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COLEÇÃO MANUAIS DA F A R M Á C I A COORDENADOR A DA COLEÇÀ O ANDRÉA MENDONÇA GUSMÀO CUNE F A R M A C O L O G I A AUTORE S FABRÍCI O S O U Z A S I L V A P E D R O M O D E S T O N A S C I M E N T O M E N E Z E S M A T H E U S S A N T O S D E SÁ e d i t o r a S A N A R COORDENADOR A DA COLEÇà O I l i I NDREA MENDONÇA GUSMÃO CUNHA armacêutic a Bioquímic a ( U F B A ) , e s t r e e m Ciência s Médicas / i r o i o g i a (U N I CAM P) , D o u t o r a e m iência s Médicas / V i r o l o g i a U N I C A M P ) , P h D e m V i r o l o g i a o l e c u l a r ( F I O C R U Z ) . P r o f e s s o r a d j u n t a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d a a h i a ( U F B A ) , d a E s c o l a B a h i a n a d e e d i c i n a e Saúde Públic a ( E B M S P ) e a F a c u l d a d e d e T e c n o l o g i a e Ciências . AUTOR ^ C í FABRÍCI O SOUZA S Farmacêutic o ( U E F S ) , D o u t o r e m B i o t e c n o l o g i a ( U E F S ) . P r o f e s s o r p e r m a n e n t e d o M e s t r a d o e m R e c u r s o s N a t u r a i s d o Semiárid o e d a s d i s c i p l i n a s M o r f o l o g i a , F i s i o l o g i a H u m a n a e F a r m a c o l o g i a d o c u r s o d e Farmáci a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o V a l e d o São F r a n c i s c o . COLEÇÃO MANUAI S DA F A R M Á C I A FARM ACOLOGI A COORDENADORA AN DRÉ A M EN DON ÇA GU SM à O AUTORES FABRÍCI O S O U Z A S I L V A P E D R O M O D E S T O N A S C I M E N T O M E N E Z E S M A T H E U S S A N T O S D E SÁ editor a SANAR %l 2016 ©Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sanar Ltda. pela Lei n° 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou outros), essas proibições apli- cam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora. Título | Farmacologia Editor-Chefe | Leandro Pinto Lima Editor | Luiz Morena Projeto gráfico | Bianca Vatiele Ribeiro Diagramação| Scheilla Azevedo Capa | Rafael Bacellar Scheilla Azevedo Revisão | Gracielle de Barros Jesus Conselho Editorial | Caio Vinícius Menezes Nunes Itaciara Lazorra Nunes Paulo Costa Lima Sandra de Quadros Uzêda Manuais de farmácia: farmacologia/ M294 Coordenação de Andréa Mendonça Gusmão; Autores, Fabrício Souza Silva ... [et ai.]. - Salvador: SANAR, 2016. 240 p.: II.; 16x23 cm. ISBN 978-85-67806-57-0 1. Farmácia. 2. Farmacologia. 1. Gusmão, Andréa Mendonça. II. Silva, Fabrício Souza. III.Título: Farmacologia. Silvio José Albergaria da Silva Ficha Catalográfica: Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513 Editora Sanar Ltda. Av. Prof. Magalhães Neto, 1856 - Pituba, Cond. Ed.TKTower,sl.1403. CEP: 41810-012 - Salvador - BA Telefone: 71.3497-7689 atendimento@editorasanar.com.br www.editorasanar.com.br mailto:atendimento@editorasanar.com.br http://www.editorasanar.com.br | AUTORES ANDRÉA MENDONÇA GUSMÃO CUNHA i , Coordenadora Farmacêut ica Bioquímica formada pela Universidade Federal da Bahia (1996/1998), com Mestrado (2001) e Doutorado (2005) em Ciências Médicas na área de Virologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Pós-doutorado (2009) em Virologia pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Possui experiência na área de Mi- crobiologia e Biologia molecular, com ênfase em Virologia e diagnóstico molecular de patógenos. Atualmente é Professora Adjunta da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) e da Faculdade de Tecnologia e Ciências. Consultora e avaliadora externa de projetos de pesquisa da ANLIS/Argentina e Consultora Ad Hoc PICT/SUS. | FABRÍCI O SOUZA SILVA Farmacêutico formado pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2004), com doutorado em Biotecnologia (2012) pela mesma instituição, com tese desenvolvida na linha de pesquisa Atividades biológicas de produtos naturais, recombinantes e sintéticos. Possui experiência na área de Farmacognosia, com ênfase em Farmacolo- gia de Produtos Naturais, e desenvolve pesquisa envolvendo validação experimen- tal do uso popular de plantas medicinais, farmacologia do músculo liso e modelos experimentais de asma, diarreia e dismenorreia. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Vale do São Francisco nos cursos de graduação em Farmácia e Mestrado em Recursos Naturais do Semiárido (Área de concentração: Fisiologia e Farmacologia) 5 PEDRO MODESTO NASCIMENTO MENEZES Farmacêutico formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (2014) e mestrando pela mesma instituição, atuando na área de farmacologia durante a graduação. Possui experiência na área de farmacologia e fisiologia, com ênfase no estudo da ação de produtos naturais sobre músculo liso, asma, expectoração, tos- se, febre e inflamação. Atualmente é mestrando em Recursos Naturais do Semiárido (UNIVASF) e membro do Laboratório de Farmacologia Experimental (LAFEX-UNI- VASF) desde 2010. Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal da Bahia, Mestrado e Dou- torado pelo Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz/Fundação Oswaldo Cruz trabalhan- do com Farmacologia de Produtos Naturais. Tem experiência em Farmácia Clínica e Assistência Farmacêutica. Atualmente é professor adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e membro de grupo de pesquisa "Núcleo de Estudos em Saúde Humana e Ambiental (NESHA)", orientando estudantes de iniciação científi- ca no âmbito da farmacologia de produtos naturais. Possui experiência docente em farmacologia básica e clínica e toxicologia. Atua no Ambulatório Professor Francisco Magalhães Neto (UFBA), como Farmacêutico da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), desenvolvendo atividades em Atenção e Assistência Farmacêutica. MATHEUS SANTOS DE SÁ | APRESENTAÇÃO VOLUME 1 - FARMACOLOGI A i A coleção Manuais da Farmáci a é o melhor e mais completo conjunto de obras voltado para a capacitação e aprovação dos farmacêuticos em provas e concur- sos públicos em todo o Brasil. Elaborada a partir de uma metodologia que julga- mos ser a mais apropriada ao estudo, contemplamos os volumes da coleção com os seguintes recursos: V Teoria esquematizada de todos os assuntos; V Questões comentadas alternativa por alternativa (incluindo as falsas); V Quadros, tabelas e esquemas didáticos; V Destaque em verde para as palavras-chave; V Questões categorizadas por grau de dificuldade, seguindo o seguinte mo- delo: FÁCIL • o o INTERMEDIÁRIO • • o DIFÍCIL Elaborado por professores com sólida formação académica em farmácia, a pre- sente obra é composta por um conjunto de elementos didáticos que em nossa avaliação otimizam o estudo, contribuindo assim para a obtenção de altas per- formances em provas e concursos. LEANDRO PINTO LIMA Editor | SUMÁRIO FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA .^flBSITTffTRHi 1. Introduçã o 1 4 2. Farmacocinétic a 1 4 1. Vias de administração 1 4 2. Absorção 1 6 3. Metabolismo dos fármacos 18 4. Distribuição 1 9 5. Eliminação dos fármacos 22 3. Farmacodinâmic a 2 3 1. Ligação fármaco-receptor 24 2. Receptores farmacológicos 24 3. Agonismo total, parcial, inverso e antagonismo 25 4. Famílias de receptores 29 5. Receptores acoplados a proteína G 30 6. Segundos mensageiros 31 Referência s 4 1 FARMACOLOGI A PO SISTEMA NERVOSO CENTRAL ^^^EBBBHBI 1. Introduçã o 4 4 2. Neurotransmissã o no sistem a nervoso centra l 45 3. Fármaco s antidepressivo s 48 1. Inibidores da monoamino-oxidase (imao) 49 2. Antidepressivos tricíclicos (adt) 52 3. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (isrs) 54 4. Fármaco s antipsicótico s 56 1. Antipsicóticos típicos 56 2. Antipsicóticos atípicos 58 3. Estabilizadoresde humor 60 5. Fármaco s ansiolíticos , sedativo s e hipnótico s 61 1. Benzodiazepínicos 63 2. Barbitúricos 65 f 3. Compostos "z". 66 6. Tratamento s dos distúrbio s degenerativo s do snc 67 1. Farmacoterapia da doença de parkinson 67 2. Farmacoterapia da doença de alzheimer 69 7. Fármaco s anticonvuls i vantes 70 8. Anestésico s gerais 74 1. Anestésicos intravenosos 75 2. Anestésicos inalatórios 76 Referência s 91 FARMACOLOGI A PO SISTEMA NERVOSO A U T Ô N ^ n j /̂ filTRFFiTW 1. Introduçã o 95 2. Sistema nervoso autónom o simpátic o 97 1. Agonistas adrenérgicos 100 2. Antagonistas adrenérgicos 102 3. Sistema nervoso autónom o parassimpátic o 107 1. Gonistas muscarínicos 109 2. Antagonistas muscarínicos 110 3. Bloqueadores neuromuscular e ganglionar 112 4. Anticolinesterásicos reversíveis e irreversíveis 114 Referência s 127 ANTMNFLAMATÓRIO S E ANALGÉSICO S ^ W f B f f f f f f W i 1. Introduçã o 1 2 9 2. Ant i-i nfla matório s 1 3 0 1. Anti-inflamatórios esteroides 133 2. Anti-inflamatórios não esteroides (aines) 137 3. Dor e analgésico s centrai s (opioides ) 1 4 3 1. Mecanismo neural da dor 143 2. Opioides 144 Referência s • 1 5 8 FARMACOLOGI A DO SISTEMA CARDIOVASCULAR ^̂ • RffSSRBI 1. Introduçã o 1 6 0 2. Função cardiovascular : mecanismo s e control e 160 3. Fármaco s anti-hipertensivo s 167 1. Fármacos simpaticolíticos 169 2. Bloqueadores dos canais para ca2+ (bcc) 170 3. Vasodilatadores diretos 172 4. Fármacos que afetam o sistema renina-angiotensina-aldosterona 174 5. Diuréticos 179 4. Farmacoterpi a da angina 183 1. Nitratos orgânicos 185 2. Antagonistas (3-adrenérgicos 185 3. Bloqueadores dos canais para ca2+ 186 4. Outros fármacos antianginosos 186 5. Fármacos que reduzem os riscos de infarto do miocárdio 187 5. Fármaco s antiarrítmico s 188 1. Bloqueadores dos canais para Na+ 189 2. Antagonistas dos receptores P-adrenérgicos 189 3. Bloqueadores dos canais para Ca2+ 190 6. Farmacoterapi a da insuficiênci a cardíaca 190 1. Terapêutica da insuficiência cardíaca crónica 191 2. Giicosídeos cardíacos 191 Referência s 2 0 4 ANTIBÓTICOS à̂ááÊÊÊESSSSSEÊk 1. Introduçã o 208 2. Classificaçã o dos antibiótico s 209 3. Bases moleculare s da ação dos antibiótico s 211 1. Fármacos que interferem na síntese ou na ação do folato 211 2. Fármacos que inibem a síntese da parede celular bacteriana 213 3. Agentes que atuam diretamente sobre a membrana celular do microrganismo 218 4. Fármacos inibidores da síntese protéica bacteriana 219 5. Fármacos afetam o metabolismo bacteriano dos ácidos nucleicos 221 4. Resistênci a bacterian a aos antibiótico s 225 5. Efeitos colaterai s dos antibiótico s 227 Referência s 237 i i CAPÍTULO 1 Farmacocinétic a e Farmacodinâmic a O que você irá ver nesse capítulo : Pedro Modest o Nasciment o Menezes Fabríci o Souza Silva Int rodução Farmacocinét ica Vias de administ ração Absorção Metabolismo dos fármacos Dist ribuição Eliminação dos fármacos Farmacodinâmica Ligação fármaco-receptor (alterar "droga" para " fármaco" no texto do capítulo) Receptores farmacológicos Agonismo total, parcial, inverso e antago- nismo (alterar "antagonista" para "antagonis- mo" no texto do capítulo) Famílias de receptores Receptores acoplados à proteína G Segundos mensageiros © Quadro Resumo © Quadro Esquemát ico © Questões Comentadas j Objetivo s de aprendizage m • Definir a Farmacocinét ica; • Entender as vias de administ ração, absorção, dist ribuição, metabo- lismo e eliminação dos fármacos; • Analisar as característ icas que influenciam nos processos farmaco- cinét icos; 13 CAPÍTULO 1 • Definir a Farmacodinâmica; • Entender a relação entre os fármacos e o receptor; • Analisar as característ icas dos receptores e dos fármacos, além do processo de t ransdução de sinal. 1 - I NTRODUÇÃO Farmacologia, segundo a etimologia da palavra, é a ciência que estuda os fármacos e seus efeitos, tendo como principais ramos a farmacocinét ic a e a farmacodinâmica. A primeira está relacionada com os estudos da ab- sorção, dist ribuição, metabolismo e eliminação dos fármacos nos animais. Já a farmacodinâmic a relaciona os fármacos nos seus locais de ação e a amplitude dos seus efeitos. 2 - FARM ACOCI NÉTI CA A farmacocinét ica é responsável por analisar o trajeto percorrido pelo fármaco, desde sua absorçã o até sua eliminação , passando pela distri - buiçã o e biot ransformação ou metabolism o em alguns órgãos chave, in- testino, f ígado e pulmão. Além disso, algumas característ icas do fármaco e do organismo irão fornecer informações para o conhecimento da farma- cocinét ica e, consequentemente, farmacodinâmica (Quadro 1). 2.1 - Vias de administraçã o Os fármacos novos são planejados e testados em uma forma posológica que é administrada por via específica. As vias de administraçã o são esco- lhidas para que o fármaco seja capaz de atravessar as barreiras apresenta- das pelo corpo, aproveitando-se das moléculas de transporte e de outros mecanismos que permitem a absorção dos fármacos. Quanto mais rápida a absorção, menor o tempo (T) para alcançar a con- centração máxima no plasma (C) que, por conseguinte, terá uma queda na curva pelos outros mecanismos farmacocinét icos (Figura 1). 14 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Figur a 1. Representaçã o gráfic a do perfi l farmacocinétic o das principai s vias de administraçã o Tempo (T) Fonte: próprio autor. Cada via de administ ração tem característ icas peculiares em relação a far- macocinét ica, apresentando, portanto, vantagens e desvantagem distin- tas (Quadro 1). Quadro 1. Característica s das vias de administraçã o utilizada s com maior frequência . Via de administração Vantagens Desvantagens Intravenosa (IV) Efeitos imediatos, pois evita absorção; Biodisponibilidade de 100%; Extensa utilização em emergências; Permite titulação da dose; Adequada para grandes volumes. Aumenta os riscos de efeitos adversos; Administração lenta; Inadequada para substân- cias oleosas; Irreversível. Efeitos rápidos para soluções aquosas e lentas para oleosas; Alta biodisponibilidade; Mais segura do que a intravenosa; Dor, desconforto, lesão Efeitos rápidos para soluções aquosas e lentas para oleosas; Alta biodisponibilidade; Mais segura do que a intravenosa; celular; Não produz efeito ime- diato; Pode alterar exames labora- Intramuscular (IM) Efeitos rápidos para soluções aquosas e lentas para oleosas; Alta biodisponibilidade; Mais segura do que a intravenosa; celular; Não produz efeito ime- diato; Pode alterar exames labora- Pode-se utilizar volumes moderados e toriais (creatinocinase); veículos oleosos. Ocorrência de abscessos e reação alérgica. 15 CAPÍTULO 1 Via de administ raçã o Vantagen s Desvantagen s Subcutânea (SC) Efeitos rápidos para soluções aquosas e lentas para oleosas; Absorção lenta e constante (implantes); Adequada para algumas suspensões (insulina); Autoadministração Dor e necrose; Administração de peque- nos volumes Oral (OR) Simples, de baixo custo e indolor; Autoadministração; Mais segura; Possibilidade de remoção do fármaco. Elevada extensão do meta- bolismo de 1 a passagem; Irritação das mucosas; Absorção variável, biodis- ponibilidade errática ou parcial. Inalatória (IN) Grande área de absorção; Efeitos rápidos; Utilizada para fármacos voláteis; Autoadministração. Dificuldade para regular a dose; Irritação do epitélio pul- monar; Administração e absorção errática. 2.2 - Absorçã o A absorção de um fármaco é definida como sua passagem do local de administ ração, atravessando às membranas biológicas, com destino a corrente sanguínea, considerando a amplitude dessa t ransferência. Com esse entendimento, vários fatores influenciam diretamente a absorção de um fármaco, conforme mostrado no Quadro2, sendo necessário um de- terminado grau de hidrossolubilidad e do fármaco para uma dissolução completa. A partir disso, é importante observar as característ icas químicas do fármaco (pKa, grau de ionização ) e o pH do meio no qual foi admi- nistrado, além de que fatores como massa molar reduzida pode facilitar a difusão pelos tecidos. Quadro 2. Característica s que influencia m na absorçã o de uma droga . Característ ica s do fármac o Característ ica s do meio fisiológic o Hidrossolubilidade PH Natureza química, pKa e potencial de ionização Integridade e espessura da barreira mucosa lipídica Coeficiente de partição Grau de vascularização Massa molar Dependência de transportadores de membrana 16 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA O pH do meio e grau de vascularização dos órgãos têm relação direta com o processo de absorção. O estômago pode ser considerado de pouca importância, pois não tem uma mucosa adaptada para absorção e pos- sui baixo grau de vascularização, apesar do pH entre 1 e 2,5 facilitar a ab- sorção de fármacos de caráter ácido. Por outro lado, o intestino delgado possui alto grau de vascularização, além de elevada superfície de contato, permitindo a absorção da maioria dos fármacos ácidos ou básicos, apesar do pH entre 5 e 6 no duodeno e 8 na porção distai do íleo favorecer a ab- sorção de fármacos de caráter básico. No processo de absorção, deve-se considerar como os fármacos atra- vessam as membranas biológicas e, nesse sentido, a difusão passiva, difu- são facilitada e transporte ativo, são importantes por serem as principais formas de transporte dos fármacos (Quaro 3). Quadro 3. Formas de transport e através das membrana s na absorçã o de fármacos . Difusão passiva Difusão facilitada Transporte ativo Fármaco se desloca da maior para a menor concentração, a favor do gradiente de concen- tração Fármaco se desloca da maior para me- nor concentração, em maior velocidade e não proporcional ao gradiente de concentração Fármaco se desloca da maior concentração para a menor, contra o gradiente de concentração Não há gasto de energia Reserva energética para manter o sistema Há necessidade de energia via ATP Não apresenta seletivi- dade Transportador facilita a passagem Presença de transportador Não pode ser saturada Pode ser saturado Pode ser saturado Não envolve inibição competitiva Pode existir inibição competitiva Ocorrência de inibição competitiva Hidrossolubilidade, li- possolubilidade e porção ionizada do fármaco são de extrema importância Transportador de natureza desconhe- cida Transportador específico para uma substância Considerando uma administ ração oral ou enteral, o transporte de um fármaco ocorre através das membranas e o tempo de esvaziament o gástric o e débit o sanguíne o são importantes. O esvaziamento gást rico determinará o tempo que o medicamento permanecerá no estômago, in- fluenciando na absorção e velocidade de chegada do medicamento ao intestino; e o débito sanguíneo se relaciona com a capacidade vascular do órgão, demandando maior tempo de contato com o fármaco. 17 CAPÍTULO 1 2.3 - Metabolism o dos fármaco s • O metabolismo é definido como uma mudança estrutural em determi- nada molécula para torná-la mais suscept ível a excreção. Ocorre em duas fases no tecido hepát ico, sendo a primeir a fase (fase I) responsável por transformar essa molécula ou fármaco por meio de reações de oxidação, redução, hidrólise, entre outras, tornando-o mais solúvel, e a fase doi s (fase II) que conjuga a molécula ou fármaco com um grupo funcional ina- tivo (por exemplo, ácido glicurônico). Esses eventos antecedem a distri - buiçã o do fármaco para todo o organismo em caso de administ ração oral. O metabolismo de um fármaco começa na mucosa intestinal, passa pelo f ígado e termina nos pulmões. No f ígado é onde ocorre o fenómeno conhecido como efeit o de primeir a passage m hepát ico. Com frequên- cia, os fármacos administrados por via oral são absorvidos em sua forma inalterada pelo trato gastrintestinal (TGI) e transportados até o f ígado através da circulação porta, permitindo ao tecido hepát ico que promo- va seu metabolismo. É preciso considerar o efeito de primeira passagem quando se planejam esquemas posológicos, pois um metabolismo hepá- tico extenso pode influenciar na quantidade de fármaco que irá alcançar o tecido-alvo. Isso resultará numa redução na concent ração plasmát ica do fármaco circulante. Os sistemas enzimát icos hepát icos nas reações da fase I do metabolis- mo estão localizados no retículo endoplasmát ico, enquanto que as enzi- mas de fase II estão localizados no citosol, sendo as isoformas do citocro - mo P450 (CYP) e outras transferases as mais importantes nesse processo (Quadro 4). A nomenclatura dessas enzimas se organiza com o nome CYP sendo a base, seguida de um número para designar a família, uma letra para designar a subfamília e outro número para representar a isoforma específica. Quadro 4. Enzimas e reaçõe s que metaboliza m fármaco s no fígado . Enzimas Reações FASE I Citocromo P450 (CYP ou P450) Oxidação do C ou 0 Monooxigenase contento flavina (FMO) Oxidação do N, S ou P Hidrolases do epóxido (mEH, sEH) Hidrólise de epóxidos 18 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Enzimas Reações FASE II Sulfotransferase (SULT) Adição de sulfato UDP-glicuronosiltransferase (UGT) Adição de ácido glicurônico Glutationa-S-transferase (GST) Adição de glutationa N-acetiltransferase (NAT) Adição de acetila Metiltransferase (MT) Adição de metila As enzimas do CYP estão classificadas numa superfamília de enzimas que contêm o heme como transportador de 02 para participar dos pro- cessos de oxidação com a ajuda do NADPH liberando o H+. Com isso, o metabolismo consome uma molécula de oxigénio molecular, produzindo um substrato oxidado e uma molécula de água como subproduto, porém o processo é "desproporcional" e pode gerar O2" (oxigénio ativado) que é estabilizado pelo antixodante natural, superóxido dismutase. A importância das enzimas do CYP tem relação direta com as intera- ções farmacocinét icas decorrentes da est imulação ou supressão da sua atividade. Logo, é necessário conhecer qual CYP irá metabolizar o fármaco e evitar administ ração com outros fármacos que atuem na mesma CYP. Por exemplo, o cetoconazol é metabolizado pela CYP3A4 e atua como po- tente inibidor e uma administ ração simultânea de fármacos que inibem a protease virai do HIV podem acabar reduzindo a depuração do antiviral, aumentando sua concent ração plasmát ica e favorecendo o aparecimento de efeitos adversos. Com a formação dos metabólitos há um fenómeno importante chama- do circulaçã o entero-hepática , que possibilita um sistema de transporte presente na membrana canalicular do hepatócito secretando ativamente os fármacos e metabólitos diretamente na luz intestinal através da bile. A membrana intestinal permite a reabsorção do fármaco direto para a cor- rente sanguínea. Isso pode prolongar de maneira significativa a presença de um fármaco e seus efeitos no organismo antes de sua completa elimi - nação . 2.4 - Distribuiçã o Após o processamento do fármaco há dist ribuição pelo organismo, que representa biodisponibilidade , ou seja, fração ou percentual de fár- maco que após administrado atinge a circulação geral, podendo deter- 19 CAPÍTULO 1 minar o valor de concent ração plasmát ica, suas taxas máximas e o tempo de efeito pós-administ ração do fármaco. Na Figura 2 é possível visualizar, resumidamente, as informações descritas. Figur a 2. Representaçã o ilustrativ a da absorção , biotransformaçã o e distribuiçã o de uma dro- ga/ fármaco . Droga/ Fármaco O Estômago Circulaçã o pulmona r f Pulmões ^ | Luz intestinal| ***** • aP̂ JÊ Circulaçã o C o r a Ç a ° sistâmic a Fonte: próprio autor. Para que atinja completamente o organismo o fármaco é dist ribuído através da corrente sanguínea por todoo corpo. A partir disso pode-se obter o volum e de distribuiçã o (Vd) de um fármaco, definido o como volume de líquido necessário para conter a quantidade total do fármaco absorvido no corpo (Eq. 1), quando considerado o organismo como um compartimento único. v = Pose d [Fármaco] Plasma 1 q # ' A proporção de fármaco captada pelo organismo é maior quando se distribui amplamente pelos tecidos corporais. Por conseguinte, o volume de dist ribuição é relativamente baixo para drogas que permanecem no compartimento vascular e relativamente alto para aqueles que sofrem ampla dist ribuição nos tecidos e outros compartimentos não-vasculares. As hemácias e proteínas (albumina, lipoproteínas, etc.) têm a capacida- de de se ligar aos fármacos ou outras substâncias exógenas e endógenas, 20 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA transportando-as. As possibilidades de transporte são inúmeras e têm in- fluência determinante do seu caráter ácido-base (Quadro 5), mesmo assim a albumina tem grande importância por ser a mais abundante no plasma, compondo cerca de 50 a 60% das proteínas plasmát icas circulantes. Quadro 5. Proteína s plasmática s e suas características . Fármaco Transportadores Caract er íst icas Exemplos Ácido Albumina Fixação reversível; Afinidade elevada; Poucos sítios de ligação Pode saturar; Ocorrem interações. Anti-inflamatórios não esteroi- dais Corticosteroides; Diuréticos; Hipoglicemiantes orais; Barbitúricos. Básico Lipoproteínas Gamaglobulinas a ^glicoproteína ácida Fixação reversível; Afinidade fraca; Elevados sítios de ligação; Suturação impro- vável; Raras Clorpromazina, Imipramina, metadona, propranolol e tetraci- clina (lipoproteínas e gamaglo- bulinas); Imipramina, lidocaína, meto- prolol, prozasina, propranolol, timolol e verapamil. Na grande circulação o fármaco chega aos seus alvos, os tecidos. Essa dis- t ribuição aos tecidos é apenas uma porção da concent ração administrada da substância. Logo, é necessário observar, no Quadro 6, parâmetros que podem influenciar na dist ribuição dos fármacos. Quadro 6. Fatores que podem influencia r na distribuiçã o de uma droga . Fixação proteica da droga Características físico-químicas do composto Irrigação sanguínea dos órgãos Afinidade pelos tecidos Os fatores abordados são os mais importantes para uma análise do perfil de dist ribuição de uma substância com interesse terapêut ico. Por exemplo, fármacos que se ligam fortemente às proteínas plasmát icas (como exemplo a albumina) têm taxa de dist ribuição limitada e se encon- tram, normalmente, em nível circulante junto a essas proteínas. As carac- teríst icas físico-químicas são importantes, pois devem existir parâmetros adequados de lipossolubilidade e hidrossolubilidade já que o fármaco precisa se difundir e atravessar a bicamada lipídica. Quando se considera a 21 CAPÍTULO 1 irrigação sanguínea dos órgãos, observa-se que uma perfusão sanguínea maior, por exemplo, pulmões, coração e fígado, comparado a outros teci- dos como pele, músculos esquelét icos e gorduras permitem uma maior dist ribuição e velocidade de perfusão tissular. Além disso, existe o tropismo em direção ao sít io de ação, ou seja, o quando o organismo exerce efeito sobre a mobilização da droga. Isso pode ser observado quando há ut ilização de alguns fármacos, por exem- plo, tetraciclina pode se acumular nos ossos devido a quelação com o cál- cio, ou então, ut ilização de ant i-inflamatórios que, de algum modo, atuam diretamente onde ocorre a inflamação. Então, resumidamente, um medicamento que apresenta melhor perfil de dist ribuição deve ter os seguintes parâmetros: • Ligação fraca a proteínas plasmát icas; • Forte afinidade pelas proteínas tissulares; • Hidro e lipossolubilidade adequadas. 2.5 - Eliminaçã o dos fármaco s A eliminação é definida como o passo em que o fármaco deixa o or- ganismo. Ocorre através de alguns mecanismos, podendo ser de forma direta, por excreção biliar ou renal; ou t ransformação da droga em meta- bólitos hidrossolúveis. Esses mecanismos são quantificados pelo parâme- tro clearenc e (CL). A eliminação renal de um fármaco envolve 3 principais fenómenos: taxa de filtraçã o glomerula r (TFG), secreçã o tubula r ativa e reabsor - ção tubula r passiva . A quantidade de fármaco que entra na luz do túbulo renal depende da taxa de filtração glomerular, dependendo da extensão de ligação do fármaco às proteínas plasmát ica, já que apenas os fármacos livres são filtrados. A TFG é considerada o melhor índice de avaliação de função renal. Sua estimativa é necessária para acompanhar a evolução das manobras tera- pêut icas. De acordo com a equação de Crockcroft-Gault a TFG (mL/min) = [140 - idade] x peso/ [72 x Cr] x 0,85 (mulheres), porém de uma forma mais objetiva pode-se calcular a taxa de filtração glomerular (Eq. 2) da forma a seguir: Massa de creatinina / m í \ Unidade de Tempo TFG I , 1 = (Ea.2) \minj [Creatinina] 1 H 1 22 file:///minj FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Nesse caso, os valores de TFG entre 90 a 120 mL/min são considerados para homens saudáveis e 80 a 110 mL/min para mulheres saudáveis. No entanto, de uma forma geral, o clearenc e sanguíneo ou plasmát i- co, é definido por capacidade de depuração das substâncias pelos órgãos por uma unidade de tempo. O clearenc e tota l não depende de um órgão exclusivo, pode ocorrer pela eliminação renal ou biliar ou pelas sucessivas biot ransformações que ocorrem no decorrer da sua farmacocinét ica, po- rém pode-se dizer que existem 2 tipos de clearence , o renal e o extra-re - nal , sendo o clearenc e total a soma dos dois (Eq. 3). CL . =CL , + CL i . (Eq.3) total renal extra-renal x ~ ' Outro parâmetro farmacocinét ico de extrema importância é a meia- -vida , definida como o intervalo de tempo durante o qual a concent ração plasmát ica de um fármaco [X] é reduzido pela metade ([X]/2), conhecida como t 1/ 2. A meia-vida de um fármaco não está relacionada apenas ao pro- cesso fisiológico e é o parâmetro mais claro para estabelecer seu perfil farmacocinét ico (Eq. 4). É definida como tempo necessário para que as concent rações de uma substância seja reduzida em 50% no organismo. Os valores de meia vida não são absolutos, porém a equação em questão é a forma mais aproximada e útil para se calcular os valores. t m = M^y, ( E q 4 ) O tempo de meia-vida envolve, ainda, volum e de distribuiçã o (Vd) e clearenc e sanguíne o tota l (CL), isso permite uma melhor análise do padrão de resposta farmacocinét ica do fármaco, quando considerado o organismo um único compartimento. 3 - FARM ACODI NÂM I C A A farmacodinâmica tem por objetivo estudar os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. 23 CAPÍTULO 1 3.1 - Ligaçã o fármaco-recepto r A ligação entre o fármaco (ou uma substância endógena) a um recep- tor (ou substância alvo) é o conceito fundamental de farmacodinâmica, sendo que a partir disso ocorre uma resposta farmacológica. Para tanto, é necessária uma ocupaçã o mínim a dos receptore s de uma célula, porém não é indispensável ocupar todos esses receptores, haja vista que existem receptore s de reserva , não sendo observada relação direta entre ocupa- ção total dos receptores e resposta máxima esperada para um fármaco, como havia se pensado na década de 1940. Para determinar sua ação é importante lembrar que existe um equilíbri o dinâmic o entre receptor ocupado e receptor livre, descrito a seguir (Eq. 5). K L + R Ú LR (Eq.5) Na equação, "L" representa o ligante (fármaco), "R"é o receptor livre, e "LR"o complexo ligante-receptor. Esse processo está em equilíbrio dinâmi- co, sendo que a fração de receptores em cada um desses estados depende da constant e de dissociaçã o (Kd). O valor de Kd, pode predizer algumas propriedades do fármaco, inclusive sua afinidad e pelo receptor, ou seja, capacidade que tem em promover interação com omesmo, importante para comparação de fármacos, porém não é um parâmetro absoluto. 3.2 - Receptore s farmacológico s Receptores são alvos proteicos em que fármacos (ou substâncias endó- genas) se ligam promovendo uma resposta. Essa interação é possível por fatores bioquímicos, incluindo, por exemplo, os resíduos de aminoácidos que compõem as proteínas ou os ácidos nucleicos para fármacos antine- oplásicos. Os receptores são extremamente importantes no organismo por re- gularem diversas funções, sendo seletivos a fármacos ou moléculas si- nalizadoras específicas. Os fármacos que interagem com os receptores e estimulam regulação semelhante aos componentes endógenos, são co- nhecidos como agonista s totai s e apresentam eficáci a intrínsec a (e = 1). No entanto, existem fármacos que atuam nesses receptores impedin- do efeitos regulatórios das substâncias endógenas e, por não possuírem 24 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA uma eficáci a intrínsec a (e = 0), são conhecidos como antagonistas . En- tre esses dois tipos de fármacos existem aqueles que independente da concent ração administrada não apresentam um efeit o máximo , tendo eficáci a intrínsec a intermediária (e > 0 e < 1), conhecidos como agonis- tas parciais. Além disso, existem aqueles que estabilizem o receptor em sua conformação inativa, obtendo efeito contrário ao do agonist a total , apresentando eficáci a intrínsec a negativ a {e < 1) e recebendo a denomi- nação de agonista s inversos . A ligaçã o fármaco-recepto r envolve todos os tipos de interações quí- micas conhecidas: interação de Van der Waals, hidrofóbica, ligações de hi- drogénio, iónicas e ligação covalente, por ordem crescente de força, sen- do covalente com maior afinidade e, por consequência, de maior duração. 3.3 - Agonism o total , parcial , invers o e antagonism o As definições de agonistas total, parcial, inverso e antagonista envol- vem a capacidade de estabilizar o seu receptor em determinada confor- mação. Uma análise mais resumida pode ser observada a partir da Figura 3, em que é representada, graficamente, a possibilidade dos fármacos pro- moverem seu efeito. Figur a 3. Gráfico representativ o do perfi l farmacodinâmic o de substância s 200 - - Agonism o total ( £ > 1 ) Agonism o parcia l ( £>0 e <l ) Agonist a inverso ( £ < 1 ) Antagonismo ( £ = ô ) -200 Log [fármaco ] Fonte: próprio autor. 25 CAPÍTULO 1 Um agonista total tem a capacidade de promover o efeito máximo, ou seja, possibilita manter o receptor em sua conformação ativada com a possibilidade de amplif icação do sinal. Diferente disso, o agonista parcial estabiliza o receptor na sua conformação ativa por um determinado perío- do de tempo ou de forma ineficiente, não atingindo o efeito proporcional ao agonista total. Já o agonist a invers o estabiliza o receptor na confor- mação inativa e, dessa forma, promove efeito contrário ao observado com agonistas totais e parciais, sendo seus efeitos, constantemente, confundi- dos com os de um antagonista. No entanto, quando se fala de antagonis- mo, tem-se o estabelecimento de um bloqueio ao sít io ativo do receptor, não promovendo efeitos farmacodinâmicos. No tocante ao antagonismo, apesar de sua função ser apenas de blo- queio do sít io ativo do fármaco, diferentes atividades farmacodinâmicas são apresentadas graficamente na presença de um est ímulo agonista continuado. Isso, porque os fármacos antagonistas tem afinidades ou Kd diferentes, permitindo uma ação farmacológica diferente, como pode-se observar na figura 4. Figur a 4. Fluxogram a da classificaçã o dos antagonistas . Antagonistas fisiológico Antagonistas farmacológicos Antagonistas químico Interação com o sít io ativo Antagonismo competit ivo Antagonismo não-compet it ivo Interação alostérica Antagonismo não-compet it ivo Fonte: próprio autor. 26 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Essencialmente, tem-se que os antagonistas químicos inativam o ago- nista antes de haver a possibilidade de atuação, por neutralização quími- ca e os antagonistas fisiológicos produzem um efeito fisiológico oposto àquele induzido pelo agonista por atuação em receptores diferentes. Quando se analisa antagonistas farmacológicos, deve-se considerar a complexidade dos eventos, pois existem várias formas de comporta- mento dos antagonistas na presença de um agonista e isso pode fornecer dados importantes em pesquisas farmacodinâmicas, como representado nas Figuras 5 e 6. Figur a 5. Representaçã o gráfic a de um antagonism o competitiv o Quando se trata de antagonista s competitivos , deve-se considerar que a ocupação do sít io ativo se dá de forma reversível, permitindo, com o passar do tempo ou, com maior importância, o aumento da concentra- ção do agonista que se estabeleça o mesmo efeito máximo obtido com o agonista isolado, sem a presença do antagonista. Além disso, deve-se levar em conta que o antagonismo na ausência de qualquer est ímulo não promove modificações farmacológicas. 27 CAPÍTULO 1 Figur a 6. Representaçã o gráfic a de um antagonism o não-competitiv o 100 4 - O CL CU T5 Antagonista + Agonista Log [ f ármaco] Fonte: próprio autor. Em relação ao antagonism o não competitivo , tem-se uma ocupação do sít io ativo de forma irreversível ou uma ligação da substância antago- nista num local do receptor diferente do síti o ativo , chamado de sít io alostérico. Dessa forma, não há deslocamento do agonista que está no sít io ativo, ou seja, o efeito do agonista na presença desse tipo de anta- gonista não chegará ao efeito máximo. Isso pode ser explicado por uma interação mais forte entre o fármaco antagonista e o receptor ou uma estabilização do receptor em um sít io diferente do sít io ativo (quando o antagonismo é alostérico). Em nível de receptor, tem-se que as interações são importantes para sua at ivação e posterior efeito. Para isso, é importante observar como ocorrem os antagonismos (figura 7). 28 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Figur a 7. Ilustraçã o demonstrand o a ativaçã o ou a supressã o de receptores . Sítio abstéric o Recepto r não ativo Agonist a Ativaçã o Ligaçã o do agonist a Agonist a Antagonist a competitiv o Agonist a Antagonist a alostéric o Ativaçã o Antagonism o competitiv o Antagonism o não-competitiv o Fonte: próprio autor. 3.4 - Família s De Receptore s O conhecimento sobre os receptore s farmacológicos , tanto relacio- nados aos tipos, quanto as suas característ icas bioquímicas foram amplia- das no decorrer do tempo e novas classes receptoras foram sendo desco- bertas. No entanto, existem classificados, normalmente, quatro grandes famílias: canai s iónico s operado s por ligante , receptore s acoplado s a proteín a G, receptore s tirosina-cinas e e receptore s nucleares , sendo essa classificação relacionada com a via de t ransduçã o de sina l em que estão envolvidos, ou seja, os processos bioquímicos estimulados (figura 8). Além disso, a velocidade de resposta de cada receptor quando est imu- lados e a amplitude de suas ações são partes importantes da classificação, sendo os canais iónicos mais rápidos na condução de uma resposta e os receptores nucleares os mais lentos para uma t ransduçã o de sina l e efei- to fisiológico ou farmacológico. 29 CAPÍTULO 1 Figur a 8. Representaçã o das transduçõe s de sinal dos tipos de receptores . íons Droga Canais iónico s operado s por liga n te Receptore s acoplado s a proteín a G Receptore s tirosina-quinas e Receptore s nucleare s Tempo necessári o para transduçã o do sinal Fonte: próprio autor. Esses tipos de receptores e outros tantos estão localizados por toda a extensão corporal e são responsáveis pelos mais variados mecanismos fisiológicos existentes. No entanto, a at ivação desses receptores não pro- move efeito imediato, ou seja, existem mecanismos bioquímicos de trans- dução e amplif icação do sinal que permite a ação de fármacose substân- cias endógenas, chamados segundo s mensageiro s 3.5- Receptore s acoplado s a proteín a G Esse tipo de receptor é o mais comumente encontrado no organismo, junto com os canais iónicos operados por ligante. Estes receptores são proteínas de membrana com sete hélices transmembranares, tendo como função a t ransdução do sinal celular pela at ivação de proteínas heterotri- méricas (proteín a G) no meio intracelular a partir de uma mudança con- formacional do receptor. A proteín a G é composta de 3 subunidades dife- rentes (a, P e y ) que têm função de regular a t ransdução de sinal, sendo a subunidade Ga responsável pelo reconhecimento da guanosina trifosfato FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA (GTP) e regulação das proteínas efetoras da t ransdução e amplif icação do sinal, conhecidos como segundos mensageiros. Existem pelo menos treze tipos de proteínas G, divididas em quatro famílias: Ga estimulatóri a (Gas); Ga inibitóri a (Gaj/ 0) e Ga ativador a de fosfolipas e C (Gaq/ 11). O est ímulo em cada receptor desse representa a at ivação de um mecanismo de ação diferente, sendo dependente do órgão em que se encontra. Pode-se citar, por exemplo, num est ímulo do receptor (3-adrenérgico acoplado a proteína Gas nas vias aéreas e no co- ração tem efeitos diferentes. O est ímulo agonista nesses receptores pro- move broncodilatação nos pulmões e aumento na força de contração no coração, mesmo o mecanismo bioquímico atuando através dos mesmos mediadores. Logo, o conhecimento sobre os mecanismos de ação e o aco- plamento com o tecido são de extrema importância na definição dos efei- tos farmacológicos. • 3.6 - Segundo s mensageiro s São moléculas sinalizadoras estimuladas pela célula a modificar condi- ções fisiológicas como at ivação e inibição de enzimas, proliferação, dife- renciação, t ranslocação de vesículas que contem substâncias endógenas, produção de enzimas e a apoptose (morte celular programada). Dentre os segundos mensageiros mais comuns estão à adenosina e guanosina mo- nofosfato cíclico (AMPc e GMPc), trisfosfato de inositol (IP3), diacilglicerol (DAG) e íons cálcio (Ca2+). Essas substâncias estão relacionadas, com maior frequência, aos recep- tores acoplados a proteína G e se apresentam como mais importantes nos processos fisiológicos dos seres humanos, principalmente em relação a ação dos fármacos. Isso, porque, os receptores acoplados a proteína G são responsáveis por percepção sensorial, atividade neural, tensão da muscu- latura lisa, metabolismo, frequência e força de contração cardíaca, secre- ção de glândulas, dentre outras funções. 3 1 QUADRO RESUMO Palavras Chaves Descriçã o Farmacocinétic a Trajeto percorrido pelo fármaco Farmacodinâmic a Efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação. Absorçã o Passagem do local de administração para corrente sanguínea. Metabolism o Mudança estrutural no fármaco para torná-la susceptí- vel a excreção. Distribuiçã o Transporte do fármaco na circulação geral. Eliminaçã o Etapa em que o fármaco deixa o organismo. Biodisponibilidad e Percentual do fármaco que após administração chega a circulação geral. Meia-vida Tempo durante o qual uma concentração X de um fármaco é reduzida pela metade {V/2). Agonista s total e parcia l Fármaco que promove efeito máximo e aquele que não promove esse efeito máximo, respectivamente. Antagonista s (competitiv o e não competitivo ) Fármaco que bloqueia a 0 sítio ativo do receptor. Agonist a inverso Fármaco que promove efeito contrário ao agonista total e parcial. Receptore s farmacológico s Alvos proteicos em que fármacos (ou substâncias endó- genas) se ligam promovendo uma resposta. Segundo s mensageiro s Moléculas sinalizadoras estimuladas pela célula a modi- ficar condições fisiológicas. vias ue aurninisirdçd o 1 r \ / * a i c nr\ c rti i a t e s\ c f á r n r » 3 / - / ^ c n n r l o m c o r a H m i n i c t r a H r i c L U L d l b l l U b q U d l b U b I d f l I I d L U b p U U c l l l b e l d u l 1 III l l b l l d U U b . Clearence total Nome dado para depuração/eliminação de um fármaco. Volume de distribuiçã o Volume de líquido necessário para conter a quantidade total do fármaco absorvido no corpo. Transduçã o de sinal Reações bioquímicas estimuladas pelos fármacos para promoção de resposta farmacológica. Efeit o de primeir a passage m Metabolismo do fármaco no tecido hepático (via veia porta no fígado). 3 2 Representação ilustrativa da relação farmacocinética e farmacodinâmica. Fonte: próprio autor. 3 3 QUESTÕES COMENTADAS Ol (RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE-UFG 2014) Considere a seguinte situação: Fármaco A é inibidor das enzimas do CYP2C19. Fármaco B é um pró-fármaco, necessita da metabolização via CYP2C19 para conversão em metabólito ativo. Se esses dois fármacos forem administrados concomitantemente, ocor- rerá: ® Aumento dos níveis do metabólito ativo do fármaco B, podendo causar toxicidade ao paciente. ® Redução dos níveis do fármaco A e consequente redução de sua eficá- cia clínica. © Redução dos níveis do metabólito ativo do fármaco B e consequente redução de sua eficácia clínica. © Diminuição dos níveis do metabólito ativo do fármaco B, bem como aumento dos níveis plasmát icos do fármaco A, podendo causar toxicida- de ao paciente GRAU DE DIFICULDADE • • O DICA: Importante fixar o conhecimento sobre metabolismo dos fármacos para que as correlações entre ut ilização concomitante de fármacos que utilizem determinadas enzimas sejam entendidas, como no caso dessa questão. Alternativ a A: INCORRETA. Pois o fármaco B terá o seu metabolismo diminuído, não gerando metabólitos. Alternativ a B: INCORRETA. Não há alteração nos níveis do fármaco A, pois este é o inibidor enzimát ico. Alternativ a C: CORRETA. O fármaco B terá seu metabolismo prejudica- do, desse modo, não sendo biostransformado no metabólito ativo, o que resultará numa eficácia clínica reduzida, por reduzir sua biodisponibilidade. Alternativ a D: INCORRETA. Assim como na alternativa B, o fármaco A não sofre nenhuma interferência do outro fármaco, pois o fármaco A é o inibidor enzimát ico. 3 4 QUESTÕES COMENTADAS 02 (POLÍCIA CIVIL-PERITO CRIMINALÍSTICO- SE 2014) Em relação aos tipos de ligação receptor-efetor e o tempo necessário para t ransdução do sinal, analise as sequências abaixo e assinale a correta. ® Dados da literatura apontam que não existem diferenças significativas entre o tipo de ligante e o tempo (t ransdução de sinal). ® Canais iónicos (milissegundos); Receptores acoplados à proteína G (segundos); Receptores ligados à cinases (horas) e Receptores nucleares (horas). © Receptores nucleares (milissegundos); Receptores ligados à cinases (segundos); Receptores acoplados à proteína G (horas) e Canais iónicos (horas). © Receptores acoplados à proteína G (milissegundos); Canais iónicos (segundos), Receptores ligados às cinases (horas) e Receptores nucleares (horas). ® Receptores ligados às cinases (milissegundos); Canais iónicos (segun- dos); Receptores acoplados à proteína G (horas) e Receptores nucleares (horas). GRAU PE DIFICULDADE # Q Q DICA: É de extrema importância saber o tempo de ação dos receptores farmacológicos e isso pode determinar a velocidade em que alguns fár- macos exercem seu efeito. Isso, porque é muito mais fácil os íons atraves- sarem do meio extracelular para o intracelular, através de poros (canais iónicos) do que proteínas serem transcritas, ou seja, modificações a nível de DNA (receptores nucleares). Alternativ a A: INCORRETA. Para cada tipo de receptor farmacológico há uma resposta diferente, tanto em intensidade, quanto em tempo de ocorrência da resposta. Alternativ a B: CORRETA. Os canais iónicos após at ivação necessitam apenas dos íons, normalmente Na+ e Ca2+, para propagação do sinal. No caso dos receptores acoplados a proteínas G, existe um mecanismo de amplif icação dosinal para a sua t ransdução, não sendo tão rápido quanto os canais iónicos. No caso dos receptores tirosina-cinase e nucleares, sua 3 5 QUESTÕES COMENTADAS at ivação não permite uma ação rápida, pois genes ainda serão transcritos para que haja o efeito das proteínas produzidas, necessitando de algum tempo para o fim da t ransdução do final e da resposta esperada, resultan- do em um maior período de tempo para se observar o efeito. Alternativ a C: INCORRETA. As principais grandes famílias de receptores farmacológicos têm característ icas que as diferenciam, dentre elas está o tempo de resposta do mecanismo de ação. Os canais iónicos após at iva- ção necessitam apenas dos íons, normalmente Na+ e Ca2+, para propaga- ção do sinal. Esta alternativa apresenta respostas contrárias às da alterna- tiva anterior. Alternativ a D: INCORRETA. Como dito na alternativa B, no caso dos re- ceptores tirosina-cinase e nucleares, sua at ivação não permite uma ação rápida, pois genes ainda serão transcritos para que haja o efeito das prote- ínas produzidas, necessitando de algum tempo para o fim da t ransdução do final e da resposta esperada. Alternativ a E: INCORRETA. Mesmo raciocínio da alternativa anterior. • 03 (SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO ACRE) Um paciente, sexo masculino, 70 kg, apresenta um clearence de creatinina de 100 mL/min. Você possui as informações apresentadas a seguir sobre o comportamento de um fármaco em particular neste paciente: Clearence: 400 mL/min Volume de dist ribuição: 140 L Ligação às proteínas plasmát icas: 95% Qual é a taxa de filtração glomerular deste fármaco? ® 0 mL/min ® 1,25 mL/min © 5 mL/min © 20 mL/min © 95 mL/min GRAU DE DIFICULDADE • • # 3 6 QUESTÕES COMENTADAS DICA: Extremamente importante ter conhecimento sobre as definições da farmacocinét ica, principalmente, dist ribuição e eliminação de fármacos, pois essa questão envolve o raciocínio sobre o fármaco livre ou ligado às proteínas plasmát icas e definições de clearence e taxa de filtração glo- merular que envolvem o processo de eliminação dos fármacos. Alternativ a A: INCORRETA. Ocorre filtração glomerular do fármaco, pois o fármaco não está 100% ligado às proteínas plasmát icas. Alternativ a B: INCORRETA. Se 100 mL/min é o clearence de creatinina e só tem-se 5%, ou 0,05 do fármaco livre, pode-se calcular de forma direta a TFG como 100 x 0,05 = 5mL/min. Alternatic a C: CORRETA. A taxa de filtração glomerular (TFG) é uma va- riável fisiológica que representa o grau da função renal, sendo estimada com a dosagem da creatinina sérica e aplicação de várias fórmulas mate- mát icas. A creatinina é um produto do metabolismo muscular da creatina fosfato, sendo eliminada do corpo pela urina, após filtração glomerular e pequena secreção tubular. Diante disso, o clearance (depuração) da crea- tinina é relacionada à TFG. Com os dados fornecidos pela questão, a TFG do fármaco pode ser estimada pelo valor do clearance de creatinina (100 mL/min) e a taxa de ligação às proteínas plasmát icas (95%). Como apenas o fármaco livre é filtrado, pode-se calcular a TFG como 100 x 0,05 = 5 mL/ min, já que apenas 5% do fármaco será filtrado. Observe que o clearance do fármaco é 400 mL/min, isso representa que além de ser filtrado o fár- maco também sofre secreção tubular, por isso que é maior que o clearan- ce de creatinina. Alternativ a D: INCORRETA. Se 100 mL/min é o clearance de creatinina e só tem-se 5%, ou 0,05 do fármaco livre, pode-se calcular de forma direta a TFG como 100 x 0,05 = 5mL/min. Alternativ a E: INCORRETA. Se 100 mL/min é o clearance de creatinina e só tem-se 5%, ou 0,05 do fármaco livre, pode-se calcular de forma direta a TFG como 100 x 0,05 = 5mL/min. • 04 (ANVISA-2013)Considere as ações abaixo. I. Ativa o receptor, com eficácia máxima. II. Ativa o receptor, mas não com eficácia máxima. III. Inativa o receptor constitutivamente ativo. 3 7 QUESTÕES COMENTADAS Tais ações descrevem, respectivamente, o comportamento de ® I. um agonista integral, II. um agonista parcial e III. um antagonista. ® I. um antagonista não competit ivo, II. um antagonista competit ivo e III. um agonista integral. © I. um agonista inverso, II. um agonista parcial e III. um antagonista com- petitivo. © k um agonista integral, II. um agonista parcial e III. um agonista inverso. ® I. um antagonista competit ivo, II. um antagonista não competit ivo no sít io ativo e III. um antagonista alostérico não competit ivo. GRAU PE DIFICULDADE # # Q DICA: Importante observar e analisar as questões com base na eficácia in- t rínseca (E) dos fármacos que envolvem também a sua ação como agonis- ta, agonista parcial, antagonista e agonista inverso. Alternativ a A: INCORRETA. Nesse caso, o que está errado é o "Antago- nista". O antagonista apenas impede a ligação do agonista. Alternativ a B: INCORRETA. Existem formas de se descobrir quais fár- macos são agonistas totais, parciais, inversos ou antagonistas. Importante salientar que isso pode ser observado pelos valores de eficácia intrínseca (E). NO entanto, a questão não utilizou desse parâmetro e apenas estabili- zação do receptor e eficácia máxima que dependem da o valor de eficácia int rínseca. Tem-se em I, at ivação do receptor e eficácia máxima (ou £ = 1), mostrando-se um agonista total ou integral. Alternativ a C: INCORRETA. O fármaco I é um agonista integral. Alternativ a D: CORRETA. Tem-se em I, at ivação do receptor e eficácia máxima (ou e = 1), mostrando-se um agonista total ou integral; em II tem- -se at ivação do receptor e eficácia abaixo da máxima (ou £ > 0 e < 1), mos- trando-se um agonista parcial; e III tem-se a inat ivação do receptor, po- dendo levar a uma confusão entre agonista inverso e antagonista, porém antagonista apenas bloqueia o sitio ativo do receptor ou liga-se a um sít io alostérico, não inativa o receptor (E = 0). Logo, em III temos um agonista inverso que estabiliza o receptor na conformação inativa (E < 1). Alternativ a E: INCORRETA. Como descrito anteriormente, o fármaco I é um agonista integral. 3 8 QUESTÕES COMENTADAS 06 (EBSERH-UFES-2014) Analise o gráfico abaixo. De acordo com o padrão das curvas "A" e "A + B", elas podem estar repre- sentando o comportamento de duas drogas em que a administ ração da droga "B"desloca a curva dose-efeito da droga "A" para a direita, sugerindo um antagonismo competit ivo entre as duas drogas. Com base no exposto, as drogas "A" e"B" podem ser, respectivamente, ® A = Noradrenalina e B = Propranolol. ® A = Adrenalina e B = Salbutamol. © A = Salbutamol e B = Beclometasona. ® A = Ipratrópio (Atrovent®) e B = Fenoterol (Berotec®). © A = Ibuprofeno e B = Prednisona. GRAU PE DIFICULDADE # # # DICA: Importante aprender o nome de alguns fármacos e a quais classes eles representam para que questões como essa não sejam dificuldade. Para tanto, é necessário integrar o conhecimento em farmacologia e fazer paralelos entre as classes dos fármacos e a farmacodinâmica. Alternativ a A: CORRETA. Uma figura comum em farmacodinâmica re- laciona concent ração x resposta para determinados fármacos. Nesse caso têm-se duas curvas A e B, sendo que a primeira, apenas com A, chega-se um efeito máximo com menor concentração. Quando A é testada na pre- sença de B, tem-se a necessidade do aumento de concent ração de A para 3 9 QUESTÕES COMENTADAS se chegar ao efeito máximo. Isso é o suficiente para sabermos que é um A é um agonista e B um antagonista competit ivo, pois foi resgatado o efeito máximo de A na presença de B. A adrenalina (agonista a e P adrenérgico) e propranolol (antagonista P adrenérgico não seletivo). Alternativ a B: INCORRETA. Nesse caso, ambos são antagonistas, não correspondendo à curva mostrada no gráfico. Alternativ a C: INCORRETA. Nesse caso, não há relação do glicocorticoi- de com o salbutamol e com o gráfico mostrado. Alternativ a D: INCORRETA. O gráfico mostra antagonismo. Mas esta al- ternativa mostrasinergismo entre as duas drogas. Alternativ a E: INCORRETA. Nesse caso, tem-se o mesmo raciocínio da alternativa C. 4 0 REFERÊNCIAS 1. BRUTON, L L; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacoló- gicas da terapêut ica de Goodman & Gilman: Augusto Langeloh et al. (Tradução), Ed. AMGH Ltda., 12a edição, Porto Alegre-RS, 2012. 2. CLARK, M. A. et al. Farmacologia ilustrada. Editora Artmed, 5a ed, Porto Alegre-RS, 2013 - p . 624. 3. HOELZ, L. V. B. et al. Receptores Acoplados à Proteína G. Revista Virtual de Química, v. 5, n. 5, p. 981-1000,2013. 4. KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 10a Ed. McGraw-Hill, 2008. 5. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Formulário Terapêut ico Nacional. 2a Edição, 2010. 6. OLSON, K. R. Manual de Toxicologia Clínica, 6a ed., editora AMGH, Por- to Alegre-RS, 2014. 7. RANG, H. R, et al. RANG & DALE: Farmacologia, Ed. Guabanara Koogan AS. 7a edição. 2012. 8. SILVA, P. Farmacologia. Rio de Janeiro, 8a edição, Ed. Guanabara Koo- gan, 2010. 4 1 Farmacologi a do sistem a nervoso centra l CAPITULO 2 O que você irá ver nesse capítulo : Fabrício Souza Silva Pedro Modesto Nascimento Menezes Int rodução Neurot ransmissão no sistema nervoso central Fármacos antidepressivos Inibidores da monoamino-oxidade (IMAO) Antidepressivos t ricíclicos (ADT) Inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRS) Fármacos ant ipsicót icos Ant ipsicót icos t ípicos Ant ipsicót icos at ípicos Estabilizadores de humor Fármacos ansiolít icos, sedativos e hipnót icos Benzodiazepínicos Barbitúricos Compostos "Z" Tratamentos dos distúrbios degenerativos do SNC Farmacoterapia da doença de Parkinson Farmacoterapia da doença de Alzheimer Fármacos anticonvulsivantes Anestésicos gerais Anestésicos intravenosos Anestésicos inalatórios Quadro Resumo Quadro Esquemát ico Questões Comentadas 4 3 CAPÍTULO 2 Objetivo s de aprendizage m • Entender os princípios de neurotransmissão no SNC • Conhecer os principais fármacos utilizados nos tratamentos dos dis- túrbios do SNC • Aprender como os fármacos atuam e quais sistemas de neurotrans- missão estão envolvidos • Discutir os principais aspectos da farmacologia clínica dos fármacos que agem no SNC 1 - I NTRODUÇÃO Os fármacos que atuam no sistem a nervos o centra l (SNC) possuem grande importância clínica para o tratamento de diversos distúrbio s psi - quiátrico s (depressão, ansiedade, esquizofrenia, etc), mas também po- dem ser usados de forma não medicinal quando autoadministrados (por exemplo, etanol, cafeína, anfetaminas, dentre outros). No Brasil, esses fármacos são classificados como psicotrópicos e entorpecentes, tendo o comércio regulado pela Portari a n° 344/ 1998 da Agência Nacional de Vi- gilância Sanitária. O entendimento do funcionamento do SNC está diretamente relacio- nado à neurotransmissão química, sendo que os distúrbios podem afetar uma ou várias vias e regiões cerebrais (Quadro 1). Assim, vários fármacos podem agir em locais distintos no SNC, apresentando efeitos sinérgicos ou antagónicos. O principal problema da ut ilização dos psicot rópicos e entorpecentes é a capacidade desses fármacos promoverem dependên - cia físic a ou psíquica . Quadro 1. Organizaçã o do SNC Neurónios São células excitáveis responsáveis pela recepção e transmissão dos impulsos nervosos do e para o SNC. Morfologicamente são constituídos de três distintas partes: corpo celular, que contém o núcleo e citoplas- ma; dendritos, projeções que recebem estímulos de células sensoriais e de outros neurónios; e axônios, projeção única que conduz impulsos do corpo celular para outros neurónios, músculo ou glândulas. Apesar dessas características, sabe-se que tanto os dendritos quanto axônios podem receber ou transmitir estímulos. 4 4 FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Células gliais Funcionam dando suporte físico e metabólico aos neurónios, constituin- do-se em astrócitos (atuam como receptadores de íons e neurotrans- missores no meio extracelular), oligodendrócitos (responsáveis pela produção e manutenção da mielina em torno dos axônios) e células da micróglia (atuam como fagócitos removendo estruturas danificadas). Córtex cerebral Corresponde à camada superficial do cérebro ou substância cinzenta, que contém os corpos celulares de neurónios, dendritos ou axônios amielinizados e células gliais. Controla as atividades sensitivas, sensoriais e motoras, raciocínio, memória, etc. Diencéfalo Maior região autónoma do encéfalo, consistindo nas estruturas tálamo (centro retransmissor, correspondendo ao local de repostas autónomas para dor), hipotálamo (regula várias funções corporais como fome, sede, temperatura corporal, sono e vigília, frequência cardiovascular, equilí- brio hidroeletrolítico, controla a hipófise anterior etc), e hipófise (regula várias glândulas endócrinas). Tronco cerebral Corresponde à parte do encéfalo que se conecta à medula espinhal, incluindo o mesencéfalo (contém os corpos quadrigêmeos que se relacionam com reflexos auditivos e visuais, além de ajudar a controlar a postura e os movimentos), ponte (centro retransmissor, contendo núcleos de nervos cranianos e que ajudam a controlar a respiração) e bulbo (centro retransmissor e possui vários núcleos nervosos que controlam funções viscerais, como frequência cardíaca, vasoconstrição e respiração). Cerebelo Segunda maior estrutura do encéfalo, que atua coordenando as contrações dos músculos esqueléticos e controlando a postura e tônus muscular, além de processar impulsos provenientes de proprioceptores. Corresponde à parte do SNC que se estende ao longo do canal vertebral, Medula espinhal tendo como principais funções a condução de impulsos do para o encé- falo e integração de reflexos. 2 - NEUROTRANSM I SSà O NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os neurotransmissore s são pequenas moléculas sinalizadoras sinte- tizadas nos neurónios que são utilizadas para transmitir uma informação fisiológica a outro neurônio, glândula ou músculo. No SNC, os neuro - transmissore s podem atuar estimulando ou inibindo uma t ransmissão nervosa após at ivação de um receptor específico em outro neurônio. O entendimento do efeito farmacológico dos psicot rópicos está relacionado a alterações direta ou indireta nessa neurot ransmissão química no SNC, promovendo uma atenuação ou aumentando a eficácia dos neurotrans- missores, em alguns casos provocando ambos os efeitos. 45 CAPÍTULO 2 Os neurotransmissores que atuam no SNC (Quadro 2), de maneira geral, seguem um padrão característ ico de liberação, ação e inat ivação. Como ilustrado na Figura 1, os neurónios pré-sinápt icos sintetizam os neurotransmissores e os armazenam em vesículas nas terminações sináp- ticas. Após receber um est ímulo adequado, o potencial de ação é deflagra- do e o aumento do influxo de Ca2+ por canais iónicos sensíveis à voltagem induz a exocitose dos neurotransmissores na fenda sinápt ica. No neurônio pós-sinápt ico, os neurotransmissores atuam ativando canais iónicos regu- lados por ligante ou receptores acoplados à proteína G. O seu efeito pode ser abreviado pela recaptação, por uma proteína transportadora presente na membrana do neurônio pré-sinápt ico, ou inat ivação enzimát ica na pró- pria fenda sinápt ica. Além disso, pode ocorrer captação e degradação por uma célula glial adjacente. Importante ressaltar que o efeito de qualquer neurotransmissor no SNC está relacionado com a liberação local, pois ne- nhum deles tem a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica. Quadro 2. Principai s neurotransmissore s do SNC Neurotransmisso r Receptore s Funçã o Acetilcolina NN<M,5 Manutenção do alerta e vigília facilita a excitabilidade do córtex cerebral e modula o processamento sensorial, e participa dos mecanismos de memória e aprendiza- gem. Noradrenalina Q1A' Q1B' A2A- C PL3 Influencia também o sistema de alerta e vigília, man- tendo osprocessos de atenção, participa de respostas emocionais aversivas (raiva, agressão) e gratificantes (afeto) e no controle da fome e saciedade. Glutamato AMPA, cai- nato, NMDA, mGluR18 Principal neurotransmissor excitatório do SNC, parti- cipando desde a ativação mínima para manter aberta uma via de transmissão até a excitação persistente que culmina num processo patológico. Ácido Y-aminobutíri- co (GABA) GABAA.C Principal neurotransmissor inibitório do SNC, poden- do atuar em qualquer nível das sinapses. Participa do controle do movimento, evitando ou reprimindo a hiperatividade focal. Dopamina D,5 Essencial para o controle motor voluntário, participa em processos que a motivação forma parte essencial do comportamento, além de contribuir para manter a atenção, avaliação correta da realidade, e controle do pensamento. 4 6 FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Neurot ransmissor Receptores Função Serotonina ou 5-hi- droxitriptamina 5-HT1A_B,5-HT- 1D-F* 5 " H T 2 A- C 5-HT3, 5-HT4/ 5-HT5A,,5-HT6, 5-HT7 Participa da manutenção da tonalidade afetiva interna, tanto que alterações na neurotransmissão serotoninér- gica podem ser responsáveis por transtornos depres- sivos, certas formas de ansiedade, quadros obsessi- vos-compulsivos e ideação suicida. Também participa da regulação do vómito, transmissão nociceptiva e controle da fome e saciedade. Glicina Glicina Principal neurotransmissor inibitório presente na medula espinhal que controla a sensibilidade sensorial e função motora. Histamina H1#H2eH3 Secretado principalmente por neurónios que partem no hipotálamo posterior, afetando a excitação, temperatura corporal e dinâmica circulatória. Peptídios opioides (P-endorfina, dinorfi- nas, encefalinas) p, xeõ Relacionados com o processamento do estímulo doloro- so, modulação do comportamento afetivo e controle motor, regulação do sistema nervoso autónomo e funções neuroendócrinas. Diante dessa compreensão, é importante enumerar os principais alvos pelos quais os agentes psicot rópicos podem atuar: (1) receptores específi- cos de neurotransmissores, agindo com agonista, antagonista ou modula- dor alostérico; (2) transportadores de membrana, promovendo a inibição da recaptação e consequente acúmulo de neurotransmissores na fenda sinápt ica; ou (3) enzimas, inibindo a degradação e aumentando a concen- tração de neurotransmissores. Figur a 1. Representaçã o esquemátic a de neurotransmissã o químic a o SNC. Neurônio pós-sináptico Fonte: próprio autor. 4 7 CAPÍTULO 2 Não há uma terminologia padronizada para os fármacos que atuam no SNC, porém, na prát ica clínica, um mesmo fármaco pode ser utilizado de maneira distinta, por exemplo, um antidepressivo pode atuar como ansio- lít ico ou um ant ipsicót ico pode ser eficaz na depressão grave. 3 - FÁRM ACO S ANTIDEPRESSIVOS A depressão maior ou depressão unipolar corresponde a uma condi- ção clínica incapacitante relativamente comum, de caráter crónico e re- corrente em aproximadamente 80% dos casos. A prevalência da depres- são é maior em mulheres do que em homens, mas ainda continua sendo uma doença subdiagnosticada e subtratada. Outras apresentações com sintomas menos intensos daqueles da depressão, como a distimia, são igualmente frequentes em serviços de atenção primária. A ut ilização de antidepressivos pode melhorar ou eliminar totalmen- te os sintomas da depressão moderada a grave, contudo antes do início do tratamento deve-se descartar o diagnóst ico de transtorno bipolar, já que antidepressivos podem desencadear o aparecimento de mania. As principais classes de fármacos antidepressivos são os inibidore s da mo- noamino-oxidase , antidepressivo s tricíclico s e inibidore s seletivo s da recaptaçã o de serotonina . Independente do tipo do fármaco, todos me- lhoram a neurotransmissão serotoninérgica ou noradrenérgica, conforme ilustrado na Figura 2, sendo que os efeitos a longo prazo induzem meca- nismos adaptativos que melhoram a eficácia do tratamento. 4 8 FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Figur a 2. Representaçã o esquemátic a dos mecanismo s de ação dos fármaco s antidepressivo s Neurônio pré-sináptico pós-sináptico 5-HT, serotonina; NA, noradrenalina; ADT, antidepressivos tricíclicos; IMAO, inibidores da monoamino-oxidase; ISRS, inibidores seletivos da recaptação de serotonina 0 . * * & W í - . i r : f i > i ^ y ; y , , cnt^sB Fonte: próprio autor. Todos os fármacos antidepressivos disponíveis no mercado brasileiro estão presentes na List a Cl da Portari a 344/ 1998, sendo dispensados exclusivamente com a apresentação da receita de controle especial. 3.1 - inibidore s da monoamino-oxidas e (IMAO) A enzima monoamino-oxidas e (MAO) está localizada na membrana mitocondrial externa e é expressa na maioria dos tecidos corporais, apare- cendo em altos níveis no fígado. A função dessa enzima é metabolizar uma grande variedade de monoaminas primárias, secundárias e terciárias, mas tem baixa afinidade por compostos diamínicos, por exemplo, histamina. Existem duas isoformas da MAO, sendo classificada de acordo com a seletividade por seus substratos, sendo que a MAO-A catalisa a degrada- ção da serotonina (5-HT) e noradrenalina (NA), enquanto a MAO-B apre- 49 CAPÍTULO 2 senta maior seletividade por benzilaminas e 2-feniletilaminas. Alguns substratos, como a dopamina e tiramina podem ser metabolizados por ambas as isoformas com mesma eficiência. Fármacos que inibem a MAO- -A mostram-se eficazes como antidepressivos, mas os inibidores seletivos da MAO-B não; estes são utilizados para tratar a doenç a de Parkinson , provavelmente por acentuar a neurotransmissão dopaminérgica. Deve-se compreender que no SNC a ação MAO está relacionada à degradação dos neurotransmissores citoplasmát icos e não há qualquer influência sobre os que são liberados nas terminações nervosas. Os fármacos IMAO são classificados de acordo com a seletividade pela enzima (não seletivos ou inibidores seletivos da MAO-A) e capacidade de inibição (reversível ou irreversível), conforme mostrado no Quadro 3. O efeito farmacológico dos IMAO está relacionado com o aumento da capacidade de armazenamento e liberação dos neurotransmissores 5-HT e NA pelos neurónios no SNC. Após liberação na fenda sinápt ica, os neurotransmissores são recaptados por transportadores de membrana e, no neurônio pré-sinápt ico, sofre a ação da MAO, cuja função é controla r a quantidad e de monoamina s no termina l axônico . Na presença dos IMAO observa-se aumento da concent ração citoplasmát ica de 5-HT e NA nas terminações nervosas e da taxa de liberação espontânea desses neu- rotransmissores. Quadro 3. Principai s fármaco s IMAO Classificação Nome genérico Dose (mg/dia) Metabolismo Observações Inibidores não seletivos e irreversíveis Isocarboxazida 20-60 Incerto Inibe CYP1A2, também indicado em fobia social Inibidores não seletivos e irreversíveis Tranilcipromina 20-40 • Incerto Também inibe a histona desmetilase lisina-es- pecífica tipo 1;CYP1A2 eCYP2C19; possui pro- priedades semelhante a anfetaminas Inibidores não seletivos e irreversíveis Fenelzina 30-60 MAO e acetilação Também inibe GABA e alanina transaminase Inibidor reversí- vel MAO-A Moclobemida 150-600 CYP2C19e CYP2D6 Também indicado para fobia social Inibidor reversí- vel MAO-B Selegilina 10 CYP2B6,CYP3A4 eCYP2A6 Indicado no tratamento da doença de Parkinson 5 0 FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Os fármacos IMAO são metabolizados no f ígado via CYP450 e por ace- t ilação, logo, deve-se ter atenção à definição da dose terapêut ica, já que uma boa parte da população corresponde a "acetiladores lentos" e os ní- veis plasmát icos do fármaco podem se apresentar elevados. Outro deta- lhe é que para os inibidores irreversíveis da MAO, mesmo considerando a eliminação do fármaco em torno de 24 horas da administ ração, faz-senecessário um intervalo de duas semanas para a atividade metabólica da MAO retornar aos valores basais após a suspensão do tratamento. Esse tempo de recuperação refere-se à produção e o transporte das novas en- zimas aos terminais axônicos dos neurónios serotoninérgicos e noradre- nérgicos. Contudo, mesmo considerando a inibição irreversível da MAO, a posologia dos IMAO deve ser por dose única diária. A confirmada eficácia dos IMAO em tratar síndromes depressivas não camufla os efeitos adversos e interações com outros fármacos e alimen- tos restringem muito o uso desses fármacos. O principal efeit o adverso observado é a hipotensã o provocada pelo aumento da concent ração de NA no tronco cerebral e at ivação de receptores a2 adrenérgico s pré-si - nápticos , o que provocará diminuição do tônus simpát ico e consequente redução da pressão arterial sistémica, mesmo efeito observado da cloni- dina. Outra explicação seria o acúmulo do falso neurotransmissor octopa- mina nas vesículas sinápt icas dos nervos simpát icos e redução os níveis da NA para at ivação de receptores adrenérgicos pós-sinápt icos responsá- veis pelo aumento da pressão arterial. Diversos efeitos adversos comuns que podem aparecer com o uso dos IMAO são tremores , insónia , ganho de peso decorrent e do aument o de apetit e e efeito s anticolinérgico s (boca seca, visão embaçada, retenção urinária, etc.) Dentre as interações com medicamentos e alimentos, o uso dos IMAO pode desencadear o efeit o dos queijo s e síndrom e serotonínica . O pri- meiro está relacionado com a ingestão de alimentos ricos em tiramina como chocolate, queijos fermentados e iogurte, dentre outros. A tirami - na é uma amina simpat icomimét ica de efeito indireto que mobiliza a NA das vesículas e induz o transporte desse neurotransmissor para o meio extracelular. Como a tiramina é normalmente metabolizada pela MAO no intestino e fígado, o uso dos IMAO permite a chegada de considerável concent ração dessa amina na circulação e pode-se observar exacerbação de atividade do sistema nervoso simpát ico e indução de hipertensã o aguda . Ressalta-se que esse efeito está relacionado com a NA liberada das 5 1 CAPÍTULO 2 fibras simpát icas, já que a tiramina não atravessa a barreira hematoencefá- lica. Por outro lado, o uso da moclobemida (inibibor reversível da MAO A) em doses menores que 900 mg por dia tem baixa propensão em induzir crise hipertensiva após ingestão de alimentos ricos em tiramina, provavel- mente porque a metabolização hepát ica pela MAO-B ainda permanece disponível. O efeito provocado pela tiramina também pode ser observado com uso concomitante dos IMAO com efedrina e anfetaminas. A síndrom e serotonínic a está relacionada com um excesso de 5-HT na fenda sinápt ica quando os IMAO são utilizados em conjunto com an- tidepressivos tricíclicos e inibidores da recaptação de 5-HT, provocand o confusão , excitação , hiperatividad e neuromuscular , hiper-reativida - de autonômic a e hipertermia . Considerando que a maioria dos IMAO inibem a enzima de maneira irreversível, deve-se aguardar um intervalo de pelo menos 14 dias entre a retirar do IMAO e a int rodução de um inibi- dor da recaptação de 5-HT, o que possibilita os neurónios produzir novas MAO. O mesmo intervalo deve ser observado quando a subst ituição de- sejada é de um inibidor da recaptação de 5-HT para um IMAO, com aten- ção especial à fluoxetina. Neste caso, como o metabólito do fármaco tem meia-vida de 7 a 14 dias, deve-se esperar um intervalo de 5 semanas entre a retirada da fluoxetina e int rodução do IMAO. 3.2 - antidepressivo s tricíclico s (ADT) Os fármacos ADT foram introduzidos na clínica na década de 1950 para o tratamento da depressão, contudo, devido aos efeitos colaterais graves, deixaram de ser usados como fármacos de primeira escolha. Na terapêut i- ca atual, os ADT têm sido utilizados para tratar outras complicações além da depressão, como dor neuropát ica, enxaqueca, transtorno obsessivo- -compulsivo, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, vómi- tos, insónia, etc. Os principais fármacos ADT estão listados no Quadro 4. O mecanismo pelo qual os ADT melhoram o quadro depressivo está relacionado ao aument o da concentraçã o da 5-HT e NA nas fendas si- nápt icas do SNC, já que inibem a recaptação desses neurotransmissores pelos neurónios pré-sinápt icos. Além disso, a maioria dos ADT atuam como antagonistas de receptores pós-sinápt icos HT, 5 HT2A, (^-adrenér- gico e muscarínicos, sendo essas ações relacionadas com outros efeitos farmacológicos benéficos ou não. 5 2 FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Quadro 4. Fármaco s ADT Nome genér ico Dose (mg/ dia) Metabolismo Observações Imipramina 50-300 CYP1A2, CYP2C19, CYP3A4 e CYP2D6 Inibe CYP1A2eCYP2C19 Desipramina 50-300 CYP2D6 Metabólito ativo da imipramina Amitriptilina 50-300 CYP1A2 CYP2C19 CYP3A4 e CYP2D6 Inibe CYP1A2eCYP2C19 Nortriptilina 30-200 CYP2D6 Metabólito ativo da amitrip- tilina Clomipramina 50-260 CYP1A2, CYP2C19, CYP3A4eCYP2D6 Inibe CYP2C19 Maprotilina 50-250 CYP2D6eCYP1A2 Também indicado como ansiolítico Doxepina 50-300 CYP1A2, CYP2C19, CYP3A4 e CYP2D6 Inibe CYP1A2 e CYP2C19; tam- bém utilizado como sedativo Todos os ADT, sendo a doxepina o mais potente, atuam como anta- gonista s H1# produzindo sedaçã o e adicionando um efeito terapêut ico adicional, contudo pode ser indesejado em pacientes economicamente ativos e que necessitam de total vigília em suas atividades. Como o re- cepto r 5-HT2A está envolvido no controle do sono, o antagonismo pelos ADT, como doxepina, amitriptilina e clomipramina, pode ser clinicamente relevante na melhoria do sono. O antagonism o do recepto r al adrenér - gico é similar em todos os ADT e é responsável pela indução da hipoten - são ortostátic a ou postural , principal efeito indesejável desses fármacos, com especial atenção aos idosos devido ao risco de quedas. Os efeito s anticolinérgico s como boca seca, visã o borrada , retençã o urinária , const ipaçã o e prejuíz o sobr e a memória , este principalmente entre os idosos, pode resultar em delírio e estão relacionados com o antagonism o muscarínico , ocorrendo em menor grau com a desipramina. Após administ ração oral, todos os ADT são rapidamente absorvidos, ligam-se num percentual de 90-95% à albumina plasmát ica e a interação com tecidos extravasou lares justifica os altos valores do volume de dis- t ribuição, cerca de 10 50 L/kg. O metabolismo dos ADT ocorre, principal- mente, pelas enzimas da família CYP450, com a desmet ilação da amina terciária e tendo como metabólito sua amina secundária, com manuten- ção do efeito farmacológico. A hidroxilação do anel aromát ico seguido de glicuronidação precede a eliminação na urina. Como a maioria dos ADT 5 3 CAPÍTULO 2 possui meia-vida elevada, o acúmulo gradual pode favorecer o apareci- mento de efeitos adversos. A interação medicamentosa mais grave entre os ADT é o uso associado ao etanol que pode induzir uma depressão respiratória grave quando o consumo de bebidas alcoólicas é exagerado. Os ADT também interferem na ação de muitos fármacos anti-hipertensivos. Devido à potencialização das aminas simpat icomimét icas pelos ADT, deve-se evitar o uso conco- mitante com fármacos IMAO. Atenção deve ser dada a interações farma- cocinét icas que envolvam a metabolização pela CYP450 devido a com- pet ição com outros fármacos (ant ipsicót icos e esteroides), além do que amitriptilina, imipramina, clomipramina e doxepina inibem as isoformas CYP2C19eCYP1A2. 3.3 - inibidore s seletivo s da recaptaçã o de serotonin a (ISRS) Os fármaco s ISRS (Quadro 5) estão entre os mais prescritos em psi- quiatria, sendo na maioria dos casos a primeir a escolh a para no trata- mento da depressã o maior , principalmente pela melhora na margem de segurança quando se compara com os ADT e IMAO. Outras indicações t ambém ocorrem para os ISRS, incluindo o tratamento da ansiedad
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