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FADISP – FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO Gleice Kelli Soares de Oliveira LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® E a necessidade de regulamentar essas relações São Paulo 2019 2 FADISP – FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO Gleice Kelli Soares de Oliveira LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® E a necessidade de regulamentar essas relações São Paulo 2019 3 FADISP – FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® E a necessidade de regulamentar essas relações Trabalho acadêmico apresentado como exigência parcial para obtenção de título de bacharel à FADISP, na área de Direito. Orientador: Joaquim Eduardo Pereira São Paulo 2019 4 Oliveira, Gleice Kelli Locação por temporada através da plataforma AIBNB, e a necessidade de regulamentar essas relações / Gleice Kelli Soares de Oliveira, São Paulo - 2019 Trabalho de Conclusão de Curso Direito – FADISP – Faculdade Autônoma de Direito, São Paulo, 2019 Orientador: Prof. Joaquim Eduardo Pereira 1. Locação. 2. AirBnB®. 3. Regulamentação. I. Locação por temporada através da plataforma Aibnb;.II. Joaquim Eduardo Pereira. III. FADISP 5 Gleice Kelli Soares de Oliveira LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® E a necessidade de regulamentar essas relações Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à Faculdade Autônoma de Direito como obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientador: Joaquim Eduardo Pereira São Paulo, de novembro de 2019 Banca Examinadora ____________________________________________ Joaquim Eduardo Pereira ____________________________________________ Professor Fadisp ____________________________________________ Professor Fadisp 6 Dedico este trabalho à minha família Vocês são a luz da minha vida. 7 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer à minha mãe, pelo dom da vida, ela que me inspirou a ser essa pessoa batalhadora, dedicada e esforça que sou, sem ela com certeza não alcançaria meus objetivos. Agradecer ao meu pai, que me induziu a ser uma leitora voraz, e que me ensinou a nunca desistir de meus sonhos, sempre me incentivando e dando seu melhor. Agradeço também ao meu marido e companheiro, que em todos estes anos me motivou e nunca deixou que eu desistisse, sempre me mostrando o caminho certo com muito amor e cumplicidade. Por fim, meus agradecimentos à todos os professores da Fadisp, que nos acompanharam por todos estes anos, em especial ao meu Orientador Professor Joaquim Eduardo, sem ele este trabalho não seria possível, sou muito grata aos seus ensinamentos, os quais levarei para toda vida. 8 Assim como é seu desejo, assim será sua vontade. Assim como é sua vontade, assim serão seus atos. Assim como são seus atos, assim será seu destino. Assim como é seu destino, assim será você. (Deepak Chopra) 9 RESUMO Este trabalho busca demonstrar a forma como é regida a locação através do aplicativo AirBnB®, a luz do direito brasileiro. Comparando, então, a locação comercial com a locação do ramo hoteleiro. Veremos as decisões díspares acerca de um mesmo tema. Surgindo, a partir daí a necessidade de criar uma legislação para garantir os direitos e deveres, do locador, locatário e do Estado, buscando tornar possível que esta modalidade de locação se torne regulada, com base nos princípios fundamentais constitucionais nesta forma de locação que vem se destacando no mercado. Por ser um tema novo, a metodologia usada, foi a busca de jurisprudências divergentes, e o estudo das legislações da lei de locação e do código civil. Palavras chave: Locação; AirBnB®; Regulamentação. 10 ABSTRACT This paper seeks to demonstrate how the rental is governed through the Airbnb® application, in light of Brazilian law. Comparing, then, the commercial lease with the lease of the hotel business. We will see the disparate decisions about the same theme. Emerging from there the need to create a legislation to ensure the rights and duties of the landlord, tenant and the State, seeking to make it possible for this type of lease to become regulated, based on the fundamental constitutional principles in this form of lease that has stood out in the market. For being a new theme, the methodology used was the search for divergent jurisprudence, and the study of the legislation of the rental law and the civil code. Keywords: Rental; Airbnb®; Regulation. 11 SUMÁRIO FADISP – FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO ................................................................................................ 1 LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® ....................................................... 1 FADISP – FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO ................................................................................................ 2 LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® ....................................................... 2 FADISP – FACULDADE AUTÔNOMA DE DIREITO ................................................................................................ 3 LOCAÇÃO POR TEMPORADA ATRAVÉS DA PLATAFORMA AIRBNB® ....................................................... 3 RESUMO ............................................................................................................................................................................ 9 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 12 1. A PLATAFORMA AIBNB® ....................................................................................................................................... 15 1.1 Surgimento da plataforma AirBnB® .......................................................................................................... 15 2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS .......................................................................................................................... 17 2.1 Princípio da Livre Concorrência e da Livre Iniciativa ......................................................................... 17 2.2 Princípio da Propriedade Privada e da Função Social da Propriedade ........................................ 19 3. CONDOMÍNIO EDILÍCIO .......................................................................................................................................... 22 3.1 Condomínio Edilício .......................................................................................................................................... 22 4. FORMAS DE LOCAÇÃO ............................................................................................................................................. 24 4.1 Locação por temporada ................................................................................................................................... 24 4.1.1 Obrigações: Bilaterais e Unilaterais ...................................................................................................25 4.1.2 Contratos Onerosos ou Gratuitos ........................................................................................................ 25 4.1.3 O Equilíbrio das Obrigações Comutativos ou Aleatórios ........................................................... 26 4.1.4 Quanto as Espécies: Nominados (Típicos) ou Inominados (Atípicos) ................................. 26 4.1.5 Quanto à formação: Consensuais, Formais e Reais ...................................................................... 27 4.2 Serviço de hotelaria e hospedagem ............................................................................................................ 28 5. COMPARAÇÃO DOS JULGADOS ............................................................................................................................ 30 5.1 Agravo de Instrumento 2229959-08.2017.8.26.0000 ........................................................................ 30 5.2 Apelação Cível 1031942-37.2017.8.26.0002 .......................................................................................... 31 5.3 Apelação Cível 1065850-40.2017.8.26.0114 .......................................................................................... 32 Conclusão ........................................................................................................................................................................... 34 ANEXO 2.............................................................................................................................................................................. 43 12 INTRODUÇÃO Que o mundo não para isso é verdade. E desde a revolução industrial não pararam se surgir inovações que são cada vez mais introduzidas à nossa realidade, sendo que algumas contribuíram para a evolução social, porém outras não, contudo elas estão sempre ali, e muitas vezes não há como fugir. É o exemplo do surgimento das máquinas, que é de grande auxílio de um lado e de outro corta alguns empregos, ou desenvolvimento de carros, itens dos quais praticamente não conseguimos viver sem hoje em dia, também há o surgimento de péssimas ideias como por exemplo novas armas de fogo, que seriam quase que totalmente dispensável à evolução humana. Sendo estes apenas alguns exemplos de evoluções trazidas pela humanidade. E então com tantas novidades surgindo, surge também um antigo problema, que na verdade não é um problema, mas é difícil buscar uma resposta certa, que é a hermenêutica jurídica. Uma vez que as leis existentes já não são mais suficientes para regulamentar as relações existentes e cada vez mais complexas, tornando difícil a interpretação e aplicação de normas “antigas” - e muitas vezes engessadas - em uma sociedade em constante movimento de evolução. E tão logo, surgem dúvidas sobre qual norma aplicar a determinado caso concreto, e quando não há norma específica, qual norma aplicar por analogia com interpretação extensiva, porém, sem dar muita margem à precedentes, que futuramente possam ser prejudiciais ao sistema atual. São todos estes tipos de problemas que o Direito precisa lidar. Com o advento da globalização, sempre há novidades sendo atiradas para nós todos os dias, com o intuito de nos fazer gastar mais, movimentando a sociedade capitalista na qual vivemos. Mas não refletimos sobre questões conflituosas, que não ornam com a legislação vigente, e que poderão ser levadas ao judiciário para a sua resolução, sendo que elas muitas vezes nem deveriam existir, se houvesse norma regulamentadora ditando o modo das relações. O direito age através da norma, jurisprudência e da cultura. Quando não há norma regulamentadora, a solução é buscada através da jurisprudência, que se utiliza de precedentes e de comparações de casos semelhantes, toda via, quando 13 não há nem norma, nem jurisprudência, o Estado busca embasar suas decisões através da cultura, e a cultura é um fenômeno que está em constante mutação, variando de acordo com a época e até com a Economia. Em tempo de crise, sempre surgem alternativas para não deixarmos de fazer nossas coisas, tal como viajar, ou pegar um táxi, por exemplo. A nova era tecnológica tem um movimento que busca ajudar nos momentos de crise e está em constante aumento, qual seja a conhecida “Economia Compartilhada”, cujo seu objetivo é voltado para uma nova organização de trabalho, que tende a ser horizontal e não vertical, na manutenção de bens e espaços, tudo através de plataformas pela internet, no intuito de um ajudar o outro. Hoje em dia, conseguimos compartilhar compras em sites como Peixe Urbano e Groupon, conseguimos compartilhar o transporte, como Uber, Cabify, Easy Taxi, 99 Táxi e outros tantos que surgiram com o decorrer do tempo, tudo isso através de aplicativos, na tela do celular. Sendo estes apenas alguns exemplos de como estamos adentrando a era da tecnologia aliada a facilidade, economia e comodidade. A empresa Uber é a maior empresa de Táxi de todos os tempos, porém não há um táxi em seu nome, ao passo que a empresa AirBnB® é uma grande rede de hospedagem, e não tem quartos de Hotel. A ideia do AirBnB®, é que facilitar a vida das pessoas, gerando renda ao proprietário do imóvel e ao desenvolvedor do aplicativo. Por consequência quem utiliza a plataforma economiza também, vide a diferença de preços de uma diária em um Hotel e uma diária em uma residência através da plataforma AirBnB®. Em outros tantos países, essa ideia já foi disseminada e faz sucesso. Mas aqui no Brasil, há certa resistência, e falta legislação para regulamentar as relações entre os anfitriões e “hóspedes”. Que acarretam problemas entre o condômino e o condomínio que este tem propriedade, levando então essas questões para serem solucionadas no Judiciário, que também não tem parâmetro para decidir sobre o tema. Quando há uma lide, que o Poder Judiciário ainda não tem uma pacificação sobre a questão, acabamos por ter a cada dia uma decisão prolatada diferente da outra, porém sobre o mesmo tema. A partir deste ponto é preciso uma certa regulamentação sobre o tema, a fim de evitar problemas para o 14 condômino/locador, condomínio, hospede/locatário e para o aplicativo de reserva de imóveis para aluguel por temporada. 15 1. A PLATAFORMA AIBNB® Antes de adentrarmos o tema principal, se faz necessária uma breve explanação sobre os conceitos e considerações sobre a plataforma AirBnB® e Condomínio Edilício. 1.1 Surgimento da plataforma AirBnB® Grande parte das inovações tecnológicas são desenvolvidas fora do país. Por este e outros motivos, não raro, há o surgimento de novos atritos e problemas jurídicos. Quando nos encontramos em meio a uma crise, os nossos horizontes são, necessariamente, ampliados e com isso surgem ideias que podem beneficiar a todos. Foi em um momento de crise que houve o desenvolvimento de uma plataforma para conectar pessoas que tem um imóvel disponível para locação por um curto período e pessoas que querem alugar este imóvel. Foi assim que a AirBnB® surgiu, como uma alternativa para a crise, gerando renda através da economia compartilhada, que contribui para gerar renda ao Anfitrião (como são chamadas, pela plataforma, as pessoas que têm o imóvel para locação); e gerar economias para o Hóspede, além de promover o desenvolvimento do Estado, através das vendas locais e do turismo. A sigla AirBnB® significa Air Bed and Breakfast, o que em português significa algo como “Colchão inflável e café da manhã. Contudo este significado se perdeu, tendo em vista que a plataforma ampliou a ideia de “colchão e café da manhã”, além da opção de poder contratar experiências. Destaque-se que a Plataformaé uma empresa multinacional criada em agosto de 2008 com sede em São Francisco, Califórnia, Estados Unidos. Sendo sua função principal a intermediação de locação de imóvel. O diferencial desta modalidade de locação está no fato de que na plataforma é possível alugar apenas um quarto ou a casa inteira com um preço reduzido, em qualquer lugar do mundo, simplesmente utilizando um computador, smartphone ou tablet. A empresa define-se como um mercado comunitário, confiável, para 16 que as pessoas possam anunciar, descobrir e reservar acomodações únicas ao redor do mundo. Atualmente a empresa está presente em mais de 150 países e em mais de 30 mil cidades ao redor do mundo1. A plataforma facilita, ajuda e incentiva pessoas a viajarem, proporcionando a possibilidade de aproveitar viagens de um modo mais econômico e muitas vezes mais profunda de cultura, com a opção de alugar casa, e não hotéis ou através de imobiliárias. A plataforma AirBnB® tem a alternativa de alugar apenas um quarto ou uma casa inteira, ou ainda alugar um iglu ou uma casa na árvore. Tanto para o hóspede, quanto para o anfitrião2, este tipo de mercado é muito vantajoso, tendo em vista que o proprietário do imóvel cria uma fonte de renda, além de dar uma destinação a um imóvel que muitas vezes está em desuso. E quem aluga o imóvel tem a possibilidade de economizar. Contudo, essas novas configurações de locação, acaba por prejudicar, mesmo que indiretamente, o ramo hoteleiro. Porém, gera renda, incentiva o turismo e ajuda as pessoas a economizar. 1 https://www.airbnb.com.br/sitemaps (Acesso em 01/11/2019) 2 Anfitrião (locatário) e Hóspede (locador) são denominações utilizadas pela própria Plataforma. 17 2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS Os princípios constitucionais são aqueles que ditam os parâmetros para a criação das normas infraconstitucionais. São princípios norteadores do Direito. A norma que ferir diretamente ou indiretamente, algum destes princípios poder-se-á Lei ser considerada inconstitucional, não tendo eficácia no sistema. 2.1 Princípio da Livre Concorrência e da Livre Iniciativa O Princípio da Livre Concorrência está insculpido na Constituição Federal e é um princípio de ordem econômica, está disposto no artigo 170, inciso IV, este princípio busca garantir, que empresas novas entrem no mercado e haja uma variedade para os consumidores a fim de evitar o monopólio das grandes marcas, entregando variedade de preços e qualidade em produtos e serviços, e favorecendo o desenvolvimento nacional. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. A proteção da livre concorrência decorre da compreensão de que a livre iniciativa, na acepção de liberdade de iniciativa empresarial, pressupõe não apenas 18 a ideia de liberdade para acessar o mercado, mas também a livre concorrência, entendida esta como liberdade para exercer a luta econômica com a mínima interferência do Estado e sem os obstáculos impostos pelos outros agentes econômicos. Com efeito, o ilustríssimo Fábio Ulhoa corrobora com este entendimento: A Constituição Federal, ao dispor sobre a exploração de atividades econômicas, vale dizer, sobre a produção dos bens e serviços necessários à vida das pessoas em sociedade, atribuiu à iniciativa privada, aos particulares, o papel primordial(...). 3 A livre concorrência serve com uma das bases do sistema capitalista. Sendo este um dos principais motivos para que as empresas busquem sempre melhorar seus serviços. O consumidor é o principal beneficiário da concorrência entre as empresas. O surgimento, da opção de locação por temporada através da plataforma AirBnB®, acabou por reduzir os números de hospedagens através do sistema de hotelaria, que tem um alto custo quando comparado a hospedagem em um imóvel através da AirBnB®. Para hospedar-se em um Hotel, no centro financeiro de São Paulo, na região da Paulista, o custo da diária girará em torno de R$ 300,00 (trezentos reais), ao passo que uma diária através da AirBnB® custa em média R$ 70,00 (setenta reais). Ou seja, pode-se observar que há uma grande diferença entre os valores, para uma prestação de serviço semelhante. De acordo com Ulhoa: Sem o regime econômico de livre iniciativa, de livre competição, não há direito comercial. Ao nível da legislação ordinária, o direito complementa tais pressupostos constitucionais, procurando garantir a livre iniciativa e a livre competição através da repressão ao abuso do poder econômico e à concorrência desleal.4 Contudo, o Estado tem o dever de regular as relações de ordem econômica e a responsabilidade civil da plataforma, a fim de tentar garantir mais segurança e equilíbrio econômico e social. 3 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa, 22ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2010. p. 26. 4 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, op cit., p.27. 19 O princípio da Livre-iniciativa está presente na Constituição Federal nos artigos 1º junto com os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil ao lado do princípio dos valores sociais do trabalho e no artigo 170, citado acima, onde surge com um fundamento de ordem econômica. Este princípio representa a liberdade de lançar-se à atividade econômica sem encontrar maiores restrições pelo Estado. Está ligada ao liberalismo, campo econômico favorável à liberdade. 2.2 Princípio da Propriedade Privada e da Função Social da Propriedade Historicamente a noção de propriedade brasileira tem sua forma originária, nas comunidades indígenas, onde havia um domínio comum sobre as coisas úteis entre aqueles que habitavam a mesma oca, porém os itens como redes, móveis e coisas de domínio próprio foram individualizados e assim transformada em propriedade individual, possuindo com direitos a pleno uso e gozo. Propriedade, em seu sentido etimológico, vem do latim proprius que significa que algo pertence a determinada pessoa, a apropriação de um certo bem. Há diversas teorias que buscam explicar a propriedade privada e as razões que a fundamentam, ou seja, o que leva um indivíduo a tornar-se dominus de uma coisa ou a base jurídica do exercício do direito em análise, contudo esta questão não foi pacificada, e cada autor pode trazer suas ideias sobre este princípio. O princípio da propriedade privada é um princípio garantido pela Constituição Federal, no artigo 5° sendo este, também, princípio um direito e garantia fundamental. Este princípio assegura ao proprietário do imóvel o direito de usar e gozar de seus bens imóvel, da forma como achar melhor. A propriedade é uma instituição jurídica que se formou para responder a uma necessidade econômica, e também instituições jurídicas e que evolui necessariamente com as necessidades econômicas. Na lição de Maria Helena Diniz: (...) A sociedade deve extrair benefícios do exercício do direito de propriedade. A propriedade pertence, portanto, mais à seara do direito público do que à do direitoprivado, visto ser a Magna Carta que traça seu perfil jurídico. Urge fazer com que se cumpra a função social da propriedade, 20 criando condições para que ela seja economicamente útil e produtiva, atendendo ao desenvolvimento econômico e aos reclamos de justiça social. O exercício do direito de propriedade deve desempenhar uma função social no sentido de que a ordem jurídica confere ao seu titular um poder em que estão conjugados o interesse do proprietário e o do Estado ou o social. Por isso, o órgão judicante deverá procurar, na medida do possível, harmonizar a propriedade com sua função social. 5 O direito de propriedade, ainda que pudesse ser entendido como absoluto e oponível erga omnes, em seus primórdios, passou a ser exercido em consonância com sua função social, o que, a priori, pode ser entendido como a utilização da propriedade sem o abuso do direito. Dessa forma, o proprietário deve exercer o seu direito de maneira tal que não exceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Na lição de Figueiredo, vemos: A propriedade é o principal modo de expressão dos direitos reais. É assim definida como uma extensão dos direitos da pessoa humana, sobre bens que se encontram, formalmente, na esfera de domínio de cada pessoa. Daí que, no regime privado, da economia de mercado, inerente ao modelo de mercado capitalista, a propriedade significa a base material em que assenta o próprio sistema econômico.6 Com base nos ensinamentos de Figueiredo “(...) o detentor da propriedade pode utilizá-la para atingir os seus objetivos pessoais, sempre que a propriedade, concomitantemente, venha a cumprir uma função social.” 7 . E continua dizendo “O princípio da função social da propriedade na ordem econômica pode ser considerado, também, nesse contexto, como princípio da função social da empresa", ou seja, um poder decorre do outro, sendo a propriedade, também, um meio para a economia. Este fundamento fica ainda mais nítido quando relacionado com a questão das locações pela plataforma, onde a propriedade privada, claramente está tendo uma destinação econômica, para ambos e para o Estado através do turismo. Este princípio fundamental também está disposto no artigo 1.228, § 1º, primeira parte: “O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as 5 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 4, 26ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011, p. 123-124. 6 FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito imobiliário – São Paulo: Atlas, 2010, p. 5. 7 FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito imobiliário, op cit., p. 5. 21 suas finalidades econômicas e sociais”, deste modo a função social da propriedade está amplamente disposta nos dispositivos legais e na norma constitucional. 22 3. CONDOMÍNIO EDILÍCIO Aqui temos uma breve explicação sobre condomínio edilício, sua função e direitos e deveres. 3.1 Condomínio Edilício O condomínio surgiu como uma solução para a crise habitacional pós- guerra de 1914 até 1918 (Primeira Guerra Mundial) que assolou inúmeras cidades. Sendo essa uma saída para o problema de abrigar muitas pessoas em uma disposição menor de terreno, pensada para poder “compactar” um maior número de propriedades possível e um espaço menor, tendo em vista que as propriedades são verticais. Cada unidade inseparável é uma fração ideal do terreno e separadas não poderão subsistir. Em seu sentido etimológico a palavra Condomínio deriva-se do latim condominium = con (reunião) + dominuim (propridedade)= Reunião de propriedade ou co-propriedade, ou seja, uma vários proprietários coexistindo sob um mesmo bem. O Condomínio é regulado pela Lei 4.591/64 sendo disposto todas as regras e normas para utilização deste. Possuir propriedade individual e propriedade em comum (condomínio) é totalmente diferente. Na primeira há uma maior liberalidade sobre o uso e gozo da propriedade, ao passo que no condomínio o seu uso é mais restrito de modo a criar regulamentos internos buscando sempre uma boa convivência. Em um condomínio, há necessidade de criar regramentos para que haja uma boa convivência entre todos os condôminos, tendo em vista que, em um condômino ou uma propriedade predial há vários proprietários e um imóvel que é dividido em unidades autônomas para cada condômino. Conforme vemos na lição de Rizzardo: Útil lembrar, de início a origem da expressão “condomínio edlicio”. O termo cum significa conjuntamente, enquanto a palavra dominium expressa domínio, propriedade. Portanto, o condômino é propriedade conjunta – que pertence a mais de um. Já a palavra edilício, aedilitium, diz respeito à edificação – que pode ser de unidades em loteamento (casa) ou edifícios de pavimentos – apartamentos, salas, etc. Assim, condomínio edilício é a 23 copropriedade numa edificação da qual constam unidades privativas autônomas, de uso exclusivo, e partes que são propriedade comum dos condôminos.8 O condomínio edilício está insculpido no artigo 1.332 do Código Civil. Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo constar daquele ato, além do disposto em lei especial: I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns; II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns; III - o fim a que as unidades se destinam. Conforme dispositivo legal acima mencionado na instituição do condomínio deve haver a especificação da destinação das unidades autônomas, para que se evite discussões futuras, além desta questão, também ser levantada em um dos julgados abaixo. Atualmente, é comum que quando da instituição do edifício, a locação por temporada pela plataforma já ser levantada, de modo a coibir reclamações posteriores. 8 RIZZARDO, Arnaldo. Condomínio edilício e incorporação imobiliária, 1ª ed. – Rio de Janeiro: 24 4. FORMAS DE LOCAÇÃO O contrato de locação é um dos contratos mais usuais e importantes do ramo do direito imobiliário, sendo dividido em três modalidades: I) locação residencial; II) locação para temporada e III) locação não residencial ou comercial, cada qual com sua norma específica. É necessário compreender e determinar qual o tipo de locação está presente para a aplicação correta da norma. Aqui vamos abordar a locação por temporada e o serviço de hospedagem. 4.1 Locação por temporada Locação por temporada é uma modalidade especial de contrato bilateral e oneroso, regulamentado pela Lei de Locação. Nesta modalidade de locação não há determinação de período mínimo, porém, há disposição de Lei sobre o período máximo, que é 90 dias. A locação por temporada está disposta na Lei Federal 8.245 em seu artigo 48: Art. 48. Considera - se locação para temporada aquela destinada à residência temporária do locatário, para prática de lazer, realização de cursos, tratamento de saúde, feitura de obras em seu imóvel, e outros fatos que decorrem tão-somente de determinado tempo, e contratada por prazo não superior a noventa dias, esteja ou não mobiliado o imóvel. Parágrafo único. No caso de a locação envolver imóvel mobiliado, constará do contrato, obrigatoriamente, a descrição dos móveis e utensílios que o guarnecem, bem como o estado em que se encontram. Frise-se que a lei não apresenta um período mínimo, porém traz um período máximo, qual seja 90 dias. Conforme Figueiredo: Na maioria dos casos, esse contrato destina-se à locação do imóvel para veraneio, nas praias ou feriados prolongados,cabendo ao locador e ao locatário fixar o prazo e o valor do aluguel, por livre acordo entre as partes. Na locação para temporada, o valor é naturalmente superior ao valor da locação sob o regime normal, considerando a finalidade precípua de lazer 25 do seu uso.9 Não ficando restrito o seu uso e gozo. Qualquer tipo de contrato é formado bom fundamento no principio da autonomia da vontade, conforme nosso ordenamento jurídico, onde as partes estabelecem direitos e deveres recíprocos, com princípio na boa-fé, formalizando suas próprias vontades. 4.1.1 Obrigações: Bilaterais e Unilaterais A classificação do contrato em bilaterais ou unilaterais, se dá em razão da obrigação firmada entre as parte, não tendo haver com a quantidade de partes como critério de distinção. O contrato bilateral para sua formação, depende apenas da manifestação de vontade de ao menos duas partes, surgindo assim, a obrigação recíproca. Em contrapartida, o contrato unilateral é aquele que se forma quando apenas uma das partes se obrigada em face da outra. Uma das características do contrato bilateral é o consentimento entre as partes, e vontade expressa que tem por objetivo a produção de obrigações recíprocas, enquanto na unilateralidade do contrato somente um dos contratantes tem obrigação para com o outro. 4.1.2 Contratos Onerosos ou Gratuitos Quanto às vantagens patrimoniais que podem produzir, os contratos se classificam como oneroso ou gratuito. Os onerosos são aquele em que as partes assumem reciprocamente direitos e obrigações, mediante uma compensação, tais como contrato de compra e venda, a locação de coisas, de serviços, a troca, o aforamento e as sociedades. E os contratos gratuitos apenas um dos contratantes fica com toda a carga contratual, ao passo que o outro apenas pode auferir os benefícios do negócio, surgindo assim à denominação de contratos benéficos. Os contratos gratuitos, 9 FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito imobiliário, op. Cit., p. 145. 26 podem ser, por exemplo, a doação pura, o comodato, etc. Tão logo, neste tipo de contrato apenas uma das partes obtém um proveito, sendo marcados pela liberalidade na transferência de direito, enquanto os onerosos acabam por gerar obrigações reciprocas, impondo ônus a um dos contratantes. 4.1.3 O Equilíbrio das Obrigações Comutativos ou Aleatórios Ao firmarem o contrato, aos contratantes resultam obrigações a serem cumpridas, e essas se dividem em obrigações comutativas ou aleatórias. O contrato comutativo é aquele que no momento da formação do contrato, os contratantes têm as prestações geradas já definidas. Neste tipo de contrato as partes celebram acordo, onde uma parte presta uma obrigação e recebem uma vantagem, sendo uma coisa certa e determinada, onde já têm prestações certas e determinadas, ou seja, as partes podem antever as vantagens e sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua celebração, porque não envolvem nenhum risco. E nos contratos aleatórios, as prestações de uma ou de ambas as partes são incertas, pois para ocorrer depende de um fato futuro e imprevisível, sendo incertas, devido a sua quantidade ou extensão. Fica na dependência de um fato futuro e imprevisível, o que torna viável venha a ocorrência de uma perda, ou um lucro para uma das partes. Assim, a incerteza do resultado é o fator que caracteriza a espécie. O acontecimento futuro, ou a “alea”, é incerto, mas previsível. Assim, nos contratos comutativos as partes contratantes já possuem conhecimento das obrigações e suas respectivas prestações, enquanto nos contratos aleatórios está presente a incerteza quanto ao cumprimento das prestações pactuadas. 4.1.4 Quanto as Espécies: Nominados (Típicos) ou Inominados (Atípicos) Aos contratantes é facultada a liberdade de contratar, mediante o exercício da autonomia da vontade, podendo criar as obrigações, desde que lícitas, 27 sem seguir qualquer forma definida em lei. O que distingue os contratos são as denominações, ou seja, os contratos previstos e regulados na lei, definidos como nominados, e aqueles decorrentes do costume, não se enquadrando numa figura típica prevista pelo legislador, denominados contratos inominados. Quanto às expressões nominados/típicos e inominados/atípicos, não há distinção entre elas, pois o sentido é o mesmo. Conhecem-se, também, as expressões “contratos típicos” e “contratos atípicos”, com o mesmo significado de “nominados” e “inominados”. Na verdade, pela própria designação, depreende-se que os típicos encontram na lei alguma previsão sobre eles. Estão regulamentos, ou, pelo menos, assinalados na lei. Os atípicos não se ajustam em qualquer dos tipos, dos moldes contratuais previstos em lei. A atipicidade significa ausência de tratamento legislativo específico. Embora usem as expressões “nominados” e “inominados”, que literalmente expressam ajustes com nome e ajustes sem nome, o sentido é uno e idêntico. Assim, são considerados contratos nominados/típicos quando a espécie possui nominação e regulamentação prevista em lei. Assim, os atípicos são aqueles não previstos em lei, mas que surgem em razão das necessidades, resultante de um acordo de vontades, sendo válidas as cláusulas, desde que não contrariem a lei, os bons costumes e os princípios gerais do direito. A presente situação pode ser enquadrada como um contrato atípico, tendo em vista que é uma nova configuração de modo de locação, e não a norma regulamentando. 4.1.5 Quanto à formação: Consensuais, Formais e Reais Os contratos não necessitam seguir uma forma e sim a simples declaração das partes em estabelecer uma obrigação, senão quando a lei expressamente a exigir, conforme preceitua o artigo 107 do Código Civil. Para tanto, há três espécies de forma: os consensuais, formais e reais. Os contratos consensuais, também conhecidos como não solenes, são 28 aqueles que resultam unicamente pelo acordo de vontade das partes, independentemente da entrega da coisa e de determinada forma. Denomina-se formal, ou solene, quando o contrato exige uma forma especial para a celebração, prescrita em lei, que se dá em razão da natureza do negócio jurídico e a necessidade de conferir segurança a determinadas relações jurídicas, exemplificando o contrato de compra e venda de imóveis, que se exige como forma especial o instrumento público, lavrado pelo tabelionato, São reais quando da formalização, não depende apenas do acordo de vontades, e sim quando depende da entrega de determinada coisa, como ocorre no mútuo, no comodato, no penhor e no depósito, no qual a formação ocorre no momento da entrega do objeto, esclarece. Assim, quanto a sua formação, o contrato poderá ser de forma consensual quando há o consenso das partes gerando então as obrigações pactuadas, reais quando depender da entrega do objeto e formais quando o contrato exige uma forma especial para a celebração. 4.2 Serviço de hotelaria e hospedagem O serviço de hospedagem segue disposto na Lei Geral do Turismo 11.771/2008, em seus artigos 23 e 24, o artigo 21 da Lei nos apresenta os parâmetros para considerar um prestador de serviços como prestador de serviços turísticos: Art. 21. Consideram-se prestadores de serviços turísticos, para os fins desta Lei, as sociedades empresárias, sociedades simples, os empresários individuais e os serviços sociais autônomos que prestem serviços turísticos remunerados e que exerçam as seguintes atividades econômicas relacionadas à cadeia produtiva do turismo: I - meios de hospedagem; II - agências de turismo; III - transportadoras turísticas; IV - organizadoras de eventos; V - parques temáticos; e VI - acampamentos turísticos. Parágrafo único. Poderão ser cadastradas no Ministério do Turismo,atendidas as condições próprias, as sociedades empresárias que prestem os seguintes serviços: I - restaurantes, cafeterias, bares e similares; II - centros ou locais destinados a convenções e/ou a feiras e a exposições e similares; 29 III - parques temáticos aquáticos e empreendimentos dotados de equipamentos de entretenimento e lazer; IV - marinas e empreendimentos de apoio ao turismo náutico ou à pesca desportiva; V - casas de espetáculos e equipamentos de animação turística; VI - organizadores, promotores e prestadores de serviços de infra-estrutura, locação de equipamentos e montadoras de feiras de negócios, exposições e eventos; VII - locadoras de veículos para turistas; e VIII - prestadores de serviços especializados na realização e promoção das diversas modalidades dos segmentos turísticos, inclusive atrações turísticas e empresas de planejamento, bem como a prática de suas atividades. Conforme expresso no artigo acima o Hotel apresenta como sua característica toda uma infraestrutura à disposição do hospede, o que o difere da plataforma. Além dos prestadores de serviços que ficam à disposição e a qualificação da mão de obra apresentada no ramo hoteleiro. Portanto, para o negócio ser caracterizado como hospedagem na legislação da locação por temporada, é preciso ser praticado por uma empresa que, formalmente, faz parte do ramo hoteleiro (como hotéis, flats e apart- hotéis), possui alvará de funcionamento, emite notas fiscais aos seus hóspedes e, além disso, possui cadastro em órgãos reguladores, como Embratur e Ministério do Turismo. 30 5. COMPARAÇÃO DOS JULGADOS Neste capítulo temos como princípio fundamental a questão da comparação dos julgados. Comparando as atuais sentenças e/ou acórdão perceberemos o quão necessário é a criação de regulamentos para guiar estes negócios jurídicos. 5.1 Agravo de Instrumento 2229959-08.2017.8.26.0000 Agravo de Instrumento. Associação de moradores. Utilização da unidade para hospedagem, por meio da plataforma "Airbnb". Tutela antecipada pretendida pelos proprietários. Natureza da locação que, a princípio, não pode ser considerada como por temporada. Imperioso o respeito às medidas adotadas pela reunião da diretoria e normas regedoras da associação. Ausência dos pressupostos do art. 300 do CPC, tendo em vista a inexistência da evidência da probabilidade do direito. Decisão mantida. Recurso a que se nega provimento. (Grifou-se) (TJSP - Acórdão Agravo de Instrumento 2229959-08.2017.8.26.0000, Relator(a): Des. José Joaquim dos Santos, data de julgamento: 19/04/2018, data de publicação: 19/04/2018, 2ª Câmara de Direito Privado)10 No julgado acima colacionado discute-se a possibilidade de realização de locação por temporada através da plataforma Aibnb, contudo neste caso, entendeu-se que o uso para o qual se destina o imóvel – residencial – não fica descaracteriza, embora haja uma alta rotatividade, o fim continua residencial. Ou seja, mesmo com a rotatividade e a publicidade através do site da plataforma não há caracterização do ramo hoteleiro. O julgado invoca o artigo 01º da Lei 8.245/91, que dispões sobre a necessidade de regulamentação de locações que não se enquadram na locação por 90 dias. Alega ainda, incompatibilidade do uso do imóvel residencial para hospedagem com fundamento na Lei 11.771/08. Além de alegar que este tipo de atividade não estar previsto no Estatuto Social que veda o comércio nas unidades condominiais, permitindo apenas o uso residencial em condomínios. 10BRASIL. Tribunal de Justiça. Acórdão Agravo de Instrumento 2229959-08.2017.8.26.0000, Relator(a): Des. José Joaquim dos Santos, data de julgamento: 19/04/2018, data de publicação: 19/04/2018, 2ª Câmara de Direito Privado. 31 5.2 Apelação Cível 1031942-37.2017.8.26.0002 Ação visando a anulação de deliberação condominial. Utilização do apartamento como hospedagem, por meio da plataforma eletrônica "Air BNB". Impossibilidade. Edifício de caráter residencial. Ação improcedente. Recurso provido. (TJSP; Apelação Cível 1031942-37.2017.8.26.0002; Relator (a): Pedro Baccarat; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 14ª Vara Cível; Data do Julgamento: 19/08/2019; Data de Registro: 19/08/2019)11 No caso em comento o autor adquiriu o imóvel visando obter renda a partir dele. Contudo, dada a rotatividade de inquilinos foi realizado uma assembleia de condôminos buscando restringir a atividade naquele local, onde buscava proibir locações através da plataforma e através de outros meios, digitais ou não. A ação foi julgada procedente, onde o Juiz fundamentou que o livre uso, gozo, fruição e destinação decorre do direito de propriedade, sendo elas plenamente utilizáveis pelo proprietário, no tempo que a propriedade atenda sua função social, além de estar presente no artigo 1.332 do Código Civil que o Condomínio pode restringir o uso da propriedade, em prol do convívio social, quando da sua intuição por tratar-se de um condomínio edilício, inserindo-se nele a competência do próprio condomínio para regular o uso da coisa e das atividades privadas. Na apelação a sentença foi revertida. Entendeu-se que o Condomínio é residencial, tão logo, sua destinação deve ser apenas essa, com fundamento no artigo 1.336 do Código Civil: Art. 1.336. São deveres do condômino: I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004) II - não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes. § 1 o O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito. § 2 o O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV, pagará a multa prevista no ato constitutivo ou na convenção, não podendo ela ser superior a cinco vezes o valor de suas 11BRASIL, Tribunal de Justiça. Apelação Cível 1031942-37.2017.8.26.0002; Relator (a): Pedro Baccarat; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 14ª Vara Cível; Data do Julgamento: 19/08/2019; Data de Registro: 19/08/2019. 32 contribuições mensais, independentemente das perdas e danos que se apurarem; não havendo disposição expressa, caberá à assembléia geral, por dois terços no mínimo dos condôminos restantes, deliberar sobre a cobrança da multa. (Grifou-se.) Entendeu-se que ao anunciar a locação do imóvel na plataforma ou site, a destinação deste, estaria sendo desviada, uma vez que os autores iriam conferir o caráter hospedagem, dando uma destinação turística para o bem, logo essa destinação é incompatível. Sendo assim, compreendeu-se que não havia razão para anulação da Assembleia Condominial. 5.3 Apelação Cível 1065850-40.2017.8.26.0114 AÇÃO ANULATÓRIA DE DECISÃO ASSEMBLEAR E DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. Assembleia condominial que, por maioria, deliberou proibir a locação por temporada. Restrição ao direito de propriedade. Matéria que deve ser versada na convenção do condomínio. Ocupação do imóvel por pessoas distintas, em espaços curtos de tempo (Airbnb) que não descaracteriza a destinação residencial do condomínio. Precedentes. Recurso desprovido. (TJSP; Apelação Cível 1065850-40.2017.8.26.0114; Relator (a): Milton Carvalho; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado; Foro de Campinas - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:12/07/2018; Data de Registro: 12/07/2018)12 Trata-se de uma ação que visa anular assembleia condominial que deliberou pela proibição de locação por temporada, a fim de evitar locações através da plataforma AirBnB®. Considerou-se que a medida que busca impedir a locação por temporada restringe e limita o direito de propriedade do autor, como citado anteriormente o direito de propriedade é uma garantia Constitucional e por estar na norma supra não pode limitado, e muito menos estar abaixa de uma assembleia condominial. Se fosse o caso o condomínio deveria estipular a proibição quando da instituição do condomínio, em seus atos constitutivos, conforme expresso no artigo 1332, III : 12 BRASIL. Tribunal de Justiça. TJSP; Apelação Cível 1065850-40.2017.8.26.0114; Relator (a): Milton Carvalho; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito Privado; Foro de Campinas - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 12/07/2018; Data de Registro: 12/07/2018. 33 Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo constar daquele ato, além do disposto em lei especial: (..) III - o fim a que as unidades se destinam. No julgado entendeu-se que a “convenção é um ato normativo da coopriedade”13, que tem o condão de gerar direitos e deveres entre os condôminos e perante terceiros. Frisou-se que a mera utilização da unidade autônoma para fins de locação por temporada através da plataforma não configura uso comercial. Mesmo que os hospedes reservem o imóvel por meio dela, o autor não se dedica única e exclusivamente para essa atividade, ou seja, alugar seu imóvel por temporada esporadicamente torna-se apenas um meio para complementar a renda, não tornando o apartamento em um hotel. A cláusula que busca proibir este tipo de locação perde força, ao passo que fica proibida a atividade comercial, o que não é o caso, pois não está descaracterizado o uso residencial do imóvel, mesmo que haja locações por pessoas distintas, em curto espaço de tempo. Entendeu-se que a locação por curto espaço de tempo não se difere daquela que tem um tempo estendido, sendo o entendimento de que ambos os casos o locador aufere renda, sem, contudo, descaracterizar a destinação residencial do imóvel. 13 Inserir jurisprudencia 34 Conclusão É fato que os avanços tecnológicos não vão parar e que há uma grande tendência de a economia compartilhada crescer, ao passo que as pessoas têm cada vez menos dinheiro para consumir produtos e serviços. Muitas vezes os elevados valores para hospedagem em quartos de Hotéis, Hostels ou Apart-hotéis, cumulado com a recente crise que assolou o País, inviabiliza muitas famílias alcançarem seus sonhos de conhecer novos lugares, ou simplesmente realizar uma simples viagem. A locação através da plataforma AirBnB® vem para viabilizar a realização destes sonhos, com valores abaixo do esperado para uma hospedagem, e ainda, há possibilidade de gerar renda ao proprietário do imóvel, além de promover o consumo em comércios locais, contribuindo para o desenvolvimento da cidade. Com estímulo ao turismo de potenciais consumidores, o desenvolvimento de comércios locais será uma consequência. Há uma certa resistência quanto a implementação de plataforma, assim como houve quando do surgimento da empresa Uber aqui no Brasil, taxistas sentiram-se ameaçados pela nova tecnologia principalmente pelos valores abaixo do praticado pelos táxis. O mesmo acontece com a plataforma, que de um modo muito simples possibilita a locação de um imóvel para temporada, além dos preços abaixo do mercado, logo os Hotéis preocupam-se com a concorrência. Contudo, o diferencial da facilidade de locação, não deve ser sinônimo de incertezas e de falta de segurança para os demais moradores. A plataforma dispõe em seu site que não deve ser responsabilizada por danos14, que essa é apenas uma intermediadora na relação de locação. Porém, o 14 17. Responsabilidade 17.1Você reconhece e concorda que, na máxima extensão permitida por lei, permanece sob sua responsabilidade todo o risco proveniente de seu acesso e uso da Plataforma Airbnb e Conteúdo Coletivo, sua publicação ou reserva de qualquer Anúncio por meio da Plataforma Airbnb, sua estadia em qualquer Acomodação, participação em qualquer Experiência ou Evento ou uso de qualquer outro Serviço de Anfitrião, participação no Serviço de Pagamento em Grupo, ou qualquer outra interação que você tenha com outros Membros, independentemente de pessoalmente ou online. O Airbnb e qualquer outra parte envolvida na criação, produção ou disponibilização da Plataforma Airbnb ou do Conteúdo Coletivo não serão responsáveis por quaisquer danos incidentais, especiais, exemplares ou consequenciais, incluindo lucros cessantes, perda de dados ou perda de fundo de comércio, interrupção do serviço, danos em computador ou falha no sistema, ou do custo substituição de produtos ou serviços, ou por quaisquer danos pessoais ou corporais ou morais ou angústia emocional decorrente de ou relacionados a (i) estes Termos, (ii) seu uso ou de sua incapacidade de utilizar a Plataforma Airbnb ou o Conteúdo Coletivo, (iii) quaisquer comunicações, interações ou atendimentos a outros Membros ou outras pessoas com quem você se comunique, interaja ou se encontre em razão do uso da Plataforma, 35 direito de terceiros não pode ser prejudicado, e a empresa tem o dever de verificar o usuário da plataforma, bem como deveria solicitar atestado de antecedentes criminais, bem como averiguar se há risco para locador e locatário, no caso, anfitrião e hóspede, e para os demais moradores do condomínio residencial. Essa segurança mais singela facilita que criminosos se aproveitem destas facilidades para buscar ter vantagens indevidas. Embora o contrato de locação por temporada através da plataforma não seja instrumentalizado, não significa que deva haver menor proteção aos direitos e deveres de locador e locatário, na relação de locação por temporada. A necessidade de uma regulamentação parte deste princípio, porquanto haja uma maior segurança e mais garantias. Diante do exposto, conclui-se que o Direito de propriedade, que é uma garantia fundamental, não pode ficar as margens das normas infraconstitucionais e/ou regulamentos internos condominiais. O artigo 5° da nossa Magna Carta, garante o pleno uso e gozo da propriedade, sendo uma liberalidade do proprietário do bem a forma como irá geri-lo e utilizá-lo, claro, desde que não ofenda os direitos de terceiros. Também em nossa Constituição, temos assegurado o direito da autonomia privada, livre iniciativa e outras tantas garantias constitucionais que têm ou (iv) sua publicação ou reserva de qualquer Anúncio, incluindo o fornecimento ou o uso de Serviços de Anfitrião de um Anúncio, seja baseado em garantia, contrato, ato ilícito (incluindo negligência), responsabilidade sobre produto ou qualquer outra teoria jurídica, e mesmo que o Airbnb tenha sido informado ou não da possibilidade de tais danos, mesmo que uma solução limitada aqui contida não tenha cumprido a sua finalidade essencial. Exceto pelas nossas obrigações de pagamento junto aos Anfitriões, aplicáveis conforme disposição destes Termos ou um pedido de pagamento aprovado sob a Garantia ao Anfitrião do Airbnb, em hipótese alguma a responsabilidade agregada do Airbnb decorrente de, ou relacionada a estes Termos e sua utilização da Plataforma Airbnb, incluindo, sem limitação, de sua publicação ou reserva de quaisquer Anúncios através da Plataforma Airbnb, ou da utilização ou da incapacidade de utilização da Plataforma Airbnb, ou do Conteúdo Coletivo ou sua, e de acordo com qualquer Acomodação, Experiência, Evento, outro Serviço de Anfitrião ou o Serviço de Pagamento em Grupo, ou interaçõescom quaisquer outros Membros, excederão o valor pago ou devido pelas reservas através da Plataforma Airbnb como um Hóspede no período de 12 (doze) meses anteriores ao evento gerador da responsabilidade, ou se você for um Anfitrião, o valor pago pelo Airbnb para você no período de 12 (doze) meses anteriores ao evento gerador da responsabilidade, ou US$ 100 (cem dólares norte- americanos), caso nenhum destes pagamentos tenha sido feito, conforme aplicável. As limitações de danos estabelecidas acima são elementos fundamentais da base do acordo entre você e o Airbnb. Algumas jurisdições não permitem a exclusão ou limitação de responsabilidade por danos consequenciais ou incidentais, sendo assim, a limitação acima pode não se aplicar a você. Se você residir fora dos EUA, isso não afeta a responsabilidade do Airbnb por morte ou lesão pessoal proveniente de negligência, nem por representação fraudulenta, representação falsa quanto a um assunto crucial ou qualquer outra responsabilidade que não possa ser excluída ou limitada sob a lei aplicável. 36 o viés de desenvolvimento urbano e social. A plataforma alimenta o comércio, a economia e auxilia no desenvolvimento industrial, contudo cumpre aos condomínios gerar meios para evitar problemas com a segurança dos condôminos, buscando meios de coibir atos criminosos e de vandalismo. Há inúmeras decisões proferidas de formas diferentes, com argumentos distintos como risco à segurança, etc. Porém, há uma inclinação para a permissão deste tipo de locação, o STJ julgará essa possibilidade. O Ministro Luis Felipe Salomão, será relator do REsp 1.819.075. 37 Bibliografia COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa, 22ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2010. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 4, 26ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011. FIGUEIREDO, Ivanildo. Direito imobiliário – São Paulo: Atlas, 2010 MACEL, Adalberto de Andrade. Prática Administrativa e Jurídica do Condomínio. São Paulo: Cultural Paulista, 2002. MONTEIRO, Washinton de Barros, Curso de Direito Civil, vol. 03, 39ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. RIZZARDO, Arnaldo, Condomínio edilício e incorporação imobiliária, 1ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direitos reais, vol. 5, 13ª ed. – São Paulo: Atlas, 2013. <https://www.airbnb.com.br/sitemaps> (Acesso em 01/11/2019) 38 ANEXO 01 39 40 41 42 43 ANEXO 2 44 45 46 47 48 ANEXO 03 49 50 51 52 53 54 55
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