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O Estoicismo Hoje Sabedoria Ancestral - Patrick Ussher

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Contents
Imprint
Marco Aurélio
Sobre o projeto Estoicismo Hoje
Sumário
Contribuidores
Prefácio
Introdução
O que é o Estoicismo
Capítulo 1: Teoria Estoica
A Visão Estoica sobre a Comunidade Humana
Os Estoicos Não São Frios!
Sobre as Motivações de um Estoico
Capítulo Dois: Adaptando o Estoicismo aos Dias Atuais
Uma Abordagem Simplificada e Moderna do Estoicismo
O Que os Estoicos Podem Fazer por Nós?
Capítulo Três: Conselhos Estoicos
Gratidão e Encantamento
Felicidade à Venda – O Que Sêneca Diria?
Veja como um Estoico: Uma Técnica Antiga para Consumidores Modernos
Capítulo Quatro: Histórias de Vida
Ser Um Advogado Estoico
O Prefeito Estoico
A Maior de Todas as Lutas
O Médico Estoico
Reflexões de uma Mulher Estoica
Sobre Gambás, Chucrute e Estoicismo
Capítulo Cinco: Estoicismo para Pais E Professores
Paternidade e A Aceitação Estoica
Elogie o Processo
Estoicismo no Ensino e Controle Estoico
Levando a Filosofia Prática para a Sala de Aula
Capítulo Seis: Estoicismo e Psicoterapia
Um Esboço das Influências Estoicas na Logoterapia de Viktor Frankl
Meu Retorno à Saúde Mental com a TCC e o Estoicismo
Capítulo Sete: Estoicismo e Atenção Plena
A Atenção Plena do Estoicismo e a Atenção Vazia do Budismo
Existia uma “Atenção Plena Estoica”?
Capítulo Oito: Literatura Estoica e o Estoicismo na Cultura Moderna
O Clube de Epiteto: Excerto
The Phoenix Cycle: Ficção Científica Estoica
Sócrates no clube Saracens
“Acho que toda criança deveria aprender filosofia estoica”: Uma Conversa
com John Lloyd
Estoicismo e Star Trek
Sua classificação e suas recomendações diretas farão a diferença
Notizen
 
O Estoicismo Hoje: Sabedoria Antiga para a
Vida Moderna
 
Patrick Ussher
 
 
 
Traduzido por Taís Paulilo Blauth 
 
 
“O Estoicismo Hoje: Sabedoria Antiga para a Vida Moderna”
Escrito por Patrick Ussher
Copyright © 2015 Patrick Ussher
Todos os direitos reservados
Distribuído por Babelcube, Inc.
www.babelcube.com
Traduzido por Taís Paulilo Blauth
“Babelcube Books” e “Babelcube” são marcas comerciais da Babelcube Inc.
 
 
 
 
 
~
 
 
“Sê como o promontório onde quebram as ondas: mantém-te
firme e reúne as águas para que descansem.”
 
Marco Aurélio, Meditações, 4.48.
 
~
Sobre o projeto Estoicismo Hoje
 
A equipe do projeto Estoicismo Hoje (Stoicism Today) é composta por
acadêmicos das universidades de Exeter, King's College, University of
London e Queen Mary e por psicoterapeutas do Reino Unido e Canadá, que
trabalham juntos para produzir recursos relacionados ao Estoicismo com foco
nos dias atuais. O grupo já organizou duas Semanas Estoicas internacionais
(em novembro de 2012 e 2013). Cerca de 2.200 pessoas participaram do
evento em 2013, no qual receberam um livreto de 38 páginas contendo
exercícios e conselhos para prática diária. Houve também uma reunião
pública em Londres, que contou com a participação de mais de 200 pessoas.
A Semana foi mencionada em diversas publicações, entre elas os jornais
Toronto Globe & Mail e The Daily Telegraph, o programa Channel 4 Online
e a revista The Spectator. Foi citada também em rádios como a BBC Radio 4,
a BBC Wales e a BBC World Service. Cerca de 2.500 pessoas participaram
da Semana Estoica 2014 (realizada entre 24 e 30 de novembro), que foi citada
na revista Newsweek e na ABC Radio da Austrália. Há também o blogue do
Estoicismo Hoje (ver link abaixo), de onde foram selecionados os artigos
para este primeiro volume. O blogue teve quase 600 mil acessos nos
primeiros dois anos. Haverá uma nova edição da Semana Estoica no final de
novembro de 2015.
Jules Evans, Gabriele Galluzzo, Gill Garratt, Christopher Gill, Tim LeBon
Donald Robertson, John Sellars e Patrick Ussher são os membros do projeto
Estoicismo Hoje.
Ao adquirir este livro, você está contribuindo para um fundo de apoio aos
projetos da equipe do Estoicismo Hoje.
Referências da Internet:
 
Blogue: http://blogs.exeter.ac.uk/stoicismtoday/.
Canal do Youtube: https://www.youtube.com/user/StoicismToday
Twitter: https://twitter.com/StoicWeek
Grupo no Facebook: https://www.facebook.com/groups/Stoicism/
http://blogs.exeter.ac.uk/stoicismtoday/
Sumário
 
Contribuidores
Prefácio Stephen J. Costello
Introdução Patrick Ussher
O que é o Estoicismo – John Estoicismo
Capítulo 1: Teoria Estoica
'Ideias Centrais da Ética Estoica em Marco Aurélio' - Christopher Gill
'A Visão Estoica sobre a Comunidade Humana' - Patrick Ussher
'Os Estoicos Não São Frios!' - Donald Robertson
'Sobre as Motivações de um Estoico' - Michel Daw
Capítulo Dois: Adaptando o Estoicismo aos Dias Atuais
'Qual Estoicismo?' - John Sellars
'Uma Abordagem Simplificada e Moderna do Estoicismo' - Donald
Robertson
'O Que os Estoicos Podem Fazer por Nós?' - Antonia Macaro
Capítulo Três: Conselhos Estoicos
'Sobre a Aceitação da Morte' - Corey Anton
'Gratidão e Encantamento' - Mark Garvey
'Felicidade à Venda - O Que Sêneca Diria?' - Laura Inman
'Uma Técnica Antiga para Consumidores Modernos' - Tim Rayner
Capítulo Quatro: Histórias de Vida
'Minhas Experiências com o Estoicismo' - Helen Rudd
'Ser um Advogado Estoico' - Paul Bryson
'O Prefeito Estoico' - Jules Evans
'A Maior de Todas as Lutas'- Kevin Kennedy
'O Médico Estoico' - Roberto Sans-Boza
'Reflexões de uma Mulher Estoica' - Pamela Daw
'Sobre Gambás, Chucrute e Estoicismo' – Eric Knutzen & Kelly Coyne
Capítulo Cinco: Estoicismo para Pais e Professores
'Estoicismo para Lidar com Crianças Pequenas' - Chris Lowe
'Paternidade e Aceitação Estoica' - Jan Fredrik-Braseth
'Elogie o Processo' - Matt Van Natta
'Estoicismo no Ensino e Controle Estoico'- Michael Burton
'Levando a Filosofia Prática para a Sala de Aula' - Jules Evans
Capítulo Seis: Estoicismo e Psicoterapia
'O Estoicismo Funciona? Estoicismo e Psicologia Positiva' - Tim LeBon
'Um Esboço das Influências Estoicas na Logoterapia de Viktor Frankl' -
Stephen J. Costello
'Meu Retorno à Saúde Mental com a TCC e o Estoicismo' - James
Davinport
Capítulo Sete: Estoicismo e Atenção Plena
'Virtude com Atenção Plena: Meditação Oriental para a Ética Estoica' -
Ben Butina
'A Atenção Plena do Estoicismo e a Atenção Vazia do Budismo' -
Aditya Nain
'Existia uma Atenção Plena Estoica?' - Patrick Ussher
Capítulo Oito: Literatura Estoica e o Estoicismo na Cultura Moderna
'O Clube de Epiteto: Estoicismo na Prisão' - Jeff Traylor
'The Phoenix Cycle: Ficção Científica Estoica' - Bob Collopy
'Sócrates no Clube Saracens' - Jules Evans
'Uma Conversa com John Lloyd' - Jules Evans
'Estoicismo e Star Trek' - Jen Farren
Contribuidores
Corey Anton (Ph.D., Purdue University, 1998) é professor de Estudos da
Comunicação na Grand Valley State University. Entre seus livros publicados,
estão Selfhood and Authenticity (SUNY Press, 2001) e Sources of
Significance: Worldly Rejuvenation and Neo-Stoic Heroism (Duquesne
University Press, 2010).
 
Jan-Fredrik Braseth é norueguês, filósofo, e possui mestrado em Filosofia e
formação em aconselhamento filosófico. Vive em Oslo e trabalha como
conselheiro, atendendo pessoas desempregadas em decorrência de problemas
de saúde. Website: www.janfredrik.no.
 
Paul Bryson é advogado e vive e trabalha na área metropolitana de
Columbus, Ohio. Interessa-se pela filosofia estoica desde que a conheceu nos
trabalhos de Sêneca, durante as aulas de latim do segundo grau. Blogue:
stoiclawyer.wordpress.com.
 
Michael Burton é canadense e professor em uma escola secundária no Reino
Unido. Conheceu o Estoicismo quando era aluno de filosofia na escola
secundária e desde então tem sido inspirado por essa filosofia. Escreve sobre
questões de filosofia e educação em: burtonsblogs12.blogspot.co.uk/. 
 
Bem Butina trabalha na área de treinamento e desenvolvimento. É mestre em
Aconselhamento e está cursando doutorado em Psicologia. Além do
Estoicismo, interessa-se por filosofia e religião oriental. Vive com sua mulher
e filhos em Latrobe, Pensilvânia. Blogue: approximatelyforever.com.
 
Bob Collopy é autor, piloto, diretor de marketing/ gerente de sucursal em
uma empresa de corretagem imobiliária e parceiro de uma nova start-up
fundada pela Arizona State University,que tem por objetivo criar e
comercializar um novo tipo de computador apropriado para mergulho. É
também escoteiro Eagle.
 
Stephen J. Costello é fundador e diretor do Instituto Viktor Frankl da
Irlanda. É filósofo, logoterapeuta/ analista existencial e escritor. Leciona
http://www.janfredrik.no/
http://burtonsblogs12.blogspot.co.uk/
filosofia e psicologia há mais de 20 anos na University College Dublin, na
Trinity College Dublin e, mais recentemente, na Dublin Business School. É o
autor dos livros The Irish Soul: In Dialogue (The Liffey Press, 2002), The
Pale Criminal: Psychoanalytic Perspectives (Karnac Books, 2002), 18
Reasons Why Mothers Hate Their Babies: A Philosophy of Childhood
(Eloquent Books, 2009), Hermeneutics and the Psychoanalysis of Religion
(Peter Lang AG., 2009), The Ethics of Happiness: An Existential Analysis
(Wyndham Hall Press, 2011), What are Friends For?: Insights from the
Great Philosophers (Raider Publishing International, 2011), Philosophy and
the Flow of Presence (Cambridge Scholars Publishing, 2013), e The Truth
about Lying (The Liffey Press, 2013).
 
Kelly Coyne é coautora, juntamente com seu marido, Erik Knutzen, de The
Urban Homestead: Your Guide to Self-Sufficient Living in the Heart of the
City (Process, 2010) e de Making It: Radical Home Ec for a Post Consumer
World (Rodale Press, 2011). Website: www.rootsimple.com.
 
James Davinport é um pseudônimo. Ele vive e trabalha em Londres.
 
Michel Daw é professor de adultos há mais de 20 anos. Escreve, fala e posta
em seu blogue sobre todos os assuntos relacionados ao Estoicismo.
Coordena, juntamente com sua esposa, Pamela Daw, uma série de workshops
sobre o Estoicismo em sua comunidade, que se reúne regularmente no
Canadá. Blogue: livingthestoiclife.org
 
Pamela Daw é mãe de três crianças adultas e é casada com Michel Daw há
28 anos. Ao lado de seu marido, coordena uma comunidade estoica que se
reúne regularmente no Canadá. Blogue:
musingsofastoicwoman.blogspot.com.
 
Jules Evans é o autor de Philosophy for Life and Other Dangerous
Situations (Rider, 2013). É diretor de políticas no Centre of the History of
Emotions, no Queen Mary College da Universidade de Londres. Mais
recentemente, desenvolveu e coordenou um curso de filosofia prática na
penitenciária Low Moss, na Escócia, e no clube Saracens no Reino Unido.
Website: philosophyforlife.org.
http://www.rootsimple.com
http://livingthestoiclife.org
http://philosophyforlife.org
 
Jen Farren é uma escritora freelancer que vive nos Bálcãs. Escreve sobre a
arte, cultura e ideias antigas e atuais dos Bálcãs em seu blogue:
gotirana.wordpress.com. Sua carreira é em pesquisa, análise, escrita e
comunicação para o metrô, a polícia e a administração de Londres. Já
escreveu para o Teatro IROKO, o projeto Royal Docks e o Heritage Lottery
Fund.
 
Mark Garvey é autor de Stylized (Touchstone, 2009), Come Together
(Thomson, 2006), e Searching for Mary (Plume, 1998). Seus artigos e ensaios
já figuraram em publicações como The Wall Street Journal, The Oxford
American, Writer's Digest, entre outras. Ele mora em Cincinnati, Ohio, e
mantém o blogue OldAnswers.com.
 
Christopher Gill é professor emérito de Pensamento Antigo na Universidade
de Exeter, no Reino Unido. Tem diversas publicações sobre filosofia antiga,
entre as quais os livros The Structured Self in Hellenistic and Roman Thought
(Oxford University Press, 2006), Naturalistic Psychology in Galen &
Stoicism (Oxford University Press, 2010). Escreveu também a introdução e
notas para Epictetus: Discourses, Fragments, Handbook e Marcus Aurelius:
Meditations, ambos da série de clássicos da Oxford World's Classics.
 
Laura Inman é pesquisadora independente, escritora freelancer, tutora e
advogada aposentada. Seu trabalho como pesquisadora de Brontë inclui The
Poetic World of Emily Brontë (Sussex Academic Press, 2014) e artigos sobre
Emily Brontë nas publicações Brontë Studies e Victorians: Journal of
Culture and Literature. Seus artigos sobre literatura e Estoicismo e seus
contos já figuraram em revistas e blogues online, incluindo seu próprio
blogue, thelivingphilosopher.com, um guia estoico e literário para a vida.
Possui um doutorado profissional pela Escola de Direito da University do
Texas em Austin, graduação em Francês pela Universidade do Arizona e
mestrado em Educação Inglesa pelo Manhattanville College em Purchase,
Nova York.
 
Kevin Kevin é um historiador, escritor e guia turístico germano-americano
que vive e trabalha em Potsdam, na Alemanha. Sua especialidade é a história
http://gotirana.wordpress.com
moderna inicial da Prússia, Alemanha e Europa Central, mas ele se interessa
também por estudos urbanos, filosofia e, é claro, Estoicismo.
 
Erik Knutzen é coautor, junto com sua esposa Kelly Coyne, de The Urban
Homestead: Your Guide to Self-Sufficient Living in the Heart of the City
(Process, 2010) e de Making It: Radical Home Ec for a Post Consumer
World (Rodale Press, 2011). Website: rootsimple.com.
 
Tim LeBon é terapeuta registrado no UKCP (Conselho de Psicoterapia do
Reino Unido) e trabalha no Sistema Nacional de Saúde no IAPT (projeto de
melhoria de acesso às terapias psicológicas), usando a Terapia Cognitivo-
Comportamental em associação com sua prática privada como conselheiro e
coach de vida no centro de Londres. É o editor fundador do periódico
Practical Philosophy e autor de Wise Therapy (Sage, 2001) e de Achieve
Your Potential with Positive Psychology (Hodder, 2014). Website:
www.timlebon.com. 
 
Chris Lowe vive em Halifax, Nova Escócia. Seu interesse pelo Estoicismo
começou no final de 2013. Ele estuda os clássicos de Epiteto e Marco Aurélio
paralelamente às filosofias orientais de base semelhante. Chris é um
autodidata do Estoicismo e mantém um blogue: stoicism.ca.
 
Antonia Macaro tem um background em psicoterapia e aconselhamento no
campo de drogas e álcool, com registro no UKCP. Tem mestrado em filosofia
e está envolvida com o movimento de aconselhamento filosófico desde o seu
início no Reino Unido. Escreveu Reason, Virtue and Psychotherapy (Wiley-
Blackwell, 2006) e, com Julian Baggini, The Shrink and the Sage (Icon
Books, 2012). Em novembro de 2013, participou da mesa redonda no Dia do
Estoicismo para a Vida Diária em Londres. Website: antoniamacaro.com.
 
Aditya Nain é mestre em Filosofia pela Universidade de Puna, na Índia, e
tem especialização em Finanças pela Universidade de Londres. Paralelamente
ao seu trabalho como professor assistente na SSLA (Symbiosis School for
Liberal Arts) em Puna, está cursando doutorado no Indian Institute of
Technology em Bombaim, no programa para professores de faculdades, na
área de Filosofia do Dinheiro. Blogue: adityanain.com.
http://www.timlebon.com/
http://stoicism.ca/
http://antoniamacaro.com
 
Tim Rayner é cofundador e diretor do projeto One Million Acts of
Innovation (Austrália). Lecionou Filosofia nas Universidades de Sydney e de
New South Wales, na Austrália. É autor do manual de transformação Life
Changing: A Philosophical Guide (2012) e do premiado curta-metragem
Coalition of the Willing (2010). Website: timrayner.net.
 
Donald Robertson é psicoterapeuta cognitivo-comportamental, treinador e
escritor e especializado no tratamento da ansiedade e no uso da TCC e da
hipnoterapia clínica. É autor de Teach Yourself Stoicism and the Art of
Happiness (Teach Yourself, 2013), Resilience: Teach Yourself How to
Survive and Thrive in Any Situation (Teach Yourself, 2012) e de The
Philosophy of Cognitive Behavioral Therapy: Stoic Philosophy as Rational
and Cognitive Psychotherapy (Karnac Books, 2010). Blogue: philosophy-of-
cbt.com.
 
Helen Rudd sofreu uma lesão cerebral traumática em 2006 e ficou em coma
por três semanas. Caiu em profunda depressão quando percebeu o quanto sua
vida havia mudado, principalmente porque deixou de ser fisicamente apta. 
Por meio do Estoicismo, entretanto, sua vida se abriu e ela agora aproveita ao
máximo cada dia.
 
Roberto Sans-Boza graduou-se na Universidade de Cadiz, na Espanha, em
1991. Completou sua formação em neurofisiologia clínicano hospital da
Universidade de San Carlos, em Madri, e uma formação complementar nas
subáreas de eletrocorticografia e videotelemetria no Montreal Neurological
Institute (Canadá). O Dr. Sans-Boza assumiu seu primeiro cargo de Consultor
em 1998 no Walton Centre em Liverpool e no Glan Clwyd Hospital em
North Wales. Entrou para o departamento de Neurofisiologia Clínica em
Derriford em 2013.
 
John Sellars é pesquisador em King's College, na Universidade de Londres.
Tem dois livros sobre filosofia estoica: Stoicism (Routledge, 2006) e The Art
of Living: The Stoics on the Nature and Function of Philosophy (Bloomsbury
Academic, 2013). Website: www.johnsellars.org.uk.
 
http://philosophy-of-cbt.com
Jeff Traylor tem uma vasta experiência com o sistema prisional que inclui
desde a implementação do programa de licenças da penitenciária de
segurança máxima de Ohio até sua atuação como instrutor de habilidades em
uma unidade correcional comunitária. Trabalhou na faculdade do Michigan
Judicial Institute e treinou centenas de profissionais, desde fiscais de
condicional até assistentes sociais. Graduou-se pela Ohio State University e é
autor de uma série de livros de viagem sobre Ohio chamada Life in the Slow
Lane (King of the Road Press).
 
Patrick Ussher é doutorando na Universidade de Exeter e faz pesquisa sobre
o desenvolvimento ético estoico. Sua dissertação de mestrado compara o
Estoicismo e o Budismo 'ocidental'. Ele edita e gerencia o blogue do projeto
Estoicismo Hoje.
 
Matt Van Natta é estoico praticante e blogueiro (immoderatestoic.com). É
também marido, pai e profissional de gerenciamento de emergências. O
Estoicismo o ajuda muito em cada um desses papéis.
Prefácio
Stephen J. Costello, Ph.D.
 
Este livro reflete e representa uma ampla gama de tópicos e temas, desde a
ética estoica e as emoções até a paternidade, os sentimentos e Viktor Frankl,
de prefeitos de orientação estoica e atenção plena até a filosofia prática, a
criação dos filhos, a psicoterapia e as penitenciárias, de Star Trek e Sócrates a
advogados, à literatura e ao viver estoico em geral. Assim, há algo para todos
nesta eclética compilação.
Há dois significantes no título deste livro: “Estoicismo” e “hoje”. Isto
sugere que o Estoicismo ateniense antigo (escola de filosofia prática
helenística) tem ainda algo a nos dizer nos dias de hoje. Os estoicos lutavam
contra o sofrimento; desejavam sujeitar sua vontade ao mundo e cultivar a
virtude a fim de florescer. Acreditavam que o comportamento do indivíduo
era mais importante do que suas palavras. Viam a filosofia menos como uma
disciplina arcana, acadêmica, teórica e difícil e mais como um modo de vida
para os que amavam a Sabedoria (sophia) e o Bem (agathon).
Desde o início, a filosofia mostrou-se popular. E isto porque era prática,
mas também profunda. Foi bem recebida até mesmo por um imperador,
Marco Aurélio, que se tornou ele próprio estoico e redigiu as famosas
Meditações. Entretanto, outro imperador, Justiniano I, fechou essas escolas
“pagãs” de filosofia em 529 a.C. porque eram vistas como incompatíveis com
o cristianismo de Constantino (Constantino, o Grande, havia promovido o
primeiro Concílio de Niceia em 525 a.C.). Mas as ideias estoicas permearam
a espiritualidade de S. Inácio de Loyola, para citar apenas um dos líderes
religiosos que cristianizaram antigos exercícios espirituais estoicos, como
viriam a fazer muitos outros.
Então, qual o grande encanto dessa filosofia? Os estoicos querem que
pratiquemos a força ante os reveses do destino; que desenvolvamos o
autocontrole, sobretudo sobre as emoções destrutivas e negativas; que
aumentemos nosso bem-estar moral e espiritual; que alinhemos nossas vidas
com o logos divino que permeia toda a criação. Querem que sejamos
apaixonadamente e alegremente pacíficos, sábios, corajosos, disciplinados e
justos. Que examinemos nossas vidas e pratiquemos disciplinas diárias
(exercícios espirituais) que, tornando-se hábitos do coração, nos auxiliem no
aqui e agora. Que sejamos indiferentes às coisas indiferentes e nos
concentremos no que podemos controlar e escolher, desapegando-nos daquilo
que não podemos controlar e escolher. Que vivamos em harmonia e
permaneçamos em um estado de felicidade, para ajudarmos uns aos outros e
vivermos no amor. Isto porque o que nos afeta não são as coisas, mas a
interpretação que nossa mente faz delas, a visão delas que adotamos. E não
são esses ideais dignos de se buscar, ter e ser? Em resumo, os estoicos
querem que vivamos de modo mais significativo e menos descuidado.
Fundado por Zenão, o Estoicismo atraiu homens da estatura do
advogado Sêneca, do ex-escravo Epiteto e do imperador Marco Aurélio.
Estes se destacaram como as primeiras estrelas novas do movimento. Seus
escritos, sejam as Cartas de Sêneca, os Discursos de Epiteto ou as
Meditações de Marco Aurélio, inspiram, elevam, enobrecem. Convencem e
gentilmente repreendem, ao mesmo tempo que encorajam. Em última análise,
nada pode realmente tocar nossa alma, nossa cidadela interna. Muito se
encontra sob nosso poder e alcance. E o resto? O resto a Deus pertence. É
problema Dele, não nosso. A questão não é quanto tempo vivemos, mas com
qual grau de nobreza: viver diz respeito à profundidade, não à duração. Isto
também era ensinado no antigo e nobre pórtico (stoa). Você não deseja ser
livre? Pare de ser um escravo, então. Os estoicos nos mostraram um caminho
e acenderam lanternas para iluminar a escuridão dos nossos tempos. Cabe a
nós segui-los. Ou não, conforme for.
Dublin, julho de 2014.
Introdução
Sendo uma robusta filosofia e modo de vida, cuja principal proposição é a de
que o cultivo da virtude permite tanto uma superação bem-sucedida dos
desafios da vida quanto uma vida estruturada, dotada de propósito e que
contribui para o bem comum, é fácil perceber por que o Estoicismo tem
atraído um interesse crescente. Pois enquanto surgir a pergunta “Como posso
viver bem?”, o Estoicismo estará sempre contente em fornecer respostas.
Muitas dessas respostas são apresentadas neste volume, conforme
compreendidas por aqueles que seguem, ou já fizeram uso, do caminho
estoico nos tempos atuais. Como um todo, a teoria estoica e os conselhos e
histórias de vida associados a ela constituem o cerne deste livro (caps. I, III,
IV). Você conhecerá exemplos significativos do viver estoico, desde formas
de lidar com a adversidade (e virá-la do avesso), de basear a própria profissão
na ética e nos valores estoicos, de superar o medo da morte e, finalmente, fará
também reflexões sobre a natureza da própria felicidade. Por todo o livro, fica
claro que o Estoicismo não tem receio de ser uma filosofia realista – não
foge das difíceis realidades da vida – mas, partindo dessa base, oferece
respostas para como viver em face dessas dificuldades. Numa cultura em que
“sentir-se bem” é frequentemente a regra (algo não tão fácil quando as coisas
não vão bem), chama atenção a ideia de perseguir uma concepção do “bem”,
ou de ter um caráter exemplar que permita enfrentar essas dificuldades de
frente, assim como a ideia de estruturar a própria vida, como um todo, em
torno de um conjunto coerente de valores.
Incluem-se também, neste volume, reflexões sobre a criação e a
educação dos filhos (cap. V). Para os antigos estoicos, um dos principais
objetivos da vida era vivenciar os relacionamentos “adquiridos naturalmente”
da melhor forma possível, principalmente no que concerne aos deveres dos
pais. Esse relacionamento, que está no cerne da teoria cosmopolita estoica, é
explorado refletidamente por um trio de pais de orientação estoica. Porém, os
estoicos não tentavam se sobressair apenas em seus papeis “naturalmente”
adquiridos, mas também nos papeis assumidos perante a sociedade. Nesse
mesmo espírito, o cap. V leva em conta também o que o Estoicismo tem a
oferecer em sala de aula.
Pensar o Estoicismo e suas aplicações ao mundo moderno não é sempre
fácil, e algumas das questões que se apresentam são discutidas no cap. II.
“Adaptar” o Estoicismo seria correr o risco de criaruma versão superficial,
um sistema que enfocaria apenas as técnicas no lugar da ética e dos valores?
No processo de adaptação, quais aspectos da filosofia antiga deveriam ser
mantidos, quais abandonados e por quê? E é mesmo preciso “adaptar” o
Estoicismo – não estaria bom tal como é? Não há respostas definitivas a essas
questões, nem deveria haver, mas deve-se certamente levantá-las. As
tradições filosóficas (ou mesmo religiosas) frequentemente dialogam consigo
mesmas e, de fato, esta pode ser uma condição necessária para que sejam
postas em prática de modo satisfatório.
Quando se fala em adaptações, é difícil não pensar também na adaptação de
certas práticas budistas em voga no ocidente nas últimas décadas, na forma
de “meditação da atenção plena”, ou a capacidade de manter a atenção focada
no momento presente. Com efeito, muitos dos que se deparam com o
Estoicismo já praticaram a meditação da atenção plena ou alguma forma de
Budismo e, comumente, se espantam com as semelhanças entre as duas
filosofias. Ainda resta muito a ser feito para definir essas semelhanças, bem
como das diferenças entre os dois sistemas (que, creio, são bastante
substanciais), mas, para começar, apresentam-se no cap. VII três artigos que
exploram a “atenção plena” das perspectivas estoica e budista. Trata-se de
abordagens bastante diferentes. O primeiro artigo defende que a meditação da
atenção plena pode ajudar ou fundamentar a prática estoica, enquanto o
segundo argumenta que existe uma dicotomia intrínseca entre o Estoicismo e
o Budismo, tal que a prática da “atenção plena” em um sistema não pode
funcionar com o outro. E o terceiro, diferentemente, tenta investigar se no
próprio Estoicismo clássico não haveria algo similar ao que chamamos hoje
de “atenção plena”.
Uma das dívidas do mundo moderno para com o Estoicismo, bastante citada,
é a influência de ideias estoicas na psicoterapia moderna, em particular na
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e na Terapia Racional Emotiva
Comportamental (TREC). A afirmação de Epiteto de que “o que preocupa as
pessoas não são as coisas em si, mas seu julgamento acerca delas” (Manual,
cap. 5) foi particularmente influente, mas há também diversas outras
semelhanças apontadas recentemente por Donald Robertson (ver The
Philosophy of Cognitive-Behavioural Therapy, 2010). No cap. VI, faz-se uma
reflexão sobre como a TCC e o Estoicismo, juntos, podem auxiliar o retorno
à saúde mental. Há ainda algumas áreas de similaridade menos exploradas
entre o Estoicismo e outras abordagens psicoterapêuticas. Por exemplo, um
dos artigos explora um trabalho que vem sendo desenvolvido à luz da
“Psicologia Positiva”, ramo da psicologia que se preocupa com valores,
forças e a busca do sentido, com o intuito de medir cientificamente o grau de
eficiência real do Estoicismo no auxílio às pessoas. Outro artigo trata da
Logoterapia, terapia desenvolvida por Viktor Frankl, sobrevivente dos
campos de concentração do Holocausto. Enquanto a relação entre a TCC, por
exemplo, e o Estoicismo fica particularmente clara na prática de “desafiar as
impressões” (ou “pensamentos”) para obter um pensamento mais equilibrado
e preciso, as semelhanças entre o Estoicismo e a Logoterapia existem em um
nível mais profundo e filosófico, em especial no que concerne ao objetivo de
buscar o sentido, seja quais forem as circunstâncias. Nesse sentido, não
surpreende que uma filosofia que prega ser possível manter a nobreza mesmo
durante uma “tortura na roda” se pareça tanto com uma terapia filosófica
fundada por um sobrevivente do Holocausto.
A última parte do livro traz algo um pouco diferente: explora manifestações
do Estoicismo na cultura moderna. Nesse capítulo, você saberá como o clube
de rugby Saracens, da Inglaterra, fez uso do Estoicismo (com o objetivo de
jogar bem e com ética, não apenas de ganhar), como Epiteto ajudou
prisioneiros a retomar suas vidas e como o Estoicismo pode surgir em locais
pouco prováveis, como um livro de ficção científica e em Star Trek. Mas
tente, se puder, não se transformar no Spock.
Duas questões editoriais: primeiramente, dada a natureza de um trabalho que
inclui tantas opiniões pessoais, a interpretação do Estoicismo apresentada ao
longo da obra não é uniforme. Isto se deve parcialmente à natureza do tema,
mas é também traço de círculos acadêmicos: os pontos-chave da ética estoica,
por exemplo, ainda são objeto de muitos debates. Mesmo os próprios estoicos
tinham pontos de desacordo entre si. Em segundo lugar, a maior parte das
traduções de Epiteto, Marco Aurélio e Sêneca citadas neste livro provém das
traduções inglesas feitas por W. A. Oldfather, C.R. Haines e R.M. Gummere,
respectivamente. Em algumas instâncias, a linguagem foi levemente adaptada
para se adequar melhor ao público moderno. Quando foram utilizadas
traduções mais recentes, tomou-se o cuidado de citar os créditos
devidamente.
Finalmente, gostaria de agradecer sinceramente a todos que contribuíram para
este volume, que, espero, venha a ser o primeiro de uma série. Encorajamos
os leitores que desejem relatar sua experiência pessoal com o Estoicismo a
entrarem em contato conosco pelo website do projeto Estoicismo Hoje
(Stoicism Today).
Espero que esta coletânea de artigos seja de interesse tanto para
acadêmicos que se preocupam com as aplicações modernas do Estoicismo
quanto para todos aqueles que desejam fazer uso dessa filosofia em sua
própria vida.
 
Patrick Ussher
Exeter, setembro de 2014.
 
____________________
1 N.T.: Exceto quando mencionado, as citações desses autores gregos foram
traduzidas para o presente volume em português a partir das traduções
inglesas apresentadas no original desta obra. Os títulos das obras gregas,
quando citadas no corpo do texto, aparecem em português, mas as referências
dadas ao final de cada artigo permanecem sendo as das traduções inglesas, já
que a tradução em português foi feita a partir delas e não das traduções
brasileiras existentes.
O que é o Estoicismo
John Sellars
 
O Estoicismo era uma das quatro principais escolas filosóficas da antiga
Atenas, juntamente com a Academia de Platão, o Liceu de Aristóteles e o
Jardim de Epicuro, e lá se desenvolveu por cerca de 250 anos. Tornou-se
especialmente popular entre os romanos e atraiu os mais diversos
admiradores, entre eles o estadista Sêneca, o ex-escravo Epiteto e o
imperador Marco Aurélio. As obras desses três autores chegaram até nós e
vêm atraindo admiradores desde a Renascença até os dias de hoje. Embora a
filosofia estoica como um todo seja complexa por abarcar desde a metafísica
até a astronomia e a gramática, as obras dos três grandes estoicos romanos se
concentram em conselhos práticos e orientações para aqueles que tentam
alcançar o bem-estar ou a felicidade. Caso este seja seu primeiro contato com
o Estoicismo, eis a seguir quatro ideias centrais para ajudá-lo:
 
Valor: a única coisa verdadeiramente boa é um estado mental excelente, que
se identifica com a virtude e a razão. Apenas isto pode garantir a felicidade.
Fatores externos, como dinheiro, sucesso, fama e coisas do gênero nunca
poderão nos trazer felicidade. Embora não haja nada de errado nesses fatores,
que inclusive têm algum valor e podem bem fazer parte de uma boa vida,
muitas vezes a busca por eles efetivamente danifica a única coisa que pode
nos trazer felicidade: um estado mental racional e excelente.
 
Emoções: nossas emoções são produtos dos nossos julgamentos, da ideia de
que algo bom ou ruim está acontecendo ou prestes a acontecer. Muitas das
nossas emoções negativas se baseiam em julgamentos equivocados, mas, por
serem derivadas desses julgamentos, estão sob nosso controle. Mudando os
julgamentos, mudam as emoções. A despeito da imagem comum, o estoico
não reprime ou nega suas emoções; na verdade, almeja não ter emoções
negativas desde o início. O objetivo, portanto, é superar as emoções negativas
destrutivas que se alicerçam em julgamentos equivocados pela adoção das
emoções positivas corretas, substituindo-se a raiva pela alegria.
 
Natureza: os estoicoscreem que devemos viver em harmonia com a
natureza. O que querem dizer com isso, em parte, é que devemos reconhecer
o fato de que somos apenas uma pequena parte de um todo maior, orgânico,
modelado por processos maiores que, em última análise, estão fora do nosso
controle. Não se ganha nada tentando resistir a esses processos maiores,
exceto raiva, frustração e desilusão. Embora haja no mundo muitas coisas que
podemos mudar, há muitas outras que não podemos mudar. Devemos
compreender e aceitar este fato.
 
Controle: como vimos, há coisas sobre as quais temos controle (nossos
julgamentos, nosso próprio estado mental) e outras que não controlamos
(processos e objetos externos). Grande parte da nossa infelicidade é causada
por confundirmos essas duas categorias: por crermos ter controle sobre o que,
em última instância, não controlamos. Felizmente esse algo que está sob
nosso controle é justamente a única coisa que pode nos garantir uma vida boa
e feliz.
~ Capítulo 1: Teoria Estoica ~ Ideias Centrais
da Ética Estoica em Marco Aurélio
Christopher Gill
 
Um bom motivo para se considerar que Marco foi influenciado pelo
Estoicismo é o fato de suas Meditações remeterem a ideias estoicas, apesar da
ausência de um vocabulário técnico estoico e de o autor, por vezes,
reconfigurar essas ideias de modo próprio. Podem-se identificar ao menos
cinco características que, à época, eram tidas como específicas do Estoicismo
e que se associam a temas fortemente marcados nas Meditações. Um desses
temas é a ideia de que a vida virtuosa é idêntica à vida feliz (que a virtude é
tudo de que se necessita para ser feliz). Outras coisas geralmente
consideradas boas, como a saúde ou a prosperidade material e até mesmo o
bem-estar da família e dos amigos, são vistas como irrelevantes para a
felicidade; são “questões indiferentes”, mesmo que naturalmente
“preferíveis”. Um segundo tema é a ideia de que as emoções e desejos
dependem diretamente das crenças sobre aquilo que tem valor ou é desejável;
não formam uma dimensão separada (não racional) da vida psicológica.
Entende-se que as emoções e desejos formados pela maioria das pessoas são
modelados por crenças éticas equivocadas e, nesse sentido, configuram
“doenças” psicológicas. Um terceiro tema diz respeito ao fato de os seres
humanos terem uma inclinação natural, inata, a beneficiar os outros. Essa
inclinação, se desenvolvida adequadamente, expressa-se tanto em um
engajamento dedicado com a família e os papeis comunitários, quanto em
uma disposição para aceitar todos os seres humanos, como tais, como parte
de uma “irmandade” ou “cidade cósmica” e objetos legítimos de preocupação
ética. Essas três ideias criam uma visão altamente idealizada da ética e da
psicologia humanas, que antigos críticos consideravam excessivamente
idealista e não realista. Não obstante, os estoicos sustentavam que todos os
seres humanos são essencialmente capazes de progredir rumo a um estado
ideal de completa virtude e felicidade, embora admitissem que talvez
ninguém ainda o tivesse atingido inteiramente. Assim sendo, a vida ética,
para os estoicos, consistia em um processo ou jornada contínua em direção a
esse objetivo, uma jornada assistida pelos métodos de ética prática.
Os três temas mencionados, juntamente com ideias relacionadas sobre o
desenvolvimento ou progresso ético, se encaixam na esfera da “ética” tal
como compreendida no Estoicismo. Já outro tema típico se encaixaria na
“física” (o estudo da natureza) e sua interface com a ética. Gerava grandes
discussões naquela época a questão de se o universo natural incorporaria um
propósito ou sentido inerente ou seria apenas o resultado arbitrário de leis ou
processos naturais. Os estoicos, seguindo Platão e Aristóteles, adotavam o
primeiro ponto de vista; os epicuristas sustentavam o segundo, que estava
ligado à sua teoria da natureza atômica da matéria. A crença estoica no
propósito inerente estava associada à visão de que todos os eventos são
determinados, e que toda a sequência dos eventos carrega um propósito ou
providência divina. Como ilustra esse ponto, os estoicos viam os ramos da
filosofia (neste caso, a ética e a física) como interconectados e mutuamente
fortalecedores. Assim, sua crença na providência divina pertencia ao estudo
da teologia (que, para eles, era parte da física). Mas essa crença também
ajudava a fornecer um arcabouço significativo para a ética; enquanto a ética,
de outro lado, dava sentido a ideias (como a noção de “bem”) que escoravam
a noção de providencialidade e, portanto, sustentavam os princípios da
teologia. Assim sendo, os estoicos viam a filosofia como um corpo de
conhecimento altamente unificado e sistemático. A capacidade de traçar e
compreender as conexões entre diferentes ideias e ramos da filosofia era,
portanto, parte importante do estudo do Estoicismo.
 
Uma Leitura Ilustrativa: Meditações 3.11
 
A relevância dessas ideias para as Meditações pode ser explicada de duas
formas complementares. Uma é examinando com certo grau de profundidade
uma única passagem, que mostra como Marco aborda essas ideias,
costurando-as em uma sequência interconectada. A outra é discutindo em
termos mais gerais algumas formas recorrentes – e, por vezes, espantosas e
peculiares – com que ele trata cada um dos temas. Primeiramente, analisemos
cuidadosamente a seguinte passagem (3.11):
 
“Aos conselhos precedentes, deve-se acrescentar mais um: faz sempre um
esboço ou plano do que quer que se apresente à tua mente, com o intuito de visualizar
que tipo de coisa é quando despida até a essência, como um todo e em suas partes
isoladas; e diz seu nome correto e os nomes dos elementos a partir dos quais foi
construída e nos quais finalmente se converterá. Pois nada se revela tão eficaz na
criação da grandeza mental quanto a capacidade de examinar com método e
veracidade tudo quanto se apresente na vida, e a contemplação de cada coisa
considerando-se qual a sua utilidade e em qual tipo de universo, bem como que valor
tem para os seres humanos enquanto cidadãos da cidade suprema, da qual todas as
outras são apenas lares, e o que vem a ser esse objeto que neste instante me causa uma
impressão, e do que é composto, e por quanto tempo persistirá naturalmente, e que
virtude se faz necessária diante dele, como a gentileza, a coragem, a veracidade, a
boa-fé, a simplicidade, a autossuficiência e assim por diante. Logo, diante da forma
com que se apresenta cada caso, deves dizer: isto veio de deus, isto da coordenação e
entrelaçamento dos fios do destino e formas assemelhadas de coincidência e mudança,
isto de um semelhante a mim, parente e companheiro que, no entanto, ignora o que
seria natural para ele. Porém eu não o ignoro e, destarte, tratá-lo-ei com gentileza e
justiça, em conformidade com a lei natural do companheirismo, conquanto almeje
simultaneamente ao que lhe é merecido no que concerne às coisas que são
moralmente indiferentes.”
 
A passagem acima ilustra claramente um dos métodos de ética prática mais
característicos de Marco: a elaboração de um “rascunho” ou “esboço” das
coisas e seu “desnudamento” até chegar à realidade ou cerne essencial.
Embora, de início, possa parecer um procedimento puramente científico ou
analítico, o que Marco tinha em mente era chegar ao cerne ético da situação
(embora, como fica claro, este esteja também ligado a uma maior
compreensão do mundo). O método do “desnudamento” pressupõe o
primeiro dos temas-chave do Estoicismo citados anteriormente: a ideia de que
nossa felicidade depende apenas de reagirmos às situações com virtude e,
jamais, de adquirirmos vantagens materiais e sociais. Assim, o que o método
revela é quais virtudes devemos almejar expressar naquele contexto (“que
virtude se faz necessária ... como a gentileza, a coragem, a veracidade, a boa-
fé, a simplicidade, a autossuficiência”). A passagem também faz alusão, no
fim, à ideia tipicamente estoica de que aquilo que não é virtude, como a
riqueza material, é “moralmente indiferente” e não afeta nossa felicidade.
Agir de modo virtuosoenvolve o benefício a outros seres humanos; desse
modo, a passagem também se refere ao terceiro tema, a ideia de que devemos
nos esforçar para ver os outros humanos (em princípio, todos) como “irmãos”
e “concidadãos” em uma comunidade ética mundial. Perpassa a passagem,
ainda, o quarto tema a associação, do ponto de vista estoico, entre a ética e o
universo natural. Marco relembra que o universo é permeado pela
providência divina, que molda a forma como os eventos se desenrolam:
“diante do modo como se apresenta cada caso, deves dizer: isto veio de deus,
isto da coordenação e entrelaçamento dos fios do destino”. De modo mais
geral, a passagem como um todo implica que o método do “desnudamento”
esclarece a conexão subjacente entre a ordem ética (como devemos nos
comportar) e a ordem natural ou cósmica. Em quinto lugar, a passagem
acima, como várias outras nas Meditações, mostra a importância de se
ressaltarem as conexões entre temas diferentes, porém relacionados, do
pensamento estoico, que era famoso por seu caráter sistemático e coeso.
Elucidar as ligações entre a ética e a física, como faz a passagem, representa
um aspecto desse processo mais amplo.
 
Este excerto, reproduzido aqui, é retirado das págs. xv-xviii da Introdução de
Christopher Gill em “Meditations: with selected correspondence Marcus Aurelius”,
editado por Hard, Robin & Gill, Christopher (2011) sob permissão da Oxford
University Press, com permissão e em associação com o autor, Christopher Gill.
A Visão Estoica sobre a Comunidade Humana
Patrick Ussher
 
Para a nossa sociedade altamente individualista (ao menos em comparação à
maioria das sociedades da História), em que vem ocorrendo uma diminuição
gradual dos deveres e obrigações entre as pessoas, a ideia de que a felicidade
depende da realização da natureza inerentemente social do ser humano pode
parecer incomum. De fato, mesmo a ideia de sermos inerentemente sociais
por excelência pode parecer incomum. Mesmo quando falamos, hoje em dia,
em beneficiar a si próprio ou aos outros, pensamos em termos de “egoísmo” e
“altruísmo”, como se este último implicasse colocar nossas próprias
necessidades de lado por um momento para pensar um pouco no outro.
“Egoísmo” e “altruísmo”, entretanto, não caberiam na visão de mundo
estoica: para eles, o ser humano era fundamentalmente social por natureza, e
o que lhe era saudável era ser social. Tal modo de entender o que é bom para
o ser humano é uma das razões pelas quais o Estoicismo pode oferecer um
antídoto útil contra nossos modelos de pensamento atuais, quer concordemos
com sua premissa, quer não.
Neste artigo, meu objetivo é explicitar o que significava, para os
estoicos, ser fundamentalmente social. A partir da nossa perspectiva mais
moderna e científica, algumas das ideias, como a de que a natureza “quer”
que sejamos sociais, ou nos “projetou” desse modo, podem parecer
problemáticas. Independentemente disso, a teoria estoica certamente nos faz
refletir sobre o que deveria constituir uma boa vida.
 
***
O cosmopolitismo estoico desenvolveu a metáfora da raça humana como um
“corpo”: da mesma forma que os braços e pernas contribuem para a saúde do
corpo, cada ser humano, como um membro, contribui para o corpo da
humanidade. A tarefa do estoico é, portanto, realizar a aspiração de contribuir
para o bem comum e, além disso, basear seu conjunto de crenças nas
implicações de compreender a si mesmo como um civis mundi, ou “cidadão
do mundo”. Na prática, como colocou primeiramente Epiteto e depois Marco
Aurélio, isto significava:
 
“Não tratar coisa alguma como questão de lucro privado, nem planejar o que
quer que seja como unidade isolada, mas agir como o pé ou a mão, que, se possuíssem
a faculdade da razão e compreendessem a constituição da natureza, jamais exerceriam
a escolha ou o desejo exceto em relação ao todo.”
Discursos, 2.10.
 
“Pois somos feitos para a cooperação, como pés, como mãos, como pálpebras,
como as fileiras de dentes superiores e inferiores. Agir um contra o outro é contrário à
natureza.”
Meditações, 2.1.
 
Parece um ideal demasiadamente elevado? Com quase total certeza, mas um
estoico provavelmente responderia que, por sermos seres sociais, desses
objetivos também depende nossa felicidade. Colocando de outra forma: se
somos de fato seres sociais, como poderia o egoísmo, tal como o
compreendemos, levar à felicidade? Não poderia! Com efeito, o ser humano
só chega ao florescimento cultivando sua natureza social. Como explica
Epiteto:
 
“...tal é a natureza do homem animal; tudo o que faz é para si mesmo. Ora, até
mesmo o sol age em seu próprio proveito e, inclusive, também o faz o próprio Zeus.
Todavia, quando Zeus deseja ser “senhor da chuva”, “provedor das frutas” e “pai dos
homens e dos deuses”, podes perceber que não consegue realizar essas obras, ou
conquistar essas nomeações, a não ser mostrando-se útil ao interesse comum; e, de
modo geral, constituiu ele a natureza do homem animal de tal modo que não pode
alcançar seus próprios bens, exceto se contribuir em algo para o interesse comum. Daí
se segue que não será mais insocial que um homem faça tudo em seu próprio
proveito.”
Discursos, 1.19.
 
A analogia com Zeus, que é também “Natureza”, é crucial: a Natureza,
apenas sendo ela mesma, contribui ativamente para o bem comum. Quando a
Natureza provê a chuva ou as frutas, tudo se beneficia de suas ações. Isto
acrescenta uma dimensão social ao significado de “viver em conformidade
com Zeus ou a Natureza”: viver de acordo com a natureza é ser social. E, por
ser natural, permite que a natureza de cada indivíduo se realize. Marco
Aurélio, de modo semelhante, compara o bem natural que a videira oferece
apenas fazendo o que lhe é próprio ao ser social benevolente, que realiza
uma boa ação após a outra e não busca maior recompensa que a própria
execução do ato:
“Como a vinha que produz uvas, e nada mais deseja uma vez cedidos seus
frutos (...), também o homem bom, tendo bem realizado uma ação, não alardeia o fato,
mas volta-se para a próxima boa ação, assim como a vinha se volta para a produção
dos frutos na estação devida.”
Meditações, 5.6.
 
A afirmação paradoxal de Epiteto de que “não será mais insocial que um
homem faça tudo em seu próprio proveito” é, em suma, baseada na
observação de que apenas cultivando a boa vontade para com os outros
poderá o ser humano encontrar a felicidade.
E como se encaixa nesse quadro o aspecto central do Estoicismo, a
saber, a aspiração de viver uma vida de virtude? Valorizar a virtude como “o
único bem” equivaleria a ficar dando voltas em uma “bolha virtuosa”, como
querem algumas caricaturas do Estoicismo?
Dificilmente. Para os estoicos, a virtude não é algo que ocorre
isoladamente. Para se realizar, a virtude ou “o bem” precisa estar imbricado
nas relações sociais do indivíduo. Para o estoico, cabe a ele considerar as
relações com os outros como base para a ação virtuosa. É comum as pessoas
se assustarem com o Estoicismo ao lerem certas afirmações de Epiteto, do
tipo: “Meu pai não é nada para mim! Ele não é um bem!”. Mas esse pânico é
infundado, já que o que Epiteto recomenda, na verdade, é que se valorize ser
um bom filho para o próprio pai. O que está no cerne dessa distinção? Como
todo o resto, ela se relaciona ao foco de Epiteto naquilo que cabe a nós: veja
o leitor que seu pai, em si, não está sob seu controle (como o leitor já deve ter
notado!), enquanto a sua parte da relação com ele está sob seu controle. E
quando essa mudança de atitude ocorrer em todas as suas relações sociais,
haverá portanto uma valorização do seu papel como bom amigo, bom
pai/mãe e assim por diante. Epiteto caracteriza essa mudança da seguinte
maneira:
 
“Pois onde se disser 'eu' e 'meu', para lá se inclinará o ser humano. Se 'eu' e
'meu' se situarem na carne, lá estará seu poder de comando; se se situarem no
propósito moral, lá estará o mesmo poder; se estiverem em coisas externas, então lá
seu poder de comando se encontrará. Se, portanto, estou onde está meu propósito
moral, então, e apenasentão, serei o amigo e filho e pai que devo ser. Pois este será
então meu interesse – preservar a boa-fé, o autorrespeito, a tolerância, a cooperação, e
sustentar meus relacionamentos com os outros seres humanos.”
Discursos, 2.22.
 
É apenas quando se valoriza o “bem” sobre todas as coisas que,
paradoxalmente, pode-se ser o melhor pai, amigo, ou filha: apenas então
torna-se um interesse do próprio indivíduo preservar a integridade e a boa
vontade para com os amigos e a família. E isso, por sua vez, é o que permite
que a natureza inerentemente social desse indivíduo floresça da melhor forma
possível. A concepção estoica da “virtude” em si é, portanto, fortemente
social.
Para concluir, alguns estudiosos, como Mary Midgley, consideram que
o surgimento da própria moralidade se deve à existência de um “instinto
social” nos seres humanos. Os estoicos teriam sido dos primeiros, se não os
primeiros, a desenvolver um sistema ético bastante extensivo, universalista,
com base nesse instinto. É um dos aspectos mais marcantes do seu
pensamento, que nunca cairá de importância. Para finalizar, cito uma das
reflexões mais famosas de Marco sobre o cosmopolitismo estoico. Como
observei no início, quer concordemos, quer não, com a ideia de que somos
todos por natureza fundamentalmente seres sociais, esta passagem nos obriga
a considerar um conjunto bastante crucial de questões: o que significa ser um
ser humano e o que é bom para este ser?
 
“Toda vez que, ao nascer do sol, te sentires indisposto a levantar, traz à mente
este pensamento:
 
 'Levanto-me para realizar o trabalho de um ser humano'.
 
Por que sentir ressentimento, quando estou me levantando para realizar aquilo
para o qual nasci, para o qual fui trazido a este mundo? Ou fui feito, ao contrário, para
repousar sob estas cobertas, todo aquecido e confortável? 'Bem, é prazeroso fazê-lo!'
Mas foste feito para o prazer? Considera o seguinte: nasceste para a passividade ou
para ser um homem de ação? Não vês que até mesmo os arbustos, pardais, formigas,
aranhas e abelhas fazem todos a sua parte para o bom funcionamento do universo? Por
que não fazes tua parte também, realizando teu papel de ser humano?”
Meditações 5.1, tradução inglesa do grego feita pelo autor.
 
 
Referências:
Midgley, M., The Origin of Ethics in Ed. Singer, P., 'A Companion to Ethics'. Wiley-
Blackwell: 1993.
Os Estoicos Não São Frios!
Donald Robertson
 
A concepção errônea de que os estoicos são pessoas sem emoção,
assemelhando-se a robôs ou ao Dr. Spock de Star Trek, é atualmente bastante
difundida e, no entanto, não era compartilhada tão irrefletidamente pelos
antigos (ver também o artigo de Jen Farren, Estoicismo e Star Trek, no cap.
VIII). Por outro lado, outras filosofias sofriam com essa alegação. Por
exemplo, sobre o fundador do Ceticismo grego, Pirro de Elis, dizia-se
jocosamente que era tão apático, no sentido de “indiferente ao mundo”, que
seus seguidores tinham de correr atrás dele para impedi-lo de cair em abismos
ou cruzar o caminho de carroças em alta velocidade. Esse tipo de piada não
era feito sobre os estoicos porque estes, ao contrário, eram conhecidos por
seu engajamento ativo na vida familiar e política. Da mesma forma, os
epicuristas tinham como objetivo de vida atingir a tranquilidade e evitar a
dor; não viam qualquer valor intrínseco na solidariedade para com outros
seres humanos. Isso os levava frequentemente a se retirarem da política ou
da vida familiar e, até mesmo, a viverem em relativa reclusão. Já os estoicos,
para quem a tranquilidade só é boa quando acompanhada das virtudes da
sabedoria e da justiça, acreditam que a solidariedade para com o resto da
humanidade é natural e fundamental para o objetivo da vida, o que implica
“viver em concordância” com a razão, com a Natureza do universo e com o
restante da humanidade. De fato, o texto seminal do Estoicismo, a República
de Zenão, centra-se no “sonho” do autor por uma sociedade estoica ideal,
constituída por amigos iluminados e benevolentes vivendo juntos, em
harmonia, sob os auspícios de Eros, deus do amor.
Para Epiteto, o que derrubara a imagem equivocada dos estoicos como
pessoas distantes e não emotivas fora o conceito estoico de “ação apropriada”
nas relações familiares e civis, bem como a ênfase na ação justa e filantrópica
(Discursos, 3.2). Os estoicos acreditam que somos animais essencialmente
racionais e sociais, que experienciamos um sentimento de “afeição natural”
para com os mais próximos, e que seria natural e racional estender esse
sentimento para o restante da humanidade; isto forma a base de uma atitude
que se denomina às vezes de “filantropia” estoica. Entretanto, ao atribuir
valor aos outros, mesmo de maneira um tanto quanto desapegada, os estoicos
também se abrem a uma variedade de reações emocionais que ocorrem
naturalmente, incluindo a inquietação quando algo que valorizam se
apresenta sob ameaça. De acordo com os antigos estoicos, mesmo o Sábio
perfeito sente afeição natural ou amor por outros seres humanos e não é
completamente insensível aos demais sentimentos derivados dessas relações
sociais afetuosas. Marco Aurélio certamente amava seu filho notoriamente
genioso, Cômodo, mesmo aceitando que estava fora do seu alcance remediar
por completo os disparates e o difícil caráter do seu herdeiro. 
Com efeito, Marco descrevia o caráter estoico ideal, exemplificado por
seu professor Sexto de Queroneia, como sendo “cheio de amor, embora livre
de paixão”. Para Marco, Sexto era repleto de “afeição natural” ou “afeição
familiar” – o tipo de amor que os pais têm para com os filhos. Mas os
estoicos não paravam por aí. Também procuravam igualar-se a Zeus, pai da
humanidade, estendendo sua afeição natural a toda a humanidade. Isso
diluiria a emoção, evitando que se tornasse um arrebatamento por algum
indivíduo ou uma “paixão” irracional do tipo de que queriam se livrar. Daí
também o foco estoico na apathea, que, nesse contexto, significava a
ausência de “paixões” irracionais, patológicas ou excessivas. Como veremos,
os estoicos enfatizavam repetidamente que isso não significava uma “apatia”
ou completa ausência de sentimento por outras pessoas.
Mas vejamos o que os próprios estoicos dizem sobre a apathea. Após
descrever a teoria estoica das paixões irracionais, Diógenes Laércio escreve
sobre os fundadores do estoicismo, provavelmente referindo-se a Zenão ou
Crisipo:
 
“Dizem que o homem sábio é também desprovido de paixões (apathê) por não
ser vulnerável a elas. Mas o homem mau é dito 'sem paixão' em outro sentido, o de
'coração duro' e 'insensível'.
Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, 7.117.
 
Epiteto diz algo bastante parecido – que os estoicos não deveriam ser livres
de paixões (apathê) no sentido de serem frios “como estátuas”, mas que
deveriam concentrar-se nas “ações apropriadas” e na sustentação de suas
relações naturais e adquiridas, enquanto membros de uma família e cidadãos
(Discursos, 3.2). Além disso, Cícero retrata o estoico Lélio como autor da
afirmação de que seria o maior erro possível tentar eliminar sentimentos de
amizade, já que até mesmo os animais sentem afeição por suas crias. Essa
afeição natural, compartilhada por todo o reino animal, era vista pelos
estoicos também como a base do amor e da amizade humanos (Diálogo sobre
a amizade, 13). Ao eliminar a afeição natural entre amigos, estaríamos não
apenas nos desumanizando, diz ele, mas nos reduzindo a algo aquém da
natureza animal, como um tronco de árvore ou pedra.
Da mesma forma, Sêneca argumenta que as virtudes da coragem e da
autodisciplina parecem demandar que o Sábio estoico experiencie algo
semelhante ao medo e ao desejo – do contrário, não terá sentimentos a
superar. Um homem corajoso não é alguém que não experiencia qualquer
resquício de medo, mas alguém que age com bravura apesar do sentimento
de ansiedade. Um homem de grande autodisciplina ou autocontrole não é
alguém isento de qualquer desejo, mas alguém que supera suas urgências ao
se abster de agir com base nelas. Sêneca escreve:“Há infortúnios que acometem o sábio – sem o incapacitarem, evidentemente
– como dor física, enfermidade, perda de amigos e filhos ou catástrofes em seu país,
quando devastado pela guerra. Reconheço que ele é sensível a essas coisas, pois não
lhe imputamos a dureza de uma pedra ou do ferro. Não há virtude em suportar o que
não se sente.”
A Constância do Sábio, 10.4.
 
O ideal estoico não é ser “desapaixonado” (apathê) no sentido de “apático”,
“coração duro”, “insensível”, ou “semelhante a uma estátua” de pedra ou
ferro. É, na verdade, experienciar afeição natural por si mesmo, pelos entes
queridos e por outros seres humanos, além de valorizar o viver em
conformidade com a natureza, o que naturalmente abre o ser humano a
reações emocionais à perda ou à frustração. Sêneca explica, em outra obra,
que, enquanto os epicuristas referem-se a “uma mente imune ao sentimento”
quando falam de apathea, essa ausência de sentimento é na verdade o oposto
daquilo a que os estoicos se referem (Cartas, 9): “Esta é a diferença entre
nós, estoicos, e os epicuristas; nosso sábio supera cada desconforto, mas o
sente, o deles nem mesmo o sente.”
A virtude do Sábio consiste em ser capaz de suportar sentimentos
dolorosos, elevando-se acima deles com magnanimidade, continuando
paralelamente a sustentar suas relações e sua interação com o mundo.
 
Outros temas relacionados são tratados em mais detalhes no livro Stoicism and The
Art of Happiness: Teach Yourself, de Donald Robertson, publicado pela Hodder &
Stoughton em 2013.
Sobre as Motivações de um Estoico
Michel Daw
 
Na condição de seres humanos, temos necessidades básicas para funcionar.
Podemos nos considerar “racionais”, mas na realidade necessitamos de um
corpo operante para pensar claramente. Segundo o psicólogo americano
Abraham Maslow, é preciso que tenhamos nossas necessidades físicas,
sociais, de segurança e outras satisfeitas antes que possamos até mesmo
pensar em tentar a tal “autorrealização” da mente racional.
Mas, uma vez satisfeitas essas necessidades, quais as motivações de um
estoico? Há várias camadas a ser consideradas.
A primeira, naturalmente, é a Virtude. Devemos lembrar que a virtude
não é algo que simplesmente se possui, mas algo que deve ser feito. Para
possuir virtude, devemos ser virtuosos; devemos ser corajosos ante os
desafios, justos na distribuição de bens e direitos, moderados nos tratos e nas
aquisições e, acima de tudo, sábios nas escolhas das ações a ser tomadas.
Em segundo lugar, devemos nos lembrar que, quando os estoicos falam
de coisas “indiferentes”, referem-se àquilo que, por sua natureza, não tem
valor moral. Entretanto, tem outros tipos de valor. Boa alimentação, bom
vestuário, habitação e segurança: estas coisas têm grande valor físico.
Relacionamentos, amigos, arte, música: estas coisas têm grande valor
emocional. Livros, educação, conversação: estas têm grande valor intelectual.
E, embora apenas a Virtude esteja sob nosso controle, essas outras coisas
devem ser buscadas e gerenciadas por meios virtuosos.
Em terceiro lugar, enquanto estoico, devo lembrar-me de que, ao
mesmo tempo que estou no controle das minhas ações, sou também parte de
uma família, uma comunidade, um país. Sou humano, e ser humano significa
que todas as noções de individualidade são uma ilusão. A comida que
ingerimos, as roupas que vestimos, a própria língua que falamos e que
estrutura o nosso pensamento são todas heranças da nossa cultura e espécie,
que dessa forma são também alimentadas em retorno. Vemos essa ideia
expressa nos “círculos concêntricos” de Hiérocles. Nesses círculos, sua mente
forma o centro, enquanto o círculo seguinte representa sua família imediata, o
seguinte seus irmãos e irmãs, depois tias e tios, até sua cidade, país e,
finalmente, toda a raça humana. O objetivo é diminuir a lacuna existente
entre você e cada um desses “círculos”.
Então, o que é que nos motiva? Apenas isto: a chave é lembrar as três
coisas juntas. Não devemos cuidar apenas de nós mesmos, mas garantir que
os que estão sob nosso cuidado e responsabilidade recebam o mesmo nível de
atenção. Devemos fazê-lo por todos nós. Não podemos nos rotular de
estoicos sem sermos justos, corajosos, moderados e sábios. E não podemos
ser tudo isso se ficarmos parados enquanto nossos irmãos e irmãs não são
capazes nem mesmo de vislumbrar as altas esferas racionais com as quais
sonhamos para nós mesmos.
Tenho consciência de que este ponto de vista não é bem-aceito entre
aqueles que veem no Estoicismo apenas uma oportunidade de justificar seu
desligamento do resto da humanidade, ou, ainda pior, de sua própria vida
emocional. Mas Estoicismo é Alegria, Serenidade, Sentido e Propósito. É ser
um membro útil e importante da sociedade.
Em suma, é ser um ser humano excelente e fazer parte de uma raça de
seres com potencial para a grandeza.
~ Capítulo Dois: Adaptando o Estoicismo aos
Dias Atuais ~
Qual Estoicismo?
John Sellars
 
O objetivo do projeto Estoicismo Hoje é salientar as formas com que o
antigo Estoicismo pode ser útil às pessoas como guia geral de vida, ou
oferecendo uma resposta terapêutica a problemas específicos. Alguns críticos
podem sugerir que a versão do Estoicismo oferecida aqui pouco se assemelha
à filosofia helenística fundada por Zenão e desenvolvida por Crisipo e outros
(ver, por ex., Williams sobre Nussbaum (LRB 16/20, 1994, 25-6 e Warren
sobre Irvine (Polis 26/1, 2009, 176-9)). Como observa Williams jocosamente,
qual a utilidade da teoria lógica de Crisipo para se aprender a viver?
O presente projeto, ao contrário, foi inspirado sobretudo pelo estudo de
Marco Aurélio. Os materiais preparados para o projeto se baseiam nos
trabalhos de Sêneca, Musônio Rufo e Epiteto – todos estoicos romanos
posteriores. Isto se deve não apenas ao fato de as obras dos estoicos mais
tardios terem sobrevivido, ao passo que as dos estoicos mais antigos de
Atenas não; mas ao fato de esses estoicos posteriores se concentrarem no que
podemos chamar de “prática estoica”. Eles oferecem uma ampla gama de
conselhos práticos que têm por objetivo contribuir para o cultivo da
tranquilidade, ou o que Zenão chamava de “um fluxo de vida tranquilo”. É
difícil saber até que ponto essas práticas figuravam no Estoicismo mais
antigo: sabemos que os antigos estoicos escreveram livros sobre treinamento
da mente (askêsis) e também que este era um tópico proeminente no Cinismo,
que teve importante influência sobre esses primeiros estoicos. O fato é que as
evidências são muito escassas para sabermos ao certo.
É possível que essa preocupação com as práticas (que Pierre Hadot
chamou de 'exercícios espirituais') não estivesse muito presente no
Estoicismo antigo, e que tenha sido um tema pitagórico do Estoicismo
posterior introduzido pelo estoico romano Sexto, que influenciou Sêneca. De
acordo com essa visão, há uma diferença significativa entre o Estoicismo
helenístico antigo e o romano posterior (embora, em meu livro Stoicism, de
2006, eu tenha tentado conscientemente minimizar essa divisão, tratando da
antiga tradição estoica como um todo contínuo). Mas, mesmo que
adotássemos essa visão, os estoicos romanos posteriores continuariam sendo
estoicos – eles se identificavam como tal e eram assim descritos na
Antiguidade. Se seu uso de práticas representa uma inovação na história do
antigo Estoicismo, isto não os exclui como membros legítimos dessa
tradição. O Estoicismo abordado no projeto Estoicismo Hoje é essa versão
romana, mais tardia.
Dito isso, é possível que a diferença entre as variantes inicial e posterior
do Estoicismo não seja tão evidente quanto se possa pensar. Como já
observado, é basicamente difícil saber ao certo, dada a natureza fragmentária
das evidências do stoa antigo, mas sabemos que os cínicos realizavam
práticas similares e pesquisas recentes enfatizam acertadamente a influência
cínica sobre todos os estoicos antigos (ver, por ex., Les Kynica du stoïcisme,
2003, de Goulet-Cazé). Se os professores cínicos dos antigos estoicos
realizavam essas práticas e, posteriormente,os estoicos romanos também o
fizeram, não é incongruente pensar que os estoicos antigos que viveram no
período intermediário também o tenham feito embora não possamos afirmar
com convicção.
Ainda assim, o projeto Estoicismo Hoje se preocupa primordialmente
em tomar por base os trabalhos remanescentes dos estoicos romanos
posteriores, que descrevem uma série de práticas para o cultivo do bem-estar.
O projeto poderia se chamar Estoicismo Romano Hoje, mas Estoicismo Hoje
não é de forma alguma um nome enganoso.
Há ainda outra questão: até que ponto faz sentido classificar essas
práticas de “estoicas”, sendo que são dissociadas do restante da filosofia
estoica? Tais práticas são estoicas em sua essência ou o são apenas por acaso,
na medida em que os estoicos posteriores as adotaram? Minha opinião é a de
que essas práticas só podem ser consideradas filosóficas se realizadas à luz de
alguns dos princípios centrais da filosofia estoica – especialmente a teoria de
valor e talvez também o determinismo. No entanto, um dos traços notáveis
dos estoicos romanos – de Epiteto até certo ponto, de Marco Aurélio ainda
mais – é a ideia de que essas práticas possam beneficiar as pessoas mesmo
que não estejam totalmente comprometidas com todo o espectro das
doutrinas estoicas. O estudante iniciante, sugere Epiteto, pode se beneficiar
das práticas antes de ter estudado toda a doutrina estoica, e o estudante
ponderado da natureza, diz Marco, pode buscar o bem-estar mesmo que
continue em dúvida se ela é governada pela providência ou simplesmente
caótica.
Em resumo, os estoicos romanos oferecem um modelo útil para se
começar a abordar as práticas estoicas, mesmo que não se tenha ainda um
comprometimento integral com o sistema filosófico estoico. Pode-se pensar
que a adoção de apenas algumas das práticas não seja suficiente para fazer de
alguém um estoico se esse alguém não adotar também o restante da doutrina,
o que é aceitável: o projeto não se propõe a criar uma nova facção de estoicos
doutrinários; seu objetivo, mais modesto, é explorar as práticas estoicas, na
medida em que podem ser de auxílio às pessoas em suas vidas cotidianas.
 
Referências:
Goulet-Cazé, M-O., Les Kynica du stoïcisme, Franz Steiner Verlag, 2003.
Hadot, P., Philosophy as a Way of Life. Blackwell, 1995.
Sellars, J., Stoicism. University of California Press, 2006.
Warren, J., Review of William B. Irvine, A Guide to the Good Life, Polis 26/1 (2009),
176-79.
Williams, B., 'Do Not Disturb', London Review of Books 16/20 (20 Oct. 1994), 25-26.
Uma Abordagem Simplificada e Moderna do
Estoicismo
Donald Robertson
 
Neste artigo, apresento um conjunto simplificado de práticas psicológicas
estoicas que podem servir tanto como uma “rotina filosófica diária” quanto
como uma introdução bastante concisa ao Estoicismo como modo de vida.
Enquanto Crisipo, terceiro líder da escola estoica, escreveu mais de 700
livros fundamentando as ideias estoicas e incrementando-as com argumentos
complexos, o fundador Zenão de Cítio expressava suas doutrinas em
argumentos notoriamente sucintos e máximas concisas. Neste artigo, meu
intuito é apresentar uma versão concisa, mas tenha em mente que há,
naturalmente, uma filosofia complexa por trás.
Tanto Sêneca quando Epiteto mencionam os Versos de Ouro de
Pitágoras, texto que fornece uma boa base para o desenvolvimento de uma
rotina diária, iniciada e terminada com as práticas contemplativas da manhã e
da noite. Uma ideia estoica central, que respaldava essas práticas e se
encontrava também no cerne da filosofia de Epiteto, era a de que: “...educar-
se (na filosofia estoica) significa apenas isto: aprender quais coisas nos
pertencem e quais não” (Discursos, 4.5.7). A consequência prática dessa
distinção é essencialmente bastante simples: “O que, então, deve-se fazer?
Tirar o maior proveito do que está em nosso poder e aceitar o restante tal
como advém.” (Discursos, 1.1.17)
A sequência prática a seguir foi desenvolvida como uma introdução à prática
estoica voltada para o século XXI, que pode levar organicamente a uma
apreciação mais ampla da filosofia estoica como modo de vida. As
instruções pretendem ser as mais diretas e concisas possíveis, ainda que se
mantenham razoavelmente fiéis ao Estoicismo clássico. 
 
A Sequência Filosófica Básica
 
Fase 1: Preparação Matinal
 
Planeje seu dia tendo em mente a “cláusula de reserva” estoica, isto é: decida
antecipadamente quais metas deseja atingir e tome a decisão de tentar
alcançá-las, mas com a seguinte ressalva: “se o destino permitir”. Em outras
palavras, almeje o sucesso e busque-o com todas as forças, permanecendo ao
mesmo tempo preparado para aceitar contratempos ou fracassos com
equanimidade, já que estão além do seu controle direto. Tente escolher suas
metas com sabedoria, selecionando objetivos racionais e saudáveis. Sua meta
primária ao longo das três fases deve ser proteger e aumentar seu bem-estar
fundamental, particularmente no que se refere ao seu caráter e à sua
habilidade de pensar claramente sobre a vida. Você deve tentar fazer isso
cultivando uma maior consciência de si mesmo e uma maior sabedoria
prática, o que requer a definição de metas saudáveis para você mesmo. Essas
metas deverão ser perseguidas de modo um tanto quanto “desapegado”, sem
uma preocupação exagerada com os resultados.
 
Fase 2: Atenção Plena (Prosoche) o Dia Todo
 
Ao longo do dia, preste atenção continuamente ao modo com que faz
julgamentos de valor e responde aos seus pensamentos. Esteja plenamente
atento, principalmente às respostas que dá diante de emoções e desejos fortes.
Quando se vir diante de um pensamento inquietante ou problemático, pare e
diga a si mesmo: “Isto é apenas um pensamento e não, de forma alguma,
aquilo que pretende representar.” Lembre-se de que não são as coisas que o
entristecem, mas seu julgamento sobre elas. Quando for apropriado, ao invés
de se deixar levar por suas impressões inicias, tente adiar a resposta por pelo
menos uma hora; espere até que seus sentimentos tenham se acalmado e você
consiga ver as coisas com mais calma e objetividade antes de decidir que
atitude tomar.
Uma vez que tenha alcançado uma maior percepção do seu fluxo de
consciência e a capacidade de dar um passo para trás, afastando-se dos seus
pensamentos, comece também a aplicar aos seus pensamentos e impressões o
processo simples de avaliação que será explicado a seguir. Após parar para
visualizar seus pensamentos a uma certa distância, pergunte a si mesmo se
eles se referem a coisas que estão diretamente sob seu controle ou não. A
isso deu-se o nome de preceito ou estratégia geral da antiga prática estoica. 
Se observar que seus sentimentos se relacionam com algo que está fora do
seu controle direto, responda tentando aceitar o fato de que esse algo não está
em suas mãos, dizendo a si mesmo: “Isto não é nada para mim.” Concentre
sua atenção não nesse algo, mas em fazer o que estiver na sua esfera de
controle, com sabedoria e da melhor forma possível, independentemente do
resultado. Em outras palavras, lembre-se de aplicar a cláusula de reserva
descrita acima em cada situação. Encontre formas de se lembrar disso. Por
exemplo, a Oração da Serenidade é uma versão conhecida dessa ideia, e que
pode ser útil memorizar ou escrever em algum local para ser contemplada
diariamente:
 
“Concedei-nos a serenidade para aceitar
as coisas que não podemos modificar,
coragem para modificar aquelas que podemos,
e sabedoria para distinguir umas das outras.”
 
Fase 3: Revisão Noturna
 
Reveja seu dia inteiro, três vezes se possível, antes de ir dormir. Enfoque os
eventos principais e a ordem em que ocorreram, por exemplo, a ordem na
qual realizou diferentes tarefas ou interagiu com diferentes pessoas ao longo
do dia. Algumas perguntas que pode fazer a si mesmo são:
 
- O que fez de bom para o seu bem-estar fundamental? (O que deu
certo?)
- O que fez de prejudicial ao seu bem-estar fundamental? (O que deu
errado?)
- Que oportunidades perdeu de fazer algo benéfico para o seu bem-estarfundamental? (O que foi omitido?)
 
Dê conselhos a si mesmo como se estivesse conversando com um amigo ou
ente querido. O que pode aprender com este dia e, caso se aplique, como
pode fazer melhor no futuro? Cumprimente-se pelo que deu certo e permita-
se refletir a respeito com satisfação. Também pode ser útil atribuir-se uma
nota simples e subjetiva (de 0 a 10) para medir com qual consistência você
seguiu as instruções aqui fornecidas ou até que ponto conseguiu perseguir
metas racionais e saudáveis, mantendo-se ao mesmo tempo desapegado das
coisas que não estão sob seu controle direto. Entretanto, tente ser conciso em
sua avaliação das coisas e chegar a conclusões sem ficar remoendo os fatos
demasiadamente.
O Que os Estoicos Podem Fazer por Nós?
Antonia Macaro
 
O Estoicismo, hoje em dia, não sofre de falta de fãs. Além de pipocar em
uma série de livros sobre filosofia popular, não raramente nos deparamos
com suas ideias em publicação de ponta de todo tipo – The Guardian,
Prospect, Psychologies, sem falar da revista The Philosophers' Magazine.
Isto não surpreende, já que os textos mais tardios dos estoicos romanos em
especial Sêneca, Epiteto, Marco Aurélio – são repletos de conselhos
maravilhosamente coerentes sobre o como viver. Diferentemente das
abstrações de algumas filosofias morais, que costumam oferecer pouca
assistência para que a pessoa desenvolva uma boa vida, os autores estoicos
escreviam sobre preocupações cotidianas e, com isso, adquiriram uma
relevância duradoura para muitas pessoas.
Entretanto, se começarmos a mergulhar na literatura estoica, poderemos
considerar alguns dos conselhos repugnantes, até mesmo chocantes. Em
Epiteto, por exemplo, encontramos a seguinte exortação:
“Se beijares teu filho ou tua mulher, diz a ti mesmo que é um ser
humano que estás beijando; assim não ficarás perturbado se um deles
falecer.” (Manual, §3)
 
Quanto a Marco Aurélio, este nos diz que o sexo deve ser visto como
“uma fricção no pênis, uma breve convulsão e um liquidozinho
esbranquiçado” (Meditações, 6.13). Seria o Estoicismo uma filosofia
afirmativa da vida, que realmente pode nos ajudar a viver melhor no mundo
moderno, ou uma perspectiva extremamente radical, intrigante, porém remota
e exigente demais para que possa ter real relevância para a nossa conduta
diária? Ou ambas as coisas?
O Estoicismo é uma filosofia complexa que tem a ética como parte
integrante de um sistema bem-amarrado, e que inclui também a lógica e o que
se chamava antigamente de física, mas que claramente tem mais relação com
o que hoje chamamos de metafísica. John Sellars, docente sênior de filosofia
e autor de The Art of Living, explica (informação verbal) que a física estoica
envolvia a ideia de uma “mente racional divina que permeava toda a
natureza, constituindo a alma do mundo, da qual todas as nossas almas
individuais seriam fragmentos. Vários argumentos estoicos sobre como
devemos responder ao destino e, em especial, à má sorte, partem da ideia de
que há uma mente providencial divina organizando todo o processo”.
Essas visões metafísicas têm consequências éticas. Nossos corpos e
posses são apenas matéria, mas nosso poder de escolha racional tem algo da
racionalidade divina. É isso que diferencia os humanos das outras criaturas, e
é a única coisa que deveria ser valorizada incondicionalmente. Nas palavras
rígidas de Epiteto: “Em nosso poder estão a escolha e todas as ações que dela
dependem; fora do nosso poder estão o corpo, as partes do corpo, as
propriedades, os pais, irmãos, filhos, o país e, em suma, todos aqueles com
quem nos relacionamos. Onde, então, devemos posicionar o bem? A qual
classe de coisas devemos aplicá-lo? À das coisas que estão em nosso poder.”
Se desejássemos viver uma vida estoica, portanto, teríamos de nos
concentrar no exercício da escolha racional, a única coisa que realmente cabe
a nós, e aprender a desafiar quaisquer julgamentos iniciais que erroneamente
nos guiassem pela aparência de valor. As emoções e desejos fomentados em
nós por coisas que cremos erroneamente terem valor são perturbações e
impedimentos à condução de uma vida racional, que podem ser evitados e
deveriam ser erradicados. Deveríamos nos lembrar constantemente de que o
que quer que nos ocorra e que não pertença à esfera da escolha e da ação não
está em nosso poder, por isso deveríamos seguir nosso destino sem reclamar.
Como um cão amarrado a uma carroça, para citar a analogia de Epiteto,
podemos escolher trotar deliberadamente atrás dela ou ser carregados,
esperneando e gritando.
Porém, ainda nos seria permitido seguir nossas inclinações naturais até
certo ponto, já que os estoicos conferiam algum valor ao que chamavam de
“indiferentes preferidos” – coisas que preferimos ter a não ter. Richard
Sorabji, professor emérito de filosofia e autor de Emotion and Peace of Mind,
entre várias outras obras, assinala (informação verbal) que, “à época de
Antípatro (séc. II a.C.), dizia-se que era dever do indivíduo fazer tudo o que
estivesse ao seu alcance para garantir esses objetivos naturais para si mesmo
e para os outros”. Mas nosso comprometimento primário deve ser sempre
com a racionalidade. Epiteto nos lembra que “o bem é, portanto, preferido a
qualquer forma de relacionamento. Meu pai não é nada para mim, apenas o
bem. És tão empedernido? Tal é a minha natureza e a moeda que deus me
concedeu.” Não é de surpreender que o sábio estoico (sophos) fosse mais ou
menos uma figura mítica.
Então, qual o problema em se adotar o Estoicismo como filosofia de
vida moderna? Uma das preocupações é que muitas de suas crenças basilares,
como a ideia de que nossa racionalidade é um fragmento da divina, ou de que
as emoções são perturbações criadas por atribuições equivocadas de valor,
chocam-se com o que de fato sabemos sobre o mundo. Diante disso, qualquer
conselho baseado nessas crenças poderia ser equivocado. Descobertas
recentes da neurociência, por exemplo, mostram que as emoções, longe de
serem sempre uma obstrução à razão, são parte integrante dela. Em nossa
evolução, adquirimos emoções por um bom motivo e, sem elas, seria difícil
navegar pela vida. É claro que as emoções também podem nos gerar
problemas e frequentemente o fazem, mas a solução não é, definitivamente,
erradicá-las (mesmo que fosse possível).
A teoria estoica do valor foi explicitamente rejeitada por dois
acadêmicos de renome da área, Martha Nussbaum e Richard Sorabji. Quando
converso com Sorabji, ele logo menciona a “face inaceitável do Estoicismo”,
da qual mantém distância. Pergunto-lhe se concorda com o conselho de
Epiteto sobre não sentir angústia quando morrem pessoas próximas, ao que
ele responde: “Não, é melhor ficar completamente devastado, porque o
restante da sua vida, do contrário, teria sido vivido dessa forma desapegada,
sempre pensando: 'estou beijando um mortal'. Não pode ser bom. Como pode
uma vida ser boa se a maior parte dela for passada com um distanciamento
das pessoas mais próximas, apenas para que não se tenha de enfrentar alguns
anos de angústia em algum ponto? Não parece uma equação sensata.” Ele
reconhece que rejeitar esse aspecto da doutrina estoica o deixa vulnerável à
dor como qualquer pessoa, “mas eu pagaria um preço ainda maior se o
aceitasse”, diz ele.
Estudos de psicologia nos ensinam também que a consciência e o
controle que temos sobre nossas atitudes, motivações e intenções são muito
mais limitados do que poderíamos esperar, e que o contexto tem grande
influência sobre nossas ações. É razoável crermos possuir algum controle e
que esse controle possa ser aumentado, mas seria besteira acreditarmos que
temos algo como uma racionalidade plena, ou total liberdade de escolha para
responder às situações. Na verdade, nossa liberdade talvez seja bastante
limitada.
Diante do exposto, poderia uma pessoa hoje realmente aceitar o
Estoicismo como um sistema completo? Na verdade, sim. Keith Seddon,
diretor da Stoic Foundation e autor de Stoic Serenity, é um estoico praticante.
E não é o único, pois parece haver na internet

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