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Apostila da Disciplina de Fundamentos de Organização e o Cotidiano Escolar Ementa da Disciplina: 1. Aspectos da Liderança no Processo de Gestão de Pessoas 2. Políticas Públicas e Educação no Brasil 3. Ética e Educação: a Interface Família e Escola para a formação Moral 4. As Instituições Educacionais como Espaço de Trabalho. 2017 Autora: Professora Mestre Aline Martins de Almeida FUNDAMENTOS DE ORGANIZAÇÃO E O COTIDIANO ESCOLAR Aline Martins de Almeida Resumo Este estudo tem por finalidade apresentar os fundamentos de organização do cotidiano escolar por meio de quatro perspectivas: identificar os aspectos de liderança no processo de dar vida à “alma da escola” por meio do relacionamento interpessoal, do trabalho com o conhecimento e da organização da coletividade; discutir as políticas públicas e sua relação com a educação brasileira; refletir sobre questões éticas e morais no campo da educação e sua respectiva interface entre a família e a escola; e pensar as instituições educacionais não apenas como ambientes de formação intelectual de indivíduos, mas como um lócus de trabalho que possa garantir unidade na diversidade. Palavras-chave: Liderança; políticas educacionais; ética; família; trabalho escolar. Introdução “O homem pode se tornar homem [...] somente através da educação. Ele não é nada mais do que aquilo que a educação dele o faz [...] e, por detrás da educação esconde-se o grande segredo da perfeição da natureza humana.” Emmanuel Kant Vamos iniciar nossos estudos falando sobre os fundamentos que organizam o cotidiano da escola. Porém, quando articulamos conhecimentos e saberes, esquecemos de nos perguntar e de analisar o nosso objeto de estudo, que nesse caso é a escola. Afinal, o que é a escola? A escola, segundo o Dicionário Aurélio Virtual (2017) significa Estabelecimento de ensino; Conjunto formado pelo professor e pelos discípulos; doutrina, sistema; seita; aprendizagem, ensino, tirocínio; método e estilo de um autor, artista; processos seguidos pelos grandes mestres; fazer escola: definir princípios que outros depois seguem. Entretanto, a escola assume um papel muito mais amplo do que está previsto na essência do seu significado. Como instituição, trabalha com o conceito de educação. Segundo o Dicionário Aurélio Virtual (2017), educação é:“Ato ou efeito de educar (-se). Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Civilidade, polidez”. A escola, então, assume um papel e uma respectiva função de ambiguidades: de um lado, ensina conhecimentos científicos, culturais, tecnológicos e históricos de toda a sociedade; de outro, ensina crianças sobre elementos que fazem parte do que é ser humano e que variam de acordo com cada faixa etária: os primeiros passos, a primeira leitura, o bom comportamento, a primeira briga e até mesmo o primeiro amor. A partir dessas “dicotomias” que a escola perpassa em seu cotidiano, buscaremos compreender como os fundamentos que organizam esse ambiente lutam diariamente, em todos os seus segmentos, em prol de uma educação que viabilize a transformação, o fazer pedagógico e a construção do conhecimento por meio dequatro perspectivas: os aspectos de liderança no processo de gestão de pessoas; as políticas públicas e educação no Brasil; as questões éticas e educacionais na interface entre a família e a escola para a formação moral dos sujeitos; e as instituições educacionais como espaço de trabalho. Aspectos de liderança no processo de gestão de pessoas Vamos iniciar nossa conversa com duas questões que buscaremos responder ao longo deste item: o que é ser líder? Onde encontramos líderes nos ambientes educacionais? Esses questionamentos nos fazem lembrar de filmes nos quais temos os líderes de torcida, os capitães de time, os líderes de batalhas, personagens que mudaram realidades de pessoas, cidades, países e de outros que se tornaram figuras célebres em diversos campos, inclusive o religioso, no qual podemos exemplificar a figura de Jesus Cristo. Assim como nos filmes e na própria trajetória histórica, o líder é aquele sujeito que vê em qualquer indivíduo um potencial, tem pensamentos e habilidades estratégicas para resolver e administrar problemas técnicos e também conflitos entre pessoas e equipes com um alto poder de comunicação capaz de motivar a tudo e a todos. Em uma de suas palestras intitulada “A arte de liderar”, Mário Sérgio Cortella (2016) nos apresenta outro conceito acerca do nosso tema e de suma importância para o nosso debate: um líder é aquele que possui uma insatisfação positiva, ou seja, aquele que busca por meio da inteligência humana o “movimento” em novas atitudes, novos trabalhos, novas propostas em prol de mudanças em qualquer ambiente de trabalho, e tem em seu âmago o “gostinho de quero mais e sempre o melhor”! O gostinho de quero mais deve ser a virtude de um líder, pois este deve inspirar, motivar e animar ideias, pessoas e projetos em prol de tornar sonhos em realidades, estes que devem abarcar em sua essência a circunstância, pois devem acontecer em momentos específicos. Vale destacar que a atitude de um líder deve ter como premissa a admiração, a procura e até o seguimento de seus companheiros, pois, aqui, o líder é aquele que “corrige sem ofender e orienta sem humilhar” (CORTELLA, 2016), diferenciando-se da chefia, nos quais os subordinados estão ali apenas para obedecer. Aqui, nasce o ponto central da nossa discussão em relação à liderança: a ambição deve ser provocativa em prol da mudança da insatisfação positiva. Agora, se a ambição caminhar junto com a insatisfação negativa (esta que pode ser entendida como os desejos de insatisfação dos indivíduos), o líder, em vez de ser um exemplo para sua equipe e um ponto de apoio, passa a ser uma figura de centralidade do poder. Desse modo, a educação brasileira também vai necessitar de líderes dentro dos seus espaços educacionais. Líderes que estejam aptos para exercer suas atividades com a mente aberta, ou seja, propensos aos novos conhecimentos e às novas realidades; líderes que elevem a equipe para desenvolverem todas as suas potencialidades mesmo nas adversidades;líderes aptos a inovar o trabalho e recrear o espírito, demonstrando a todos que o trabalho não pode ser visto como “sacrilégio”, mas com alegria de propiciar conhecimento e mudanças para, enfim, empreender o futuro. Essa ideia vai adentrando os espaços escolares a partir da mudança de paradigma da própria organização dos ambientes escolares e da formação pedagógica do professor. Antes, os professores eram habilitados para ser administradores escolares.Com a aprovação das Diretrizes do Curso de Formação de Docentes, em 2007, tais habilitações deixaram de existir, surgindo uma nova proposta: a formação de gestores. A formação de gestores, neste estudo, não terá uma abordagem ligada apenas ao papel do gestor escolar, mas sim, a todos os membros que atuam dentro dos espaços escolares e também são líderes: professores em suas salas de aula, inspetores que cuidam dos alunos, equipe das merendeiras, limpeza, enfim, até os nossos educandos, entre os quais sempre temos aquela figura que mais se destaca e lidera os pares. Diante dessa missão, os líderes escolares passam a atender ao princípio da gestão democrática estabelecida na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei n. 9.394/1996 – e no Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024. Tal gestão pressupõe a mobilização e a organização das pessoaspara atuarem coletivamente na promoção de objetivos educacionais. Ou seja, o líder não é aquele que eleva apenas a sua equipe de trabalho nointerior da unidade escolar (relação entre professores, alunos e equipe de apoio), mas mobiliza todo o exterior da escola, a comunidade! Conforme definido em Lück (2009, p. 75), [...] alguns elementos emergem como características comuns de atuações de liderança efetiva e que, portanto, compõem o seu significado: • Influência sobre pessoas, a partir de sua motivação para uma atividade. • Propósitos claros de orientação, assumidos por essas pessoas. • Processos sociais dinâmicos, interativos e participativos. • Modelagem de valores educacionais elevados. • Orientação para o desenvolvimento e aprendizagem contínuos. A partir desses elementos, a liderança se expressa como um processo de influência e de insatisfação positiva em conferir movimento às propostas de mudanças, mobilizando talentos, esforços e sonhos, dentro de uma prática que potencialize a melhoria contínua da própria organização, de seus processos e das pessoasenvolvidas. Sendo assim, a liderança vivenciada no processo e no exercício de gestão de pessoas deve ter como base: • Disponibilidade em aceitar e expressar no trabalho com pessoas os desafios inerentes ao trabalho educacional, suas dificuldades e limitações, com um olhar para as possibilidades de sua superação. • Estimulação do melhor que existe nas pessoas ao seu redor, a partir de umaperspectiva proativa a respeito das mesmas e de sua atuação. • Clareza a respeito da missão, visão e valores educacionais, assim como da participação das pessoas nessa compreensão e sua expressão em suas ações. • Orientação com perspectiva dinâmica, inovadora e norteada para a melhoriacontínua. • Exercício contínuo do diálogo aberto e da capacidade de ouvir. • Construção de oportunidades de participação e orientação para o compartilhamento de responsabilidades. • Cultivo de atitudes que acompanham a expressão de comportamentos de liderança. (LÜCK, 2009, p. 76) Desse modo, o líder é aquele que rege sua orquestra, colocando todos num mesmo ritmo e num mesmo entoar. Para que a efetividade de seu exercício encante a todos, alguns aspectos devem ser verificados, tais como Lück (2009, p. 76-77) elencou em sua obra e dos quais nos apropriamos, exemplificando-os. 1. Autoconfiança – conhecimento dos pontos fortes e fracos de sua atuação. Exemplo desse exercício é a atualização constante não apenas de saberes, mas de realidades, como ilustrarei na experiência vivenciada por mim. Estava lecionando para crianças de cinco anos, explicando-lhes sobre a Copa do Mundo de 2014, como os times participam desse campeonato,os grandes jogadores que fizeram história como Ronaldinho, Pelé, Zico... Cada criança, cada olhinho, mirava deslumbrado para mim, porém, sem entender nada, pois não conheciam quem eram os brilhantes personagens aos quais estava me referindo. Fiquei um tempo sem saber o que dizer, quando me lembrei do ano de nascimento de cada criança: 2009! Impossível saberem de quem eu estava falando...O único que conheciam era Neymar! Assumindo meu papel de líder na sala de aula e reconhecendo meu ponto fraco, prometi, para a aula seguinte, trazer-lhes fotos desses jogadores. Vale ressaltar mais uma vezque o líder não é apenas o gestor/diretor da unidade educacional, mas todos aqueles que buscam a mudança em prol da qualidade de seu trabalho, motivando a todos. 2. Autoridade.Não podemos confundir nesse caso com autoritarismo, pois nesse regime é prevista a ordem: “Quem pode manda, quem tem juízo obedece!”. A autoridade aqui é entendida como: O educador, que em sua prática busca promover a autonomia dos educandos, deve estar atento na relação autoridade-liberdade. Para que haja a necessária disciplina sem haver autoritarismo ou licenciosidade, o equilíbrio entre ambas é necessário. “O autoritarismo é a ruptura em favor da autoridade contra a liberdade e a licenciosidade, a ruptura em favor da liberdade contra a autoridade”. Assim o autoritarismo não é mais autoridade, mas abuso de autoridade, a licenciosidade não é mais liberdade, mas depravação da liberdade. Ambos são nocivos à autonomia, já que o autoritarismo mantém o educando excessivamente dependente da autoridade e poda a liberdade de escolher e fazer por si mesmo. Já a licenciosidade impede a aprendizagem da autorresponsabilização e permite que o educando se torne dependente dos próprios impulsos e desejos. Tanto a dependência excessiva da autoridade externa quanto a dependência dos próprios impulsos são formas de heteronomias, pois impedem que o sujeito aja de acordo com sua própria lei, impedem que o sujeito seja ele mesmo. (FREIRE,2014, p. 56) 3. Agente de mudança, pois recorre à incapacidade positiva, capaz de fazer crescer e melhorara organização ou grupo que lidera. Esse item pode ser ilustrado principalmente em competições de time, nas quais os técnicos e os capitães promovem mudanças por meio de motivações. 4. Compreensão e convicção quanto aos objetivos a serem alcançados, pois acreditam naquilo que fazem e por que o fazem. 5. Comunicação clara e atraente dos objetivos, engajando os demaisna sua busca, pois é por meio da dicção e da experiência que o líder contará com o apoio de todos entre todos. Vale destacar que a experiência de um líder não está ligada à sua idade ou tempo de experiência em dada função, mas sim na intensidade de sua prática. 6. Foco nos objetivos.Por maiores que sejam as dificuldades, os obstáculos e os contratempos, o líder deve promover inspiração em toda a sua equipe para que “ninguém deixe a peteca cair”, como tão bem salienta um ditado popular. 7. Sensibilidade ao ambiente e às pessoas, compreendendo a vivência e a experiência de cada um, adequando estratégias e ações àrealidade ao seu redor. 8. Habilidade para promover e lidar com interaçõessociais, pois nem todo clima de trabalho é calmo e tranquilo. Existem momentos de “adversidades”, nos quais o líder deve estar preparado para lidar com as “conturbações” e “problemas” do cotidiano. 9. Clima de apoio e confiança, no qual as pessoas aprendem e trocam conhecimentos em prol do desempenho e qualidade do trabalho. 10. Carismático, apto a receber o outro. 11. Sabe ouvir, pois não está ali para julgar, mas auxiliar no que for preciso. 12. Comportamento ético, levando em conta a virtude, a honestidade e a integridade. 13. Senso de justiça, pois todos são responsáveis por aquilo que fazem, e o “erro” deve ser reparado e não repassado para outrem. 14. Coerência, demonstrada em gestos, valores, comportamentos, com humildade para reparar ou corrigir o rumo, quando preciso. 15. Inteligência, pois busca sempre a “insatisfação positiva”. 16. Gosta do que faz, e o faz com qualidade. Como vimos, o líder é aquele que lidera, assume responsabilidades, compartilha conhecimentos e toma decisões coletivamente. Todos são tratados com paridade (igualdade), mas cada um assume sua função. Nos ambientes escolares, chamamos essa forma de administração de gestão compartilhada, na qual participam todos os membros da comunidade interna e externa à escola. Também temos a coliderança, que corresponde à atuação articulada de influência sobre os destinosda escola e seu trabalho de forma planejada e intercomplementar pelos membrosda equipe de gestão da escola, como por exemplo vice-diretor, coordenador pedagógico,supervisor escolar, orientador educacional e secretário da escola (LÜCK, 2009). Mais uma vez, ressaltamos neste item que o trabalho do líder só pode ser realizado com primor se ele estiver apto a propor mudanças e convicções de maneira espontânea nos sujeitos por meio de atitudes. Palavras em reuniõesjá temos experiências de sobra para relatar. Mas uma liderança e uma gestão democrática que compartilhem saberes e experiências de maneira efetiva, ainda temos que trilhar um longo caminho para alcançá-lasplenamente. Por isso, finalizamos nosso subitem com uma ideia para refletirmos sobre o trabalho pedagógico: “Nenhuma escola pode ser melhor do que as pessoas que nela atuam e do que a competência que põem a serviço da educação”(LÜCK, 2009, p.81). Políticas públicas e educação no Brasil Agora, voltaremos nossos olhares para uma área que gera diversas polêmicas: as políticas educacionais. Esse tema provoca muitas controvérsias, pois é inseridoem um campo entre o que é “prescritivo” e “real” daquilo que, de fato, acontece no interior das nossas escolas, o “oculto”. Mas antes de continuarmos esse debate, precisamos definir e entender o que são políticas públicas. De acordo com o professor João Cardoso Palma Filho (2010, p. 10): Numa primeira aproximação pode-se dizer que por políticas públicascompreende-se o conjunto de medidas que o Estado procura executar para um determinado campo de atividades sociais. Em sentido amplo, compõe o que se denomina de políticas sociais, que engloba diferentes setores da atividade humana: educação, transporte, habitação, meio ambiente, economia, com os seus diferentes campos: agricultura, indústria, serviços etc. Desse modo, podemos compreender que essas políticas, no Brasil, são as práticas concretizadas em programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado direta ou indiretamente, que podem contar ou não com a participação de órgãos públicos ou privados, que visam a assegurar, conforme previsto constitucionalmente, como um direito à cidadania. Essa política que não deveria estar condicionada ao termo público, pois se o Estado governa em prol de cuidar de toda a sua população, ou seja, seu público, já deveria estar subentendido que toda política é pública. Porém, em nosso país ainda é preciso reafirmar esse termo em prol dos benefícios e benfeitorias ao nosso povo. De acordo com Palma Filho (2010, p. 10), No Estado democrático, essas políticas representam respostas às demandas que advém da sociedade, ou seja, o Estado se transforma na arena onde interesses conflitantes buscam alcançar seus objetivos. Desse modo, é por meio de lutas coletivas, que se processam no âmbito do Estado, que os bens sociais são distribuídos e redistribuídos. É desse modo também que o Estado, ao chamar para si a tarefa de atender aos reclamos dos diferentes segmentos sociais, legitima-se perante esses mesmos setores. No campo educacional brasileiro, essas tarefas vêm sendo conclamadas e legalizadas desde a Constituição Federal de 1934, influenciada pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova1, sobre os princípios que deveriam 1O "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", datado de 1932, foi escrito durante o governo de Getúlio Vargas e consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo, dentre 26 intelectuais, entre os quais Roldão Lopes de Barros, Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, no meio do processo de reordenação política resultante da Revolução de 1930, o documento tornou-se o marco nortear o funcionamento e a organização do sistema educacional. A legislação que se seguiu a esta e subsidiou a educação, considerada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi a LDB n. 4.024, de 20/12/1961. Com a ditadura militar, a legislação educacional mais uma vez foi promulgada (Lei n.5.692, de 11/08/1971), tratando em seu âmago da organização dos ensinos de 1º e 2º graus e refletindo a nova ordem instaurada. Em 1985, novas políticas foram desenvolvidas e promulgadas em prol da redemocratização do Estado brasileiro. Dentre todos os seus avanços, na área da educação, podemos citar as que estão em vigor desde então: Constituição Federal de 1988; Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069 de 13/07/1990); Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394, de 20/12/1996); Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Ensino Médio(1998); Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (2013). Dentre tantos documentos que legislam a educação brasileira, os estados e os municípios também possuem mecanismos de normatização de suas modalidades educacionais e contam com legislações específicas, instrumentos normativos e executivos de seu sistema e rede de ensino como estatutos do Magistério e concepções teórico-metodológicas consistentes tendo como finalidade a formação e valorização do magistério e a promoção da educaçãopara a formação do cidadão como sujeito autônomo, participativo e capaz deposicionar-se criticamente diante de desafios e resolvê-los. Vale ressaltar também que num mundo globalizado no qual vivemos Palma Filho (2010) aponta em seus estudos que diversos documentos norteadores de nossa educação provêm de organismos internacionais – como Unesco, Banco Mundial, BID, Fundo Monetário Internacional e outros –, alguns dos quais são determinantes em nossa prática e cotidiano educacional. Um exemplo dessa circulação e apropriação de ideias é a Declaração de Jomtien, inaugural do projeto de renovação educacional do país. Além de constatar a desorganização do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e defendia a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros>.Acesso em: 15 maio 2017. intitulada “Educação para Todos” (1990), quepassou a ser uma referência para todos os demais países, inclusive para o Brasil. Dentro do que foi apresentado, não podemos deixar de abordar que a produção da política educacional é um processo político no qual as decisões são tomadas atendendo a um viés da ideologia presente em cada sociedade e em cada tempo histórico, compreendendo quem são os seus agentes e quem detém o controle desse processo. Ora pode ser dotado de um conservadorismo, ora pode ser regido pelas leis do mercado, nos quais ambos vão legitimar a ordem social. No Brasil, as políticas públicas vêm abordando uma nova ordem, a qual tentasuprir problemáticas socioculturaisvivenciadas tanto em âmbito nacional quanto estadual, municipal ou local, realizando por meio de leis, decretos e documentos norteadores a superação da desigualdade, a inclusão de todos nos espaços educacionais, a igualdade entre os gêneros e o respeito pelas diferenças. O entendimento se baseia no fato de que todos estão inseridos em uma sociedade global, tecnológica, e centrada no conhecimento. Essas documentações também levam em conta a natureza humana e seu processo de desenvolvimento nas mais diferentes localidades do nosso país, nas sucessivas etapas devida e em relação aos desafios de cada territorialidade. Desse modo, [...] embora as escolas possam ser consideradas instâncias ideológicas, no sentido de que buscam reproduzir as relações sociais de produção e a divisão classista do trabalho, também são espaços de luta sobre ideologias e recursos. A escola é o local do conflito, pela simples razão de que a sua função social é dupla: preparar trabalhadores e formar cidadãos. (PALMA FILHO, 2010, p. 22) Citamos mais uma vez Palma Filho (2010, p.24), segundo o qual “a cidadania reage. Vive-se um processo de revisão crítica”. Ética e educação:a interface família e escola para a formação moral Pensando a moralidade como comportamento para a convivência social, esta deve-se fazer presente em qualquer âmbito. A esse propósito destaca Goergen (2010, p. 68): A moralidade é uma das dimensões do comportamento humano em sociedade. Fazendo parte de um contexto social, o indivíduo tem seu comportamento orientado por determinados princípios, regras, valores. Nas diversas instâncias da sociedade, ele desempenha seus papéis tendo como referência essa orientação, mais ou menos explícita conforme a natureza da instituição. A formação moral se dá, portanto, no processo de socialização, no qual se constitui a identidade dos indivíduos. Mas, no cotidiano escolar, principalmente, podemos verificar que a moralidade e a ética, em muitas realidades, ficaram em segundo plano. Por que isso aconteceu? De quem é a culpa? Da escola? Da família? Diante de tantos questionamentos, vamos trabalhar com alguns conceitos que não podem estar ausentes neste debate. Chamo a atenção neste item porque o foco deste estudo não é o de buscar culpados ou culpabilizar algum agente como em tantos discursos presentes em aparelhos midiáticos ou até mesmo em documentos que norteiam a educação. O que buscamos aqui é entender alguns conceitos que possam contribuir na e para a formação de nossas crianças, por meio da parceria entre a escola e a família, entre a ética e a moral como virtudes presentes na essência do que é ser humano. Então vamos lá! Iniciando nossas reflexões, vamos falar sobre a questão do juízo de fato e do juízo do observável. Podemos compreender o juízo de fato como sendo a natureza, a relação do que observamos em nosso meio; de forma geral, são os acontecimentos. Já o juízo de valor implica a avaliação do acontecimento, ou seja, a avaliação do juízo do fato. É nele que implicamos normatizações, julgamentos e em alguns casos até mesmo condenações. Nesse momento, nasce a cultura entre dois campos, entendidos aqui como formas de manifestação da cultura: a moral e o sujeito (virtude). Vamos exemplificar: quase todos os povos foram educados a respeitar as pessoas mais velhas, pois elas possuem mais experiência, sabem lidar com os desafios da vida. Agora, imaginemos uma idosa de 70 anos que criou um mecanismo de furtar mercadorias de um supermercado. Podemos citá-la como um bom exemplo da moral e da ética? Recorro a este exemplo diferenciado do exercício pedagógico para demonstrar a dicotomia entre o discurso e a prática da ética. Como julgar nesse caso? Como condenar? Será que essa senhora furtou mercadorias para se alimentar? Será que ela tem algum desvio de conduta? Para tanto, recorremos ao princípio da moral, esta que deve despertar ou criar condições para que os sujeitos se tornem conscientes para refletir com autonomia e em diálogo com os demais. A alteridade deve ser um dos conceitos que devem caminhar junto com a moral e com a ética na e para a formação de seres humanos. A função primordial da escola deve ser a de formar indivíduos conscientes de suas escolhas em regime de colaboração com todos os demais sujeitos que compõem a vida social, assumindo a própria formação e a própria história. Porém, em muitos casos, o que foi construído ao longo do processo educacional foi a escola condenando algumas dessas histórias que os sujeitos trazem para dentro dela e vice-versa: algumas famílias condenando o ensino das escolas. Vamos ilustrar. Uma criança matriculada no primeiro ano da escola faz um questionamento à professora: “Podemos fazer menas lição”. A professora automaticamente corrige a criança: “Não existe ‘menos’, se diz ‘menos’”. A criança, ao retornar ao seu lar, corrige seus membros familiares assim como a professora fez com ela. Muitas famílias respondem às suas crianças: “Só porque tá estudando acha que já sabe tudo!”. Recorro mais uma vez a esse exemplo para podermos ilustrar a importância da relação entre escola e família. Ninguém nesse caso agiu errado; muito pelo contrário, cada um contou com a sua história e com a sua função. Mas, e o pensamento da criança nesse momento, como ficou? Goergen (2010, p. 68) aborda duas dimensões para nos auxiliar: Nesse processo de desenvolvimento, articulam-se estreitamente uma dimensão intelectual e uma dimensão afetiva. A responsabilidade, que é o núcleo do comportamento moral, uma vez que o indivíduo responde às imposições do contexto, pressupõe, de um lado, a liberdade, enquanto possibilidade de escolher, e de outro, o empenho da vontade na definição da escolha. O comportamento moral não se dá na obediência pura e simples às regras, mas exatamente na legitimação dessas regras pelo indivíduo, na possibilidade de passar de uma situação de heteronomia, isto é, de submissão às regras apresentadas pela sociedade, à autonomia, no sentido de possibilidade de pautar sua conduta por regras e valores que assume como significativos, a partir de sua própria vivência, de questionar as regras instituídas e mesmo de definir novas regras. Aproveitando o exemplo citado acima, a partir da aquisição de novos valores e de uma nova cultura (forma escolar) é que as unidades educativas e a família deveriam assumir uma nova identidade, pautada não apenas na troca de conhecimentos, mas de valores e de normas que fundamentem e condicionem a liberdade. Mas como fazer com que a família participe de todo esse processo? Neste estudo, vamos entender a família como sendo um conjunto de membros que convivem juntos. Nessa perspectiva, a família não mais constitui- se como sendo papai, mamãe, filhos e animais de estimação, apenas, mas composta pelas diversas formas de organização familiar. Para muitos, essa é uma questão de debate e é neste ponto que proponho mudanças em nossa forma de pensarmos e repensarmos sobre quais são os valores essenciais de ser e de ter família. Vale ressaltar que nenhum valor é absoluto e nem eterno, e chegou o momento de repensarmos sobre os valores acerca do que é família. Parafraseando Goergen (2010),é aqui que fazemos o trânsito para a ética. Se a formação moral consiste num processo de passar da heteronomia à autonomia, e se a autonomia é conquistada a partir de um exercício de reflexão, é preciso, então, o recurso à ética para que se realize aquela conquista. Essa ética garante não apenas os meus direitos, mas os direitos dos outros, os quais todos devem respeitar. É por isso que o direito é uma norma, pois nos garante liberdade! Se não há norma, há o poder. Este vem sendo o nosso grande desafio na interface entre escola e família: ensinar a norma e os valores, em vez de satisfazer o poder por meio do atendimento de interesses próprios e individuais, sendo as razões como meios para determinados fins, uma racionalidade subordinada de certa forma alienada. Essa racionalidade dos meios é denominada de instrumental, conforme define Repa e Pinzani (2008, p. 19): A racionalidade instrumental define-se por ser estritamente formal. Não importam os conteúdos das ideias e dos princípios que possam ser considerados racionais, mas a forma como essas ideias e princípios podem ser utilizados para a obtenção de um fim qualquer. Ou seja, a racionalidade instrumental, formal caracteriza-se, antes de tudo, pela relação entre meios e fins. Ela só diz respeito aos meios, aos critérios de eficácia na escolha dos meios para atingir os fins, sejam eles quais forem. Neste momento, temos que ter muito cuidado na forma como utilizamos os conceitos, pois os associados à ética e à moral têm sido usados indistintamente. Vale fazer a distinção, apontando a moral como o conjunto de princípios, valores, regras que orientam a conduta dos indivíduos em sociedade, ao passo que a ética é concebida como a reflexão crítica sobre a moral, que indaga sobre aconsistência e a coerência daqueles valores, definindo/explicitando seus fundamentos (GOERGEN, 2010). Deste modo, é preciso que a escola e a família façam um grande investimento em suas próprias estruturas, objetivando os seus papéis, reconhecendo que precisam repensar acerca da “norma” de cada instituição para que possam formar, em parceria, cidadãos autônomos não para atuarem apenas no futuro, mas em nosso tempo, o presente. Precisamos romper com a lógica do “burlar” e colocar novamente os limites, pois estes garantem os nossos direitos como seres humanos. Mas, para que isso aconteça, e de acordo com Nóvoa (2010, p. 10): Para que este investimento positivo tenha lugar é preciso assegurar, pelo menos, duas condições: a primeira é que não seja negado às famílias, sobretudo às famílias dos meios populares, o direito de decidirem e de participarem na educação dos seus filhos; a segunda é que os esforços de reforma educativa não tomem os professores como culpados da crise actual dos sistemas de ensino. As instituições educacionais como espaço de trabalho As instituições de ensino são concebidas hoje como espaço de trabalho. A formação de cidadãos críticos, detentores de conhecimentos, aptos para atuar no mercado de trabalho e que saibam conviver em sociedade passou a compor as prerrogativas da organização escolar (BRASIL, [s.d.]). Mas afinal, qual o conceito de trabalho? O trabalho tem sua origem na palavra latina tripalium. Tripalium era um instrumento utilizado por agricultores para bater os cereais. Essa atividade de “bater” para separar o alimento foi associada posteriormente às ações de tortura. Por isso, quando falamos em trabalho, fazemos a relação automática entre trabalho e labor, trabalho e tortura. Com isso, a própria ação do trabalho não nos remete a situações de alegria; muito pelo contrário, nos revela formas “tortuosas” como cansaço. Nesse quesito, devemos pensar a escola como trabalho e os impactos que geram nas pessoas que nela atuam, os quais perpassam desde a valorização dos profissionais que nela atuam até os alunos os quais usufruem esse espaço, isso sem contar as atividades que nela são produzidas. A partir desde dado, podemos pensar que a escola foi se associando ao desenvolvimento do capitalismo e do processo de burocratização das organizações sociais ao longo de sua estruturação, incluindo as formas relacionais e modos de produção do trabalho que foram historicamente construídos a partir da atribuição de novos significados: • aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim; • atividade coordenada de caráter físico ou intelectual necessário à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento; • exercício de atividade, como ocupação, ofício, profissão etc. Com isso, os fundamentos e o cotidiano escolar se reorganizarampara atender não apenas uma nova forma de aparelhamento, mas de repensar a escola em suas atividades de planejar, comandar, organizar, controlar e coordenar os trabalhos: pedagógico, recursos humanos, burocrático e administrativo. Para tanto, essa reorganização deve subsidiar e sanar a questão da falha e da qualificação, desafios tão constantes na realidade educacional brasileira. Por isso, abrangeremos as instituições educacionais como espaços de trabalho para potencializarmos a prática da gestão da sala de aula e dos demais ambientes educativos. Apresentaremos essas formas de organização seguindo os seguintes critérios: O sistema de organização e a gestão escolar Organização, administração e gestão são termos aplicados aos processos organizacionais, com significados muito parecidos. Libâneo (2004, p. 97), descreve o significado de cada termo, da seguinte maneira: Organizar significa dispor de forma ordenada, articular as partes de um todo, prover as condições necessárias para realizar uma ação; administrar é o ato de governar, de pôr em prática um conjunto de normas e funções; gerir é administrar, gerenciar, dirigir. No campo da educação, a expressão organização escolar é frequentemente identificada com administração escolar, termo que tradicionalmente caracteriza os princípios e procedimentos referente à ação de planejar o trabalho da escola, racionalizar o uso de recursos (materiais, financeiros, intelectuais), coordenar e controlar o trabalho das pessoas. Seguindo os preceitos de Libâneo, a administração escolar doravante concebida passou a ser gerida pela gestão escolar. Mesmo com a mudança da nomenclatura, os termos ainda perpassam o plano apenas teórico, o que nos leva a refletir que o sistema de organização escolar ainda precisa perpassar a zona de autonomia relativa (limite entre os fatores internos e externos2) em prol do desenvolvimento de um trabalho libertário. O sistema de organização da gestão escolar O estudo da escola como organização de trabalho é realizado desde a década de 1930 e, frequentemente, esteve marcado por uma concepção burocrática, funcionalista, aproximando as características da organização escolar à organização empresarial. De acordo com Libâneo (2004), distinguiremos duas concepções dos processos de organização e gestão em relação às finalidades sociais e políticas da educação: Concepção científico-racional – visão burocrática e tecnicista da escola, dá forte peso à estrutura organizacional, à definição rigorosa de cargos e funções, à hierarquia de funções, às normas e regulamentos, à direção centralizada e ao planejamento com pouca participação das pessoas; Concepção sociocrítica – um sistema que agrega pessoas, destacando o caráter intencional de suas ações. A organização escolar é construída pela comunidade educativa, envolvendo professores, alunos, pais (forma de democracia de gestão e de tomada de decisão coletivamente); essa concepção de escola se manifesta em diferentes formas de organização e gestão: concepção técnico-científica; concepção autogestionária; concepção interpretativa; e concepção democrático-participativa. Diante de tais concepções, e mesmo ambas tendo que caminhar juntas em todos os momentos da organização desse sistema, o que se busca tambémé a “alma da escola”, como salienta Vasconcellos (2012) em seus estudos. Essa alma, que dá a vida à instituição, deve trabalhar com três dimensões em seu organograma: o relacionamento interpessoal, o trabalho com o conhecimento e a organização da coletividade. 2De acordo com Vasconcelos (2012), podemos compreender os fatores internos como sendo a formação inicial e continuada dos professores, os salários, o plano de carreira e de concurso, as condições de trabalho, a tarefa da família em assumir as suas responsabilidades com seus entes, a valorização social da escola e dos seus profissionais. Já os fatores externos referem- se a revisão das práticas e posturas dos profissionais que atuam na escola. A estrutura organizacional de uma escola O termo estrutura, no caso da escola, tem o sentido de ordenamento e disposição das funções que asseguram o funcionamento de um todo. Toda instituição escolar necessita de uma estrutura de organização interna, geralmente prevista no regimento escolar ou em legislação específica, seja de origem estadual, seja municipal. De acordo com Libâneo (2004), a estrutura é geralmente representada por meio de órgãos colegiados e refletem a concepção de organização e gestão adotadas, sendo estes divididos em: Conselho de escola – atribuições consultivas, deliberativas e fiscais, envolvendo aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros; Direção – o diretor coordena, organiza, auxiliado pelos demais componentes, atendendo às normas e aos regulamentos legislativos. O assistente desempenha as mesmas funções na condição de substitutodo diretor; Setor técnico-administrativo – atividades-meio que asseguram o atendimento dos objetivos e funções da escola: secretaria escolar, zeladoria, vigilância e serviço de multimeios (biblioteca, laboratórios, equipamentos audiovisuais, videoteca e outros recursos didáticos); Setor pedagógico – atividades de coordenação pedagógica e orientação educacional, englobando: supervisionar, acompanhar, assessorar, apoiar, avaliar atividades pedagógico-curriculares, prestar assistência pedagógica aos professores em suas respectivas disciplinas; Instituições auxiliares – Associação de Pais e Mestres (APM), grêmio estudantil e caixa escolar vinculadas ao Conselho de escola ou ao diretor; Corpo docente (função – realizar o objetivo prioritário da escola, o processo ensino-aprendizagem) e corpo discente (constitui-se por alunos e suas associações representativas). O processo de organização escolar dispõe de funções que são propriedades comuns ao sistema organizacional de uma instituição, a partir das quais se definem ações e operações necessárias ao funcionamento. As funções ou elementos da organização e gestão englobam, de acordo com Libâneo (2004): Planejamento – explicitação de objetivos e antecipação de decisões para orientar a instituição; Organização – racionalização de recursos humanos, físicos, materiais, financeiros, criando e viabilizando as condições e modos para se realizar o que foi planejado; Direção e coordenação – coordenação do esforço humano coletivo do pessoal da escola; Avaliação – comprovação e avaliação do funcionamento da escola. Porém, para que toda essa estrutura possa funcionar e trabalhar de maneira acoplada é preciso que três funções dialéticas acompanhem esse organograma: o querer, o agir e o expressar, no qual o trabalho escolar deva ser direcionado para a mobilização da aprendizagem, a construção do conhecimento, a elaboração e expressão da síntese do conhecimento e da análise, por meio de um trabalho mediador em que todos possam enfrentar os desafios do dia a dia escolar. Considerações finais Chegamos ao final do nosso estudo, pensando o quão desafiador é a atuação do educador/gestor/líder nos espaços educativos. Verificamos que a liderança não apenas abrilhanta vidas, mas faz com que todos possam sonhar juntos e transformar tais sonhos em realidade. Num segundo movimento, verificamos que toda política já é pública por si só, pois o Estado deve manter práticas que permeiem o bem-estar de toda a população. Como uma proposta de reafirmação de direitos, as políticas públicas na área educacional garantem não apenas o acesso, mas a permanência de nossos educandos à rede pública de ensino. Num terceiro movimento, constatamos que é imprescindível a parceria na interface entre escola e família na formação de crianças éticas e responsáveis e que essa parceria precisa ultrapassar o limiar da culpabilização. Num quarto e último movimento, percebemos que as instituições educacionais são espaços de trabalho porque não apenas colaboram no processo ensino- aprendizagem de nossos discentes trabalhando com conteúdos acadêmicos, mas representam espaço de troca de conhecimento e que atendem a todos os mecanismos burocráticos e rígidos de uma organização. Desse modo, é imprescindível que todos os membros que compõem o quadro educacional, independentemente da função em que atuem, sejam responsáveis e mediadores em acolher, provocar, subsidiar e interagir com alegria em prol do desenvolvimento humano. Dizer que a responsabilidade é de todos não significa dizer que ela não é de ninguém. Ao contrário, cada segmento social, cada instituição, cada indivíduo deve assumir responsabilidade moral e ética em seu âmbito de atuação. E essa atuação “alegre” é um convite à provocação de trabalharmos em prol de um crescimento efetivo de nossos educandos, enxergando neles a potência de mudança para o presente, conscientes de sua realidade e analíticos no enfrentamento de desafios. Bastos (2002, p. 58) nos diz: [...] a escola necessita da adesão de seus usuários (não só de alunos, mas também de seus pais ou responsáveis) aos propósitos educativos a que ela deve visar, e que essa adesão precisa redundar em ações efetivas que contribuam para o bom desempenho do estudante. Ou seja, “se a escola não participa da comunidade, por que irá a comunidade participar da escola?” (PARO, 2010, p. 27). Por isso, os fundamentos de organização devem se fazer presentes no cotidiano educacional: no espaço escolar que podemos trabalhar com a formação de cidadãos;a partir dos bens culturais que poderemos transmitir conhecimentos para nossos alunos e para toda a comunidade; abrindo o espaço para as famílias que podemos planejar o cotidiano; a partir da construção da democracia que podemos articular direitos e deveres, na gestão colegiada, que a paridade se fará justa nas decisões; e na integração escola- comunidade que podemos dar a vida para o ambiente escolar. Eis o nosso grande desafio! Referências BOMENY, H. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. FGV CPDOC. [S.d.]. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros >. Acesso em: 14 maio 2017. BASTOS, J. B. (Org.). Gestão democrática – O sentido da escola. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação. 2014-2024. [S.d.]. 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