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Aula 02 2 - História da Educação - 2017 1

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Prévia do material em texto

1 
EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE: O MUNDO ROMANO1 
 
 
Júlio Augusto da F.C. Farias2 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Desde o ano 254 a.C, quando a república romana ainda afirmava-se, o dia 1º 
de outubro no calendário romano era destinado às homenagens à Deusa Fides. Em 
princípio, essa era mais uma entre as diversas divindades romanas cultuadas 
desde o tempo dos Penates e Lares, mas a concepção mitológica de seus poderes 
refletem em grande parte a essência romana! 
 
Penates e Lares – personificações mítico rituais dos antepassados que 
protegiam os membros da família e a propriedade doméstica na tradição 
latina. 
 
 
Fides era representada popularmente como uma velha senhora, são diversos 
os relatos em que a força ou favores da deusa são evocados em nome da glória 
romana! Cícero, um dos principais nomes da Pedagogia romana, freqüentemente 
referia-se à deusa em seus escritos e relatos. Muitos desses relatos foram 
utilizados para fins didáticos. 
 
1 Texto em versão preliminar 
2 Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ 
 2 
Nesse contexto podemos refletir sobre algumas questões: Como diferenciar o 
cotidiano e a cultura de uma sociedade de suas práticas educativas? Como 
separar os valores e as “mentalidades” desse mesmo grupo social de suas práticas 
pedagógicas? A resposta para essas perguntas todos nós podemos formular, não 
é mesmo? Basta nos remetermos para as reflexões e indagações que fazíamos 
enquanto alunos e que faremos enquanto professores, no melhor estilo “para que 
serve isso que estudo” ou “para que serve isso que ensino”. 
Qualquer resposta prática a essas perguntas vai refletir, certamente, sua 
concepção de mundo e de sociedade! Tanto quanto em nosso sociedade, os 
romanos “escolheram” o que ensinar em sua escolas de acordo com suas 
concepções políticas: A formação de uma identidade expansionista e de um 
Estado forte e regulador são expressas na valorização da conquista e da glória. 
Perceberemos, ao longo da aula, que suas escolas estão calcadas nesses 
princípios! 
Antes de seguirmos com a aula, precisamos entender que a cultura romana 
foi de grande influência para a História e formação da sociedade ocidental, mas 
devemos recorrer a uma ressalva feita por Paul Veyne, um entre os milhares de 
historiadores que aprofundaram seus estudos sobre “Roma”: 
“Nós não somos e nem seremos, nunca, os romanos de dois mil nos atrás. 
Assim, podemos reconhecer semelhanças e influências romanas (ou gregas!) no 
nosso conceito cotidiano de Educação, mas não poderemos atribuir-lhes o sentido 
que os romanos atribuíram, pois esse conjunto de construções foi único!” 
 
 
O SENTIDO DA EDUCAÇÃO ROMANA 
 
 Você deve estar se perguntando de que forma a história da deusa Fides, e 
o comentário do historiador contemporâneo podem estar, simultaneamente ligados 
 3 
à Educação em Roma. É justamente essa relação que queremos demonstrar 
nessa aula. 
Em sua obra “A República”, Cícero nos conta que Régulo, um senil senador e 
ex-cônsul é capturado pelas tropas cartaginesas durante as guerras púnicas, no 
início da expansão romana. Sob juramento feito a Deusa Fides, o próprio Régulo é 
enviado ao senado romano para negociar a sua libertação em troca da liberdade de 
alguns generais cartagineses presos em Roma. Os cartagineses sabiam do valor 
de um juramento romano a tal deusa e confiaram na volta de Régulo ao cativeiro, 
no caso da troca não ser aceita. E Régulo voltou realmente! Não porque os 
senadores romanos não aceitaram a troca, mas porque ele próprio não deixou que 
seus pares aceitassem tamanho absurdo. Trocar um velho por vários jovens 
soldados era bom para ele, mas não para Roma. Sendo assim, entregou-se em 
sacrifício aos cartagineses, honrando sua fides e conquistando sua gloria. 
 
Fides 
O culto à deusa Fides influenciou toda um concepção do direito comercial e 
derivou o conceito de bona fides ou boa fé. Entre os romanos, selava 
se as relações vaseadas na confiança e na moral, desde casamento até os 
negócios, em homenagem à sua divindade. Entre os gestos rituais do culto 
à Fides havia o aperto de mãos, vivo e presente em nosso “vocabulário 
gestual” contemporâneo! 
 
 Portanto, a Educação romana está impregnada desses valores ressaltados 
nas narrativas, desde os primeiros tempos, quando apresentava-se como um meio 
de perpetuação dos valores tradicionais, até a interação com a Pedagogia grega, 
nas épocas republicana e imperial. 
 Ao acompanharmos sua evolução, é bom termos em mente que 
procuramos o sentido romano da Educação e não o que ela significa para a nossa 
 4 
Pedagogia! Veremos que as similaridades serão diversas, mas cada uma deve 
respeitar o seu tempo! 
 
A EVOLUÇAO DA EDUCAÇÂO ROMANA 
 
 São vários os escritos que, ao sistematizarem a História da Educação 
romana, separam Pedagogia e Educação. Vamos entender a Pedagogia como um 
elemento derivado da Educação, com seu cotidiano e seu sentido prático. Então, 
vamos inserir aspectos pedagógicos na evolução dessa Educação e apresentar, ao 
longo do texto, informações sobre os principais teóricos romanos de nosso campo 
de estudos. Esperamos que dessa forma você possa, mais que decorar uma série 
de pressupostos, perceber as nuances e sutilezas desse belo processo! 
 Como em toda periodização as escolhas são feitas em termos gerais. Por 
isso, vale ressaltarmos que a evolução é lenta e que, muitas vezes, os períodos se 
confundem. Vamos procurar tirar de cada um a sua essência! Você vai perceber 
como estão ligados à evolução política romana. Sociedades, mudam como um 
todo! 
 
 
a. PERÍODO ANTIGO 
 
 A gênese rural e camponesa da sociedade romana vai se refletir e maneira 
significativa nas práticas educacionais. Afinal, se a sua autoridade fosse baseada 
em seu conhecimento sobre a produção agrícola e sua segurança fosse garantida 
pela sua capacidade física e de organização militar, o seu maior desejo seria o de 
que seus filhos pudessem perpetuar e desfrutar esses valores, não é mesmo? 
 Desde cedo, então, o pequeno romano era apresentado aos desejos e 
feitos heróicos de seus ancestrais (o que leva alguns historiadores a caracterizar 
 5 
esse período da Educação como “heróico-patrício”), sendo a “ancestralidade” uma 
forte marca de distinção social. A medida em que os grupos sociais vão crescendo 
e as terras agrícolas vão sendo ocupadas e disputadas, impor esses valores podia 
representar a própria manutenção de sua posição na hierarquia social. 
 As noções de direitos e deveres do “Pater familias” se refletiram no âmbito 
educacional. Tal dever (ou direito de educar) estendia-se a toda a família, que para 
o romano era maior que o núcleo ao qual estamos acostumados hoje: além de Pai, 
mãe, esposa e filhos, habitavam o lar escravos, nutrizes ( acompanhantes das 
crianças), entre outros. Dentro de casa o romano abastado era juiz, sacerdote e 
exemplo. Fora do lar, era cidadão. 
 
 “Pater famílias”, se traduzido literalmente do latim significa pai de família. 
Era, porém, muito mais que isso! No Latim arcaico o termo está ligado ao 
território dando origem à palavra patriarca. O “Pater familias” romano era o 
mais alto posto privado que alguém poderia galgar. Ocupado sempre por 
figuras masculinas tinhas poderes de vida e de morte sobre seus filhos, 
esposa e escravos! São esses elementos sociais que galgarão ao senado 
romano com a ascensão da República, controlando a sociedade! 
 
 
 Embora imbuído de toda a autoridade, a pratica educativa na primeira 
infância era delegada pelo pai à própria esposa ou então, o que era mais comum, à 
“matrona”, uma parente idosa e suficientemente experiente para gerenciar escravos 
e nutrizes. O trabalho doméstico vivenciado pela criança, na terra pelos meninos e 
no lar pelas meninas era partilhado com os escravos e seus filhos.A exata dimensão da diferenciação social se dava quando a criança era 
pinçada dessa prática natural e colocada em contato com a Lei das 12 Tábuas. 
Durante as aulas de leitura e cálculo os meninos eram preparados para interpretar 
 6 
essas leis, sob o efeito de mitos heróicos. Aliás, o heroísmo era ressaltado pela 
necessidade de exercícios estratégicos. Essa marca “militar” na Educação é um 
símbolo da vocação expansionista dos romanos. 
 
 
LEI DAS XII TÁBUAS 
Durante a realeza e nos primeiros tempos republicanos, as leis eram 
transmitidas oralmente de uma geração para outra. Dessa forma, era 
freqüente manipulação das leis e costumes em favor da aristocracia, 
formada pelo grupo social das patrícios. Em 451 a.C. os plebeus 
conseguiram autorização para compilar essas leis, baseando-se no modelo 
grego idealizado por Sólon. 
O resultado desse trabalho foram as Leis das Doze Tábuas, que continham 
os principais atos necessários em medidas penais ou cíveis. Com isso, a 
racionalidade encampou o espaço da vontade divina e do costume, 
constituindo o Direito romano como a principal contribuição dessa 
civilização para a sociedade ocidental. Quer saber mais sobre cada uma 
das doze tábuas? Acesse o site “Jurisciencia.com” a partir do endereço 
abaixo! 
(http://www.jurisciencia.com/legislacoes/legislacao-diversa/lei-das-
doze-tabuas-lei-das-12-tabuas-lei-das-xii-tabuas/210/) 
 
 Como podemos perceber, as reflexões filosóficas sobre a realidade que os 
cercava não era o forte dos romanos no período da realeza e nem nos primeiros 
anos da República. Isso limitou a existência de uma Pedagogia instituída... Assim, 
a Educação era muito mais “moral e cívica”. As escolas eram simples barracas 
onde um escravo letrado passava aos jovens noções de leitura e cálculo. 
 7 
 A vida pública era aprendida pela freqüência do Jovem ao fórum, junto ao 
pai ou ao tio, desde os 15 anos de idade. Aos 16 anos, o menino era encaminhado 
para o serviço militar. Podemos perceber, mesmo na alçada pública, a grande 
permanência de elementos tradicionais dos exemplos ancestrais. 
A primeira sistematização pedagógica é registrada (o que não significa a 
inexistência de outras anteriores) já no transcorrer do período republicano, 
buscando sistematizar a formação acadêmica “tradicional” dos romanos. Podemos 
perceber que na Educação e na pedagogia transparecem aspectos reacionários da 
sociedade romana. Aliás, basta observarmos o fluxo de cada sociedade para 
percebermos que todo ciclo de transformação, antes de se consolidar, sofre com as 
reações! Catão, o Antigo (234 – 149 a.C.) escreve em um período correspondente 
ao início da expansão romana e sua obra é um reflexo da romana reação ao que os 
historiadores chamaram de helenização, ou seja, influência grega, na sociedade 
romana. Catão era um radicionalista! 
 
 
Pensadores: Catão, o Antigo – Como a maioria dos teóricos romanos foi 
um homem público, ocupando o cargo de Censor em 184 a.C. Era 
conhecido por sua austeridade e pela defesa incondicional da tradição 
latina. Significou um empecilho para a miscigenação de costumes com 
gregos ou cartagineses, de quem condenava, respectivamente, a filosofia e 
o apego ao luxo. Defendia em seus discursos a necessidade da correção 
do caráter e dos valores tradicionais. Associava a necessidade da 
austeridade pedagógica ao futuro da República: Para Catão, o luxo 
corrompia o homem. 
 
Devemos perceber como, novamente, e educação reflete aspectos do 
desenvolvimento político e a situação social. Não será a escola uma instituição com 
 8 
tendência a defender a tradição? Percebemos em nosso cotidiano que para cada 
colega professor disposto a transformar, aparecem vários interessados na 
manutenção da “mesmice”. Conhecer a História da Educação e a naturalidade 
desse processo de ação e reação pode nos ajudar a sermos professores 
transformadores! 
 
b. PERÍODO DE TRANSIÇÃO 
 
 A “Educação cosmopolita” representa a lenta impregnação da Educação e 
da Pedagogia romanas pelo pensamento helênico. É até certo ponto natural 
imaginarmos que a expansão romana e o domínio sobre a Grécia despertem o 
desejo de importação de todo o esplendor dessa civilização. Mas, para a tradição 
latina, não foi tão simples assim incorporar características da cultura da península 
vizinha! 
 Qual é a escola ideal? Caso essa pergunta fosse feita atualmente, é bem 
possível que um grupo significativo de pessoas defendessem escolas mais 
tradicionais, enquanto outro grupo defenderia escolas inovadoras... Guardadas as 
devidas proporções, na sociedade romana não parece ter sido diferente. 
 Tamanhas eram as discussões sobre o tema na antiga Roma que 
começaram a se proliferar os teóricos a defenderem suas posições. Entre eles 
surge Varrão, com preocupação em associar os valores tradicionais com as 
“inovações” gregas, conciliando interesses antes antagônicos. Não por acaso ele 
representa tão bem esse período de transição. 
 
 
 
 
 9 
Pensadores: Varrão – Vivendo entre 116 e 27 a.C., foi contemporâneo da 
decadência da república e da conquista da Grécia. Representa bem a 
transição para a helenização, pois embora valorize a virtude e o indivíduo, 
mantém vivo o sentido prática da didática latina, com a valorização da 
grammatica. Produz textos que orientam moralmente aos jovens leitores e 
colaboram para a manutenção da mentalidade “antiga” com base na virtus 
romana e em valores como pietas, honestitas, austerits e fides. 
 
 
 A medida em que a influência grega crescia, uma disputa ideológica se 
estabelecia. Com o domínio sobre a Grécia, houve um incremento das relações 
comerciais entre novos povos. Ao dominar as rotas comerciais gregas, os 
negociantes latinos verificaram a necessidade de entender a língua e os costumes 
do mundo grego. Lutando contra uma tradição aristocrática, é claro que esses 
“novos” comerciantes procuraram novos rumos para a formação de seus 
descendentes. Percebemos que as mudanças educacionais, embora estejam 
atadas a uma lenta alteração do equilíbrio de forças que compõem a sociedade, 
mantém um traço funcional e prático. Mas será que com o tempo e com a 
influência grega cada vez mais presente, essa característica se perde? Basta 
acompanharmos a organização da escola a partir desse período para descobrirmos 
que a essência romana estará sempre presente nos diversos níveis de ensino. 
 Junto com a discussão sobre os novos e necessários destinos da educação 
e mais propriamente da escola, o Estado romano, representado nos século III e II 
a.C. pelo Senado, passou a importar-se com tais instituições de forma gradual, 
ainda que fossem privadas. Assim, enquanto as tradições vão se “helenizando”, a 
Educação vai se transformando. 
 
 
 10 
As escolas primárias 
 
 Existentes desde o século VII a.C., é apenas no século IV a.C. que as 
escolas primárias assumem um caráter complementar à formação da criança 
romana. Trata-se do aprendizado elementar das letras. Nela, as crianças agrupam-
se ao redor do mestre que posiciona sua Cathedra, uma simples cadeira, sobre um 
estrado. Não havia pressa no aprendizado, mas podiam ser empregados castigos 
físicos públicos quando era constatada a indolência do aprendiz. 
 Um escravo ou cliente acompanhava a criança à escola, surgindo a figura 
do Paedagogus. Esse escravo, quando letrado e iniciado nos cálculos podia ser 
alçado a mentor do aprendiz. Tal situação torna-se cada vez mis comum com a 
helenização. O mestre era tratado por títulos como magister ludi ou litterator. Até 
essa etapa, o ensino era coletivo, sendo frequente a presença de meninas às 
escolas. 
 São ensinados o latim e o grego; o domínio da escrita é simultâneo ao da 
leitura. Durante as aulas de cálculo eram apresentados às crianças os sistema 
métricos de pesos e medidas empregados nos mercados e viagens. 
 
As escolas secundáriasNa verdade, assim como em muitas sociedades, eram diversas as 
demandas sociais dos romanos. Sendo a escola primária freqüentada por crianças 
de diversos grupos sociais, as escolas secundárias eram de participação mais 
restrita. Os jovens menos abastados eram orientados a dedicar-se ao mundo do 
trabalho, procurando continuar seus estudos de maneira não formal, 
acompanhando um Mestre de trabalhos práticos, ligados à arquitetura ou 
agrimensura, entre outros. 
 11 
 Enquanto aos doze anos os meninos estavam “prontos” para iniciarem-se 
na vida pública, as meninas, em geral, eram recolhidas ao lar, a fim de aprimorar os 
pudicos valores da mulher romana. Aos 12 anos estavam prontas para o 
casamento. Caberia ao marido moldar o restante de sua formação. 
O “ócio” característico das elites antigas, marca de sua soberania, era 
exercido e ensinado nas escolas secundárias. Os estudos eram baseados nas 
aulas dos grammaticus, professores bastante valorizados socialmente e protegidos 
pelo Estado. Vários desses mestres eram gregos e embora a estrutura fosse 
”importada”, como sempre, a marca da miscigenação se fazia presente. O Ensino 
das artes e da música, bem como a rigorosa formação física típica da Grécia, eram 
deixados de lado e o tempo utilizado para a discussão dos textos literários 
tradicionais, Geografia, História e Astronomia. 
 Essa formação mais complexa e enciclopédica convive temporalmente com 
a florescência da vida pública e política urbana em Roma e com as articulações de 
novas e várias “magistraturas” (cargos políticos destinados à organização política 
do cotidiano: cônsules, censores, pretores, edis, entre outros.), com destaque para 
o “tribunato da plebe”, representando as camadas mais baixas. Tais tribunos, 
embora Plebeus (não aristocratas), tinham boa condição social e galgam o acesso 
à escola secundária. 
 Por essa ocasião o processo se caracteriza pelo acúmulo de conhecimentos 
tanto quanto pela sua utilidade, caracterizando uma verdadeira hummanitas. 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
Humanitas - Enquanto a Grécia nunca se caracterizou pela centralização, 
estando dividida em várias cidades-estado, Roma desenvolve uma 
concepção de império formado por vários povos. Submetendo várias 
regiões, não discrimina os vencidos podendo oferecer até a cidadania 
romana em troca de impostos e colaboração. No caso da Grécia 
conquistada, ao invés de impor a cultura e a língua latinas, os romanos 
incorporaram o grego tornando sua Educação bilíngue. A ressignificação de 
diversos valores gregos na cultura latina ajudou muito na sua permanência 
histórica, a partir da crescente expansão romana. “Humanitas” é o conceito 
que sintetiza essa universalização cultural traduzida na Educação! É 
equivalente à Paidéia grega, mas dela se diferencia por valorizar uma 
dimensão cosmopolita e prática: o ideal de conquista. Tal modelo não se 
contenta com a utopia da formação do sábio e avança no sentido da 
formação moral, política e literária como caminho para a glória e a virtude. 
Cícero é um dos mais notáveis construtores dessa dimensão pedagógica. 
Nos tempos imperiais, porém, a Humanitas irá restringir-se ao viés literário, 
descuidando-se das ciências. 
 
 
As formulações pedagógicas da transição republicana romana confundem-se 
com as iniciativas públicas. O Estado passará a assumir, gradativamente, 
responsabilidade pela Educação. Cícero, brilhante orador, senador e cônsul, 
defendia a “continuidade” da escola como um meio de se aprimorar a prática política 
do educando, destacando-se como precursor das escolas retóricas. Seus escritos 
tornam-se “clássicos” para futuros professores e teóricos. 
 
 
 
 13 
 
 
 
 No próprio cotidiano romano percebe-se a força das novas concepções 
formuladas por Cícero. Roma passa por um período de turbulências e 
reivindicações sociais por parte dos plebeus. O constante crescimento territorial e 
a adoção do escravismo traziam, também, um preço a ser pago... 
Pensadores – Cícero – Atuando politicamente entre 90 e 43 a.C. (nasceu 
em 106), Cícero é morto defendendo Roma da corrupção nas províncias, 
um mal que assolava a moral, segundo sua concepção. Antes de morrer, 
porém, exalta no último volume de suas vasta obra uma síntese do 
universalismo: Em “(...)obra escrita em 44 e endereçada a seu filho 
Marcus, Cícero traça um programa de estudos e um ideal de vida que 
gostaria de o ver realizar. O tratado está dividido em três partes. A 
primeira trata do homem, a segunda do útil e a terceira examina as 
relações e conflitos entre o honesto e o útil. Cícero exorta o filho a 
estudar Grego, Latim, Filosofia e Oratória e assinala a sua supremacia no 
campo da Oratória mostrando que cultivou, como nenhum grego, ao 
mesmo tempo, a Oratória e a Filosofia. Num capítulo seguinte, propõe os 
deveres como tema a ser analisado, e enfatiza a sua honestidade, 
princípio que procurou sempre alcançar nas suas ações. Posteriormente, 
investiga se todos os deveres são perfeitos, se a honestidade é um fato e 
se a utilidade não se opõe à honestidade. Finalmente, mostra o homem 
como ser racional dotado de instinto gregário e sedento de verdade.” 
(http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/en
sinoroma/index.htm. Acessado em 16/09/2009) 
 14 
 Gradativamente os plebeus vão conquistando direitos por demonstrarem a 
opressão por que passam ao serem substituídos por escravos das colônias na 
cadeia produtiva. Caberá ao Estado equilibrar e abrandar esses conflitos sociais 
através de novas leis e concessões aos plebeus. 
 Porém, a aproximação e o equilíbrio entre Patrícios e Plebeus, desde a 
criação do tribunato da plebe, alertou o senado e os patrícios para a necessidade 
da criação de novas distinções sociais. A Educação, sempre símbolo de distinção 
entre os romanos, altera-se com esse processo. Mesmo antes da passagem para o 
período imperial romano, inicia-se a construção de um modelo superior de 
Educação, calcado na retórica e no Direito público. Tal nível de ensino 
representará um afunilamento educacional e de acesso aos cargos púbicos. 
 
As escolas superiores 
 
 “A aprendizagem formal da arte oratória não afastava, como poderia 
parecer à primeira vista, os jovens romanos da realidade da vida, pois nas escolas 
de retórica foi que, durante séculos, o Império encontrou homens capazes de 
reencher os altos postos de seus quadros administrativos e governamentais” 
 A frase destacada da obra de Henri Marrou (1975) e um excelente 
referencial para compreendermos a Educação “retórica” romana. Se a diminuição 
do número de estudantes era flagrante entre os níveis primário e secundário, no 
acesso ao nível superior essa diminuição era ainda maior. 
 Embora surgidas na época de Cícero, é no período imperial que a 
Educação superior se desenvolve. Então, preferimos detalhar suas práticas ao 
falarmos da Educação nesse novo período. Vamos a ele! 
 
 
 
 15 
c. PERÍODO IMPERIAL 
 
 Antes de partirmos para apresentação desse período, devemos deixar claro 
que as transformações e a criação de um nível “superior” de ensino não apagam o 
passado! Como temos ressaltado ao longo de toda a aula, processos que 
envolvem seres humanos e mudanças culturais são lentos... Então, não podemos 
pressupor que os modelos e práticas exemplificadas até esse ponto da aula 
tenham simplesmente desaparecido! Elas são se misturando, influenciando uma 
as outras... Enfim, vão se moldando à sociedade e sendo moldadas por ela, dia a 
dia, ano a ano. 
 Roma tornou-se um império! Impérios são, via de regra, mais autoritários, 
diretivos, centralizados. Um novo cotidiano agrega elementos à vida pública e 
privada dos cidadãos (patrícios ou plebeus) romanos. Os braços do imperador 
abraçam toda a sociedade... e também a Educação! 
As formulações teóricas acompanham essa tendência! Observe o boxe a 
seguir. Vocêirá perceber na elaboração feita pelos teóricos Sêneca e Quintiliano 
esse “abraço” do Estado imperial à Educação! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16 
 
 
Pensadores – Sêneca e Quintiliano – No início do período imperial, 
passam a prevalecer os aspectos técnicos da Educação, que perde o 
seu caráter particular e torna-se algo natural, inerente ao homem. 
Ambos são “frutos” da expansão romana e da articulação cultural dela 
decorrente, pois nascem na Espanha e migram para Roma. 
Segundo Sêneca, que não nega a Filosofia e propõe a “vida 
verdadeira” ou a “tranqüilidade da alma”, a Educação é como um 
controle dos apetites pessoais, retomando a formação moral. 
Quintiliano, um símbolo da ingerência do Estado na Educação (tornou-
se o primeiro professor pago pelo Estado!) e destaca-se não só pela 
negação da Filosofia, mas também pela organização prática da 
aprendizagem, desde a escola primária, onde defende a psicologia 
como ferramenta para descobrir talentos individuais das crianças e 
assim dirigir-lhes a instrução, tornando prazerosa a aprendizagem, 
geralmente em grupos. 
No Ensino da gramática (secundário) é valorizada por ambos a clareza 
e a elegância a partir do estudo dos clássicos, que valorizam o espírito 
romano. Institui-se o trabalho simultâneo com diversas disciplinas e a 
solução de problemas práticos. 
O sucesso na formação de um bom orador no nível terciário era a 
mostra de que havia se estruturado um grande homem. Afinal, o bom 
orador deveria ser capaz de escolher e ordenar as melhores palavras, 
articulá-las à História e às leis romanas, provocando emoções e 
construindo argumentos convincentes. 
 17 
 É necessária a construção de uma “bem lubrificada” máquina estatal para 
administrar o vasto território imperial e colonial conquistado pelos romanos. Quem 
seriam as peças dessa máquina? Isso mesmo! Você deve ter pensado 
rapidamente nos filhos das famílias patrícias moldados na Educação superior. A 
diversificação geográfica do império gera a necessidade de maior sistematização 
do famoso “Direito Romano”, abordado nesse nível de ensino em cursos 
específicos, sendo uma marca diferencial para os jovens que pretendiam a vida 
pública! 
 Antes restrita à inspeção das escolas, ao longo do império a ação estatal 
fomenta a elaboração de leis sobre o Ensino e mesmo uma rede de escolas 
públicas subvencionadas pelo poder central! Mestres estrangeiros passam a ter 
direito à cidadania romana, bem como a gozar de descontos em seus impostos e 
moradia gratuita. 
 Antes que morramos de inveja pela posição que o professor galgou na 
sociedade imperial romana, vale ressaltar que sua liberdade de ação era mínima e 
que sua função era moldar, e não formar. Mas o que “moldava” a escola terciária 
romana, nesse momento em que o helenismo ocupa seu ápice de influência? A 
Educação para a vida pública nesse nível calcava-se na necessidade prática ou era 
apenas um adorno a ser mostrado, um capricho? A fim de discutirmos essa 
controvérsia, vamos observar o trecho abaixo, escrito por Paul Veyne (1989): 
 
Durante esse tempo os meninos estudam. Para se tornar bons cidadãos? Para 
aprender seu ofício? Para adquirir meios de compreender alguma coisa do 
mundo que vivem? Não, mas para adornar o espírito, para se instruir nas boas 
letras. Constitui estranho erro acreditar que a instituição escolar se explica, 
através dos séculos, pela função de formar o homem ou, ao contrário, adaptá-lo 
à sociedade; em Roma não se ensinam matérias formadoras ou utilitárias, e sim 
prestigiosas e, acima de tudo, a retórica. É excepcional na história que a 
educação prepare o menino para a vida e seja uma imagem da sociedade em 
miniatura ou em germe; no mais das vezes, a história da educação é a história 
das idéias sobre a infância e não se explica pela função social da educação. Em 
Roma decorava-se com retórica a alma dos meninos (...) 
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Para a História da Educação (e para a História), tal polêmica não precisa se 
resolver, apenas ser discutida... Não será o próprio “adorno” cultural citado por 
Veyne um elemento utilitário para a diferenciação cultural? Podemos, inclusive, 
retomarmos a apresentação dessa aula! Assim como a Fides, os valores romanos 
transparecem ao longo de toda a prática educacional apresentada. Isso nos 
fornece argumentos para justificar que além das similaridades com os gregos, os 
romanos preenchem com sua identidade e sua mentalidade a prática pedagógica 
exercida em sua “escolas”, caracterizando-as como únicas e influentes na 
sociedade ocidental. 
 
AS DIFERENÇAS ENTRE A EDUCAÇÃO ROMANA E A GREGA 
 
 Depois de tanto falarmos de miscigenação, é possível que você esteja 
associando diretamente a Educação romana ao modelo grego! Assim, é 
importante ressaltarmos algumas diferenças fundamentais, que podem colaborar 
para a plena percepção das distintas nuances entre essas duas “civilizações” 
 Enquanto os gregos dedicavam a maior parte de seus estudos formais à 
filosofia e a toda amplitude que a introspecção acadêmica e o ócio pudessem 
contemplar, os Romanos voltam seu olhar pra prática cotidiana, em princípio 
privada e depois pública. Assim, teorizar sobre o mundo numa postura “metafísica” 
não era o forte dos romanos. Sua abordagem é aquilo que podemos chamar de 
“pragmática”, dirigida para a apresentação política nos fóruns e no direito. 
 No sentido prático, os romanos não atribuíam o mesmo valor que os gregos 
à formação física dos educandos. Essa relativa despreocupação com o corpo, o 
elemento central do prazer, pode representar uma preocupação com a formação 
moral e o controle. O mesmo se aplica à aprendizagem das artes. Música e teatro 
eram menos valorizados que a oratória, mesmo no auge da hummanitas! 
 
 19 
 
PARA FINALIZAR: O CRISTIANISMO 
 
 A Educação romana, repleta de helenismo, não sucumbe junto com Roma, 
pois sua permanência é latente e perceptível. Antes da derrocada de seu império, 
significativas mudanças culturais acontecem na sociedade romana. 
 Entre elas, está o crescimento do cristianismo e sua adoção como religião 
oficial do Estado. A lógica cristã e a valorização da teologia fazem com que surjam 
as primeiras escolas cristãs, onde os textos abordados, refletidos e utilizados para 
o letramento são os textos sagrados, atacam o “paganismo” e por conseqüência os 
textos heróicos. A forma de organização e a hierarquização escolar, porém, são 
bastante semelhantes! 
 Com o desmembramento do império romano após as invasões bárbaras, a 
lógica política e social altera-se radicalmente. A cristianismo, porém, perdura, 
caracterizando uma permanência cultural. Então, apesar de impregnados de 
teologia cristã, o pragmatismo e o essencialismo heleno-românicos permanecem 
latentes na educação eclesiástica e poderão ser retomados no transcorrer da 
história! 
 
CONCLUSÃO 
 
No transcorrer dessa aula você conheceu através de textos, analogias e 
atividades os princípios básicos da Educação na Roma antiga, a valorização do 
civismo e da conduta pública, aspectos tão presentes em nosso mundo atual e 
aparentemente valores em crise. 
Muitas vezes foram ressaltadas algumas preocupações sobre as quais você 
deve continuar refletindo durante toda a sua vivência na Educação, tais como a 
identidade dos sujeitos que freqüentam as escolas e a ideologia inerente aos 
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sistemas escolares. Muitas vezes, os alunos não têm o conhecimento necessário 
para compreender o sentido da Educação que recebem, mas os professores 
precisam saber o sentido da Educação que oferecem! 
Percebemos que entre os romanos a força do estado impediu que as 
escolas se tornassem instituições transformadoras sendo, ao contrário, instituições 
mantenedoras da ordem social vigente a das diferenças entre os grupos sociais. 
Com essa lição, que escolas queremos? Não somos capazes de, sozinhos, 
reformarmos sistemas ou empreenderrevoluções, mas nos mantendo 
constantemente em discussão, transformando nosso dia-a-dia em momentos de 
reflexão e aprendizagem, poderemos oferecer novos elementos a nossos alunos. 
Não estudamos a História da Educação para copiá-la ou negá-la, mas sim 
para ampliar nossas possibilidades e conhecimentos disponibilizando a nossos 
alunos uma prática consistente. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da Educação. São Paulo: Moderna, 1996. 
LIMA, Alessandra C. Exempla romanos: Homens de Gloria e Mulheres de Honor. 
Disponível em: http://www.hottopos.com/notand12/ale.htm Acessado em 8/09/2009. 
LOPES, Eliane M. Teixeira & GALVÃO, Ana Maria de O. História da Educação. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2001. 
MARROU, Henri. História da Educação na antiguidade. São Paulo: EPU, 1975. 
MENDES, Norma M. Roma republicana. São Paulo: Ática, 1988. 
VEYNE, Paul. (org.) História da vida privada. Philippe Áries e George Duby (dir.). São 
Paulo: Companhia das Letras, 1989. v. 1. 
Amalia
Realce
Amalia
Nota
bom para um fórum
Amalia
Nota
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