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Ayla Mendes Cavalcante Sabino 1 Aula 16.03 – Cimento Ionômero de Vidro (CIV) Pré-clínica I ▪ Primeira publicação em 1971 por Wilson Kent ▪ Cimentos de ionômero pertencem a classe de materiais conhecidos como cimentos ácido- base. “Produto da reação de ácido poliacrílico fraco com pó de vidro de caráter básico”. Desenvolvido a partir do cimento de silicato que era amplamente utilizado na pratica odontológica. Apresentava desvantagens, como o efeito irritante sobre o tecido dental devido a presença de ácido fosfórico antes da reação de presa ser finalizada. – Entrou em desuso! Vantagens do CIV: ◌ Superfície mais resistente a manchas e ataque ácido ◌ Menos irritante para a polpa dentária ◌ Menor tendência das moléculas do ácido se difundir para os tecidos dentais ◌ Adesão às estruturas dentais Contraindicação do CIV: Todas as contraindicações envolvem um único aspecto: o CIV não possui características para ser uma restauração definitiva. Ou seja, será contraindicada a sua utilização em: ◌ Classe II – ocorre em dentes posteriores – com envolvimento de crista marginal (região localizada nas proximais do dente – mesial e distal). ◌ Classe IV: ocorre em dentes anteriores quando há perda da borda incisal – são cavidades provenientes da doença carie onde há o acometimento de uma ou mais crista marginais. ◌ Estética deficiente ◌ Dentes com grande perda de esmalte vestibular ◌ Áreas de cúspides ◌ Áreas de grandes esforços mastigatórios: não é indicado devido a sua fragilidade (baixa resistência mecânica) O dente possui alguns pilares de sustentação: as cristas marginais; o teto da câmara pulpar; a ponte de esmalte (principalmente do trabalho do 1º molar); cúspides de trabalho – se tocam na hora da mastigação: são as VIPS (vestibular dos inferiores e a palatina dos superiores) Apresentação do CIV: ▪ Convencional: pó (características básicas) + liquido (características ácidas e materiais aditivos que aperfeiçoaram o desempenho do CIV) ▪ Anidro: pó (características básica e ácida) + água ▪ Encapsulados: as capsulas vem pré-dosadas com a quantidade ideal de CIV. Fácil manipulação, porém, muito caro – utilizado em PNE, odontopediatria. Composição química do CIV: Para a reação ocorrer é preciso componentes ácidos + básicos + meio aquoso ◌ Principais componentes da porção básica: alumina + sílica + fluoreto de cálcio Alumina: é muito reativa – possui alta capacidade de ligação. Sílica: componente menos reativo e é que demora mais a se ligar. ◌ Componente ácido: ácido poliacrílico ◌ Meio aquoso: H2O Porém existem outros componentes, como: Ayla Mendes Cavalcante Sabino 2 ◌ Fluoreto de cálcio (CaF2): liberação de flúor ◌ Sílica e alumina: confere a resistência do material ◌ Estrôncio: confere a radiopacidade do material - não participa da reação, mas ajuda no diagnóstico (acompanhamento radiográfico) Caráter básico do CIV: Os “protagonistas” do caráter básico são: alumina e sílica – são os componentes susceptíveis ao ataque ácido, responsáveis por: ◌ fornecer a resistência mecânica, ◌ liberação de minerais, ◌ remineralização. Caráter ácido do CIV: O ácido poliacrílico tem vários componentes, sendo o grupo carboxílico (COOH) o mais importante. Reação química do CIV: ◌ Fase 1 – Aglutinação: Ocorre a mistura do pó e líquido – em ambiente aquoso ocorre: - A ionização do ácido poliacrílico: liberação de íons carboxílicos (COOH) – fica disponível - Liberação de H+: ataque das partículas básicas do pó (alumina + sílica + fluoreto de cálcio) – liberando os íons da Al3+, Ca2+, SiO2, Na+. Ácido + base = sal Fase 1: A inserção na cavidade deve ser feita nesse momento porque existem muitos íons carboxílicos disponíveis para se ligar quimicamente ao dente. Aparência clínica de brilho na superfície do material. ◌ Fase 2 – formação de polissais: Ocorre a formação dos primeiros polissais: 1. Policarboxilato de Cálcio: COOH + Ca2+ 2. Policarboxilato de Alumínio: COOH + Al3+ Apesar do sódio (Na+) estar presente na composição das partículas de vidro, ele não participa da reação de presa O paciente deixa o consultório na Fase 2. Perda de brilho: ↓Mobilidade das cadeias + ↑viscosidade Por isso, é importante observar o CIV antes de colocar na cavidade – deve estar com aspecto brilhoso e fluído. Após 7-8 minutos do inicio da mistura, o material vai adquirindo alguma resistência mecânica para suportar o material restaurador ou os esforços mastigatórios leves*. ● A superfície do CIV deve ser protegida contra a sinérese (perda) e embebição (ganho de água) -o que pode influencias nas propriedades finais do material. Proteção do CIV: sistema adesivo, vaselina ou esmalte de unha incolor. Ayla Mendes Cavalcante Sabino 3 Na embebição o material absorve líquido → a reação ocorre de forma desordenada → a sílica não consegue reagir e formar o gel. A proteção do CIV previve: ◌ A contração da massa ◌ Formação de trincas perceptíveis ◌ Diminuição das propriedades mecânicas ◌ Fase 3 – formação do gel de sílica: - “Ataque” à sílica: como a sílica é pouquíssimo reativa demora entre 24h-48h para ocorrer: marca o término da reação de presa Ou seja, a presa do ionômero de vidro só ocorre com a formação do gel de sílica. Ꚛ Quais são as consequências clinicas de inserir o ionômero de vidro durante a fase 2 da reação de presa? Não vai haver a adesividade ao dente COMPOSIÇÃO DE OUTROS ADITIVOS: ÁCIDO TARTÁRICO: Adicionado ao CIV, com objetivo de melhorar a manipulação do material: o ácido tartárico se liga a alumina, deixando mais íons carboxílico (COOH-) disponível para se ligar ao cálcio do dente e a sílica: ◌ Melhora a manipulação ◌ Aumenta o tempo para a aplicação do material na cavidade – já que tem mais COOH- disponível para se ligar à sílica e formar o gel ◌ Diminui a viscosidade (os polissais são formados de forma mais lenta) ◌ Diminui o tempo de presa (melhorou a manipulação, diminuindo a quantidade de COOH- disponível para reagir com a Si – que é muito lenta) Componente do íon carboxílico (COOH-) liberado pelo ácido poliacrílico: Al, Si, Ca* (pode ser do fluoreto de cálcio ou da hidroxiapatita do dente). ◌ Impedir a precipitação de sais de alumínio (formar o carboxilato de alumínio) ◌ Quelação dos íons Al3+; ◌ Prevenir a formação prematura de ligações cruzadas iônicas envolvendo Al3+ O ácido tartárico aumenta o tempo de trabalho porque ele deixa mais íons carboxílicos disponíveis para se ligar ao cálcio do dente (promovendo a adesividade do CIV) O ácido tartárico diminui o tempo de presa porque reage com o Al3+ formando um polissal ÁGUA: A reação só ocorre em meio aquoso: sem água, não há ionização do ácido ➔ Ocorre a liberação dos prótons (H+) dando início à reação. Ao dar um pouco de translucidez ao CIV, disfarça a opacidade do material (e melhorando a sua estética) Quando há perda de água: material ressecado e opaco. ↓Água: inviabiliza a reação ↑ Água: a velocidade da presa é tão grande, que impede que tenha boa adesividade (as reações ocorrem de forma desordenada) Ayla Mendes Cavalcante Sabino 4 PROPRIEDADES MECÂNICAS DO CIV: ● Proporção pó:liquido ● Tamanho das partículas do pó: o CIV pode ser usado em indicações distintas, mas a sua composição é sempre a mesma – o que muda é o tamanho das partículas do pó. ● Antes da aplicação do material restaurador, deve ser feita uma limpeza superficial da cavidade com uma concentração de ácido poliacrílico (10-25%) por 20s: remoção superficial da Smear Layer. Durante o preparo cavitário, inevitavelmente, cai sujidades dentro dos túbulos dentinários (pó, bactérias, dentina cariada, dente) formando como se fosse uma “camada de poeira”chamada Smear Layer – é considerada uma proteção natural do dente (pois diminui a permeabilidade dos túbulos dentinários), porém para a aplicação de alguns materiais (como o CIV) é necessária a sua remoção de forma superficial – para que haja um “intertravamento” entre o dente e o material restaurador. Após a sua remoção, é formada uma camada hibrida – material restaurador e o material do dente. O CIV possui maior adesividade ao esmalte do que à dentina (devido a maior concentração de matérias em esmalte). ● A união entre o CIV e o dente é muito forte: pode ocorrer fratura coesiva (fraturas internas no material), mas dificilmente irá ocorrer uma fratura a adesiva (na união entre CIV e dentina). Ou seja, o CIV pode quebrar, mas nunca deixa o dente exporto. ● Diminuir a infiltração marginal (devido à essa alta adesividade ao dente, é difícil cárie recidiva em dentes tratados com o CIV) ● Ligações iônicas entre os grupos carboxílicos do cimento e o cálcio do dente ●Em condições ácidas, onde há aumento do pH, o CIV libera minerais (fluoretos, sódio, silicato, fosfato, cálcio, estrôncio), evitando a desmineralização do dente: - Silicato – proveniente do gel de sílica - Essa camada rica em íons é essencial ao ataque ácido – evitando o aparecimento de caries secundarias ● O CIV funciona como um reservatório de flúor. E pode ser recarregado com aplicação tópica de flúor. O flúor diminui a sensibilidade ao frio – ex.: paciente com retração gengival pode ser utilizado o CIV. Bioatividade: ◌ Mínima reação exotérmica (não libera calor) ◌ Rápida neutralização de ácidos da reação de presa ◌ Ausência de componentes ácido remanescente ● O coeficiente de expansão térmico linear (CETL) do CIV é muito parecido com a dentina e o esmalte ➔ Excelente selamento marginal Ayla Mendes Cavalcante Sabino 5 Estética: ◌ Falta de translucidez ◌ Alta rugosidade superficial (como o tempo de presa do CIV ocorre tardiamente, não se faz acabamento e polimento) Classificação do CIV: 1. Em relação a natureza do material 2. Em relação a indicação do material EM RELAÇÃO A NATUREZA DO MATERIAL ● Cimentos de ionômero de vidro reforçado por metais (Cerments): estão em desuso ● Cimentos de ionômero de vidro modificado por resina: - Foram incorporados materiais da resina composta no CIV (monômeros, ex.: HEMA) - Apresenta boa adesividade, melhor esteticamente e não é tão radiopaco EM RELAÇÃO A INDICAÇÃO DO MATERIAL Restauração x Forramento x Cimentação “LC” = é modificado por resina, então é fotopolimerizavel “C” = não é modificado por resina (não fotopolimerizável), usado para cimentação Tipo I: indicado para cimentação de quaisquer artefatos ortodônticos ou protéticos Tipo II: indicados para restauração Tipo III: indicados para selamento de cicatrículas e fissuras, como base e forramento Selantes: Selante: podem ser utilizados em cicatrículas e fissuras – profundas – de crianças. Cimentação: Restauradores: Ayla Mendes Cavalcante Sabino 6 ◌ Proporção pó:líquido (3:1 – 4:1) ◌ Translucidez ◌ Proteção contra umidade Restauração provisória – o CIV quebra na região de maiores esforços mastigatórios. Mas pode ser utilizado na porção cervical do dente – como material restaurador definitivo. Self-cure: é um CIV convencional – autopolimerizável. ● Restauradores ART: ART: tratamento restaurador atraumático → é muito utilizada em regiões de pouco acesso a serviço odontológico, onde há: mínima intervenção e máxima preservação das estruturas dentárias Remoção do tecido cariado usando somente instrumentos manuais; Restauração da cavidade com um material que tenha adesividada ao dente Forramento: - Preenchimento da base cavitaria, bom selamento da dentina PRÁTICA CLÍNICA: CIV na Dentística: ◌ Classe I conservadora ◌ Classe II tipo túnel ◌ Classe II Slot horizontal ◌ Classe III ◌ Classe V ◌ Lesão cervical não cariosa ◌ Restauração mista ◌ Cimentação de pinos ◌ ART ◌ Adequação do meio bucal ◌ Restauração provisória 1. Profilaxia: ◌ Pedra-pomes e água 2. Isolamento absoluto: ◌ Todos os materiais restauradores requerem campo isolado, seco e perfeitamente limpo para serem inseridos ou condensados nas cavidades. Obs.: escavação em massa não é obrigatório o isolamento absoluto 3. Preparo cavitário: ◌ Preparo conservador ◌ Remoção do tecido cariado ◌ Acabamento das paredes cavitarias ◌ Cavidades profundas: proteção do complexo dentinopulpar com hidróxido de cálcio 4. Tratamento de superfície: Consiste na remoção da Smear Layer ◌ Acido fraco (alto peso molecular) ◌ Limpeza superficial ◌ Remoção de irregularidades e poros ◌ Aumenta 3x a força de adesão ◌ Melhora a adaptação do CIV à dentina ● CIV modificado por resina: primer especifico. ● Se o CIV for usado com o forrador de base: não precisa tratamento de superfície. Se o CIV for usado como restaurador: realizar o tratamento de superfície. 5. Manipulação e inserção do material ◌ Não estocar os líquidos num refrigerador ◌ Manter os frascos bem fechados ◌ Não misturar pó ou liquido de diferentes tipos ou fabricantes ◌ Evitar o ponto de umidade na placa de vidro resfriada 6. Proporção e manipulação ◌ Ler as instruções do fabricante Ayla Mendes Cavalcante Sabino 7 ◌ Agitar o frasco do pó ◌ Inclinar o frasco do liquido ◌ Limpar frasco de pó ◌ Colher dosadora sem excessos Consistência do CIV: Foto 1: Forramento (mais fluido, partículas menores) Foto 2: Restaurador Foto 2: Cimentação (mais viscoso, partículas maiores) 7. Métodos de inserção: - Restauração: seringa centrix - Forramento: aplicador de hidróxido de cálcio - Cimentação: usa a espátula – ex. aplica o material na peça ortodontia, peça protética A seringa Centrix é utilizada quando vai aplicar CIV em maior quantidade, pois não permite a formação de ar/bolhas e a sua aplicação é mais uniforme. 8. Proteção imediata: ◌ Verniz, resina fluida (adesivo Bond), esmalte incolor 9. Acabamento e polimento: ◌ Lâmina de bisturi TÉCNICA MISTA: Combinação do CIV com resina composta ou amalgama ◌ Cavidades com margens cervicais em dentina ◌ Cavidades que apresentem esmalte periférico sem suporte ● Imediata: materiais colocados em uma mesma sessão ● Mediada: CIV colocado numa sessão, posteriormente retira-se o excesso e coloca-se o outro material (ocorre em 2 sessões clinicas) Resina composta CIV √ Relativa resistência a abrasão √ Estética satisfatória x Contração de polimerização x Baixa estabilidade √ Adesividade √ Biocompatibilidade √ Liberação de flúor x Baixa resistência à abrasão x Estética insatisfatória x Sinérese e embebição Ex.: Caso clinico – Técnica mediata Foto 1: Dia 1 – aplica o CIV Dia 2: Dia 2 – o paciente volta, faz o rebaixamento do CIV e aplica a resina ➔ Sanduiche fechado: o CIV não fica exposto ao meio bucal. ➔ Técnica sanduiche aberto: o CIV fica exposto no meio bucal: ocorre quando preparo é muito próximo a gengiva (no caso de cavidades muito profundas, próximo ao limite dos tecidos periodontais - deixa o CIV em contato com os tecidos).
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