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1 Caio Takano COMPLIANCE TRIBUTÁRIO PARTE 1 • Abordar como o compliance pode ser aplicado no Direito Tributário, com enfoque no cumprimento das regras de formalização do crédito tributário. • Informar os deveres dos contribuintes e os limites existentes na legislação tributária para a exigência de obrigações acessórias. • Apresentar o leiaute dos módulos do Projeto Sped, possibilitando a compreensão do nível de detalhamento de informação que é solicitado das empresas e dos cuidados que devem ser tomados pelos contribuintes. • Capacitar o profissional da área fiscal no atendimento estratégico à fiscalização na Era do Sped 4.0. • Permitir a compreensão das transformações sofridas pela atividade fiscalizatória nos últimos anos em decorrência da informatização fiscal e como os registros, blocos e módulos do universo Sped se comunicam entre si e são utilizados pelo Fisco. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM SUMÁRIO 1. Compliance tributário 1.1 O que é o compliance tributário? 1.2 Compliance tributário no Sped 4.0 2. Obrigações acessórias e fiscalização tributária 2.1 Obrigação tributária acessória 2.2 Objetos, fundamentos e limites da obrigação tributária acessória 2.3 Fiscalização como obrigação tributária acessória 2.4 Sujeito passivo da obrigação acessória 2.5 Sujeito passivo da fiscalização tributária 2.6 Limites ao escopo da fiscalização 3. Compliance nos Documentos Fiscais Eletrônicos (DF-E) 3.1 Informações gerais da Nota Fiscal eletrônica (NF-e) 3.2 Pontos de atenção no leiaute da Nota Fiscal eletrônica (NF-e) 3.3 Informações gerais e pontos de atenção da Nota Fiscal de Serviços eletrônica (NFS-e) 4. Compliance na EFD ICMS IPI 4.1 Informações gerais da Escrituração Fiscal Digital (EFD ICMS/IPI) 4.2 Pontos de atenção no leiaute da Escrituração Fiscal Digital (EFD ICMS/IPI) 4 1. COMPLIANCE TRIBUTÁRIO 1.1 O que é o compliance tributário? Rigorosamente, propor um compliance tributário nada mais significa do que sugerir a implementação de medidas que visem voluntariamente conformar a atuação empresarial à legislação tributária. Trata-se do conjunto de medidas que buscam garantir a conformidade com a legislação na execução da rotina fiscal da empresa, especialmente quanto aos tributos a serem pagos e documentação acessória a ser entregue. A singeleza de seu significado não reflete, contudo, os inerentes desafios para a sua operacionalização. O sistema tributário brasileiro é sobremodo complexo, apresentando inúmeros desafios, até ao mais fervoroso contribuinte que deseja implacavelmente seguir a legislação tributária, tais como: I. complexidade legislativa e natureza eminentemente interpretativa das normas jurídicas; lançamento por homologação e passividade do Fisco frente às novas legislações; II. obrigações acessórias complexas e exigidas em multiplicidade; APRESENTAÇÃO https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Compliance%20Fiscal/Compliance%20Fiscal%20-%20Apresenta%C3%A7%C3%A3o.html 5 I. legalidade, assim entendida como a qualidade ou estado do que é legal, do que está conforme com ou é governado por uma ou mais leis; II. ética, que constitui o conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade; e III. moralidade, ou seja, a qualidade daquilo que denota bons costumes, boa conduta, segundo os preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado grupo social. No âmbito tributário, o compliance visa não apenas uma gestão de tributos eficientes, mas também pela criação de uma rotina fiscal que tenha como pilar o cumprimento de obrigações acessórias, mantendo um relacionamento transparente com o Fisco, e, ao mesmo tempo, permitir uma ação preventiva que garanta um crescimento estável e sustentável para a empresa. 1.2 Compliance tributário no Sped 4.0 Instituído pelo Decreto nº 6.022/07, o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) busca promover a integração dos fiscos federal, estaduais, Distrito Federal e, futuramente, municipais, e dos órgãos de controle mediante a padronização, racionalização e compartilhamento das informações fiscais digitais, bem como integrar todo o processo III. sanções tributárias elevadíssimas; IV. impossibilidade de denúncia pelo descumprimento de obrigações acessórias; V. tribunais administrativos com limitado escopo de análise; dificuldade de acesso ao Poder Judiciário e desconhecimento técnico dos magistrados em matérias tributárias, especialmente obrigações acessórias. Em verdade, cumprir a legislação tributária dista de uma missão simples. Dadas as incertezas decorrentes de sua complexidade ou das diversas interpretações possíveis a partir de seus dispositivos legais, a singela tarefa de “cumprir a lei” exige, antes, a tomada de uma série de decisões buscando avaliar oportunidades de ganhos e gestão de riscos tributários, visando sempre uma gestão tributária íntegra e eficiente. Eis porque a noção de compliance, como ética, é antes uma postura de vida do que um conjunto de regras. Por óbvio, tem como um de seus pressupostos a legalidade, mas não se esgota nela, passando, ainda, por outros valores como ética e moral. Portanto, uma política adequada de compliance tributário tem como pressupostos: 6 documentos eletrônicos proveem uma ampla gama de informações sobre o contribuinte e seus parceiros comerciais. Além disso, são assinados digitalmente com uso de certificados digitais válidos, expedidos, em conformidade com as regras do ICP-Brasil, pelos representantes legais ou seus procuradores, tendo este arquivo validade jurídica para todos os fins (vide Medida Provisória nº 2200- 2/01). O Sped modificou substancialmente a forma pela qual o Direito Tributário se operacionaliza, integrando informações que, antes, encontravam-se em uma miríade de papéis distintos. Aumentou-se o espaço para cooperação entre administrações tributárias, prezando pelo fortalecimento do controle e da fiscalização por meio de intercâmbio de informações entre as administrações tributárias, cresceu o fluxo de informações que alimentam os bancos de dados públicos, bem como a qualidade da informação recebida, e implementou sementes de simplicidade no atual sistema. Conhecer e manejar adequadamente o novo ambiente de informações fiscais é imprescindível com possibilidade de cruzamentos de informações fiscais pela Receita Federal do Brasil, somado ao fato de que há elevadas multas pelo descumprimento das obrigações acessórias no âmbito do Sped. relativo à escrituração fiscal, com a substituição do atual documentário em meio físico (papel) por documento eletrônico com validade jurídica para todos os fins. É definido como o “instrumento que unifica as atividades de recepção, validação, armazenamento e autenticação de livros e documentos que integram a escrituração contábil e fiscal dos empresários e das pessoas jurídicas, inclusive imunes ou isentas, mediante fluxo único, computadorizado, de informações. (Redação dada pelo Decreto no 7.979, de 8 de abril de 2013)”. O projeto Sped tem como objetivos principais: I. promover a integração dos fiscos, mediante a padronização e compartilhamento das informações contábeis e fiscais, respeitadas as restrições legais de acesso; II. racionalizar e uniformizar as obrigações acessórias para os contribuintes, com o estabelecimento de transmissão única de distintas obrigações acessórias de diferentes órgãos fiscalizadores; e III. tornar mais célere a identificação de ilícitos tributários, com a melhoria do controle dos processos, a rapidez no acesso às informações e a fiscalização mais efetiva das operações com o cruzamento de dados e auditoria eletrônica. Composto por diversos módulos (NF-e, EFD ICMS IPI, EFD Contribuições, EFD-Reinf, eSocial, ECD, ECF etc.), todos os 7 O desafio do operador do direito - seja o profissional da área fiscal, seja o advogado que atua com o Direito Tributário - é justamente compreenderas diferenças da fiscalização 4.0 em relação ao modelo que existia há uma década. Não basta, portanto, ao operador, apenas antever os próximos pontos propícios de cruzamento de informações fiscais, precisando também ser intelectualmente independente dos softwares de mensageria. AULA VIRTUAL 1 https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Compliance%20Fiscal/Compliance%20Fiscal%20-%20Aula%2001.html 8 2. OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS E FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA 2.1 Obrigação tributária acessória No ordenamento jurídico pátrio, o legislador optou por adotar uma classificação dúplice da obrigação tributária, tendo como parâmetro o conteúdo patrimonial de sua prestação: I. se o seu objeto consistir em uma prestação de “dar”, com conteúdo econômico (pagamento de tributo ou de penalidade pecuniária), então será uma “obrigação principal”; II. ao passo que, se o seu objeto for destituído de conteúdo econômico, ou seja, se constituir em uma prestação de “fazer” ou “não fazer”, restará caracterizada a “obrigação acessória”. A distinção encontra-se positivada no art. 113 do Código Tributário Nacional (CTN), in verbis: Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue- se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Da dúplice distinção efetuada pelo legislador complementar, infere-se que as obrigações principal e acessória possuem objetos, fundamentos e limites normativos distintos. 2.2 Objetos, fundamentos e limites da obrigação tributária acessória Por um lado, quanto ao objeto, as obrigações principais não apenas possuem uma função arrecadadora, que tem por objeto o pagamento do tributo, como também uma função distributiva, redistribuindo a renda e reduzindo desigualdades, ao onerar diferentemente quem possui maior capacidade econômica (por exemplo, pela adoção de métodos progressivos) ou ao aplicar os recursos obtidos mais em favor de alguns do que de outros; e uma função estabilizadora, atuando sobre o nível de empregos, estabilidade e crescimento econômico de um país. (MUSGRAVE, 1969, pp. 13-27). Por outro lado, o objeto das obrigações acessórias consiste: I. na otimização/racionalização da arrecadação estatal; II. no combate à evasão fiscal por meio de efetivo controle e fiscalização pelos órgãos fazendários; e, ainda, III. na função indutora/intervencionista do Estado. Constata-se, igualmente, que os fundamentos e os limites normativos de ambas as espécies de obrigações tributárias são distintos, na medida 9 em que o CTN dedica uma série de artigos distintos para descrever o regime jurídico de cada um. Quanto à obrigação principal, podemos citar como seu fundamento o art. 113, §1º do CTN, mas igualmente são relevantes diversos outros, como o art. 114 (fato gerador da obrigação tributária), art. 116 (momento em que se considera ocorrido o fato gerador), art. 121 (sujeitos da obrigação tributária), etc. Por sua vez, a obrigação acessória possui como fundamento o art. 113, §2º do CTN, não obstante também possua uma série de outros dispositivos específicos que informam seu regime jurídico, limitando-a. Eis porque o poder de fiscalizar e de editar normas complementares necessárias para tantos estão condicionados à observância dos limites fixados pelo legislador, encontrados na própria redação do CTN. Importa dizer, ainda: não é apenas no CTN, possuidor materialmente força de lei complementar, que se encontram todos os princípios jurídicos e limites aplicáveis às obrigações acessórias. Por conta disso, o intérprete deve investigar o texto constitucional para verificar se será possível extrair dele limites objetivos à sua exigência. 2.3 Fiscalização como obrigação tributária acessória Identificados os traços típicos da obrigação tributária acessória, constata-se que há uma série de deveres jurídicos no interesse da fiscalização, cujo intuito é exercer o controle da contribuição do crédito tributário pelo contribuinte. O agente fiscal poderá exigir tanto prestações positivas (v.g.: entrega de documentos fiscais) quanto negativas (v.g.: não obstruir ou causa embaraço à fiscalização). A fiscalização tributária não apenas encontra diversos limites no CTN (lei complementar), mas igualmente na Constituição Federal, de onde se constata a existência de um objeto, uma finalidade e limites específicos. Cabe notar que na Constituição Federal são colocadas as principais balizas ao poder geral de fiscalização pela Administração Tributária. Nesse contexto, é relevante que se investigue o alcance do § 1º do art. 145, in fine, da Constituição: Art. 145. § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Uma leitura apressada poderia induzir o intérprete ao entendimento de que a parte final do dispositivo apenas quer significar que a Constituição, querendo os fins (tributação), forneceu os meios (capacidade de fiscalização). Não é esse, entretanto, o teor desse enunciado. Como aduz Luís Eduardo Schoueri, o referido dispositivo tem o escopo de assegurar que a fiscalização ganhe um objeto (identificação do patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do 10 contribuinte), uma finalidade (conferência de efetividade aos objetivos de pessoalidade e respeito à capacidade contributiva) e uma limitação (atuar respeitando os “direitos individuais” e os “estritos termos da lei” ), ou seja, é clara a opção do legislador constituinte quanto à prevalência dos direitos individuais do contribuinte, não podendo a Administração Pública, ao exercer suas atividades fiscalizatórias, alegar sua prerrogativa constitucional para fiscalização tributária, em detrimento daqueles direitos. (SCHOUERI, 2015, p. 858). Por fim, igualmente relevante é ressaltar que o Supremo Tribunal Federal ainda reconhece o princípio da livre iniciativa como um limite ao poder de fiscalização, tendo sido editadas três súmulas, afastando qualquer forma de sanção política (súmulas nº 70, 323 e 547): Súmula 70 – É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para a cobrança de tributo. Súmula 323 – É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos. Súmula 547 – Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais. 2.4 Sujeito passivo da obrigação acessória O CTN trata da matéria de forma bastante ampla, prescrevendo, em seu art. 122: “o sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto”. Uma primeira aproximação com esse dispositivo nos permite elencar, como fez Maurício Zockun, dois sujeitos passivos possíveis para o cumprimento das obrigações acessórias, a partir do objeto da prestação: I. tanto aquele sujeito que deve verter, em linguagem competente e credenciada pelo ordenamento jurídico, informações que digam respeito à arrecadação e à fiscalização (prestação de fazer); II. quanto aquele incumbido de suportar a atividade fiscalizatória da autoridade fiscal competente: prestação de não fazer. (ZOCKUN, 2005, p. 136). Dito de outro modo: poderá ser o sujeito passivo qualquer um que seja compelido a fornecer informações em linguagem competente (v.g.: documentos fiscais) ou suportar a fiscalização. No entanto, o art. 122 do CTN, embora ofereçauma redação bastante concisa, não deve ser considerado um “cheque em branco” para a eleição do sujeito passivo das obrigações acessórias. A intenção do legislador, como se verifica em diversos dispositivos do código tributário que versam sobre o tema, foi de conferir uma margem de 11 liberdade ampla no que se refere a limitações formais. Ampla, porém não irrestrita. Nas obrigações acessórias que impliquem prestações positivas (v.g.: prestar informações), é necessário que seu sujeito passivo possua vinculação – direta ou indireta – com o fato gerador da obrigação tributária principal que se pretenda instrumentalizar. Inexistente o vínculo direto ou indireto com o fato jurídico tributário, não há autorização para a configuração do liame jurídico da obrigação acessória. A Administração Tributária não pode exigir de alguém que preste informações ou forneça documentos sobre algo de que não tem conhecimento. Entretanto, não é apenas a vinculação com o fato gerador da obrigação tributária principal o parâmetro relevante na escolha do sujeito que ocupará o polo passivo da relação jurídica da obrigação acessória. É o mais importante, porém não o único. Haverá casos em que a Administração Tributária poderá requisitar informações de terceiros que, embora não sejam, de fato, responsáveis tributários ou contribuintes, possuam vinculação com o próprio contribuinte. Pode-se citar, como exemplo, o Decreto nº 3.724/01, que prevê a possibilidade de a Receita Federal do Brasil solicitar informações de instituições financeiras, mediante uma Requisição de Informações sobre Movimentação Financeira (RMF), se consideradas indispensáveis (art. 2º, §5º e art. 3º) e quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa, desde que, antes, seja intimado o sujeito passivo para apresentação de informações sobre sua movimentação financeira (art. 4º, §2º), ressalvado o sigilo das informações obtidas. Dessa forma, se a Receita Federal estiver investigando uma possível omissão de rendimentos, poderá exigir da instituição bancária informações sobre as movimentações financeiras do contribuinte investigado, sem que a instituição tenha qualquer vínculo direto ou indireto com a ocorrência do suposto fato jurídico tributário do imposto sobre a renda. Essa situação revela que há casos no ordenamento jurídico em que, valendo-se de seu poder geral de fiscalização (arts. 194 e seguintes do CTN), a Administração Tributária poderá exigir informações de terceiro que, apenas pela sua vinculação com o contribuinte, poderão colaborar de forma relevante com o interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Essa hipótese, porém, de eleição do sujeito passivo da obrigação acessória deve passar pelo crivo da razoabilidade e da proporcionalidade no caso concreto. 2.5 Sujeito passivo da fiscalização tributária Em relação à fiscalização tributária, é forçoso refletir sobre o parágrafo único do art. 194 do CTN, que coloca tanto contribuintes como não 12 contribuintes como possíveis sujeitos passivos de uma relação jurídica que tenha por objeto o cumprimento de uma obrigação acessória: Art. 194. A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei, regulará, em caráter geral, ou especificamente em função da natureza do tributo de que se tratar, a competência e os poderes das autoridades administrativas em matéria de fiscalização da sua aplicação. Parágrafo único. A legislação a que se refere este artigo aplica-se às pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, inclusive às que gozem de imunidade tributária ou de isenção de caráter pessoal. Embora o dispositivo legal possa apontar para poderes amplos da fiscalização para eleger o sujeito passivo das obrigações acessórias, novamente, o art. 113, § 2º do CTN oferece limites materiais relevantes: se a obrigação acessória deve ser instituída “no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos”, somente poderá ser exigido de particulares que tenham condições fáticas de auxiliar a fiscalização ou possibilitar o cumprimento da obrigação tributária, de forma relevante. Interessante foi a aplicação expressa desse limite pelo STJ por ocasião do julgamento do Recurso Especial nº 539.084/SP, em 19/12/2005, in verbis: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA - ISSQN. EMPRESA NÃO CONTRIBUINTE. OBRIGATORIEDADE DE EXIBIÇÃO DOS LIVROS COMERCIAIS. INEXISTÊNCIA. ART. 113, § 2º, DO CTN. (...) V - Mesmo que o ordenamento jurídico tributário considere certo grau de independência entre a obrigação principal e a acessória, notadamente quanto ao cumprimento desta última, não há como se admitir o funcionamento da máquina estatal, nos casos em que não há interesse direto na arrecadação tributária. VI - Se inexiste tributo a ser recolhido, não há motivo/interesse para se impor uma obrigação acessória, exatamente porque não haverá prestação posterior correspondente. Exatamente por isso, o legislador incluiu no aludido § 2º do art. 113 do CTN a expressão “no interesse da arrecadação”. VII - Recurso Especial improvido. Dentro dessa perspectiva é que se deve compreender o teor do art. 197 do CTN, que prevê a obrigação de um rol exemplificativo de sujeitos que estão obrigados a prestar informações de que disponham sobre os bens, negócios ou atividades de terceiros: Art. 197. Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à autoridade administrativa todas as informações de que disponham com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros: I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício; II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições financeiras; III - as empresas de administração de bens; IV - os 13 corretores, leiloeiros e despachantes oficiais; V - os inventariantes; VI - os síndicos, comissários e liquidatários; VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão. Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão. O dispositivo permite expressamente que o poder público utilize o parâmetro “vinculação com o contribuinte” para a eleição do sujeito passivo das obrigações acessórias. No entanto, prevê condições para sua utilização: I. a necessidade de intimação escrita, que, a um só tempo, exigirá da autoridade administrativa que fundamente o seu pedido de informações e permitirá o questionamento da exigência por aquele sobre quem recairá a obrigação acessória; e II. o respeito ao sigilo profissional. Por fim, nas obrigações acessórias que impliquem prestações negativas (v.g.: suportar a fiscalização), o poder público é livre para escolher o sujeito passivo da obrigação acessória, desde que, justificadamente, e ele esteja situado no território dentro do qual exerça sua soberania. Contudo, ao se iniciar o procedimento de fiscalização e se constatar que o administrado não exerce qualquer atividade que possa ser tributada pelo ente político à qual pertença o órgão fiscalizador, seja pela inexistência de uma norma geral e abstrata emanada pelo poder público que institua o tributo que será instrumentalizado pelo cumprimento da obrigação acessória ou, se existente tal norma, pela constatação da incompatibilidade da atividade exercida pelo administrado com a materialidade do tributo, a fiscalização deverá cessar imediatamente. Em outras palavras, trata-se de matéria de prova a ser produzida por aquele que sofre a fiscalização. Se houver documentos aptos a comprovarem uma das duas hipóteses acima, para demonstrar a ausência de efetivo “interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos”, naquelaprestação de não fazer, a exigência da obrigação acessória perderá sua justificação no caso concreto. 2.6 Limites ao escopo da fiscalização Além dos dispositivos que tratam dos limites quanto à eleição de sujeitos passivos pelo legislador ordinário, há outros importantes limites para a exigência de obrigações acessórias veiculadas no CTN. Nesse sentido, o art. 195 do CTN merece especial atenção: Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação 14 quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los. Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram. Inicialmente, o referido dispositivo autoriza a autoridade fiscal a requerer a exibição dos livros e documentos comerciais e fiscais, sem a necessidade de autorização judicial (nos termos do art. 420 e 421 do CPC). Confere, ainda, poderes irrestritos para o exame dos referidos documentos, excluindo que leis ordinárias possam, de alguma forma, limitar a prerrogativa da Administração Tributária de analisar os livros e documentos fiscais (livros de escrituração fiscal, livro Caixa, livro Razão, notas fiscais emitidas etc.). A garantia de a Administração Tributária exercer esse poder-dever esgota-se, entretanto, apenas nesses documentos. É necessária, então, uma ordem judicial para que se vasculhe o estabelecimento do contribuinte para requerer a apresentação ou, ainda, apreender outros documentos para serem utilizados para fins de fiscalização. Há, por fim, outra limitação temporal, expressa no CTN: o parágrafo único do art. 195 prevê que os livros fiscais obrigatórios e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados deverão ser conservados até a data da prescrição dos créditos tributários a que se refiram tais lançamentos. Essa regra veio a reproduzir disposição que havia no Código Comercial, instituindo também no âmbito tributário a obrigação de conservação de livros e de seus arquivos comerciais, enquanto não prescreverem as ações que lhe possam ser relativas. (BALEEIRO, 2010, p. 900). O raciocínio por trás da limitação prevista nesse dispositivo parece ser o de que, havendo a prescrição de crédito tributário e a consequente extinção da obrigação, já formalizada e individualizada a partir daquelas informações, não haveria mais qualquer obrigação tributária a ser cumprida e instrumentalizada. O dispositivo não apenas promove a segurança jurídica, como evidencia que sem interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, não subsiste o dever instrumental. E, em certa medida, a estipulação de um prazo cumpre esse papel, colocando um termo à obrigação de manutenção de livros fiscais. A opção, contudo, pelo prazo prescricional também não escapa de críticas: a ausência de prazo para o término do procedimento administrativo, a partir do qual haveria a “constituição definitiva” do crédito tributário, faz com que o prazo, na prática, não seja rígido. Ainda, a jurisprudência oscilante sobre a contagem do prazo prescricional, bem como suas hipóteses 15 de interrupção, e, ainda, as tentativas da Administração de estender seus prazos prescricionais, colocam o contribuinte em situação de verdadeira confusão e insegurança, retirando a eficácia do parágrafo único do art. 195. Outro limite importante refere-se ao período no qual se circunscreverá a fiscalização tributária, matéria que está regulamentada no art. 196 do CTN: Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas. Referido dispositivo impõe que o dever de suportar a atividade fiscalizatória não seja por prazo indefinido e que quaisquer diligências da fiscalização deverão ser lavradas a termo. Para Aliomar Baleeiro, ambas as formalidades previstas nesse dispositivo buscam conferir maior segurança jurídica aos administrados, configurando uma garantia à defesa daqueles que sofrem a autuação (2010, p. 901). Pela definição do prazo de conclusão, não ficará o contribuinte refém de comodidade ou surpresa do agente público; pela redução a termo de todos os atos administrativos, não se deixam margens para a informalidade, permitindo o pleno conhecimento e controle da fiscalização tributária. (SCHOUERI, 2015, p. 862). AULA VIRTUAL 2 https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Compliance%20Fiscal/Compliance%20Fiscal%20-%20Aula%2002.html 16 3. COMPLIANCE NOS DOCUMENTOS FISCAIS ELETRÔNICOS (DF-E) 3.1 Informações gerais da Nota Fiscal eletrônica (NF-e) a) Legislação: • Ajuste Sinief nº 7/2005 (instituição da nota fiscal eletrônica); • Convênio s/nº de 1970 (aspectos procedimentais); • Notas técnicas do ENCAT (leiaute geral da NF-e); • Legislação tributária de cada Unidade Federativa (regulamentação dos documentos fiscais e leiautes específicos da NF-e em cada UF). b) Descrição/formato: Trata-se de documento emitido e armazenado eletronicamente, de existência apenas digital, no formato .XML, com o intuito de documentar operações e prestações, cuja validade jurídica é garantida pela assinatura digital do emitente e autorização de uso pela Administração Tributária da unidade federada do contribuinte, antes da ocorrência do fato gerador. A NF-e, modelo 55, poderá ser utilizada pelos contribuintes do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI ou Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS em substituição1 I. à nota fiscal, modelo 1 ou 1-A; e II. à nota fiscal de Produtor, modelo 4. c) Periodicidade: A cada operação/Emissão antes da ocorrência do fato gerador. d) Obrigatoriedade (principais hipóteses): Além das hipóteses que porventura estejam previstas na legislação de cada Unidade da Federação, é obrigatória a emissão de nota fiscal, conforme art. 18 do Convênio s/nº de 1970, nos seguintes casos: Art. 18. Os estabelecimentos, excetuados os de produtores agropecuários, emitirão nota fiscal: I. sempre que promoverem a saída de mercadorias; II. na transmissão da propriedade das mercadorias, quando estas não devam transitar pelo estabelecimento transmitente; e 1 A NF-e poderá ser utilizada em substituição à Nota Fiscal de Produtor, modelo 4, somente pelos contribuintes que possuem Inscrição Estadual. 17 III. sempre que, no estabelecimento, entrarem bens ou mercadorias, real ou simbolicamente2. e) Vedação (principais hipóteses): A emissão de documentos fiscais eletrônicos só é permitida nas hipóteses em que a legislação estipular, restando vedada a possibilidade de emiti-los em qualquer outra situação. Em regra, as UFs possuem, em suas legislações, previsão de multas pela emissão de documento fiscal fora das hipóteses legais. Exemplificativamente, no Estado de São Paulo a multa por emissão que não corresponda à saída de mercadoria, à transmissão de propriedade da mercadoria, à entrada de mercadoria no estabelecimento ou, ainda, à prestação ou a recebimento de serviço é no montante de a 30% do valor da operação ou prestação indicado no documento fiscal (art. 85, inc. IV, “b” da Lei 6.374/89). f) Penalidades: Cabe a cada legislação estadual prever multas específicas por infrações relacionadas à emissão ou ao preenchimento de documentos fiscais eletrônicos. Na legislação do Estado de São Paulo, temos como principais situações relacionadas à nota fiscal (seja em formato eletrônico, modelo 55, ou no formato físico,modelo 1 e 1-A): I. falta de emissão de documento fiscal - multa equivalente a 50% do valor da operação ou prestação (art. 85, inc. IV, “a” da Lei 6.374/89); II. emissão de documento fiscal que consigne declaração falsa quanto ao estabelecimento de origem ou de destino da mercadoria ou do serviço; emissão de documento fiscal que não corresponda à saída de mercadoria, à transmissão de propriedade da mercadoria, à entrada de mercadoria no estabelecimento ou, ainda, à prestação ou a recebimento de serviço multa equivalente a 30% do valor da operação ou prestação indicado no documento fiscal (art. 85, inc. IV, “b” da Lei 6.374/89); III. adulteração, vício ou falsificação de documento fiscal; utilização de documento falso, de documento fiscal em que o respectivo impresso tenha sido confeccionado sem autorização fiscal ou que tenha sido confeccionado por estabelecimento gráfico diverso do indicado, para propiciar, ainda que a terceiro, 2 Convênio s/nº de 1970. Art. 54. O contribuinte, excetuado o produtor agropecuário, emitirá nota fiscal sempre que em seu estabelecimento entrarem bens ou mercadorias, real ou simbolicamente: I - novos ou usados, remetidas a qualquer título por particulares, produtores agropecuários ou pessoas físicas ou jurídicas não obrigados à emissão de documentos fiscais; II - em retorno, quando remetidos por profissionais autônomos ou avulsos, aos quais tenham sido enviados para industrialização; III - em retorno de exposições ou feiras, para as quais tenham sido remetidos exclusivamente para fins de exposição ao público; IV - em retorno de remessas feitas para venda fora do estabelecimento, inclusive por meio de veículos; V - importados diretamente do exterior, bem como as arrematados em leilão ou adquiridos em concorrência promovidos pelo Poder Público; VI - em outras hipóteses previstas na legislação. 18 qualquer vantagem indevida - multa equivalente a 100% do valor indicado no documento; IV. emissão de documento fiscal com inobservância de requisito regulamentar ou falta de obtenção de visto em documento fiscal - multa equivalente a 1% do valor da operação ou prestação relacionada com o documento (art. 85, inc. IV, “h” da Lei 6.374/89); entre outras. 3.2 Pontos de atenção no leiaute da Nota Fiscal eletrônica (NF-e) A nota fiscal é uma obrigação acessória (ou dever instrumental, como prefira chamar) que tem como finalidade formalizar uma operação mercantil que constitua fato gerador do ICMS ou do IPI, permitindo, assim, que as administrações tributárias tenham ciência de que ocorreu um fato jurídico tributário, isto é, um fato que, uma vez ocorrido, faz surgir a obrigação tributária, nos termos da lei. Assim, para que a nota fiscal cumpra esse objetivo, ela deve revelar com fidedignidade e transparência a operação mercantil ocorrida. Deve ainda, nos termos da legislação, representar a circulação de mercadoria entre um remetente e um destinatário, em seus respectivos estabelecimentos indicados no documento fiscal. Esta é a premissa básica das notas fiscais, e tanto é relevante a identificação das partes, data de saída e valores de tributos envolvidos na operação, que não é possível alterá-los posteriormente por intermédio de carta de correção (art. 7º, §1-A do Convênio s/nº, de 15 de dezembro de 1970). Portanto, é muito relevante que o profissional da área fiscal tenha extremo cuidado ao preencher a nota fiscal das operações de sua empresa ou ao receber documentos fiscais que acompanham a entrada de mercadoria em seu estabelecimento. No primeiro cenário, porque emitir uma nota fiscal que venha a ser declarada inidônea não apenas afeta o direito de crédito de seu adquirente, como também pode resultar em imposição de multa por remessa de mercadorias desacompanhadas de documento fiscal hábil. No último, porque afetaria o crédito tomado, resultando em sua glosa integral pelo Estado e a imposição de multa elevada, por vezes no valor do próprio crédito tomado. Em geral, alguns campos do leiaute da nota fiscal merecem atenção, dentre os quais: a) Remetente/destinatário: Uma das principais fontes de autuação decorre na ausência de um cuidado por parte do contribuinte de averiguar se o endereço de seu parceiro comercial (seja destinatário ou o remetente) de fato existe ou possui elementos mínimos para operação. Na linha do Resp 1.148.444, julgado no rito dos recursos repetitivos pelo Superior 19 Tribunal de Justiça, é dever do contribuinte a comprovação de que o contribuinte, à época das operações, verificara a regularidade fiscal de seu parceiro comercial. Por certo não se exige que o contribuinte proceda à fiscalização das empresas com que transaciona, a ponto de se exigir uma visita in loco ou análise sobre a capacidade produtiva de seus fornecedores. Referida verificação da regularidade fiscal significa que deve o contribuinte, à época dos fatos, proceder com a cautela que se espera do “homem médio”, mediante a consulta das informações públicas, disponibilizadas por órgãos públicos de inquestionável seriedade, como o Sintegra, Cadesp, Registros na RFB etc. b) CFOP - O Código Fiscal de Operações e Prestações: O CFOP indica a natureza da operação que foi realizada pelo contribuinte, o que implica uma série de consequências tributárias quanto ao seu tratamento. Erros comuns vão desde a utilização de um CFOP indevido (como o CFOP 5.912, próprio para remessas de demonstração, no lugar do CFOP 5.914, para remessas para exposição em feiras), como abuso do CFOP 5.949, residual, referente a “outra saída de mercadoria ou prestação de serviço não especificado”, sem que esse tenha sido o caso, efetivamente. c) Campos relacionados aos tributos da nota: Muitos erros são cometidos no cálculo do ICMS, até pela complexidade que esse imposto assume no caso concreto. Erros decorrem desde falhas no cálculo de benefícios de redução da base de cálculo, erro na aplicação do adicional do Fundo de Combate à Pobreza, destaque indevido de ICMS-ST etc. d) Frete: Tem sido um alvo frequente das Secretarias Estaduais de Fazenda averiguar se há inconsistência nos campos destinados ao frete. Informações como placas do veículo, dados do motorista e outros têm sido conferidas pelo Fisco e, por vezes, resultando na inidoneidade do documento fiscal como um todo. e) CST - Código de Situação Tributária: O CST evidencia o tratamento tributário conferido à mercadoria. Muito embora a NT 2018.005 tenha implementado uma série de validações por ocasião da emissão da NF-e, que termine por conferir a adequação do CST utilizado, é sempre aconselhável que seja objeto de constante revisão. f) Código NCM: O NCM é um dos códigos mais relevantes para a apuração dos tributos sobre o consumo, pois muitas vezes a legislação se vale dele 20 para conferir o adequado tratamento tributário a uma determinada mercadoria. É por meio da NCM que conseguimos depreender da legislação se o produto se submete à sistemática da substituição tributária, se possui isenção ou outro benefício fiscal. Assim, qualquer erro na classificação fiscal da mercadoria implica erros em toda apuração. Como muitas empresas não dedicam um funcionário experiente para realizar a classificação fiscal da mercadoria, é muito importante que ela seja constantemente revisada por profissionais da área fiscal mais experientes. g) Forma de pagamento: No leiaute da NF-e 4.0, não se contentou o legislador em saber se o pagamento foi realizado à vista ou à prazo: deve o contribuinte informar a forma que o pagamento foi feito (ex.: dinheiro, cheque, duplicata etc.). Uma das formas possíveis de pagamento é por cartão de crédito, o que poderá ser cruzado com informações fornecidas pela Declaração de Operações com Cartões de Crédito – Decred, de responsabilidade das operadoras de cartão de crédito. h) Local de entrega/retirada: Também com a NT 2018.005 inseriu-se o Grupo F – “Identificação do Local de Retirada” e o Grupo G – “Identificação doLocal de Entrega” no leiaute da NF-e. No entanto, a existência dos referidos campos não revela, de forma alguma, uma permissão do Fisco para que a entrega ou o recebimento de mercadorias ocorra em estabelecimentos distintos daqueles que constam no documento fiscal em qualquer situação. Mantém-se intacta a regra de que apenas é possível a retirada/ entrega de mercadorias em estabelecimentos distintos do remetente/ destinatário da nota fiscal quando a lei assim o permite. Trata-se de situação excepcional. i) Informações adicionais: O campo de informações adicionais é muito útil para fazer referenciação de notas fiscais, explicitar fundamentos jurídicos para recolhimento de tributos apurados com alguma peculiaridade fora da legislação, indicação de informações complementares etc. Assim, deve ser utilizado de forma adequada, para conferir transparência às informações fornecidas, sempre que os campos regulares da NF-e não for capaz de captar os detalhes da operação em sua integralidade. 3.3 Informações gerais e pontos de atenção da Nota Fiscal de Serviços eletrônica (NFS-e) Hoje não há uma Nota Fiscal de Serviços eletrônica instituída em âmbito nacional, cabendo a implementação dessa obrigação acessória a cada município, de acordo com o leiaute que melhor atender as suas expectativas arrecadatória e fiscalizatória. 21 Hoje não há uma Nota Fiscal de Serviços eletrônica instituída em âmbito nacional, cabendo a implementação dessa obrigação acessória a cada município, de acordo com o leiaute que melhor atender as suas expectativas arrecadatória e fiscalizatória. Entretanto, atualmente o “Projeto Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e)” está sendo desenvolvido de forma integrada, pela Receita Federal do Brasil (RFB) e pela Associação Brasileira das Secretarias de Finanças das Capitais (Abrasf), com implementação em alguns municípios como Belo Horizonte, Natal e Salvador. A Nota Fiscal de Serviços Eletrônica (NFS-e) é um documento de existência digital, gerado e armazenado eletronicamente em Ambiente Nacional pela RFB, pela prefeitura ou por outra entidade conveniada, para documentar as operações de prestação de serviços. A geração da Nota Fiscal de Serviços Eletrônica - NFS-e é feita, automaticamente, por meio de serviços informatizados, disponibilizados aos contribuintes. Para que sua geração seja efetuada, dados que a compõem serão informados, analisados, processados, validados e, se corretos, gerarão o documento. A responsabilidade pelo cumprimento da obrigação acessória de emissão da NFS-e e pelo correto fornecimento dos dados à secretaria, para a geração da mesma, é do contribuinte. A NFS-e contém campos que reproduzem as informações enviadas pelo contribuinte e outros que são de responsabilidade do Fisco. Uma vez gerada, a NFS-e não pode mais ser alterada, admitindo-se, unicamente por iniciativa do contribuinte, ser cancelada ou substituída, hipótese esta em que deverá ser mantido o vínculo entre a nota substituída e a nova. A NFS-e deve conter a identificação dos serviços em conformidade com os itens da Lista de Serviços, anexa à Lei Complementar n°116, de 2003, acrescida daqueles que foram vetados e de um item “9999” para “outros serviços”. É possível descrever vários serviços numa mesma NFS-e, desde que relacionados a um único item da Lista, de mesma alíquota e para o mesmo tomador de serviço. Quando a legislação do município assim exigir, no caso da atividade de construção civil, as NFS-e deverão ser emitidas por obra. A identificação do prestador de serviços será feita pelo CNPJ, que pode ser conjugado com a Inscrição Municipal, não sendo esta de uso obrigatório. A informação do CNPJ do tomador do serviço é obrigatória para pessoa jurídica, exceto quando se tratar de tomador do exterior. A competência de uma NFS-e é o mês da ocorrência do fato gerador. O sistema assumirá automaticamente o Mês/Ano da emissão do RPS ou da NFS-e, o que for inferior, podendo ainda o contribuinte informar uma competência anterior. A base de cálculo da NFS-e é o Valor Total de Serviços, subtraído do Valor de Deduções previstas em lei. A alíquota do ISS é definida pela legislação municipal. Quando a NFS-e é tributada fora do município em que está sendo emitida, a alíquota será informada pelo contribuinte. 22 AULA VIRTUAL 3 https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Compliance%20Fiscal/Compliance%20Fiscal%20-%20Aula%2003.html 23 4. COMPLIANCE NA EFD ICMS IPI 4.1 Informações gerais da Escrituração Fiscal Digital (EFD ICMS/IPI) a) Legislação: • Convênio ICMS nº 143/06. • Ajuste Sinief 2, de 3 de abril de 2009. • Instrução Normativa RFB nº 1371/2013 (Estado de Pernambuco). • Instrução Normativa RFB nº 1685/2017 (Distrito Federal). • Regulamento de ICMS de cada Unidade da Federação. • Guia Prático EFD-ICMS/IPI – Versão 3.0.3 / Atualização: 14 de outubro de 2019. b) Descrição/formato: Constitui um conjunto de registros de apuração de impostos, no formato .TXT, referentes às operações e prestações praticadas pelo contribuinte, bem como de documentos fiscais e de outras informações de interesse dos fiscos das unidades federadas e da Secretaria da Receita Federal do Brasil. Por exemplo, alguns registros relativos ao ICMS não são utilizados por todos os Estado (ex.: C176, C179, C197, C597, D197, 1200 etc.). Se determinada tabela3 não for disponibilizada pela Administração Tributária da UF e não houver tabela genérica correspondente, significa que o registro a ela vinculado não será informado. A estrutura atual da EFD ICMS IPI é a seguinte: EFD ICMS IPI BLOCO DESCRIÇÃO 0 Abertura, Identificação e Referências B Escrituração e Apuração do ISS C Documentos Fiscais I – Mercadorias (ICMS/IPI) D Documentos Fiscais II – Serviços (ICMS) E Apuração do ICMS e do IPI G Controle do Crédito de ICMS do Ativo Permanente – CIAP H Inventário Físico K Controle da Produção e do Estoque 1 Outras Informações 9 Controle e Encerramento do Arquivo Digital c) Periodicidade: Os arquivos da EFD-ICMS/IPI têm periodicidade mensal e devem apresentar informações relativas a um mês civil ou fração, ainda que as apurações dos impostos (ICMS e IPI) sejam efetuadas em períodos inferiores a um mês, segundo a legislação de cada imposto. Os prazos para a transmissão dos arquivos são definidos por legislação estadual. 3 http://sped.rfb.gov.br/pagina/show/1578 24 d) Obrigatoriedade (principais hipóteses): Obrigatório para os contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS e/ou do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. O contribuinte deve gerar e manter uma EFD-ICMS/IPI para cada estabelecimento, devendo esta conter todas as informações referentes aos períodos de apuração do(s) imposto(s). e) Dispensa (principais hipóteses): Empresas optantes pelo Simples Nacional, a critério de cada Unidade da Federação. f) Penalidades: No âmbito federal, em razão de ausência de norma legal indicando penalidades específicas, aplica-se o disposto no art. 57 da Medida provisória nº 2.158/01: I - por apresentação extemporânea: a) R$ 500,00 por mês- calendário ou fração, relativamente às pessoas jurídicas que estiverem em início de atividade ou que sejam imunes ou isentas ou que, na última declaração apresentada, tenham apurado lucro presumido ou pelo Simples Nacional; b) R$ 1.500,00 por mês- calendário ou fração, relativamente às demais pessoas jurídicas; e c) R$ 100,00 por mês-calendário ou fração, relativamente às pessoas físicas; II - por não cumprimento à intimação da Secretaria da Receita Federal do Brasil para cumprir obrigação acessória ou para prestar esclarecimentos nos prazos estipulados pela autoridade fiscal: R$ 500,00 por mês-calendário; III - por cumprimento de obrigação acessória com informações inexatas, incompletas ou omitidas: a) 3% (três porcento), não inferior a R$ 100,00, do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta; ou b) 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento), não inferior a R$ 50,00, do valor das transações comerciais ou das operações financeiras, próprias da pessoa física ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta. Importante apontar que, embora não haja qualquer norma federal que imponha multas distintas especificamente para a EFD ICMS IPI, tal como ocorre em outros módulos do SPED, poderá ocorrer de a Receita Federal do Brasil entender que a multa prevista no art. 57 da medida Provisória nº 2.158-35, de 2001, pela sua generalidade, não se aplica em relação às infrações do Sped, mas, sim, aquelas 25 previstas nos art. 12 da Lei nº 8.218, de 1991. Já no âmbito estadual, cada Unidade da Federação poderá instituir multas específicas para o descumprimento das obrigações acessórias (referentes à escrituração fiscal) que foram incorporadas no ambiente do SPED. Por exemplo, no Estado de São Paulo, aplicam-se, dentre outras, as seguintes pela não escrituração do SPED ICMS IPI: (i) multa equivalente a 10% (dez por cento) do valor da operação ou prestação constante do documento, nos casos falta de escrituração de documento relativo à entrada de mercadoria no estabelecimento ou à aquisição de sua propriedade ou, ainda, ao recebimento de serviço, quando já escrituradas as operações ou prestações do período a que se refiram (art. 85, inc. V, “a” da Lei nº 6.374/89); (ii) multa equivalente a 5% (cinto por cento) do valor da operação ou prestação constante do documento, ou de 20% (vinte por cento) se sujeitas ao pagamento do imposto em operação ou prestação posterior, no caso de falta de escrituração de documento relativo à saída de mercadoria ou à prestação de serviço, cuja operação ou prestação não esteja sujeita ao pagamento do imposto (art. 85, inc. V, “c” da Lei nº 6.374/89); (iii) multa equivalente a 10% (dez por cento) do valor da operação ou prestação constante do documento, no caso de falta de registro em meio magnético de documento fiscal quando já registradas as operações ou prestações do período (art. 85, inc. V, “d” da Lei nº 6.374/89); (iv) - multa equivalente a 1% (um por cento) do valor das operações ou prestações não escrituradas, em relação a cada livro, no caso de atraso de escrituração do livro fiscal destinado à escrituração das operações de entrada de mercadoria ou recebimento de serviço e/ ou do livro fiscal destinado à escrituração das operações de saída de mercadoria ou de prestação de serviço, ou do livro de estoque (art. 85, inc. V, “g” da Lei nº 6.374/89); (v) multa equivalente ao valor de 6 (seis) UFESPs por livro, por mês ou fração, em virtude de atraso de escrituração de outros livros fiscais (art. 85, inc. V, “h” da Lei nº 6.374/89); (vi) multa equivalente a 1% (um por cento) do valor das operações ou prestações não registradas, no caso de atraso de registro em meio magnético (art. 85, inc. V, “i” da Lei nº 6.374/89). 4.2 Pontos de atenção no leiaute da Escrituração Fiscal Digital (EFD ICMS/IPI) Bloco 0 Embora o Bloco 0 seja um bloco inicial, que tem como escopo principal o cadastro de informações sobre o contribuinte, as mercadorias por ele transacionadas e seus parceiros comerciais, ele é de fundamental importância, pois nele se encontrarão as premissas de regime de 26 tributação do ICMS e do IPI, como informações sobre o código NCM da mercadoria, o código de situação tributária (“CST”) utilizado, classificação do tipo de item etc. Assim, por exemplo, a depender do NCM, a mercadoria pode se sujeitar a uma isenção ou à sistemática da substituição tributária. Ou, então, a depender do tipo de item (ex.: se ativo imobilizado, insumo ou bem de uso e consumo) o contribuinte terá que calcular o crédito por alguma sistemática específica ou, ainda, simplesmente não tomar o crédito. Especial atenção merece o Registro 0200 – “Tabela de identificação do Item”. Este registro tem por objetivo informar mercadorias, serviços, produtos ou quaisquer outros itens concernentes às transações fiscais e aos movimentos de estoques em processos produtivos, bem como os insumos. A identificação do item (produto ou serviço) deverá receber o código próprio do informante do arquivo em qualquer documento, lançamento efetuado ou arquivo informado, ou seja, o código de produto deve ser o mesmo na emissão dos documentos fiscais, na entrada das mercadorias ou em qualquer outra informação prestada ao fisco. O código utilizado não pode ser duplicado ou atribuído a itens (produto ou serviço) diferentes. Não são discriminações para um mesmo item em um mesmo período ou discriminações genéricas, exceto nos casos em que um mesmo item possua finalidades diferentes pela empresa dentro de um determinado período (ex.: estoque de revenda x bens de uso e consumo). Outro desafio reside na classificação do campo 7 do Registro 0200, qual seja, sobre o tipo de item. Basicamente, o manual sugere a classificação de um item em uma das categorias abaixo: 00 – Mercadoria para revenda: produto adquirido para comercialização; 01 – Matéria-prima: a mercadoria que componha, física e/ou quimicamente, um produto em processo ou produto acabado e que não seja oriunda do processo produtivo. A mercadoria recebida para industrialização é classificada como Tipo 01, pois não decorre do processo produtivo, mesmo que no processo de produção se produza mercadoria similar classificada como Tipo 03; 03 – Produto em processo: o produto que possua as seguintes características, cumulativamente: oriundo do processo produtivo; e, predominantemente, consumido no processo produtivo. Dentre os produtos em processo está incluído o produto resultante caracterizado como retorno de produção. Um produto em processo é caracterizado como retorno de produção quando é resultante de uma fase de produção e é destinado, rotineira e exclusivamente, a uma fase de produção anterior à qual o mesmo foi gerado. No “retorno de produção”, o produto retorna (é consumido) a uma fase de produção anterior à qual ele foi gerado. Isso é uma excepcionalidade, pois o normal é o produto em processo ser consumido em uma 27 fase de produção posterior à qual ele foi gerado, e acontece, portanto, em poucos processos produtivos. 04 – Produto acabado: o produto que possua as seguintes características, cumulativamente: oriundo do processo produtivo; produto final resultante do objeto da atividade econômica do contribuinte; e pronto para ser comercializado; 05 – Subproduto: o produto que possua as seguintes características, cumulativamente: oriundo do processo produtivo e não é objeto da produção principal do estabelecimento; tem aproveitamento econômico; não se enquadre no conceito de produto em processo (Tipo 03) ou de produto acabado (Tipo 04); 06 – Produto intermediário: aquele que, embora não se integrando ao novo produto, for consumido no processo de industrialização. Como se vê, trata-se de classificação extremamente relevante para a apuração do ICMS e do IPI, influenciando, ainda, o cálculo do crédito do imposto e o controle do inventário/estoque do contribuinte. Assim, deve ser acompanhado por profissional qualificado que possa reduzir riscos ao proceder com a classificação do tipo do item ou ter expertise para revisá-la, se necessário. Outro registro de preenchimento sensível é o Registro 0210 – “Consumo específico padronizado”, no qual se espera seja inserida uma relação dos insumos/componentes necessários para se produzir um determinado produto. Ou seja, deve ser informado o consumo específico padronizado esperado e a perda normal percentual esperada de um insumo/componente para se produzir umaunidade de produto resultante, segundo as técnicas de produção de sua atividade e o projeto do produto resultante, referentes aos produtos que foram fabricados pelo próprio estabelecimento ou por terceiro. Desde janeiro de 2018, a obrigatoriedade da apresentação deste registro passou a ficar a critério de cada UF, caso exista produção e consumo nos Registros K230/K235 e K250/K255. Como essas informações acabam por revelar o segredo de produção de uma empresa, esse registro tem sido intensamente questionado judicialmente. Muitas UFs, como São Paulo, dispensam esse registro (ver Anexo I da Portaria CAT nº 147/2009 e Portaria CAT nº 7/2018). Bloco C/D No Bloco C – “Documentos Fiscais I – Mercadorias (ICMS/IPI)” devem constar as notas fiscais de operações mercantis, contemplando tanto as notas fiscais de emissão própria, como as de emissão terceiros. De outro lado, no Bloco D – “Documentos Fiscais II – Serviços (ICMS)” devem ser escriturados o recebimento ou a emissão de documentos fiscais que englobam prestações de serviços de transporte intermunicipal e interestadual e de comunicação, de competência estadual. 28 Assim, trata-se de um bloco muito importante do Sped fiscal, pois consta todas as informações de entradas e saídas de mercadorias, refletindo o conteúdo dos documentos fiscais eletrônicos. Especial relevância assumem dois registros: C100 – “Notas fiscais” e C170 – “Itens dos documentos”, que são amplamente utilizados por empresas de auditoria e profissionais da área fiscal que querem conhecer e/ou revisar as operações de seus clientes. Isso porque, no registro C100, há informações que individualizam o documento fiscal, como tipo de operação, informações sobre frete e pagamento, dados sobre o cálculo dos tributos destacados etc. De outro lado, no registro C170 devem ser discriminados os itens da nota fiscal (mercadorias e/ou serviços constantes em notas conjugadas), inclusive em operações de entrada de mercadorias acompanhadas de Nota Fiscal eletrônica (NF-e) de emissão de terceiros, de modo que é possível encontrar nele dados relevantes como código do item, CST, CFOP etc. Bloco E Nesse bloco, deve o contribuinte informar informações de apuração do ICMS, em relação às operações próprias (E110), sujeitas ao regime de substituição tributária (E210) e diferencial de alíquota (E310); bem como da apuração do IPI (E520). Nesse bloco também deverão ser informados todos os benefícios fiscais e ajustes contemplados pela legislação que justifiquem um recolhimento do imposto diferenciado. Ou ainda, caso o cálculo tenha sido afetado por uma situação específica fora da legislação, como uma decisão judicial, deverá ser informado como informações adicionais dos ajustes da apuração. Bloco G Bloco de registros dos dados relativos ao CIAP – Controle de Crédito do Ativo Permanente cujo objetivo é demonstrar o cálculo da parcela do crédito de ICMS apropriada no mês, decorrente da entrada de mercadorias destinadas ao ativo imobilizado4, conforme previsto no art. 20, § 5º, da Lei Complementar nº 875. O controle dessa sistemática é feito, principalmente, no registro G110, no qual se inserem informações como : (i) saldo de ICMS do CIAP; (ii) o somatório das parcelas de ICMS passíveis de apropriação de cada bem ou componente, inclusive aqueles que foram escriturados no CIAP em período anterior; (iii) o valor do índice de participação do somatório do valor das saídas tributadas e saídas para exportação 4 Embora a legislação tributária não disponha de unm Pronunciamento CPC nº 27 – “Ativo Imobilizado” - expectativa de aumento da vida útil do próprio equipamento; - conexão exclusiva da parte ou peça ao equipamento/maquinário; - registro da peça como “ativo imobilizado – peças e partes de reparo”. 5 Conforme referido dispositivo, as regras de apropriação do crédito de ativo imobilizado deve seguir algumas regras específicas, como: (i) apropriação em 1/48, sendo a primeira fração apropriada no mês em que ocorrer a entrada do bem no estabelecimento; (ii) apenas sobre a proporção de saídas tributáveis, saídas de papel destinado à impressão de livros jornais e periódicos ou destinadas ao exterior; (iii) permitido o creditamento até a data da alienação; e (iv) ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do bem no estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado. 29 no valor total das saídas; (iv) o valor de ICMS a ser apropriado como crédito e (v) o valor de outras parcelas de ICMS a ser apropriado. Também é importante o registro G125, em que são informadas as movimentações de bens ou componentes no CIAP e a apropriação de parcelas de créditos de ICMS do Ativo Imobilizado (entrada de bem ou componente no CIAP, saída de bem ou componente do CIAP, baixa de bem ou componente do CIAP e entrada no CIAP pela conclusão de bem que estava sendo construído pelo contribuinte). Bloco H Este bloco destina-se a informar o inventário físico do estabelecimento. Assim, espera-se a inserção, em bases anuais e, em regra, em dezembro de cada exercício, de informações sobre o inventário físico da empresa, bem como quantidade, valor e código do item6. No Registro H010 – “Inventário”, devem ser fornecidas informações sobre o item (unidade, quantidade, valor unitário, código, valor para fins de IR etc.), inclusive informações sobre a posse do item, classificando-a em: 0 - Item de propriedade do informante e em seu poder; 1 - Item de propriedade do informante em posse de 3ºs; ou 2 - Item de propriedade de terceiros em posse do informante. Trata-se bloco da EFD ICMS IPI, para o qual muitas empresas não têm mantido a escrituração adequada, sujeitando-se a uma série de multas. Bloco K O Bloco K nada mais é que a versão digitalizada - e mais complexa - do antigo livro Registro de Controle da Produção e do Estoque - RCPE, modelo 3, que, criado no Convênio s/nº de 1970, “destina- se à escrituração dos documentos fiscais e dos documentos de uso interno do estabelecimento, correspondentes às entradas e às saídas, à produção, bem como às quantidades referentes aos estoques de mercadorias”. Ele exige, por exemplo, informações sobre as mercadorias produzidas ou adquiridas para uso na produção do estabelecimento, com os dados de classificação fiscal, medidas etc., além de documento fiscal e/ou documento de uso interno do estabelecimento, correspondente a cada operação, e informações referentes a operações de entradas e saídas das mercadorias do estoque do contribuinte, bem como saldo das quantidades em estoque. Tais informações são exatamente aquelas que o Bloco K, em conjunto com as informações do Registro 0200, busca conferir ao Fisco. Nele são exigidas informações necessárias para uma compreensão holística do processo produtivo da empresa. Em geral, são exigidas informações sobre o estoque escriturado (K200), refletindo a quantidade 6 As pessoas jurídicas do segmento de construção civil dispensadas de apresentar a Escrituração Fiscal Digital (EFD) pelos estados e obrigadas a escriturar o livro Registro de Inventário devem apresentá-lo na Escrituração Contábil Digital, como um livro auxiliar, conforme art. 3º, parágrafo 5º, da IN RFB 1420/2013, com a nova redação da IN RFB 1486/2014. 30 existente na data final do período de apuração informado, derivado dos apontamentos de estoque inicial, entrada, produção, consumo, saída, movimentação interna, alimentadas pela detalhada descrição das mercadorias (0200), e eventuais ajustes (K280). Informações sobre os itens produzidos pelo contribuinte (K230) e os insumos por ele utilizados em sua produção industrial (K235), bem como sobre itens produzidos e insumos consumidos em industrializações de terceiros (K250/K255), ou, ainda, outras formas de industrialização como desmontagem (K210/215) ou restauração/reprocessamento (K260/K265). O Bloco K, que não dispensa o bloco H (Inventário), tem a sua obrigatoriedade e cronograma de implementação disciplinadospelo Ajuste Sinief nº 25/2016. Segundo o referido ato normativo, estão obrigados a entrega do Bloco K os estabelecimentos industriais (art. 4º do RIPI/2010), ou a eles equiparados (atacadista), que atuem atividades classificadas sobre códigos CNAE específicos (primário ou secundário). A cronograma de implementação – que pretende estar finalizado até o ano de 2022, leva em consideração fatores como CNAE e faturamento, tendo sido estipulado: COMPETÊNCIA INICIAL INFORMAÇÃO CNAE 01/01/2017 K200 e K280 Divisões 10 a 32. 01/01/2019 Bloco K completo Divisões 11 e 12 (bebidas e fumo). Grupos 291, 292 e 293 (automóveis, camionetas, utilitários, caminhões, ônibus, cabines, carroceiras, reboques). 01/01/2020 Bloco K completo Divisões 27 e 30 (máquinas e outros equipamentos de transporte). 01/01/2021 Bloco K completo Divisões 23 (produtos de minerais não metálicos). Grupos 294 e 295 (peças e acessórios automotivos e recuperação de motores para veículos). 01/01/2020 Bloco K completo Demais divisões: 10, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 28, 31 e 32. Por fim, merece um cuidado especial o preenchimento do registro K200 – “Estoque escriturado”, pois nele é necessário informar o estoque final escriturado do período por tipo de estoque (mercadoria para revenda; matéria-prima; embalagem; produtos em processo; produto acabado; subproduto; e outros insumos), bem como o tipo de propriedade (propriedade do informante e posse do informante; propriedade do informante e posse de terceiro; ou propriedade de terceiro e posse do informante). 31 Bloco 1 Bloco de informações adicionais, que solicita informações úteis ou necessárias à apuração do ICMS e que não encontram outro local específico para serem informadas, como dados sobre a exportação, controle extra-apuração de créditos de ICMS, transações que foram pagas com cartões de crédito, informações sobre valores agregados, informações sobre volume de vendas de combustíveis, nota fiscal de energia elétrica, dentre outros. Bloco B Por fim, o Bloco B é destinado à apuração do Imposto sobre Serviços, de competência municipal e, em razão disso, é obrigatório apenas no Distrito Federal, que detém de forma cumulativa a competência dos tributos estaduais e dos municipais. Os estabelecimentos que não estejam domiciliados no Distrito Federal deverão informar apenas os registros B001 e B990 (abertura – bloco sem dados informados e fechamento). AULA VIRTUAL 4 https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Compliance%20Fiscal/Compliance%20Fiscal%20-%20Aula%2004.html 32 © FIPECAFI - Todos os direitos reservados. A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais, marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons, vídeos e/ou aplicativos exibidos nesse volume são protegidos pelos direitos autorais, não sendo permitidas modificações, reproduções, transmissões, cópias, distribuições ou quaisquer outras formas de utilização para fins comerciais ou educacionais sem o consentimento prévio e formal da FIPECAFI.
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