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Modelos explicativos sobre saúde e doença A compreensão sobre a saúde e a doença e seus fatores determinantes foram se modificando ao longo do tempo. Na antiguidade, os povos acreditavam que as doenças eram causadas por elementos naturais e sobrenaturais. O adoecimento era decorrente de transgressões individuais e coletivas, sendo necessários para recuperar a saúde os cuidados de sacerdotes, feiticeiros ou xamãs. A doença sempre esteve presente na história da humanidade, e o modo como era entendida determinava a necessidade e o modo de intervir. A conceituação da saúde, bem como do adoecimento, é de extrema importância, pois a partir dessas concepções é que se fundamentam as políticas de saúde e suas intervenções. Existem diferentes modelos explicativos sobre o processo de saúde, como: modelo biomédico e modelo da história natural da doença. MODELO BIOMÉDICO Este modelo tem por base a biologia e entende a doença como sendo decorrente da falha nos mecanismos de adaptação do organismo ao meio ou ainda da presença de alterações estruturais no organismo, causando disfunções em órgãos ou sistemas. Com o avanço da bacteriologia, viu-se que as doenças eram causadas pela presença de agentes patogênicos (vírus, bactérias e fungos), portanto bastava conhecê-lo para compreender o adoecimento. Por esta razão, esse modelo é conhecido como unicausal, pois um agente etiopatogênicos desencadeava determinadas reações nos órgãos e disfunções no organismo e explicava-se a patogenia das doenças infecciosas. Nessa lógica unicausal e linear, compreendia- se o mecanismo e a sequência do adoecimento, adotando-a de forma universal. Para explicar o adoecimento, o corpo era fragmentado em partes, estudado e compreendido de forma mecânica, como uma máquina; por essa razão, foi caracterizado como modelo mecanicista. Nessa explicação, as doenças eram desencadeadas por fatores externos, ambientais, dando origem à teoria dos miasmas, relacionada com o contágio. As críticas a esse modelo estão relacionadas à aplicação do conhecimento biomédico, aos valores atribuídos à normalidade e à patologia nos fenômenos da vida. Para superar essa visão dicotômica entre “normal” e “patológico”, foi criado na época o conceito de normatividade da vida. A epidemiologia tradicional fundamentada na visão biomédica analisava a saúde da população pela presença ou ausência de fatores de risco, sendo explicada por meio das correlações entre as observações da clínica médica e dos fenômenos epidemiológicos relativos à organização social e política da sociedade, decorrendo daí fortes críticas ao método. As práticas em saúde eram curativas, baseadas numa visão mecanicista, e a intervenção no ambiente tinha como objetivo o controle das epidemias. MODELO DA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Com o surgimento no mundo da saúde coletiva, entre os anos 50 e 70, e com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), após a Segunda Guerra Mundial adotou-se o seguinte conceito de saúde: "estado de completo bem-estar físico, mental e social e não mera ausência de moléstia ou enfermidade” (WHO, 1948). O modelo elaborado por Leavell e Clark (1976) é multicausal e entende a saúde como um processo. Segundo a lógica da causalidade, o restabelecimento da normalidade fundamenta-se numa visão positiva da saúde, que valoriza a prevenção de doenças. De forma a adotar intervenções que promovam a saúde e previnam as doenças, em uma abordagem individual e coletiva, considera as doenças como transmissíveis e não transmissíveis. A epidemiologia adotou novo método sistemático para prevenir e controlar doenças nas populações. Segundo este, no meio externo, ocorre a interação entre agente e determinantes, e a doença se desenvolve no meio interno do organismo. O adoecimento sofre influência dos fatores externos que podem ser classificados segundo a natureza física, biológica, sociopolítica e cultural. As modificações químicas, fisiológicas e histológicas próprias da moléstia ocorrem no meio interno do organismo, ou seja, onde atuam fatores hereditários congênitos, o aumento ou a diminuição das defesas e as alterações orgânicas. O processo natural da doença compreende os seguintes períodos: prépatogênico e patogênico. PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO Nesse período não há manifestação da doença, os agentes físicos e químicos, agentes nutricionais, agentes genéticos, determinantes econômicos, culturais e psicossociais interagem com o indivíduo, tornando-o vulnerável. É nesse nível que são adotadas as medidas de atenção primária, em que se atua com o coletivo por meio de ações de promoção da saúde, prevenção e proteção contra a doença. PERÍODO PATOGÊNICO O processo patológico está ativo, nesse período iniciam-se as primeiras modificações no estado de normalidade, desencadeadas pela ação de agentes patogênicos. Observam-se alterações bioquímicas nas células, provocando alterações morfológicas, ou seja, na forma e no funcionamento dos órgãos e sistemas, podendo evoluir para sequelas e incapacidades, morte ou cura. Segundo Puttini (2010), as críticas ao Modelo da História Natural das Doenças, multicausal, é que, embora reconheça as múltiplas causas no processo saúde-doença, as determinações sociais ainda são consideradas de forma secundária e a abordagem dada à saúde se restringe à causa das patologias. E acrescenta ainda que a História Natural das Doenças não pode ser considerada como natural. As críticas à epidemiologia adotadas no modelo biomédico e no de Leavell e Clark (1976) são que suas cadeias lineares desconsideram a interação entre os múltiplos fatores sociais, culturais e biológicos. MODELO DE DETERMINAÇÃO SOCIAL DA DOENÇA Fundamentado nas críticas ao modelo epidemiológico baseado no discurso preventivo, no conceito epidemiológico de risco de agravos, surge o desafio de integrar a epidemiologia e seus métodos na promoção de saúde. Esse modelo de determinação social da saúde parte de um entendimento diferenciado e não restrito apenas ao aspecto biológico. Nessa concepção entende-se a saúde enquanto qualidade de vida, que é resultante de um conjunto de fatores, como trabalho, habitação, alimentação, renda e acesso a serviços, que se associam. Nesse sentido, ao estudar, é importante compreender e abordar as condições da vida cotidiana que levam a desigualdades sociais na saúde. Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) têm sido descritos como “as causas das causas”, que incluem as condições mais gerais sociais, econômicas, culturais e ambientais de uma sociedade, e relacionam-se com as condições de vida como trabalho, habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de educação e saúde, incluindo também as redes sociais e comunitárias. Esses determinantes influenciam os estilos de vida, por exemplo: a prática de exercícios, os hábitos alimentares, o hábito de fumar, de uso de álcool, entre outros. Eles são também condicionados pelos determinantes sociais de saúde. Para se atingir a condição de saúde, ou seja, de bem-estar, é preciso que o indivíduo possua recursos psicológicos, sociais e físicos para manter-se em equilíbrio.
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