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Conhecendo a história da Educação Ambiental Por: Tânia Maria do Nascimento Ferreira Para compreender o que foi construído no Brasil e no Maranhão sobre Educação Ambiental, faz-se necessário recorrer alguns acontecimentos anteriores, pois estes auxiliaram na discussão e nas tomadas de decisões atuais sobre Educação Ambiental. No final da década de 60 e início da década de 70 do Século XX, ocorreram grandes tragédias ambientais, como por exemplos, derramamento de petróleo no Canal da Mancha, envenenamento por mercúrio nas águas da baía de Minamata no Japão, contaminação em cidades italianas por gases tóxicos. Essas tragédias contribuíram para chamar atenção mundial para a importância da causa ecológica. Dessa forma, surgiram os primeiros movimentos de defesa da Ecologia e do Meio Ambiente, cujo referencial foi a publicação do livro intitulado “Primavera Silenciosa” em 1962 da americana Raquel Carson. Essa publicação repercutiu a nível mundial, assim sendo, outros movimentos ambientalistas e representantes da Organização das Nações Unidas realizaram vários eventos internacionais que enfatizaram a proteção do Meio Ambiente e a Educação Ambiental como uma forma de prevenir a degradação dos recursos naturais. Em 1968, na Itália, o movimento Hippie manifestou-se a favor da natureza. Esse movimento realizou um evento denominado Clube de Roma, pois na Europa já era nítido os problemas ambientais nos países de economia desenvolvidas daquele continente. Porém, a pauta do evento era limitada apenas nos cuidados com fauna, flora e poluição, não enfatizavam os fatores socioculturais, histórico, políticos e econômicos. No início da década de 70 do século XX, com o avanço do modelo de desenvolvimento econômico capitalista, a produção passou a ser em grande escala. Assim, a poluição e o alerta contra o esgotamento dos recursos naturais começaram a preocupar os governantes em nível internacional. Nesse contexto, em 1972, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, gerando grande repercussão mundial. Nesta conferência, a pauta sobre a educação para o meio ambiente, foi amplamente aceita e discutida com êxito. Segundo Barbieri (1998, p. 21): A Conferência de 1972 representou um avanço nas negociações entre países e pode-se dizer que ele constituiu o marco fundamental na evolução para a percepção dos problemas relacionados ao binômio desenvolvimento-meio ambiente. O seu lema, Uma Terra Só, enfatiza a urgente necessidade de se criarem novos instrumentos para tratar de problemas de caráter planetário. Em 1975, como um desdobramento de Estocolmo, ocorreu em Belgrado (ex- Iugoslávia) o Seminário Ambiental sobre Educação Ambiental, organizado por representantes da Organização da Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO. Essa foi a primeira reunião com especialistas em educação e áreas afins ligados ao meio ambiente, que se uniram para definir objetivos e metodologia para trabalhar Educação Ambiental. Ao término do evento, foi elaborado um documento básico da Educação Ambiental, conhecido como a Carta de Belgrado. Os encaminhamentos foram: - Atenção com o meio natural e artificial, considerando os fatores ecológicos, políticos, sociais, culturais e estéticos; - A educação deve ser contínua, multidisciplinar de acordo com as diferenças regionais; formação da consciência crítica nos indivíduos. Em 1977, dando continuidade às discussões de Belgrado, a ONU, através da UNESCO, organizou a I Conferência Intergovernamental sobre Educação para o Meio Ambiente, em Tbilisi-Geórgia. No documento final, foram sistematizados com abrangência mundial as diretrizes, conceituações e os procedimentos para trabalhar Educação Ambiental. A Educação Ambiental, em Tbilisi, livrou-se, pela primeira vez, da limitação físico- natural, abrindo espaços para a compreensão da sociedade. Entenderam também, que a Educação Ambiental não pode ser disciplina nova nos currículos escolares, mas sim, transdisciplinar. Sobre essa limitação natural de Meio Ambiente e Educação Ambiental, Souza (2000, p. 25) explica que: Seguindo a linha já sugerida em Estocolmo a Educação Ambiental, abrangia também a base social de uma natureza construída pelos seres humanos, meio ambiente não poderia reduzir-se somente às questões naturais. Entendeu-se que através do trabalho social, os agentes envolvidos em tramas significativas e necessidades objetivas, agentes que compõem as instituições sociais atuam sobre o meio natural que serve de base à vida. Em 1987, a UNESCO organizou em Moscou a II Conferência Mundial para tratar de Educação Ambiental. Na oportunidade, foram reforçados os princípios tirados na I Conferência (Tbilisi, 1977). Foram traçados Planos de Ação para década de 1990 e foi feito uma avaliação da década de 1977/1987 e reafirmados os princípios preconizados em Tbilisi. O Plano de Ação teve como base as seguintes diretrizes: a) Implementação de um modelo curricular constituído a partir da troca de experiências mundiais; b) Capacitação de educadores que atuassem com projetos de Educação Ambiental; c) Utilização das áreas de conservação ambiental como polo de pesquisa e formação docente; d) Intensificação e melhoraria da qualidade das informações ambientais veiculadas na mídia internacional (PEDRINI, 1998, p. 29-30). No início da década de 1990, foi realizado no Rio de Janeiro, a Rio 92, também conhecido como Eco-92. Nesse evento, a Educação Ambiental estabeleceu-se diante a sociedade brasileira criando uma forte demanda institucional. Durante o evento foi realizado o Fórum Global, reunindo ONGs de todo o mundo. Ao final, produziu-se o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e responsabilidade Global. Nessa conferência foram aprovados outros documentos de relevância mundial. -Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento; -Convenção sobre Mudanças Climáticas; -Declaração de princípios sobre florestas; -Convenção sobre a diversidade biológica; -Agenda 21. Esses encontros permitiram amplo debate e troca de experiências entre especialistas e gestores governamentais internacionais. Para Reigota (1998, p. 11) considera que: A Educação Ambiental deve procurar estabelecer uma “nova aliança” entre a humanidade e a natureza, uma “nova razão” que não seja sinônimo de autodestruição e estimular a ética nas relações econômicas, políticas e sociais. Ela deve se basear no diálogo entre gerações e culturas em busca da tríplice cidadania: local, continental, planetária e da liberdade na sua mais completa tradução tendo implícita a perspectiva de uma sociedade mais justa tanto em nível nacional quanto internacional. Segundo o autor em referência, a Educação Ambiental a partir da ocorrência dos movimentos ecológicos mundiais, houve consenso nos objetivos ligados à defesa da biodiversidade e da vida humana, tanto em escala local quanto global em busca da equidade socioambiental. Percebe-se que a Educação Ambiental tem o papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente, porém, somente com discussões e debates não ocorrerá essa relação harmoniosa, mas sim, com a realização de ações, a começar no ambiente local. Dessa forma, a Educação Ambiental tornar- se-á um valor na construção do processo formativo da vida dos seres humanos. Saiba mais... O link a seguir corresponde a um importante artigo sobre o Histórico da Educação Ambiental no Brasil e no mundo. Nele você conhecerá mais sobre a Educação Ambiental e como ela se estabeleceu como um tema transversal. Artigo: Breve Resgate Histórico da Educação Ambiental no Brasil e no Mundo. Disponível em: https://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/VII-069.pdfREFERÊNCIAS BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudança da Agenda 21. Petrópolis: Vozes, 1998. GUIMARÃES, Mauro. A Dimensão Ambiental na Educação. São Paulo: Papirus, 1995 REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1998. PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. SOUZA, Nelson Mello e. Educação Ambiental: Dilemas da Prática Contemporânea. São Paulo: Thex Universidade Estácio de Sá, 2000. https://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/VII-069.pdf