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D Internacional - Nacionalidade

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1. O que se entende por nacionalidade?
A nacionalidade é um direito fundamental, o qual concede ao nacional, nato ou naturalizado, direitos e deveres em relação ao país ao qual está vinculado.
Desta forma, nos dizeres de Alexandre de Moraes em sua obra Direito Constitucional, página 277, edição 37º: 
‘’Nacionalidade é o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres impostos’’.
Nesse sentido, pode considerar que a nacionalidade é o elo do indivíduo com a sua nação de origem, tendo em vista a sua identificação histórico-cultural. É por meio da nacionalidade que o indivíduo exerce seus direitos como cidadão, oriundos da Constituição de um determinado Estado.[footnoteRef:1] [1: SILVA, Thiago de Moraes. Reaquisição da nacionalidade pelo brasileiro nato. É possível o Brasil extraditar os filhos de sua Pátria?. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 9, n. 189, 11 jan. 2004. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/4712. Acesso em: 9 abr. 2021.] 
2. Qual o critério adotado pelo Brasil para conferir o título de brasileiro nato a uma pessoa?
 Sabe-se que os brasileiros se dividem em natos e naturalizados. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 12, explica essa divisão detalhadamente. O critério adotado pelo Brasil para conferir o título de brasileiro nato a uma pessoa está previsto no referido artigo da CF/88, em seu inciso I, da seguinte forma:
“Art. 12. São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira”.
Com isso, o Brasil para definir quem são brasileiros natos, adotou os critérios, IUS SOLI, ou seja, critério de solo e o  IUS SANGUINIS, critério de sangue, conforme redação do artigo 12 da Constituição Federal mediante citação acima. 
3. Quais são algumas prerrogativas de brasileiros natos?
A primeira prerrogativa dos brasileiros natos, consta no artigo 12, §3º, da Constituição Federal uma vez que, apenas brasileiros natos podem exercer cargos privativos, como: Presidente da República e Vice-presidente, Presidente da câmara e do Senado, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Diplomata, Oficial das forças armadas e Ministro da defesa. 
Outra prerrogativa, conforme art. 5º, inciso LI da Constituição Federal, "nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei."
Desta forma, outra prerrogativa importante trata-se do direito de propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, conforme redação do artigo 222 da Constituição Federal. 
Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
    § 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação.
    § 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação social.
    § 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei específica, que também garantirá a prioridade de profissionais brasileiros na execução de produções nacionais.
    § 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1º.
    § 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão comunicadas ao Congresso Nacional.
E por fim, a última prerrogativa trata-se da reserva aos seis primeiros (natos), os assentos no Conselho da República, conforme redação do artigo 89, VII, da Constituição Federal. 
Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam:
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.
4. Quais os tipos de nacionalidade? Quais as diferenças entre esses tipos?
A nacionalidade é dividida em dois tipos, primaria e secundária. Com isso, é o pensamento do autor Alexandre de Moraes: a nacionalidade primária, também conhecida por originária, ou de origem, resulta do nascimento a partir do qual, através de critérios sanguíneos, territoriais ou mistos será estabelecida. (MORAES, 2021, pág. 278.)[footnoteRef:2] [2: MORAES, Alexandre. De. Direito Constitucional. 37. ed. – São Paulo : Atlas, 2021.	] 
E assim, os critérios de atribuição de nacionalidade originária são, basicamente, dois: o ius sanguinis e o ius soli, aplicando-se ambos a partir de um fato natural: o nascimento. (MORAES, 2021, pág. 279.)
Explica Alexandre de Moraes em sua obra Direito Constitucional, página 279, edição 37º, quais os critérios da nacionalidade originária: 
a. IUS SANGUINIS (origem sanguínea) – por esse critério será nacional todo o descendente de nacionais, independentemente do local de nascimento.
b. IUS SOLI (origem territorial) – por esse critério será nacional o nascido no território do Estado, independentemente da nacionalidade de sua ascendência. A Constituição brasileira adotou-o em regra.
Já a nacionalidade secundária ou adquirida é a que se adquire por vontade própria, após o nascimento e, em regra, pela naturalização. (MORAES, 2021, pág. 278.)[footnoteRef:3] [3: MORAES, Alexandre. De. Direito Constitucional. 37. ed. – São Paulo : Atlas, 2021.	] 
Além do conceito doutrinário, o regramento constitucional atinente à nacionalidade originária e nacionalidade derivada encontra-se disposto no artigo 12 da Constituição Federal de 1988.
5. Como a CF/88 disciplinou a questão?
A nacionalidade está prevista, especialmente, no artigo 12 da CF/88 e, nos termos desse artigo, inciso I, alínea "c", conforme mencionado anteriormente, a confirmação da nacionalidade brasileira depende da residência no Brasil e de opção, após alcançada a maioridade, em qualquer tempo, inclusive em casos de emancipação, pela nacionalidade brasileira.
Ainda sobre o artigo 12, desta vez em seu inciso II, alíneas “a” e “b”, a CF/88 aborda sobre a nacionalidade, no que diz respeito aos brasileiros naturalizados:
“II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira”.
Outrossim, sobre a declaração da perda de nacionalidade, o parágrafo 4º, incisos I e II, alíneas “a” e “b” do mesmo artigo, explica que:
“§4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver canceladasua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis”.
6. Qual a diferença entre perda e cancelamento de nacionalidade?
A diferença entre perda e cancelamento de nacionalidade é que, o brasileiro nato pode perder a sua nacionalidade, mas não pode ser extraditado pelo Brasil. Por outro lado, o brasileiro naturalizado, pode perder a nacionalidade em duas situações, conforme artigo 12, parágrafo 4º, incisos I e II da CF/88, quais sejam: a aquisição voluntária de outra nacionalidade; o cancelamento da sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional. Deste modo, o cancelamento da nacionalidade só pode ocorrer em situações de brasileiros naturalizados.
7. Quais os casos de perda?
Os casos de perda da nacionalidade estão estabelecidas no art. 12, §4º da Constituição Federal, bem como, estabelecida pela Lei n. 818, de 18 de setembro de 1949, quais sejam:
Art. 12. São brasileiros:
 § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
        I -  Tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
        II -  Adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
            a)  de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
            b)  de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. (Brasil, 1988)
Ademais, são duas as hipóteses de perda, em caso de brasileiro condenado por sentença penal transitada em julgado, em virtude de atividade considerada nociva ao interesse nacional, e pela aquisição de outra nacionalidade, porém, este último possui exceções.
8. Qual a diferença entre naturalização e opção pela nacionalidade?
A nacionalidade é um dos elementos que identificam o povo de uma nação, podendo ser de três espécies, originária, adquirida e tácita, assim, Eduardo Biacchi Gomes e Juliana Ferreira Montenegro expõem: “a) originária – quando decorre do fato do próprio nascimento. b) adquirida – a que se verifica por vontade expressa do indivíduo capaz, que renuncia à nacionalidade de origem, c) tácita – a que resulta da lei (naturalização, casamento...)”. (GOMES, MONTENEGRO, 2016) 
Ademais, referente a nacionalidade o brasileiro já tem o direito adquirido em virtude do critério ius sanguinis tratando-se, portanto, de um direito potestativo, pois além do cumprimento dos requisitos, decorre de declaração expressa de vontade do interessado, bem como é personalíssimo, devido ao fato de poder ser exercido apenas pelo interessado.
Por outro lado, a naturalização concedida a pessoas nascidas em outro país, também chamada de nacionalidade derivada, trata-se de um ato unilateral e discricionário do Estado, pois o Estado não está obrigado a conferir a naturalização mesmo após o estrangeiro cumprir os requisitos definidos no Estatuto do Estrangeiro.
9. Quais as modalidades de naturalização?
São quatro as modalidades de naturalização, a ordinária, extraordinária, especial e provisória. 
A naturalização ordinária é reservada aos estrangeiros que possuem interesse em tornar-se cidadão brasileiro, mas devendo seguir as condições previstas no art.66 da LEI Nº 13.445/17 (Lei de Migração).
Art. 65. Será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher as seguintes condições:
I - Ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;
II - Ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;
III - Comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e
IV - Não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
Por outro lado, a naturalização extraordinária, conforme art. 67 da Lei de Migração, é destinada “a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira”, ou seja, tem que residir por mais de 15 anos no país e ter interesse na aquisição da nacionalidade.
Ademais, a naturalização especial se dará ao estrangeiro casado há mais de 05 (cinco) anos com um diplomata brasileiro ou ao estrangeiro que tenha mais de dez anos ininterruptos em missão diplomática ou em repartição consular brasileira.
Art. 68. A naturalização especial poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes situações:
I - Seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou
II - Seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos.
Por fim, a naturalização provisória será concedida nos casos em que o migrante criança ou adolescente, tenha fixado residência definitiva no território nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade, conforme art. 70 da Lei de Migração.
REFERÊNCIAS:
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em abril de 2021. 
MORAES, De Alexandre. Direito Constitucional. 37. ed. – São Paulo : Atlas, 2021. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597027648/cfi/6/34!/4/6/2/2@0:0 > Acesso em abril de 2021.
Gomes, Eduardo Biacchi. Introdução aos estudos de direito internacional [livro eletrônico]/Eduardo Biacchi Gomes, Juliana Ferreira Montenegro. Curitiba: InterSaberes, 2016. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/37449/epub/0> Acesso em abril de 2021.

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