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1 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo CONCEITO Osteoporose é uma doença esquelética caracterizada pelo comprometimento da resistência óssea, predispondo o indivíduo a fraturas. O termo osteopenia refere-se à diminuição da massa óssea, e a osteoporose é definida como a osteopenia que é grave o suficiente para aumentar significativamente o risco de fratura. A resistência óssea resulta da integração entre a densidade óssea e a qualidade do osso. A densidade óssea é expressa em gramas de mineral por área ou volume, e em um dado indivíduo, é determinada pelo pico de massa óssea e pela quantidade de perda óssea. A qualidade óssea depende da arquitetura, do remodelamento ósseo, do acúmulo de lesão (microfraturas) e da mineralização. Organização Mundial da Saúde (OMS) oferece uma definição operacional da osteoporose como uma densidade óssea que cai em 2,5 desvios-padrão (DPs) abaixo da média para adultos jovens sadios do mesmo sexo – também denominado como um escore T de –2,5. As mulheres na pós-menopausa que caem para a extremidade inferior da faixa normal dos jovens (um escore T < –1,0) são definidas como tendo densidade óssea baixa e também têm risco aumentado de osteoporose. EPIDEMIOLOGIA As fraturas mais comuns associadas à osteoporose são as de quadril, coluna e punho, sendo que a frequência das 2 primeiras aumenta com a idade tanto em homens como mulheres e são, sem dúvida, mais graves que a de punho. A prevalência de osteoporose está aumentando de acordo com o envelhecimento populacional mundial. É estimado que por volta de 40% das mulheres brancas norte-americanas e 13% dos homens brancos norte-americanos com 50 anos de idade apresentarão pelo menos uma fratura clínica por fragilidade no decorrer de suas vidas. Essas fraturas acontecem com mais frequência no inverno e tendem a ocorrer principalmente dentro de casa. Acredita-se que essas fraturas ocorram sobretudo no inverno, secundárias à deficiência de vitamina D que ocorre em virtude da baixa exposição solar ou por hipotermia, levando à alteração da coordenação neuromuscular. As fraturas do rádio distal, também denominadas do antebraço distal, são as fraturas mais comuns nas mulheres no período perimenopausa. FATORES DE RISCO DA OP NA MENOPAUSA → Idade → Sexo feminino → Etnia branca ou oriental → História prévia pessoal e familiar de fratura 2 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo → Baixa DMO do colo de fêmur → Baixo índice de massa corporal. A perda óssea é mais lenta em mulheres obesas, provavelmente por causa dos altos níveis de estrogênio oferecidos pela produção através da aromatização no tecido adiposo. → Uso de glicocorticoide oral (dose ≥5,0 mg/dia de prednisona por período superior a três meses) → Fatores ambientais, inclusive o tabagismo, ingestão abusiva de bebidas alcoólicas (≥ três unidades ao dia) → Inatividade física → Baixa ingestão dietética de cálcio (mulheres na adolescência tendem a ingerir menos cálcio que meninos) → Baixa ingestão de cálcio, alta ingestão de sal → Diabetes Mellitus I e II → Adiposidade central → Menopausa precoce → Tamoxifeno (uso na pré-menopausa) → Hormônios tireoidianos (em excesso) → As doenças crônicas que elevam o risco de quedas ou de fragilidade, incluindo a demência, a doença de Parkinson e a esclerose múltipla, também aumentam o risco de fratura. CLASSIFICAÇÃO Primária (pós menopausa e senil): o Associada ao envelhecimento natural o Tipo I: mulheres na pós menopausa, perda óssea acelerada, acomete mais o osso trabecular; o Tipo II: idosos, perda óssea lenta, acomete osso trabecular e cortical; Secundária: o Associada a doenças/condições que aceleram a perda óssea. FISIOPATOLOGIA A patogênese da osteoporose, primária ou secundária, é complexa e influenciada por fatores não hereditários ou ambientais e hereditários ou genéticos. Para bem entendê-la é necessário atualizar-nos em relação aos componentes do tecido ósseo, que são encarregados do processo dinâmico de modelação/remodelação óssea. → Osteoblastos: células formadoras de osso, podem permanecer como células de revestimento (osteoblastos inativos) ou se transformar em osteócitos. São compactados na superfície óssea, sintetizando e secretando a matriz óssea (osteoide). Regulam a mineralização óssea secretando a fosfatase alcalina e um conjunto de proteínas conhecidas como proteínas da matriz da dentina (DMP-1) e a sialoproteína óssea, que atuam como núcleos de mineralização. Secretam também osteocalcina e osteonectina, que são proteínas que permitem a ligação ao cálcio e ao fosfato, promovendo a deposição de minerais. A vitamina D e o hormônio paratireoide (PTH) estimulam os osteoblastos a 3 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo secretar o M-CSF e a expressar o RANKL, que são importantes para regular a osteoclastogênese. → Osteócitos: representam 90% de todas as células ósseas e são derivados dos osteoblastos. Sua função principal é a mecanossensibilidade. Detectam a carga mecânica por meio da deformação física da matriz óssea e da tensão de cisalhamento, resultante do fluxo do fluido canalicular através da rede lacunar e canalicular. Atuam como orquestradores da remodelação óssea, sendo considerados como verdadeiras células endócrinas. Normalmente não expressam fosfatase alcalina, mas expressam osteocalcina e outras proteínas da matriz óssea. Secretam FGF23 para regular os níveis séricos de fosfato, diminuindo a expressão de cotransportador renal e intestinal de sódio e fosfato e consequentemente aumentam a excreção renal de fosfato pelos rins. → Osteoclastos: são células multinucleadas originadas a partir de células mononucleares, monócitos/macrófagos. RANKL M-CSF são duas citocinas que são críticas para a formação de osteoclastos através da estimulação de precursores de osteoclastos, que proliferam e se diferenciam em osteoclastos maduros. Promovem a reabsorção óssea através da secreção de íons hidrogênio, fosfatase ácida resistente ao tartarato (TRAP) e a enzima catepsina K. Os íons hidrogênio acidificam o compartimento de reabsorção sob a “borda em escova” dos osteoclastos dissolvendo o componente mineral da matriz óssea, enquanto a catepsina K e a fosfatase ácida resistente ao tartarato (TRAP) digerem a matriz proteica, composta principalmente de colágeno tipo I. O PTH estimula a atividade osteoclástica que é inibida pela calcitonina. A DMO em adultos é determinada pela magnitude da aquisição óssea durante a adolescência e início da idade adulta, e a taxa de perda óssea que se segue depois. A massa óssea depende do pico de formação e da subsequente perda. O pico de massa óssea representa a quantidade de osso adquirida no período de crescimento do esqueleto e sofre influências genéticas, como demonstram as diferenças raciais, outros fatores que influenciam a massa óssea máxima são dieta (especialmente a ingestão dietética de cálcio), exercício físico e época da puberdade. Um pico de massa óssea insuficiente na infância e na adolescência é importante para o desenvolvimento da osteoporose. Depois que o pico de massa óssea é alcançado, a DMO permanece estável por anos e, então, começa a declinar por conta do predomínio da reabsorção sobre a formação, resultando em diminuição da massa óssea. A remodelação esquelética é um processo finamente orquestrado de reabsorção óssea e formação subsequente. É uma função fisiológica necessária que resulta na reparação do osso danificado e redistribuição do esqueleto a fim de se adaptar às mudanças do estresse mecânico e fornecer cálcio à circulaçãosistêmica para processos celulares fundamentais. Evidências recentes sugerem que o osteócito, que representa 90% a 95% de todas as células do osso, é a célula crítica que regula a reabsorção e a formação. Os osteócitos são derivados de osteoblastos que são incorporados dentro da matriz óssea. Durante essa fase de maturação, essa célula “osteoide-osteócito” segrega ativamente e calcifica material de matriz óssea. Além disso, os osteócitos maduros dentro do osso contêm processos dendríticos que podem regular diretamente o recrutamento de osteoblastos e formação óssea. Estudos recentes também sugerem que os osteócitos maduros podem formar osso novo dentro das 4 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo suas lacunas. Ainda, os osteócitos produzem proteínas que regulam a mineralização, incluindo fatores positivos (PHEX, DMP-1) (FGF-23) e negativos. Os osteócitos também regulam a reabsorção óssea, tanto diretamente, através de apoptose na proximidade de microfissuras esqueléticas ou danos por fadiga com necessidade de reparação, quanto indiretamente, através do aumento do desenvolvimento dos pré-osteoblastos ou das células estromais mesenquimais (MSCs, do inglês, mesenchymal stromal cells). (As MSCs também podem se diferenciar em adipócitos, condrócitos e células musculares, dependendo dos estímulos de desenvolvimento.) Esses acontecimentos resultam na produção, expressão e liberação de citocinas críticas para o recrutamento e desenvolvimento de osteoclastos, incluindo a interleucina-1 (IL-1), interleucina-6 (IL-6), osteoprotegerina (OPG), e ligante do receptor do ativador de fator nuclear κB (RANKL). O receptor cognato para RANKL, RANK, é expresso sobre a superfície dos osteoclastos maduros e em desenvolvimento, que em si é um derivado de células da linhagem monócito-macrófago. O RANKL é um determinante crítico do recrutamento, desenvolvimento e sobrevivência dos osteoclastos, de tal modo que a interrupção da sinalização RANKL resulta em distúrbios de fragilidade de osso de elevada densidade (p. ex., osteopetrose). A OPG, que também é produzida pelos pré-osteoblastos, é um receptor chamariz para o RANK que se liga ao RANKL, impedindo o RANKL de se ligar ao RANK e, assim, servindo como um supressor endógeno da função dos osteoclastos. Em essência, o RANKL/OPG representam um paradigma “yin/yang” no qual a biologia dos osteoclastos e a reabsorção óssea estão intrinsecamente reguladas e controladas. RANKL expresso por células da linhagem dos osteoblastos liga-se ao RANK na superfície dos pré-osteoclastos e osteoclastos maduros, resultando no aumento da reabsorção óssea através de um aumento da diferenciação de osteoclastos, da atividade e sobrevida. A osteoprotegerina (OPG) é um receptor chamariz, também produzido pelos osteoblastos, que 5 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo se liga ao RANKL, impedindo o RANKL de se ligar ao RANK e assim inibir a reabsorção óssea pelos osteoclastos. É o balanço de RANKL e OPG que determina a taxa final de reabsorção óssea. As mudanças biológicas, tais como menopausa e envelhecimento, doença sistêmica, vícios pessoais e medicamentos (mais notavelmente glicocorticoides), podem contribuir para esse desequilíbrio. Além disso, há evidências de que fatores genéticos também influenciam as taxas de perda óssea e fraturas. No entanto, os estudos que procuram identificar genes específicos que estão associados a taxas aceleradas de perda óssea têm sido inconsistentes até esta data, incluindo aqueles que identificaram o gene do colágeno (COL1A1), gene do receptor de vitamina D (VDR), o gene receptor do estrogênio 1 (ESR1), interleucina-6 (IL-6) e o alelo da apoproteína AOE*4 como potenciais candidatos. Essa inconsistência pode ter origem na insuficiência de conjuntos de dados que não têm medidas repetidas de densidade óssea. Curiosamente, existe uma hereditariedade bastante robusta do início da menarca e menopausa, talvez em paralelo com as observações sobre ESR1 e IL-6 (cuja produção é suprimida pelo estrogênio) e apoiando as vias hormonais como um alvo potencial da perda de massa óssea geneticamente mediada. O declínio dos níveis circulantes de fator do crescimento semelhante à insulina-I também ocorre com o envelhecimento, que pode inibir a produção de MSCs e pré-osteoblastos, além de limitar a expansão do osso periosteal. O último é um processo adaptativo ao envelhecimento normal, que aumenta o tamanho do osso, mais nos homens do que nas mulheres, de certo modo atenuando o aumento observado no risco de fratura com o envelhecimento. A perda óssea nas décadas seguintes também é causada por níveis mais baixos de 25- hidroxivitamina D (25[OH]D), relacionada com a restrição da exposição solar e a uma capacidade reduzida de gerar pré-vitamina D na pele com o envelhecimento, assim como o consumo limitado de vitamina D e cálcio. Níveis baixos de vitamina D resultam em hiperparatireoidismo secundário, que acelera a perda de osso cortical, bem como em um aumento provável do risco de quedas. O aumento da adiposidade da medula óssea é também inverso e significativamente correlacionado com a perda óssea relacionada com o envelhecimento. Esse processo provavelmente reduz a formação de osso através da produção de menos precursores de osteoblastos, que partilham uma linhagem mesenquimatosa comum de células-tronco com adipócitos. Os esteroides sexuais desempenham um papel protetor do metabolismo ósseo. O estrógeno inibe a formação e a atividade osteoclástica, aumentando a produção da osteoprotegerina (OPG), que bloqueia a ligação entre o receptor ativador do fator nuclear kappa-β (RANK) e seu ligante (RANKL). No climatério, a insuficiência ovariana, sobretudo nos primeiros 5 a 10 anos após a menopausa, leva a um estado fisiológico deficiente de estrógeno, o que ocasiona o aumento do RANKL, a produção de citocinas, I1-1, IL-6, TNF-α, M-CSF e prostaglandinas, o que estimula a diferenciação de precursores de osteoclastos, a ativação e o aumento da sobrevida de osteoclastos maduros, o que leva a um aumento de reabsorção óssea. 6 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo DIAGNÓSTICO CLÍNICO A diminuição da massa óssea é assintomática, sendo a osteoporose uma doença de evolução silenciosa, e o quadro clínico só se torna evidente por ocasião das fraturas, que ocorrem geralmente nas vértebras, terço distal do antebraço, do fêmur e do úmero. A fratura vertebral é a manifestação clínica mais comum da osteoporose. A maior parte das fraturas vertebrais é assintomática e pode ser um achado incidental em radiografias de tórax ou abdome. As fraturas vertebrais sintomáticas cursam com dor, cifose e redução de altura. Reduções de altura > 2 cm no último ano ou > 4 cm em relação à juventude falam a favor de fratura vertebral. Quando presente, a dor da fratura vertebral pode ser leve ou intensa, restrita ao sítio da fratura ou com irradiação para o abdome. Além disso, pacientes com múltiplas fraturas vertebrais podem cursar com redução das cavidades torácica e abdominal, com comprometimento das funções cardíaca, pulmonar e vesical, dificultando a respiração e causando hérnia de hiato e incontinência urinária. Essas alterações vertebrais, em alguns pacientes, podem ocasionar limitação dos movimentos que causam impacto em sua vida diária, como se vestir, sair de casa, além de distorção da consciência do corpo, levando à depressão, ansiedade e redução do bem-estar. As fraturas de quadril são relativamente comuns na osteoporose e decorrem de quedas, podendo ser localizadas em colo ou em região transtrocantérica, esta última mais comumem indivíduos mais idosos. Outro sítio comum de fraturas osteoporóticas é o terço distal do antebraço, causadas por queda sobre a mão. A perda de altura medida, idealmente confirmada utilizando-se um dispositivo calibrado como um estadiômetro, superior a 4 cm de altura máxima no jovem adulto é sugestiva de fraturas vertebrais anteriores. A perda de altura também ocorre com a escoliose e o envelhecimento (cerca de 0,85 cm de altura é perdido por década após a idade de 50 anos). DIAGNÓSTICO LABORATORIAL E DENSITOMETRIA ÓSSEA Exames laboratoriais gerais devem ser utilizados para afastar causas secundárias e excluir outros diagnósticos de perda de massa óssea. Estima-se que 20-30% das mulheres na pós-menopausa e 50% dos homens apresentam causas secundárias que contribuem para a osteoporose, quando submetidos a uma avaliação das causas subjacentes da doença. As principais são hipovitaminose D, doenças hepáticas e renais, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo e hipogonadismo nos homens. Desse modo, uma triagem laboratorial mínima é indicada em todos os pacientes que apresentam massa óssea diminuída e inclui: hemograma, cálcio, fósforo, hormônio da paratireoide (PTH), fosfatase alcalina, 25-hidroxivitamina D (25OHD), creatinina e função tireoidiana. 7 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo O diagnóstico da osteoporose pode ser realizado nas seguintes condições: ▪ A densitometria óssea (DXA) revela uma densidade óssea inferior ou igual a -2,5 desvios- padrão em relação à massa óssea do jovem adulto (T-score). ▪ Na presença de uma fratura considerada de baixo impacto periférica ou vertebral. A fratura vertebral pode ser clínica ou, mais comumente, diagnosticada por radiografia simples ou pela densitometria (vertebral fracture assessment – VFA). O grau de comprometimento da massa óssea, segundo a OMS (1994), é classificado conforme a Tabela. Esses critérios podem ser aplicados a mulheres na pós-menopausa e a homens com idade superior a 50 anos. Em mulheres na pré-menopausa e em homens jovens, utiliza-se o Z-score, que compara a densidade óssea à curva de mesma idade e sexo. Nesta população mais jovem, estabelece o diagnóstico de “baixa massa óssea para a idade” quando o Z-score é menor que -2,0 DP. Os locais mais comumente avaliados densitometricamente são a coluna e o quadril (DXA central), seguidos por regiões periféricas, como antebraço distal. Na coluna lombar, a DXA mede as vértebras individualmente, assim como a média da DMO de L1-L4. Na região do quadril, o colo do fêmur e o quadril total são as regiões de maior interesse clínico. O triângulo de Ward é a região de menor densidade óssea no quadril e é uma área com menor valor preditivo e de menor reprodutibilidade quando comparado com as outras regiões do quadril. O risco de fratura está relacionado não apenas à massa óssea, mas também a vários fatores de risco. No sentido de incorporar outros fatores de risco para predição de fratura independentes 8 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo da DMO, o Centro para Doenças Osteometabólicas colaborador da OMS desenvolveu em 2008 a ferramenta FRAX. Esses fatores incluem fratura por fragilidade prévia, fratura de quadril por fragilidade nos pais, tabagismo, uso de glicocorticoide, artrite reumatoide, osteoporose secundária (diferentes doenças) e uso de três ou mais unidades de bebida alcoólica por dia. No modelo FRAX, o risco de fratura é calculado para mulheres e homens entre as idades de 40 e 90 anos com os seguintes dados: idade atual, índice de massa corpórea (calculado a partir do peso e da altura) e as sete variáveis de risco independentes vistas acima. Este algoritmo, disponível na internet (www.shef.ac.uk/FRAX), permite calcular o risco absoluto de fratura nos próximos 10 anos após a avaliação clínica. MARCADORES DO METABOLISMO ÓSSEO NO SEGMENTO DA OP Os marcadores do metabolismo ósseo podem ser utilizados na monitoração da osteoporose e são divididos em marcadores de formação e de reabsorção óssea. Os marcadores de formação óssea incluem a fosfatase alcalina total e a fração óssea (FAL-O), a osteocalcina (OC) e os propeptídios carboxil ou aminoterminais do colágeno tipo I. A FAL-O é uma enzima produzida somente pelos osteoblastos e essencial para a mineralização óssea. A OC é um pequeno peptídio do colágeno com função ainda desconhecida; é sintetizada pelos osteoblastos para ser incorporada na matriz óssea recém-formada. Uma fração da OC recentemente liberada entra em circulação e pode ser medida por radioimunoensaio. Os propeptídios carboxil ou aminoterminais do procolágeno tipo I são liberados pela molécula de colágeno I antes da incorporação em fibrilas da matriz do colágeno. Podem ser medidos no soro por imunoensaio. Os marcadores da reabsorção óssea mais utilizados são produtos da degradação do colágeno. Os interliga-dores (cross-links) do colágeno tipo I, N telopeptídio (NTx) e C-telopeptídio (CTx), são produtos da degradação do colágeno tipo I e podem ser medidos por imunoensaio na urina e atualmente também no soro. A piridinolina e a deoxipiridinolina (DPD) são covalentes interligadores (cross-links) encontrados no colágeno tipo I, liberados durante a reabsorção óssea, metabolizados e encontrados na urina livres ou ligados a peptídios. A fosfatase ácida tartarato-resistente (TRAP) é uma enzima liberada pelos osteoclastos e também derivada dos eritrócitos. Sua utilidade é limitada, uma vez que ela não é estável no soro, mesmo quando congelada. Atualmente, os melhores marcadores para reabsorção óssea são DPD e NTx ou CTx. Os marcadores do remodelamento ósseo apresentam as seguintes aplicações na prática clínica: Auxiliam no monitoramento da resposta ao tratamento da osteoporose, permitindo uma avaliação mais precoce que a densidade mineral óssea. Espera-se uma queda de 35-55% no http://www.shef.ac.uk/FRAX 9 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo CTX após o tratamento antirreabsortivo e uma elevação de 40% no P1NP com a terapia anabólica, em 3-6 meses de tratamento. São úteis na avaliação da adesão medicamentosa já nos primeiros 3 meses de tratamento. Podem predizer a perda de massa óssea e o risco de fraturas em pacientes com osteoporose. Ainda é controverso se os marcadores do remodelamento ósseo podem ser utilizados para a escolha do tratamento antirreabsortivo ou anabólico. A análise dos marcadores de remodelamento ósseo deve ser criteriosa e considerar algumas limitações: Estes marcadores não são específicos do tecido ósseo e podem sofrer influência de outras doenças. Há diversos ensaios para o mesmo marcador. Os valores de referência não são universalmente definidos. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E NÃO FARMACOLÓGICO NÃO FARMACOLÓGICO O tratamento não farmacológico da osteoporose tem como objetivo instituir medidas que reduzam os fatores de risco modificáveis por meio de dieta e mudanças de estilo de vida, como cessar tabagismo, limitar o consumo de álcool, iniciar programa de exercícios físicos e prevenção de quedas. Além disso, os pacientes devem ser informados/educados sobre a doença e o risco de fraturas. Um padrão alimentar que enfatize a ingesta de frutas, vegetais, grãos integrais, aves, peixes, nozes, legumes e produtos lácteos com baixo teor de gordura e que restrinja a ingestão de refrigerantes, alimentos fritos, carnes, produtos processados, doces, sobremesas e grãos refinados é considerado benéfico para a saúde óssea. O tabagismo é outro fator não farmacológico importante que tem efeito negativo sobre a resistênciaóssea, e o tabagismo atual está associado a aumento do risco de fratura. Em uma metanálise de três estudos prospectivos, com acompanhamento de 75.433 pessoas-ano, o consumo de álcool foi associado de maneira não linear ao aumento do risco de fratura. O consumo de três unidades de álcool ou mais por dia (150 mL de vinho, 45 mL de bebida fermentada e destilada ou 360 mL de cerveja) foi associado, em homens e mulheres, com risco aumentado de qualquer fratura. Prescrever caminhada isoladamente não é suficiente para otimizar a saúde óssea e tem pouco ou nenhum efeito positivo sobre a massa muscular, a força, o equilíbrio e o risco de fratura. Ensaios clínicos controlados e randomizados e metanálises indicam que o treinamento com exercícios físicos com sustentação de peso e/ou treinamento de resistência progressiva (musculação) sozinho ou em combinação (programas multimodais) podem melhorar a saúde óssea dos pacientes com osteoporose. As limitações na capacidade clínica ou funcional podem exigir uma abordagem mais conservadora, com foco especial na otimização da função muscular e aumentando o equilíbrio para reduzir o risco de queda. Os pacientes com alto risco para fratura vertebral devem evitar flexão ventral da coluna vertebral, especialmente quando se levanta uma carga ou carrega um objeto (p. ex., remo, 10 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo levantamento de peso com a coluna flexionada, boliche, trabalhos de casa e de jardinagem, yoga, pilates). Da mesma forma, evitar atividades e exercícios de alto impacto que exigem torção rápida ou ações explosivas ou abruptas (p. ex., golfe e esportes de raquete) e extensão da coluna vertebral. PREVENÇÃO DE QUEDAS Muitas intervenções para a prevenção de quedas são amplamente conhecidas e incluem exercício físico regular (para melhorar o equilíbrio, a força muscular e respostas protetoras em caso de desestabilização), suplementação de vitamina D, ingesta adequada de cálcio na dieta, retirada gradual de psicotrópicos, correção da baixa acuidade visual, uso de sapatos fechados e com sola de borracha, e adequação do cenário em que o idoso vive (instalação de corrimãos em escadas e banheiros, ambientes com iluminação adequada, evitar pisos molhados ou encerados e retirar tapetes soltos no chão). CÁLCIO E VITAMINA D Indivíduos idosos são mais suscetíveis à deficiência de cálcio e vitamina D. Com a senilidade, há um declínio na absorção intestinal de cálcio, redução da síntese renal de 1,25(OH)2D3 e um aumento do catabolismo da 1,25(OH)2D3, contribuindo para a perda óssea relacionada à idade. Como resultado, a deficiência de vitamina D e a hipocalcemia podem levar ainda ao hiperparatireoidismo secundário com aumento da reabsorção óssea. A ingesta adequada de cálcio e vitamina D compõe uma estratégia fundamental na prevenção e no tratamento da osteoporose Recomenda-se a ingesta de cálcio preferencialmente pela dieta, reservando os suplementos nos casos de ingesta insuficiente ou intolerância à lactose. A dieta propicia níveis constantes de cálcio sérico, sem a ocorrência dos picos vistos com a suplementação. Além disso, alguns estudos epidemiológicos apontaram o papel dos suplementos de cálcio sobre a incidência de doenças cardiovasculares. Os sais de cálcio mais estudados são o carbonato e o citrato de cálcio. Quando indicado, o suplemento de escolha é o carbonato de cálcio, por sua maior acessibilidade e baixo custo. O carbonato de cálcio deve ser ingerido, preferencialmente, nas refeições, pois sua solubilidade e posterior absorção dependem da acidez gástrica. Em pacientes com hipocloridria ou litíase renal, opta-se pelo citrato de cálcio, que pode ser tomado perto ou longe das refeições e aumenta a solubilidade do cálcio urinário. Diferentemente do cálcio, as fontes alimentares de vitamina D são escassas, sendo necessária a suplementação, preferencialmente na forma de vitamina D3 (colecalciferol). A suplementação de vitamina D (800 UI/dia), com ingesta adequada de cálcio, foi associada a uma redução de 15 a 20% nas fraturas não vertebrais e a uma redução de 20% na incidência de quedas. Gallagher et al. (2013) relataram que uma dose de vitamina D de 800 UI por dia (associada à ingesta suficiente de cálcio, 1.200-1.400 mg) manteve os níveis de 25OHD superiores a 20 ng/mL em 97,5% das mulheres avaliadas. Os valores ideais de 25OHD variam conforme a idade e os grupos de risco: • Acima de 20 ng/mL: valor desejável para a população saudável até 60 anos de idade. 11 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo • Entre 30-60 ng/mL: níveis recomendados para grupos de risco – idosos, osteoporose, causas secundárias de osteoporose (doenças e medicações), história de quedas, doenças autoimunes, doença renal crônica, síndromes de má absorção e gestantes. • Entre 10-20 ng/mL: níveis baixos, com risco de osteoporose e fraturas. • Menor que 10 ng/mL: níveis muito baixos, com risco de defeitos de mineralização e osteomalácia. • Maior que 100 ng/mL: risco de intoxicação e hipercalcemia. De maneira geral, quando a 25OHD está abaixo de 20 ng/mL, um esquema de ataque é necessário, com 50.000 UI/semana de colecalciferol por 8 semanas. Caso a meta de 25OHD não tenha sido atingida, um novo ciclo pode ser proposto. Após esse período, a dose de manutenção deve ser instituída e varia de acordo com a faixa etária e com as condições de base do paciente. O uso de calcitriol deve ficar reservado para situações especiais, como insuficiência renal crônica, osteomalácia ou má absorção extrema. FARMACOLÓGICO As medicações utilizadas para prevenção e/ou tratamento da osteoporose podem ser classificadas como antirreabsortivas (alendronato, risedronato, ibandronato, ácido zoledrônico, denosumabe, raloxifeno, estrógeno) ou anabólicas (teriparatida). BIFOSFONATOS São medicamentos antirreabsortivos com alta afinidade pela hidroxiapatita óssea, onde se depositam por longos períodos. Os bisfosfonatos podem ser classificados em dois grupos, baseados no seu modo de ação. Os bisfosfonatos que se assemelham ao pirofosfato (ex. clodronato e etidronato) com ação citotóxica na adenosina trifosfato (ATP) e os bisfosfonatos mais potentes contendo nitrogênio (alendronato, risedronato, pamidronato e ácido zoledrônico) induzem a apoptose dos osteoclastos por seus efeitos no metabolismo do mevalonato, interferindo na prenilação de proteína. A absorção dos bisfosfonatos é baixa (1 a 3%), sendo prejudicada pela ingestão concomitante de alimentos contendo cálcio, ferro, café, chá e sucos de frutas. Por isso, a administração oral dos bisfosfonatos deve ser feita em jejum, com um copo de água, e a ingestão de alimentos só deve ser feita após um intervalo de pelo menos 30 minutos. O clearance dos bisfosfonatos é rápido, sendo que cerca de 50% se depositam no osso, preferencialmente nas áreas de reabsorção, e 50% são eliminados na urina. A meia-vida dos bisfosfonatos no osso é provavelmente de muitos anos. Os bisfosfonatos, em geral, são bem tolerados; entretanto, cerca de 10% dos pacientes que usam o medicamento oral podem apresentar sintomas relacionados à esofagite. Outras contraindicações incluem sintomas de doença ativa do trato gastrointestinal alto, osteonecrose de mandíbula e insuficiência renal. Não há dados consistentes sobre a segurança na gravidez, portanto, são contraindicados durante a gravidez e a lactação. Os bisfosfonatos aprovados para uso na osteoporose são: alendronato, risedronato, ibandronato e ácido zoledrônico, com resultados muito semelhantes em termos de ganho de 12 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo massaóssea e na redução do risco relativo de fraturas vertebrais e não vertebrais. O ácido zoledrônico mostrou-se eficaz na redução de fraturas e, quando utilizado até 90 dias após cirurgia de fratura de quadril, aumenta a sobrevida nestes pacientes. DENOSUMABE O denosumabe é um anticorpo monoclonal totalmente humanizado contra o ligante do receptor ativador do fator nuclear do kappa B (RANKL). Assim, este anticorpo reduz a diferenciação, a atividade e a sobrevida dos osteoclastos por inibir a ligação RANK-RANKL. O estudo FREEDOM demonstrou que o denosumabe, comparado com o grupo placebo, foi eficaz na redução de novas fraturas vertebrais, não vertebrais e de quadril em mulheres na pós-menopausa com osteoporose. O denosumabe na dose de 60 mg administrado de forma subcutânea a cada 6 meses foi aprovado para: a) tratamento de mulheres na pós-menopausa com osteoporose; b) tratamento de perda óssea por terapia de supressão hormonal em pacientes com câncer de próstata ou mama; c) osteoporose em homens. O denosumabe também pode ser utilizado em pacientes com disfunção renal, uma vez que não há metabolização do medicamento pelos rins, e em metástases ósseas. É importante ressaltar que pacientes que usam denosumabe, não podem fazer “holiday” desta medicação, devido ao risco elevado de fratura vertebral com a suspensão da mesma. Se o denosumabe for suspenso, um bisfosfonato (preferencialmente alendronato) deve ser prescrito. RALOXIFENO O raloxifeno é um modulador seletivo dos receptores estrogênicos (selective estrogen receptor modulators – SERM). Esta medicação liga-se ao receptor estrogênico com alta afinidade e exerce tanto efeito agonista (metabolismos lipídico e ósseo) quanto antagonista (mama) em relação aos estrógenos, de maneira tecido-específica. Na mulher pós-menopausada com osteoporose, observou-se redução do risco de fraturas vertebrais e de novos casos de câncer de mama após 4 anos de terapêutica. Essa terapia não alterou significativamente os riscos de eventos cardiovasculares como um todo, porém os reduziu em mulheres com aumento do risco cardiovascular ESTRÓGENOS A terapia hormonal (TH) normalmente consiste em estrógeno e progesterona em mulheres na pós-menopausa com o útero, e só estrógeno em mulheres histerectomizadas. Os benefícios e os riscos de TH devem ser explicados para as pacientes. O uso de estrógenos conjugados na dose de 0,625 mg/dia reduziu em 33% as fraturas de fêmur proximal no estudo da Women’s Health Initiative (WHI), além de reduções das fraturas vertebrais já demonstradas em outros estudos. A dose ideal, ou nível sérico de estrógeno para efeito ótimo sobre o osso, não está definida. Embora essa terapêutica seja eficaz, sua indicação tem sido reconsiderada com base nos efeitos indesejáveis não ósseos descritos com essa terapia, como o aumento do câncer de mama e das doenças cardiovasculares. Outros ensaios clínicos em mulheres pós-menopausadas mostraram que, em mulheres idosas com doença coronária estabelecida e condições médicas relacionadas ao estrógeno, não houve efeitos benéficos cardíacos da reposição hormonal, em contraste com o uso em mulheres 13 Osteoporose – Tutoria 01 Isabella Bittencourt - 7ºPeríodo saudáveis e jovens em que a TRH tem efeito positivo. No momento, a partir do estudo WHI, a recomendação da terapia de reposição com estrógeno para a prevenção da osteoporose e fraturas deve ser feita com cautela, principalmente se a paciente apresentar fatores de risco ou doença cardiovascular estabelecida. Se for indicada, a TH deve ser instituída logo nos primeiros anos de menopausa. TERIPARATIDA (PTH 1-34 RECOMBINANTE HUMANO) A teriparatida é constituída pelos primeiros 34 aminoácidos da molécula de PTH humano e estimula a atividade dos osteoblastos, aumentando a formação óssea. A secreção contínua de paratormônio (PTH) leva a uma resposta catabólica no esqueleto, o que é demonstrado pelo modelo de hiperparatireoidismo primário grave. No entanto, se o paratormônio é administrado em dose baixa e de modo intermitente, observa-se uma propriedade anabólica, principalmente em osso trabecular. O PTH em doses diárias (20 mcg pela manhã) diminui a apoptose dos osteoblastos, aumentando a sua atividade formadora. Nessa dosagem, em injeções subcutâneas por 18 a 24 meses, reduziu as fraturas vertebrais e não vertebrais. A principal limitação ao seu uso é o custo, devendo ser restrito a casos de moderada a alta gravidade, com fraturas já presentes ou alto risco de fraturas e naqueles com resposta ineficaz aos bisfosfonatos. Está contraindicado na presença de hipercalcemia e em situações com alta remodelação óssea, como na fase de crescimento, na presença de metástases ósseas ou na doença de Paget. Após o término do tratamento, é fundamental a prescrição de um agente antirreabsortivo para evitar a perda de massa óssea adquirida com esta medicação anabólica. Entretanto, não se recomenda o uso de bisfosfonato oral concomitante à teriparatida. DRUG HOLIDAY Com o objetivo de evitar a supressão exagerada da remodelação óssea e seus potenciais danos colaterais graves, especialmente a fratura atípica de fêmur, as estratégias intermitentes de uso dos bisfosfonatos são utilizadas conforme a figura.
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