação da fraudulenta equipe comandada por Sullivan. Neste contexto a ética profissional opera condizente com a justiça de que em cada ação há uma reação. Alguns foram para a cadeia e outros como a corajosa auditora Cynthia Cooper beneficiadas pelo reconhecimento e coragem. Conclusivamente neste artigo foi possível averiguar o nascimento, crescimento e desaparecimento de um órgão vital no capitalismo, ou seja, uma gigantesca corporação que tinha tudo para ser a maior em telecomunicações nos Estados Unidos e que por não 7 respeitar seus valores, literalmente acabou. Muitas variáveis essencialmente importantes como agora mencionado ainda são ignoradas pelas grandes empresas nos dias de hoje. Prova-se que não basta ser grande, ter mercado em expansão para uma empresa se perenizar, mas é preciso pessoas preparadas, planejamento estratégico, estratégias adequadas, inovação, readaptação, readequação e principalmente o cumprimento a risca dos valores, missão e visão estabelecidos no início da empresa, para que o negócio possa solidificar e se estabelecer corretamente no mercado em que se propõe trabalhar e fazer a diferença.
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