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Dandara Leal, 2021. Epidemiologia Atualmente, além de dispor de instrumental específico para análise do processo saúde-doença na população, a epidemiologia também possibilita aclarar questões levantadas pelas rotinas das ações de saúde, produzindo novos conhecimentos. Sua finalidade última é contribuir para a melhoria de vida e o surgimento do nível de saúde das coletividades humanas. Não é fácil uma definição precisa do termo epidemiologia: sua temática é dinâmica e seu objeto, complexo. Pode-se, de maneira simplificada, conceituá-la como “ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes do risco de doenças, agravos e eventos associados à saúde, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, danos ou problemas de saúde e de proteção, promoção ou recuperação da saúde individual e coletiva, produzindo informação e conhecimento para apoiar a tomada de decisão no planejamento, administração e avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de saúde.” O objetivo global da epidemiologia é estudar “a ocorrência e distribuição de eventos relacionados com a saúde das populações, incluindo o estudo dos fatores determinantes e a aplicação desse conhecimento não mais e nem menos para controlar problemas de saúde” (PORTA, 2008). Modelo natural da doença Modelo pode ser relacionado à referência, sendo parâmetros que vamos obter como referência. A história natural da doença tem seguimento com sua implantação e evolução no ser humano. A história natural das doenças (HND) conhecido como modelo processual dos fenômenos patológicos, resulta da explicação causais do processo saúde- doença. Como o indivíduo chega ao adoecimento, por que as pessoas ficam doentes. Modelo idealizado por Leavell e Clarck em 1976: definem como um conjunto de processos interativos que cria o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar, passando da resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte. Interações? Estímulos que podem causar doenças= riscos. O risco é uma probabilidade para que ocorra algo de agravante. História natural da doença é o nome dado ao conjunto de processos interativos que compreendem: “as inter-relações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do ser humano ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte” (LEAVELL & CLARK, 1976). Agente -> patógeno Suscetível -> o indivíduo Esse modelo privilegia o entendimento da saúde como um processo, por meio do conhecimento acumulado do campo científico, e o restabelecimento da normalidade está fundamentado na visão positiva da saúde, que é valorizada pela noção de prevenção sobre as doenças. Ou seja, procedimentos e ações promotoras de saúde e de prevenção de doenças aplicadas tanto ao indivíduo quanto à coletividade de pessoas acometidas ou não por doenças (transmissíveis ou não transmissíveis) encontram eco no âmbito do conhecimento da saúde humana (PUTTINI et al., 2010). Dandara Leal, 2021. A todos momentos estamos sendo estimulados por um agente patológico= modelo de história natural da doença. HND tem em vista o acompanhamento do processo saúde-doença em sua trajetória (Ex: covid). Compreende as inter-relações do agente causador da doença, do hospedeiro e do meio ambiente e o processo de desenvolvimento da doença. Ajuda a compreender os diferentes métodos de prevenção e controle das doenças. Vertente epidemiológica: período de pré- patogênese. Vertente patológica: período de patogênese. Vertente do desfecho/Desenlace: morte ou invalidez. ou cura (período da cura= remoção de fatores causais, convalescença e saúde). A história natural da doença, portanto, tem desenvolvimento em dois períodos sequenciados (com base no livro): Período epidemiológico Período patológico No primeiro, o interesse é dirigido para as relações suscetível-ambiente. Ao segundo interessam as modificações que se passam no organismo vivo. Abrange, portanto, dois domínios interagentes, consecutivos e mutuamente exclusivos, que se completam: o meio ambiente, onde ocorrem as pré- condições, e o meio interno, lócus da doença, onde se processaria, de maneira progressiva, uma série de modificações bioquímicas, fisiológicas e histológicas próprias de uma determinada enfermidade. Alguns fatores são limítrofes. Situam-se, de modo indefinido, entre os condicionantes pré-patogênicos e as patologias explícitas. O primeiro período da história natural (denominado por Leavell & Clark [1976] período pré-patogênese) representa a própria evolução das inter-relações dinâmicas, que envolvem, de um lado, os condicionantes sociais e ambientais e, do outro, os fatores próprios do suscetível, até que chegue a uma configuração favorável à instalação da doença. É também a descrição dessa evolução. Envolve, como já referido antes, as relações entre os agentes etiológicos da doença, o suscetível e outros fatores ambientais que estimulam o desenvolvimento da enfermidade e as condições socioeconômico-culturais que possibilitam a existência desses fatores. No período de pré-patogênese, podem ocorrer situações que vão desde um mínimo de risco até o risco máximo, dependendo dos fatores presentes e de que maneira esses fatores se estruturam. O período pré-patogenese pode sobrecarregar o periodo de patogênese. Período da patogênese. Esse período se inicia com as primeiras ações que os agentes patogênicos exercem sobre o ser afetado. Seguem-se as perturbações bioquímicas em nível celular, continuam com as perturbações na forma e na função e evoluem para defeitos permanentes, cronicidade, morte ou cura. Colimon (1978) divide o período de patogênese em três etapas: - subclínica, - prodrômica - e clínica. Dandara Leal, 2021. Mausner & Bahn (1974) propõem os seguintes estágios: - pré-sintomático, - clínico - e de incapacitação. Leavell & Clark (1976) veem o período de patogênese como se desenvolvendo nos seguintes estágios: - interação estímulo-suscetível, - patogênese precoce, - doença precoce discernível - e doença avançada. Neste texto serão considerados quatro níveis de evolução no período de patogênese: (a) interação estímulo-suscetível; (b) alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas; (c) sinais e sintomas; (d) cronicidade. Prevenção da doença A medicina preventiva é definida como a técnica e a arte de evitar doenças, prolongar a vida e desenvolver a saúde física e mental e a eficiência, deverá abranger também o componente preventivo da medicina individualizada. A medicina preventiva, abrangente, envolve a saúde pública e a medicina individual. Esta, a clínica, tem como ciência básica primordial a patologia. O suporte científico da saúde pública é a epidemiologia. A prevenção pode ser feita nos períodos de pré- patogênese e patogênese. O conhecimento da história natural da doença favorece o domínio das ações preventivas necessárias. Devem ser conhecidos os múltiplos fatores relacionados com o agente, o suscetível e o meio ambiente, e com a evolução da doença no acometido. A prevenção primária que se faz com a intercepção dos fatores pré-patogênicos inclui: (a) promoção da saúde; (b) proteção específica. Promoção da saúde e Proteção específica. A prevenção secundária é realizada no indivíduo, já sob a ação do agente patogênico, no nível do estado de doença, e inclui: (a) diagnóstico; (b) tratamento precoce; (c) limitação da invalidez. Diagnóstico precoce e Limitação da incapacidade. A prevenção terciáriaconsiste na prevenção da incapacidade mediante a adoção de medidas destinadas à reabilitação. Assim, o processo de reeducação e readaptação de pessoas com defeitos após acidentes ou devido a sequelas de doenças é exemplo de prevenção em nível terciário. Reabilitação e Melhoria da qualidade de vida das pessoas com sequela. Processo de saúde-doença O processo saúde-doença se configura como um processo dinâmico, complexo e multidimensional, pois engloba: dimensões biológicas, psicológicas, socioculturais, econômicas, ambientais, políticas etc. Uma complexa inter-relação quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedade. Esse modelo se destaca pela construção democrática em saúde dos determinantes sociais, ecológicos e políticos e da organização do sistema de saúde, que se inspira na promoção de saúde para o planejamento nos variados níveis de atenção, complexidade e organização do sistema de saúde, tendo em vista as possibilidades de reorganização do sistema público de saúde em interseção com a reorganização ética da sociedade civil (PUTTINI et al., 2010). Os determinantes sociais em saúde são definidos como características específicas dos caminhos pelos quais as condições sociais afetam a saúde e como isso pode ser potencialmente alterado por ação informada, ou seja, os processos e condições sociais são como fatores essenciais estabelecidos por Dandara Leal, 2021. limites ou pressões, embora sem ser necessariamente o determinismo fatalista. É dinâmico, complexo e multidimensional. Determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos. Conceito de saúde OMS - um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. Lei Orgânica de Saúde n 8080 1990 “ explicitação dos fatores determinantes ......... A saúde no Brasil tem como fatores determinantes e condicionantes: a alimentação, a moradia, saneamento básico…” Políticas públicas: conforme definição corrente, políticas públicas são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos (nacionais, estaduais ou municipais) com a participação, direta ou indireta, de entes públicos ou privados que visam assegurar determinado direito de cidadania para vários grupos da sociedade ou para determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico. Ou seja, correspondem a direitos assegurados na Constituição. Diagnóstico pré- sintomático e tratamento através de programas de rastreamento fazem parte da prevenção secundária, porque formam uma li- nha de defesa secundária contra a doença. Apesar de não pre- venirem a causa inicial da doença, podem prevenir a progres- são para o estágio sintomático. Da prevenção primária espera-se a diminuição da incidência da doença mediante o controle de fatores de risco ou causas associadas, bem como a diminuição do risco médio de doença na população, enquanto da prevenção secundária espera-se que haja diminuição da prevalência da doença, essencialmente pela diminuição da duração da mesma.
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