Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
6º Semestre NA DIREITO PENAL V Prof. Edfre Rudyard da Silva III - Crimes contra a fé pública. 1. Moeda falsa Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. § 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. § 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. 1.1. Bem jurídico Fé pública – é a confiança que a sociedade deposita na autenticidade e veracidade dos documentos. * Princípio da insignificância: não é aplicável em razão da grande potencialidade lesiva (facilidade de circulação e em geral da grande quantidade de notas/moedas falsificadas). Ainda que seja apenas uma nota e de pequeno valor, não se aplica o princípio por tratar-se de delito contra a fé pública, havendo interesse estatal na sua repressão. JURISPRUDÊNCIA: O bem violado é a fé pública, bem intangível e que corresponde à confiança que a população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela representado. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 558.790/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/10/2015. 1.2. Sujeitos do Crime a) Ativo - Art. 289, caput; § 1º, 2º e 4º: Qualquer pessoa (crime comum) - Art. 289, § 3º: Funcionário Público (crime próprio) b) Passivo O Estado que tem interesse na proteção da autenticidade da moeda. Não há vítima secundária, pois é a fé pública o bem jurídico tutelado. OBS: Moeda falsa e aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP - nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, § 1º, do CP), se a nota falsificada é repassada para “ascendente, descendente, irmão ou cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida”, incidirão as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II do art. 61 do CP. Assim, entendeu a jurisprudência que o sujeito passivo desse delito não é apenas o Estado, mas também a pessoa lesada com a introdução da moeda falsa. STJ. 6ª Turma. HC 211.052-RO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 546). 1.3. Tipo Objetivo (conduta) • Falsificar (fabricação ou alteração): imitação enganosa da verdade. OBS: qualquer que seja a falsificação é necessário que tenha idoneidade para enganar. A falsificação grosseira não tipifica crime contra a fé pública. OBS2: a falsificação grosseira não caracteriza crime contra a fé pública, no entanto, pode caracterizar crime de estelionato (ex.: a entrega de uma nota de R$ 100,00 falsa a pessoa que nunca a tenha visto). - Fabricação: é produção integral de uma cédula ou moeda metálica que tenha aparência de verdadeira. Também conhecida como contrafação. - Alteração: é a transformação de papel moeda ou moeda metálica preexistente. 1.4. Objeto material Moeda metálica ou papel moeda de curso legal no país ou no estrangeiro. OBS1: em se tratando de moeda correspondente a padrão monetário já extinto não há crime de moeda falsa. OBS2: é irrelevante o número de moedas ou cédulas falsificadas. Tal situação será verificada na dosimetria da pena. 1.5. Circulação de moeda falsa (art. 289, § 1º) a) Núcleos Importar, exportar, adquirir, vender, trocar, ceder, emprestar, guardar ou introduzir na circulação moeda falsa. OBS-1: “introduzir na circulação”: quando o agente recebe a nota já tem consciência de sua falsidade, introduzindo-a na circulação em sequência. OBS-2: o uso da moeda falsa pelo fabricante caracteriza o “post factum” impunível, caracterizando no caso mero exaurimento do crime. OBS-3: Não confundir o art. 289, § 1º com a figura privilegiada do §2º. → § 1º - Num primeiro momento (recebimento da nota) a pessoa já sabe que a nota é falsa, no segundo momento ao colocar em circulação, a pessoa já tem consciência da nota falsa. → § 2º - Num primeiro momento (recebimento da nota) a pessoa NÃO sabe que a nota é falsa, no segundo momento ao colocar em circulação, a pessoa já tem consciência da nota falsa. Competência (art. 289, § 2º): é crime da competência dos Juizados Especiais Federais, pois a pena é inferior a 2 anos. 1.6. Competência criminal Competência da Justiça Federal, haja vista o interesse da União em tutelar a autenticidade da nota, inclusive da nota estrangeira. Súmula 73 do STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual. 1.7. Moeda falsa e arrependimento posterior Inaplicabilidade do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa. QUESTÃO: Imagine que o réu tenha utilizado uma nota de R$ 100 falsificada para pagar uma dívida. Após alguns dias, descobriu-se que a cédula era falsa e, antes que houvesse denúncia, o agente ressarciu o credor por seus prejuízos. O réu praticou o crime de moeda falsa. É possível aplicar a ele o benefício do arrependimento posterior (art. 16 do CP)? R: NÃO. Não se aplica o instituto do arrependimento posterior ao crime de moeda falsa. No crime de moeda falsa — cuja consumação se dá com a falsificação da moeda, sendo irrelevante eventual dano patrimonial imposto a terceiros —, a vítima é a coletividade como um todo, e o bem jurídico tutelado é a fé pública, que não é passível de reparação. Desse modo, os crimes contra a fé pública, semelhantes aos demais crimes não patrimoniais em geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior, dada a impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída. STJ. 6ª Turma. REsp 1.242.294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014 (Info 554). 2. Falsidade documental 2.1. Distinção entre falsidade material e falsidade ideológica. a) Falsidade material • A falsidade material atinge a configuração extrínseca do documento, ou seja, atinge o documento em seu aspecto externo; • O agente não tem legitimidade para confeccionar o documento (cria um documento); • O falsum depende de prova pericial; • A falsidade material é praticada por meio de conduta positiva (comissivo). Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. b) Falsidade Ideológica • O falsum recai sobre o conteúdo intelectual do documento; • Em regra, o agente tem legitimidade para confeccionar o documento; • Não demanda prova pericial. Normalmente comprovada através de provas testemunhais; • Pode ser praticada tanto por omissão quanto por comissão. Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão deum a três anos, e multa, se o documento é particular. 2.2. Conceito de documento É toda peça escrita que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de relevância jurídica. Requisitos: • Forma escrita; • Autor determinado; • Conteúdo; • Relevância jurídica. 2.2.1. Documento público É aquele expedido por funcionário público competente para tanto no exercício de suas funções e de acordo com as formalidades exigidas pela lei. Esse documento público pode ser um documento formal e materialmente público, pode ser ainda um documento formalmente público, mas substancialmente privado. (Ex.: testamento em cartório). a) Formal e materialmente público É aquele emanado por servidor público no exercício de suas funções cujo conteúdo diga respeito a questões de interesse público. (Ex.: Portaria de IP). b) Formalmente público, mas substancialmente privado Nesse caso o interesse é de natureza privada, apesar do documento ser emanado de ente público. (Ex. atos praticados por tabeliães). 2.2.2. Documentos públicos por equiparação (art. 297, § 2º) § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. 2.2.3. Documento particular (art. 298) O conceito de documento particular deve ser feito por exclusão. Os que não forem públicos, serão particulares. OBS: clonagem de cartão de crédito ou débito antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012 - A Lei nº 12.737/2012 acrescentou o parágrafo único ao art. 298 do CP prevendo o seguinte: Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: (...) Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. Ocorre que mesmo antes da edição da Lei nº 12.737/2012 a jurisprudência do STJ já considerava que cartão bancário poderia se amoldar ao conceito de "documento". Assim, a inserção do parágrafo único no art. 298 do Código Penal apenas confirmou que cartão de crédito/débito é considerado documento, sendo a Lei nº 12.737/2012 considerada como lei interpretativa exemplificativa. Logo, ainda que praticada antes da Lei nº 12.737/2012, a conduta de falsificar, no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito é considerada como crime de falsificação de documento particular (art. 298 do CP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.578.479-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/8/2016 (Info 591). 2.2.4. Observações finais • Documento escrito a lápis não é tratado como documento; • Fotocópias não autenticadas também não podem ser objeto de falsidade documental; 2.3. Falsidade e concurso de crimes a) Falsum e estelionato (4 correntes): 1ª Corrente – O agente responde apenas pelo crime de falsidade que absorve o crime patrimonial; 2ª Corrente – Haverá concurso material de infrações; 3ª Corrente – responde pelos dois crimes em concurso formal porquanto se trata de uma única ação. 4ª Corrente - com base no princípio da consunção o agente responde apenas pelo crime patrimonial, mas desde que a potencialidade lesiva da falsidade tenha se exaurido no crime patrimonial (posição majoritária). Súmula 17 do STJ: “QUANDO O FALSO SE EXAURE NO ESTELIONATO, SEM MAIS POTENCIALIDADE LESIVA, É POR ESTE ABSORVIDO.” b) Falsificação de vários documentos Se a multiplicidade de falsificações ocorrer em um mesmo contexto haverá um crime único. (ex.: o vendedor de atestado, CPF, CTPS na praça da Sé). 2.4. Termo inicial da prescrição (art. 111, IV do CP) O início da prescrição somente ocorrerá quando do conhecimento do falsum. 2.5. Falsidade de documentos destinados à previdência social (art. 297, §§ 3º e 4º) Falsificação de documento público Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: (...) § 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) OBS1: apesar de inseridos nos §§ 3º e 4º do artigo 297, esses crimes não são exemplos de falsidades materiais, mas sim de falsidades ideológicas. OBS2: em regra essas falsidades são praticadas objetivando o crime fim de estelionato (Súmula 17 do STJ). OBS3: Art. 297, § 3º, II x Súmula 62 do STJ: Se a falsa anotação produzir efeito perante a Previdência Social a competência será da Justiça Federal. Dependerá do caso concreto. Súmula 62 - COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR O CRIME DE FALSA ANOTAÇÃO NA CARTEIRA DE TRABALHO E PREVIDENCIA SOCIAL, ATRIBUIDO A EMPRESA PRIVADA) OBS4: Art. 297, § 4º do CP e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) não configura, por si só, o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º, do CP). Isso porque é imprescindível que a conduta do agente preencha não http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art297%C2%A73 apenas a tipicidade formal, mas antes e principalmente a tipicidade material, ou seja, deve ser demonstrado o dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública. STJ. 5ª Turma. REsp 1.252.635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/4/2014 (Info 539). Competência para julgar o crime do art. 297, § 4º, do CP De quem é a competência para julgar o crime de omissão de anotação de vínculo empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP)? STJ: Justiça FEDERAL. O sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma Penal, é o Estado, e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão das informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se, portanto de delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. CC 145.567/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/04/2016. 1ª Turma do STF: Justiça ESTADUAL. Nesse sentido: 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/11/2015. 2.6. Falsidade material na legislação especial• Código Eleitoral: art. 348, 349; • Lei 7.492/86 (crimes contra o sistema financeiro): art. 2º; • Lei 8137/90 (dos crimes contra ordem tributária): art. 1º, III; 2.7. Adulteração de sinal identificador de veículo automotor (art. 311) Adulteração de sinal identificador de veículo automotor(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art310 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art310 Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)) Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) § 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um terço. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) § 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou informação oficial. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) - A retirada da placa de identificação do veículo não configura o crime do artigo 311, mas sim mera infração de natureza administrativa (STJ HC 139199). - Em se tratando de colocação de fita adesiva ou isolante para alterar letra ou número da placa, quando for possível visualizar a falsidade grosseira não há o crime do artigo 311, mas sim, mera infração administrativa (REsp 503960). Assim a adulteração dependerá de uma apreciação mais cuidadosa tendo em conta o caso concreto para a efetiva comprovação do dolo. 2.8. Falsidade Ideológica (art. 299) Falsidade ideológica Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. OBS1 - Informações prestadas que estejam sujeitas à verificação: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art311 quando a informação prestada estiver sujeita a posterior verificação não haverá crime de falsidade ideológica (ex.: declaração em concurso que possui os 03 anos de prática). JURISPRUDÊNCIA: Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade ideológica (art. 299). É atípica a mera declaração falsa de estado de pobreza realizada com o intuito de obter os benefícios da justiça gratuita. A conduta de firmar ou usar declaração de pobreza falsa em juízo, com a finalidade de obter os benefícios da gratuidade de justiça, não é crime, pois aludida manifestação não pode ser considerada documento para fins penais, já que é passível de comprovação posterior, seja por provocação da parte contrária seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa. STJ. 6ª Turma. HC 261.074-MS, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em 5/8/2014 (Info 546). - Falsidade ideológica de assento no registro civil (art. 299, § único) e o crime do artigo 241 e 242 (adoção à brasileira): o assento do registro civil é elemento normativo que deve ser complementado pelo artigo 29 da Lei 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos), sendo que, o artigo 299 deve ceder diante dos crimes especiais dos artigos 241 e 242, com base no princípio da especialidade. Registro de nascimento inexistente Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: Pena - reclusão, de dois a seis anos. Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981) Pena - reclusão, de dois a seis anos. (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6898.htm#art242 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6898.htm#art242 Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981) Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. (Redação dada pela Lei nº 6.898, de 1981) 2.8.1. Falsidade Ideológica na legislação especial • Art. 66 da Lei 9.605/98 (Crimes Ambientais); • Art. 1º e 2º da Lei 8.137/90 (Crimes contra a ordem tributária); • Art. 9º da Lei 7.492/86 (Crimes contra o sistema financeiro); • Código Eleitoral, art. 350. 2.9. Uso de documento falso/falsa identidade e direito ao silêncio Falsa identidade Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. QUESTÃO: Pode o foragido utilizar-se do direito ao silêncio, atribuindo identidade falsa? R: DUAS CORRENTES 1ªC - Para o STF o direito ao silêncio não dá ao acusado o direito de falsear sua identidade. Responderá pelo crime do artigo 307. 2ªC - A sexta turma do STJ entende que o agente pode mentir quando a sua identidade para proteger um passado criminoso (HC 97857), pois não é obrigado a fazer prova contra si mesmo. MUDANÇA DE POSIÇÃO: Falsa identidade (art. 307) é crime mesmo em situação de autodefesa Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6898.htm#art242 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6898.htm#art242 2.10. Competência para julgar uso de documento falso Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor. IV - Crimes contra a administração pública. 1. Considerações gerais 1.1. Crimes funcionais próprios e impróprios CONCEITO: Crime funcional é aquele delito cuja qualidade de funcionário público é elementar do delito. *elementares: Dados essenciais da figura típica. a) Crime funcional próprio É aquele em que a ausência da elementar “funcionário público” torna a conduta atípica. Ex.: art. 319 (Prevaricação). Prevaricação Art. 319 – (FUNCIONÁRIO PÚBLICO QUE) Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. b) Crime funcional impróprio São aqueles em que ausente a qualidade de funcionário público haverá uma desclassificação para crime de outra natureza. Ex.: art. 312 (Peculato), convertida em apropriação indébita, furto, etc. Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena -reclusão, de dois a doze anos, e multa. Apropriação indébita Art. 168 - Apropriar-se (qualquer pessoa) de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 1.2. Concurso de pessoas nos crimes funcionais Possibilidade: Dois ou mais funcionários públicos praticam a conduta típica. Há concurso de pessoas quando o crime funcional é praticado por particular? R: Depende! Caso a elementar “funcionário público” seja de conhecimento do particular coautor ou partícipe, a ele se comunica, nos termos no artigo 30 do CP. Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) DOIS CONCEITOS: INTRANEUS: Funcionário Público que comete crime funcional; EXTRANEUS: Particular que pratica a conduta e tem conhecimento da elementar. 1.3. Princípio da insignificância nos crimes contra a administração pública A doutrina já vinha adotando o posicionamento de que é INAPLICÁVEL o princípio da insignificância, tendo em vista que o bem jurídico tutelado (moralidade administrativa) sempre será atingido. Segundo o STJ, os crimes contra a Administração Pública têm como objetivo resguardar não apenas o aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa. Logo, mesmo que o valor do prejuízo seja insignificante, deverá haver a sanção penal considerando que houve uma afronta à moralidade administrativa, que é insuscetível de valoração econômica. Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública.STJ.Corte Especial. Aprovada em 20/11/2017. EXCEÇÃO: DESCAMINHO (ART. 334 do CP) – Topograficamente é crime contra a administração pública (Título XI do Código Penal – Crimes contra a Administração Pública). Descaminho Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) De acordo com o STJ, “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato etc. (AgRg no REsp 1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/11/2013). POSIÇÃO DO STF: DISCORDA DA SÚMULA 599 DO STJ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art30 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art30 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13008.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13008.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13008.htm#art1 NÃO. No STF, há julgados admitindo a aplicação do princípio mesmo em outras hipóteses além do descaminho, como foi o caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011 e do HC 112388, Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, julgado em 21/08/2012. Segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática de crime contra a Administração Pública, por si só, não inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância, devendo haver uma análise do caso concreto para se examinar se incide ou não o referido postulado. 1.4. Progressão de regimes nos crimes praticados contra a Administração Pública REGRA GERAL (LEP – Lei nº 7.210/1984, Art. 112): cumprimento mínimo de 16%, 20%, 25%, 30%, 40% e 50% da pena a depender do crime cometido. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO: Lei 10.763/03 – acrescenta o § 4º ao art. 33 do CP - Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo. § 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. (Incluído pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) 1.5. Crime funcional e ato de improbidade administrativa (lei 8.429/92) 5.1. Conceito de improbidade: Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro, não basta a legalidade formal, restrita, da atuação administrativa, com a observância da lei; é preciso também a observância de princípios éticos, de lealdade, de boa –fé, de regras que assegurem a boa administração e a disciplina interna na Administração Pública. Para José Carvalho dos Santos Filho: as expressões (moralidade e probidade) se equivalem, tendo a Constituição, em seu texto, mencionado a moralidade como princípio (art. 37, caput) e a improbidade como lesão ao mesmo princípio (art. 37, § 4º). PROBIDADE = MORALIDADE = HONESTIDADE QUESTÃO: Todos os atos de improbidade administrativa são crimes funcionais? R: Nem todo ato de improbidade configura crime funcional, somente aqueles que adequam à figura prevista no tipo penal. Ex.: uso do motorista para realização de coisas particulares, pagar contas, etc. Todavia, TODOS OS CRIMES FUNCIONAIS configuram inevitavelmente ato de improbidade administrativa, pois haverá, no mínimo, violação aos princípios da administração pública. 1.6. Foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.763.htm#art33%C2%A74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.763.htm#art33%C2%A74 NÃO EXISTE FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE. Natureza jurídica da ação de improbidade administrativa: CÍVEL. Em outras palavras, é uma ação civil e não uma ação penal. REGRA GERAL: somente existe foro por prerrogativa de função no caso de ações penais (e não em demandas cíveis). Ex1: se for proposta uma ação penal contra um Deputado Federal por crime que ele tenha cometido durante o seu mandato e que esteja relacionado com as suas funções, esta deverá ser ajuizada no STF. Ex2: se for ajuizada uma ação de cobrança de dívida contra esse mesmo Deputado, a demanda será julgada por um juízo de 1ª instância. 5.3. Prerrogativa de função (CPP, art. 84) Além das regras de competência previstas na Constituição, o foro por prerrogativa de função também é previsto no CPP: Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. (Redação dada pela Lei nº 10.628, de 24.12.2002) § 1o (Vide ADIN nº 2797) § 2o (Vide ADIN nº 2797) Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade. Art. 86. Ao Supremo Tribunal Federal competirá, privativamente, processar e julgar: I - os seus ministros, nos crimes comuns; II - os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do Presidente da República; III - o procurador-geral da República, os desembargadores dos Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de =responsabilidade. Art. 87. Competirá, originariamente, aos Tribunais de Apelação o julgamento dos governadores ou interventores nos Estados ou http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10628.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10628.htm#art1 http://gemini.stf.gov.br/cgi-bin/nph-brs?d=ADIN&s1=2797&u=http://www.stf.gov.br/Jurisprudencia/Jurisp.asp&Sect1=IMAGE&Sect2=THESOFF&Sect3=PLURON&Sect6=ADINN&p=1&r=1&f=G&l=20 http://gemini.stf.gov.br/cgi-bin/nph-brs?d=ADIN&s1=2797&u=http://www.stf.gov.br/Jurisprudencia/Jurisp.asp&Sect1=IMAGE&Sect2=THESOFF&Sect3=PLURON&Sect6=ADINN&p=1&r=1&f=G&l=20 Territórios, e prefeito do DistritoFederal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia, juízes de instância inferior e órgãos do Ministério Público. OBS – ADIN 2797: Lei nº 10.628/2002 previu foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade. Diante dessa alteração legislativa, foi proposta a ADI 2797 contra a Lei nº 10.628/2002 e o STF julgou inconstitucional o referido § 2º do art. 84 do CPP, decisão proferida em 15/09/2005. Fundamento: “no plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da União são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente decorrentes. (...) Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal — salvo as hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III —, reservou explicitamente às Constituições dos Estados-membros a definição da competência dos seus tribunais, o que afasta a possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinária.” EM 2018 A QUESTÃO FOI NOVAMENTE LEVANTADA: Não existe foro por prerrogativa de função em ação de improbidade administrativa proposta contra agente político. O foro por prerrogativa de função é previsto pela Constituição Federal apenas para as infrações penais comuns, não podendo ser estendida para ações de improbidade administrativa, que têm natureza civil. STF. Plenário. Pet 3240/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 10/05/2018. 1.7. Absolvição na esfera criminal e repercussão nas demais instâncias (art. 65, 66, 67 do CPP). Regra geral: depende do fundamento da absolvição a) Faz coisa julgada na esfera cível (CPP, art. 65 e 66): Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade*, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato. → Decisão absolutória reconhecendo categoricamente a inexistência material do fato ou a negativa de autoria ou participação. → Decisão absolutória reconhecendo categoricamente a presença de excludentes da ilicitude reais. EXCEÇÃO: ESTADO DE NECESSIDADE AGRESSIVO (o agente visando a salvar-se ou a terceiro, atinge um bem jurídico de pessoa que perigo nenhum provocou, ou, que nada teve a ver com a situação de perigo causada): A decisão absolutória não faz coisa julgada no cível. b) Não faz coisa julgada no cível (CPP, 67): Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I - o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II - a decisão que julgar extinta a punibilidade; III - a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime. → Decisão absolutória que reconhecer a atipicidade da conduta → Decisão declaratória extintiva da punibilidade → Decisões absolutórias fundadas no princípio do “in dúbio pro reo” Súmula 18-STF: PELA FALTA RESIDUAL, NÃO COMPREENDIDA NA ABSOLVIÇÃO PELO JUÍZO CRIMINAL, É ADMISSÍVEL A PUNIÇÃO ADMINISTRATIVA DO SERVIDOR PÚBLICO. 1.8. Extraterritorialidade da lei brasileira QUESTÃO: A extraterritorialidade penal é aplicável aos crimes contra a administração praticados no exterior? R: SIM. CP, art. 7º, I, “b” Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984). Possibilidade da aplicação da lei brasileira dos crimes funcionais no exterior. 1.9. Conceito de funcionário público para fins penais (art. 327 do CP) Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Interpretação autêntica: quando o legislador traz um conceito com a finalidade de segurança jurídica. *OBS: Embora transitoriamente ou sem remuneração. → Cargo público: é o conjunto de atribuições e responsabilidade previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor, criado por lei, com denominação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art7 própria (L. 8.112/1990. art. 3º). É o servidor estatutário. Ex.: Promotor, juiz, etc. (estatutários). → Emprego público: é aquele relacionado a serviço temporário ou através de regime da CLT (funcionário do BB, Caixa Econômica, Correios, etc.). → Função pública (conceito residual): atividade relacionada a cargo ou emprego, mas pode ser exercida sem os dois, como a de jurado ou de mesário de eleições, jurados e estagiários de órgão público. OBSERVAÇÕES: OBS1: Advogado “Ad hoc” - É o advogado para o ato. Não exerce função pública. OBS2: Advogado Dativo: é o advogado chamado pelo Poder Público para exercer o patrocínio de causa do cidadão (ex.: Inscritos na Assistência Judiciária). De acordo com a doutrina, não é considerado funcionário público, pois exerce um múnus (encargo) público (Rogerio Sanches Cunha, Válter Kenji Ishida). Posição do STJ: advogado dativo é considerado funcionário público para fins penais. O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em defesa dos hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária gratuita, enquadra-se no conceito de funcionário público para fins penais. Sendo equiparado a funcionário público, é possível que responda por corrupção passiva (art. 312 do CP).STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579) 1.9.1. Funcionário público por equiparação (Art. 327, § 1º alterado pela Lei 9.983/00) § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) OBSERVAÇÕES: → Princípio da legalidade: este conceito de funcionário público por equiparação somente se aplica aos crimes cometidos após a entrada em vigor da Lei 9.983/00; → Essa equiparação só é válida para o funcionário que exerça atividade típica da Administração Pública; → Sujeito passivo: prevalece na doutrina e jurisprudência dos tribunais superiores o entendimento de que a equiparação do § 1º somente se aplica às hipóteses em que o indivíduo seja sujeito ativo do crime funcional. Portanto, quando vítima do delito, esse indivíduo não é considerado funcionário público por equiparação (STF HC 83.830 e RE 348.714). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art327%C2%A71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9983.htm#art327%C2%A71 Ex: médico xingado quando do exercício da função pública (crime de injúria, não desacato). - Cargo, emprego ou função em: → Em entidade paraestatal – Sociedade de Economia Mista (BB), Empresa Pública (Correios, CEF), Autarquia (Sabesp), Fundações (), no entanto há doutrinadores que também incluem os Serviços Sociais Autônomos (SESI, SESC, SENAI, etc.). → Empresa contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da administração pública. Ex.: Hospital Particular credenciado – SUS. * Médico trabalhando em hospital particular credenciado ao SUS que cobra vantagem indevida para exercício de sua função é funcionário público. * Buffet contratado para um evento da Administração pública, por não exerceratividade típica da Administração Pública, assim, se um funcionário desse Buffet se apropria de algum dos objetos, não será ele equiparado a funcionário público. 1.10. Causa de aumento de pena nos crimes funcionais (art. 327, § 2º) § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980) * OBSERVAÇÕES: - Não consta de “autarquia” no referido parágrafo, assim aqueles que ocupam cargos em comissão, função de direção ou assessoramento dos órgãos da Administração Pública do § 2º do artigo 327, a eles não é aplicável essa causa de aumento de pena, pois, vedada a analogia em “malam partem”. 2. Dos crimes funcionais em espécie 2.1. Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 2.1.1. Peculato próprio a) Peculato apropriação e Peculato desvio - conceitos Apropriar-se significa fazer sua a coisa de outra pessoa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6799.htm#ART327%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6799.htm#ART327%C2%A72 Desviar significa dar destinação diversa, em proveito próprio ou alheio. Ex.: Dinheiro. OBS. 1: Se o desvio for feito em favor da própria administração, o crime será o do art. 315 do CP. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. OBS 2: A aprovação das contas do Administrador Público pelo Tribunal de Contas não impede o oferecimento de denúncia contra o mesmo. Cabe ressaltar que os Tribunais de Contas são órgãos administrativos do Poder Legislativo (sistema de freios e contrapesos) que fiscalizam as contas dos Poderes Públicos. b) Objeto Material Dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, seja ele público ou particular de que tenha a posse, o funcionário público, em razão do cargo. De acordo com a doutrina, a expressão “posse” também abrange a detenção (durante uma averiguação). c) Peculato de uso é crime? Para os tribunais só haverá crime quando o uso referir-se a bem que seja consumível pelo uso (bens fungíveis – dinheiro). No caso de veículo, por não ser consumível, no que tange ao combustível, caso esse seja reposto, não haverá o crime, bem como, os tribunais também têm aplicado o princípio da insignificância em tais casos. * Prefeitos: O peculato de uso para o Prefeito é conduta típica (Dec-Lei 201/67). Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos; 2.1.2. Peculato impróprio ou peculato-furto (art. 312, § 1º) § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. O funcionário público não tem a posse do bem móvel, porém se aproveita de sua qualidade de funcionário público para subtrair ou concorrer para a subtração do objeto. Ex.: Extravio de arma no Distrito Policial. No quartel (crime militar – art. 303, § 2 do CPM). 2.1.3. Peculato Culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. OBSERVAÇÕES: → Infração de menor potencial ofensivo Pena de detenção, de três meses a um ano. → Crime de outrem: por conta da posição topográfica do artigo 312, § 2º do CP, prevalece que o “crime de outrem” deve ser um peculato próprio ou impróprio. Há posição minoritária entendendo que pode ser qualquer delito, inclusive patrimonial. → Concurso de Pessoas: No caso do art. 312, § 2º, não se pode falar em concurso de pessoas, já que não se admite participação culposa em crime doloso, ou participação dolosa em crime culposo. Há, portanto, a necessidade de unidade de desígnios. → Extinção da punibilidade no peculato culposo (art. 312, § 3º do CP e art. 303, § 4º do CPM) § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Reparação do dano no CP: - Regra Geral (art. 16 do CP): Arrependimento posterior. Até o recebimento da denúncia ou da queixa, sendo causa de diminuição da pena de 1/3 a 2/3. Depois do recebimento da denúncia será mera circunstância atenuante (art. 65, III, “b”). - Exceções: Peculato Culposo (art. 312, § 3º) – se feita até o trânsito em julgado de sentença condenatória, ocorrerá a extinção da punibilidade. Se feita depois, haverá redução de metade a pena imposta. Prevalece ainda que a reparação do dano integral, ainda que feita por apenas um dos agentes, seus benefícios são estendidos a todos os agentes. - Peculato próprio e impróprio: aplica-se a regra geral (art. 16), visto que não há qualquer previsão legal a respeito. 2.2. Concussão (316 do CP) Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 2.2.1. Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) Alterou a pena para do crime de concussão, equiparando-a ao crime de corrupção passiva (de 2 a 12 anos e multa). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art2 2.2.2. Sujeito ativo a) Funcionário público no exercício da função. Policial que exige vantagem indevida em razão da função pública. b) Funcionário público fora da função, mas em razão dela. Ex.: Promotor que procura um investigado que exige um “agrado” para não oferecer denúncia. a) Particular na iminência de assumir o exercício de função pública atuando em razão dela. Ex.: Funcionário que prestes a assumir uma função pública exige vantagem. A exigência feita pelo funcionário deve estar relacionada ao exercício das funções do agente, sob pena de caracterizar outro delito. Ex.: promotor que diz que se receber a vantagem vai absolver o acusado não será concussão. OBSERVAÇÕES: * Policial Militar (art. 305 do CPM); * Fiscal de rendas (art. 3º, II - lei 8.137/90 – Crimes contra a Ordem Tributária, relações de consumo); 2.2.3. Tipo Objetivo (conduta) “Exigir” (concussão): Significa impor como obrigação, reclamar de forma imperiosa, sob pena de represália. (“me dá isso, senão...”). metus publicae potestatis: temor da atividade funcional. “Solicitar” (corrupção passiva): surge por exclusão do temor de represália. OBS - Concussão x Extorsão (violência ou grave ameaça): no crime de concussão, o que ocorre é uma espécie de constrangimento ilegal, valendo-se o funcionário público do medo que sua função exerce. No crime de extorsão também há constrangimento ilegal, porém, mediante o emprego de violência ou grave ameaça. → Vantagem indevida: não há a necessidade que a mesma tenha natureza patrimonial (ex.: elogio). → “para si ou para outrem”: Se a exigência for feita em favor da administração, prevalece o entendimento de que também haveria crime de concussão. Se a exigência for de Tributo, responderá pelo excesso de exação (316, §§ 1º e 2º) 2.2.4. Consumação e Tentativa Crimede natureza formal, portanto, consuma-se independentemente do recebimento da vantagem indevida. Basta a simples exigência, pois o recebimento da vantagem é mero exaurimento. - Prisão em flagrante: É perfeitamente possível a prisão em flagrante em relação ao crime de concussão desde que essa ocorra no momento da exigência indevida, e não por ocasião de seu recebimento (Paulo Rangel). Porém, vale lembrar que, um dos verbos, do crime de corrupção passiva é o verbo receber, portanto, em relação ao crime de corrupção passiva, é perfeitamente a prisão em flagrante no momento do recebimento da vantagem indevida. Tentativa: É possível através da carta concussionária. 2.2.5. Objetividade Jurídica: * Moralidade Administrativa; * Patrimônio do particular constrangido pelo ato do agente público criminoso. 2.3. Corrupção passiva (art. 317) Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 2.3.1. Exceção à teoria monística * Teoria monística: responderão por crime único de acordo com sua culpabilidade (art. 29) - art. 124/126 (aborto) - art. 318 (facilitação de contrabando e descaminho) e art. 334 (contrabando e descaminho) - art. 342, § 1º (falso testemunho) e art. 343 (corrupção da testemunha) - art. 317 (corrupção passiva) e 333 (corrupção ativa). - art. 235 (bigamia) e 235, § 1º (auxílio à bigamia) 2.3.2. Bilateralidade da corrupção Condutas: CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA Solicitar Oferecer Receber * “dar” não existe Aceitar promessa Prometer vantagem http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.763.htm#art2art317 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.763.htm#art2art317 A corrupção não é necessariamente crime bilateral, de forma que a tipificação da corrupção passiva nem sempre dependerá do delito de corrupção ativa, e vice-versa. OBS.: Diante de uma exigência indevida (concussão), não há falar em crime de corrupção ativa por parte do particular responsável pela entrega da vantagem indevida. 2.3.3. Corrupção passiva própria e imprópria a) Corrupção passiva própria: o ato a ser praticado pelo agente é um ato ilícito ou injusto. Ex: destruição de autos. b) Corrupção passiva imprópria: o ato a ser praticado pelo agente é um ato legítimo. Ex: Oficial de justiça que solicita dinheiro para cumprir o mandado que está no fim da pilha de mandados. 2.3.4. Corrupção passiva antecedente e subsequente (art. 317, §§ 1º e 2º) a) Corrupção passiva antecedente O agente primeiro solicita, recebe ou aceita promessa para no futuro realizar o ato “comercializado”. Trata-se de conduta típica. b) Corrupção passiva subsequente O agente primeiro realiza o ato para depois solicitar, receber ou aceitar promessa de vantagem indevida. Trata-se de conduta típica. NÃO CONFUNDIR ESSES CRIMES COM: - Corrupção ativa antecedente: o agente primeiro oferece ou promete para no futuro determinar a prática de ato de ofício pelo funcionário público. Trata-se de conduta típica. - Corrupção ativa subsequente: O funcionário primeiro pratica, omite ou retarda o ato de ofício para em seguida, o particular, lhe oferecer ou prometer vantagem indevida. Trata-se de conduta atípica (cesta de natal aos juízes e funcionários dados por escritório em razão do tratamento cordial). 2.3.5. Distinção entre o artigo 317, § 2º (corrupção passiva privilegiada) e o art. 319 (Prevaricação) Corrupção passiva privilegiada (chamado pela doutrina) § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. → Art. 317, § 2º: o agente cede a pedido ou influência de outrem, ou seja, o agente não busca satisfazer interesse ou sentimento pessoal. → Art. 319 (prevaricação): não há pedido ou influência de outrem, sendo que a conduta do agente visa satisfazer interesse ou sentimento pessoal. IV - Crimes contra a administração da justiça. 1. Denunciação caluniosa (art. 339) Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. 1.1. Bem jurídico Bem jurídico primário: O regular andamento da administração da Justiça, pois nesse caso ela é impulsionada inútil e criminosamente. Bem jurídico secundário: honra da pessoa ofendida. * Denominado pela doutrina de Calúnia Qualificada. 1.2. Denunciação caluniosa (art. 339) x Calúnia (art. 138) Art. 138 (calúnia) – Ofensa à honra (fim) Art. 339 – Ofensa à honra como meio para o fim de ferir a administração da Justiça. Trata-se de crime progressivo, onde o agente para alcançar o fim almejado (denunciação caluniosa), necessariamente tem que passar por um crime meio (calúnia). * Ex. de crime progressivo: estelionato por meio de cheque furtado. 1.3. Sujeitos do Crime a) Ativo Qualquer pessoa, inclusive os responsáveis pela instauração dos procedimentos referidos no tipo penal. Crime comum. → O promotor de justiça que oferece denúncia nos casos do art. 339, essa denúncia é chamada de temerária ou abusiva. → O advogado pode ser autor do crime. 1.3.1. Condutas antes e depois da Lei 10.028/00 ANTES Dar causa à instauração DEPOIS Dar causa à instauração Dar causa à instauração: - Investigação policial - Investigação policial - Processo judicial - Processo judicial - Investigação administrativa - Inquérito civil - Ação de improbidade administrativa Antes da Lei 10.028/2000 era comum a doutrina alertar que nos crimes de ação privada http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10028.htm#art339 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10028.htm#art339 ou pública condicionada à representação somente a vítima ou se representante poderia praticar o crime do art. 339 do CP, pois a investigação policial e o processo judicial dependia da sua manifestação de vontade. Com a nova lei, mesmo nestes crimes, o delito é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, pois a investigação administrativa, o inquérito civil e a ação de improbidade não dependem da iniciativa da vítima ou de seu representante. Ex.: Denunciante que imputa a servido crime de ameaça. b) Sujeito Passivo Primariamente: A administração pública, mais precisamente a administração da Justiça Secundária: a pessoa ofendida na sua honra objetiva (a pessoa caluniada). * Menor de 18 anos (duas correntes): - 1ª Corrente: O menor não pode ser vítima de denunciação caluniosa, ao passo que não pode ser vítima de calúnia por ser inimputável podendo ser, tão somente, vítima de difamação. - 2ª Corrente: O menor pode ser vítima de denunciação caluniosa da mesma forma que de calúnia, haja vista que o ato infracional se equipara a crime no que tange à honra objetiva do menor (prevalece); 1.4. Conduta (art. 339, “caput”) “Dar causa à instauração de... imputando a alguém crime que o sabe inocente:” - Investigação Policial- Processo Judicial - Investigação administrativa - Inquérito civil - Ação de improbidade Pode ser praticado por qualquer meio (crime de execução livre), por palavras ou gestos. Observações: • Dispensa a formalização da investigação num inquérito, bastam simples investigações informais; • Processo judicial: obviamente ao processo judicial penal, quando do recebimento da inicial; • No caso das investigações administrativas, inquérito civil e ação de improbidade caracterizam o crime do art. 339 somente se aquelas estejam apurando condutas correspondentes à crimes. • Se a denunciação falsa de ato ímprobo, porém não criminoso, e desse resultar numa ação de improbidade administrativa, responderá o autor pelo crime previsto no artigo 19 da Lei 8.429/92. Crime de menor potencial ofensivo (JECrim). Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente. Pena: detenção de seis a dez meses e multa. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver provocado. • Trata-se de rol taxativo. Assim, caso seja injustamente instaurada CPI, o agente não responderá pelo crime do 339 (Cezar Roberto Bitencourt). • Extinção da punibilidade do denunciado - a doutrina, antes da lei 10.028/2000 entendia não ser possível o crime de denunciação caluniosa nos casos em que estivesse extinta a punibilidade do “denunciado”, no entanto, com os acréscimos trazidos pela novel lei, o crime do artigo 339 ainda é aplicável ao seu agente mesmo após extinta a punibilidade se desta denúncia resultar na instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa. • Denunciação caluniosa contra os mortos: Extinta a punibilidade (posição do professor). Não é punível, pois trata-se de pessoa viva em razão do verbo estar no presente “o sabe inocente” presunção de que esteja vivo (Rogério Sanches). 1.5. Tipo Subjetivo Dolo. Discussão da doutrina (dolo direto x dolo eventual): Dolo Direto – em razão do termo “que o sabe inocente” (maioria da doutrina). Vontade de dar causa à instauração do procedimento oficial imputando à vítima crime de que o sabe inocente. Dolo Eventual (minoria – Bitencourt e Rogério Sanches) – Assume o risco de dar causa à instauração do procedimento oficial imputando à vítima crime de que o sabe inocente. * Não se admite o dolo superveniente. Assim, aquele que de boa-fé, noticia um crime que pensa praticada por pessoa indicada não pratica denunciação caluniosa, ainda que tempos depois descubra que a revelação foi equivocada. 1.6. Consumação e tentativa O crime se consuma com a instauração de qualquer um dos procedimentos oficiais, no caso das investigações policiais, o crime dispensa a formalização do inquérito policial. Tentativa: possível, quando praticada na modalidade escrita através da carta interceptada. * Retratação: não extingue a punibilidade, contrariamente à calúnia que pode ocorrer até a sentença, visto que os procedimentos do caput já foram iniciados inutilmente. Retratação Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. 1.7. Momento do oferecimento da denúncia pelo art. 339. 1ª Corrente: o MP para propor ação penal em razão do crime do art. 339 do CP, deve aguardar a conclusão do procedimento injustamente instaurado, evitando-se o risco de decisões conflitantes (Nelson Hungria - PREVALECE). 2ª Corrente: não é pressuposto da instauração de ação penal pelo crime do art. 339 do CP a conclusão do procedimento injustamente instaurado. A prova da inocência da pessoa que foi acusada falsamente não depende do encerramento do procedimento. Não bastasse, a ação penal do art. 339 do CP é pública incondicionada. (Há decisões do STF de acordo com esse entendimento). 1.8. Denunciação Caluniosa Privilegiada (art. 339, § 2º) Ao invés de crime, imputa-se uma contravenção penal. Infração de médio potencial ofensivo, admitindo-se a suspensão condicional do processo. 2. Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 2.1. Bem Jurídico Regular andamento da administração da justiça. 2.2. Art. 339 (denunciação caluniosa) x art. 340 (comunicação falsa de crime ou contravenção) Art. 339: o agente imputa a infração penal inventada à pessoa certa e determinada. (grande potencial ofensivo) Art. 340: o agente comunica a infração fantasiosa sem imputá-la a alguém. (menor potencial ofensivo) 2.3. Sujeitos do crime a) Ativo: Qualquer pessoa OBSERVAÇÃO: Na comunicação de crime de Ação Privada ou Pública condicionada, somente o titular do direito de queixa ou de representação poderá praticar a infração. b) Passivo: A administração pública, mais precisamente a administração da justiça. 2.4. Conduta Provocar a ação da autoridade, bastando desencadear rol de atos investigativos, não havendo a instauração de inquérito. * Autoridade: A jurisprudência vem entendendo que a comunicação de crime nos termos do art. 340 à PM não caracteriza o crime em questão, visto que não se trata de função típica da Polícia Militar a realização de investigações, não abrangendo assim o conceito de Autoridade prevista no referido artigo, exceto nos casos referentes aos Crimes Militares definidos em Lei, tendo a Polícia Judiciária Militar a atribuição para investigá-los. Crime de execução livre: podendo ser realizado através de palavras, gestos ou escritos. 2.5. Tipo Subjetivo Dolo. Exige finalidade especial? 1ª Corrente: além da vontade de comunicar falsamente a ocorrência da infração, exige- se finalidade especial de provocar, inutilmente, a ação da autoridade pública (Nelson Hungria). 2ª Corrente: pouco importa a finalidade especial que animou o agente, bastando a vontade consciente de comunicar a autoridade pública a ocorrência de infração fantasiosa (Damásio - Prevalece). 2.6. Concurso de Crimes 1ª Corrente: se a comunicação falsa for meio para fraudar seguro, o crime patrimonial absorve o delito contra a administração da justiça (princípio da consunção). Ex.: 340 + 171, § 2º (estelionato contra seguro) 2ª Corrente: se a comunicação falsa visar fraude contra seguro haverá concurso material de delitos, tendo em vista que os dois crimes protegem bens jurídicos distintos, sendo inviável a consunção. (maioria). 2.7. Consumação e Tentativa Quando houver a prática de qualquer ato da autoridade policial visando esclarecer o delito ou a contravenção fantasiosamente comunicada. Tentativa: possível na forma escrita. 3. Autoacusação falsa Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. 3.1. Bem jurídico Regular andamento da administração da justiça. 3.2. Conceito O agente assume a paternidade de crime. Se assume a paternidade de contravenção penal o fato é atípico. A doutrina chama de autocalúnia. 3.3. Sujeitos a) Ativo Crime comum. Qualquer pessoa. OBS: Não há crime na conduta do coautor ou partícipe que chama para si a responsabilidade total do delito em que participou. b) Sujeito Passivo A administração da Justiça. 3.4. Conduta O crime consiste em o agente incriminar-se perante a Autoridade. Não significa na presença, podendo ser praticado o crime verbalmente ou por escrito. 3.5. Tipo subjetivo Dolo. Haverá o crime, ainda que tenha o agente se levado por motivo altruísta. Ex.: o pai assume a autoria de um crime praticado por um filho, não exclui o delito. 3.6. Consumação e tentativa O crime se consuma no momento emque a autoridade toma conhecimento da autoacusação falsa, não importando as ulteriores consequências. Admite-se a tentativa na modalidade escrita. Ex.: a carta interceptada. 4. Falso testemunho ou falsa perícia Art. 342 - Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. § 1º - Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 2º - As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno. § 3º - O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se retrata ou declara a verdade. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) 4.1. Bem jurídico Resguardar o prestígio da justiça. 4.2. Sujeitos do crime a) Ativo - Crime de mão própria ou de conduta infungível: Testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete. - Concurso de pessoas: A jurisprudência admite o concurso de pessoas. Para o STF o advogado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 que oriente uma testemunha poderá responder como coautor de falso testemunho (teoria do domínio do fato). No mesmo sentido, na falsa perícia, desde que o laudo esteja assinado por 2 peritos compromissados, no caso de perito não oficial. Obs.: Necessidade de compromisso da testemunha (*art. 303 do CPP) • Primeira corrente: só responde por crime de falso testemunha a testemunha que tiver prestado o compromisso de dizer a verdade (Cezar Roberto Bitencourt); Se a lei não submete a testemunha informante ao compromisso de dizer a verdade, não cometer o ilícito do art. 342 do CP. (Prevalece). • Segunda corrente: Há entendimento no STF de que testemunhas não compromissadas também respondem pelo crime de falso testemunho (STF HC 69358 e STJ HC 92836), assim toda a testemunha compromissada ou não, pode ser autora de crime do artigo 342 do CP. A lei ao diferencia, logo não cabe ao interprete fazê-lo. Não bastasse, a testemunha não compromissada pode servir de argumento de condenação ou absolvição. 4.3. Tipo Objetivo (condutas) • Fazer afirmação falsa: Significa dizer uma coisa distinta da verdade (ex.: confirmação de um falso álibi), tendo o agente consciência quanto a falsidade de sua afirmativa. • Negar a verdade: consiste em uma ação positiva em que o agente nega um fato que sabe ou que conhece. • Calar a verdade (reticência): trata-se de conduta omissiva em que a testemunha, ao ser indagada, deixa de dizer o que sabe. OBS: Verdade - é a perfeita correspondência entre a realidade e sua expressão. A falta de correspondência entre a expressão e a realidade pode ocorrer de um erro (engano inconsciente) ou advir de má-fé (mentira). OBS: É possível falso testemunho de fato verdadeiro? Sim, é possível. A falsidade não se extrai da comparação do depoimento da testemunha e a realidade, mas sim, do contraste do depoimento e a ciência da testemunha. Ex.: É caso da testemunha que narra um acidente de trânsito que teve conhecimento somente através da narrativa trazida pela vítima, pois a testemunha nunca esteve no local. 4.4. Tipo subjetivo Dolo. 4.5. Consumação e Tentativa Trata-se de delito formal, consumando-se no momento em que a testemunha, tradutor ou intérprete termina o seu depoimento, lavrando sua assinatura; no caso da falsa perícia (ou testemunho, tradução, contagem ou interpretação por escrito), consuma- se no instante da entrega do laudo à autoridade competente. * Obs.: Testemunha que mente sobre o mesmo fato em mais de um processo, responde por apenas um crime. Tentativa: Possível se através de carta. 4.6. Falso testemunho na Carta Precatória Juízo Deprecante: Julga, onde a prova colhida produz os seus efeitos. Juízo Deprecado: colhe a prova. Nesse juízo a testemunha faltou com a verdade. Quem é o juiz que julga o falso testemunho? Nos termos do Art. 70 do CPP, o juízo competente é o local da consumação do crime. 4.7. Causa de aumento de Pena (§ 1º) § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Abrange o falso testemunho ou a falsa perícia no Inquérito Policial, pois tem o IP a finalidade de produzir prova no Processo Penal. 4.8. Retratação (art. 342, § 2º) § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) É causa extintiva da punibilidade. Retratação: significa assinalar a declaração anterior como falsa e manifestar a verdade. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Essa retratação deve ocorrer no processo em que ocorreu o falso testemunho, devendo ser realizada antes da sentença desse processo. A retratação estende-se aos partícipes do fato delituoso. Obs1: Em processo de competência do júri é possível a retratação extintiva da punibilidade mesmo após a decisão de pronúncia, desde que anterior à sentença de mérito. Obs2: Quando deve ser proposta a ação penal: 1ªC – A ação penal pelo crime de falso testemunho ou falsa perícia deve aguardar o encerramento do processo em que ocorreu o falso, evitando-se o conflito de decisões. Aliás, até o encerramento o agente pode se retratar. 2ª C – A ação penal pelo crime de falso testemunho ou falsa perícia não precisa aguardar o encerramento do processo em que ocorreu o falso, pois a ação penal é pública incondicionada e a eventual retratação é causa extintiva da punibilidade resolutiva e não condição suspensiva. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10268.htm#art342 CRIMES HEDIONDOS LEI 8.072/1990 => A expressão “crime hediondo” é inaugurada pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XLIII. Trata-se de cláusula pétrea (Direitos e Garantias Fundamentais). CF, Art.5º: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. Quando a norma define alguns crimes comohediondos e dá a estes tratamento mais severo seguindo determinação constitucional, todos os demais crimes que não são hediondos devem ter um tratamento mais brando. Nisso consiste o direito fundamental protegido pela via transversa/reflexa. 1. Lei 8.072/1990 e origem histórica: => No início dos anos 90, desencadeia-se no país uma onda de crimes de extorsão mediante sequestro (gênese das facções criminosas). Caso “Washington Olivetto” – empresário foi sequestrado durante falsa blitz policial; Caso do “Abílio Diniz” – sequestro do executivo do grupo Pão de Açúcar. => Então, decide-se criar a “Lei de Crimes Hediondos” que prevejam penas mais graves para determinados crimes. No projeto inicial, o único crime hediondo previsto era o de extorsão mediante sequestro. O projeto inicial foi aprovado pela Câmara dos Deputados. No Senado, o projeto foi barrado e posteriormente alterado, incluindo-se outros crimes, sobretudo os violentos (estupro, atentado violento ao pudor, latrocínio, extorsão qualificada pela morte, etc.). => Populismo Penal. Simbolismo do Direito Penal. No médio prazo leva ao descrédito do direito penal, uma vez que não possui efeito prático, considerando que não houve diminuição nas ocorrências de crimes graves. 2. Conceito de crime hediondo Critérios para definição dos crimes hediondos: => Crime Hediondo é o que a lei define como tal. Existem três critérios que buscam definir um crime hediondo. a) Legal: => A lei irá definir, taxativamente, quais são os crimes hediondos. b) Judicial: => O juiz possui discricionariedade para avaliar no caso concreto se determinado crime é hediondo ou não. => Critério não adotado no Brasil em razão da insegurança jurídica. Ex: crimes com a mesma situação fática e avaliações diversas, a depender da Vara Criminal. c) Misto: => A legislação fornece parâmetros mínimos e juiz, no caso concreto, definirá se o crime se amolda ou não naqueles critérios fornecidos pelo legislador. 2.1. Critério adotado no Brasil CRITÉRIO ADOTADO NO BRASIL => O Brasil adota o critério legal, nos termos do art. 5º, XLIII1 e do art. 1º da LCH. CF, Art.5º: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. Lei 8.072/1990, Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: (...) => Observa-se que o critério não é a gravidade/barbaridade do crime, mas sim a escolha do legislador. Ex: roubo qualificado pela lesão grave, com espancamento, não é crime hediondo por si só; Ex: porte ilegal de arma de uso restrito é crime hediondo. => O rol dos crimes hediondos é taxativo, não podendo ser ampliado pelo julgador por analogia. Não cabe analogia em “malam partem”. => A Constituição prevê também os crimes equiparados a hediondos (3Ts – tortura, tráfico de drogas e terrorismo). Recebem da CF e das leis o mesmo tratamento dos crimes hediondos. Art. 5º, XLIII, da Constituição Federal: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. Crimes hediondos versus tentativa => A tentativa não exclui o caráter hediondo de um crime assim definido em lei. A tentativa é uma mera causa de diminuição da pena. QUESTÃO: Pode existir no Brasil contravenção penal de natureza hedionda? R: Não, considerando-se que (i) a CF trata de crimes hediondos e (ii) a existência de incompatibilidade lógica entre a brandura de uma contravenção e a hediondez que a CF estabelece. 2.2. Crimes hediondos e princípio da insignificância => Os crimes hediondos são incompatíveis com o princípio da insignificância Requisitos objetivos: “MARI” → Mínima ofensividade da conduta; → Ausência de periculosidade social da ação; → Reduzido grau de reprovabilidade; e → Inexpressividade da lesão jurídica; requisitos subjetivos relacionados ao agente e à vítima). => A própria CF imputa tratamento mais severo aos crimes hediondos, demonstrando sua relevância para o Estado. STF e “crimes de máximo potencial ofensivo” => Menor potencial ofensivo: contravenções penas e crimes com pena máxima de 2 anos (cabe transação penal; rito sumaríssimo – Lei 9.099/1995). => Médio potencial ofensivo: crimes com pena mínima de até 1 ano e máxima superior a 2 anos (cabe suspensão condicional do processo). => Alto potencial ofensivo: crimes com pena mínima superior a 1 ano e máxima superior a 2 anos (incompatíveis com os benefícios previstos na Lei n. 9.099/1995). => Máximo Potencial Ofensivo – STF: são aqueles em que a própria CF exige um tratamento mais severo, previstos no art. 5º, inc. XLII, XLIII e XLIV. Crimes inafiançáveis. CF, Art. 5º. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; 2.3. O rol taxativo dos crimes hediondos a) Homicídio Inc. I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); Lei Glória Perez => Momento em que o homicídio se torna crime hediondo – Lei 8.930/1994. => Caso midiático do homicídio da atriz Daniela Perez pelo seu par na novela – 1993. => Lei de Iniciativa Popular. Homicídio simples: a questão do grupo de extermínio (CP, art. 121, § 6º) § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. => O homicídio simples, em regra, não é crime hediondo. (EXCEÇÃO) Será crime hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. => Não se exige que exista um grupo de extermínio, mas tão somente que seja uma atividade típica de grupo de extermínio. Ex: extermínio de um grupo de moradores de rua por apenas uma pessoa. Crítica: o dispositivo não é necessário, uma vez que um homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio nunca será simples, sempre terá uma qualificadora. => Na existência do grupo e extermínio, será homicídio qualificado e, portanto, hediondo. Pois sempre incidirá em qualquer uma de suas qualificadoras. § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Homicídio privilegiado (art. 121, § 1º) Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o
Compartilhar