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1 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 Metabolismo ósseo Funções do esqueleto: Sustentação, proteção, alavanca de movimento – biomecânica, hematopoiese, reserva mineral (P e Ca) – função metabólica. • O osso é um tecido dinâmico e sua formação e reabsorção são processos contínuos durantes toda a vida do organismo. • A formação óssea somente acontece nos locais onde houve reabsorção, e o novo osso ocupa o mesmo local que o antigo. A remodelação óssea é um processo contínuo de atividade que tem por finalidade manter a microestrutura óssea. • O ciclo da remodelação consiste nas seguintes fases: ativação (retração de osteoblastos e osteoclastogênese), reabsorção (2-3 semanas; osteoclastos atuando), reversa (células mononucleares preparando a superfície) e formação (dura 4 meses; função dos osteoblastos, formação da matriz e mineralização óssea, etapas separadas no tempo e no espaço). Essa atividade é realizada em unidades funcionais, as unidades metabólicas ósseas (BMU – basic multicellular unit), distribuídas por todo o esqueleto. • A mineralização aumenta a densidade do osso novo, mas não altera seu volume; e envolve a deposição inicial de fosfato tricálcico amorfo, que é lentamente convertido em cristais de hidroxiapatita. • Uma vez completada a formação óssea, há um prolongado período de repouso com pouca atividade celular naquela unidade óssea, até que um novo ciclo de remodelação se inicie. • A BMU cortical é o sistema de Havers ou ósteons. • No osso esponjoso, a BMU é aplainada como se o ósteon tivesse sido aberto e desenrolado, sendo paralelo ao plano esponjoso. • O osso cortical compreende 80% do esqueleto. Sua função principal é prover força mecânica e proteção, mas pode participar também das respostas metabólicas, particularmente quando há déficit mineral prolongado ou intenso. • O osso esponjoso pode exercer uma função mecânica nas vértebras, mas é mais ativo metabolicamente que o osso cortical, e também provê os materiais iniciais em estados de deficiência mineral aguda. • Como o osso esponjoso é mais ativo em qualquer doença óssea metabólica, a perda óssea ocorre primeiramente nele. A atividade metabólica do osso esponjoso é realizada pelos osteócitos (célula madura derivada de osteoblasto, que reside nas lamelas). Os íons ▪ A manutenção das concentrações extra e intracelulares de cálcio, fósforo e magnésio, dentro da faixa de normalidade, depende do controle dos fluxos de cálcio, fósforo e magnésio no rim, no trato gastrintestinal e nos ossos. Esses fluxos são coordenados pela ação do hormônio da paratireoide (PTH), da 1,25 diidroxi-vitamina D (1,25(OH)2D ou calcitriol) e do FGF-23 (fibroblast growth factor 23). ▪ O cálcio na circulação encontra-se sob a forma de íons livres, íons ligados a proteínas plasmáticas (70% ligado a albumina sérica) e, em menor grau, a complexos difusíveis. CÁL CIO ❖ É o principal componente mineral do esqueleto; ❖ Exerce papeis fundamentais na transmissão neurológica, contração muscular e coagulação sanguínea; e atua como sinal intracelular ubíquo. ❖ O cálcio contido nos ossos está associado às fibrilas de colágeno e a outros componentes da matriz óssea sob a forma de hidroxiapatita (Ca10 (PO4)6(OH)2). ❖ Os métodos de dosagem do cálcio total medem a quantidade de cálcio livre e ligado à albumina, sofrendo interferência das alterações das concentrações sanguíneas desta proteína. ❖ O cálcio iônico é o mais importante fisiologicamente e é regulado por controle hormonal. O cálcio total sérico varia de 8,6 a 10,2 mg/dl e o cálcio iônico de 4,6 a 5,3 mg/dl. ❖ O cálcio extracelular participa de numerosas funções essenciais, tais como coagulação Dor em membros e Osteoporose 2 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 sanguínea, adesão celular, manutenção da integridade do esqueleto e regulação da excitabilidade extracelular. ❖ O íon cálcio, no interior da célula, está envolvido principalmente na proliferação, na diferenciação, na motilidade celular e no controle de diversas funções celulares como contração muscular, secreção hormonal e metabolismo do glicogênio, além de atuar como segundo mensageiro e co-fator enzimático. ❖ A concentração do cálcio intracelular é, aproximadamente, 10.000 vezes menor do que a concentração do cálcio ionizado extracelular. ❖ A regulação e manutenção da homeostase desse íon dependem do receptor do sensor de cálcio (CaR), que é ultrassensível a pequenas variações do cálcio. A elevação da concentração do cálcio extracelular (o íon Ca extracelular atua como um hormônio) ativa o CaR e assim desencadeia uma série de efeitos objetivando a redução da calcemia. O CaR é um receptor acoplado à proteína G (Gq e Gi) e está presente em diversos tecidos, e os principais efeitos da sua ativação são: ▪ PARATIREOIDE: Redução da síntese, secreção do PTH e supressão da proliferação celular. ▪ RIM: Redução da reabsorção tubular dos íons cálcio e magnésio, aumento dos níveis celulares da calbindina (proteína transportadora de cálcio intracelular) no túbulo renal. Inibição da ação do hormônio antidiurético no ducto coletor, com incremento da diurese. ▪ OSSO: Estímulo dos precursores dos osteoblastos (formação óssea) e inibição da função dos osteoclastos (reabsorção óssea) ▪ INTESTINO: Aumento da produção de calbindina no duodeno. ▪ TIREÓIDE (CÉL. C): Estímulo da secreção de calcitonina, cujo principal efeito consiste na inibição dos osteoclastos. FOSFATO ❖ Junto com o cálcio, constituem a hidroxiapatita, principal componente mineral do osso. ❖ O fosfato é componente de um grande número de macromoléculas intracelulares, incluindo fosfolipídeos, ácidos nucléicos e fosfoproteínas. ❖ Só em raras situações (uso prolongado de antiácidos que quelam fósforo) o suprimento de fósforo é um fator limitante para sua homeostase. ❖ Ao contrário do cálcio, em que apenas 50% são filtrados, cerca de 90% do fosfato sérico inorgânico é filtrado pelos glomérulos. ❖ O rim exerce papel fundamental na regulação da homeostase do fosfato. A capacidade renal de reabsorver fósforo é saturável. Essa capacidade máxima do túbulo renal em reabsorver fósforo é conhecida como TmP, ou transporte máximo de fósforo. ❖ O limiar para reabsorção de fosfato no túbulo proximal representa o nível de fósforo sérico ou a sua excreção. Esse limiar representa essencialmente o set-point que define a concentração sérica de fósforo. Esse set-point é regulado pelo PTH e FGF-23 ❖ O produto das concentrações de cálcio e de fósforo séricos tende a ser constante, visto que o aumento de um desses íons leva à redução recíproca do outro. Este ajuste é feito por intermédio da regulação pelo PTH. ❖ O aumento agudo na concentração de fósforo sérico produz queda transitória na concentração de cálcio ionizado e aumento do PTH, que, por sua vez, reduz o limiar da reabsorção tubular renal de fósforo, reajustando as concentrações séricas de ambos os íons. MAGNÉSIO ❖ Segundo cátion intracelular mais abundante após o potássio, é um co-fator essencial na função de várias enzimas. Todas as enzimas que utilizam ATP requerem magnésio. ❖ As fontes dietéticas mais importantes de magnésio são as carnes e alguns cereais. Dietas ricas em fibra, fitato, oxalato e fosfato reduzem a absorção de magnésio pela ligação desses nutrientes com o cátion. ❖ Diferentemente do cálcio, apenas 25 a 30% do magnésio filtrado é reabsorvido no túbulo proximal. ❖ O rim é o órgão que regula o metabolismo de magnésio, com discreta influência hormonal. 3 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 Doença osteometabólica • Doenças generalizadas do esqueleto decorrentes de um desequilíbrio entre a formação e a reabsorção óssea. • As doenças do metabolismo mineralsão relacionadas ao metabolismo do cálcio (hipercalcemia, hipocalcemia e hipercalciúria), do fósforo (hipofosfatemia e hiperfostatemia) e do magnésio (hipomagnesemia e hipermagnesemia). As doenças do metabolismo ósseo são principalmente: Osteoporose, raquitismo, osteomalácia, doença de Paget, osteogênesis imperfeita e displasia fibrosa. Osteoporose Definição • Perda de massa óssea, incluindo a perda de conectividade e da microarquitetura óssea trabecular, bem como um afinamento do osso cortical, com consequente aumento do risco de desenvolvimento de fraturas. • Desordem esquelética mais comum, caracterizada pelo comprometimento da resistência óssea (resultante da integração entre a densidade óssea e a qualidade do osso), predispondo a fraturas. • A resistência óssea é resultante da integração entre a densidade óssea e a qualidade do osso. A densidade óssea é expressada em gramas de mineral por área ou volume, e em um dado indivíduo é determinada pelo pico de massa óssea e pela quantidade de perda óssea. A qualidade óssea depende da arquitetura, do remodelamento ósseo, do acúmulo de lesão (microfraturas) e da mineralização. Até o momento não existe medida acurada da resistência óssea. • A OMS define densitometricamente a osteoporose como a densidade óssea abaixo de 2,5 desvios- padrão (SD) em relação à média para mulheres jovens brancas saudáveis (T-Score). Ainda não está bem definido como aplicar esses critérios diagnóstico para homens e crianças, ou para diferentes grupos étnicos. ❖ O risco de fratura depende também da qualidade da matriz óssea. O colágeno é a proteína de matriz mais abundante. Suas propriedades mecânicas, como resistência à tração e viscoelasticidade, são determinadas principalmente por seu padrão de formação da ligação cruzada (cross-link) entre as fibras de colágeno. O processo de maturação do colágeno possibilita a formação de maior número de cross-link, dando maior resistência ao osso. Nas condições de remodelação aumentada, há formação de menor número de cross-link. • A incidência da osteoporose aumenta com a idade, tornando-se mais comum entre pessoas com mais de 60 anos de idade. • O pico de massa óssea é menor nas mulheres do que nos homens. As mulheres geralmente apresentam menor densidade óssea e a cada estágio subsequente da vida. É por isso que as mulheres apresentam as maiores taxas de fratura. • Os sítios mais comuns das conhecidas fraturas por fragilidade são o quadril, a porção distal do antebraço (em geral, após uma queda com o braço estendido) e as vértebras (grande proporção das fraturas vertebrais é assintomática). • A fratura de quadril está associada a maior morbidade e mortalidade, em comparação a todos os outros tipos de fratura. Somente 1/3 dos pacientes com fratura de quadril recupera os níveis funcionais antigos. • Os casos de morte podem ser resultantes das complicações associadas, tais como embolia pulmonar ou pneumonia. • Os índices de depressão e ansiedade também aumentam após a ocorrência de fraturas osteoporóticas. Categorias para o diagnóstico de osteoporose Categoria Definição Normal Valor da densidade óssea superior a - 1 desvio padrão em relação média dos valores para adultos jovens saudáveis (T-escore). Osteopenia Valor da densidade óssea entre -1 e -2,5 desvios padrão em relação ... Osteoporose Valor da densidade óssea menor que - 2,5 desvios padrão em relação a ... Osteoporose estabelecida Menor que -2,5 desvios padrão em relação ... e pelo menos uma fratura por fragilidade óssea. 4 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 Fisiopatologia As fraturas são decorrentes da diminuição da resistência óssea e das quedas. A resistência óssea depende da quantidade e da qualidade do osso. Enquanto a quantidade óssea é avaliada pela densidade mineral óssea (DMO), sua qualidade depende de outros fatores, como forma e tamanho, remodelação, microarquitetura, mineralização óssea e a qualidade da matriz. Atualmente, considera-se que a massa óssea seja responsável por cerca de 50 a 70% da resistência do osso à fratura. Quantidade óssea ▪ A massa óssea depende do seu pico de formação e de sua subsequente perda. O pico representa a quantidade de osso adquirida no período de crescimento do esqueleto e sofre influência genéticas, como demonstram as diferenças raciais. Outros fatores que influenciam: dieta (especialmente ingestão dietética de cálcio), exercício físico e época da puberdade. ▪ Um pico de massa óssea insuficiente na infância e na adolescência é importante para o desenvolvimento da osteoporose. A massa é acumulada ao longo das 2 primeiras décadas de vida, atinge o pico no final da 3º década ou início da 4º, e é estabilizada durante as próximas 1 ou 2 décadas e, por fim, passa a declinar lentamente, devido ao predomínio da reabsorção sobre a formação, resultando em diminuição da massa. ▪ Na mulher, a perda óssea tem início na perimenopausa. Uma vez que a menopausa se instala, ocorre uma aceleração da taxa de perda óssea. Durante os primeiros 5 a 10 anos após a menopausa, o osso esponjoso (2 a 4%/ano) é perdido mais rapidamente que o osso cortical (1 a 2%). Assim, uma mulher pode perder de 10-15% do seu osso cortical e de 25-30% do seu osso esponjoso. Essas taxas variam consideravelmente entre as mulheres, não sendo claro por que algumas são ¨perdedoras rápidas de osso¨. ▪ A deficiência estrogênica aumenta a produção de citocinas que estimulam a reabsorção óssea, como as interleucinas (IL-1 e IL-6) e o fator de necrose tumoral (TNF). A deficiência também pode diminuir a produção de osteoprotegerina, um membro solúvel da família TNF que reduz a osteoclastogênese. Por outro lado, o hipoestrogenismo pode reduzir a produção de fatores de crescimento que estimulam a formação de osso, como IGF-1 e TGF-beta. ▪ A partir da 6º década de vida, homens e mulheres sofrem um declínio da massa óssea, devido principalmente ao balanço negativo na unidade de remodelação pela menor atividade dos osteoblastos. A deficiência de vitamina D, que pode ocorrer nessa faixa etária, acarreta um hiperparatireoidismo secundário que pode acentuar essa perda. Qualidade óssea ▪ Além da quantidade, a resistência óssea também depende de sua qualidade, a qual sofre a influência de vários fatores (ex. forma e seu tamanho). Outro fator que interfere na qualidade óssea é a atividade do periósteo. Esta atividade ocorre durante toda a vida, conferindo resistência ao osso cortical; quando a formação óssea pelo periósteo é deficiente, a resistência pode ficar comprometida. ▪ Uma das finalidades da remodelação óssea é reparar as fraturas por dano de fadiga que ocorrem no osso normal. Tanto a remodelação óssea aumentada como a diminuída aumentam o risco de fraturas. Quando aumentada, é associada à maior taxa de perda óssea e pode ser um fator de risco para fratura independente da densidade mineral óssea. Pode ocorrer a concentração de maior número de unidades de remodelação em locais submetidos à força de estresse, produzindo pontos frágeis que possibilita a microfratura óssea. ▪ A intensidade da deformação óssea depende da magnitude da força aplicada, mas também da resistência dos materiais que compõem o osso. Essa resistência depende da proporcionalidade entre os cristais de hidroxiapatita e o colágeno tipo I: tanto o colágeno pouco mineralizado como o muito mineralizado representam diminuição da resistência óssea ao traumatismo. ▪ O risco de fratura depende da qualidade da matriz óssea (+ colágeno). O processo de maturação do colágeno possibilita a formação de maior número de cross-link, dando maior resistência ao osso. A patogênese da fratura é complexa, sendo a diminuição da massa óssea o principal fator. 5 BeatrizMachado de Almeida Osteoporose – Caso 5 Classificação ❖ A osteoporose é uma síndrome classificada em primária e secundária. ❖ Na osteoporose primária, não são conhecidas as causas que produzem a diminuição da massa óssea. ❖ Na osteoporose secundária, a etiologia refere-se a um grande número de doenças e condições especiais, independentemente dos efeitos da menopausa em mulheres e envelhecimento nas mulheres e nos homens. Primária • Causada por: falta de estrogênio (ambos os sexos); baixos níveis de vitamina D; espontaneamente (mais comum). • Presente em mais de 95% da osteoporose em mulheres e cerca de 80% em homens. A maioria dos casos ocorre em mulheres na pós-menopausa e em homens mais velhos. Osteoporose juvenil idiopática; idiopática em adulto jovem; involucional; pós-menopausa; senil. Secundária • Causadas por doenças de base, consumo excessivo de álcool ou café e pelo uso de alguns medicamentos (progesterona, corticoides, hormônios da tireoide, certos quimioterápicos e anticonvulsionantes); • Presentes em menos de 5% dos casos de osteoporose em mulheres e cerca de 20% em homens. • Doenças endocrinológicas (síndrome de Cushing, hiperpatireoidismo, hipertireoidismo); doença celíaca; síndrome de má absorção; doença pulmonar obstrutiva crônica; doença neurológica crônica; artrite reumatoide; aids/HIV; neoplasias (mieloma múltiplo, linfoma e leucemia); doenças hereditárias do tecido conjuntivo (síndrome de Ehlers-Danlos, homocistinúria, síndrome de Marfan, osteogênese imperfeita); medicações. Idiopática • Tipo raro de osteoporose que ocorre geralmente m mulheres na pré menopausa, homens com menos de 50 anos e crianças e adolescentes que têm níveis normais de hormônios e de Vitamina D. Fatores de risco Na avaliação clínica de um paciente com suspeita de osteoporose, devem-se considerar inicialmente os fatores de risco e afastar causas secundárias de osteoporose. • Idade avançada; • Sexo feminino; • Condição pós-menopáusica; • Raça branca ou asiática; • História familiar ou pessoal de fratura por fragilidade; • Baixo peso corporal (<57kg); • Baixa acuidade visual; • Comprometimento neuromuscular; • Mobilidade reduzida; • Declínio cognitivo; • Uso de fármacos sedativos; • Uso de glicocorticoide oral por mais de 3 meses. • Residência em casa de repouso; • Hábito de fumar cigarros; • Consumo abusivo de bebidas alcoólicas; • Cálcio dietético insuficiente; • Falta de exercícios físicos. • As doenças ou condições associadas a uma baixa densidade óssea incluem síndrome de Cushing, terapia com glicocorticoides (Faz supressão da atividade dos osteoblastos, inibem absorção de Ca e aumentam a produção de RANK, promovendo atividade osteoclástica), tireotoxicose, reposição excessiva do hormônio da tireoide, hiperparatireoidismo primário, hipogonadismo, má absorção intestinal, DPOC, insuficiência hepática ou renal crônica, mieloma múltiplo e outras malignidades, transplante de órgãos, hipopituitarismo (deficiência de hormônio do crescimento), AR e outras doenças do tecido conectivo. A existência de vários fatores de risco no mesmo indivíduo multiplica a probabilidade de fratura osteoporótica. A fraturas associadas à osteoporose são decorrentes de fragilidade e resultam geralmente de uma queda da própria altura ou por um trauma que não causaria dano no osso de resistência normal. Atenção para anamnese e exame físico. 6 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 Fatores de risco para osteoporose e fraturas Maiores Menores História pessoal de fratura na vida adulta Deficiência de estrógeno (menopausa <45 anos) História de fratura em parentes de 1º grau Baixa ingestão de cálcio durante a vida História atual de tabagismo Atividade física inadequada Baixo peso (<57Kg) Alcoolismo Uso de glicocorticoide Quedas recentes Idade avançada (déficit de visão, saúde comprometida). Demência Exame físico: Atenção especial para: Altura, presença de deformidades na coluna vertebral, avaliação da força muscular, equilíbrio, marcha e sinais clínicos das doenças que causam a osteoporose secundária. Diagnóstico Como a osteoporose não causa sintomas, pois a perda da densidade óssea ocorre muito gradualmente e as fraturas decorrentes dessa patologia não fecham o diagnóstico, os exames complementares serão essenciais para a confirmação. O diagnóstico pode ser feito pela constatação de uma fratura por fragilidade (vertebral ou periférica) ou, antes que isso ocorra, pela medida da DMO. Quando suspeitar de osteoporose? ❖ Todas as mulheres com 65 anos ou mais; ❖ Mulheres entre a menopausa e 65 anos que apresentam fatores de risco para osteoporose; ❖ Todos os homens e mulheres que tiveram uma fratura anterior causada por pouca ou nenhuma força, mesmo que a fratura tenha ocorrido quando jovem; ❖ Adultos com idade a partir de 65 anos com dores nas costas ou perda de, pelo menos, cerca de 3 centímetros de altura do corpo sem explicação; ❖ Pessoas cujos ossos parecem finos na radiografia ou cuja radiografia mostre fraturas por compressão vertebral; ❖ Pessoas com risco de desenvolver osteoporose secundária. Exames laboratoriais gerais Alguns exames devem ser realizados para se afastar causas secundárias de perda de massa óssea. MARCADORES BIOQU ÍMICOS DO METABOL ISMO ÓSSEO • Podem ser utilizados na monitorização da osteoporose. São divididos em marcadores de formação e de reabsorção óssea. Os marcadores mais sensíveis e específicos para osteoporose estão escritos em negrito. • Os marcadores de formação óssea incluem a fosfatase alcalina total e fração óssea (FAL-O), a osteocalcina (OC) e os propeptídeos carboxil ou amino-terminais do colágeno tipo I. A FAL-O é uma enzima produzida somente pelos osteoblastos e essencial para a mineralização óssea. • A OC é um pequeno peptídeo do colágeno com função ainda desconhecida, é sintetizada pelos osteoblastos para ser incorporada na matriz óssea recém-formada. Uma fração da OC recentemente liberada entra em circulação e pode ser medida por radioimunoensaio. • Os propeptídeos carboxil ou aminoterminais do procolágeno tipo I são liberados pela molécula de colágeno I antes da incorporação em fibrilas da matrix do colágeno. Podem ser medidos no soro por imunoensaio. • Os marcadores da reabsorção óssea mais utilizados são produtos da degradação do colágeno. Os 7 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 interligadores (cross-links) do colágeno tipo I, N- telopeptídeo (NTx) e C-telopeptídeo (CTx), são produtos da degradação do colágeno tipo I e podem ser medidos por imunoensaio na urina e atualmente também no soro. • A piridinolina e a deoxipiridinolina (DPD) são covalentes interligadores (cross-links) encontrados no colágeno tipo I, liberados durante a reabsorção óssea, metabolizados e encontrados na urina livres ou ligados a peptídeos. • A fosfatase ácida tartarato- resistente (TRAP) é uma enzima liberada pelos os teoclastos e também derivada dos eritrócitos. Sua utilidade é limitada, uma vez que ela não é estável no soro, mesmo quando congelada. • Atualmente, os melhores marcadores para reabsorção óssea são DPD e NTx ou CTx23. • É importante lembrar que esses marcadores apresentam grande variabilidade no dia-a-dia, em especial quando medidos na urina, onde podem chegar a 30% no mesmo indivíduo em condições basais. Além disso, os níveis de marcadores bioquímicos, sobretudo os de formação, variam ao longo do ciclo menstrual, sendo mais elevados durante a fase lútea comparativamente à fase folicular. Exame de densidade óssea • Costuma ser diagnosticada pela medida da DMO, que reflete o conteúdo de cálcio nos ossos e substitui a medida da massa óssea. • A osteoporose estápresente quando a DMO equivale a mais de 2,5DP abaixo dos níveis encontrados na população de controle de indivíduos adultos jovens (pico da densidade óssea); • A osteopenia está presente quando a DMO cai e permanece no intervalo de -1 a -2,5 DP; Diversas modalidades de determinação da densidade óssea são utilizadas, entre as quais: DEXA A densitometria óssea de dupla emissão com fonte de raio X (DEXA) ainda é o padrão de referência para diagnóstico, monitorização e investigação clínica do paciente com osteoporose. • Maior acurácia e precisão do que qualquer outro método densitométrico e atualmente é a ferramenta diagnóstica preferida pela maioria das autoridades. • O escore T representa o número de DP com que a DMO do paciente cai acima ou abaixo do valor médio para indivíduos jovens normais no pico de densidade óssea. É melhor como indicador de risco de desenvolvimento de fraturas. • O escore Z consiste no número de DP com que a DMO do paciente cai acima ou abaixo do valor médio para indivíduos da mesma idade e sexo do paciente. • Os bancos de dados de valores de referência para densidade óssea atualmente são disponibilizados somente para indivíduos brancos e afro- americanos. • Os sítios mais comumente medidos por DEXA são o fêmur proximal (quadril) e a espinha lombar (coluna). Seguida por regiões periféricas: antebraço distal. Na coluna lombar, as vértebras são medidas individualmente, assim como a média da DMO de L1 a L4. • Cada DP abaixo do pico de massa óssea representa uma perda de 10 a 12% do conteúdo mineral ósseo e corresponde a um aumento 8 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 aproximado de 2 a 2,5 vezes do risco de desenvolvimento de fratura no sítio em questão. • OBS: Outros fatores além da densidade óssea exercem papéis importantes no risco de fraturas, tal como a qualidade óssea (microarquitetura e resistência). • A medida da DMO pela DEXA é o melhor fator preditivo para o risco de fratura da coluna e do quadril. Indicação de DMO (OMS): ❖ M com 65 anos ou mais; ❖ H com 70 anos ou mais; ❖ M na pós menopausa, com menos de 65 anos, e homens (50-70 anos) com fatores de risco. ❖ Adultos com fraturas de fragilidade; ❖ Adultos em uso de medicações associadas à baixa massa óssea ou a perda óssea; ❖ Pacientes em que a terapia farmacológica esteja sendo considerada; ❖ Pacientes em tratamento, a fim de monitorar a eficácia da terapêutica; ❖ Pacientes que não estejam em tratamento, nos quais a evidência de perda óssea poderia indicar tratamento. Avaliação das fraturas vertebrais Como a maioria das fraturas vertebrais é assintomática, a radiografia da coluna vertebral deve ser realizada para esse diagnóstico. A radiografia da coluna torácica (T4-T12) e da coluna lombar (L1-L4), em perfil, devem ser realizadas nos pacientes em investigação para osteoporose, no sentido de identificar fraturas vertebrais assintomáticas. Utiliza-se análise semiquantitativa de Genant para a classificação das fraturas vertebrais: • Grau I ou deformidade leve: redução de 20 a 25% do corpo vertebral; • Grau II ou fratura moderada: redução de 25 a 40% do corpo vertebral; • Grau III ou fratura grave: redução de >40% do corpo vertebral. Outros exames: Tomografia computadorizada quantitativa (TCQ); ultrassonografia. Prevenção e tratamento da osteoporose • O objetivo do tratamento da osteoporose é reduzir o risco de fratura. O tratamento ideal é o preventivo, uma vez que nenhuma terapia restaura plenamente a massa óssea perdida. Ele baseia-se na otimização do pico de massa óssea na juventude, por impedir, sempre que possível, a perda da massa óssea, preservando assim a integridade estrutural do esqueleto. • A terapêutica da osteoporose também pode envolver o tratamento de fraturas e doenças subjacentes. • Basicamente consiste de: medidas não farmacológicas, adequação do aporte de cálcio e vitamina D e medidas farmacológicas. Não farmacológico ❖ Nutrição: A dieta para tratamento (ou prevenção) de osteoporose inclui: ingestão adequada de calorias (evitar desnutrição), cálcio e vitamina D. A presença de oxalatos (frutas ou vegetais), fitatos (cereais e farinhas) em excesso, tetraciclina e sulfato ferroso, deficiência de vitamina D, dificultam a absorção adequada do cálcio. O excesso de sódio, proteínas e uso de diuréticos (não tiazídicos) aumentam a excreção renal, piorando o balanço de cálcio no organismo. As carnes e os alimentos industrializados (congelados, enlatados e refrigerantes a base de cola), apresentam grande quantidade de fosfatos que, se presentes no lúmen intestinal, podem formar cristais com cálcio, impedindo a sua absorção. ❖ Cessar álcool e tabagismo: constituem dois fatores de risco para OP, contribuindo para a perda da massa óssea e para fraturas, parecendo ser os seus efeitos deletérios aditivos para a massa óssea. ❖ Exercícios: Nos indivíduos idosos, o exercício pode reduzir a taxa de perda óssea e melhorar a saúde e a força muscular contribuindo para a prevenção de quedas e para menor risco de fraturas. Indivíduos assintomáticos com densidade mineral óssea normal e/ou osteopenia leve têm um menor risco de fratura e podem ser orientados para um exercício mais intenso que ajudará a manter a massa óssea. Pacientes com osteoporose e/ou história de fratura atraumática apresentam maior risco e o 9 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 exercício intenso, pode teoricamente causar mais fraturas. Assim, em indivíduos idosos com osteoporose, o foco primário para a atividade física será minimizar o trauma mais do que construir massa óssea. ❖ A inatividade física, a instabilidade postural e a fraqueza muscular são fatores que contribuem independentemente para o risco de fratura. ❖ Aporte de cálcio e vitamina D: de modo geral, a quantidade de cálcio ingerida diminui com o avançar da idade, e sua absorção declina após os 70 anos. A deficiência de cálcio estimula a secreção de PTH, ocasionando um hiperparatireoidismo secundário que aumenta a reabsorção óssea. ❖ Carbonato de cálcio: É o suplemento mais recomendado devido a baixo custo. A sua absorção é melhor quando é administrada juntamente com as refeições, já que os alimentos estimulam a secreção gástrica e retardam o esvaziamento gástrico, facilitando a solubilização do sal. Efeitos colaterais mais comuns: flatulência e a constipação intestinal. O risco de nefrolitíase deve ser avaliado nos pacientes com história de calculose prévia e na presença de hipercalciúria. ❖ Reduzir consumo de cafeína e álcool. ❖ Prevenção de quedas; Farmacológico As medicações utilizadas para prevenção e/ou tratamento da osteoporose podem ser classificadas como: anti-reabsortivas ou anticatabólicas (diminuem a remodelação óssea preservando a microarquitetura esponjosa e cortical). O aumento da massa óssea é geralmente discreto. ❖ Indicação presença de fratura por fragilidade, independente do T score; ❖ Estimuladores da formação óssea: Teriparatida. ❖ Inibidores da reabsorção óssea: Bifosfonatos (escolha), estrogênios, calcitonina, modulares seletivos dos receptores de estrógeno (SERM), denosumab. Indicações do tratamento A decisão do tratamento do paciente com osteoporose baseia-se na análise do risco de fratura, na eficácia e na tolerância das medicações. Pacientes com fraturas prévias e fragilidade A história de uma fratura por fragilidade óssea indica a necessidade de tratamento medicamentoso. As fraturas vertebral e do quadril deveriam sempre ser tratadas, já que o risco de uma nova fratura vertebral é muito alto, ao redor de 20% nos 12 meses seguintes. O tratamento de primeira-linha são os bisfosfonatos. O ranelato de estrôncio, o raloxifeno e os estrógenos representam medicaçõesalternativas, sobretudo em mulheres mais jovens. A calcitonina é outra opção, embora a evidência de eficácia seja limitada. Embora a avaliação da DMO não seja necessária para decisão do tratamento nos pacientes que apresentam fratura por fragilidade vertebral e de fêmur, esse é o exame normalmente solicitado. Dada a dificuldade de interpretação, se uma fratura de antebraço é causada por fragilidade, a medida da DMO em coluna lombar e fêmur é necessária para orientar a conduta terapêutica. O benefício da terapia da osteoporose estabelecida é limitado se a expectativa de vida é curta. Em qualquer opção de tratamento, a oferta de cálcio e vitamina D deve ser adequada. Pacientes sem fraturas As mulheres que apresentam T score abaixo de -2,5 DP na densitometria óssea de coluna lombar ou quadril têm osteoporose e devem ser tratadas, a menos que a expectativa de vida delas seja curta ou o risco de fratura seja baixo. Por exemplo, mulheres com mais de 80 anos de idade, sem risco adicional para fraturas, podem ser tratadas só com cálcio e vitamina D. O tratamento de mulheres com osteopenia (T score entre -1 e -2,5 DP) é mais polêmico. A decisão de tratar ou não se baseia no risco de fratura do indivíduo e depende da magnitude do déficit em DMO e de fatores de risco aditivos, como idade, história materna de fratura de quadril, baixo peso corpóreo, risco de quedas e aumento da reabsorção óssea avaliada por um marcador do metabolismo ósseo. Avaliação do tratamento Ao se avaliar a eficácia das diferentes terapias, é importante considerar como a resposta será monitorada. Há várias abordagens para monitoração 10 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 da terapia. A medida de DMO em coluna e fêmur pode ser repetida depois de 1 ano de tratamento. Se existe diminuição significativa em ambos os locais depois de 1 ano, a terapia deve ser modificada. Se existe perda em um local e nenhuma mudança ou aumento no outro local, as medidas da DMO devem ser repetidas em 1 ano. A abordagem recomendada é a combinação da medida de marcadores do metabolismo ósseo com medida de DMO. Antes do início do tratamento, são medidos a DMO e um marcador de reabsorção óssea. Após 3 a 6 meses, deve ser repetida a medida do marcador de reabsorção óssea. A diminuição do marcador de reabsorção superior a 30% do valor basal indica que a medicação está provavelmente tendo o efeito desejado, e terapia deve ser continuada por 1 ano, quando a densidade mineral óssea deve então ser repetida. A avaliação da fratura é feita em toda consulta por meio da anamnese e da medida da estatura. A radiografia de coluna toracolombar é realizada sempre que se consta redução maior ou igual a 3 cm na estatura do paciente e após 3 anos para todos os pacientes. A densitometria óssea é realizada anualmente, e o CTx em todas as consultas. Osteomalácia A osteomalácia é o amolecimento dos ossos, frequentemente atribuído a deficiência de vitamina D. Os ossos não conseguem ter a quantidade de cálcio suficiente para manter a sua estrutura rígida. Lembrar: a vitamina D é fundamental na homeostase do cálcio. • Condição em que a matriz óssea é quantitativamente normal, mas está enfraquecida devido ao conteúdo mineral insuficiente. • A osteomalácia que ocorre no esqueleto em crescimento é denominada raquitismo. • As causas da osteomalácia incluem as deficiências nutricionais de cálcio, fosfato ou vitamina D; doença intestinal afetando a absorção destas substâncias; anormalidades do metabolismo da vitamina D, como aquelas observadas na doença hepática, insuficiência renal ou com o uso de fármacos antiepiléticos; resistência à vitamina D; vazamento de fosfato renal; e osteomalácia oncogênica. • Em adultos, a osteomalácia severa manifesta-se como fadiga, enfraquecimento da musculatura proximal e dor esquelética focal ou difusa. A osteomalácia branda é comum e muitas vezes assintomática. DIAGNÓSTICO • Concentrações reduzidas ou normais-baixas tanto de cálcio como de fósforo são detectadas pelos exames bioquímicos. A concentração de fosfatase alcalina está elevada. Dependendo da causa, níveis diminuídos de 25-(OH)D3 ou de calcitriol podem ser observados. • As radiografias podem demonstrar a existência de osteopenia e pseudofraturas. Quando necessário, o diagnóstico pode ser confirmado por meio do processamento seguido da análise de uma biópsia óssea por um patologista de ossos experiente. TRATAMENTO • Depende da patogênese da condição. Na maioria dos casos em que o problema reside na insuficiência dietética ou na má absorção de vitamina D, a administração de altas doses de colecalciferol e cálcio corrige os déficits rapidamente e promove a cura óssea. Doença de PAGET É um distúrbio do remodelamento ósseo que resulta na formação de osso desorganizado, aumentado ou deformado. Diferentemente da osteoporose, a doença de Paget se limita, em geral, a um ou poucos ossos. Os pacientes podem sentir dor óssea, ter ossos deformados ou fraturas. Os ossos começam a ter um processo de deposição óssea desorganizado, o que gera essas deformidades, como a mostrada na foto (ossos da canela/joelhos danificados). • Condição relativamente comum, em que a função osteoclástica anormal leva ao remodelamento ósseo acelerado e desordenado, produzindo uma 11 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 microarquitetura óssea altamente desorganizada nas áreas afetadas. • Incide em faixa etária avançada, em geral acima dos 50 anos, mono ou poliostótica. Nas fases iniciais desta doença, há considerável aumento da circulação arterial intraóssea que, por ser ativa, arterial, há acentuada reabsorção óssea com lesões radiológicas e anatomopatológicas que apresentam caracteres da chamada “osteoporose circunscrita”, mais frequente no crânio, pelve, fêmur e tíbia. Nesta fase poderão ocorrer fraturas pela maior fragilidade dos ossos. • Os sintomas mais frequentes são dor e desconforto na área comprometida. • É doença de evolução lenta com deformidades e, pelo progressivo aumento da densidade dos ossos que assumem consistência pétrea. O substrato anatomopatológico evidencia desordem nos mecanismos de aposição e reabsorção dos ossos. • Em alguns casos, a doença acarreta a deformação dos ossos afetados, aumento da vascularização, síndrome de esmagamento de nervo e propensão a fraturas. • A doença de Paget é comumente observada em idosos e pode ser familiar. • Muitas pessoas que sofrem da doença de Paget são assintomáticas. A manifestação isolada pode ser a atividade de fosfatase alcalina sérica aumentada, detectada incidentalmente pelo exame de sangue. Se a doença for severa ou extensiva, o paciente pode desenvolver síndromes de dor. • Com bastante frequência, a origem do desconforto não é o osso em si, mas as alterações artríticas que ocorrem nas articulações adjacentes em decorrência das alterações biomecânicas. • O crânio pode sofrer ampliação, ou os ossos longos das pernas podem se tornar bastante encurvados. • O supercrescimento ósseo pode levar ao esmagamento local junto às raízes nervosas espinais, gerando dor ou déficits neurológicos. • O supercrescimento dentro da orelha interna pode resultar em perda auditiva sensorioneural. • Entre as complicações raras, estão a insuficiência cardíaca crônica de alto débito (decorrente de múltiplos shunts vasculares no osso) e a transformação em osteossarcoma. DIAGNÓSTICO • Estabelecido após a obtenção do achado de elevação isolada dos níveis séricos de fosfatase. • O fracionamento das isozimas da fosfatase alcalina pode confirmar o papel do osso como fonte. • Uma varredura óssea nuclear é realizada em seguida, para identificar as áreas envolvidas e que posteriormente devem ser avaliados porradiografia simples para exclusão dos sinais de doença metastática e confirmação dos achados indicativos da doença de Paget. TRATAMENTO • Indicado para pacientes com dor óssea. Este tratamento também é indicado, independentemente dos sintomas, diante do envolvimento de um osso de sustentação de carga ou de uma articulação. • Os agentes antirreabsortivos: bisfosfonatos injetáveis ou orais em altas doses ou a calcitonina injetável, podem ser utilizados. • O tratamento de qualquer deficiência de vitamina D é essencial antes da instituição da terapia endovenosa com bisfosfonato, a fim de evitar a hipocalcemia. • A atividade da doença e a resposta à terapia são avaliadas pela medida seriada da fosfatase alcalina ou de outros marcadores de renovação óssea. • A meta do tratamento consiste na normalização da fosfatase alcalina. • A repetição do tratamento é indicada, se os níveis de fosfatase alcalina começarem a subir além do normal. Abordagem ao paciente com dor e MMII • O diagnóstico da causa da dor nos MMII é fundamentado na história e nos elementos do exame físico centrado especialmente nos aspectos ortopédicos, reumatológicos, fisiátricos, neurológicos vasculares e psíquicos. ▪ ORIGEM NEUROPÁTICA: A dor lancinante, em pontada ou choque que se instala subitamente na região lombar e que se irradia ao longo dos MMII. 12 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 ▪ ORIGEM ESPINHAL: Quando agrava-se durante a tosse, espirro e aumento da pressão intra- abdominal (detrusão vesical e fecal). ▪ SECUNDÁRIA A LESÕES VERTEBRAIS: Quando agravada durante a movimentação da coluna lombossacral. ▪ ORIGEM MUSCULOESQUELÉTICA: A dor que é circunscrita e irradiada em territórios que não obedecem a distribuição dos nervos periféricos e que é agravada durante movimentação. ▪ ORIGEM VASCULAR: Associa-se a alterações da cor e temperatura do tegumento e anormalidades dos pulsos periféricos, a lesões distróficas e edema que se modificam com as alterações da temperatura, com a marcha e com a posição dos MMII. • EXAME FÍSICO: Todos os segmentos dos MMII devem ser inspecionados para aferir-se a ocorrência de anormalidades morfológicas (cor, textura, umidade, características e distribuição dos pelos, ocorrência de dilatações venosas, lesões tróficas incluindo úlceras, deformidades e pigmentação, dificuldade para a execução e coordenação dos movimentos e alterações do equilíbrio). • Com o doente na posição de decúbito dorsal, deve- se realizar inspeção das saliências musculares e óssea, a palpação dos pulsos periféricos, a movimentação das articulações a mensuração da circunferência dos vários segmentos que compões os MMII. Fratura em osso patológico ❖ Toda fratura é patológica. No entanto, quando a fratura decorre em virtude de alteração pregressa da estrutura óssea, deve ser designada “fratura em osso patológico”, independentemente da natureza do processo que a desencadeou. ❖ Displasias Ósseas: Qualquer alteração da morfologia óssea, congênita ou hereditária, pode provocar deformidades e ou fraturas. Ex. Osteopsatirose, Osteopetrose, Displasia fibrosa. ❖ Alterações metabólicas: Para a mineralização da matriz, são necessários adequados aporte alimentar de minerais, principalmente cálcio e fósforo, além de magnésio e zinco. Para a reabsorção, os osteoclastos produzem enzimas que possibilitam a dissolução da matriz e a solubilização dos minerais, sob ação do hormônio da paratireoide. Alterações de qualquer um dos elementos que contribuem para alterar o “turnover”, acarretarão doenças ósseas metabólicas, principalmente as seguintes: Osteoporose,Osteomalácia, Hiperparatireoidismo. ❖ Distúrbios Circulatórios: Os distúrbios circulatórios podem ser gerais, relacionados à circulação sanguínea provocados por alterações cardíacas, arteriais ou venosas e locais, como a congestão, tromboses, embolias e infartos. O exemplo mais significativo de distúrbio da circulação sanguínea intraóssea ocorre na Doença de Paget também conhecida como Osteíte deformante. ❖ Inflamações: As inflamações intraósseas dividem-- se em inespecíficas (não se identifica o agente etiológico) e específicas (identifica-se a etiologia como na TB). ❖ Neoplasias: Os tumores que acometem ossos dividem-se em três grandes grupos: primitivos, secundários ou metástases e lesões pseudo- neoplásicas. Independentemente de serem benignos ou malignos, podem acarretar fraturas, na dependência da agressividade de comprometimento da estrutura óssea. Ossos com maior sobrecarga, com as vértebras e os do membro inferior são mais sujeitos a fraturas do que os demais. DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM Depressão e ansiedade em pacientes com dor crônica ❖ Do ponto de vista psiquiátrico, tal associação pode ocorrer quando o transtorno mental: (1) provoca o aparecimento de condições físicas que causam dor; (2) piora a condição dolorosa, evento comum nos quadros de depressão; (3) é secundário ao aparecimento de dor física, propiciando condições para que o transtorno psiquiátrico aflore; ou (4) pode apresentar como queixa a dor. ❖ A classificação fisiopatológica da dor envolve três categorias, a saber: dor neuropática, com lesão primária ou disfunção do sistema nervoso central e/ou do sistema nervoso periférico; dor nociceptiva ou somática, caracterizada pela ativação contínua dos nociceptores por lesão tecidual; dor mista, em que ambos os componentes estão presentes, sendo este o tipo de dor mais frequente. ❖ Se sabe que dor e depressão são fenômenos que se retroalimentam. A patogênese refere mecanismos 13 Beatriz Machado de Almeida Osteoporose – Caso 5 de neurotransmissores comuns e áreas cerebrais comuns envolvidas nos dois fenômenos. Essa correlação é evidenciada na dor do tipo neuropática e do tipo mista. ❖ Deficiência de neurotransmissores, alterações nos receptores, transtorno dos ritmos biológicos, anormalidades neuroendócrinas, imunológicas e fatores genéticos são justificativas para a ocorrência da depressão em doentes com dor crônica. ❖ Dor e depressão envolvem mecanismos bioquímicos similares que podem resultar em menor disponibilidade de neurotransmissores no SNC, incluindo o aminas como a 5-HT, a (Nadr) e a dopamina; o ciclo vicioso dor-depressão-dor envolveria a hipoatividade de 5-HT e de Nadr e comprometeria a atividade do sistema inibidor. ❖ Parece haver relação entre a menor atividade dos neurotransmissores opióides endógenos e depressão em doentes propensos a apresentar dor. ❖ A hipoatividade serotoninérgica aumenta a sensibilidade à dor; os antidepressivos (ADs) com atividade serotoninérgica são eficazes no tratamento da dor.
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