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Artefatos Culturais da Comunidade Surda

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Artefatos Culturais da Comunidade Surda
A palavra “artefato” comumente nos remete a uma ideia de objeto antigo, raro, que foi encontrado em meio a uma investigação aprofundada. Muito próximo dessa interpretação, porém não limitada a ela, os artefatos culturais da comunidade surda se definem a partir da organização da vida da pessoa surda como um todo. Ou seja, as áreas de desenvolvimento pelas quais ela passa, as relações primárias que desenvolve ao longo de sua formação etc. são definidas como parte de sua cultura, isso porque são elas que constituem a sua identidade (CABRAL, 2016).
Devemos considerar que as implicações externas na formação de uma identidade devem ser levadas em consideração em todos os contextos, em todos os âmbitos da vida de uma pessoa. Isso se aplica a qualquer um de nós: todos temos e somos aquilo que nosso ambiente permitiu, não de maneira determinante, mas as influências locais nos capacitam e nos dão uma identidade própria. Por exemplo, o fato de reconhecermos alguém pelo sotaque de sua fala, do estilo de roupa que usa, dos hábitos que demonstra ter etc.
No caso da pessoa surda, tais implicações culturais se tornam bem mais influentes em sua identidade, uma vez que ela se encontra, desde o seu nascimento, em uma sociedade “estrangeira”. Conduzidas pelos valores e pela lógica do mundo dos ouvintes, a pessoa surda e sua família, ao terem o diagnóstico da surdez, podem incorrer em um processo de negação do fato (CABRAL, 2016). Em um primeiro momento, além da família, é o surdo quem geralmente sofre mais com essa constatação da surdez, pois, ao se deparar com o mundo externo ao seu círculo familiar, ele se perceberá diferente dos demais e, em alguns casos, mais comuns em pequenas cidades, poderá ser a única pessoa com deficiência em seu bairro.
Mesmo que a descoberta da surdez possa ocorrer nos primeiros anos de vida, ainda assim há situações nas quais a negação permanece presente. O que se verifica, na prática, é que, conforme a condução do diagnóstico, bem como a visão médica a respeito do que é ser surdo, a aceitação da família tende a ser diferente. Isso reforça a importância do atendimento humanizado e que não reconheça a surdez como sinônimo de incapacidade profissional, afetiva e social.
De modo geral, no Brasil, o discurso médico sobre a surdez reforça os aspectos negativos da deficiência. Esta perspectiva negativa em relação ao desenvolvimento do surdo negligencia a possibilidade de seu desenvolvimento bilíngue e reforça a visão dos pais de que seus filhos terão muitos problemas de desenvolvimento acadêmico e social (MONTEIRO; SILVA; RATNER, 2016, p. 2).
Perceba como fatores como o familiar, o social e o linguístico interferem diretamente não apenas na compreensão da pessoa surda sobre sua cultura, mas também sobre ela mesma. Seja a surdez congênita (que está presente desde o nascimento) ou a adquirida (por doença, velhice, acidentes etc.), todas exigem do indivíduo um período de adaptação no qual sua identidade deve ser paulatinamente aceita por ele. Esse processo de aceitação pode até ser lento, porém, se torna muito mais complexo quando a experiência do sujeito é cercada por paradigmas preconceituosos, discursos não fundamentados na realidade do ser surdo ou, então, ignorada pelas pessoas, como se ela não existisse e, portanto, não devesse ser levada em consideração. É como se a sua condição física e biológica não fosse reconhecida por seus pares, que a todo instante buscam a “normalização” de seu estado.
A construção da identidade surda nem sempre nasce da aceitação dessa realidade diferenciada dos ouvintes. Ela pode nascer da contradição de querer se aproximar da realidade dos ouvintes, que são a maioria da população. [...] essa dificuldade que alguns surdos têm em assumir sua identidade política e cultural como membros da cultura surda tem fundamento nos parâmetros sociais de acordo com os quais o ouvinte de fala oral é a maioria e o surdo de fala sinalizada é uma minoria linguística (CABRAL, 2016, p. 24-25).
Essa busca pela normalização se torna rotina na vida da pessoa surda, inicialmente por sua família e grupo de pessoas próximas, até chegar nela mesma, que encontra dificuldades em se aceitar. Não poderia ser diferente, pois, em uma sociedade com estruturas e comportamentos padronizantes, quem não se encaixa nos ditames impostos tende a se isolar ou a se adequar àquilo que é imposto.
Podemos entender essa dificuldade estrutural por parte de nossa sociedade de reconhecer o sujeito em sua individualidade como uma expressão do preconceito estrutural e, muitas vezes, por falta de informação. Em relação às pessoas com deficiência (PcD), tal preconceito é camuflado diariamente pelas ideias do politicamente correto, porém, se revelam na particularidade, no anonimato, demonstrando que, de fato, não houve, na formação do indivíduo, uma educação que gerasse uma transformação política.
No entanto, na intimidade, quase sempre desmorona e pode dar lugar mais claramente ao preconceito, que, nesse espaço, não precisa ser escondido de ninguém. Não se faz necessário, portanto, se policiar, isto é, manter a vigilância (excessiva) sobre o que se fala. O politicamente correto pode mascarar e velar preconceitos vívidos, o que é assaz perigoso, apesar de bastante comum. Em relação aos sujeitos surdos, isso vem à tona com o uso de termos legais como “portador de necessidades educativas especiais”, como se a pessoa portasse (logo, pode deixar de portar) um impeditivo à suposta normalidade ou como se todos nós não tivéssemos necessidades educativas que (nos) são especiais (PEREGRINO, 2015, p. 33638-33639).
Nesse contexto é que encontramos o papel crucial da família; sendo 90% dos surdos filhos de pais ouvintes, a aceitação por parte da família é que proporcionará o reconhecimento da pessoa surda com a sua comunidade (CABRAL, 2016). O cenário familiar será responsável pela formação da identidade do sujeito, seja lhe proporcionando a ajuda necessária para compreender-se melhor enquanto surdo(a), seja para reafirmar a cultura ouvinte na qual ele vive à qual poderá se adaptar. Certamente, conforme a história evidencia, o aprendizado da cultura surda sempre será a escolha mais assertiva por parte dos familiares e do próprio surdo(a), uma vez que esta lhe é própria em razão da possibilidade se autoafirmar sem grandes esforços e adaptações àquilo que lhe é estranho (MORAIS et al., 2018).
Os artefatos da cultura surda são instrumentos que reforçam a presença do(a) surdo(a) na sociedade sem maiores constrangimentos e adequações. Ou seja, a aceitação da sua identidade e cultura segue o caminho da acessibilidade de forma quase natural, uma vez que não será mais necessário o esforço para ser reconhecido, compreendido e aceito na lógica da cultura ouvinte, pois, gradualmente, se validam as tentativas de adaptação a partir das necessidades da pessoa surda em ser quem ela é, e não quem a sociedade gostaria que fosse.
Saiba mais
O teatro enquanto expressão artística tem em sua essência o entretenimento democrático, em que todos podem e devem ter acesso ao seu conteúdo. Seguindo esse 
ideal, anualmente, ocorre no Rio de Janeiro o festival “Corpos Ímpares”, que traz como trabalho a arte inclusiva, capaz de oportunizar às pessoas com deficiência apresentações acessíveis e, ao mesmo tempo, que fala sobre diferença, preconceito e aceitação pessoal.
Podemos elencar alguns artefatos culturais e tecnológicos que pertencem à comunidade surda. Aqui, nos detemos em atribuir o significado de objetos tecnológicos e experiências culturais, conforme nos apresentam Morais et al. (2018), todavia, isso não impede que outras definições de artefatos sejam reconhecidas como corretas, como é o caso da interpretação da família e da língua como componentes desse grupo. Tudo aquilo que se relaciona ao mundo e à experiência da pessoa surda pode ser compreendido como componente de sua cultura e identidade, uma vez que é somado à experiência de apropriação de sua individualidade (MORAIS et al., 2018). Observe alguns exemplos:· TDD – é um aparelho telefônico próprio para a pessoa surda ou com perda auditiva. Ele possui, além do telefone comum, uma tela digital onde aparece o texto digitado. Funciona assim: a pessoa surda retira o telefone do gancho e o coloca junto à tela de texto; em uma central de serviços, um atendente captará a ligação e descreverá para a pessoa ouvinte que está na outra linha o que a pessoa surda quer dizer, a partir daquilo que ela digitar. Esse objeto é antigo, data de 1964, e, na atualidade se tornou obsoleto, tendo em vista o acesso universal da internet e de aplicativos de comunicação, como o WhatsApp.
· Aparelho auditivo – muito utilizado, sobretudo nos casos de perda de audição por idade avançada, essa opção não está disponível para surdos severos e/ou profundos. O aparelho auditivo funciona a partir do local da perda de audição (ouvido externo, médio ou interno) e capta o som local complementando a capacidade do indivíduo de ouvir.
· Implante coclear – utilizado em casos de surdez severa e/ou profunda, o implante coclear seria o estímulo por meio de corrente elétrica dos nervos que estão presentes na cóclea, área própria do ouvido interno. Esse procedimento pode ser arriscado, pois algumas pessoas não se adaptam ao aparelho, assim como nem todos os tipos de surdez severa e profunda são solucionados por ele. Há casos, por exemplo, em que o nível de danos sofridos na cóclea ou no nervo auditivo é profundo e, consequentemente, a surdez é irremediável (TEFILI et al., 2013).
· Teatro surdo – é a produção artística de cenas de teatro, porém, adaptadas à pessoa surda. Utilizando da língua de sinais, os artistas dão vida aos personagens e suas histórias a partir da expressão corporal, facial e das mãos.
· Piada surda – outro artefato da cultura surda, as piadas surdas são contadas a partir da Libras, ou seja, com as mãos. Contadas em pequenos grupos informais, elas trazem o significado do humor para a pessoa surda de acordo com as suas interpretações e visão de mundo, além de consolidarem a cultura surda.
· Literatura surda – utilizando de histórias clássicas ou modernas, a literatura para surdos é a adaptação de livros que, ao invés de serem escritos em língua portuguesa, contam com as imagens da história acompanhadas de sinais, para que o surdo as possa ler. No caso da presença de um intérprete, esses livros servem de apoio para que suas expressões e sinais o tenham como aporte.
· Língua de sinais brasileira – este é o principal instrumento de comunicação da comunidade surda e que compõe a sua cultura. Após passar por diversos contextos de exclusão e intolerância, atualmente, a Libras é parte estruturante da cultura e identidade surda.
Vale ressaltar que as identidades surdas estão, assim como qualquer outra identidade, em constante processo de transformação e renovação de seus valores. A presença da tecnologia favoreceu o acesso à informação e à comunicação para este grupo, sem precisar da presença constante de um intérprete para lhe transmitir histórias e informações básicas, e isso interferiu diretamente na busca por autonomia da pessoa surda, isto é, na sua compreensão sobre si e no modo de ser e estar no mundo.
Conhecimento
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(Atividade não pontuada)
A cultura e identidade surda são as características próprias do grupo de pessoas acometidas pela surdez. Em um mundo permeado por valores e referenciais ouvintes, é possível que, em dados momentos, a pessoa surda possa se sentir alheia a tudo aquilo que lhe cerca, como se fosse estrangeira em seu próprio país.
Compreendendo, assim, a importância do reconhecimento de uma cultura e identidade própria para esse grupo de pessoas, assinale a alternativa que apresenta corretamente de que modo podemos classificar os artefatos culturais da comunidade surda.
Parte superior do formulário
a) A identidade e cultura surda se fazem a partir dos movimentos históricos, ou seja, das lutas e das influências temporais. Desse modo, quando falamos em artefatos, estamos nos referindo a conquistas históricas, e não materiais. Essa distinção é importante, pois, na cultura surda, não é correto afirmarmos que há artefatos materiais.
b) Os artefatos culturais são aqueles que compõem a identidade e cultura de um grupo e/ou sociedade. No caso da pessoa surda, são artefatos de sua cultura e língua os sinais que utilizam, objetos de aperfeiçoamento de sua comunicação, bem como o teatro, a dança e a literatura surda.Feedback: alternativa correta. Estes são alguns dos artefatos da cultura surda, próprios de sua história e identidade, porém, devemos lembrar a importância da aquisição da língua e que, além desses, há diversos outros objetos e contextos que pertencem a essa classificação.
c) Artefatos históricos indicam a presença de pesquisa e investigação. No caso da comunidade surda, poucas são as pessoas que se especializaram para encontrar novos objetos que os identifiquem. Desse modo, o mais correto é dizer que os artefatos da cultura surda foram legados pelos ouvintes.
d) O artefato cultural próprio da comunidade surda é somente um: a Língua de Sinais. Os demais instrumentos considerados com o mesmo grau de importância, na verdade, não o são, pois o desenvolvimento da cultura surda iniciou-se a partir da Libras e, portanto, todos os demais artefatos derivam dela.
e) O primeiro artefato a surgir na história da comunidade surda foram os objetos do tipo terapêutico, como o implante coclear e o aparelho auditivo. Inicialmente vista como uma deficiência que deveria ser curada, a surdez precisou de elementos que, após o seu diagnóstico, permitissem a recuperação da pessoa surda.
Parte inferior do formulário
Bilinguismo e a Tendência à Oralidade
Uma das temáticas que se associa à identidade surda é o processo ao qual este indivíduo está sujeito durante a sua alfabetização escolar. Guiados historicamente por experiências e tentativas diversas de como educar crianças e jovens surdos, ao falarmos de educação inclusiva, deparamo-nos com a insegurança e medo, dos profissionais da educação, de que se repitam os erros do passado (LACERDA; SANTOS; MARTINS, 2019). Ou seja, os riscos da promoção de uma educação fragmentada em pleno século XXI não são improváveis, bem como a possibilidade de os sistemas de ensino serem norteados por uma educação que não atenda às necessidades e à cultura da pessoa surda é uma questão moderna e pertinente. Essa problemática vem ao encontro da interpretação de que a língua de sinais também é um artefato cultural e, por isso, deve ser ensinada já nos primeiros estágios da formação da pessoa surda.
Isso significa que, ao falarmos sobre a educação da pessoa surda, deve-se compreender como metodologia a ser empregada em seu processo de ensino o bilinguismo. Esse método de alfabetização na educação de surdos significa que a criança surda será alfabetizada na escola em duas línguas: a primeira será a língua de sinais, que é a sua língua natural, e, em segundo lugar, lhe será ensinada a língua oficial de seu país (LACERDA; SANTOS; MARTINS, 2019). No caso do Brasil, a primeira língua a ser ensinada será a Libras e, na sequência, a Língua Portuguesa.
Essa associação dos saberes linguísticos garante que o indivíduo tenha as suas necessidades de comunicação atendidas, ao mesmo tempo em que não se isente dos saberes próprios de seu país e das questões que permeiam o seu dia a dia. Entretanto, não são todas as escolas que ofertam uma educação bilíngue, sendo destinada apenas uma pequena parcela das instituições públicas para essa finalidade. Desse modo, aos alunos das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental, bem como do Ensino Médio, restam as adaptações que cada escola realiza em sua organização curricular e pedagógica.
Quando o aluno surdo ingressa em uma escola comum (regular), ele está adentrando num ambiente cuja língua de instrução é a portuguesa e cujo espaço não foi pensado para recebê-lo e formá-lo enquanto cidadão. É fundamental, nesse sentido, que as práticas, os métodos, as avaliações e os currículos sejam pensados e organizadosde modo a contemplar os estudantes surdos em sua totalidade (MORAIS et al., 2018, p. 57).
Pensar uma educação acessível à pessoa surda é uma tarefa que legalmente já foi realizada. Nesse sentido, temos a Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005, que regularizam o ensino e uso da Libras, bem como a oficializam como primeira língua para a pessoa surda e a segunda língua oficial do país (BRASIL, 2005). Apesar disso, o processo de adaptação permanece extenso e demorado, o que afeta diretamente na educação de jovens surdos, que, para completarem suas formações escolares ou se manterem em seus trabalhos, abrem mão do cumprimento das leis e, mais uma vez, repetem a sequência histórica de serem silenciados em necessidades básicas para se desenvolverem com qualidade e equidade.
Falando diretamente da educação, não é raro encontrarmos sistemas de avaliação escolar que priorizam em seus exames de aprendizado e demonstração de conhecimento da pessoa surda as mesmas exigências que um ouvinte deve seguir. O fundamento de tais métodos foge à realidade do surdo, uma vez que sua condição e cultura estruturam a sua interpretação de mundo em uma lógica particular, a qual não pode e não deve ser comparada àquelas da pessoa ouvinte.
Apesar da regulamentação formal no que se refere ao direito à comunicação dos surdos no país através da Libras, ainda constata-se que estes encontram entraves para exercerem tal direito nos diversos segmentos da vida social, sendo privados no acesso à educação, cultura, lazer, informação etc. Por exemplo, quanto à política de educação, frequentemente as escolas regulares colocam como requisito de escolarização dos alunos surdos o enquadramento aos padrões ditos “normais”, desrespeitando o desenvolvimento das singularidades destes. Ou seja, valorizam-se, exclusivamente, a oralização e a leitura labial, em detrimento da comunicação, não apenas em sala de aula, pela Libras (NUNES et al., 2015, p. 539).
O mais comum nas realidades escolares é encontrarmos instituições que atendam às exigências legais de inclusão por meio de um profissional específico. Isso ocorre com a contratação de intérpretes de Libras para acompanharem os alunos surdos durante todas as aulas, estágios e atividades extraclasses, como palestras, debates e pesquisas escolares (BAGGIO; CASA NOVA, 2017). Contudo, a pedagogia moderna questiona se esse atendimento seria suficiente, uma vez que estamos falando da construção de uma identidade. A criança, geralmente, tem seu primeiro contato com a cultura surda na fase da escolarização, pois, como, mais de 90% das famílias são de ouvintes, a língua à qual elas têm acesso em sua casa é a dos ouvintes, e não a de sinais (MORAIS et al., 2018).
Configura-se, assim, uma educação inclusiva que, em certos casos, erra na aplicação de seus métodos, seja por ignorância ou descuido na formação de seus professores em relação à acessibilidade e inclusão. Esses fatos reforçam a defesa das escolas bilíngues, local apropriado para o progresso humano e intelectual da pessoa surda, uma vez que o método que ali se emprega compreende todos os aspectos formativos necessários ao estudante na modernidade. Saberes psicológicos, sociais, acadêmicos e afetivos são abordados nesses ambientes, todos relacionados aos saberes e cultura surdos.
Apesar de moderna e, ao mesmo tempo, ser reflexo de uma educação inclusiva que demonstra a preocupação social com a educação de pessoas com deficiência auditiva, a proposta bilíngue comporta em si o entendimento de acessibilidade integral, priorizando sujeitos, currículos e aprendizagem.
Uma proposta pedagógica bilíngue oferece às crianças surdas as mesmas garantias de possibilidades de aprendizagem linguísticas e desenvolvimento psicológico de uma criança ouvinte. Para que isso aconteça, o ensino é ministrado em língua de sinais, que é uma língua natural para essa criança e sobre a qual ela tem maior domínio e fluência (MORAIS et al., 2018, p. 59-60).
Cabe ressaltar que as escolas bilíngues não levam à exclusão ou ao afastamento social da pessoa surda, pelo contrário; na escola bilíngue, as possibilidades de se reconhecer como parte de uma cultura se tornam maiores e mais efetivas, elevando a autoestima e gerando sentimento de pertencimento e de naturalidade em relação à sua diferença. O que se verifica em tais locais é o suporte identitário que nas escolas de ensino regular que aderem à inclusão, geralmente, é baixo ou inexistente.
Não se deve, com isso, desmerecer o trabalho das escolas regulares, que, a partir das conquistas legais em nosso país, começaram a ofertar aos alunos surdos a presença do intérprete de Libras. Entretanto, a preocupação a qual nos referimos adentra o campo da cultura e da identidade desse sujeito de aprendizagem que necessita se reconhecer no espaço escolar. É na escola que o indivíduo se descobre enquanto parte de um grupo, de uma comunidade constituída, da qual ele é herdeiro e, ao mesmo tempo, partícipe das mudanças que ocorrerão (STROBEL, 2008). No caso da pessoa surda, o que se pretende na construção de seu percurso pedagógico é que ela tenha acesso às mais variadas culturas e saberes, porém, tendo como norte de sua trajetória a identidade que lhe foi transmitida por seu grupo de origem, a fim de situar-se em meio às diferenças e às variadas expressões artísticas, sociais e intelectuais como alguém que também possui referenciais seguros para que possa voltar sempre que necessário.
O espaço educacional do surdo tem sido, na maioria das vezes, a escola de surdos. Como ocorreu em todas as escolas especiais, as propostas educativas estavam centradas na procura da normalização. Porém, com a evolução e o aperfeiçoamento de tais propostas para a educação de surdos, boa parte dessas escolas vem procurando implantar um projeto de educação que possibilite ao aluno adquirir os saberes universalmente acumulados por meio da língua de sinais, bem como que lhe permita levar em consideração a experiência visual de ser surdo. Além disso, a presença do professor surdo fornece às crianças surdas um elemento identificatório positivo (BAGGIO; CASA NOVA, 2017, p. 78).
Novamente, devemos diferenciar o processo de especialização da ideia de exclusão. Privilegiar que a educação de surdos possa acontecer em escolas próprias para eles, isto é, escolas bilíngues que valorizem e reconheçam a sua identidade e, a partir disso, iniciar o processo de alfabetização não significa excluir o sujeito da socialização e convivência com as demais realidades não surdas.
Contrariamente à possibilidade da definição de distanciamento social, a defesa que se faz das escolas bilíngues se dá por seu caráter identitário da cultura surda, bem como do olhar inédito que se constrói a respeito dela. Fugindo da leitura deficitária a respeito da surdez, a interpretação desta como condição própria da pessoa surda consolida uma leitura histórica do perfil dessas pessoas e dos artefatos que compõem as suas expressões culturais (NUNES et al., 2015). Em outras palavras, a surdez deixa de ser vista como deficiência e passa a ser a diferença que cada surdo traz consigo em relação às pessoas ouvintes, o que não lhes diminui em nada tampouco os tornam incapacitados para uma vida plena e feliz.
Concluímos que a dissociação da surdez com a deficiência revela a condição bilíngue da surdez, isto é, da possibilidade e importância de o surdo ter acesso a Libras como língua primeira e estruturante de sua identidade e, a partir dela, ter acesso a todas as informações do mundo como qualquer pessoa. Não é necessário o olhar penalizado tampouco a crença na incapacidade do surdo (NUNES et al., 2015, p. 539).
A problemática da deficiência não significa que as políticas voltadas às pessoas com deficiências não devam incluir as pessoas surdas. Ao contrário, por nos referirmos a um grupo minoritário, faz-se imprescindível que cada política seja reconhecida e lembrada a cada momento oportuno, tanto pela comunidade surda como pela sociedade em geral. Fugir do estigma social e clinicamente estabelecido da surdez comodeficiência é afirmar que a definição de pessoa deve partir do simples fato de todos nós sermos, antes de tudo, humanos, e não de nossas condições físicas, de raça, crença, orientação sexual ou deficiências.
Trata-se do reconhecimento da diversidade presente em nossa sociedade, que não deve ser encarada como um risco à ordem, mas como a possibilidade de evolução da consciência coletiva que aprende, gradualmente, a aceitar as pessoas a partir de quem elas são ou querem ser, e não de definições padronizadas de corpo e mente.
Ou seja, a concepção de surdez que ultrapassa a conceituação de deficiência não visa negar o déficit orgânico, mas lançar luz para a experiência subjetiva marcada pela surdez: para as possibilidades que essa condição traz; para as trocas intersubjetivas facilitadas pelo convívio em grupos ou comunidades entre surdos; para além da comparação constante com os ouvintes e para a denúncia presente nas propostas pedagógicas “ouvintistas” (NUNES et al., 2015, p. 539-540).
Pode parecer contraditória a defesa de uma sociedade que priorize o homem em si, enquanto lutamos pela elaboração de leis e tratamentos específicos para grupos de minoria em nosso país. Contudo, frente aos interesses econômicos que conduzem as decisões políticas não apenas de nosso país, mas da sociedade moderna como um todo, devemos fracionar para unir, dividir para somar, garantindo, assim, que, paulatinamente, todos tenham voz; são garantias sociais adquiridas em situações particulares, mas que nos consolidam integralmente.
É a assimetria nas relações de poder que justifica e legitima as comunidades surdas como possibilidades de reorganização de novos encontros discursivos que não sejam marcados apenas pela comparação constante com a “normalidade” e com o desvio. O convívio dos surdos entre si pode trazer trocas que influenciam na concepção sobre si mesmo e no acesso às produções culturais desse encontro: arte, teatro, reflexões, reivindicações etc. (NUNES et al., 2015, p. 540).
No caso da pessoa surda, o fortalecimento de sua cultura se faz pelo encontro de seus iguais, na busca por direitos e acesso a eles, na divulgação de suas qualidades e da riqueza linguística que a Libras possui. Esses instrumentos, guiados por bons projetos e por uma educação que deveras os alcance, oportunizam autoconhecimento para seu grupo e exemplo de encorajamento para todos os demais.
Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)
Desde a promulgação das leis de acessibilidade, bem como daquelas que tornavam a Libras a língua oficial da comunidade surda, o que se viu foi o fortalecimento do método bilíngue para alfabetizar crianças e jovens surdos. Contudo, majoritariamente, temos em nosso país as experiências das escolas inclusivas, nas quais há a presença do intérprete de Libras para acompanhar os alunos surdos ao longo do período letivo.
Sobre a educação das escolas bilíngues e a sua contribuição para a formação da cultura e identidade surda, assinale a alternativa correta.
a) As escolas bilíngues são consideradas a melhor estratégia para a educação das pessoas surdas, tendo em vista que, nesses ambientes, não é somente a língua de sinais que lhes é ensinada, mas todo o conteúdo curricular, isto é, os saberes teóricos e práticos são transmitidos a partir de uma perspectiva identitária e cultural, própria da pessoa surda.Feedback: alternativa correta, pois o diferencial das escolas bilíngues se dá na promoção de uma educação que tenha como princípio o desenvolvimento da identidade e cultura do aluno surdo.
b) A promoção de escolas bilíngues em nosso país tem sofrido diversas críticas por parte das instituições de apoio à pessoa surda. Isso ocorre, pois, nessas instituições de ensino, o aluno surdo se vê isolado das experiências comuns aos demais sujeitos de aprendizagem que não são surdos. Por esse motivo, a educação inclusiva se torna a melhor alternativa.
c) As escolas bilíngues oferecem uma educação direcionada especificamente ao aluno surdo. Contudo, há uma questão que, conforme vimos em nossas aulas, tem interferido na qualidade do ensino bilíngue, que é a promoção de uma matriz curricular que priorize somente assuntos voltados à cultura surda. Esse fato tem dificultado o aprendizado efetivo da pessoa surda sobre o mundo e demais culturas.
d) A partir do momento em que a criança completa a idade necessária para iniciar sua formação escolar, ela deve ser encaminhada para uma instituição de ensino. Com a pessoa surda, segue-se a mesma lógica, dando-lhe como suporte pedagógico a presença de um intérprete de Libras durante as aulas presenciais. As escolas bilíngues servem como complemento a sua educação formal.
e) A presença de escolas bilíngues tem aumentado substancialmente ao longo dos anos. Isso se dá pelo fato de as políticas de inclusão serem mais abrangentes na modernidade, alcançando áreas rurais e de, até então, difícil acesso. Isso demonstra a importância que essas escolas representam para a comunidade surda, que continuamente luta para ter suas necessidades atendidas pelo poder público.
Alfabeto e Cumprimentos
A língua de sinais é considerada natural à pessoa surda, isso porque ela surge como uma necessidade imediata, que é a da comunicação. Assim, ao estudarmos sobre a sua história, mas também sobre sua prática, devemos ter consciência de que estamos falando de uma língua, própria de uma cultura e que, por esse motivo deve ser respeitada em sua essência e expressão
Reflita
O respeito por um povo também se demonstra a partir do valor que damos aos seus hábitos, sua língua e suas características próprias enquanto grupo. Seja nas expressões religiosas, políticas, históricas ou em tantas outras que comportam uma cultura, a língua ocupa um espaço crucial em meio a sua identidade, sendo o instrumento primeiro de comunicação e transmissão de suas crenças e ideologias. Desse modo, cabe a cada sociedade valorizá-la, bem como garantir que o respeito necessário às demais culturas seja exercido a partir da liberdade de expressão que cada sujeito e comunidades possuem de conservar suas raízes linguísticas e históricas.
Há relatos de surdos que, no convívio com pessoas ouvintes, perceberam, em algum momento, que algumas brincadeiras e comentários fugiam à ética e respeito pelas diferenças. Estando cercado por pessoas que falam um idioma diferente do seu, o surdo se atém a outras expressões do corpo, aos olhares, às risadas que lhes são direcionadas e, por esses instrumentos, interpreta e/ou cria condições para compreender o que se passa no momento.
O aluno surdo percebe e avalia o preconceito que sofre, apesar dos desafios linguísticos que lhe são lançados ante situações nas quais a língua hegemônica, o português, é a língua por meio da qual circula e se manifesta o preconceito. Porém, a pessoa surda pode detectá-lo tendo por base olhares, gestos, expressões faciais e corporais, dentre outras, que lhe permitem formações imaginárias a respeito do que pode estar em cena (PEREGRINO, 2015, p. 33648).
Conscientes disso, devemos iniciar o aprendizado das primeiras expressões em Libras compreendendo que a articulação correta dos sinais deve ser realizada observando os seguintes elementos: configuração das mãos (CM), movimento (M), ponto de articulação (PA), orientação (O) e orientação corporal e/ou facial (LACERDA; SANTOS; MARTINS, 2019).
· Configuração das mãos (CM)
PraCegoVer: imagem de figuras de mãos simbolizando as configurações das mãos. Ao todo, são dezesseis figuras. Na primeira, a palma da mão está para cima e os dedos unidos em formato de concha; na segunda imagem, a palma da mão está para a direita e com as pontas dos dedos unidas; na terceira, a palma da mão está para frente e com os dedos curvados, como se segurassem um objeto cilíndrico; na quarta, a mão está em formato de concha, porém, o polegar está na parte superior e não encostado nos demais dedos; na quinta, a palma da mão está para baixo, com os dedos juntos; na sexta imagem, a palma da mão está para baixo, com os dedos levemente curvados e juntos; nasétima, os dedos indicadores e polegar estão em formato de pinça e os demais dedos estendidos; na oitava, a mão está em formato de punho; na nona, a mão está com a palma de costas e com os dedos estendidos para baixo; na décima, a mão está para a esquerda, com a palma para baixo e dedos levemente curvados; na décima primeira, a mão está para a direita, com os dedos indicadores e polegar estendidos; na décima segunda, a palma da mão está para a esquerda e com os dedos levemente estendidos para frente; na décima terceira, a mão está para a direita, como se cumprimentasse outra mão; na décima quarta, a mão está para a direita, com a palma para frente e os dedos indicador, médio, anelar e polegar retraídos, enquanto o polegar está sobre eles; na décima quinta, a mão está para baixo, com os dedos levemente inclinados, o que configura um formato oval; por último, a décima sexta mão está para a direita, com os dedos curvados, como se segurassem um guidão.
A configuração das mãos significa os diversos movimentos e formatos que ela pode adquirir na produção de sinais em Libras. Sinais bem expressivos e claros são fundamentais para a compreensão de quem está acompanhando a interpretação. Para um ouvinte, seria o mesmo que pronunciar alguma frase em um tom baixo, sem qualquer organização lógica, ou com diversos erros gramaticais, o que interfere na comunicação e compreensão do assunto abordado. Segundo Felipe e Monteiro (2006), ao todo, há, na Libras, 64 configurações de mãos distintas.
· Movimento (M) – alguns sinais possuem movimento e outros não. A seguir, temos exemplos de sinais que seguem essas duas modalidades.
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· #PraCegoVer: seis figuras de personagens que sinalizam a língua de sinais. Na primeira figura, o personagem está sorrindo, com a mão esquerda sobre o queixo e com indicativos de movimentos trêmulos; na segunda imagem, ele está com os dedos indicadores estendidos próximos aos olhos, com setas indicativas de movimento retilíneo que configuram a expressão chorar; na terceira imagem, ele está levemente inclinado para a esquerda, com a mão esquerda posicionada com o polegar retraído e os demais dedos estendidos e que se aproximam do queixo, além disso, há setas indicando um movimento retilíneo do queixo para frente, que configuram a palavra conhecer; na quarta imagem, o personagem está de frente, com a mão esquerda aberta e com a palma estendida para cima, dando apoio à mão direita, em frente ao peito, já a mão direita está com os dedos indicador e médio curvados, enquanto os demais dedos cobrem a própria palma da mão, que está sobre a esquerda, em frente ao peito, o que forma a palavra ajoelhar; a quinta imagem possui o personagem com expressão neutra, com a mão esquerda estendida com a palma para cima, servindo de base para a mão direita, que está com os dedos indicador e médio estendidos e com as pontas sobre ela, enquanto os demais dedos permanecem retraídos, formando a palavra em-pé; por fim, a sexta imagem possui um personagem de frente, com os dedos indicador e médio da mão esquerda estendidos na horizontal em frente ao peito, enquanto a mão direita está com os dedos indicador e médio curvados por cima dos dedos indicador e médio da mão esquerda, formando a palavra sentar.
· Ponto de articulação (PA) – os sinais são produzidos a partir dos variados pontos de centralização do corpo. Pode ser em frente ao rosto, ao peito, nas laterais, estando o intérprete de frente para o aluno etc. Há sinais que se localizam em espaços neutros, enquanto outros necessariamente são executados em áreas fixas, conforme demonstra o exemplo a seguir:
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· Figura 2.4 - Os espaços utilizados pelo corpo na execução dos sinais em Libras
Fonte: Adaptada de Felipe e Monteiro (2006).
· #PraCegoVer: oito imagens nas quais os personagens indicam alguns sinais e espaços utilizados na sinalização. Na primeira imagem, o personagem está de perfil e em frente ao seu rosto e ao seu peito há duas setas indicando para a sua esquerda. Na segunda imagem, ele está levemente inclinado para a esquerda, com as duas mãos com os dedos indicadores e polegares estendidos em frente ao abdômen e a palma da mão para baixo, com setas indicando um movimento linear para frente e para trás. Na terceira imagem, o personagem está de frente, com as duas mãos em frente ao peito, com as palmas voltadas para o seu corpo, os dedos polegares e mínimos estendidos e com setas indicando um movimento circular entre eles. Na quarta imagem, o personagem está levemente inclinado para a esquerda, com as duas mãos em frente ao corpo, com os dedos indicadores e médios estendidos e duas setas indicando um movimento circular entre eles. Na quinta imagem, o personagem está de frente e com um círculo demarcado em frente à sua testa, indicando que ali é um local para se realizar sinais. Na sexta imagem, o personagem está de frente, com a mão direita passando sobre a testa com os dedos estendidos e juntos, que se movimentam para a direita, indicando o sinal de esquecer. Na sétima imagem, o personagem está de frente e com a mão direita fechada sobre a testa, com setas que indicam um movimento de abrir e fechar, indicando o sinal de aprender. Por fim, na oitava imagem, o personagem está inclinado para a direita, com a mão direita em frente ao seu corpo e com os dedos estendidos; o dedo médio está levemente inclinado para a frente e há uma seta que indica um movimento da mão em direção à testa, na qual o dedo médio encosta.
· Orientação (O) – a orientação se refere ao “caminho” que as mãos irão percorrer na produção do sinal. Há sinais que possuem a mesma configuração de mãos, porém, o que os diferencia é o local para o qual ele se direciona, conforme o exemplo a seguir:
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· Figura 2.5 - As orientações (direções) possíveis das mãos e braços na produção de sinais
Fonte: Adaptada de Felipe e Monteiro (2006).
· #PraCegoVer: oito imagens nas quais os personagens indicam a orientação das mãos na sinalização dos sinais. Na primeira imagem, o personagem está de frente e com o braço direito erguido próximo ao corpo; sua mão direita está com o dedo indicador estendido e uma seta que sai de seu corpo em direção à mão direita indicam o movimento da palavra ir. Na segunda imagem, o personagem está de frente e com o braço estendido para frente, com a palma da mão para cima e o dedo indicador estendido; saindo de sua mão há uma seta que direciona para frente do corpo, indicando o movimento da palavra vir. Na terceira imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita, com o braço direito erguido e a mão direita com os dedos indicador e médio curvados; há três setas: duas indicam o movimento linear de para baixo e para cima dos dedos, enquanto a terceira indica o movimento linear para cima do braço direito. Na quarta imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita, com o braço direito erguido e a mão direita com os dedos indicador e médio curvados; há três setas: duas indicam o movimento linear de para baixo e para cima dos dedos, enquanto a terceira indica o movimento linear para baixo do braço direito. Na quinta imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita e com o braço direito erguido na altura do rosto; sua mão está com a palma para baixo e a ponta dos dedos juntas; na sequência, há uma outra imagem da mesma mão um pouco mais abaixo, porém, estendida. Na sexta imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita e com o braço direito erguido na altura do rosto; sua mão está com a palma para baixo e os dedos estendidos; na sequência, há uma outra imagem da mesma mão um pouco mais acima, porém, com a ponta dos dedos juntas. Na sétima imagem, o personagem está de frente e com as duas mãos abertas, com as palmas de costas para o corpo e encostadas uma na outra; na sequência há outras duas mãos e duas setas que indicam o movimento das mãos: a direita para a direita e a esquerda para a esquerda, ambas em direção ao corpo. Por fim, na oitava imagem, o personagem está de frente e com as duas mãos abertas e com as palmas de frentepara o corpo; na sequência há outras duas mãos e duas setas que indicam o movimento delas: a direita para a esquerda e a esquerda para a direita, encontrando-se ambas no centro, uma ao lado da outra.
· Orientação corporal e/ou facial – outra diferença entre a língua de sinais para as línguas orais está na expressão facial. As expressões facilitam a compreensão das frases e valorizam o significado dos diálogos.
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· Figura 2.6 - Expressões faciais e corporais
Fonte: Adaptada de Felipe e Monteiro (2006).
· #PraCegoVer: seis imagens que representam a orientação corporal e facial na língua de sinais. Na primeira imagem, o personagem está de frente, com as duas mãos abertas, dedos polegares estendidos e os demais juntos, próximos ao peito; na sequência há quatro setas indicando movimento linear para cima, enquanto o personagem sorri. Na segunda imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita, com o braço direito junto ao corpo e os dedos mínimo e polegar estendidos, enquanto os demais estão curvados; a mão está de pé, com a palma para a esquerda, enquanto o dedo polegar está sustentando o queixo, acrescida de uma expressão facial triste. Na terceira imagem, o personagem está de frente e com uma seta próxima à bochecha direita, indicando o seu movimento linear da direita para a esquerda com a língua por dentro da boca, o que sinaliza a palavra ato-sexual. Na quarta imagem, duas setas saem da bochecha do personagem em direção à boca, indicando o movimento realizado pela língua dentro da boca, que sinalizam a palavra ladrão ou roubar. Na quinta imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita com as mãos direita e esquerda próximas ao peito; a mão esquerda está com o dedo indicador estendido, dando base para a mão direita, que está aberta e com a palma para baixo, encostando na ponta do dedo indicador da mão esquerda; há setas ao seu redor, indicando movimentos trêmulos, que significam a palavra helicóptero. Na sexta imagem, o personagem está levemente inclinado para a direita, com cotovelos encostados no corpo e os braços estendidos para frente, enquanto as mãos estão fechadas e com setas indicando o movimento linear para baixo e para cima, o que sinaliza a palavra moto.
· Sabendo desses cincos parâmetros para se utilizar da língua de sinais, vejamos, a seguir, o alfabeto manual atual: 
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· Figura 2.7 - Alfabeto Manual da Língua Brasileira de Sinais
Fonte: Adaptada de Felipe e Monteiro (2006).
· #PraCegoVer: vinte e seis configurações de mãos que sinalizam o alfabeto manual. Na primeira, a palma da mão está para frente, os dedos sobre ela e o dedo indicador encostado na lateral, formando a letra a. Na segunda imagem, a palma da mão está para frente com o dedo polegar dobrado para dentro, formando a letra b. Na terceira imagem, a mão está levemente inclinada para a esquerda, com a palma para frente e os dedos arqueados para frente, formando a letra c. Na quarta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com o dedo indicador estendido e a ponta dos demais dedos juntas. Na quinta imagem, a palma da mão está para frente e com todos os dedos retraídos, formando a letra e. Na sexta imagem, a palma da mão está para frente, com os dedos mínimo, anular, médio e polegar estendidos, porém, o dedo indicador está estendido para frente, encostando no dedo polegar. Na sétima imagem, a palma da mão está para frente, com os dedos mínimo, anular e médio curvados, enquanto os dedos indicador e polegar estão estendidos, um próximo ao outro. Na oitava imagem, a palma da mão está para frente, os dedos mínimo e anular estão curvados, enquanto os dedos médio, indicador e polegar estão estendidos; o dedo polegar está encostado na palma da mão entre os dedos polegar e médio; há uma seta indicando um movimento circular na horizontal, formando a letra h. Na nona imagem, a palma da mão está para frente, com todos os dedos sobre ela, exceto o dedo mínimo, que está curvado. Na décima imagem, a palma da mão está levemente inclinada para a direita e com os dedos retraídos, exceto o dedo mínimo; próximo a ele há uma seta indicando um movimento circular de baixo para cima, formando a letra j. Na décima primeira imagem, a palma da mão está para frente e com os dedos mínimo e anular curvados; o dedo polegar está estendido e encostado à palma, entre os dedos médio e indicador, que também estão estendidos; há uma seta indicando o movimento linear para cima, formando a letra k. Na décima segunda imagem, a palma da mão está para frente e com os dedos mínimo, anular e médio curvados; os dedos indicador e polegar estão estendidos, formando a letra L. Na décima terceira imagem, a palma da mão está levemente inclinada para a direita e está para baixo, com os dedos indicador, médio e anular estendidos para frente e, os demais, retraídos, formando a letra m. Na décima quarta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita e com a palma para baixo, enquanto os dedos indicador e médio estão estendidos para frente e, os demais, retraídos, formando a letra n. Na décima quinta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com a palma para frente e os dedos inclinados para frente e suas pontas se encontrando, formando a letra o. Na décima sexta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita e com a palma para baixo, enquanto os dedos indicador, médio e polegar estão estendidos e para frente e, os demais, retraídos; o dedo polegar está encostado na palma da mão entre os dedos indicador e médio, formando a letra p. Na décima sétima imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com o dedo indicador estendido para baixo e o polegar estendido próximo a ele, formando a letra q. Na décima oitava imagem, a palma da mão está para frente, com os dedos mínimo, anular e polegar curvados, enquanto os dedos indicador e médio estão estendidos; o dedo indicador está em frente ao dedo médio, um encostado no outro. Na décima nona imagem, a mão está de frente, fechada e com o polegar sobre os demais dedos, formando a letra s. Na vigésima imagem, a palma da mão está para frente e com os dedos estendidos para cima, exceto o dedo indicador, que está estendido para frente, enquanto o dedo polegar está com as suas costas junto ao indicador, entre ele e o dedo médio, formando a letra t. Na vigésima primeira imagem, os dedos indicador e médio estão estendidos para cima, um encostado no outro, enquanto os dedos mínimo e anular estão abaixados e o dedo polegar sobre eles, formando a letra u. Na vigésima segunda imagem, os dedos indicador e médio estão estendidos para cima, um afastado do outro, enquanto os dedos mínimo e anular estão abaixados e o dedo polegar sobre eles, formando a letra v. Na vigésima terceira imagem, a mão está fechada, com as costas dos dedos para frente, enquanto o dedo indicador está arqueado e com uma seta indicando um movimento linear para a esquerda, o que forma a letra x. Na vigésima quarta imagem, a palma da mão está de frente, com os dedos indicador, médio e anular estendidos para cima, enquanto o dedo polegar está curvado sobre o dedo mínimo, formando a letra w. Na vigésima quinta imagem, a palma da mão está para frente, com os dedos anular, médio e indicador curvados, enquanto os dedos polegar e mínimo estão estendidos para cima; há uma seta que indica um movimento linear para cima, formando a letra y. Por fim, na vigésima sexta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com o dedo indicador estendido para frente e, os demais, retraídos; há uma seta que indica um movimento em formato de z, formando a letra z.
· O alfabeto manual é utilizado na língua de sinais, geralmente, para a escrita de nomes próprios ou que não possuam sinal. É também um ótimo instrumento para que iniciantes na língua de sinais possam se comunicar com os surdos em situações do cotidiano. Uma excelente maneira de se familiarizar com o alfabeto é exercitar a sua realização sequencialmente.
· Cumprimentos Básicos em Libras
· Na sequência, vejamos alguns cumprimentos básicos em língua de sinais, os quaispodem ser aplicados em situações do cotidiano para o aluno que está iniciando sua formação em Libras.
· Cumprimentos: “Tudo bem?”, “Eu sou ouvinte” e “Eu uso Libras”
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· #PraCegoVer: dois quadros com dois personagens e cada um deles indicando um diálogo. No primeiro quadro, uma mulher levemente inclinada para a esquerda, com a mão direita próxima ao corpo e polegar estendido para cima, e a mão esquerda aberta, os dedos estendidos e próximos uns aos outros, com exceção do polegar, que está estendido para cima; a mão está em frente ao rosto, com uma seta que indica um movimento linear para frente e uma legenda logo abaixo, dizendo Tudo bem?. À sua frente, um homem com a mão direita com a palma virada para si e dedos juntos que saem debaixo de seu queixo em direção à mulher, enquanto se abre. Embaixo dele há uma legenda que diz: Bem. No segundo quadro, o homem está levemente inclinado para a esquerda, com a mão esquerda fechada e o polegar estendido em direção ao seu corpo, quase encostando; sua mão direita está fechada e próxima ao ouvido direito. Há uma seta que indica um movimento linear de afastamento dela de seu ouvido, enquanto ela se abre e fecha, e uma legenda abaixo, que diz: eu sou ouvinte. À sua frente, uma mulher com as duas mãos estendidas em frente ao seu corpo, com as palmas de frente uma para a outra e duas setas indicando um movimento circular. Logo abaixo dela está escrito: eu uso Libras.
· A configuração das mãos, no primeiro quadro, se faz em dois momentos: primeiramente, com a mão em formato de “concha”, sai da parte baixa do rosto e, na sequência, é levada para frente, enquanto se abre. Já no segundo quadro, a frase “eu sou ouvinte” se faz direcionando as mãos em formato de “cone” até o ouvido (pode ser qualquer um dos ouvidos), enquanto levemente abre e fecha a mão.
· Cumprimentos: “Bom dia”, “Boa tarde” e “Boa noite”
· Como sinais básicos da língua de sinais brasileira, os cumprimentos “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” são fundamentais para o início de um diálogo com a pessoa surda. Por mais que o aluno inicialmente não tenha segurança no uso dos sinais, buscar aplicá-los no diálogo demonstra interesse e respeito por parte do ouvinte pela pessoa surda. interesse e respeito por parte do ouvinte pela pessoa surda.
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· #PraCegoVer: quatro imagens de um personagem sinalizando as palavras bom dia, boa tarde e boa noite. Num formato triangular, temos, no topo, um personagem levemente inclinado para a esquerda, com a mão fechada e a palma de frente para seu corpo. Na sequência, há uma seta indicando movimento de cima para baixo, em que sua mão se abre com os dedos estendidos. Na parte de baixo da pirâmide, há um personagem levemente inclinado para a esquerda, com as duas mãos saindo debaixo de seu queixo. Há duas setas indicando o movimento linear das mãos para fora e, ao longo do percurso, elas se abrem estendendo os dedos indicadores e unindo a ponta dos demais dedos. Na terceira imagem, o personagem está levemente inclinado para a esquerda, com o braço direito estendido e a mão direita com a palma para baixo e o dedo polegar encostado na palma debaixo do queixo. Há uma seta que indica o movimento linear de cima para baixo, no qual a mão permanece com a mesma configuração. Na quarta imagem, o personagem está levemente inclinado para a esquerda, com o braço esquerdo estendido na horizontal e mão esquerda fechada. A mão direita, por sua vez, está aberta com a palma para baixo e os dedos encostados. Há uma seta indicando o movimento circular da mão direita sobre o braço esquerdo, que se inicia sobre ele e vai até o seu final.
· Perceba que todos esses sinais possuem a configuração de mãos iniciais semelhantes na palavra“bom/boa”
· A alteração ocorrerá a partir das palavras “dia”, “tarde” e “noite”., Dias
· Daremos continuidade ao nosso conteúdo, aprendendo, a partir de agora, os sinais básicos que compõem os temas família, dias da semana, meses e números. Lembramos que os cinco parâmetros da língua de sinais continuam sendo imprescindíveis também nesses sinais, devendo ser observados pelo intérprete no momento da comunicação com a pessoa surda.Sinais Relacionados à FamíliaVejamos os principais sinais relacionados à família, próprios da língua de sinais. Iniciamos pelas palavras “casado” e “solteiro”.
#PraCegoVer: imagem de uma intérprete sinalizando a palavra casado. Na primeira imagem, ela está de frente, com as mãos em formato de concha na vertical, prestes a se unirem uma à outra em frente ao peito. Na segunda, as mãos se encontraram em frente ao seu peito na vertical.
#PraCegoVer: imagem de uma intérprete sinalizando a palavra solteiro, em Libras. Ela está numa posição frontal, com a mão direita configurada em s na língua de sinais, em frente ao rosto.
Observe que, na palavra “casado”, as mãos caminham na direção uma da outra, e se unem no peito como ponto de convergência. Em compensação, “solteiro” é a mão em configuração de “s” e, na sequência, realizando movimentos circulares.
Na sequência, vejamos como podemos sinalizar as palavras “pai”, “mãe”, “filho”, “filha”, “avô” e “avó”. No caso das palavras “mãe”, “pai”, “avó” e “avô”, temos a conjunção de duas palavras na execução dos sinais, a saber: primeiramente, faz-se o sinal do gênero, ou seja, masculino ou feminino; na sequência, o sinal correspondente ao grau de parentesco, conforme os exemplos a seguir:
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#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra pai. No primeiro quadro, ela está de frente, com a mão direita passando pelo maxilar. Na segunda imagem, sua mão está fechada em frente à boca.
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra mãe. No primeiro quadro, ela está de frente, com as costas da mão direita passando pela bochecha. Na segunda imagem, sua mão está fechada em frente à boca.
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra avó. Na primeira imagem, ela está de frente, com as costas dos dedos da mão direita encostada na bochecha direita. Na segunda imagem, ela está de frente e sua mão direita está fechada e encostada no queixo.
utor.
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra avô. Na primeira imagem, sua mão direita está aberta e passando pelo maxilar. Na segunda imagem, ela está de frente e sua mão direita está fechada e encostada no queixo.
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#PraCegoVer: imagem de uma intérprete sinalizando a palavra filho. Ela está de frente, com a mão direita aberta e os dedos levemente encostados ao peito.
Usando como exemplo a palavra “pai”, o que temos de início é o sinal de “homem”, no qual a mão do intérprete perpassa o maxilar em direção ao queixo e finaliza o sinal com o punho fechado, aproximando as costas da mão sob o queixo. Em Libras, ao nos referirmos a graus de parentesco, sempre se distinguirá o gênero do personagem, ou seja, referindo-se ao masculino ou ao feminino. No caso de filho e filha, o sinal é o mesmo; porém, durante o diálogo, deve-se fazer a distinção se “filho” se refere a homem ou mulher.
Dias da Semana e Números
Vejamos, agora, sobre os dias da semana e o modo como eles são sinalizados em Libras. Em todos os casos, devemos nos lembrar de que, assim como a língua portuguesa pode sofrer alterações em expressões e palavras de acordo com cada região do país, o mesmo ocorre com a Libras. Por vezes, de uma cidade para outra, alguns sinais sofrem alterações em função da regionalização daquela comunidade; assim, cabe ao pesquisador e/ou intérprete de Libras compreender a realidade local a partir das relações que os surdos criam para a produção de sua língua.
No caso dos dias da semana, iniciemos com a sinalização da palavra “semana”.
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra semana. Na primeira, ela está de frente, os dois braços dobrados próximos à barriga e tórax, e a mão direita configurada em sete na Libras. Na segunda imagem, a mão configurada em sete caminhou da esquerda para a sua direita.
A palavra “semana” possui, basicamente, duas configurações. Na primeira, demonstrada na imagemacima, a mão se move de um lado para o outro (apenas uma vez) em configuração de número sete em Libras. Na segunda possibilidade, as duas mãos são utilizadas, com sete dedos erguidos que se movimentam de um lado para o outro (apenas uma vez). A partir daí, passamos aos dias da semana.
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando as palavras domingo, segunda e terça. Em todas as imagens ela está de frente. Na primeira, com a mão direita configurada em D em Libras, frente ao rosto; na segunda e terceira imagens, a mão direita está sobre a testa, indicando com os dedos os números “dois” e “três”.
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#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando as palavras quarta, quinta e sexta. Na primeira e segunda imagens, sua mão direita está sobre a testa, indicando nos dedos os números quatro e cinco em Libras, respectivamente. Na terceira imagem, sua mão direita está fechada sobre a lateral da boca, com o dedo indicador em formato de gancho.
#PraCegoVer: imagem sinalizando as palavras sábado, suco ou laranja, que possuem o mesmo movimento e configuração de mãos. Sua mão direita fechada está sobre a boca e, na segunda imagem, permanece no mesmo lugar, mas um pouco aberta, indicando o movimento do sinal.
Nos dias da semana, identificamos que todos os sinais se centralizam na região da cabeça, aproximando-se sempre da testa ou da boca. Todos esses sinais possuem movimento; por exemplo, a palavra “terça-feira” é sinalizada com três dedos estendidos que repetidamente encostam na testa e, logo após, se afastam. Outro ponto de atenção é com relação à palavra “sábado”: o sinal é o mesmo utilizado para “suco” e “laranja” (fruta e cor). Nesse aspecto, para que não haja conflitos na comunicação, o que permitirá a compreensão do diálogo será sempre o contexto da conversa em questão.
Ao falarmos sobre os dias da semana, nos aproximamos dos sinais dos números. Porém, antes de iniciá-los, devemos compreender que existem quatro formas de sinalizá-los em Libras; tudo dependerá do contexto da conversa e do significado do número.
Números Cardinais: Códigos Representativos e Quantidades
Quando utilizados para a sinalização de códigos representativos, os números são expressos da seguinte forma:
#PraCegoVer: ilustração de dez mãos, sinalizando os números cardinais em Libras. Na primeira imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com os dedos curvados formando um espaço entre eles e a palma. Na segunda imagem, a palma da mão está de costas, com os dedos curvados e o polegar estendido para cima. Na terceira imagem, a palma está de costas, com os dedos indicador e polegar estendidos para cima. Na quarta imagem, a palma está de costas, com os dedos indicador, médio e anelar estendidos. Na quinta imagem, a palma está de costas, com os dedos indicador, médio, anelar e mínimo estendidos. Na sexta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com a palma para frente, os dedos indicador e médio arqueados, enquanto os demais estão abaixados. Na sétima imagem, a mão está com a palma para cima, enquanto os dedos estão juntos e encostando a ponta na metade do dedo polegar, que está estendido para cima. Na oitava imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com a palma para baixo e o dedo indicador estendido para baixo, enquanto o dedo polegar encosta em sua lateral. Na nona imagem, a mão está de frente e fechada, com o dedo polegar sobre os demais. Na décima imagem, a mão está com a palma para baixo, enquanto os dedos arqueados encostam sua ponta na metade do dedo polegar, que está esticado para baixo.
Nesse caso, os números sinalizados não possuem movimento. Alguns exemplos de códigos representativos são: número da senha do banco, da caixa postal, número de telefone etc.
A segunda modalidade também se refere aos cardinais, porém, quando estes se referem a quantidades:
#PraCegoVer: ilustração de dez configurações de mãos sinalizando, em Libras, os números cardinais para quantidades. Na primeira imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com os dedos curvados formando um espaço vazio entre eles e a palma. Na segunda imagem, a palma da mão está de frente, com o dedo indicador estendido e, os demais, abaixados. Na terceira imagem, a palma da mão está de frente, com os dedos indicador e médio estendidos e, os demais, abaixados. Na quarta imagem, a palma da mão está de frente com os dedos indicador, anelar e médio estendidos para cima e, os demais, abaixados. Na quinta imagem, a palma da mão está para frente, com os dedos mínimo, anular, médio e indicador estendidos e, os demais, abaixados. Na sexta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com a palma para frente, os dedos indicador e médio arqueados, enquanto os demais estão abaixados. Na sétima imagem, a mão está com a palma para cima, enquanto os dedos estão juntos e encostando a ponta na metade do dedo polegar, que está estendido para cima. Na oitava imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com a palma para baixo e o dedo indicador estendido para baixo, enquanto o dedo polegar encosta em sua lateral. Na nona imagem, a mão está de frente e fechada, com o dedo polegar sobre os demais. Na décima imagem, a mão está com a palma para baixo, enquanto os dedos arqueados encostam sua ponta na metade do dedo polegar, que está esticado para baixo.
Os números que se alteram aqui são um, dois, três e quatro; tanto em sua configuração como na posição que se encontram. Alguns exemplos nos quais se utilizam os números nessa configuração são: quantidade de pessoas, de vagas, de objetos, de dias.Números Ordinais e Monetários
Em terceiro lugar, temos a sinalização dos números ordinais, nos quais a configuração de mãos permanecerá semelhante aos cardinais para códigos representativos, com a diferença de que serão sinalizados com movimentos.
PraCegoVer: ilustração de nove configurações de mãos em Libras, sinalizando os números ordinais. Na primeira imagem, a palma da mão está de costas e o polegar estendido para cima; há duas setas indicando movimento linear de cima para baixo. Na segunda imagem, a palma está de costas, com os dedos indicador e polegar estendidos para cima; há duas setas indicando movimento linear de cima para baixo. Na terceira imagem, a palma está de costas, com os dedos indicador, médio e anelar estendidos; há duas setas indicando movimento linear de cima para baixo. Na quarta imagem, a palma está de costas, com os dedos indicador, médio, anelar e mínimo estendidos; há duas setas indicando movimento linear de cima para baixo. Na quinta imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com os dedos indicador e médio arqueados e, os demais, abaixados; há duas setas indicando movimento linear de uma lado para o outro. Na sexta imagem, a mão está com a palma para cima, enquanto os dedos estão juntos e encostando a ponta na metade do dedo polegar, que está estendido para cima; há duas setas indicando movimento linear de um lado para o outro. Na sétima imagem, a mão está levemente inclinada para a direita, com a palma para baixo e o dedo indicador estendido para baixo, enquanto o dedo polegar encosta em sua lateral; há duas setas indicando movimento linear de uma lado para o outro. Na oitava imagem, a mão está de frente e fechada, com o dedo polegar sobre os demais; há duas setas indicando movimento linear de um lado para o outro. Na nona imagem, a mão está com a palma para baixo, enquanto os dedos arqueados encostam sua ponta na metade do dedo polegar, que está esticado para baixo; há duas setas indicando movimento linear de um lado para o outro.
Por fim, os números também são sinalizados para indicar valores monetários. No caso do Real, sempre no final do número, se configura uma das mãos em “R”, acrescida de movimento trêmulo, de um lado para o outro, ou, então, utilizando da configuração de mãos semelhante aos números cardinais para quantidades, realiza-se o movimento trêmulo na própria configuração de mãos do número sinalizado.Sinalizando os Meses do Ano
Os meses do ano possuem sinais própriospara serem identificados ao longo de uma conversa. A palavra “mês” se sinaliza da seguinte forma: com uma das mãos fechadas e a outra com o dedo indicador erguido, ambas se aproximam e a que está fechada se movimenta uma única vez de cima para baixo, enquanto a fechada permanece imóvel, conforme a imagem a seguir:
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete de Libras sinalizando a palavra mês, em língua de sinais. No primeiro quadro, ela está de frente e sua mão direita está fechada, encostando no dedo indicador da outra mão, estendido. No outro quadro, a posição do corpo e das mãos é a mesma, porém, com a mão direita um pouco mais baixa.
#PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra janeiro. Nas duas imagens ela está de frente: na primeira, com a mão direita em frente ao peito e o dedo mínimo estendido; na segunda, o dedo mínimo está apontando para baixo.
imagem de uma intérprete sinalizando a palavra fevereiro. Ela está de frente, com a mão aberta e a palma virada para o seu rosto.
#PraCegoVer: imagem de uma intérprete sinalizando a palavra março. Ela está de frente, com a mão direita fechada e o dedo indicador estendido na horizontal, encostando na parte de baixo do seu queixo.
PraCegoVer: imagens de uma intérprete sinalizando a palavra abril. No primeiro quadro, ela está de frente e com a mão direita fechada e encostada no pescoço. No segundo quadro, o braço direito está erguido, com a mão fechada ao lado da cabeça.
PraCegoVer: três imagens de uma intérprete sinalizando a palavra junho. Em todas elas, ela está de frente e com as mãos diante do corpo com os dedos indicadores e médios estendidos. Na primeira, o braço direito está na parte superior, próximo ao rosto, e o braço esquerdo está na parte inferior, próximo à barriga. Na segunda imagem, os dedos se encontram no meio corpo e, na terceira imagem, a posição dos braços se inverte.
#PraCegoVer: três imagens de uma intérprete de Libras sinalizando a palavra julho. Em todas as imagens ela está de frente e com a mão direita em frente ao peito. Na primeira imagem, sua mão direita está fechada e com o dedo indicador estendido, sinalizando a letra j. Na segunda, a mão continua fechada e com o indicador estendido um pouco mais abaixo. Na terceira, a mão está com o dedo polegar e indicador estendidos, formando a letra L.
 intérprete sinalizando a palavra agosto. Ela está de frente, com a mão direita aberta sobre o peito.
#PraCegoVer: intérprete sinalizando a palavra setembro. Ela está de frente. Na primeira imagem, suas mãos estão em frente ao peito e fechadas. Na segunda imagem, suas mãos permanecem na mesma posição, porém, estendidas.
 intérprete sinalizando a palavra outubro. Ela está de frente, com a mão em formato de cone em frente à boca.
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#PraCegoVer: intérprete sinalizando a palavra novembro. Ela está de frente, com a mão direita próxima ao ombro direito e com os dedos indicador e médio estendidos para baixo.
#PraCegoVer: intérprete sinalizando a palavra dezembro. Na primeira imagem, ela está com a mão direita aberta sobre o maxilar. Já na segunda, a mesma mão desce, em formato de concha, até o peito.
As referências utilizadas pela comunidade surda na confecção dos sinais possuem fatos culturais e históricos de nosso país. Podemos citar o mês de fevereiro, que pode ser sinalizado com mais de uma forma, como pelo movimento dos dedos indicadores, remetendo à festa de Carnaval. O mesmo ocorre com o mês de abril, o qual é sinalizado com as mãos em punho que se movem do pescoço para cima, o que nos lembra do feriado e da história de Tiradentes, celebrado no dia 21 de abril.
Basicamente, esses são os sinais que podemos utilizar em qualquer diálogo inicial com uma pessoa surda. Após, o que fortalecerá o conhecimento sobre a língua de sinais e a cultura surda deverá ser a relação com a sua comunidade, compreendendo o seu modo de vida, valores e história.
Vamos Praticar
Os sinais relacionados à família, dias da semana, meses e números são o arsenal básico de um estudante de Libras. Por estarem presentes no cotidiano da comunidade surda, compreendê-los é um passo importante para o reconhecimento e valorização de sua cultura e identidade, bem como a construção de uma relação amigável e que tenha como princípio o diálogo acessível para ambos.
Com base no que foi apresentado, bem como nos materiais dispostos em nossa unidade, exercite pequenas frases em Libras. Busque simular situações nas quais seja possível criar diálogos utilizando-se dela e, por fim, descreva a sua experiência em uma redação, comparando as exigências e dificuldades de se utilizar da Língua Portuguesa (escrita e falada) e as que você encontrou no uso da Língua Brasileira de Sinais
Conclusão
Ao longo desta unidade, estudamos os artefatos culturais da comunidade surda, vimos quais são os instrumentos e valores próprios dessa comunidade, traços estes que são ricos para a sua identidade. Na sequência, discutimos acerca do bilinguismo e da preferência por um ensino que conserve a cultura da pessoa surda em sua matriz curricular, diferentemente do que ocorre em escolas regulares que garantem a acessibilidade de tais sujeitos.
Vimos, também, os principais sinais para cumprimentos, bem como o alfabeto manual e sua configuração de mãos. Por fim, estudamos a respeito dos sinais que se relacionam com o tema família, com os graus de parentesco, bem como os dias da semana, a sinalização de meses e as quatro apresentações possíveis para se sinalizarem os números.

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