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Textos bíblicos www.bibliaonline.com.br/acf 10 2019 ministerioescrito@hotmail.com issuu.com/ministerioescrito DEVOCIONAL ‘FÉ E ESPERANÇA’ gratuito e sem propagandas www.wattpad.com/story/188243910-fé-e-esperança-hoje Ideia e desafio! Surgiu-nos a ideia e o desafio de comentar toda a Escritura com notas que falassem tanto dos assuntos típicos de cada livro, como também dos assuntos que permeiam toda a Palavra de Deus. Temos seguido mês após mês escrevendo 7 notas para cada livro sagrado e finalizamos agora, com mais de um ano de trabalho, e uma triste interrupção de quase 6 meses neste período, os 5 primeiros livros de Moisés, chamado o Pentateuco. Estes cinco livros abordam o começo das coisas físicas e es- pirituais, e tentamos tocar nos principais assuntos, avançando muitas vezes no tempo e na Escritura, tentando formar um quadro inicial de tudo o que Deus tem feito e prometido. Espero que estas 35 notas de abertura nos abram a mente e o espírito de conhecimento dos propósitos de Deus para a humanidade e o universo. Que o Senhor, em sua infinita misericórdia e graça, nos fortaleça e revista nesta longa tarefa, tanto ao que escreve quanto ao que lê! Gênesis 1. Concepção Gênesis é o princípio das coisas que se veem, bem como de algumas coisas que não se veem. As muitas coisas que não se veem neste livro, estarão espa- lhadas, pulverizadas, pelos 66 livros sagrados de nossa bendita e eter- na Palavra de Deus. Não podemos ver neste princípio com clareza, por exemplo, que Deus nos “elegeu nele antes da fundação do mundo”, assunto que será esclarecido somente em Efésios 4.1 e outras passa- gens também no Novo Testamento, isto devido à grandeza do tema. Aqui temos o início de tudo que se desenrolará pela história da humanidade, desde a formação de famílias e clãs até a formação de cidades-estados e reinos poderosos. Mas todas estas instituições civis estarão à mercê do maior problema da humanidade: o pecado. Ele já aparece em sequência quase imediata à formação do primeiro casal humano. E com ele, todas as posteriores deformações sociais, cultu- rais, políticas, econômicas, religiosas... que seguem até hoje. Ninguém deveria estranhar o estado vil em que se encontra o mundo em todas estas relações. A tríade perversa – carne, mundo e diabo – já se delineia nes- te precioso livro, lembrando, só para ilustrar, dos casos das lentilhas de Esaú, do cataclismo noético e da atuação da serpente junto ao primeiro casal, o pai da mentira. Mas, se o homem foi lançado da presença divina, sem condi- ções de retornar por seus próprios méritos, há da parte de Deus o novo elemento – fé – baseado no sacrifício animal instituído logo após a queda de Adão, que ele bem soube aproveitar, e que permeará não só este livro, mas todo o Antigo Testamento. A fé será sempre individual, até a chamada de Abraão, com seu maior exemplo de fé em obediência ao chamado divino: “Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gn 12.1). E aqui começam os grandes problemas de interpretação da Escritura: a ligação da fé com a herança de uma terra prometida, ainda que Abraão mesmo e seus filhos “eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 11.13). Um povo será formado, os judeus, que terminarão exilados, por suas próprias escolhas errôneas, a um dos maiores impé- rios antigos, o Egito, cumprindo um princípio pronunciado somente em Gl 6.7-8: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gálatas 6:7,8). Este princípio, ao contrário do que se pensa, começa no plano espiritual, e reflete no material. Tudo o que vemos é reflexo do mundo espiritual, como bem atesta a indicação divina a Moisés, já no livro de Êxodo – “levantarás o tabernáculo conforme ao modelo que te foi mostrado no monte” (23.30). A luz do mundo físico só é constituída de sete espectros, co- mo vemos no arco-íris, porque em Jesus, “a luz verdadeira, que ilumi- na a todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1.9), repousaria “o Espíri- to do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Se- nhor”, como previsto por Isaías 11.2. Gênesis trata da abertura dos grandes temas que serão desen- volvidos, do simples para o complexo, do físico para o espiritual, da sombra para a luz fulgurante, e que serão discorridos pelos 65 livros seguintes. Em Gênesis começam as grandes dificuldades relacionadas ao pecado, mas em Gênesis mesmo Deus já demonstra que está disposto a salvar, mas somente pela fé no sacrifício de Alguém que viria tomar nosso lugar, representado como sombra pelo sangue de animais ino- centes. Comentaremos a seguir as muitas ‘fugas’ decorrentes dos nossos muitos erros, “pois não há homem que não peque”. 2. FugaS Se em Gênesis inicia o primeiro pecado humano, inicia tam- bém a sua consequência mais comum: a fuga. Ela percorre todos os atos do homem em toda a Escritura por ser retrato fiel de toda a huma- nidade. Mas neste livro em especial temos os primeiros relatos desta fraqueza moral, como consequência de nossos erros e pecados. Não seria bom condenar os personagens que vamos tratar agora, "porque todos tropeçamos em muitas coisas" (Tg 3.12). O primeiro caso, um clássico que se repetirá desde então, é Adão passando a culpa para Eva e esta para a serpente. A serpen- te só não jogou a culpa sobre ninguém pois já tinha perdido toda a ver- gonha, era inimigo declarado. Mas além de fugirem da presença de Deus, costuram folhas de figueira na tentativa de cobrir sua nudez. A figueira, em toda a Es- critura, se relaciona ao ministério de governo, e nos lembramos bem que após os fariseus rejeitarem seu Messias, ele amaldiçoa profetica- mente a figueira (Mt 21.19), anunciando o fim do governo de Israel, cumprido cerca de 40 anos depois com a tomada de Jerusalém por Tito, general romano. No caso de Adão e Eva, simboliza que eles ago- ra tomarão a rédea do seu governo, sem Deus se preciso for, contami- nados mesmo. Deus os perdoará com o primeiro sacrifício de um ani- mal inocente, mas seguirão fora de seu jardim governando suas pró- prias vidas. Desde então, temos duas bases: ou aceitamos o sacrifício divino e seguimos com Deus, ou costuramos nossas figueiras e segui- mos 'achando' que Ele nos aprova, ou como alguns dizem – Ele lá e eu cá! Quantas vezes fugimos, ou fingimos, diante de Deus com nossos pecados e tentamos, como Adão, cobrir nossa vergonha com coisas fúteis e sem valor, escondendo-nos em nossos 'princípios cris- tãos', em nossa religiosidade autossuficiente, em desculpas lançadas sobre 'a antiga serpente', e não 'julgando a nós mesmos' como reco- menda 1 Co 11.31. Quanto a Abraão, fugiu para o Egito, esquivando de grave seca (a partir de Gn 12.10), mas esquecendo que é melhor estar com o Senhor no meio de uma terra seca, a estar em terra agradável longe de Sua vista. E quantos não caem nesta tentação transitória e depois se ve- em, como Abraão, bem abastecidos talvez, mas carregando o ônus de perder o contato com sua esposa querida, deixando-as à mercê de um ímpio qualquer. Ou filhos que se perdem pelo excesso de zelo ao patri- mônio, e pouco zelo pelos de sua própria casa. Se o sacrifício para a posse de bens superar o sacrifício para a formação do caráter da crian- ça, talvez ela tenha tudo o que a carne exige, mas pouco que sua alma e coração necessitem. Lembre-se de que continua sendo verdade que "o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1 Tm 6.10). Outra fuga muito conhecidaé a de Jacó, diante de seu irmão, justamente irado, ao driblar a bênção distribuída por seu pai, Isaque (Gn 27). Fazendo-se passar por Esaú, vestindo roupas que não eram dele, com cheiro de seu irmão, com um guizado que ele não prepara- ria, faz um papel vergonhoso, mentindo e enganando sob orientação de sua mãe. Este conluio custará a ela perdê-lo de vista por muitos anos, e a ele trabalho longo, penoso e 'injustiçado' sob a mão de outro parente que o igualava em 'esperteza' (Gn 29). 'Toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir' – é uma verdade que nunca mudará. Uma família – constituída sob os princípios divinos da união de um homem e de uma mulher, como já orientava o próprio Deus em Gn 2.24 ("deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne") e reprisava o filho de Deus a mes- míssima fórmula em Mt 19.5 – é uma entidade sagrada que Deus ainda respeita e venera, ainda que hoje seja palco de pecados vergonhosos que rebaixam não somente a mesma família, mas a humanidade como um todo, e que serão motivo para o justo e breve juízo de Deus. "Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácu- la" (Hb 13.4). Nem vamos comentar a compra vergonhosa, de um lado, e a venda de mesmo caráter da parte do outro, de sua primogenitura, no caso das lentilhas (Gn 25.28-34). Esqueceram que eram irmãos e deve- riam viver em união sagrada, não em mesquinharia baixa. "Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em uni- ão" (Sl 133.1). Hoje tudo se compra e tudo se vende, tudo tem seu preço, mas, bendito seja Deus!, continua gratuita a oferta da salvação de Deus em Cristo na cruz: "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite" (Is 55.1). A oferta é gratuita, amorosa, única e "pode também salvar perfeitamente os que por ele [Jesus] se chegam a Deus' (Hb 7.25). No próximo capítulo abordaremos os 'encontros' que marca- rão vidas para sempre. Se os pecados trazem marca dolorosa pelo afas- tamento, os encontros trazem alívio na alma pelo perdão dispensado. 3. Encontros Todos temos uma passagem bíblica predileta. Minha esposa segura lágrimas quando ouve ou lê Isaías 54.6-7. "Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu Deus. Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei." Ela encontrou sua necessidade de perdão divino aqui, ouvindo uma palavra escrita cerca de 2700 anos atrás, como um eco que nunca diminui ou para no tempo. Um dia Jacó, nosso personagem da nota anterior, saiu fugido de casa, com seu irmão respirando ameaças e morte. Havia trabalhado muito em terra distante, 14 anos pela mulher que amava (quem espera- ria tanto nos dias atuais?!) e mais sete pelo gado próprio. Era hora de retornar. Mas tinha aquele problema: a lembrança de um Esaú irado. Estaria esperando numa cilada? Cheio de ódio e amargura? Eu não sei quanto a vocês, mas sempre que leio este encontro entre os dois irmãos (Gn 33), sinto que Esaú foi mais digno que o filho eleito. Jacó, sempre cheio de estratégias, temendo seu irmão, agrupa sua família em bandos, na frente os menos favoritos (teve mal exem- plo de Isaque, seu pai) e antes de todos, seus servos que levam presen- tes para aplacar sua ira. O primogênito não olha para nada daquilo – "Então Esaú cor- reu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram". Muitas lágrimas correram pela simples saudades de tanto tempo perdido, mas muitas também correram pela vergonha, pela cul- pa, pela frustração... Cabe aqui aquela palavra do Senhor – "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós" (Mt 6.14). Outro encontro que rende todo um doutrinamento do gigante de Hebreus é o de Melquisedeque e o pai da fé. À parte esta questão doutrinária, gostaria de fazer uma espé- cie de analogia para o tempo presente deste encontro. Vou somente transportar a passagem central: "Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele re- gressava da matança dos reis, e o abençoou..." (Hb 7.1). Se nós nos colocássemos na posição de Abraão – como ho- mens de fé aceitos em Cristo, assim como Abraão se encontrou com Melquisedeque somente depois da matança dos reis, também nós, so- mente depois da batalha de toda uma vida, "contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12), terí- amos a bênção certa, final e celestial. A entrada à fé em Cristo parte do mesmo pressuposto da cha- mada de Abraão do meio de um povo corrupto. Nada havia nele que o recomendasse, assim como nada há em nós que nos recomende a Deus, "porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto (a fé advin- da da graça) não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8). Mas a vida de fé, em santa separação e constante luta 'contra toda impiedade que se levanta contra Deus' (Jd 1.15), é a consequência natural da nova vida implantada em nós. As lutas serão inevitáveis – contra a carne, o mundo e o diabo – mas a vitória também nos é asse- gurada pela promessa de quem não pode mentir: "Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (1 Jo 5.4). O invisível é a chave para a vitória sobre tudo que é visível, jamais se esqueça! Mas o encontro que mais me anima, santifica, consola e forta- lece é o encontro a meio caminho de Isaque e sua futura esposa, Rebe- ca. Nada há mais precioso ao cristão que este encontro em analogia futura. Provavelmente eu volte a tocar neste assunto. Assim como Abraão (o Pai) enviou seu servo (relato de Gn 24) mais chegado (Espírito Santo) para encontrar uma esposa em terra distante (Igreja como corpo de Cristo) para seu amado filho Isaque (Filho), assim nós "seremos arrebatados juntamente com eles nas nu- vens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor" (1 Ts 4.17), pois "também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu" (2 Co 5.2). Pois como "Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a" (Gn 24.67), também temos preciosa promessa: "E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós tam- bém" (Jo 14.3). O leitor e leitora anseiam por este dia? Ou lhe é indiferente sua iminente volta? Jesus encontrará um povo bem disposto e atento (e falo do corpo cristão!), ou um povo cheio do mundo em seus olhos e dormindo pesadamente? Se sua esperança se encontra apagada como no segundo caso, aconselho um colírio infalível para esta miopia intermitente: "Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apa- reça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas" (Ap 3.18). Comentaremos em nossa quarta nota deste livro ímpar dos começos, os 'sentidos precipitados'. 4. Sentidos precipitados Meu pai sempre diz que tudo na vida é uma questão de priori- dade. Temos inúmeras vertentes de ação nesta vida, como casa, traba- lho, família, filhos, pais, cuidados com o corpo e também cuidados com o espírito. Pois “se há corpo natural, há também corpo espiritu- al” (1 Co 15.44), como diria Paulo. Seria algo totalmente natural e muito mais simples cuidarmos de tudo que nos cerca visivelmente, especialmente quando todas estas coisas influem diretamente em nosso bem estar. Mas e as coisas espiri- tuais? Vamos relegá-las a últimoplano já que não podemos vê-las?! Vamos examinar três casos em que os sentidos físicos suplan- taram o bom senso espiritual, e os resultados foram desastrosos. Começo com “Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos” (Gn 13). Novamente a riqueza se interfere na amizade e familiaridade dos homens. Não sou contra a riqueza, mas temos que ver bem a quem queremos servir. Quem terá a primazia, a riqueza que pode separar amargamente ou a simplicidade da vida que pode descansar em paz? Abraão propõe que se separem, e dá a Ló a oportunidade de escolher primeiro – “Se escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, eu irei para a esquerda”. Abraão estava firme na promessa de seu Deus. Qual a diferença se fosse para um lado ou ou- tro, desde que tivesse o seu Senhor a guiá-lo e confortá-lo? Então “levantou Ló os seus olhos, e viu... escolheu para si toda a campina do Jordão... e armou as suas tendas até Sodoma”. Tudo começou nos olhos, numa sequência em espiral decadente até chegar em Sodoma. No momento em que deveria fechá-los para ouvir a voz do Senhor em oração, ele os arregala e se condena, pois o Senhor não se- ria favorável àquela ímpia cidade, pois “eram maus os homens de So- doma, e grandes pecadores contra o Senhor”. “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz” (Mt 6.22). Quando houver dúvida, feche os olhos, e em calma e constan- te oração deixe que o Senhor te guie com Seus olhos oniscientes. Não é tarefa fácil, mas é muito produtiva. Dos olhos passamos para os ouvidos. Abraão será palco de dúvidas lançadas em seus ouvidos por sua própria esposa, e não há coisa pior que sermos tentados justamente por aqueles que poderiam e deveriam nos fortalecer. Mas se “riu-se Sara consigo” após ouvir a novidade da boca do próprio anjo do Senhor, após ter-lhes dito que seriam agraciados com o filho ‘impossível’ da velhice de um e da menopausa de outra, como poderíamos imaginar que Sara também não risse de seu marido mortal? Se não temeu a Deus, como temeria os homens? Marido e mulher devem andar juntos na estrada da fé, pois se um parece sucumbir, o outro levantará o caído. Podem frequentar ale- gres juntamente uma denominação qualquer, cantar juntos, louvar jun- tos, mas a prova da fé tirará tudo a limpo no tempo da angústia. Quanto a Abraão, as dúvidas de Sara chegaram aos seus ouvi- dos, aninharam-se ao longo dos longos anos de cobrança ‘sufocante’ em seu coração e encontraram eco em sua incredulidade natural. Não foi, não é e nem nunca será fácil continuar esperando o invisível, con- tra todas as possibilidades. O resultado todos sabemos: relacionamento sexual com sua serva, um filho que seria competidor com o filho da promessa que viria depois, amarguras, separações... “Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e com- pletos, sem faltar em coisa alguma” (Tg 1.3-4). Meu próximo sentido será a boca, mais precisamente a boca de Isaque ao abençoar o filho ‘errado’. Já vimos em nota anterior que Jacó usou do artifício de se passar pelo irmão para usurpar a bênção que certamente viria pela espera paciente da fé. Mas a questão central é a pressa. Temos uma necessidade do- entia de resolver as coisas que nos convêm antes do tempo, apressada- mente, sem reflexão, sem oração, com artifícios e engenhos carnais que só trarão mais sofrimento. É interessante notar de Isaque que “os seus olhos se escurece- ram, de maneira que não podia ver”, e temendo a morte pronuncia di- ante de Esaú: “Eis que já agora estou velho, e não sei o dia da minha morte”. Mas quando Jacó fugiu, depois de enganar seu irmão, viveu pelo menos 21 anos com Labão, e ao retornar ainda seu pai vivia. Sua necessidade de abençoar o filho predileto era tanta, que mesmo des- confiando ser ardil de Jacó, como ele mesmo desconfia: “A voz é a voz de Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú” – abre sua boca te- merariamente e abençoa o filho ‘errado’. Jacó, mais a frente, já velho e quase cego no Egito, abençoa os filhos de José de forma invertida, de forma consciente, sem dúvidas (Gn 48). Imagino que deve ter lhe doído uma pontada no coração por lembrar seu erro no passado. Deste caso, eu me lembro particularmente de uma palavra – “A ninguém imponhas as mãos precipitadamente, nem participes dos pecados de outrem” (1 Tm 5.22). Fomos criados em Cristo Jesus para abençoar, mas de forma sóbria, espiritual, sem pressa inútil. Não queiramos abençoar o que o Senhor não tem intenção de abençoar (ou pelo menos não naquele mo- mento!), ou podemos nos associar com coisas que Deus não aprova. Nesta hora, um pouco de calma e oração não farão nenhum mal. Trataremos a seguir do fascínio do mundo na figura do Egito. 5. Egito – fascínio do mundo Todo enredo de história tem seus personagens marcantes; não poderia ser diferente com este livro inspirado por Deus, mas escrito por homem. O Egito atua neste papel marcando as vidas dos principais atores deste ato inicial. Três dos quatro maiores personagens desta tra- ma escorregaram por esta cidade magnífica que ainda desperta curiosi- dade tantos séculos passados. Aproveito para recomendar a leitura de um livro muito interessante – ‘Deuses, Túmulos e Sábios’ de C. W. Ceram (você pode encontrar o livro físico na estante virtual— ww.estantevirtual.com.br). Nosso pai da fé, Abraão, esteve lá. Havia fome na terra de suas peregrinações. Recorreu ao Egito, mesmo sabendo que teria que mentir a respeito de sua ‘esposa-irmã’ (Gn 12). Houve refrigério físico? Houve! – “E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro” quando de lá saiu. Houve a palavra do Senhor? Deus se cala! Somente quando ele sai do Egito (e não sabemos quantos anos ele peregrinou por lá) e retorna “até ao lugar onde a princípio es- tivera a sua tenda” (Gn 13.3), Deus o visita novamente. Voltou ao lu- gar de onde nunca deveria ter saído, apesar das dificuldades que sua jornada prometia. As dificuldades em nossa jornada da fé não nos isentam de viver pela fé, ainda que nos custem algum sacrifício. Mas devemos perdoá-lo, pois ainda não conhecia um princí- pio divino proclamado pelo antítipo* de seu filho que ainda não tinha nascido, Isaque, e que teria que sacrificar simbolicamente. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Se a boca humana esquecer a divina, talvez Deus se ‘esqueça’ por um momento da humana. Mas graças a Deus, em Cristo, ainda que fujamos das dificuldades, Deus contudo mantém estendida sua miseri- córdia e graça. Isaque foi impedido de descer ao Egito – “Não desças ao Egi- to; habita na terra que eu te disser” (Gn 26.2), pois certamente já vinha em seu coração peregrinar por lá, tinha seu pai por exemplo. O Senhor se antecipou ao seu caminho. Mas mesmo indo aos filisteus por per- missão do Senhor, sofrerá as consequências por se misturar com um povo que não é seu, em terra que não é sua. Aqueles que são chamados pelo Senhor devem caminhar diante do Senhor, sem olhar para a direi- ta ou esquerda. Jacó desceu ao Egito, mas paulatinamente. Primeiro mandou seu filhos negociarem ali, pois “eis que tenho ouvido que há manti- mentos no Egito” (Gn 42.2). Certo é que o Senhor queria descobrir toda a vergonha de seus irmãos que tinham vendido seu irmão caçula, José, e que viria a ser o “governador daquela terra”. Vamos entrelaçar um pouco as histórias. José tornou-se gran- de, poderoso, com mulher e filhos dados por Faraó, bem distante de uma peregrinação familiar pelos caminhos de uma pobre Palestina. Pareceu-lhe melhor viver ali, distante dos caminhos destinados a Abra- ão, vivendo longe de sua família (difícilimaginar o sofrimento e an- gústia que este pobre rapaz sentiu ao ser vendido como escravo pelos seus próprios irmãos!). Mas o que nos interessa é que ficou ali, e em vez de sair e retornar aos caminhos da peregrinação, chama seu pai para lá. “E fazei saber a meu pai [Jacó] toda a minha glória no Egito, e tudo o que tendes visto, e apressai-vos a fazer descer meu pai para cá’ (Gn 45.13). Jacó, por sua vez, responde ansiosamente, esquecendo suas responsabilidades: “Basta; ainda vive meu filho José; eu irei e o verei antes que morra” (45.28). E o próprio Deus permitirá e incentivará sua descida ao Egito – “Não temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egito, e certamente te farei tornar a subir” (46.3- 4). Mas ali ensinará ao povo que crescerá fora de sua terra, que uma terra estranha, ainda que gloriosa e farta, não pode acrescentar nada à vida espiritual deles, não pode nos elevar à altura dos desígnios de Deus, mas somente rebaixar. Do Egito, e por analogia, deste mundo, Deus só pode procla- mar: “Ai dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conse- lho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado; que descem ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a for- ça de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito. Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão” (Is 30.1-3). O mundo e suas delícias, um dia serão condenados à sombra e ao vestígio, como a figura que escolhi para esta nota bem atesta. Cabe ao cristão escolher se dará suas maiores energias ao que virará pó, ou ao que permanece para sempre! Mudaremos o foco a seguir, passando do glorioso Egito para a obscura Palestina. *Um tipo é uma figura simbólica que serve de modelo para ilustrar um fato que se cumprirá a frente. Seu antítipo é a realização da figura. Isaque é tipo de Jesus, Jesus é antítipo de Isaque. 6. Palestina – entrave do mundo A simples posição geográfica da Palestina em meio a duas regiões imperiais importantes, o Egito ao Sul e Mesopotâmicas ao nor- te, sempre relevou este pequeno território a mera passagem de exérci- tos, sempre se colidindo em guerra. Um observador assim declarou de seu melhores rios: – “Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que to- das as águas de Israel?” (2 Re 5.12). E ele nem falava de um Nilo ou um Eufrates! Mas é aqui, onde nada atrai de si mesmo, que Deus escolheria o lugar de peregrinação e posterior posse de um povo formado por Ele mesmo. Vários pequenos povos viviam ali: jebuseus, fereseus, amor- reus, amalequitas... E aqui começam os problemas: povos já estabelecidos com suas famílias, seu gado, sua cultura, suas vidas, e de repente! aparece um pequeno clã vindo do norte que recebeu ordens diretas de um Deus (havia tantos!) de que toda aquela terra seria dada a eles. Não sei quanto a vocês, mas acho que nin- guém daria sua possessão de mão beijada – uma terra trabalhada, suada, conquistada dia a dia – a um povo que aparece do nada com um ‘deus’ estranho. Mas o Criador de todas as coisas dera esta ordem e esta terra, começando por um homem. “E te darei a ti [Jacó] a terra que tenho dado a Abraão e a Isa- que, e à tua descendência depois de ti darei a terra” (Gn 35.12). Deus gosta de tratar com o pequeno, com aquilo que todos dão pouco valor, com o desprezado, com o ínfimo, exatamente para confundir os fortes, os grandes, os que se dão a si mesmos muito valor, mas tendo bem pouco aos olhos de Deus. Foi assim com Abraão, com Moisés, Elias, Davi, Jeremias, Jesus, Paulo... A verdade de Caim e Abel estão eternamente em jogo: o suor versus o sacrifício, a vontade humana ou a vontade divina, o mérito ou a graça. E sempre o Senhor desprezará o suor do esforço e das motiva- ções próprias, mas renderá graças ao Seu conselho eterno. “O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” (Is 46.10). “Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude” (1 Co 10.26). A terra da Palestina foi dada a Abraão e sua posteridade, a despeito de toda incredulidade e dureza de coração deste povo, tão in- sistentemente provado nas Escrituras deste mesmo povo. Apesar de Israel estar assentado agora indevidamente em par- te de seu território prometido (tocaremos neste assunto em momento oportuno); apesar de ter crucificado seu Messias; apesar de perseguir e matar tantos profetas da parte de seu Deus, esta terra pertence a eles, ninguém pode alterar esta realidade. Alguém pode contestar, pode achar cruel e arbitrária esta decisão, mas é algo que deverá resolver com Deus e Sua Palavra, e que tentaremos lançar luz à medida que avançamos nestas Notas. Quanto à terra em si mesma, três características marcantes são postas em relevo em Gênesis: a fome cíclica¹, a violência² e a obtenção de água³. ¹“E havia fome na terra, além da primeira fome, que foi nos dias de Abraão; por isso foi Isaque a Abimeleque, rei dos filisteus, em Gerar” (Gn 26.1). ²“E perguntando-lhe os homens daquele lugar acerca de sua mulher, disse: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher; pa- ra que porventura (dizia ele) não me matem os homens daquele lugar por amor de Rebeca; porque era formosa à vista” (Gn 26.7). Nem vamos falar da guerra dos 5 reis contra 4 reis em que Abraão esteve envolvido por causa de Ló (Gn 14). ³Para embasar o problema da água (associada a alguma medi- da de violência), leia somente os 5 versículos de Gn 26.18-22 (https:// www.bibliaonline.com.br/acf/busca?q=Gn+26%3A18-22). O que vale a pena ser discutido, pensado e vivido por todo cristão maduro, nesta época de tanta incredulidade e desafios, é a res- posta do Senhor a estes servos do passado, e estendido aos do presente – “Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores” (Gn 28.15). Gosto de um pensamento de Spurgeon que fiz questão de de- corar: “Aquele que nos foi preparar o Céu, não nos deixará sem pro- visão em nossa jornada até lá.” Em nosso próximo e final capítulo (para este Livro!) aborda- remos os limites que demarcam o Êxodo. 7. Nos limites do Êxodo Adão saiu expulso da presença contínua e santa do Criador logo nas primeiras impressões de Gênesis. E antes de seu término, Ja- có e sua semente deslocam-se da terra prometida para a aparência glo- riosa do Egito. Mas ambas as saídas trazem consequências danosas, humilhantes, escravizantes. Mas pela graça de Deus (sempre ela!), Adão saiu com a espe- rança de sua salvação já simbolizada pela morte de uma animal ino- cente que o cobriu de suas vergonhas. Jacó saiu com a promessa de que um dia sua semente seria grande mesmo no Egito. "E disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação" (Gn 46.3). Mas o mais gracioso, que conforta qualquer coração diante de tantas dúvidas e temores, é a presença bendita do Senhor. "E [EU] descerei contigo ao Egito, e certamente te farei tornar a subir" (46.4). O nosso Deus é um Deus que está disposto a se baixar, a se humilhar por amor de seres que habitualmente se elevam aos seus pró- prios olhos. Que contraste! Nós nos elevamos em nossas insuficiências óbvias, e Deus se rebaixa em Sua suficiência divinamente plena. O Deus que chamou Abraão era desta preciosa e única quali- dade, confere com o mesmo Deus que prometeu a Eva uma semente que esmagaria Satanás (3.15) através de Seu sofrimento. Caro leitor e leitora! Deus fez tudo que podia para sua salva- ção. Seu Filho Se entregou na cruz por amor a nós, não o recusemos pois. "Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8). Mas voltando ao nosso assunto, a ida da semente de Abraão a uma terra alheia já haviasido profetizada logo ao início de suas pere- grinações. "Então disse a Abrão: Saibas, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza... E a quarta gera- ção tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia" (15.13-16). Pelo menos três objetivos são buscados. 1. Deus ensinará a disciplina dura da escravidão pela servi- dão, para tornar maior aos olhos do povo escolhido os valores da liber- dade pela redenção; 2. Deus julgará a nação ímpia que usou de astúcia vil e mun- dana para subjugar o povo que só lhe fez bem na pessoa de José; 3. Deus aguardará pacientemente a fermentação completa do mal daquelas nações que serão desapossadas de sua terra. Assim, encerramos estas notas de Gênesis, esperando que te- nha de algum modo ajudado a alicerçar os princípios morais e espiritu- ais que Deus exige de seus filhos, bem como desejamos que o leitor e leitora continuem nesta jornada por entre a Palavra escrita de Deus. Êxodo 1. Concepção Acabamos de ler nas 7 notas de Gênesis que a prorrogação da entrada do povo da terra prometida tinha 3 objetivos, e que explanare- mos agora nestas novas notas em Êxodo. A família inicial se multiplica abençoadamente, vista do pon- to divino, e ameaçadoramente pela ótica egípcia. Tornaram-se um grande povo – com seu Deus único – dentro de outro bem comandado e – seus vários deuses. Haviam entrado sob permissão do Faraó de então, como ho- mens livres que eram, e agora não podiam mais sair, passados 4 sécu- los de lenta subordinação. Homens livres passaram a ser escravos! E não é assim que muitos cristão se têm tornado hoje?! Co- meçam livres, mas as provações da vida, as comodidades, as descul- pas, os medos, a falta de fé, de compromisso, de esperança, tudo vai solapando paulatinamente as forças morais e espirituais, ao ponto de não reconhecerem a própria situação em que se encontram. Mas bendito seja Deus! sua inércia será motivo e razão para uma das mais poderosas e marcantes ações de Deus. Ele mesmo, atra- vés de um servo escolhido (sempre a incompreendida eleição!), trará este povo tão numeroso para fora, conduzindo-os por território estra- nho e deserto. E que ensejará novas tratativas e provisões, não mais com um povo escravizado, mas liberto pelo seu Deus e de caminho para casa. Mas a maior das dádivas, bem além da libertação física, é o modelo de um tabernáculo que os aproximaria eternamente do Eterno, com uma ordem sacerdotal inédita que garantisse sua continuada pure- za. Não bastava libertar; aprazia a Deus santificar e glorificar pelos instrumentos representados por toda a mobília dos átrios do Senhor. Mas a um santuário celestial contrastava uma Lei dada, não uma, mas duas vezes pelas mãos de Moisés. Poderíamos dizer que a graça os havia libertado do Egito, mas a lei os haverá preso pela rigi- dez intransigente da justiça. Neste sentido, um novo homem será levantado, Aarão – o pontífice mais elevado, apto não só a oferecer sacrifícios de louvor a Deus, mas reconciliar todo um povo que quebra insistentemente as leis de seu Deus. Estes dois homens guiarão o povo por um tremendo e inóspi- to deserto, ora apertado pelas justas exigências de Deus, representado por Moisés, ora folgado pelas ternas misericórdias de Deus, em Aarão. Em nossa próxima nota, traçaremos um perfil sobre o chama- do de Moisés, 'o homem mais manso que todos os que havia na ter- ra' (Nm 12.3). 2. Moisés – o chamado Moisés, o menino ‘tirado das águas’, significa muito mais que o ato em si mesmo. Simbolicamente, já que será incumbido de ser o mediador da Lei de Deus (Gl 3.19-20), fala de um povo que será tirado das leis limitadas de um mundo que jaz no maligno, e elevado ao pa- drão moral e espiritual de seu Deus Justo e Santo. Para a figura da água basta a confirmação de Ap 17.15: “As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas”. Esta figura se entremete em inúmeras porções da Escritura. Israel, tirado das águas, não pertencerá mais ao mundo que adora o ‘Deus desconhecido’ retratado bem mais à frente pelo apóstolo Paulo, mas será “a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha” (19.5). Moisés, criado ou malcriado no esplendor do Egito, terá de sair desta terra que cultua seu divino rio, para pu- rificar-se em separação longa de 40 anos numa terra distante, Midiã. Mas, no momento exato de sua chamada para libertar seu povo (cap. 3); diante de uma visão única de um espinheiro que queimava mas não con- sumia; diante da voz audível de seu Deus; diante da promessa de libertação que ele mesmo um dia desejou, neste momento ímpar de sua vida, titubeou, negou. Era como se dissesse nas entrelinhas: – Agora?! Quando eu tinha alguma força política aos 40 anos, eu tive de sair fugido. E agora que sou um simples pastor, rebaixado aos olhos de todos os homens, o Senhor me convoca depois de 40 anos?! Agora quem não quer sou eu! Não fazemos assim também em nossas vidas? Ora, o povo era de quem? O tempo era de quem? Quem prometera sua liberdade da escravidão cerca de 500 anos antes para Abraão? Esta é a marca da humanidade. Quando tem que esperar age, como quando Moisés mata em nome de Deus (2.14), e quando é con- vocado recusa, pois nosso tempo é mais precioso que o de Deus. Nos- sas prerrogativas têm mais urgência que as Dele. Ora deixemos Deus escolher o tempo, a ocasião, o modo, a duração, pois ninguém melhor do que Ele pode saber o que é melhor para seu Reino e seus filhos! Se é que queremos fazer Sua Vontade... Mas ele acaba indo. E para convencer o seu povo de que ele foi eleito para libertá-lo, está habilitado a fornecer 3 sinais: a serpente, a lepra e o sangue (cap. 4). “A antiga serpente, que é o Diabo e Satanás” (Ap 20.2), todos conhecemos. O símbolo assinala mais que uma escravidão pelas mãos de Faraó, mas de algo que vai além. O Egito escraviza o corpo, Sata- nás escraviza a alma. A vara de Moisés, símbolo de autoridade gover- namental e medida de juízo, representativamente falando, insinua que o jugo começou como algo meramente humano, mas terminou na es- cravidão espiritual das almas. Pelas mãos de Moisés, o governo do dia- bo e seu filho Faraó tornariam às mãos de Deus, sinal de Moisés pe- gando a serpente pela cauda e retornando à simples vara. A lepra, em toda escritura, não fala simplesmente do pecado, mas do pecado que se alastra, corrói, contamina. A mão direita de Moisés tornada em lepra mostra que Israel, debaixo da autoridade egípcia, se corrompera, se contaminara com seus usos e costumes. Mas o Senhor mesmo purificará esta nação, através da mão inflexível da justiça de Moisés. No entanto, se estes dois símbolos ainda não os convencesse, havia o terceiro, e ninguém deve ter dúvidas de seu uso, embora a Es- critura se cale a respeito. Todos conhecem ou deveriam conhecer o coração humano, este ‘pequeno inferno’, como disse alguém. A água transformada em sangue, ao meu ver, fala do que vínhamos propondo nas notas anteriores. O Egito, visto pelo patriarca Jacó como alívio de seus sofrimentos e de sua família, passa da espe- rança para a opressão, da vida na companhia de Deus à morte ao lado de Faraó. A cômoda e refrescante água buscada em fonte que não o Senhor, transforma-se em sangue das chicotadas de seus exatores. Não seria justo que Deus desse a beber deste sangue como recompensa aos instrumentos da injustiça?! Podemos antever Apocalipse distante deste evento cerca de 3.500 anos. “Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também tu lhes deste o sangue a beber; porque distosão merecedo- res” (Ap 16.6). Um juízo terrível se abaterá sobre toda a nação que soube se aproveitar dos ‘serviços’ de um povo que deveria ser livre. E não estamos muitas vezes nós mesmos presos a estas condi- ções – toda a escravidão proporcionada pelo mundo e o diabo, toda contaminação advinda do mundo e de nossas fraquezas morais e a dis- tância que opera morte? Bendito seja Deus! É nesta hora mais sombria que o Senhor se levanta! Mas isto comentaremos a seguir analisando o segundo mo- mento de Moisés, agora sob o gracioso peso da libertação! 3. Moisés – a libertação Parece que depois de Moisés se juntar a Arão ele se transfor- ma. Titubeou diante de Deus, mas depois dos sinais magníficos, da empresa maravilhosa e comissionada, de seu retorno à terra que tinha sido criado, de misturar-se ao seu sofrido povo que agonizava, uma revolução reorganizara seus pensamentos, seus sentimentos – sua fé. Arão, figura de Jesus sacerdote e mediador, só lhe fez bem. E não é assim em nossas vidas?! Quanto não vacilamos até encontrarmos nosso Sumo Sacerdote! E depois, lavados e transformados pelo seu sacrifício na cruz, tudo fica no longínquo passado – “Eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). Quarenta anos no Egito, no ‘primor’ da sociedade de então, de nada serviram a Moisés. Quarenta anos no deserto só ressecaram sua alma e espírito. Mas por um chamado pessoal, único e poderoso, renovou suas forças, e pouco a pouco desafiou não só um império, mas todas as hostes infernais. Mas o que realmente queremos enfatizar nesta nota são os 11 sinais-juízos pelas mãos de Moisés e o seu poder de convencimento (cap. 8 a 10). A vara vivificada em serpente, as águas tornadas em san- gue, a praga das rãs, a praga dos piolhos, a praga das moscas, a pesti- lência sobre os animais da casa de Faraó, o sofrimento pela sarna, a saraiva misturada a fogo, o flagelo dos gafanhotos e o pavor das trevas não foram suficientes para libertar Israel. É certo que Faraó chegou a titubear em certos momentos, mas era algo mais parecido com temor supersticioso que o entendimento pleno que aquele povo escravo tinha o único Deus Vivo e Verdadeiro, somado ao desplante de querer libertá-lo a qualquer custo. O último castigo então foi decisivo. A morte sentida em cada lar egípcio, pela morte de todo primogênito tanto de homens como de animais (pois estes apesar de não serem culpados intrinsecamente, es- tavam associados à natureza da escravidão e do pecado), resolveu a questão. “E haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve semelhante e nunca haverá; mas contra todos os filhos de Israel nem ainda um cão moverá a sua língua, desde os homens até aos ani- mais, para que saibais que o Senhor faz diferença entre os egípcios e os israelitas” (11.6-7). Mas também houve morte no arraial israelita, um tanto dife- rente, claro! – uma morte substitutiva. Somente quando houve derra- mamento de sangue de um inocente, houve perfeita libertação. O san- gue da “Páscoa do Senhor” derramado para cada família era o elemen- to libertador eficaz, único, precioso, extremo. Aqueles sofreram por seus próprios méritos, estes ficaram li- vres por mérito divino. Novamente o suor pelo sangue, a lei contra a graça, o homem versus Deus, a sal- vação por Outro ou a perdição por si mesmos. O mesmo sangue da Páscoa que trouxe plena libertação ao povo oprimido foi o que condenou cabalmente o opressor. Isto me lembra uma palavra já sob o Novo Testamento. “Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida” (2 Co 2.16). E não temos as mesmas escolhas hoje?! Podemos continuar em nossos pecados, afastados de Deus e rebeldes ao Seu chamado. Ou podemos aceitar o sacrifício Vivo enviado por Deus – “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajuda- dos em tempo oportuno” (Hb 4.16). Passaremos em seguida à terceira fase de Moisés, já no de- serto, com o encargo da mediação da Lei. 4. Moisés – a mediação da Lei que enaltece Sob qualquer perspectiva humana que possamos analisar, o envolvimento com Deus é sempre progressivo, pelo simples fato de que o homem está preso ao tempo, é seu cárcere. O Eterno já havia prometido a Abraão e sua semente, como já vimos, uma terra em possessão eterna. Então Ele acrescenta nova dire- triz ao povo pelo terceiro mês da saída de Israel: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guar- dardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar den- tre todos os povos, porque toda a terra é minha” (19.5). Este povo, embora saído por graça e sangue, deve ser elevado ao padrão moral e espiritual do seu Deus, como falamos antes. Assim, as primeiras tábuas da Lei são dadas (Êx 20 em dian- te) como artifício divino para prover pelo menos duas coisas: 1- ao mesmo tempo que dita regras para um convívio santo entre os próprios membros e entre seu Deus, 2- condena este povo que não pode andar dignamente pela simples observação da Lei. Comentaremos o primeiro ponto. O segundo fica para a pró- xima nota. Um povo saído de sua longa escravidão em terra estranha e contaminada tinha necessariamente de manter um relacionamento dife- renciado com seu Deus. Não era um deus qualquer que não se importa- va com os caminhos de seu povo. Não era o deus desconhecido de nossos dias que pouco se importa com os destinos dos homens. Era um Deus único, vivo e diferenciado, que ainda ‘hoje’, sob novas circuns- tâncias, busca e forma uma ‘propriedade peculiar dentre todos os po- vos’. Quanto a eles, Deus fala por Moisés: “E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo” (19.6). Quanto a ‘um reino sacerdotal’ trataremos na 6ª Nota. Quero enfatizar a necessidade de ‘o povo santo’. Só para diferenciar, o Egito era em certa medida um reino sacerdotal, mas estava longe de ser o povo santo. A Lei em si mesma, conforme Rm 7.12, “é santa, e o manda- mento santo, justo e bom”. Era a expressão moral e espiritual mais elevada de Deus para aquele momento e para aquele povo. “E ser-me-eis homens santos” (22.31) – esta era a exigência inflexível digna daquele Deus santo que os liber- tara sob sangue. Ele podia exigir zelo da forma mais elevada – “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (20.7); quanto podia se preocupar com uma pobre moça virgem violada – “Se alguém enganar alguma virgem, que não for des- posada, e se deitar com ela, certamente a dotará e tomará por sua mu- lher” (22.16). Do ponto de vista de Israel, Moisés só poderia concluir: “E o Senhor nos ordenou que cumpríssemos todos estes esta- tutos, que temêssemos ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje” (Dt 6.24). Se o sangue da Páscoa falava em redenção, a Lei falava em santificação. A nova posição do povo exigia uma nova conduta dele, “pois o nome do Senhor é Zeloso; é um Deus zeloso” (34.14). Também para nós, sob a graça do Novo Testamento, Deus espera “coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação” (Hb 6.9). Não basta perdão, reconciliação, redenção. Ele deseja que se- jamos ‘transformados pela renovação do entendimento, para que expe- rimentemos qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus’ (Rm 12.2). A filiação cabe ao Pai. Nossa postura diante Dele cabe a nós. Mas Israel pecou no momento exato em que as primeiras tá- buas da Lei eram escritas pelo dedo divino. O que comentaremos na nota seguinte, sob o aspecto negativo da Lei. 5. Moisés – a mediação da Lei que condena Não havia melhor lugar para instaurar a Lei de Deus – o de- serto. Pois no deserto não há eco, não há nada que favoreça seu cum-primento, pelo simples fato de que não há vida ali. Como bem atesta Paulo simbolicamente, “a lei é espiritual; mas ‘o povo era’ carnal, vendido sob o pecado” (Rm 7.14). “Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgres- sões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido fei- ta” (Gl 3.19). Temos que recorrer ao Novo Testamento para elucidar a questão da fé versus a Lei. “Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm 2.13). Mas como poderiam cumprir esta Lei se eram carnais, como vimos acima pela boca de Paulo, judeu por excelência? Isto torna “evidente que pela lei nin- guém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.11). São recursos, instrumentos, ou mesmo competências antagônicas. Toda a Lei divina, espiritual e santa não pode ser cumprida pela carne ou pelo esforço de qualquer homem, por mais ‘distinto’ que seja. Paulo vai novamente trazer lições aos judeus de seu tempo e para os que hoje querem se jus- tificar pela Lei. “E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justifi- cados, por ele é justificado todo aquele que crê” (At 13.39). ‘Ele’ é o personagem divino retratado dois versos antes – “aquele a quem Deus ressuscitou”. “Cristo nos [judeus conforme o contexto] resgatou da maldi- ção da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gl 3.13). Por esta razão a Lei é dada duas vezes – pois a primeira foi anulada pela grossa idolatria de Israel ao adorar um bezerro em festa promíscua, tendo como consequência a quebra das tábuas pelas mãos de Moisés (cap. 32). As segundas tábuas, então, falam da posteridade que viria pa- ra cumpri-la cabalmente, no mesmo sentido que fala Paulo aos Gálatas em relação à promessa. “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendên- cia. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo” (Gl 3.16). Cristo, como recebedor das promessas, cumpriu a totalidade da Lei para liberar o povo que deveria viver pela fé. “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar [revogar, anular], mas cumprir” (Mt 5.17). “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20). “Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum; mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem; a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessi- vamente maligno” (Rm 7.13). Diante de uma Lei que não pode ser quebrantada por causa da justiça inflexível de Deus, só resta um recurso – um substituto! A próxima nota falará dele – Aarão, o mediador das culpas. 6. Aarão – o mediador das culpas As traduções mais frequentes de seu nome – ‘o exaltado’, ‘o elevado’, ‘aquele que traz luz’ segundo o Dicionário de Strong – colo- cam em distinção única sua sagrada pessoa. Não que houvesse algo de sagrado intrinsecamente, mas seu ofício desempenhava uma atuação ímpar – oferta e perdão. Ele é figura da mais santa oferta e do mais gracioso perdão jamais concedido em qualquer tempo à humanidade – Jesus, O Nome sobre todo e qualquer nome. Tudo o que a Lei (pelas mãos de Moisés) não pôde aperfeiço- ar, a misericórdia e a graça (pelas mãos de Arão) santificou e prometeu aperfeiçoar para sempre. “Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio” (30.30). E como diz Hebreus a respeito destes sacerdotes tão huma- nos: “Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados; e possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados; pois também ele mesmo está ro- deado de fraqueza” (Hb 5.1-2). Eis a contradição suprema: apesar de estar rodeado de fraque- za, oferece dons e sacrifícios a favor dos homens nas coisas concer- nentes ao próprio Deus. Não ilustra perfeitamente nossa própria condição neste tem- po?! Ainda que pecadores resgatados em Cristo, com toda nossa fra- queza inerente, somos constituídos seus embaixadores, como bem de- monstra Paulo: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados... De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse” (2 Co 5.19 e 20). Há um abismo intransponível a qualquer homem entre um verso e outro: antes – um pecador destituído de qualquer privilégio; agora – embaixadores de Cristo! Os extremos só puderam ser unidos porque Um se rebaixou para nos elevar. Diferentemente de Arão que tinha, “como os sumos sacerdo- tes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo”, Jesus apareceu “uma vez, oferecen- do-se a si mesmo” (Hb 7.27). Aqueles, por serem pecadores e mortais, ofereciam sacrifícios contínuos; este, por Sua perfeição e eternidade, ofereceu-Se a Si mes- mo. Ousaria alguém dizer que não estamos em melhores condições do que eles, “porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da gra- ça” (Rm 6.15)?! Se algum deles quebrasse qualquer porção da Lei, tinham a quem recorrer: os sacerdotes que os representavam diante de Deus. “Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo [justiça advinda do tribunal] sobre o seu coração, quando en- trar no santuário, para memória diante do Senhor continuamen- te” (28.29). Somente os dons e sacri- fícios da ordem sacerdotal Aarôni- ca impedia que Deus os destruísse ao quebrarem a Lei. “Se tu, Senhor, observa- res as iniquidades, Senhor, quem subsistirá? Mas contigo está o per- dão, para que sejas temido” (Sl 130.3-4). Certo é que seus pecados não eram removidos, apagados, es- quecidos, perfeitamente pagos como hoje somos privilegiados através do sacrifício de Jesus. Mas suas ofertas indicavam que um dia tudo seria plenamente quitado pela única oferta viva que fosse digna de Deus. “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer ca- da dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre” (Hb 7.26-28). Ó querida e querido leitores, já se reconciliou com Deus pela fé no sacrifício perfeito de Cristo? E se já reconciliado, tem se portado como embaixador de Deus neste mundo de trevas? Não descanse en- quanto não puder responder positivamente a estas perguntas, pois elas serão retomadas um dia pelo justo juiz. Para a santa atuação destes sacerdotes em favor de seu povo, Deus instruirá a construção de um tabernáculo, apto para apresentar homens pecadores a um Deus Santo que requer justiça. Este será nosso próximo assunto – o Tabernáculo. 7. O Tabernáculo O deserto era o melhor lugar para a implantação de um taber- náculo que representasse Deus e Sua santa presença. Como já disse- mos antes a respeito da Lei, neste lugar seco nada há que insinue algo de bom ou louvável no homem. É lugar de secura e morte, símbolos perfeitos para uma humanidade caída. Mas é lugar perfeito para o Se- nhor demonstrar sua misericórdia e graça. “Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário. Mas depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos, que tinha o incensário de ouro, e a arca da aliança, coberta de ouro toda em redor; emque estava um vaso de ou- ro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as tábuas da aliança; E sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório; das quais coisas não falaremos agora particu- larmente (Hb 9.2-5). Se o leitor e leitora quiserem entrar mais minuciosamente no assunto, já que não podemos nos alongar aqui, pode ler o livro – O Ta- bernáculo em pormenores – pelo link https://issuu.com/ministerioescrito/docs/tabern__culo Este era o único lugar apropriado para o exercício ministerial de Arão e seus filhos – homens separados por Deus em um lugar pre- parado por Deus. E o mais espantoso: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (25.8). O que se conclui por exclusão, que Deus não habitava em meio a mais nenhum povo naquele período. Por causa de sacerdotes santificados, com vestes apropriadas, que ofereciam sacrifícios agradáveis a Deus, em um tabernáculo que representava o próprio céu, é que Deus podia habitar ali. Graciosa pre- sença! E não é exatamente assim conosco, nestes tempos de fria for- malidade?! “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiri- tual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pe 2.5). Também Deus não pode habitar em nenhum mortal que não esteja nestas condições específicas. Embora haja muito que se falar do Tabernáculo, pretendo apenas resvalar em 2 pontos. Comecemos pelo sacrifício contínuo. “Isto, pois, é o que oferecereis sobre o altar: dois cordeiros de um ano, cada dia, continuamente. Um cordeiro oferecerás pela manhã, e o outro cordeiro oferecerás à tarde... por cheiro suave; oferta queima- da é ao Senhor. Este será o holocausto contínuo por vossas gerações, à porta da tenda da congregação, perante o Senhor, onde vos encontra- rei, para falar contigo ali” (29.38-42). Este sacrifício contínuo fala intimamente da oferta de Cristo, não aos homens, mas a Deus. É uma oferta de cheiro suave, diferente de outros sacrifícios que são para as culpas do homem. É Cristo ofer- tando-Se ao Pai. Não fala dos pecados do homem, mas da necessidade da justiça executada por um substituto – Cristo. Antes da salvação pro- posta ao homem, há uma vontade aceita da parte do Filho em agradar o Pai dentro do plano eterno. “Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vonta- de” (Hb 10.9). “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.38). Assim como na fórmula do ato criativo do mundo em cada dia de Gênesis, “e foi a tarde e a manhã...”, também a mesma fórmula é usada aqui para este holocausto, pela manhã e pela tarde. Significa que Deus estava plenamente disposto a perdoar primeiramente ao ju- deu, já que o tabernáculo era para aquele povo tirado do Egito. Mas que também os outros povos, em seu determinado tempo, também ve- riam estendida esta bem aventurança. Deus era propício, através do holocausto contínuo de animais inocentes, a perdoar qualquer judeu que tivesse quebrado a lei dada por Moisés. Assim como – hoje – Deus está disposto e propício a per- doar qualquer pecador que se aproxime pela fé ao cordeiro divino. “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mun- do” (2 Co 5.19). Em apenas um ano, 730 cordeiros inocentes eram sacrifica- dos, tudo para indicar que no momento oportuno de Deus para a huma- nidade, Um único sacrifício divino e eterno viria a cumprir plena “salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do gre- go” (Rm 1.16). Mas passemos ao segundo ponto, e este fala da sombra sobre o propiciatório como lemos logo acima. A glória dos querubins som- breando o propiciatório de ouro mostra de forma precisa o que He- breus mesmo lança luz. “... aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os an- jos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, pro- vasse a morte por todos” (Hb 2.9). Eis aqui o caráter propiciatório de Cristo em sua morte substi- tutiva que o rebaixava ante os próprios anjos. Mas se houve esta som- bra sobre Jesus, ao se mostrar propício aos pecadores, Hebreus tam- bém esclarece. “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos...” (Hb 2.9). “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4.10). Um dia Ele se rebaixou até a morte para que nós pudéssemos, pela fé, ser elevados até a vida dele mesmo. E você que me lê agora, conhece este Jesus assentado à destra da Majestade que um dia Se assentou no vale da sombra da morte por você? Pois este conhecimento fará toda a diferença em sua existência, nesta e na próxima. Levítico 1. Concepção É fácil demonstrar o tema central, a linha mestra que dirige todo este sagrado livro. Basta visualizar a imagem-tabela anterior, quando fizemos uma simples busca pela palavra ‘santo’ e ‘santíssimo’ (segundo a Con- cordância Bíblica da SBB de 1997). Interessante notar que o incremento percentual de Levítico sobre Êxodo para os 2 termos (santo 22-52 e santíssimo 5-12) são pra- ticamente idênticas: um acréscimo de 136% e 140% respectivamente. O resultado parece nos insinuar o seguinte. Gênesis é o lugar da queda, do afastamento, não há que procurar algo que não se pode encontrar. Êxodo é o caminho que se abre para uma possível santidade ainda por vir, já que um povo seria libertado da escravidão representa- tiva do pecado. Levítico é a cena ideal em que Deus pode buscar e exi- gir santidade. Em Levítico se faz a maior e mais complexa exigência divina: “Porque eu sou o Senhor, que vos fiz subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo” (Lv 11.45). Mas devemos lembrar – a sagrada exigência se atrela unica- mente ao povo que saiu do Egito, libertado, como vimos, pelo sangue da Páscoa. Como já falamos anteriormente, o Deus santo exige santi- dade daqueles que são aproximados Dele, não há outra maneira de prosseguir neste relacionamento. A ordem é bela, sublime, necessária: ‘Eu vos libertei da escra- vidão para ser o seu Deus, portanto, devido à minha santidade – já que Eu Sou o Senhor – posso exigir que andem em conformidade à minha natureza’. Se podem ou se vão andar nesta regra é outra questão. E já adiantamos que não vão. Já dentro do santuário erguido, mencionado na última nota em Gênesis, dois filhos de Arão serão consumidos por levarem um fogo ‘estranho’ ao altar (Lv 10). Haviam acabado de ser ungidos para o sacerdócio mais subli- me (cap. 8 e 9). Passaram por 3 etapas de purificação e adaptação para exercerem seu ministério (cap. 8 em diante) – unção, consagração e santificação – conforme já se havia estipulado em Êxodo 29. Mas tudo era elevado demais e a ‘carne’ subia o tom. Todos decaíram ao ponto de, ao final do mesmo livro, o Senhor colocar bên- çãos e maldições (cap. 26 e 27) condicionando uma existência feliz ou precária pela atitude deles ante Suas leis. “Se andardes nos meus estatutos, e guardardes os meus man- damentos, e os cumprirdes, então eu vos darei as chuvas a seu tem- po...” (26.3-4). “Mas, se não me ouvirdes, e não cumprirdes todos estes man- damentos... Então eu também vos farei isto...” (26.14-16). Podemos hoje agradecer e louvar ao nosso Senhor por não seguirmos leis escritas em pedra, pois, além da habitação permanente do Espírito Santo, “todas quantas promessas há de Deus, são nele [em Cristo] sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós” (2 Co 1.20). Graças ao sangue de sua cruz, Cristo “nos abençoou com to- das as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como tam- bém nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef 1.3-4). A santidade também nos é exigida como consequência daeleição divina, porém com a diferença de não estarmos presos pelas leis dadas a Israel. Falando de Jesus, “agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas (Hb 8.6). Continuando, para contribuir com a santidade prática daquela jovem sociedade, ritos purificadores para a lepra no corpo e na casa (cap. 14), onde dedicaremos uma nota especial. Sacrifícios específicos para tantas necessidades são esmiuçados, tudo para garantir a pureza daquele povo. Basta ler os 7 primeiros capítulos e a complexidade de suas ofertas. Em suma: o tema central deste livro é a santidade – pessoal e coletiva. Podemos embasar esta premissa numa bela palavra já no No- vo Testamento, pois eles estavam na sombra, nós na perfeita luz de Cristo. “Rogo-vos, pois... que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef 4.1). Em nossa próxima nota abordaremos os ‘dons e ofertas’ re- presentados nos dois primeiros capítulos deste santo livro. 2. Dons e ofertas Há uma diferença conceitual entre o que somos e o que apre- sentamos. Mas na essência dos conceitos, tudo o que apresentamos deriva daquilo que somos, como exemplificou nosso próprio Senhor. “Porque da abundância do seu coração fala a boca (Lc 6.45). Não poderia ser diferente com nosso bendito substituto. Se analisarmos com cuidado as diferenças entre os 3 primeiros sacrifícios de sangue de Levítico 1, e as ofertas de alimentos do 2º capítulo, per- ceberemos esta mesma beleza. Já vimos que os sacrifícios e ofertas com cheiro agradável representam Cristo em oferta ao Pai, a base de toda resolução amorosa e salvadora em Deus. Não representa de forma alguma o pagamento de nossos pecados, que naturalmente não poderiam ser agradáveis. Ambas as ofertas destes 2 capítulos são de cheiro agradável, pois tudo é proveniente de Cristo. Emana dele ao Pai, único que pode apreciar perfeitamente as ofertas de Seu Filho. Assim, as ofertas de sangue deste primeiro capítulo apontam para a oferta do corpo de Cristo em sua mais pura simplicidade e subli- midade, são Sua expressão humana neste mundo. É o que diz a Escri- tura: “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados. Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações [ofertas] pelo pecado não te agradaram. Então disse: Eis aqui venho (no princí- pio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Como acima diz: Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pe- cado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo (Hb 10.4-9). Todos aqueles holocaustos de animais nunca agradaram a Deus, mas enquanto o primeiro sacerdócio, debaixo de Arão, não pu- desse ser retirado, vigorariam como meio de perdoar os pecados da- quele povo. Assim, o corpo santo do Filho preparado como oferta divi- na em Sua descida até nós, supre todas as necessidades divinas de re- conciliação e humanas de salvação. Mas Cristo não ofereceu somente seu corpo ao Pai em forma sacrificial – ofereceu também Seus dons, sua submissão santa em prol de um mundo que pouco se importava com Ele. É o que falam as ofertas de manjares (ou alimentos) em suas várias divisões no segundo capítulo sob – a flor de farinha – e esta sempre acompanhada do azeite e do incenso. Nenhum traço de fer- mento poderia ser encontrado nesta oferta, pois, como dissemos, não representa o pecador, mas a oferta do Santo ao Pai. “E a trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais to- mará dela um punhado da flor de farinha, e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote queimará como memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao Senhor” (2.2). Desnecessário falarmos do azeite – a unção do Espírito – e do incenso – a intercessão conciliatória do Filho, estes dois ingredientes tão conhecidos do cristão. Mas faço questão de mencionar duas passa- gens sob este novo prisma. “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida (Jo 6.63). “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim (Jo 17.20). Tudo o que Ele era e tudo o que produziu em vida são as mar- cas mais sagradas da divindade perfeita e absoluta jamais vistas na hu- manidade. Cristo ofereceu-Se todo, sem reservas, sem engano, sem pecado, sem restrições pessoais. Ofereceu tudo o que era e tudo o que tinha. Não há Deus semelhante a Ele em qualquer aspecto que possa- mos analisar. Não há salvação maior, mais perfeita e eterna a ser pro- porcionada. Não deveríamos, semelhantemente, darmos o valor condizen- te, atendermos humildemente a “uma tão grande salvação” (Hb 2.3)? “Porque todo o sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; por isso era necessário que este [Jesus] também ti- vesse alguma coisa que oferecer (Hb 8.3). Ele já Se ofereceu. A nós cabe aceitar, pela fé, o único sacrifí- cio que atende todas as necessidades do pecador. Logo veremos dois ingredientes diametralmente opostos em seu efeito espiritual – o mel e o sal. 3. O mel e o sal Nada poderia haver mais doce que o mel e mais salgado que o sal. Portanto, antagônicos, irreconciliáveis. Os dois elementos são citados em relação aos sacrifícios e ofertas logo no início deste livro. “E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal” (Lv 2.13). Desnecessário insistir nas características singulares deste im- portante elemento – realce do sabor e preservação. Cristo, verdadeira oferta de manjar agradável a Deus, soube como ninguém realçar e pre- servar Sua oferta ao Pai e aos homens. “E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das pala- vras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?” (Lc 4.22). Nossas palavras têm sido assim, ou têm se perdido ao vento pela sua inutilidade? “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” (Jo 6.39). Podemos ficar tranquilos – o sal de nosso Senhor é de tal pu- reza, que nada nem ninguém pode contaminar ou fazer perder. E se estivermos nele, podemos descansar na promessa de uma vida eterna. O sal não podia faltar em nenhuma oferta de manjares que representavam Cristo em Sua relação com o Pai e com os homens. E também não pode faltar em nossas relações com Deus e nossos seme- lhantes. “Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Cl 4.5-6). Mas se o sal era o elemento imprescindível, o mel era o ele- mento desprezível. “Nenhuma oferta de alimentos, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento; porque de nenhum fermento, nem de mel algum, oferecereis oferta queimada ao Senhor” (Lv 2.11). Juntamente com o fermento, símbolo sabidamente representa- tivo do pecado, o mel representava todas as ações derivadas da fer- mentação paulatina do fermento – aquilo que agrada aos paladares hu- manos, mas não pode agradar a Deus. Produto da ação coletiva das abelhas, não pode preservar as relações humanas ou divinas. Nenhuma sociedade entre homens, por mais religiosa ou eticamente compromissada, pode aperfeiçoar o reino de Deus ou dos homens, se não estiver arraigada no sal da preservação de Cristo. As palavras podem ser agradáveis, o tom pode ser aprecia- do, as ações podem ser compatíveis com uma sociedadeque busca a unidade e o avanço social, mas certamente afundará no mais grosseiro pecado sem o sal da bendita Palavra de Deus. Interessante notarmos que a terra prometida aos primeiros pais também era uma “terra que mana leite e mel” (Lv 20.24). Mas não se deixe enganar pelas belas e agradáveis palavras usadas para a des- crição da terra – elas nada têm a ver com a perfeita estatura de Cristo nem com Sua pureza. Era o melhor que a terra poderia produzir debai- xo da lei e de um sacerdócio passageiro. Insistiremos nesta tecla quantas vezes forem necessárias. Bus- cando tudo que for humano, encontraremos descaso, sofrimento e cul- pas. Mas se buscarmos ao Senhor e Sua Palavra, alcançaremos com- promisso, paz acima de todo o entendimento e perdão eterno. Nenhum mel ou fermento podia derivar da sublimidade de Cristo, nem deveriam ser encontrados naqueles que se rendem a Ele. Nossas vidas, por palavras ou obras, deveriam sem vividas e mantidas pelo sal da verdade de Deus. “Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da since- ridade e da verdade” (1 Co 5.8). A seguir, falaremos dos 6 ingredientes que não podiam ser aceitos no altar do holocausto. 4. 6 ingredientes proibidos Passamos a analisar agora um tema interessante que se con- trapõe ao sacrifício de aroma agradável – as ofertas sem aroma agradá- vel. E aqui sim podemos encontrar o homem em toda sua deformidade, a partir do cap. 4. “Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando uma alma pecar, por ignorância, contra alguns dos mandamentos do Senhor... oferecerá ao Senhor, pelo seu pecado, que cometeu, um novilho sem defeito, por expiação do pecado. Mas o couro do novilho, e toda a sua carne, com a sua cabeça e as suas pernas, e as suas entranhas, e o seu esterco, enfim, o novilho todo levará fora do arraial a um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com fogo sobre a lenha; onde se lança a cinza se queima- rá” (4.2-3, 11-12). O sangue – representando a vida – e a gordura – o ego – eram integralmente queimados sobre o altar do holocausto (v. 10). Mas os 6 elementos do v.11 deveriam ser queimados fora do arraial, a saber – o couro do novilho, sua carne, a cabeça, as pernas, as entranhas e o excremento. Nada no homem que o ligasse ao mundo de alguma maneira poderia ser queimado dentro do tabernáculo. 1) A pele – este órgão de extrema sensibilidade e que Satanás conhece tão bem. “Então Satanás respondeu ao Senhor, e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida” (Jó 2.4). 2) A carne – figura tão conhecida do cristão. “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (Jo 6.63). 3) A cabeça – nossa racionalidade em combate eterno com o espírito. “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4.4). 4) As pernas – nossa inconstância neste mundo a buscar por si mesmas agradar a Deus. “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que cor- re, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.16). 5) As entranhas – sede de nossos sentimentos corrompi- dos. “Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente” (Rm 1.24-25). 6) O excremento – o dejeto final da boa culinária tão cultuada pelo mundo. “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4). Nada destas coisas tem valor no reino de Deus, por isto eram queimadas fora do arraial. E continuam sem valor para Deus e deveri- am ser reputadas como tal para todo cristão espiritual. “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrup- ção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eter- na” (Gl 6.8). Semear na carne é dar vazão aos 6 ingredientes e fomentar a corrupção; semear no Espírito é viver por Ele na base da experiência de Paulo. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20). Que Deus nos dê força em Sua graça soberana para darmos mais a Ele que a nós mesmos. Em nossa próxima nota abordaremos uma das mais velhas doenças da humanidade – a lepra. 5. A lepra no homem e na casa A lepra era a mais temida das pragas na antiguidade. É uma doença com período de incubação variado, ou seja, contraída a doença, sua manifestação clínica com os primeiros sinais pode levar de 1 a 7 anos, ou ainda mais. Alastra-se de forma crônica, lenta, atingindo inú- meras partes do organismo. Quem a contraísse estava condenado ao isolamento e desprezo. Não há símbolo melhor para tipificar o pecado e suas consequências, tanto na vida individual quanto na coletiva. Mas queremos frisar que a lepra dentro do povo de Israel não representa o pecado de forma genérica. Era o pecado que entrava furti- vamente, lentamente na vida dos cidadãos salvos do Egito, aquele po- vo que fora salvo das garras da escravidão e agora deixavam a lepra dominá-los. Não é o pecado do perdido, mas do salvo. É o pecado não no mundo, mas dentro de nossas igrejas, atualizando agora a figura. Tanto é assim que a lepra no homem quanto na casa deveria ser examinada e confirmada pelo sacerdote daquele povo salvo. “Quando um homem tiver na pele da sua carne, inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, na pele de sua carne como praga da lepra, então será levado a Arão, o sacerdote... E o sacerdote examinará a pra- ga na pele da carne; se o pelo na praga se tornou branco, e a praga pa- recer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sa- cerdote o examinará, e o declarará por imundo” (Lv 13.2-3). Se fosse declarado imundo, deveria ser apartado do arraial, vivendo separadamente. Paulo também soube identificar a lepra na Igreja e tratou de separá-la. “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldi- zente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai pois dentre vós a esse iníquo” ( 1 Co 5.11-13). Quando nossos líderes não têm capacidade ou mesmo inten- ção de tratar a lepra, terá de vê-la alastrar-se paulatinamente em seu meio até a perda de toda a sensibilidade espiritual. Mas quando o sacerdote examinasse e a lepra tivesse sido cu- rada, deveria purificar o leproso de sua doença para voltar ao convívio de seu povo e posteriormente à sua casa. Em linguagem espiritual, o pecador já se havia acertado com Deus, havia feito sua reconciliação e se aproveitado das Suas muitas misericórdias. Era então dever do sacerdote reconduzi-lo, perfeitamen- te purificado, ao convívio dos seus e de sua casa. E a base desta purificação estava na oferta de duas aves vivas – uma que era sacrificada (14.4-5) e outra que seria solta, molhada no sangue da primeira, em campo aberto (v. 7). É a bendita e eterna base que nos lava de todo o pecado: a morte e ressurreição de Cristo. “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4.25). Transportando para nossos dias de fria formalidade eclesiásti- ca, podemos ver uma bela exortação ao auto julgamento que impede a lepra em seu avanço mortal. “Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos jul- gados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos
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