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HANSENIASE! Hanseníase era conhecida como lepra, existiam os leprosários, centros em que os doentes eram isolados do mundo e ali viviam; agente causador é o Mycobacterium leprae, conhecido como bacilo de Hansen, um Bacilo Álcool-Ácido- Resistente (BAAR), intracelular obrigatório, que se cora positivo com o método de Ziehl-Neelsen (como o Mycobacterium tuberculosis), sendo normalmente empregada uma variante dessa coloração, chamada método de Fite-Faraco, para o diagnóstico; E P I D E M I O L O G I A trata-se de uma doença universal, rara nos países de primeiro mundo; a doença é considerada endêmica no Brasil, mas sua incidência está diminuindo nos últimos anos; exclusiva dos humanos; crianças menores de 15 anos raramente são afetadas, e quando isso ocorre é um forte indício de alta endemicidade; — apesar de ser uma doença com alta contagiosidade, felizmente tem baixa patogenicidade, ou seja, muitas pessoas têm o contato, porém a doença não evolui para infecção concretizada — maioria dos casos se dá pela transmissão entre os contactantes íntimos familiares por intermédio de perdigotos de pacientes com infecção ativa e que não iniciaram o tratamento; período de incubação é longo, em média de 5 anos, podendo variar de meses a 20 anos; — trata-se de doença de notificação compulsória — F I S I O P A T O L O G I A propriedade da hanseníase de provocar danos irreversíveis nos nervos periféricos, levando a incapacidades físicas e amputações; esses danos ocorrem apenas pela ação do sistema imunológico contra o bacilo, que fica alojado em pontos específicos, como nas células de Schwann de nervos periféricos e macrófagos da pele, além da mucosa respiratória; — pacientes que elaboram resposta imune celular competente do tipo Th1 podem erradicar a moléstia de Hansen ou permanecer no polo tuberculoide da doença; já aqueles com resposta de predomínio Th2 ficam mais bacilíferos e desenvolvem características de doença do polo virchowiano, só os indivíduos desse polo são capazes de transmiti-la — Q U A D R O C L I N I C O — classifica-se a hanseníase em polos virchowiano e tuberculoide — estágio inicial (estado do paciente ainda indefinido) é chamado “hanseníase indeterminada” e caracteriza-se por poucas lesões, normalmente máculas hipocrômicas com alteração da sensibilidade térmica e/ou dolorosa; Hanseníase virchowiana ————————— caracterizada por grande número de lesões, do tipo nódulos e placas eritematoacastanhadas e infiltradas; a infiltração da face é comum (fácies leonina) e também a madarose (perda das sobrancelhas); quando realizada, a baciloscopia é fortemente positiva, com grande número de bacilos íntegros; as alterações da sensibilidade são mais tardias e menos frequentes; há comprometimento sistêmico de mucosas respiratórias, olhos e outros órgãos, como baço, fígado, rins e testículos; Hanseníase tuberculoide ————————— caracterizada por pequeno número de lesões, sendo placas eritematosas com descamação fina bem definidas, com cura central e que são hipo ou anestésicas; baciloscopia é negativa; alterações neurais são intensas e precoces (dor, espessamento e perda das funções sensitivas e motoras), sendo os nervos ulnar e mediano mais acometidos (mão “em garra”); não há acometimento de outros órgãos; pacientes que não se estabilizam em nenhum desses polos são classificados como dimorfos e podem migrar na classificação de acordo com a resposta imunológica, em qualquer momento da evolução; — polo tuberculoide se apresenta com poucas lesões, Mitsuda positivo e baciloscopia negativa; já o polo virchowiano apresenta muitas lesões, Mitsuda negativo e baciloscopia positiva — Estados Reacionais —————————— são quadros específicos decorrentes em qualquer momento da doença: ao diagnóstico, durante o tratamento (momento mais frequente) e após a alta; Tipo I ou reação reversa é o mais comum e indica mudança no estado de imunidade do indivíduo por uma reação tipo IV de Gell- Coombs, podendo ser de melhora ou reação reversa/ piora; pode ocorrer modificação das lesões, nos casos de reação de melhora (ficam edemaciadas e pruriginosas), ou podem surgir lesões novas, no caso de reação reversa/piora; grande temor é o comprometimento neural provocado pelo processo inflamatório e/ou infiltração de bacilos, podendo trazer consequências irreversíveis, por isso há necessidade de tratamento urgente nesses casos reacionais; Tipo II ou eritema nodoso hansênico devido a uma reação tipo III com depósitos de imunocomplexos, só ocorre nos virchowianos e dimorfovirchowianos, normalmente durante o tratamento; caracteriza-se por nódulos subcutâneos dolorosos em qualquer parte do corpo, constituindo o eritema nodoso hansênico, quase sempre acompanhado de sinais e sintomas sistêmicos (febre, dores articulares e mal- estar); também pode ter acometimento neural associado e iridociclite; M É T O D O S D I A G N Ó S T I C O S diagnóstico da hanseníase requer a presença de lesões de pele que tenham alteração da sensibilidade, ou comprometimento neural periférico que curse com alterações sensitivas; teste de sensibilidade térmica é o método mais útil para investigar uma lesão suspeita de hanseníase, é a primeira função perdida pela lesão de ramúsculos nervosos, posteriormente, perdem-se as sensibilidades dolorosa e tátil, nessa ordem; métodos auxiliares mais usados são o teste de Mitsuda, que consiste na intradermorreação com antígenos preparados de tecidos infectados e que, na realidade, é mais prognóstico, pois mostra o estado imunológico; pode ser falso positivo em indivíduos que tiveram tuberculose; exame anatomopatológico tem como característica principal a presença de infiltrado inflamatório perineural nos casos indeterminados e tuberculoides (doença granulomatosa); entre os virchowianos, é fácil a visualização dos bacilos por meio das colorações para BAAR, sendo encontrados em grande quantidade; Diagnóstico diferencial ————————— depende do tipo de lesão: 1. Indeterminada: lesões hipocrômicas (pitiríase alba, vitiligo inicial e pitiríase versicolor); 2. Tuberculoide: lesões eritematoinfiltrativas (tinha, eczema, eritema figurado, granuloma anular, sarcoidose, lúpus e tuberculose); 3. Virchowianos: quadros disseminados (micose fungoide e leishmaniose); T R A T A M E N T O apesar de ser uma doença curável, tem característica de cronicidade; OMS classifica os pacientes como multibacilares, com mais de 5 lesões de pele ou com baciloscopia de raspado intradérmico positiva, e paucibacilares, com 5 ou menos lesões com baciloscopia de raspado intradérmico negativa (classificação meramente operacional); medicações são administradas em esquema de poliquimioterapia, e nunca deve ser realizada monoterapia; importante saber que após a primeira dose, o paciente não é mais infectante, isto é, a transmissão da hanseníase é interrompida; nos casos de reação tipo I, com neurites, iridociclites ou orquiepididimites, deve ser usada prednisona na dose de 1 a 2 mg/kg, com desmame gradual; nos casos de reação tipo II/eritema nodoso hansênico, a talidomida é a droga de escolha, mas é proibida a mulheres em idade fértil, e, nesse caso, a prednisona também pode ser administrada; recomendam-se corticosteroides sistêmicos para o fenômeno de Lúcio (uma invasão maciça do endotélio por bacilos, levando a vasculite intensa e, consequentemente, a áreas de necrose na pele afetada, mas é raro no Brasil);
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