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Ópio: extrato do suco da Papoula (Papaver somniferum). Opiáceo: Produtos derivados do ópio e incluem produtos naturais como a Morfina ou derivados semi-sintéticos. Nem todo opiáceo tem atividade analgésica; Opioides: Todas as substâncias que possuem ação semelhante as ações da morfina, independentemente da estrutura. Seja de origem natural, sintética ou semi-sintética, todas apresentam analgesia. A IASP define como ―A dor é definida como experiência sensorial e emocional de caráter desagradável relacionada a um dano tecidual real ou potencial, ...‖ Nunca desmereça a dor do seu paciente! Portanto dor é uma resposta subjetiva gerada após a entrada de estímulos aferentes provenientes dos nociceptores aos centros encefálicos. A nocicepção é a estimulação dos nociceptores por estimulo nocivo, relacionada com os estímulos elétricos. O alívio da dor depende do seu tipo específico: nociceptiva ou neuropática. Por exemplo, na dor artrítica leve ou moderada (dor nociceptiva), os analgésicos não opioides, como os anti- -inflamatórios não esteroides (AINEs), em geral são eficazes. A dor neuropática pode ser tratada com opioides (algumas situações exigem dosagens altas), mas respondem melhor a anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos ou inibidores da captação de serotonina e norepinefrina. Contudo, para a dor grave ou crônica maligna ou não maligna, os opioides são considerados parte do plano de tratamento em pacientes selecionados. Dois conceitos importantes: - Hiperalgesia: facilitar a informação dolorosa, tornar a dor mais intensa. Por exemplo, as prostaglandinas. - Alodinia: estímulo que não causa dor, mas passa a causar dor, por alteração nos mecanismo de transdução e transmissão. Fisiologia da dor Diferentes estímulos (físicos e químicos) podem iniciar ou aumentar a taxa de disparo de potencial de ação nos neurônios aferentes primários nociceptivos (isto é, induzir dor). Temos a ação de H+, ATP, prostaglandina, 5-HT, bradicinina, fator de crescimento neuronal, entre outros. Em geral, o estímulo inicial surge na periferia e é transferido, sob múltiplos controles, através de transmissores sensoriais no sistema nervoso central (SNC) até o córtex. Os neurônios sensoriais primários são denominados nociceptores pelo fato de responderem a estímulos nocivos. Esse neurônio faz transdução do estímulo os neurônios sensoriais aferentes primários, que conduzem os potenciais de ação resultantes do estímulo passam para o SNC. Os neurônios primários fazem sinapse no corno dorsal da medula espinal com neurônios de projeção secundários. Diversas substancias estarão modulando como a sinapse acontecerá. Os neurônios secundários transmitem a informação ao tronco encefálico e ao tálamo que, a seguir, transmitem sinais ao córtex somato-sensitivo, hipotálamo e sistema límbico. Então, temos a via ascendente de dor e a via descendente de dor. Como a dor é um estado de alerta, nós possuímos um sistema auto analgésico, para frear essa dor, que quando ativado, ativa vias descendentes inibitórias que inibirão a transmissão do primeiro para o segundo neurônio. Na substância cinzenta periaquedutal, próximo ao quarto ventrículo, ocorre ativação das vias descendentes e inibição, no corno dorsal da medula, da sinapse do primeiro e segundo neurônio, através de mediadores. Neurônios aferentes nociceptivos Sob condições normais, a dor associa-se à atividade de impulsos em fibras aferentes primárias de pequeno diâmetro (C e Aδ) dos nervos periféricos. Estes nervos possuem terminações sensitivas nos tecidos periféricos e são ativados por estímulos de vários tipos (mecânicos, térmicos, químicos). A maioria dos neurônios de fibras não mielinizadas (C) é associada às terminações nociceptivas polimodais e transmitem dor profunda, difusa e em queimação, enquanto as fibras mielinizadas (Aδ) transitem dor aguda e bem localizada (mecanoceptores). As fibras C e Aδ transmitem a informação nociceptiva proveniente do músculo e das vísceras, assim como a proveniente da pele. Teoria do portão A maioria das fibras aferentes nociceptivas termina na região superficial do corno posterior, com as fibras C e algumas fibras Aδ inervando os Fármacos analgésicos @waleska112 Med IX - UFOB corpos celulares nas lâminas I e II (também conhecidas como substância gelatinosa), enquanto outras fibras A penetram mais profundamente no corno posterior (lâmina V). A substância gelatinosa é rica em peptídeos opioides endógenos e em receptores opioides, e pode ser um local importante para a ação de fármacos semelhantes à morfina. A substância gelatinosa apresenta interneurônio inibitório da sinapse do primeiro e segundo neurônio, sendo ativados por fibras mecânicas (recepção de tato). Por isso, quando batemos o cotovelo e logo em seguida esfregamos com a mão, estamos aderindo a estratégia de ativar apenas um dos estímulos periféricos: ou de dor (fibras C e Aδ) ou tátil (mecanoreceptores Aβ), que vai atuar na inibição da sinapse do primeiro e segundo neurônio. Ativação dos nociceptores Canais principais dos receptores: os canais controlados por ligantes incluem os canais iônicos sensíveis a ácido (ASICs), os canais sensíveis ao ATP (receptores P2X) e o canal sensível à capsaicina (TRPV1), que também é sensível a prótons e à temperatura. Existem vários receptores facilitadores e inibitórios acoplados à proteína G (GPCRs), os quais regulam a função dos canais através de vários sistemas de segundos mensageiros. Fatores de crescimento, como o fator de crescimento neural (NGF), atuam através de receptores ligados a quinases (TrkA) para controlar a função dos canais iônicos e a expressão de genes. O receptor B2 , receptor tipo 2 da bradicinina ativa PKC, que regula positivamente TRPV1 e o receptor prostanoide, para prostaglandinas, ativa PKA, que aumenta ação de canais Na controlados por voltagem. Alguns estímulos vão barrar essa despolarização. Os GPCRs inibitórios agem com estímulos de opiáceos, norepinefrina e canabioides, aumentando a ação de canais de K, que por sua vez diminuem a capacidade de despolarização pela saída de potássio. Dor neuropática A lesão nervosa também promove a reorganização dos padrões de conexão sináptica no corno dorsal da medula espinal. A lesão nervosa resulta em uma combinação de sinais negativos e de sinais positivos que altera a fisiologia do sistema nociceptivo. A perda do suporte neurotrófico altera a expressão gênica na fibra nervosa lesada, enquanto a liberação de citocinas inflamatórias altera a expressão gênica nas fibras nervosas tanto lesadas quanto não-lesadas adjacentes. Essas alterações na expressão gênica podem levar a uma alteração na sensibilidade e atividade das fibras nociceptivas e, portanto, na percepção contínua da lesão, que é característica da dor neuropática. Ou seja, não necessariamente a dor deriva de um estímulo periférico, mas também causada por uma lesão nervosa, seja no neurônio periférico, ou na medula e trato ascendente, culminando na dor neuropática. Transmissão no corno dorsal da medula espinal Os canais de cálcio regulados por voltagem tipo-N desempenham um papel significativo no controle da liberação de transmissores das vesículas sinápticas. A transmissão sináptica no corno dorsal, entre os aferentes primários das fibras C e os neurônios de projeção secundários, possui componentes rápidos e lentos. O glutamato medeia a transmissão excitatória rápida entre os neurônios sensoriais primários e secundários. O glutamato age nos receptores ionotrópicos AMPA-R e NMDA-R e metabotrópico mGluR. Os neuropeptídios, como as taquicininas — a substância P e o peptídio relacionado com o gene da calcitonina (CGRP) — e outros neuromoduladores sinápticos, incluindo a neurotrofina, o fator neurotrófico derivadodo cérebro (BDNF), são co- liberados com o glutamato e produzem efeitos sinápticos mais lentos através de sua ação sobre os receptores metabotrópicos acoplados à proteína G e receptores de tirosinocinases. A estimulação dos receptores de glutamato ionotrópicos leva a uma despolarização pós-sináptica rápida, enquanto a ativação de outros receptores moduladores medeia uma despolarização mais lenta. A despolarização póssináptica, quando suficiente, leva à produção de potencial de ação (geração de sinal) no neurônio transmissor secundário. Conhecendo o mecanismo da dor, fica mais fácil compreender como os opioides podem agir impedindo a sinapse do primeiro e segundo neurônio no corno da medula ou ainda com a ativação das vias descendentes inibitórias no SNC. Mecanismo de ação Os receptores opioides são divididos em 3 família designadas comumente µ (mi), κ (capa) e δ (delta). Cada família de receptores apresenta uma especificidade diferente para os fármacos com. Os três receptores opioides são membros da família de receptores acoplados à proteína G e inibem a adenililciclase. Quando estimulados, ativam a proteína G inibitória, que reduz a formaçao de AMPc, repercutindo na diminuição da atividade de PKA com redução do influxo pré-sináptico de Ca2+ na pré sinapse levando a diminuição da liberação do transmissor (glutamato, substância P e CGRP) e aumento do efluxo pós-sináptico de K+ (hiperpolarização) na pós sinapse, impedindo, assim, o disparo do segundo neurônio. Portanto, os efeitos do opioide na célula são: diminuição da despolarização (porque causa hiperpolarização na pós-sinapse) e menor liberação de neurotransmissores (pré-sinapse). Receptores opioides Na tabela seguir, vemos os efeitos analgésico dos opioides e seus efeitos adversos caraterísticos. Opioides endógenos O sistema opioide endógeno libera substâncias opioideas peptídicas que o próprio organismo produz: as endorfinas, as encefalinas e as dinorfinas. Elas inibem a transmissão sináptica e são liberados em vários locais do SNC em resposta a estímulos nocivos. Compartilham a seqüência N-terminal Tyr-Gly-Gly– Phe-Met/Leu. Endorfinas atuam principalmente no receptor mi e delta, encefalinas no receptor delta e dinorfinas no reptor kapa. Classificação dos analgésicos opioides 1-Opiáceos naturais: substâncias oriundas do ópio extraído da papoula ex: morfina, codeína 2-Opioides semi-sintéticos: produzidos por modificação química da morfina ex: nalorfina, hidromorfona, oxicodona, levorfanol 3-Analgésicos Opioides não-relacionados a morfina: ex: Fentanil, Meperidina, Sulfentanil, Metadona, Tramadol Ação em receptores opioides Morfina Agonistas puros Codeína Oxicodona Etilmorfina Meperidina Metadona Etorfina Levorfanol Petidina Hidromorfona Fentanil Sulfentanil Nalbufina Agonistas κ e antagonistas µ Butorfanol Pentazocina (antagonista fraco) Buprenorfina (agonista fraco µ) Naxolona Antagonistas puros Natrexona A morfina é o principal fármaco analgésico presente no ópio bruto, sendo o protótipo do agonista μ potente. A codeína também está presente no ópio bruto, em menores concentrações, e é menos potente, o que a torna protótipo dos agonistas opioides fracos. Os opioides atualmente disponíveis têm várias diferenças na afinidade pelo receptor, no perfil farmacocinético, nas vias de administração disponíveis e nos efeitos adversos. Comparar os opioides disponíveis com a morfina é útil na identificação de diferenças para orientar a seleção de um regime seguro e efetivo de controle da dor. Indicações e uso clínico dos opioides -Tratamento da dor crônica moderada e intensa -Edema pulmonar associado a dispnéia -Anestesia cirúrgica -MPA -Analgesia no período intra-operatório -Antitussígeno (codeína) -Antidiarreico (loperamida) Intervenções farmacológicas para dor: Não opioides Paracetamol: 500-750mg vo q 6/8h; dose máxima até 3g/d (máx 2 g/d para hepatopatas) Dipirona 1g 6/6hs Cetoptofeno, piroxican, tenoxican, e outros AINES. Analgésicos opioides fracos (dor score 5 a 7) Codeína: •30-60mg a cada 4-6 horas •Metabolização hepática Tramadol: •1/10 da potência da morfina •Dose 50 a 100mg a cada 4-6 horas; dose máxima 400 mg/dia •Efeitos adversos menores com da velocidade de infusão lenta (30 minutos a 1 hora). Analgésicos opioides fortes (EVN 8 a 10) Morfina oral e parenteral (Conversão 3:1) •Duração de ação de 4 horas (cuidado na I.renal e hepática) •Opção para dor aguda: 2 mg EV a cada 15 minutos até alívio da dor. Monitorar sedação Metadona (até 20 x mais potente que morfina, boa opção para dor neuropática. Meia vida longa, eleito em casos de dependência a opioides). O uso crônico de opioides leva a perda da eficácia do próprio tratamento (taquifilaxia)! A retirada abrupta de opioides leva a abstinência, então faz a substituição por metadona e reduz gradualmente a posologia da metadona. Efeitos indesejáveis e adversos - Euforia - Depressão respiratória - Constipação - Liberação de histamina - Diminui ou inibe a formação de saliva. - Alguns opióides são pro-convulsivantes -Sedação -Miose -Diminuição da P.A. -Sonolência -Dependência Codeína - O efeito antitussígeno pode ser dissociado da dose analgésica. - Pró-fármaco - Promove liberação de histamina - Menos potente que a Morfina. - Baixa capacidade de indução enzimática Morfina - Excelente capacidade de remissão de estados de dor intensa. -Pode ser administrada pelas vias oral ou parenteral -Meia-vida de 1-2 horas. - Alguns indivíduos possuem baixacapacidade de metabolização -Promove liberação de histamina - Na MPA induz vômito, no trans-operatório isto não é relatado. - Ativação não seletiva dos receptores. Meperidina -Menos potente que a Morfina -Possui Menor latência -Duração da Analgesia é = 2 horas -Possui semelhança estrutural com a Atropina (Bloqueia receptores Muscarínicos). - É rapidamente eliminada - Promove Depressão Respiratória - Utilização restrita a MPA Fentanil - 100x Mais potente que a Morfina - Utilização intra-operatória -Duração da Analgesia é = 30 min -Intensa Depressão Respiratória - Pode ser utilizado por via intratecal -Promove sedação e bradicardia Oxicodona - Alta biodisponibilidade pela via oral - Baixa incidência de efeitos colaterais - Dobro da potência da morfina - Metabólitos com atividade mínima - No Brasil só existe a de ação prolongada - Apresentação de 10,10 e 40 mg - Intervalo a cada 12 hrs Tramadol - Baixa afinidade pelos receptores μ -Bloqueia a recaptação de Noradrenalina - Duração da Analgesia de até 7 hs - Cerca de 30% da dose é eliminada inalterada -Pode Promover sedação e bradicardia Tolerância e dependência A tolerância está relacionada ao aumento da adenilato ciclase pela célula em pacientes com uso crônico. Já a tolerância está relacionada com o sistema de recompensa com liberação de dopamina no núcleo accubmens . Efeitos pró-convulsivantes e constipação intestinal apresentam menor tolerância e fármacos de analgesia, sedação etc., têm tolerância maior. Gestação Os analgésicos têm participação direcionada para diversas etapas na percepção da dor, desde o início de um estímulo de dor até a percepção central dessa dor. Os AINE modulam a despolarização da membrana inicial (transdução de sinais) em resposta a um estímulo periférico. Os bloqueadores dos canais de sódio diminuem a condução do potencial de ação nas fibras nociceptivas. Os opióides, os antidepressivos, os AINE, os anticonvulsivantes e os agonistas 2-adrenérgicos modulam a transmissão da sensação da dor na medula espinal, diminuindo o sinal transmitido das vias de dor periféricas paracentrais. Os opióides também modulam a percepção central de estímulos dolorosos. Os múltiplos locais de ação dos analgésicos permitem o uso de uma abordagem combinada de fármacos no manejo da dor. Por exemplo, a dor moderada é freqüentemente tratada com associações de opióides e AINE. Como esses fármacos apresentam diferentes mecanismos e locais de ação, a combinação dos fármacos é mais efetiva do que o uso isolado de apenas um fármaco.
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