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Código Logístico
58430
www.iesde.com.br
facebook.com/iesdebrasil
Há lugar para a história em um tempo permeado pela urgência 
do presente? Em que consiste um olhar histórico sobre o real? 
Que diferenças existem entre história e passado? Entre tempo e 
temporalidade? Entre tempo e cronologia? É muito corriqueira 
a concepção de que o passado pode afetar o presente. Mas o 
presente também pode afetar o passado. Essas são algumas das 
questões sobre as quais iremos dialogar ao longo desta obra.
A partir de agora, convidamos você a desenvolver um 
caminho possível para o enfrentamento dessas provocações. 
É assim que este livro pretende ser entendido: como um 
percurso introdutório aos estudos históricos, o primeiro 
destino da viagem que você começa agora. Que o te ajude a 
estranhar, mais do que entender, o seu próprio tempo.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6258-4
9 788538 762584
Introdução aos Estudos H
istóricos
A
ndréa C
arneiro Lobo
Andréa Carneiro Lobo
Introdução aos
Estudos Históricos
Introdução aos estudos 
históricos
IESDE BRASIL S/A
2019
Andréa Carneiro Lobo
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L782i Lobo, Andréa Carneiro
Introdução aos estudos históricos / Andréa Carneiro Lobo. - 
1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019. 
122 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6258-4
1. Historiografia. 2. Pesquisa histórica. I. Título.
19-55349
CDD: 907
CDU: 930.2
© 2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: ismagilov/ArisSu/Shelly Still/Shaiith/Andrey_Kuzmin/ Nastco/ 
EnolaBrain/scisettialfio/Pietus/iStockphoto
Andréa Carneiro Lobo
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista 
em Imagens, Linguagens e Ensino de História pela UFPR e graduada em História (Licenciatura e 
Bacharelado) pela mesma instituição. Possui experiência em ensino de História, Metodologia Científica 
e Filosofia para alunos de graduação em Direito e História, com ênfase em história do pensamen-
to ocidental, atuando especialmente na análise do pensamento filosófico contemporâneo (Nietzsche, 
Benjamin, Foucault, Deleuze) e teoria da história. É autora de livros didáticos nas áreas de história, 
filosofia, política e arte.
Sumário
Apresentação 7
1 Tempo, temporalidades e cronologia 9
1.1 Sobre o tempo 9
1.2 Tempo e temporalidades 11
1.3 O calendário cristão 14
1.4 A cronologia nos estudos históricos 17
2 Epistemologia do estudo da História 21
2.1 Da origem do termo História à sua concepção na Antiguidade 21
2.2 Os vários entendimentos acerca da História – do pensamento medieval ao 
Renascimento 27
2.3 História: entre a Filosofia e a Ciência 36
3 Conceito de fonte histórica 45
3.1 Conceito de fonte histórica: do século XIX aos nossos dias 45
3.2 Fontes primárias e secundárias 53
3.3 Seleção, análise e crítica das fontes primárias 54
4 A metodologia do estudo da História 59
4.1 A construção do conhecimento histórico 59
4.2 As implicações teóricas e práticas do estudo histórico 63
4.3 A importância do estudo da História 67
5 Inteligibilidade entre presente, passado e futuro 71
5.1 A relação de inteligibilidade entre presente e passado em Marc Bloch 71
5.2 O tempo histórico: presente, passado e futuro em Reinhart Koselleck 74
6 Objetividade x subjetividade no estudo da História 81
6.1 O século XIX e a concepção de objetividade em História 81
6.2 Os Annales e as considerações acerca da subjetividade no estudo da 
História 86
Introdução aos estudos históricos6
7 História e memória 91
7.1 Memória individual e memória coletiva 91
7.2 História versus memória 94
7.3 Memória oficial e memórias subterrâneas 98
7.4 A história oral e o uso da memória como fonte 101
8 A narrativa em História 105
8.1 O século XIX e a narrativa como forma do texto histórico 105
8.2 A crítica à narrativa 107
8.3 A História como ficção ou para além da narrativa: limites e possibilidades do 
texto histórico 109
Gabarito 115
Apresentação
Primeiramente, parabéns por ter escolhido cursar História1! Saiba que essa decisão foi um 
ato de coragem, e também de resistência e esperança.
Se cada época tem suas mazelas e suas glórias, a nossa época, as primeiras décadas do século 
XXI, traz em si um triste paradoxo: na mesma medida em que aumentam as possibilidades de pro-
dução, acesso e compartilhamento de informações, vemos recrudescer o debate e a reflexão crítica 
acerca do sentido do conhecimento.
O filósofo e ensaísta alemão Robert Kurz, falecido em 2012, alertava: nunca fomos tão igno-
rantes quanto na era da informação. Isso porque grande parte daquilo que acessamos como in-
formação se destina a acionar a parafernália tecnológica que nos invade com milhões de frases 
e imagens de fácil digestão. Sob a aparência do entretenimento mental, esse volume imenso de 
informação sem conteúdo, produzida por qualquer um, compartilhada e “curtida” de forma quase 
imediata e sem análise, nos desvia de possibilidades reais de conversas reais, com pessoas reais, de 
forma aprofundada, embasada e crítica, sobre temas fundamentais à nossa existência.
Em que consiste a busca pela verdade? É possível ser feliz? Por que persiste a injustiça social? 
Qual o limite da liberdade? Por que não conseguimos aprender com os erros e acertos daqueles 
que viveram antes de nós? Como tornar a nossa vida mais sustentável e saudável? Essas questões, 
urgentes em nosso próprio tempo, ficam à margem, sem debate e sem resposta em uma época na 
qual grande parte da energia das pessoas é dedicada ao que é fugaz e superficial.
Diante da hiperconectividade e do imediatismo, como suscitar o interesse pelo que per-
manece? Como instigar o olhar para o que se desenvolve ao longo de um tempo maior do que os 
segundos entre uma publicação numa rede social e a primeira curtida? Como sensibilizar a aten-
ção para outras épocas, nas quais o tempo e o conhecimento eram concebidos de outras formas, 
e encontrar, apesar de todas as diferenças entre nosso presente e inúmeros passados, ressonâncias 
entre nós e eles?
Há lugar para a história em um tempo permeado pela urgência do presente? Em que consiste 
um olhar histórico sobre o real? Que diferenças existem entre história e passado? Entre tempo e 
temporalidade? Entre tempo e cronologia? É muito corriqueira a concepção de que o passado pode 
afetar o presente. Mas você sabia que o presente também pode afetar o passado? Essas são algumas 
das questões sobre as quais iremos dialogar ao longo do nosso livro. Nosso, porque é para você e 
com você, pensando em você, que ele foi escrito.
A partir de agora, convidamos você a desenvolver um caminho possível para o enfren-
tamento dessas provocações. É assim que este livro pretende ser entendido: como um percurso 
1 Usaremos a palavra História com inicial maiúscula para designar estudo, ciência e história com inicial minúscula 
para designar a trajetória dos homens no tempo.
recrudescer: au-
mentar; tornar-se 
mais intenso.
Introdução aos estudos históricos8
introdutório aos estudos históricos, o primeiro destino da viagem que você agora começa. Que ele 
o ajude a estranhar, mais do que entender, o seu próprio tempo.
Bons estudos, boa viagem!
1
Tempo, temporalidades e cronologia
“O que é o tempo? Se ninguém pergunta isso, eu não me pergunto, eu o 
sei; mas se alguém me pergunta e eu quero explicar, eu não sei mais”. 
(SAINT AUGUSTIN, 1964, p. 264 apud DOSSE, 2003, p. 7)
Neste capítulo, iniciaremos nossa aventura acerca do conhecimento sobre os estudos histó-
ricos. Começaremos a entender em que consiste uma interpretação histórica da realidade e como 
essa interpretação é construída medianteo diálogo com categorias de tempo, temporalidade, cro-
nologia, memória, presente, passado e futuro.
Você já parou para pensar sobre o tempo? Como sente sua existência? De que forma se re-
laciona com a dinâmica das sociedades no espaço e como é percebido, de diferentes maneiras, por 
essas mesmas sociedades? Será que tempo e temporalidade são a mesma coisa? As diversas tem-
poralidades se expressam somente por meio da cronologia? São essas questões que discutiremos 
neste capítulo.
1.1 Sobre o tempo
Você já se perguntou sobre o que é o tempo? Como você o percebe? De que forma se situa 
nele? Tal qual a afirmação do filósofo Santo Agostinho, que viveu entre os anos 354 e 430, o tempo 
é algo que sentimos, que percebemos, que, de alguma forma, concebemos, mas que nem sempre 
conseguimos explicar. Para tentar criar uma definição, que tal começar analisando como filósofos 
e teóricos de diferentes épocas se posicionaram a respeito?
Na Antiguidade, os pitagóricos1, inspirados pelos ensinamentos do filósofo grego Pitágoras, 
que viveu entre os séculos VI-V antes da Era Cristã2, acreditavam que o tempo era “a esfera que 
abrange tudo” (ABBAGNANO, 2007, p. 945) .
1 Pitagóricos ou Pitagorismo é a designação dada à uma seita surgida na Antiguidade Grega, por volta do século 
VI a.C. Ela teria sido inspirada nos ensinamentos do matemático, filósofo e místico Pitágoras de Samos, que viveu na 
Magna Grécia, entre 570 e 495 a.C. e que não deixou nenhum texto escrito. Entre os principais pilares teórico-místicos do 
Pitagorismo, podemos mencionar três aspectos centrais: 1) A Metempsicose (movimento cíclico pelo qual um espírito, 
após abandonar um corpo, retorna em outro, animando, dando vida, a uma nova estrutura material, podendo ser animal, 
vegetal, ou humana; reencarnação); 2) Os números são os elementos a partir dos quais todas as coisas são constituídas; 
3) Os corpos celestes (que, segundo os pitagóricos, seriam em número de dez) girariam em torno de um fogo central e 
de forma simétrica. Alguns dos elementos constitutivos do Pitagorismo influenciaram grandemente o pensamento do 
filósofo grego Platão, que viveu entre 427-28 a.C e 347-48 a.C. (ABBAGNANO, 2007).
2 O início da Era Cristã é o marco inicial do calendário utilizado pelas sociedades ocidentais, ou seja, aquelas in-
fluenciadas pela civilização europeia. O marco desse calendário é o nascimento do líder religioso de origem judaica 
Jesus Cristo, considerado o filho de Deus para os cristãos. No entanto, existiram civilizações, filósofos, sistemas de 
pensamento e religiões anteriores à Jesus Cristo, em outras partes do mundo. Como esses acontecimentos se si-
tuam em épocas anteriores ao seu nascimento, são contados de forma decrescente, das datas mais antigas às mais 
próximas do nascimento de Cristo, e a essas datas é acrescentada a sigla a.C (antes de Cristo). Ao longo do texto, 
usaremos essa sigla para nos remeter a acontecimentos, teorias, civilizações e teóricos anteriores ao nascimento de 
Cristo; já em relação às datas posteriores ao nascimento de Cristo, não usaremos nenhuma sigla, ou mencionaremos, 
somente, que são datas da Era Cristã ou da nossa era.
Introdução aos estudos históricos10
Figura 1 – O tempo engloba tudo
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Para os Pitagóricos, o tempo era uma esfera que 
tudo abrangia.
Para outro filósofo grego, Platão, que viveu entre os séculos V e IV a.C., o tempo era a “di-
mensão móvel da eternidade” (ABBAGNANO, 2007, p. 945), ou seja, algo que, ao se manifestar no 
ciclo das estações, dos sistemas planetários e dos seres vivos, revela, pela mudança, a imutabilidade 
do que é eterno, imóvel: as essências de todas as coisas. Assim, o tempo seria o suporte por meio do 
qual aquilo que é perene, mutável, manifesta o que não muda, o que é eterno, as essências imóveis 
e perfeitas de todas as coisas, as quais Platão deu o nome de ideias.
Já Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.), filósofo que foi discípulo de Platão, definia o tempo como 
“um todo e uma quantidade contínua” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, p. 259).
Contudo, foi o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) que afirmou que o tempo, as-
sim como o espaço, é algo dado como condição da possibilidade da nossa sensibilidade. Para Kant 
(apud ABBAGNANO, 2007), o tempo seria, portanto, uma intuição interna, uma ferramenta da 
nossa razão sem a qual não conseguiríamos perceber nada com os nossos sentidos. Dessa forma, 
segundo o filósofo, só percebemos algo porque inserimos esse “algo” em categorias preexistentes 
em nossa razão, e estas seriam o tempo e o espaço.
Figura 2 – A percepção das coisas
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Kant acreditava que, sem as categorias de tempo e 
espaço, preexistentes em nossa razão, não perce-
beríamos os fenômenos a nossa volta.
Tempo, temporalidades e cronologia 11
Mas, se para Kant o tempo é a condição preexistente sem a qual nossa razão não perceberia 
os fenômenos, para muitas pessoas o tempo é a própria duração desses fenômenos, ou seja: o in-
tervalo entre um “antes”, um “agora” e um “depois”, e que pode também ser representado pelas ca-
tegorias “passado”, “presente” e “futuro”. Mas será, então, que tempo nada mais é do que a duração?
Foi um outro filósofo da nossa era, o francês Henri Bergson (1859-1941), que desenvolveu 
uma importante contribuição para esclarecer os conceitos de tempo e duração. Segundo Bergson 
(2006), o tempo é algo homogêneo, abstrato, parte do pensamento social e científico, e pode ser 
fracionado em partes menores, como os instantes, para facilitar seu uso e entendimento, mas que, 
em si, não é real. Já a duração é um “dado imediato da consciência, apresentado pela consciência 
subjetiva e que dá sentido à nossa experiência” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, p. 259). Assim, 
esta seria um dado preexistente ao nosso pensamento que torna possível e dá sentido às nossas 
experiências: tudo o que percebemos o fazemos com base em uma noção subjetiva de duração.
Para nos valermos de uma síntese criada pelo filósofo e matemático francês René Descartes 
(1596-1650), o tempo pode ser entendido como o número do movimento, ou ainda, a medida da 
duração (ABBAGNANO, 2007, p. 945).
Agora que você já conheceu algumas definições sobre tempo, diferenciando tempo de duração, 
pense você mesmo em um significado. Como você definiria o tempo? E a duração? Por que pensar os 
fenômenos inseridos num determinado tempo e buscar entender sua duração é importante para os 
estudos históricos? Quais as estratégias que as sociedades têm criado, ao longo dos séculos, para fra-
cionar a duração de fenômenos, como dia, noite, estações do ano, em intervalos menores de tempo? 
Fique atento e não “perca tempo”, pois é sobre isso que veremos a seguir!
1.2 Tempo e temporalidades
Vimos na seção anterior que podemos definir duração como a forma pela qual nossa subje-
tividade percebe os fenômenos, o que torna possível nossa experiência com o mundo sensível, algo 
dado, preexistente; e tempo como as tentativas de fracionar, dividir a duração dos fenômenos em 
partes menores.
E temporalidades? São as diferentes formas pelas quais as sociedades humanas percebem, 
concebem, mensuram e marcam a duração dos fenômenos. São também as diferentes formas pelas 
quais os grupos humanos entendem, situam, contam e representam essa duração por meio de es-
tratégias temporais diferenciadas.
A percepção de que o tempo é cíclico ou linear pode ser vista com o desenvolvimento de 
relógios e calendários, bem como na tentativa de organizar o tempo em uma cronologia. Essas são 
formas de expressão das diferentes relações que as sociedades estabelecem com o tempo, as dife-
rentes temporalidades.
Introdução aos estudos históricos12
Desde as primeiras sociedades humanas, surgidas ainda numa fase do desenvolvimento 
material denominada como Neolítico3 (situada aproximadamente entre 12 mil e 6 mil anos a.C.), 
há a tentativa de criação de estratégias de perceber os fenômenos pela sua duração e fracioná-los 
em intervalosmenores de tempo. Os parâmetros eram eventos que se alternavam e se repetiam 
com uma frequência determinada, como a sucessão do dia e da noite e a divisão do tempo entre 
uma parte dedicada ao trabalho, às atividades sociais e ao lazer – o dia – e uma parte dedicada 
ao sono e ao descanso do corpo – a noite.
A percepção do fenômeno de alternância de dias e noites tem como base a visualização das 
diferentes posições que o Sol parece ocupar no céu. A tentativa de acompanhar as pequenas mudan-
ças que ocorrem nessa posição ao longo de um dia deu origem aos primeiros relógios, os chamados 
relógios de sol. Da quantificação dessa mudança de posição em partes iguais resultou a divisão de um 
dia inteiro em 12 horas. O primeiro relógio de sol foi desenvolvido na antiga civilização da Babilônia 
(situava-se onde atualmente é o Iraque, no Oriente Médio) por volta de 5000 a.C. O doze é um sub-
múltiplo de sessenta, número que constituía a base do sistema numérico babilônico.
Na definição desse relógio, o aspecto central foi a percepção do meio-dia, momento em que 
o Sol ficava à pino, sem projetar nenhuma sombra, para nenhum lado. A trajetória da sombra do 
Sol foi, então, dividida em doze partes, seis anteriores ao meio-dia (manhã) e seis posteriores ao 
meio-dia (tarde). Essa divisão foi transposta também para o período em que o Sol não aparecia 
no céu (noite) e, assim, tem-se não só a primeira forma de divisão de um fenômeno em partes de 
tempo iguais, como também a criação do primeiro relógio, o relógio de sol babilônico. Também na 
China, por volta de 2300 a.C., e no Egito, por volta de 1500 a.C., há registros do uso de instrumen-
tos de medição que podem ser caracterizados como relógios de sol.
A percepção de que a Lua, assim como Sol, também aparecia em intervalos diferentes no 
céu e com formas variadas – fases que costumavam durar de 7 a 8 dias – pode ter sido o fato que 
motivou algumas das primeiras civilizações da Terra a organizar a divisão do tempo em intervalos 
ainda maiores: uma semana de sete dias, como fracionamento de uma fase do ciclo lunar, e um mês 
de 30 dias, como o intervalo de tempo relativo à um ciclo completo.
Finalmente, foi também a observação do céu e dos astros que instigou a percepção de um 
intervalo de tempo maior, relativo ao ciclo da alternância de estações climáticas bem definidas, 
3 Estudiosos costumam usar o termo Neolítico (palavra de origem grega cujo significado seria “pedra nova”) para 
se referir a uma fase do desenvolvimento material atingida por diferentes grupos humanos ao redor do planeta a partir 
de 12 mil a 10 mil anos a.C. Essa fase foi caracterizada pelo desenvolvimento de instrumentos de pedra polida (daí a 
designação “pedra nova”) e pela descoberta da agricultura e da pecuária, fatores que impulsionaram a sedentarização 
e o desenvolvimento da vida em sociedade. O desenvolvimento da agricultura representou uma verdadeira revolução, 
um salto na longa etapa do desenvolvimento humano: “Além dos machados e enxadas que podem fabricar-se pelo po-
limento de todos os tipos de pedras duras e passíveis de serem afiadas várias vezes, essa época é marcada por outras 
inovações revolucionárias, como a construção de moradias duráveis, a cerâmica de argila cozida e os primeiros desen-
volvimentos da agricultura e da criação. Entre 10.000 e 5.000 anos antes de nossa Era, algumas dessas sociedades 
neolíticas tinham, com efeito, começado a semear plantas e manter animais em cativeiro, com vistas a multiplicá-los 
e utilizar-se de seus produtos. Nessa mesma época, após algum tempo, essas plantas e esses animais especialmente 
escolhidos e explorados foram domesticados e, dessa forma, essas sociedades de predadores se transformaram por si 
mesmas, paulatinamente, em sociedades de cultivadores. Desde então, essas sociedades introduziram e desenvolveram 
espécies domesticadas na maior parte dos ecossistemas do planeta, transformando-os, então, por seu trabalho, em 
ecossistemas cultivados, artificializados, cada vez mais distintos dos ecossistemas naturais originais.” (MAZOYER, M.; 
ROUDART, L., 2010, p. 68-69).
Tempo, temporalidades e cronologia 13
cada uma tendo a duração média de quatro ciclos lunares completos, em um ciclo que se fechava 
em doze meses, para de novo iniciar. Esse ciclo, ao qual corresponde a alternância de quatro esta-
ções, fecha um ano solar completo. A sua observação serviu de base para alguns dos primeiros e 
mais antigos calendários criados por civilizações, como a egípcia, por exemplo (DUNCAN, 1999).
Figura 3 – Ciclo lunar
Imagem representando a alternância das fases da Lua em um ciclo lunar completo. A observação e 
a divisão dos intervalos de tempo relativo a esse ciclo estão na origem do fracionamento da duração 
dos fenômenos em períodos maiores de tempo, como as semanas e os meses.
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Todas essas tentativas de fracionamento da duração – que é algo contínuo – em intervalos de 
tempo (dias, semanas, meses e anos) – que são transitórios e finitos – funcionaram como estraté-
gias das primeiras sociedades para se localizarem e estabelecerem relação com o meio circundante, 
amplo, misterioso e, muitas vezes, ameaçador. Elas também serviram para estabelecer uma forma 
de organização das atividades de sobrevivência cotidianas, que envolviam, principalmente, o co-
nhecimento dos ciclos da natureza.
Como você pôde perceber, todos os intervalos de tempo anteriormente mencionados, desde 
o mais curto (horas) até o mais longo (um ano solar), são frações de durações maiores, relativas a 
fenômenos que se repetem continuamente. Esses fenômenos, portanto, pareciam ocorrer de forma 
cíclica, partindo de um ponto e a ele retornando depois de um certo período. A sua observação 
pode estar na origem não apenas de algumas das primeiras tentativas de medir, contar e dividir 
durações maiores em intervalos de tempo menores, como também pode explicar o fato de as pri-
meiras sociedades humanas manifestarem uma compreensão cíclica do tempo, ou seja, de que o 
tempo, assim como os fenômenos, é algo que, partindo de um ponto qualquer, a ele sempre retor-
na, depois de completar um ciclo, para recomeçar. A essa compreensão de temporalidade damos o 
nome de cíclica (GLEISER, 1997).
A compreensão cíclica dos fenômenos naturais e do tempo manifesta-se também na forma 
pela qual as primeiras sociedades explicam a origem desses fenômenos. Estas eram basicamente 
agrícolas e hidráulicas – visto que sua agricultura dependia basicamente do ciclo das cheias de 
grandes rios, como o Nilo, o Tigre e o Eufrates – e estavam situadas entre o Norte da África e o 
Oriente Médio, por volta do quinto e do quarto milênio a.C. (CARDOSO, 1982).
Registros indicam que para explicar a origem dos fenômenos naturais, essas sociedades re-
corriam a explicações sobrenaturais, criando deuses que personificam forças ou elementos da na-
tureza na tentativa de que esses mesmos deuses, por meio das preces, libações, sacrifícios e ofertas, 
interviessem nos fenômenos naturais, favorecendo as plantações e evitando catástrofes naturais, 
Introdução aos estudos históricos14
tais como secas, enchentes ou nevascas – nota-se que nessa compreensão até mesmo os deuses e 
suas ações têm uma trajetória cíclica (GLEISER, 1997, p. 17).
A compreensão de tempo cíclico, presente não apenas nas primeiras sociedades do Oriente 
Médio e Norte da África, como também da Europa – cretenses, gregos e romanos – opôs-se à visão 
judaico-cristã de tempo linear. Essa temporalidade está na base do cristianismo e constitui-se, a 
partir do fim da Antiguidade, na forma oficial de percepção e contagem do tempo no Ocidente, 
como veremos a seguir.
1.3 O calendário cristão
Um calendário é um dispositivo de organização da duração de determinados fenômenos na-
turais – como o ciclo solar, o ciclo lunar ou o ciclo das cheias de um grande rio – em determinadas 
unidades de tempo – dias, semanas, meses –, com o objetivo de fazer sua contagem por um período 
de tempo mais longo(um ano, por exemplo).
Nas sociedades antigas e atuais, os calendários funcionam como elementos importantes para 
a organização das atividades produtivas, das cerimônias religiosas, civis e também dos ciclos de 
migração. Por meio dos calendários, os homens têm a impressão – ainda que ilusória – de que 
são capazes de controlar o tempo. Esses dispositivos são também instrumentos de vínculo entre o 
natural e o sobrenatural, entre o homem em sociedade e o Cosmo.
O primeiro calendário oficialmente aceito como tal pelos historiadores é o calendário 
 egípcio, surgido por volta do terceiro milênio a.C., e que tinha por finalidade organizar as ativida-
des produtivas e religiosas tendo por base o ciclo das cheias do rio Nilo (DUNCAN, 1999).
O calendário egípcio tinha 365 dias, os quais estavam divididos em 12 meses de 30 dias, 
além de 5 dias extras, que eram em honra aos deuses. Os egípcios organizavam o seu calendário ba-
seados em três estações, relacionadas ao ciclo do Nilo: estação das cheias (akket), estação do semeio 
(pert) e estação da colheita (shemu). O início da contagem dos dias se dava a partir do primeiro 
dia da estação das cheias, o qual era conhecido pela aparição da estrela Sirius pela manhã. A essa 
estrela os egípcios davam o nome de Sothis.
Os calendários costumam ter marcos iniciais a partir dos quais o tempo passa a ser men-
surado, contado. No caso do oficialmente aceito pela nossa sociedade atual, esse marco é o nas-
cimento de Cristo. No entanto, nosso calendário é anterior ao nascimento de Jesus Cristo: sua 
origem remonta ao calendário romano, também conhecido como calendário juliano, datado de 
46 a.C., época em que o General Júlio César governava Roma. Este tinha 12 meses, estes com 30 
ou 31 dias, e janeiro substituiu março como o primeiro mês do ano.
Ainda na Antiguidade Romana, o calendário juliano sofreu duas alterações: primeiro, por or-
dem do cônsul Marco Antonio, o mês chamado quintilius passou a ser designado julius, em homena-
gem a Júlio Cesar. A segunda alteração, por ordem do Senado romano, modificou o nome do mês sex-
tilius para augustus, em homenagem à Otávio Augusto, primeiro imperador romano e que governou 
de 27 a.C. a 14 d.C. Até então, o mês de agosto tinha 30 dias e julho, 31 dias. Como o mês dedicado a 
Augusto não poderia ter menos dias que o mês dedicado à Júlio César, foi tirado um dia de fevereiro 
Tempo, temporalidades e cronologia 15
que, segundo o calendário juliano, tinha 29 dias nos anos comuns, e 30 dias nos anos bissextos. A par-
tir de então, fevereiro passou a ter 28 dias nos anos comuns e 29 dias nos anos bissextos (DUNCAN, 
1999). No ano de 325 da nossa era, durante o Concílio de Niceia, a Igreja católica adotou o calendário 
juliano como o oficial da cristandade, alterando seu marco inicial: antes, esse marco era a fundação 
de Roma, que segundo a tradição, teria ocorrido em 753 a.C. pelo rei Rômulo; a partir desse Concílio, 
o marco inicial passou a ser o Nascimento de Jesus Cristo (DUNCAN, 1999).
As datas foram, então, recalculadas e tudo o que aconteceu antes de Cristo passou a ser con-
tado em ordem decrescente, das datas mais antigas às mais próximas do ano do seu nascimento, 
que passou a ser considerado o Ano I da Era Cristã.
Esse calendário foi reformado ainda mais uma vez: isso ocorreu entre 1572 e 1582, no século 
XVI, durante o pontificado do Papa Gregório. Por isso, o calendário que atualmente conhecemos 
é também chamado de gregoriano.
Figura 4 – Afresco de Giotto
G
io
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O nascimento do líder religioso de origem judaica, Jesus Cristo, foi escolhido pela 
Igreja católica romana como o marco inicial do calendário europeu. Por ter sido 
colonizado por Portugal, país cristão, no século XVI, o Brasil tem como calendário 
oficial o calendário cristão, segundo o qual estaríamos nas décadas iniciais do 
terceiro milênio depois de Cristo.
Fonte: BONDONE, Giotto di. A Natividade. c. 1304-1306. Afresco. Capela Arena, Pádua, Itália.
Na atualidade, existem pelo menos 40 calendários em uso em todo o mundo. Cada um deles 
possui um marco inicial, relativo a algum acontecimento considerado muito importante por cada 
cultura (LAS CASAS, 2002). Alguns dos calendários atuais mais conhecidos são:
Introdução aos estudos históricos16
• O calendário judaico: é lunissolar (baseia-se tanto nos movimentos da Terra em relação 
ao Sol quanto nos movimentos da Lua em relação à Terra) e tem como marco inicial a 
criação do mundo. Segundo a data fixada pelos judeus como marco dessa criação, o ano 
cristão de 2019 seria o ano de 5780. O Ano Novo Judeu começa no dia 30 de setembro 
do calendário cristão e é chamado de Rosh Hashaná. O calendário judaico tem 12 meses, 
com duração de 29 ou 30 dias. O ano tem duração de 353, 354 ou 355 dias e a cada 19 anos 
existe um período de 7 anos com um mês extra.
• O calendário muçulmano: também conhecido como calendário hegírico, é baseado no 
ciclo lunar e composto por 12 meses com duração de 29 ou 30 dias, organizados em um 
ano de 354 ou 355 dias. Tem como marco inicial a saída (hégira) do profeta árabe Maomé 
de Meca para Medina, fato que teria ocorrido no ano de 622 do calendário cristão. O ano 
muçulmano inicia no dia 12 de setembro do nosso calendário e finda no dia 31 de agosto. 
Segundo esse calendário, até agosto de 2019 o ano muçulmano seria o de 1440.
Em nossa sociedade vigora a linear compreensão ocidental e cristã de tempo, que compreen-
de o tempo como um fio de linha muito comprido, que começa a ser desenrolado em um ponto ini-
cial, associado a um passado remoto, e prossegue em linha reta rumo ao futuro. A sua, a minha, a 
nossa trajetória de vida se situam em um ponto qualquer dessa linha. Como vimos, essa concepção 
linear de tempo se manifesta no calendário cristão, que tem como marco inicial o nascimento de 
Cristo, quando todos os demais acontecimentos passaram a ser contados, em ordem cronológica, 
desde os mais antigos até os mais recentes. Esse calendário é influenciado pela noção judaico-cristã 
de que o tempo começou quando começou o mundo, o qual teve origem na criação divina e terá 
fim também pela ação divina. Essa linha comprida, que vai da criação ao fim do mundo, permeia 
a noção de temporalidade ocidental, que é linear.
Mas vimos também que essa não é a única noção de tempo que existiu ou que existe. Há cul-
turas, como algumas civilizações pré-cristãs e algumas sociedades indígenas tradicionais atualmente 
existentes, para as quais a noção de tempo é cíclica: o tempo não se manifestaria como um fio de linha 
muito comprido que parte do passado e vai até o futuro passando pelo presente. Para essas socieda-
des, o tempo seria cíclico, ou seja, desenvolve sua trajetória de modo a sempre retornar a um ponto 
inicial. Nessa concepção, a ideia de futuro como algo diferente do passado não se sustenta – a própria 
ideia de futuro como mudança não se sustenta. Presente e futuro reafirmam e retornam sempre a um 
passado remoto, primordial, no qual se encontra a origem e o sentido de tudo.
Figura 5 – Noções de tempo
Tempo linear
Tempo cíclico
Fonte: Elaborada pela autora.
Tempo, temporalidades e cronologia 17
As noções de tempo variam de uma sociedade para outra, e de uma época para outra, assim 
como a sua percepção e as tentativas de sua mensuração, contagem e representação.
As diferentes temporalidades manifestam as diferenças culturais entre sociedades diferentes, 
em uma mesma época – por exemplo, concepções cíclicas e lineares de tempo – e também as dife-
renças no interior de uma mesma sociedade, de uma época para outra. Por exemplo: você já ouviu 
a expressão: “antigamente, o tempo passava mais devagar”? Esse tipo de máxima provém, quase 
sempre, de pessoas mais idosas, que viveram sua juventude em uma outra época, e que consideram 
a época atual mais acelerada do que aquela em que foram jovens.
Não se pode, portanto, separar os dispositivos temporais das sociedades em que estão inseri-
dos. Isso vale tambémpara a cronologia. Mas, o que é cronologia? É sobre isso que veremos a seguir.
1.4 A cronologia nos estudos históricos
Em que ano você nasceu? Quando entrou na escola? Quando começou a ler e a escrever? É ca-
sado? Em que ano se casou? Com que idade tirou sua carteira de habilitação? Se tivesse que fazer uma 
“linha do tempo” da sua vida, desde o passado até o presente os acontecimentos que considera mais 
importantes, a quais datas esses acontecimentos estariam associados?
Ao fazer esse exercício, você estaria organizando os acontecimentos da sua trajetória de vida, 
de forma linear, em uma dada cronologia.
A palavra cronologia é proveniente da junção de dois vocábulos de origem grega: chronos 
(tempo) e logos (estudo). De uma maneira geral, pode ser definida como a ciência que se dedica 
ao estudo das periodizações, dos intervalos de tempo, das determinações temporais e dos registros 
tidos como históricos. Há também o entendimento das “cronologias” como o arrolamento de de-
terminadas datas ou períodos de tempo, como tentativa de relacionar a determinados números, ou 
indicativos de datas, certos acontecimentos.
Assim como as temporalidades, as cronologias também estão inseridas na sociedade e na 
época em que são feitas. Constituem instrumentos com os quais os estudiosos (normalmente his-
toriadores, partindo de seu próprio tempo, o presente) voltam-se para o passado e tentam reor-
ganizá-lo em acontecimentos associados a datas, que nada mais são do que números que tentam 
localizar e submeter a dispositivos temporais, como calendários, anos, séculos e milênios, a com-
plexidade das realizações humanas no tempo.
“A cronologia, que reparte e mede a aventura da vida e da história em unidades seriadas, é 
insatisfatória para penetrar e compreender as esferas simultâneas da existência social” (BOSI, 1992, 
p. 32 apud TOMAZI, 2002, p. 30). Dessa forma, cronologias são tentativas de compartimentar a 
aventura humana no tempo em acontecimentos isolados, relacionando-os a determinadas datas no 
calendário ou a periodizações – tais como Idade Antiga, Idade Média, Brasil Colonial –, na maio-
ria das vezes criadas num tempo posterior ao dos acontecimentos estudados. Tal “acomodação” 
forçada é feita por um olhar em retrospectiva do presente para o passado, o olhar do historiador, e 
manifesta as intencionalidades do presente de quem “organiza” a História.
Introdução aos estudos históricos18
Para compor suas cronologias, os historiadores se valem de determinadas marcações tem-
porais associadas a intervalos de tempo curtos, médios e longos. São eles: os anos, as décadas, os 
séculos e os milênios.
O intervalo de tempo mais usado nos estudos históricos é o século. Por diversas vezes, ao 
longo deste texto, nos referimos a determinadas épocas associando-as a séculos, e indicamos esses 
séculos com algarismos romanos. Mas, você sabe como calcular a que século uma data pertence?
É muito simples. Um século é um intervalo de tempo de 100 anos. Se levarmos em conside-
ração o calendário cristão, entendemos que do ano 1 ao ano 100 tivemos o primeiro século da Era 
Cristã, denominado somente como século um. Como entre os historiadores usam-se os algarismos 
romanos para indicar o século, ele seria assim representado: século I. A partir do ano 101, teve 
início o século II e assim sucessivamente, até chegarmos ao século atual, que é o século XXI da Era 
Cristã. Note que os séculos sempre mudam no ano 1 e não no ano 00.
Assim, o ano de 1500 foi o último ano do século XV, enquanto que 1601 foi o primeiro ano 
do século XVII e 2001 o primeiro ano do século XXI.
Para facilitar sua localização temporal nesta obra, recorde na Tabela 1 alguns dos principais 
algarismos romanos. 
Tabela 1 – Principais algarismos romanos
1 – I 6 – VI 11 – XI 16 – XVI 30 – XXX 80 – LXXX
2 – II 7 – VII 12 – XII 17 – XVII 40 – XL 90 – XC
3 – III 8 – VIII 13 – XIII 18 – XVIII 50 – L 100 – C
4 – IV 9 – IX 14 – XIV 19 – XIX 60 – LX 500 – D
5 – V 10 – X 15 – XV 20 – XX 70 – LXX 1.000 – M
Fonte: Elaborada pela autora. 
Lembre-se de que os algarismos romanos só podem ser repetidos até três vezes e que um 
algarismo romano à direita de um número significa acréscimo; à esquerda, significa subtração. Por 
exemplo: XIX: (19 ou 20 -1); XXI: (21 ou 20 + 1).
Considerações finais
Neste capítulo, demos início aos nossos estudos sobre História. Para isso, discutimos concei-
tos fundamentais para a disciplina, tais como: tempo, duração, temporalidades e cronologia. Você 
pôde perceber, entre outras coisas, que o tempo, como fracionamento das durações que nossa sub-
jetividade percebe nos fenômenos a nossa volta, é uma abstração – e não algo absoluto.
Não obstante, das diferentes formas de inferir, conceituar e medir o tempo se desenvolvem dis-
positivos, como as horas, os relógios, os calendários e as cronologias. Esses dispositivos manifestam 
as diferentes temporalidades, ou seja, as diversas formas pelas quais as sociedades se relacionam com 
a ideia de tempo, em épocas distintas.
As estratégias de temporalidade são arbitrárias e culturais. Elas indicam um dos mais antigos 
anseios humanos: localizar-se, definir-se e afirmar-se em meio a imensidão do Cosmo.
Tempo, temporalidades e cronologia 19
Ampliando seus conhecimentos
• NOVAES, A.; ABENSOUR, M. (Org.). Tempo e História. 3. ed. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1992. 
Este livro, organizado por Adauto Novaes e Miguel Abensour, contém 27 ensaios de vários 
autores, relacionados a diferentes áreas do conhecimento – História, Filosofia, Psicanálise, 
entre outras, – que abordam a experiência temporal, destacando que esta só pode ser pen-
sada pela História se relacionada às dimensões sociais, políticas e filosóficas pelas quais o 
tempo é pensado numa dada tradição, no caso, a tradição ocidental.
• CATULO DA PAIXÃO CEARENSE. O Trem de ferro. In: FERREIRA, A. Fábulas e ale-
gorias. [S. I.: s. n.], 1966. p. 15-16. Disponível em: http://gerenciamentodotempo.com.
br/o-trem-de-ferro/. Acesso em: 28 jan. 2019.
Será possível uma época ser mais acelerada do que a outra? O tempo passar mais “de-
vagar” ou mais “depressa”? Uma bela reflexão a esse respeito pode ser apreciada em um 
poema do artista maranhense conhecido como Catulo da Paixão Cearense, nascido em 
1863 e falecido em 1946. Trata-se do poema “O trem de ferro”.
Atividades
1. Diferencie tempo e duração com base no que estudamos em Bergson (1859-1941), Kant 
(1724-1804) e Descartes (1596-1650).
2. Por que se pode afirmar que toda tentativa de estabelecimento de cronologias é social, cul-
tural e arbitrária?
3. Em uma mesma época, podem existir temporalidades diferentes? Explique.
4. Ao longo do capítulo, estudamos vários dispositivos que as sociedades do presente e do 
passado concebem, medem e dividem o tempo. Escolha um desses dispositivos e disserte 
a respeito dele, mencionando: época e sociedade a que está relacionado, bem como seus 
elementos característicos.
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ARISTÓTELES. Categorias. In: JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. 3. ed. rev. e 
aum. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BERGSON, H. Duração e simultaneidade. Tradução de Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
(Coleção Tópicos).
CARDOSO, C. F. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 1982. (Coleção Primeiros Passos).
DOSSE, F. A História. Tradução de Elena Ortiz Assumpção. Bauru: EDUSC, 2003.
Introdução aos estudos históricos20
DUNCAN, D. E. Calendário: a epopeia da humanidade para determinar um ano verdadeiro. Tradução de 
João Domenech. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.
GLEISER, M. A dança do universo: dos mitos de criação ao big-bang. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. 3. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
LAS CASAS, R. Calendários. ICEx. Caeté, MG, 2002. Disponível em: http://www.observatorio.ufmg.br/
pas39.htm.Acesso em: 11 fev. 2019.
MAZOYER, M.; ROUDART, L. História das agriculturas no mundo: do neolítico à crise contemporânea. 
Tradução de Cláudia F. Falluh Balduino Ferreira. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: NEAD, 2010. 
Disponível em: http://www.ufrgs.br/pgdr/publicacoes/producaotextual/lovois-de-andrade-miguel-1/
mazoyer-m-roudart-l-historia-das-agriculturas-no-mundo-do-neolitico-a-crise-contemporanea-brasilia-
neadmda-sao-paulo-editora-unesp-2010-568-p-il. Acesso em: 27 jan. 2019.
SAINT AUGUSTIN. Livre XI. chap. XIV. Paris: Garnier-Himmarion, 1964. p. 264. In: DOSSE, F. A História. 
Tradução de Elena Ortiz Assumpção. Bauru: EDUSC, 2003. p. 7.
TOMAZI, N. D. Tempo, história e cronologia. História e Ensino. Londrina, v. 8, edição especial, p. 27-36, out. 
2002. p. 28. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/12153/10669. 
Acesso em: 29 jan. 2019.
2 
Epistemologia do estudo da História
O que a palavra História significa? É possível fazer um estudo histórico do sentido atribuído 
a essa expressão ao longo da tradição ocidental? Que sentido tinha quando foi cunhada, ainda 
pelos gregos, na Antiguidade? Esse sentido permaneceu o mesmo ou variou ao longo dos séculos?
Neste capítulo, vamos tentar compreender melhor os elementos constitutivos e as especi-
ficidades da escrita da História da forma como foi concebida no Ocidente, desde a Antiguidade 
até a Modernidade. Entender o modus operandi da História, iniciando pela etimologia da palavra 
história e passando pelos diversos significados que a perspectiva histórica da sociedade manifes-
tou, desde os gregos até o século XIX, é o nosso desafio. Vamos inventariar a trajetória da palavra e 
do significado do termo história, situando-a entre a Ciência e a Filosofia e buscando entender, no 
contexto de sua constituição como Ciência – o século XIX –, qual sua especificidade em relação à 
Filosofia e a outras ciências humanas.
2.1 Da origem do termo História à sua concepção na Antiguidade
A expressão epistemologia vem de dois vocábulos gregos: episteme (ciência) e logos (teoria). 
No campo da Filosofia, epistemologia é uma disciplina que busca fazer uma análise crítica das ciên-
cias, um estudo sobre as possibilidades, os limites, as especificidades do conhecimento, notadamen-
te, do conhecimento científico, abrangendo ainda a filosofia e a história das ciências (JAPIASSÚ; 
MARCONDES, 2001).
Antes de tentarmos entender em que consiste a História e a partir de que momento ela 
passou a ser constituída como ciência, é necessária uma análise epistemológica desse tipo de co-
nhecimento, explorando desde a etimologia da palavra História até os diferentes significados que o 
entendimento acerca de um olhar histórico sobre o homem teve na tradição ocidental.
Mas qual a identidade epistemológica da História? Para abordar essa questão, o historiador 
José Carlos Reis (2006) propõe que o próprio conhecimento histórico seja colocado como proble-
ma: para se entender o que caracteriza e diferencia o conhecimento histórico de outras formas de 
conhecimento, é preciso problematizá-lo e inventariá-lo no tempo, numa tentativa de historicizar 
a constituição da História como conhecimento.
historicizar: tornar 
histórico.
Introdução aos estudos históricos22
Segundo o historiador francês Marc Bloch, em um livro intitulado Apologia da História ou 
ofício do historiador (2002), a palavra história tem uma origem antiquíssima1, que remonta à Grécia 
do século V a.C. Foi usada primeiramente por Heródoto de Halicarnasso (484 a.C. a 425 a.C.), em 
um livro chamado História. Dividido em nove partes (cada uma delas dedicada a uma das musas 
da mitologia grega), o livro aborda desde aspectos da cultura e religiosidade de egípcios, gregos e 
persas até as guerras entre gregos e persas, as chamadas Guerras Médicas, ocorridas entre 499 a.C. 
e 449 a.C.
Segundo a historiadora Maria Aparecida de Oliveira Silva (2015), a Heródoto foi conferido, 
já no século I a.C., o título de “Pai da História”. No entanto, a concepção que Heródoto tinha de 
História é muito diferente da ideia de História como ciência, nascida somente no século XIX da 
nossa era, como veremos mais adiante.
“Pai da História” (pater historiae) é o epíteto conferido a Heródoto pelo ora-
dor romano Cícero no século I a.C., em sua obra Das Leis, I, 1. De fato, a 
palavra história foi uma invenção de Heródoto, uma derivação do termo ἵστορ 
(hístor) que significa “aquele que sabe”, mas é aquele que conhece os fatos 
por “interrogar”, por “informar-se” a respeito de algo, daí “investigar”, como 
expressa o verbo ἱστορέω (historéō) do qual deriva esse substantivo. Por essas 
denominações, Heródoto criou a palavra ἱστορίαι (historíai), título de sua 
obra, que significa assim “investigações”. Portanto, Heródoto foi o primeiro a 
conceber um método histórico capaz de reconstituir e explicar a história do 
seu tempo. (SILVA, 2015, p. 39)
O título da obra de Heródoto, História, tem uma significação próxima de “investiga-
ção”. A História, assim, seria um tipo diferente de conhecimento se comparada, na época de 
Heródoto, à poesia épica e à filosofia, por se apresentar como uma narrativa construída com 
base na investigação: o historiador seria alguém que buscaria se informar, interrogar e inves-
tigar aquilo que narrava em seu texto.
Em Heródoto, a História não tinha a conotação de ser uma escrita sobre o passado, mas 
uma tentativa de explicar a gênese e o desenvolvimento de acontecimentos de sua própria época, 
investigando os elementos – culturais, políticos, militares e religiosos – constitutivos desses acon-
tecimentos e reordenando-os mediante a uma construção textual coerente.
Segundo Silva (2015), Heródoto voltou seu olhar para um evento político-militar específico 
(as guerras entre gregos e persas), buscando inventariar aspectos linguísticos, religiosos, cultu-
rais, naturais e políticos inerentes aos principais povos envolvidos no conflito (gregos e persas) e 
1 Marc Bloch (1886-1944) foi um historiador francês, fundador, juntamente com Lucien Febvre (1878-1956), da Re-
vista Annales  d'Histoire Économique et Sociale (Análises de História Econômica e Social), em 1929. A revista viria a 
revolucionar o conceito de estudo de História até então vigente, originando um movimento de renovação historiográfica 
conhecido como “Escola de Annales”. As reflexões sobre a origem do termo História e as especificidades do estudo da 
História estão no livro Apologia da história ou o ofício do historiador, escrito por Marc Bloch durante o período em que 
esteve na prisão, por volta de 1941, por atuar na resistência contra a ocupação nazista alemã sobre a França. Fuzilado 
em 1944, Marc Bloch teve essa sua obra publicada postumamente, em 1949, por Lucien Febvre (a esse respeito, ver o 
prefácio da obra: BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício do historiador. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2002).
Epistemologia do estudo da História 23
a outros envolvidos indiretamente, como os assírios, que tinham anteriormente subordinado os 
persas; os babilônios, que caem sob o julgo do rei persa Ciro; e os egípcios, também conquistados 
pelos persas sob o reinado do rei Cambises.
Dessa forma, no texto de Heródoto o leitor tem acesso não apenas a aspectos da formação 
do homem grego e da constituição política e militar da Hélade (forma como era chamado o con-
junto das polis gregas e suas colônias na Antiguidade), mas também de povos da Ásia (babilônicos, 
assírios, persas) e África (egípcios). Esse conhecimento do “outro” se dá, segundo os critérios dos 
gregos (que entendiam os persas como bárbaros2) porque sua forma de falar e ser era “estranha”, se 
comparada à grega (SILVA, 2015).
Ainda que buscasse se diferenciar, textualmente e metodologicamente, dos textos de poesia 
épica e dos textos filosóficos então existentes, os textos de Heródoto são permeados pela influência 
desses dois outros tipos de conhecimento, assim como por elementos presentes na tradiçãomi-
tológica grega. A influência da poesia épica, herdeira da mitologia, manifesta-se na descrição de 
determinados personagens da História de Heródoto, que são apresentados com as mesmas caracte-
rísticas de heróis de poemas épicos como a Ilíada, atribuída ao poeta Homero (século VIII a.C.), e 
que tratava da Guerra de Troia. Já a influência do pensamento filosófico manifesta-se na tentativa 
presente nos textos de Homero de tentar encontrar o sentido daquilo que se está narrando, tentan-
do compreender tanto as causas quanto os efeitos das ações humanas, isto é, suas consequências.
As consequências das ações observadas por Heródoto sob a perspectiva de cau-
sas e efeitos ora são explicadas por um pensamento mítico, ora justificadas por 
fatos, ora por suas práticas culturais, ou ainda por seu caráter, por uma noção 
de justiça operada pelos deuses que é materializada nos revezes ou nos sucessos 
das suas personagens. Enfim, notamos na narrativa herodotiana a transição 
do pensamento mítico para um mais racional, que resulta em sua visão mais 
racional do mito, embora o maravilhoso não seja totalmente descartado de sua 
compreensão dos fatos. (SILVA, 2015, p. 40)
Na mesma época de Heródoto e em períodos posteriores, quando o mundo grego se encon-
trava já em decadência devido a guerras internas, apareceram outros historiadores, entre os quais 
se destacam Tucídides (460 a.C. a 395 a.C.) e Políbio (203 a.C. a 120 a.C.).
Diferentemente de Heródoto, cuja narrativa por várias vezes se afastava do evento central e se 
dispersava para aspectos da mitologia e cultura, tanto Tucídides quanto Políbio tiveram como eixo de 
suas obras um fenômeno político-militar. Uma guerra cujos desdobramentos afetaram sobremaneira 
a estrutura das cidades-Estado, no caso da obra de Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso; ou uma 
conquista que representou a emergência de um novo e grandioso império, no caso da obra de Políbio 
sobre as Guerras Púnicas, entre cartagineses e romanos, vencidas pelos romanos.
2 No século V a.C., segundo os gregos, os persas e outros povos com idiomas guturais (cujos sons da fala eram, 
em sua maioria, produzidos na garganta) falavam como se pronunciassem as sílabas “bar, bar, bar”, como se fossem 
gagos. Daí o termo bárbaro como “aquele que não sabe falar”. Tal conotação manifesta a forma pejorativa pela qual os 
gregos se referiam aos povos diferentes deles. O termo seria incorporado pelos romanos, que conquistaram os gregos. 
Na Antiguidade, os romanos chamavam de bárbaros os povos que não partilhavam da língua e da cultura latina.
Introdução aos estudos históricos24
O livro História da Guerra do Peloponeso, organizado em oito partes e contendo, em sua 
tradução para o português, mais de 500 páginas, teve sua escrita iniciada quando Tucídides tinha 
menos de 30 anos de idade e ficou incompleta com sua morte, em 395 a.C. Trata da série de bata-
lhas envolvendo as cidades-Estado gregas, chamadas pólis, e que tiveram origem na disputa entre 
atenienses e espartanos pela hegemonia política na Grécia, ocorrida após o término da guerras 
contra os persas. Foram as chamadas “Guerras do Peloponeso” (431 a.C. e 404 a.C.)
Tucídides foi contemporâneo dessa guerra e dos seus efeitos, buscando em seu texto escrever 
com detalhes sobre as questões políticas que a motivaram, as principais batalhas, tanto militares 
quanto diplomáticas. O ateniense só deixou de acompanhar a guerra em 424 a.C. quando contraiu 
a grande peste que assolou a cidade e matou um terço de sua população. Foi eleito general para 
comandar tropas na região da Trácia e, quando essa foi tomada pelos espartanos, foi condenado 
pelos atenienses a 20 anos de exílio por traição, período no qual pôde ter uma noção melhor acerca 
do que se passava dos dois lados da guerra, fundamental para a escrita de sua grande obra. Foi cha-
mado de volta pelos atenienses em 404 a.C., quando a guerra chegou ao fim e morreu assassinado 
em 395 a.C.
[Tucídides] Era um aristocrata ateniense, membro de uma das mais nobres 
famílias, com riquezas consideráveis, e que atingiu a maioridade no ápice da 
grandeza da Atenas de Péricles. Nascido entre 460 e 455, estava ainda na casa 
dos vinte quando a Guerra do Peloponeso estourou. Morreu poucos anos após 
o fim dela, deixando inacabada a sua grande obra. Tucídides toma o cuidado de 
nos deixar saber que era maduro o suficiente para entender os acontecimentos 
desde o começo: “Vivi toda a guerra, tendo idade para compreender os eventos 
e aplicar a eles a minha mente de modo a vê-los com exatidão”. [...] Tucídides 
esteve em Atenas desde o começo da Guerra até 424, e nesse período contraiu a 
grande praga que assolou Atenas entre 430 e 427. Teve sorte em sobreviver, pois 
a epidemia matou um terço da população. Em 424, foi eleito general, um dos dez 
homens que eram os mais proeminentes líderes militares e políticos em Atenas. 
Comandou a força naval na região da Trácia, cuja principal cidade era a colônia 
ateniense de Anfípolis, local de grande importância econômica e estratégica. 
Possivelmente, fora escolhido para o posto devido à sua influência na região. 
[...] Quando o brilhante general espartano Brásidas tomou a cidade num ataque 
surpresa, os atenienses culparam Tucídides e condenaram-no por traição. Foi 
forçado a exilar-se pelos vinte anos que a Guerra ainda duraria. Tamanho in-
fortúnio teve as suas vantagens, especialmente para nós, os seus leitores, porque 
o permitiu “saber o que estava a ser feito em ambos os lados, especialmente do 
lado peloponeso… E esse tempo livre permitiu-me obter um melhor entendi-
mento do curso dos eventos”. (KAGAN, 2009)
Epistemologia do estudo da História 25
Figura 1 – Mapa da Guerra do Peloponeso
Atenas e aliados
Esparta e confederados
Movimento da tropa espartana
Movimento da tropa ateniense
Principais cidades-Estados
Conflito direto
Esparta
Argos
Corinto
Termópilas
Jônia
Eólia
Pireu
Atenas
Guerra do Peloponeso – 431 a.C.
Peloponeso
Tessália
Macedônia
Trácia
Mar Egeu
Beócia
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Mapa mostrando a oposição entre Atenas e suas aliadas, bem como da 
Confederação comandada por Esparta durante a Guerra do Peloponeso em 431 a.C.
Apesar da obra desses historiadores ter chegado até os nossos tempos mais completa, exis-
tiram inúmeros outros, de cujas obras sobreviveram apenas fragmentos. Eles foram sendo citados 
por outros historiadores, sobretudo romanos, e que representam, do século V a.C. ao século IV da 
nossa era, um longo período de pelo menos 800 anos de historiografia greco-latina.
Silva (2015, p. 9) ressalta que tentativas de arrolamento de fragmentos de textos de his-
toriadores gregos foram efetivadas também por historiadores modernos, entre eles, Felix Jacoby 
(1876-1959), um estudioso da língua e classicista de origem alemã que catalogou uma edição crí-
tica de 856 historiadores gregos cuja obra chegou até a época contemporânea fragmentada. Com 
seu estudo, dividiu-se a historiografia grega antiga em cinco categorias ou estilos fundamentais, a 
saber: Mitografia, Etnografia, Cronografia, Zeitgeschichte (história) e Orografia ou História Local.
[...] Mitografia, que reunia e ordenava as tradições gregas e as narrativas mito-
lógicas; Etnografia, um estudo dos países, povos e seus costumes; Cronografia, 
que catalogava os eventos de anos individuais utilizando um sistema de datação 
local, mas mapeando eventos de toda a Grécia; Zeitgeschichte, agrupando a his-
tória grega contemporânea ou ocorrida até o tempo dos autores que a estavam 
registrando; Orografia ou História Local, que geralmente concentrava-se em 
narrar a história de uma Cidade-Estado específica. (SILVA, 2015, p. 9)
Introdução aos estudos históricos26
Ainda na Antiguidade, sobretudo entre os séculos I a.C. e IV da Era Cristã, merecem des-
taque também os historiadores romanos, entre eles: Salústio (86 a.C. a 34 a.C.); Tito Lívio (59 a.C. 
a 17 da Era Cristã); Tácito (56 a 117 da Era Cristã); Plutarco(46 a 119/120 da Era Cristã) Sexto 
Aurélio (320 a 390 da Era Cristã) e Amiano Marcelino (325-330 a 400).
A origem da historiografia latina remonta aos calendários organizados pelos antigos sacer-
dotes romanos, no período pré-cristão. Textos de conteúdo e abordagem histórica apareciam tam-
bém nos arquivos particulares das famílias nobres, que encomendavam biografias; e nos anais dos 
magistrados – libri magistratum (funcionários do governo) romanos. Fortemente influenciados 
pela historiografia grega, os primeiros historiadores romanos, do século II a.C., inclusive escreve-
ram seus textos em língua grega.
A historiografia romana ou latina, no entanto, foi aos poucos afastando-se da influência 
grega para adquirir feições próprias na obra de autores como Tito Lívio e Tácito. O estilo das obras 
históricas produzidas por esses dois historiadores era a retórica3, algo presente tanto na obra Anais, 
de Tácito, quanto na obra História de Roma, de Tito Lívio. A característica central das obras da 
historiografia romana antiga era o ensinamento do orador, filósofo e político romano Cícero (106 
a.C. a 43 a.C.) em sua obra Da Oratória (De Oratore) de que a História era a mestra da vida (historia 
magistra vitae).
O que isso queria dizer? Que para os grandes historiadores romanos da Antiguidade, a 
História deveria privilegiar os feitos e ações de homens que, por sua excepcionalidade, bravura, 
coragem, honradez, caráter e também por seus erros serviriam de exemplo para toda a sociedade. 
O texto histórico, assim, ao evocar, de forma retórica (uma linguagem que primava pela beleza da 
escrita) feitos políticos, religiosos e militares dos chamados grandes homens (daí muitas vezes o 
caráter biográfico desses textos) serviria quase que como um manual de conduta a ser seguido. A 
finalidade era o exemplo, o aprendizado: a possibilidade de aprender com os erros e acertos dos 
feitos desses homens era, portanto, o foco central dos textos dos historiadores romanos do século 
I a.C. ao século II da Era Cristã:
A principal concepção norteadora da historiografia romana foi a historia magistra 
vitae que, tendo como base fundamental o exemplo – válido para qualquer tempo 
e lugar –, objetivava produzir ensinamento através dos feitos e homens ilustres 
do passado. Por meio da exposição dos grandes exemplos históricos, esperava-se 
incentivar a imitação e repetição das ações. (VARELLA, 2008, p. 72, grifo nosso)
Essa ideia da história-exemplo, cujo o texto se desenrola por meio da alusão aos erros e acertos 
de pessoas poderosas e ilustres (quase que um propósito moral da passagem do vício para a virtude), 
expressa-se nas palavras do historiador Tito Lívio (2001, p. 207 apud VARELLA, 2008, p. 72): “o que 
principalmente há de são e fecundo no conhecimento dos fatos é que consideres todos os modelos 
exemplares, depositados num monumento, em plena luz: daí colhes para ti e para o teu estado o que 
imitar; daí evitas o que é infame em sua concepção e em sua realização”.
3 A retórica pode ser conceituada como a “arte de persuadir com o uso de instrumentos linguísticos” (ABBAGNANO, 
2007, p. 876) ou, ainda, uma técnica a partir da qual o orador ou autor se vale de técnicas e expressões elaboradas para 
adornar a linguagem, “enfeitando” o seu discurso e tornando-o belo, agradável, passível de convencer o leitor/ouvinte.
Epistemologia do estudo da História 27
Notemos também que em Tácito essa ideia de uma História-exemplo, mediante a alusão 
tanto aos feitos mais notáveis quanto aos mais baixos de homens ilustres, conforme destaca em sua 
obra Anais:
Não é meu intento referir senão as opiniões que se fizeram mais notáveis ou pela 
sua decência ou pela sua insigne baixeza: porque creio ser o principal objeto 
dos anais pôr em evidência as grandes virtudes, assim como revelar todos os 
discursos e ações vergonhosas, para que, ao menos, o receio da posteridade 
acautele os outros em caírem nas mesmas infâmias. (TÁCITO, 1952, p. 54 apud 
VARELLA, 2008, p. 71)
Vale destacar também o embricamento entre História e biografia na obra desses historia-
dores, notadamente, na obra Vidas Paralelas, do prosador da antiga Beócia: Plutarco. A obra é a 
compilação de várias biografias escritas por Plutarco entre os séculos I e II da nossa era e trazia 
sempre a vida de um ilustre governante, chefe militar ou legislador grego em paralelo a de um ilus-
tre romano. Seu objetivo parecia ser evocar, além de aspectos relacionados aos seus feitos políticos 
e militares, curiosidades e questões relativas à vida pessoal dos personagens biografados, como é 
o caso do texto em que compara o governante romano Júlio César (séc. I a.C.) ao conquistador 
grego-macedônico Alexandre, o Grande (séc. IV a.C.).
Finalmente, é válido mencionar que na escritura desses textos a preocupação com a vera-
cidade e autenticidade das fontes consultadas não se manifestava: na obra Vidas Paralelas, por 
exemplo, em diversas ocasiões Plutarco se vale de frases do tipo “segundo se ouviu dizer”, ou seja, 
a “doxografia” (ou escrita a partir da opinião) era amplamente utilizada. Isso porque a legitimidade 
do texto se devia à forma como era escrito e ao caráter do seu conteúdo, associados ao prestígio do 
autor, e não necessariamente à autenticidade das fontes consultadas. A ideia de uma escrita históri-
ca científica, que teria por base fontes empíricas, vestígios da época sobre a qual o historiador está 
escrevendo, só apareceria com a criação do método histórico pelo historiador alemão Leopold Von 
Ranke, no século XIX da nossa era.
2.2 Os vários entendimentos acerca da História – do pensamento 
medieval ao Renascimento
Segundo Luiz Sérgio Duarte da Silva (2015), assim como em relação à fragmentos da histo-
riografia grega e romana antiga, a historiografia medieval muitas vezes foi ignorada por historia-
dores tradicionais por não se adequar ao conceito de História como discurso acadêmico-científico.
Tradicionalmente, Idade Média ou Período Medieval foi a marcação temporal criada por erudi-
tos ainda dos séculos XVII e XVIII para designar o período situado entre a queda do Império Romano 
do Ocidente nas mãos dos invasores germânicos, no século V, até a tomada de Constantinopla (sede 
do Império Bizantino, antigo Império Romano do Oriente) pelos turcos em 1453. São quase mil anos 
de história muitas vezes relegados por historiadores ocidentais, dos séculos XVIII e XIX, que se referi-
ram a esse período como uma “Idade do Meio”, uma “Idade das Trevas” se comparada à Antiguidade 
Clássica greco-romana, que a antecedeu, e ao Renascimento, que a sucedeu (KOSELLECK, 2006).
Introdução aos estudos históricos28
Historiadores contemporâneos vêm rompendo com essa visão pejorativa e preconceituosa 
acerca da Idade Média. Eles demonstram, pelos seus estudos, a riqueza e a multiplicidade cultural 
que caracterizaram a produção artística, literária, filosófica e historiográfica do período. Embora 
tenha sido produzida, principalmente, por religiosos, filósofos, artistas e eruditos vinculados à 
mosteiros e abadias, as produções dessa época não podem ser reduzidas a uma historiografia me-
ramente eclesiástica.
Os escritos de História realizados, tanto no Ocidente Europeu quanto no Império Bizantino, 
manifestam-se em “números textos escritos por bispos, monges, clérigos, catedráticos e oficiais do 
governo, ou seja, os produtores da historiografia do período, que escreviam história como parte ora 
da gramática ora da retórica” (SILVA, 2015, p. 13).
Tais textos, de caráter histórico, encontram-se muitas vezes no interior de outros, como bio-
grafias, hagiografias (biografia sobre a vida de santos), crônicas, entre outros.
anais, diários, calendários, crônicas, feitos, biografias, hagiografias e catálo-
gos de vida de santos, a seanchas irlandesa, relatos presenciais, poesia oral e 
escrita, crônicas urbanas, comentários de obras de arte ou de partes da bíblia, 
elaboração de textos que serviam de auxílio para homilias, textos científicos ou 
computacionais, documentoslegais, narrativas paroquiais, escrita de histórias 
de mosteiros, de instituições, obras lendárias ou literárias, étnicas, de ordens 
religiosas, ou textos relacionados com dinastias [...]. (SILVA, 2015, p. 13)
Entre as características intrínsecas desse tipo de produção, desvenda-se uma ideia de histó-
ria preocupada, entre outras coisas, com uma determinada concepção de verdade e como memori-
zação relativa a feitos e funções sociais de pessoas do passado, especialmente santos, mártires e reis. 
Tais preocupações são expostas em: criação de monumentos e imagens, menção a pessoas falecidas 
em missas funerárias, narrativas de caráter genealógico criadas para serem recitadas, livros (como 
os de orações, de salmos, entre outros) e textos para acompanhar cerimônias e rituais públicos 
(SILVA, 2015, p. 13).
É importante destacar que durante a Idade Média, no Ocidente europeu, o processo de tradu-
ção, compilação e encadernação dos textos em códices (grandes livros escritos e ilustrados à mão) 
ficava concentrado nos mosteiros, ao cargo dos chamados monges copistas. Nessa época, o processo 
de produção de um livro-códice era trabalhoso e demorado, e o acesso a livros era muito restrito.
Além disso, grande parte da população, composta por camponeses, era analfabeta, fato que 
explica a presença significativa de imagens, as chamadas iluminuras, nesses livros: serviam para 
ilustrar, iluminar e esclarecer o conteúdo dos textos para os leigos (iletrados). Assim, uma pessoa 
lia para que muitas ouvissem e, dessa forma, os textos também eram escritos para serem lidos pu-
blicamente, o que interferiu sobremaneira no estilo da escrita medieval.
Epistemologia do estudo da História 29
Figura 2 – Códice Gigas, século XIII
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Considerado o maior manuscrito medieval remanescente, foi criado em um mosteiro da ordem dos 
Beneditinos localizado em Podlažice, antiga Boêmia e atual República Checa. É também chamado de 
“Bíblia do Diabo” por conta de uma enorme ilustração representando o diabo existente em seu interior. 
Suas capas são de madeira e suas folhas de velino (um tipo de pergaminho). Tem 92 cm de altura, 50 cm 
de largura e 22 cm de espessura. Atualmente, contém 310 páginas e encontra-se no acervo da Biblioteca 
Nacional da Suécia. 
Ainda sobre a ideia de História presente nos escritos medievais, merece destaque a forma 
como a história enquanto trajetória do tempo humano e mundano passou a ser concebida pelo 
pensamento do filósofo e teólogo Santo Agostinho (354 a 430 da nossa era). O também chamado 
Bispo de Hipona, no Norte da África, durante a decadência do Império Romano do Ocidente, é 
considerado o último grande filósofo da Antiguidade tardia e o primeiro filósofo a influenciar o 
pensamento medieval.
Para entendermos a noção de História em Santo Agostinho, faz-se necessário, primeiramen-
te, alguma noção sobre como o filósofo de Hipona compreendia o tempo. Em uma de suas obras 
mais introspectivas, chamada Confissões, mais especificamente no Livro XI, ele manifesta a com-
preensão de que o tempo é uma construção própria do homem, algo subjetivo, uma maneira pela 
qual se relaciona com os eventos que acontecem, que já aconteceram ou que ainda estão por vir.
Introdução aos estudos históricos30
Tanto a morte quanto o tempo passaram a fazer parte da existência humana por causa do peca-
do, o qual representou a ruptura do homem para com o amor de Deus (CARNEIRO, 2004, p. 221-222). 
Deus, por ser eterno, não só está fora do tempo como é o criador do tempo. A condição do tempo, na 
eternidade, é um presente ininterrupto:
Na eternidade nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo 
presente. Esse tal verá que o passado é impelido pelo futuro e que todo o futuro 
está precedido dum passado, e todo o passado e futuro são criados e dimanam 
d’Aquele que sempre é presente. Quem poderá prender o coração do homem, 
para que pare e veja como a eternidade imóvel determina o futuro e o passado, 
não sendo ela nem passado nem futuro? Poderá, porventura, a minha mão que 
escreve explicar isso? Poderá a atividade da minha língua conseguir pela palavra 
realizar a empresa tão grandiosa? (SANTO AGOSTINHO, 1987, p. 216 apud 
CARNEIRO, 2004, p. 223)
Essa percepção sobre o tempo se manifesta em outra obra de Santo Agostinho, intitulada 
A cidade de Deus. Ela pode ser interpretada, de uma forma muito breve e a grosso modo, como o 
reino celestial, o reino de Deus, que é perfeito, eterno, imutável, espiritual. Já a Cidade dos Homens 
pode ser interpretada como a civilização, a vida material criada pelo homem que, pelo pecado, 
afastou-se do reino de Deus. É a vida social, temporal, material, sujeita à degradação, à mudança 
e à morte.
Deus, que é eterno, criou o mundo, e ao criar o mundo, criou o tempo. A temporalidade hu-
mana é diferente da divina, que é eterna. Logo, o homem cria sua própria forma de temporalidade 
quando cria, apartado de Deus, uma realidade paralela ao Reino ou Cidade de Deus: é a Cidade 
dos Homens. Esse mundo humano, essa “cidade temporal”, “material”, é originada da arrogância do 
homem diante do amor de Deus, ou seja, tem sua origem no pecado.
O maior de todos os seres visíveis é o mundo; o maior dos invisíveis, Deus. Mas 
o mundo vemos que existe e na existência de Deus cremos. Quanto a Deus ter 
feito o mundo, a ninguém podemos dar maior crédito que ao próprio Deus. [...] 
Assim, pois, creiam também na possibilidade de criação temporal do mundo e 
em que Deus, portanto, ao fazê-lo, não mudou seu eterno conselho e vontade. 
(SANTO AGOSTINHO, 2008, p. 22-23)
Mas Deus, que é amor, manifesta-se como Verbo através da encarnação de Cristo e dá ao 
homem uma outra chance: a de reconhecer o pecado, dele se arrepender e voltar para Deus. Cristo, 
o Verbo encarnado, é o restabelecimento da ligação entre o homem e Deus, uma vez que, vencendo 
a morte, venceu também o pecado e o tempo:
O homem, criado por Deus a sua imagem e semelhança, foi conduzido à morte 
e ao tempo por força do pecado, que significou uma ruptura com Deus. Porém, 
por Cristo – que é o cordeiro de Deus que deu sua vida para livrar o homem 
do pecado – pode restabelecer a ligação com Deus e fazer de sua vida no tempo 
uma preparação para a vida eterna. (CARNEIRO, 2004, p. 222)
Os homens, segundo a interpretação de Santo Agostinho (2008), mais uma vez, mostraram-
-se arrogantes diante do amor de Deus: Cristo foi condenado e executado. O Verbo, no entanto, 
permanece vivo no Espírito, que anima e dá vida à religião cristã. A Igreja, constituída com base no 
Espírito Santo (terceira pessoa da Santíssima Trindade) e embasada nos ensinamentos e dogmas 
Epistemologia do estudo da História 31
revelados aos santos e mártires, representa a presença de Deus na Cidade dos Homens, na esperan-
ça de que os homens todos se voltem para Deus.
Assim, a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens caminham em paralelo, juntas, até o fim 
dos tempos – que será o fim do mundo material. A história humana seria, então, essa trajetória 
da passagem do material para o espiritual, do terreno para o celestial, do humano para o divino, 
do temporal para o eterno. O fim do mundo representaria, ao mesmo tempo, o fim dessa tempo-
ralidade humana e sua diluição na eternidade. Significaria, para Santo Agostinho (2008), o fim 
da História.
Notemos que no filósofo e teólogo de Hipona, a História tem uma conotação teleológica (do 
grego teleos = fim), ou seja, caminha para o fim. Essa compreensão se tornaria a base do pensamen-
to clerical medieval, permeando os sermões, os livros, as ilustrações dos livros, as preces e todas as 
manifestações da cultura formal dominante (a católica) tanto em seu aspecto escrito quanto oral.
As concepções medievais sobre tempo e história, profundamente influenciadas pelo pensa-
mento agostiniano, e que permearam toda a chamada Alta Idade Média (séculos V ao X da nossa 
era) passariam por modificações e atualizações a partir dos séculos XI e XII, com um movimentofilosófico que ficou conhecido como Escolástica4 e que teve na obra do filósofo e teólogo cristão 
São Tomás de Aquino (1225-1274) o seu mais expressivo representante.
O aspecto central da doutrina escolástica era a tentativa de conciliar os dogmas da fé, advin-
dos da Revelação, e a Razão, concebida pelo pensamento filosófico clássico, sobretudo, platônico 
e aristotélico.
O método empregado pelos escolásticos, era, preferencialmente, o da dialética (embate de 
teses) e o ambiente onde se desenvolveu esse tipo de pensamento foram as primeiras universidades 
europeias, nascidas a partir do século XI em regiões da Itália, França e Inglaterra – daí o nome 
Escolástica (de Escola). 
Entre os principais expoentes do pensamento escolástico, anteriores à Aquino, podemos citar: 
Pedro Lombardo (1100-1160); Abelardo (1079-1142); Anselmo de Canterbury (1033/34 a 1109) e 
Bernardo de Claraval (1090-1153).
No primeiro período da Escolástica, que vai do século IX ao século XI, foi marcante a in-
fluência do pensamento de Santo Agostinho e do filósofo Platão, mas seu período áureo se deu no 
século XIII com a filosofia de Tomás de Aquino, grandemente influenciada pela filosofia aristoté-
lica (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001). A principal obra de Tomás de Aquino é a Suma Teológica, 
escrita entre 1265 e 1273; uma obra extensa, complexa e que marcou fortemente o pensamento 
ocidental no final da Idade Média.
Segundo Brozele (2014), na obra de Tomás de Aquino deslinda-se a ideia de História como 
revelação de uma ética divina manifesta na Sagrada Escritura. A essa manifestação atribui o caráter 
de uma “Lei Divina” a qual se manifesta em dois momentos: uma Lei Antiga (Antigo Testamento) e 
4 O termo escolástica significa originalmente “doutrina da escola” e “[...] designa os ensinamentos de filosofia e teo-
logia ministrados nas escolas eclesiásticas e universidades europeias durante o período medieval, sobretudo entre os 
sécs. IX e XVII” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, p. 87).
Introdução aos estudos históricos32
uma Lei Nova (Novo Testamento). A Lei Divina conduz didaticamente os homens para o encontro 
com aquele que é criador e redentor, e que se revela plenamente no Novo Testamento. O tempo é 
o tempo da revelação, manifestada na Sagrada Escritura e cuja verdade pode ser confirmada tanto 
pela razão quanto pela fé (BROZELE, 2014).
Essa ideia de tempo e de história se coaduna, tanto com os ensinamentos da Bíblia quanto 
com a ideia aristotélica de que tudo o que existe tem uma finalidade – todo ser, tem, entre suas 
causas, uma causa final. Essa causa final (ou finalidade) é a realização daquilo que o distingue 
dos demais e na sua realização reside o seu bem. Sendo a racionalidade o aspecto que distingue o 
homem dos demais seres vivos, ele só se realiza plenamente, só é feliz, atingindo a finalidade de 
sua existência, que é a plenitude da razão, segundo Aristóteles (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001). 
Ora, segundo Aquino, que parte do finalismo aristotélico e tenta conciliar tal ensinamento com os 
preceitos do Cristianismo, a criatura racional só se realiza plenamente quando se reencontra com 
seu Criador, o Sumo Bem. A trajetória da razão é também a trajetória do homem em busca de sua 
finalidade. A Lei Divina expressa na Sagrada Escritura manifesta o aspecto histórico-finalista dessa 
“marcha” do homem para Deus. O tempo é o tempo da revelação e da redenção.
A lei divina é, por assim dizer, a intervenção da graça de Deus, a interpelação de 
Deus na história humana, que convoca a humanidade para o seu fim: a beatitu-
de é o fim último [...]. Esse fim sobrenatural colimado pela existência humana 
recebe o auxílio da norma divina que é, antes de tudo, um acontecimento histó-
rico que revela a instituição da lei de Moisés positivamente dada pelo Criador. 
(BROZELE, 2014, p. 131)
O pensamento tomista sofreria críticas por parte de filósofos da Universidade de Oxford, já 
no século XIV. Esse movimento ficou conhecido como Escolástica Pós-tomista e teve no filósofo 
inglês Guilherme de Ockham (1283-1347) um dos seus principais articuladores.
Outras mudanças significativas no pensamento europeu, envolvendo temas como Deus, o 
homem e a História, ocorreriam a partir dos séculos XIV e XV. O lugar de origem foi a Itália, mais 
precisamente os cursos de Direito de universidades italianas, como a Universidade de Bologna, na 
qual um movimento de renovação do ensino jurídico motivou a adoção de um novo programa cur-
ricular contendo disciplinas ligadas às humanidades – como a poesia e a retórica. Desse movimento 
de renovação curricular, desenvolveu-se uma nova perspectiva de pensamento, o Humanismo, que 
influenciaria não apenas o ensino universitário, como também as Artes, a Filosofia e a Literatura, 
constituindo-se como a base ideológica do Renascimento Artístico. Esse pensamento teve origem 
nos séculos XIII e XIV e desenvolveu o chamado Renascimento científico.
Originado na Itália do século XIV, o Renascimento se expandiu para França, Espanha, 
Portugal, Inglaterra, Alemanha e Países Baixos entre os séculos XV e XVI, revolucionando con-
ceitos ligados às Artes Plásticas, à Literatura, à Filosofia e à Arquitetura. “Uma das questões mais 
proeminentes do pensamento humanista ao longo dos séculos XIV e XV é que nele se deslinda 
uma outra concepção acerca do homem e do mundo, uma concepção racional, natural, diferencia-
da daquela manifesta na temporalidade, caracterizada como Idade Média” (LOBO; PORTELLA, 
2017, p. 23, grifos do original).
Humanismo: mo-
vimento intelectual 
que valorizava o 
saber crítico, voltado 
para o conhecimento 
das potencialidades 
do homem.
Epistemologia do estudo da História 33
Situado entre os séculos XV e XVII, esse movimento foi marcado pelo interesse de eruditos, 
filósofos, cientistas e teóricos em renovar as bases epistemológicas sobre a natureza, os astros e o 
homem, rompendo com preceitos oriundos do pensamento cristão e buscando, em referências da 
Antiguidade Clássica, a inspiração para renovar as bases do conhecimento, consolidando-o sob um 
viés racional e empírico.
O Renascimento científico desenvolveu-se no bojo dos avanços técnicos, cientí-
ficos e teóricos ocorridos ainda durante o Renascimento artístico no Ocidente, 
e estendeu-se entre os anos de 1450 e 1600. Foi marcado pela prática huma-
nista de recuperação, edição, tradução e comentário de textos da Antiguidade 
Clássica – notadamente os relacionados à matemática e à filosofia natural. 
(LOBO; PORTELLA, 2017, p. 52)
Além do interesse dos eruditos renascentistas pelas obras da Antiguidade Clássica, o 
Renascimento científico foi impulsionado também pelo próprio desenvolvimento artístico. 
Por meio dos experimentos e estudos de pintores, escultores e arquitetos – envolvendo o uso 
do que hoje podem ser considerados estudos de Matemática, Física, Anatomia, Química e 
Biologia – em suas obras, certos padrões e conceitos da ciência medieval foram quebrados, 
abrindo caminho para o desenvolvimento da ciência moderna (LOBO; PORTELA, 2017).
Outro fator que contribuiu sobremaneira para o Renascimento científico foram as grandes 
viagens de exploração oceânica, situadas entre os séculos XV e XVI. Inicialmente protagonizadas 
por navegadores e exploradores a serviço das Coroas de Portugal e Espanha, essas viagens afirma-
ram teses como a esfericidade da Terra e contribuíram para o desenvolvimento de saberes práticos 
e teóricos nas áreas de Geografia, Cartografia e Astronomia.
A partir do Renascimento científico dos séculos XV e XVI, uma verdadeira revolução na 
maneira de conceber o conhecimento tomou corpo por meio das proposições de físicos, matemá-
ticos, químicos e naturalistas, inaugurando o pensamento científico moderno.
Além do Renascimento científico, epistemólogos e teóricos da ciência reco-
nhecem o desenvolvimento de uma verdadeira revolução no campo científico, 
ocorrida entre os séculos XV e XVII. Trata-se de um processo de mudança 
e deslocamento das filosofias naturais vigentes até então: as