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Brasília-DF. Interpretação de exames bIoquímIcos e a Interação droga x nutrIente Elaboração Daniela Martins da Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I CONCEITOS ........................................................................................................................................ 11 CAPÍTULO 1 FARMACOLOGIA E INTERAÇÃO ENTRE ALIMENTOS E NUTRIENTES ............................................. 11 CAPÍTULO 2 FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA DAS INTERAÇÕES ................................................ 24 UNIDADE II MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS ................................................................................................... 34 CAPÍTULO 1 FÁRMACOS PARA O SISTEMA DIGESTÓRIO .............................................................................. 34 CAPÍTULO 2 ANTIDIABÉTICOS ..................................................................................................................... 47 CAPÍTULO 3 ANTI-HIPERTENSIVOS E HIPOLIPIDEMIANTES .............................................................................. 52 CAPÍTULO 4 ANTI-INFLAMATÓRIOS E ANTI-INFECCIOSOS ............................................................................ 67 CAPÍTULO 5 ANTINEOPLÁSICOS ................................................................................................................. 81 CAPÍTULO 6 ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS .......................................................................................... 90 UNIDADE III TRATAMENTO DA OBESIDADE E HORMÔNIOS SEXUAIS .......................................................................... 96 CAPÍTULO 1 OBESIDADE E TRATAMENTO ..................................................................................................... 96 CAPÍTULO 2 REGULAÇÃO HORMONAL E MEDICAMENTOS ....................................................................... 104 UNIDADE IV MEDICAMENTOS E LEITE MATERNO .................................................................................................... 111 CAPÍTULO 1 LEITE MATERNO E FÁRMACOS .............................................................................................. 111 UNIDADE V DROGAS DE ABUSO .......................................................................................................................... 118 CAPÍTULO 1 INTERAÇÕES DROGAS DE ABUSO VERSUS ALIMENTOS ........................................................... 118 UNIDADE VI DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS ..................................................................... 126 CAPÍTULO 1 DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES E EXAMES LABORATORIAIS ........................................................ 126 CAPÍTULO 2 DOSAGEM DE NUTRIENTES E EXAMES EM ORTOMOLECULAR ................................................. 139 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 150 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 151 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Embora a interação alimento-medicamento desperte o interesse dos profissionais da saúde devido a sua importância, é um assunto que ainda precisa ser estudado e pesquisado. As informações são frequentemente contraditórias e algumas vezes inespecíficas. Embora essas interações raramente ocasionem consequências fatais, é relativamente frequente o surgimento de efeitos adversos, mais ou menos importantes, imprevisíveis ou que originam respostas farmacológicas diversas em intensidades nem sempre esperadas para uma determinada dosagem. Os alimentos podem modificar os efeitos dos fármacos, fundamentalmente por interferência no seu comportamento farmacocinético, designadamente nos processos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção ou no seu comportamento farmacodinâmico, originando efeito contrário ao esperado. Desde a década de 1980, a Joint Commission on Accreditation of Hospital vem incentivando profissionais como farmacêuticos e nutricionistas a monitorarem as interações fármaco-nutriente que ocorrem com pacientes internados, bem como a orientá-los a este respeito quando eles deixam o hospital. Portanto, na equipe de saúde, esses profissionais desempenham um papel importante na identificação dessas interações e na educação de pacientes em programas de aconselhamento. Um maior conhecimento por parte dos profissionais da área da saúde acerca das interações conduz a um controle mais efetivo de possíveis deficiências nutricionais e permite a intervençãocom estratégias para suplementar essas deficiências. Para que o profissional possa prescrever um plano dietético de modo apropriado, são necessários o conhecimento e a correta avaliação da função de órgãos e sistemas. Sendo assim, a solicitação e a correta interpretação dos exames complementares impõem-se ao profissional de saúde que avalia o paciente. Os exames laboratoriais serão responsáveis por detectar insuficiências orgânicas e alterações nas concentrações de nutrientes e/ou seus metabólitos. Por essa razão, a prescrição de nutrição, seja oral, enteral e/ou parenteral, pressupõe a correta solicitação e avaliação de exames laboratoriais. 9 Objetivos » Compreender as interações entre medicamentos e nutrientes. » Compreender a função dos medicamentos e como podem prejudicar a absorção de alimentos. » Discutir a prevenção e o tratamento da deficiência de nutrientes causada por medicamentos. » Fornecer noções sobre os exames laboratoriais necessários para identificação de deficiência de nutrientes em pacientes utilizando medicamentos. 10 11 UNIDADE ICONCEITOS CAPÍTULO 1 Farmacologia e interação entre alimentos e nutrientes Conceitos em farmacologia A farmacologia pode ser definida como o estudo dos efeitos das substâncias químicas sobre a função dos sistemas biológicos. Foi reconhecida como ciência na segunda metade do século XIX, quando os princípios científicos passaram a ser considerados no estabelecimento das práticas terapêuticas. Tendo em vista que, desde as civilizações mais antigas, remédios com base em ervas ou outros produtos naturais de origem vegetal, animal ou mineral eram amplamente utilizados para combater as diversas enfermidades que acometiam o homem e os animais domésticos que com ele conviviam, surgiu a necessidade de melhorar a qualidade da intervenção terapêutica dos médicos, que, naquela época, eram proficientes na observação clínica e diagnósticos, porém amplamente incompetentes quando se tratava de terapia. O avanço de diversas ciências, como a fisiologia e a química, contribuiu muito no sentido de esclarecer os mecanismos químicos e biológicos pelos quais os medicamentos atuam e a estrutura química correspondente a cada substância. Hoje, a medicina moderna baseia-se, em grande parte, em fármacos como principal instrumento de terapia, já que o estudo dos medicamentos se aperfeiçoou ao longo do tempo. Ao falar de interações entre medicamentos e alimentos, é essencial compreender alguns conceitos básicos acerca dos fármacos. Embora muito utilizados, os termos “remédio”, “medicamento”, “fármaco” e “droga” possuem significados diferentes. » Remédio: é uma palavra normalmente usada pelo leigo como sinônimo de medicamento ou especialidade farmacêutica. Portanto, remédio pode ser tudo aquilo que cura ou evita as enfermidades. Não só as substâncias químicas podem 12 UNIDADE I │CONCEITOS ser consideradas remédios, mas também alguns agentes físicos como massagens, duchas etc. » Medicamento: é utilizado para prevenção, alívio de sintomas, cura e diagnóstico de doenças e constituído de princípio ativo ou fármaco adicionado de veículo. Pode ser considerado o mesmo que fármaco, especialmente quando se encontra na sua forma farmacêutica. » Fármaco: sinônimo de princípio ativo, é a substância química de constituição definida que pode ter aplicação em farmácia como preventivo, curativo ou agente de diagnóstico (Quadro 1). » Droga: este termo, também empregado em diversas situações, refere-se à matéria-prima mineral, vegetal ou animal da qual se podem extrair um ou mais princípios ativos; sendo assim, os agentes terapêuticos de origem sintética não são drogas. Figura 1. Remédio. 1 - Ducha ginecológica 2 – Banho de assento 3 – Banho de imersão Fontes: Imagem 1: Disponível em: https://www.equipofarma.com.br/media/catalog/product/cache/1/image/9df78eab33525 d08d6e5fb8d27136e95/d/u/ducha-gineco.jpg. Acesso em: 16 jan. 2020. Imagem 2: Disponível em: https://th.bing.com/th/id/ OIP.WONHM-V7usnOCLikT_lBUAHaDt?pid=Api&rs=1. Acesso em: 16 jan. 2020. Imagem 3: Disponível em: https://mundoalice. files.wordpress.com/2011 jan. 1072960erhcfn6zux.jpg?w=535. Acesso em: 16 jan. 2020. 13 CONCEITOS │ UNIDADE I Figura 2. Medicamento. Fonte: Foto: The Photographer via Wikimedia Commons CC BY-SA Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da- saude/pesquisa-premiada-lista-cinco-formas-de-diminuir-desperdicio-de-remedios/. Acesso em: 16 jan. 2020. Figura 3. Fármaco. Fonte: Disponível em: https://www.lojacasadesaron.com.br/ginkgo-biloba-em-po-a-granel. Acesso em: 16 jan. 2020. Figura 4. Droga. 1 – Vegetais 2 – Minerais 3 - Animal Fonte: Imagem 1: Disponível em: https://blog.tabacariadamata.com.br/plantas-medicinais-indigenas/. Acesso em 16 jan. 2020. Imagem 2: Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Caulinita. Acesso em 16 jan. 2020. Imagem 3: Disponível em: https://www.ativo.com/nutricao/extrato-de-propolis-beneficios/. Acesso: Acesso em 16 jan. 2020. 14 UNIDADE I │CONCEITOS Quadro 1. Finalidade dos fármacos. FINALIDADE DOS FÁRMACOS EXEMPLOS Fornecimento de elementos carentes ao organismo Vitaminas, sais minerais, proteínas, hormônios. Prevenção de uma doença ou infecção Soros e vacinas. Combate a uma infecção Quimioterápicos, incluindo antibióticos. Bloqueio temporário de uma função normal Anestésicos e anticoncepcionais orais. Correção de uma função orgânica desregulada Disfunção (insuficiência cardíaca): cardiotônicos; hipofunção (insuficiência na suprarrenal): hidrocortisona; hiperfunção (hipertensão): metildopa. Destoxificação do organismo Antídotos. Agentes auxiliares de diagnóstico Radiopacos. Fonte: própria autora, s.d. Os medicamentos costumam possuir nomes muito longos e complicados. Para facilitar a compreensão, existem órgãos internacionais que definem um nome mais curto e simplificado para os medicamentos, o que conhecemos como nome genérico. No Brasil, adotamos os nomes dados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também pela Farmacopeia Brasileira. O nome genérico é o nome da substância ativa, aquela que exerce a ação principal no medicamento. Contudo, os medicamentos podem também possuir um nome comercial ou marca comercial, que é um nome individual selecionado e usado pelo fabricante. Os medicamentos com nome comercial podem ser divididos entre os similares e os de referência. A diferença entre eles é que o medicamento considerado de referência pertence ao fabricante que o introduziu no mercado e que tem direito a patente. Após o período de exclusividade da patente, outros fabricantes podem comercializar esse mesmo medicamento e, se estes forem registrados com nome comercial, passam a ser similares. Desde 2003, com a publicação da Resolução RDC no 134/2003 e Resolução RDC no 133/2003, os medicamentos similares devem apresentar os testes de biodisponibilidade relativa e equivalência farmacêutica para obtenção do registro para comprovar que o medicamento similar possui o mesmo comportamento no organismo (in vivo), como possui as mesmas características de qualidade (in vitro) do medicamento de referência. Além disso, os medicamentos similares passam por testes de controle de qualidade que asseguram a manutenção da qualidade dos lotes industriais produzidos. Todos os medicamentos similares passam pelos mesmos testes que o medicamento genérico. 15 CONCEITOS │ UNIDADE I Essas informações vocês poderão conferir no site da ANVISA: Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/ Inicio/Medicamentos/Assunto+de+Interesse/Medicamentos+similares. Definições de acordo com a RDC no 17 de 2 de março de 2007: Biodisponibilidade relativa: quociente da quantidade e velocidade de princípio ativo que chega à circulação sistêmica a partir da administração extravascular de um preparado e a quantidade e velocidade de princípio ativo que chega à circulação sistêmica a partir da administração extravascularde um produto de referência que contenha o mesmo princípio ativo. Equivalentes farmacêuticos: são medicamentos que contêm o mesmo fármaco, isto é, mesmo sal ou éster da mesma molécula terapeuticamente ativa, na mesma quantidade e forma farmacêutica, podendo ou não conter excipientes idênticos. Devem cumprir com as mesmas especificações atualizadas da Farmacopéia Brasileira e, na ausência destas, com as de outros códigos autorizados pela legislação vigente ou, ainda, com outros padrões aplicáveis de qualidade, relacionados à identidade, dosagem, pureza, potência, uniformidade de conteúdo, tempo de desintegração e velocidade de dissolução, quando for o caso. Vejam também a notícia publicada pelo Portal Brasil: Disponível em: http://www.brasil.gov.br/saude/2014/10/medicamentos- similares-serao-equivalentes-aos-de-marca. Tabela 1. Nomes dos medicamentos NOME REFERÊNCIA NOME GENÉRICO NOME SIMILAR NOME QUÍMICO Aspirina® ácido acetilsalicílico AAS, Melhoral Ácido orto-hidroxibenzóico Novalgina® dipirona monoidratada Anador [(2,3-dihidro-1,5-dimetil-3-oxo- fenil-1H-pirazol-4-il)metilamino] Advil®/Alivium®/Motrin® ibuprofeno Buscofem, Ibuflex, Buprovil Ácido alfa-metil-4(2-metilpropil)- benzenacético Fonte: Adaptado de portal.anvisa.gov.br/documents/33836/352400/1.1+Genéricos+registrados+- +por+nome+do+genérico+27-08-2019/9e4ce425-7915-4cc1-b870-05ee305c1a8f. Acesso em: 16 jan. 2010; Korolkovas & Burckhalter, 1988. É interessante que o medicamento genérico ibuprofeno possui três medicamentos de referência dependendo da forma farmacêutica, conforme tabela seguinte. 16 UNIDADE I │CONCEITOS Tabela 2. Ibuprofeno. REFERÊNCIA FORMA FARMACÊUTICA Advil® Suspensão gotas, cápsula dura e comprimidos revestidos de 200 e 400 mg Alivium® Suspensão oral Motrin® Comprimidos revestidos de 400 mg Fonte: portal.anvisa.gov.br/documents/33836/352400/1.1+Genéricos+registrados+-+por+nome+do+genérico+27-08- 2019/9e4ce425-7915-4cc1-b870-05ee305c1a8f. Acesso em: 16 jan. 2010 Os medicamentos são apresentados para comercialização em diferentes formas farmacêuticas. A forma farmacêutica (Quadro 2) é a maneira como se apresenta um medicamento pronto para ser administrado. É o estado final em que se apresentam as substâncias medicamentosas depois de submetidas a uma ou mais operações farmacêuticas, com o fim de facilitar a administração e obter o efeito desejado. Quadro 2. Tipos de preparações farmacêuticas. PREPARAÇÕES FORMAS FARMACÊUTICAS Líquida Soluções Suspensões Emulsões Xaropes Elixires Loções Linimentos Sólida Comprimidos Drágeas Cápsulas Pílulas Supositórios Óvulo Semissólida Pomadas Cremes Pasta Gel. Fonte: própria autora, s.d. 17 CONCEITOS │ UNIDADE I Figura 5. Formas farmacêuticas líquidas de uso oral. 1 - Solução oral (gotas) 2 -Suspensão oral 3 – Xarope 4 - Elixir Fonte: Imagem 1: Disponível em: https://www.medicdelivery.com.br/media/catalog/product/cache/1/thumbnail/600x/17f8 2f742ffe127f42dca9de82fb58b1/p/a/paracetamol_gotas_15ml_medley.jpg. Acesso em 25 jan. 2020. Imagem 2: https:// io.convertiez.com.br/m/drogal/shop/products/images/1011820/medium/mylanta-plus-mor-liq-240ml_6493.jpg. Acesso em: 25 jan. 2020. Imagem 3: https://www.drogariacatarinense.com.br/melagriao-xarope-150ml/99370-01. Acesso em 25 jan. 2020. Imagem 4: https://www.drogal.com.br/elixir-paregorico-30ml-cat/p. Acesso em 25 jan. 2020. Figura 6. Formas farmacêuticas líquidas de uso tópico. 1 – Solução tópica 2 – Suspensão tópica 3 – Loção 4 – Linimento Fonte: Imagem 1: Disponível em: https://www.farmaciacristorei.com.br/merthiolate-incolor-30ml.html. Acesso em 25 jan. 2020. Imagem 2: http://www.farvet.com.br/produto/114095/cetoconazol-suspensao-oral-20-20ml-antifungico-para-caes-e-gatos. Acesso em: 25 jan. 2020. Imagem 3: https://www.onofre.com.br/nitrato-de-miconazol-20mg-cimed-genericos-locao-30ml. html. Acesso em 25 jan. 2020. Imagem 4: https://www.caaspshop.com/gelol-linimento-45ml-7948/p. Acesso em: 25 jan. 2020. 18 UNIDADE I │CONCEITOS Figura 7. Formas farmacêuticas sólidas para uso oral. 1 – Comprimidos 2 – Drágeas 3 – Cápsulas 4 – Pílulas Fonte: Imagem 1: https://www.drogal.com.br/lisador-4-cpr/p. Acesso em: 25 jan. 2020. Imagem 2: https://www.bifarma.com. br/produto/neosaldina-com-4-drageas-1199. Acesso em: 25 jan. 2020. Imagem 3: https://hypescience.com/remedio-para- emagrecer/. Acesso em: 25 jan. 2020. Imagem 4: https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/E89F/production/_99115595_1. jpg Acesso em: 25 jan. 2020. Figura 8. Formas farmacêuticas semissólidas 1 – Pomada 2 – Creme 3 – Pasta 4 – Gel Fonte: Imagem 1: Disponível em: https://www.drogariavenancio.com.br/nebacetin-takeda-15g-pomada/p. Acesso em: 06 fev. 2020; Imagem 2: https://www.farmadelivery.com.br/azelan-creme-dermatologico-200mg-g-30g. Acesso em: 06 fev. 2020; Imagem 3: Disponível em: https://www.panvel.com/panvel/pasta-dagua-lifar-90g/p-307335. Acesso em: 06 fev. 2020; Imagem 4: Disponível em: https://www.drogaraia.com.br/topcoid-5mg-g-gel-40g.html. Acesso em: 06 fev. 2020. 19 CONCEITOS │ UNIDADE I Figura 9. Formas farmacêuticas destinadas à inserção nos orifícios corporais 1 – Supositório 2 – Óvulo vaginal Fonte: Imagem 1: Disponível em: https://www.araujo.com.br/novalgina-300mg-supositorios/p. Acesso em: 14 fev. 2020; Imagem 2: Disponível em: https://farmacianovadamaia.pt/en/intimate-hygiene/1591-vagisan-acido-lactico-7-ovulos.html. Acesso em: 14 fev. 2020. Os fármacos podem ser administrados por diferentes vias e estão disponíveis em diversas formas farmacêuticas, adequadas a essas vias (Quadro 3). As vias de administração podem ser divididas em enteral e parenteral. A enteral é relacionada ao aparelho digestório (via oral), onde ocorre o efeito de primeira passagem, ou seja, biotransformação no fígado. A parenteral é aquela que não está relacionada ao aparelho digestivo, pois não ocorre o efeito de primeira passagem, como, por exemplo, os fármacos de vias subcutâneas, intramuscular, endovenosa, dérmica, retal, entre outras. Quadro 3. Vias de administração x formas farmacêuticas. VIAS FORMAS FARMACÊUTICAS Oral Comprimidos Cápsulas Drágeas Xaropes Soluções Via aérea Aerossóis Soluções Via dérmica Pós Pomadas Géis Cremes Loções Via transvaginal Óvulos Pomadas Cremes Via retal Supositórios Pomadas Cremes Via oftálmica Colírios Pomadas estéreis. Via auricular Soluções de gotejamento. Fonte: própria autora, s.d. https://www.araujo.com.br/novalgina-300mg-supositorios/p https://farmacianovadamaia.pt/en/intimate-hygiene/1591-vagisan-acido-lactico-7-ovulos.html 20 UNIDADE I │CONCEITOS Vale ressaltar que alguns fármacos, na forma de soluções injetáveis, podem ser administrados pela via intramuscular, subcutânea, endovenosa, raquidiana ou intratecal. Entre as formas farmacêuticas existentes, destacam-se aquelas utilizadas por via oral, que podem se apresentar na forma líquida ou sólida. As formas líquidas são de absorção mais rápida em relação às sólidas, pois não dependem da dissolução do veículo que contém o fármaco, nem da solubilização deste nos líquidos intracelulares, pois o fármaco já está livre e solubilizado. Entre as formas sólidas, as cápsulas são as mais prontamente absorvidas, seguidas pelos comprimidos e drágeas. Isso ocorre pelo fato de a cápsula ser constituída por uma matriz gelatinosa, facilmente dissolvida em contato com a água, enquanto o comprimido necessita ser desintegrado para a liberação do fármaco. A drágea é uma forma especial de comprimido utilizada para impedir que ele entre em contato com a mucosa do estômago, provocando lesão. É um comprimido normal, recoberto por uma camada de polímero biodegradável, resistente à dissolução no estômago, sendo o fármaco liberado apenas próximo ao intestino. A drágea pode ser comparada a um confete de chocolate que gradualmente será dissolvido ao longo do sistema digestivo, sendoo fármaco liberado lentamente. A Neosaldina® é um exemplo desse tipo de medicamento. Os medicamentos na forma sólida, cuja liberação e absorção são mais lentas, podem ser considerados mais seguros, pois, além de existir uma possibilidade maior de reversão dos casos de superdosagem, contêm a dose exata a ser administrada, diferentemente dos líquidos, cujos limites do frasco dosador nem sempre são respeitados. Embora os comprimidos que não possuem sulco não devam ser divididos no meio, para evitar erro de dosagem, é comum essa prática entre as pessoas leigas. Conceitos em interação entre medicamentos e nutrientes Todas as pessoas têm necessidades nutricionais, ou seja, devem ingerir diariamente certa quantidade de nutrientes para que seu organismo funcione adequadamente. Essa quantidade varia de indivíduo para indivíduo. Entretanto, a partir de muitos estudos em populações saudáveis, foi elaborada, pelo Food and Nutrition Board (FNB), uma tabela de recomendações nutricionais, chamada RDA, que estabelece valores capazes de cobrir as necessidades da maior parte da população. Esses valores são, então, utilizados como base para a adequação de nutrientes na dieta, o que só pode ser 21 CONCEITOS │ UNIDADE I obtido a partir de uma alimentação saudável e variada, ou seja, um indivíduo normal que se alimenta corretamente, sem restrições alimentares, é capaz de obter todos os nutrientes necessários para um bom funcionamento do organismo. Entretanto, existem algumas doenças ou alterações no metabolismo que podem alterar a absorção de alguns nutrientes, como a anemia e a osteoporose, exigindo assim uma suplementação. Outro fator considerável são as exigências da vida atual, que levam os indivíduos a longas jornadas de trabalho, com curtos intervalos, gerando má alimentação e estresse acentuado. A consequência muitas vezes é a obesidade, que corresponde a um excesso de calorias e desnutrição. Assim, os suplementos nutricionais ganharam popularidade rapidamente, visto que são preparações destinadas a complementar a dieta e a fornecer os nutrientes como vitaminas, minerais, fibras, ácidos graxos ou aminoácidos que podem estar faltando ou não podem ser consumidos em quantidade suficiente na dieta de uma pessoa. Da mesma forma, o significado das interações entre nutrientes e medicamentos também está aumentando. Mulheres pós-menopáusicas tomam cálcio e vitamina D para prevenir a osteoporose; muitos homens tomam betacaroteno e vitamina E para ajudar a prevenir ataques cardíacos. Um grande número de pessoas conscientes das necessidades nutricionais estão tomando vitaminas ou minerais por uma variedade de razões: ajudar a garantir uma gravidez saudável, fortalecer o sistema imunológico, reduzir o risco de câncer. Embora mais estudos sejam necessários para confirmar se esses benefícios para a saúde são significativos, os médicos e os pacientes já aceitam que as interações droga-nutriente são consideráveis. Em alguns casos, um mineral ou vitamina pode tornar um medicamento ineficaz, como, por exemplo, a tetraciclina, que se liga fortemente ao cálcio, formando um complexo insolúvel; os pacientes que fazem uso desse medicamento são frequentemente alertados a “evitar os laticínios”. Essa advertência deve estender-se a suplementos de cálcio e até mesmo a antiácidos com carbonato de cálcio, mas isso nem sempre é feito. Mesmo que o médico tenha conhecimento que a fenitoína perde 50% da sua eficácia na prevenção de convulsões quando tomada com a vitamina B6, ele pode não saber quando um paciente está se automedicando com ela para sintomas pré-menstruais ou síndrome do túnel do carpo, por exemplo. Assim, a falta de informação sobre os medicamentos e suplementos que o paciente está utilizando pode gerar consequências graves. Certos medicamentos podem depletar o corpo de um nutriente específico, como drogas antilipêmicas (colestiramina) podem interferir com a absorção de um número de nutrientes, incluindo vitaminas lipossolúveis como A, D, K e, possivelmente, E. Um 22 UNIDADE I │CONCEITOS suplemento multivitamínico pode ser desejável, mas não deve ser tomado associado ao medicamento ou logo em seguida. Um pobre estado nutricional pode prejudicar o metabolismo de drogas. Pessoas que estão em maior risco de interações droga-nutriente são aquelas que: » possuem alguma doença hepática, renal ou gastrointestinal; » são nutricionalmente comprometidas devido a doenças crônicas; » perderam peso recentemente ou estão desidratadas; » estão em terapia com múltiplas drogas ou tratamento prolongado; e » estão nos extremos de idade, com alterações na massa corporal magra, fluidos corporais e concentração de proteínas plasmáticas totais. Mais informações sobre o efeito dos fármacos na nutrição podem ser encontradas no artigo: ZYL, M. V. The effects of drugs on nutrition. South African Journal of Clinical Nutritional, vol. 24, no 3, pp. S38-S41, 2011. Disponível em: http://www.ajol.info/ index.php/sajcn/article/view/69810/57893. Acesso em: 12 mai. 2020. Os medicamentos podem afetar o estado nutricional de várias formas; alguns causam anorexia e perda de peso, outros produzem aumento de peso. Podem diminuir a motilidade gastrointestinal ou provocar diarreia, vômito e náuseas (Quadros 4, 5 e 6). Quadro 4. Drogas que produzem alteração no peso. ANOREXIA OU PERDA DE PESO GANHO DE PESO Amantadina Antidepressivos tricíclicos (exceto nortriptilina) Digoxina Valproato Fluoxetina Betabloqueadores Levodopa Contraceptivos orais Lítio Antipsicóticos Metformina Esteroides Topiramato Esteroides anabólico Nortriptilina Fonte: própria autora, s.d. 23 CONCEITOS │ UNIDADE I Quadro 5. Drogas que diminuem a motilidade gastrointestinal. OPIÁCEOS EFEITOS ANTICOLINÉRGICOS Morfina Antidepressivos tricíclico Codeína Oxibutinina Ondansentrona Propantelina Fonte: própria autora, s.d. Quadro 6. Drogas que provocam diarreia, vômito e náuseas. NÁUSEA E VÔMITO DIARREIA Quimioterápicos eritromicina Potássio metoclopramina e domperidona Preparações com ferro misoprostol Antibióticos Inibidor da bomba de prótons Anestésicos Antivirais e antirretrovirais Opiáceos Sais de magnésio Nicotina Ferro e lítio Levodopa Acarbose, digoxina e metformina Fonte: própria autora, s.d. 24 CAPÍTULO 2 Farmacocinética e farmacodinâmica das interações Farmacocinética O fenômeno de interação fármaco-nutriente pode surgir antes ou durante a absorção gastrintestinal, durante a distribuição e o armazenamento nos tecidos, no processo de biotransformação ou mesmo durante a excreção. Assim, é importante compreender os fármacos cuja velocidade de absorção e/ou quantidade absorvida podem ser afetadas pela presença de alimentos, bem como aqueles que não são afetados. Por outro lado, muitos deles, incluindo antibióticos, antiácidos e laxativos, podem causar má absorção de nutrientes. A maioria dos fármacos administrados oralmente é absorvida por difusão passiva, enquanto os nutrientes são absorvidos, preferencialmente, por mecanismo de transporte ativo. A primeira resulta da difusão do fármaco pela membrana plasmática para dentro da célula epitelial e dali para o sangue, enquanto o segundo envolve proteínas especializadas, inseridas na membrana plasmática das células que, gastando energia, transportam o fármaco de fora para dentro da célula e dali para o sangue. Quando se administra um fármaco por via oral, sua absorção pelo tubo gastrintestinal e, consequentemente, sua concentração sanguínea são dependentes de vários fatores, como pode ser visto no quadro 7. O alimento é indispensável à manutenção e à ordem da saúde e sua importância está associada à sua capacidade de fornecer, ao corpo humano, nutrientes necessários ao seu sustento. Para isso, é fundamental a sua ingestão em quantidade e qualidade adequadas, de modo que funções específicas como a plástica, a reguladora e a energética sejam satisfeitas, mantendo assim a integridade estrutural e funcional doorganismo. No entanto, essa integridade pode ser alterada em casos de falta de um ou mais nutrientes, com consequente deficiência no estado nutricional e necessidade de suplementação. Entretanto, os nutrientes também são capazes de interagir com fármacos, sendo um problema de grande relevância na prática clínica, devido às alterações na relação risco/benefício do uso do medicamento. Essas interações são facilitadas, pois os medicamentos, na sua maioria, são administrados por via oral. Os nutrientes podem modificar os efeitos dos fármacos por interferirem em processos farmacocinéticos, como 25 CONCEITOS │ UNIDADE I absorção, distribuição, biotransformação e excreção, acarretando prejuízo terapêutico. A absorção dos nutrientes e de alguns fármacos ocorre por mecanismos semelhantes e frequentemente competitivos e, portanto, apresentam como principal sítio de interação o trato gastrintestinal (TGI). Quadro 7. Fatores que exercem influência sobre a biodisponibilidade. ASPECTOS RELACIONADOS AOS FÁRMACOS VARIAÇÕES INDIVIDUAIS Solubilidade Idade Tamanho da partícula Ingestão de alimentos Forma farmacêutica Tempo de trânsito intestinal Efeitos do fluido gastrintestinal Microflora intestinal Metabolismo pré-sistêmico Metabolismo intestinal e hepático pKa do fármaco Patologia gastrintestinal Natureza química (sal ou éster) PH gastrintestinal Liberação imediata ou lenta Circulação entero-hepática Fonte: própria autora, s.d. Como os alimentos, em algumas circunstâncias, podem tanto afetar a farmacocinética como a farmacodinâmica dos medicamentos, o clínico deve estar atento a incluir no seu projeto terapêutico os cuidados mínimos necessários em relação à dieta do seu paciente. De um modo geral, mas nem sempre, os alimentos retardam o esvaziamento gástrico e diminuem o melhor contato dos medicamentos com a mucosa absortiva, com a consequente diminuição da absorção dos medicamentos. Os alimentos gordurosos e bebidas ácidas tendem a diminuir de maneira mais intensa o esvaziamento com pKa mais ácido, diminuindo a absorção dos que apresentam um pKa mais básico e que são absorvidos no intestino delgado de forma predominante. Os alimentos grelhados na brasa produzem hidrocarbonetos policíclicos que são indutores das isoenzimas do citocromo P450, podendo, na dependência das quantidades ingeridas e da frequência, aumentar o metabolismo hepático dos medicamentos. O chá e o café formam precipitados insolúveis com alguns medicamentos, entre os quais se destacam os antipsicóticos clorpromazina e haloperidol, havendo significativa diminuição da absorção desses medicamentos. Além disso, poderão antagonizar, por uma ação estimuladora direta no Sistema Nervoso Central (SNC), o efeito terapêutico dos ansiolíticos e, por uma ação diurética, poderão facilitar a excreção renal do lítio e causar alguma diminuição do seu nível terapêutico. Obviamente, essa ocorrência dependerá das quantidades e da frequência de ingestão dessas bebidas. Deve-se destacar que a cafeína, especificamente, é capaz de bloquear os receptores de 26 UNIDADE I │CONCEITOS adenosina, os canais de cálcio e a decomposição intracelular do monofosfato cíclico de adenosina (AMPc). Tais características poderão conduzir a uma significativa estimulação do SNC, seguida, posteriormente e muito provavelmente, em razão de seu uso prolongado e em grandes quantidades, de um déficit de memória. Muitas pessoas possuem a crença errada de que tomar medicamento com leite é benéfico pois protege o estômago, porém há dois erros nisso: o primeiro é o fato de o leite, apesar de alcalino, promover ação acidificante no estômago, pois estimula maior liberação de ácido clorídrico; o outro problema é a interação do cálcio do leite com alguns medicamentos. A alta concentração de íons de cálcio presentes no leite poderá formar complexos menos solúveis e diminuir a absorção dos medicamentos com pKa mais ácido quando ingeridos conjuntamente. Figura 10. Interações de leite ou café com medicamentos. Fonte: Disponível em: https://www.vix.com/pt/saude/553794/nenhum-tipo-de-remedio-pode-ser-tomado-com-leite-cafe- refrigerante-ou-suco. Acesso em: 14 fev. 2020. Outras interações relevantes são as que ocorrem quando há um grande aporte de ingestão de ferro, principalmente nas apresentações multivitamínicas e nos sucos de uva. Poderá ligar-se aos grupos catecol da levodopa, formando complexos insolúveis, com diminuição da absorção da levodopa. Porém, a mais grave interação dos alimentos com medicamentos ocorre entre os inibidores da monoamino oxidase (IMAO) e os alimentos contendo tiramina, principalmente os fermentados, vinhos e queijos. Essa interação poderá aparecer precocemente, em torno de três horas após a ingestão. Poderão ocorrer crises hipertensivas graves a ponto de conduzir ao óbito. Caso ocorra essa interação com surgimento de hipertensão arterial, nos casos leves, deve-se utilizar a nifedipina 20 mg por via oral, e, nos casos mais graves, o medicamento de escolha é a fentolamina, na dose aproximada de 5 mg por via intravenosa lentamente. Pelo motivo 27 CONCEITOS │ UNIDADE I citado, os inibidores da MAO ficaram obsoletos e, com o surgimento de medicamentos mais modernos, foram sendo substituídos. Figura 11. Alimentos contendo tiramina que interagem com inibidores da MAO. Fonte: Disponível em: http://interacoesdosmedicamentos.blogspot.com/2015/11/antidepressivos-inibidores-da-mao-x.html. Acesso em: 14 fev. 2020. O clínico poderá utilizar, na dieta do paciente depressivo, alimentos ricos em serotonina, como a alface, a banana, a ameixa e o peito de frango, a fim de potencializar o efeito terapêutico dos antidepressivos. Poderá fazer uma dieta rica em fenilalanina, que é precursora da noradrenalina e dopamina, encontrada de forma abundante na carne vermelha, para também potencializar os antidepressivos. Poderá, ainda, retirar essa carne vermelha rica em precursores noradrenérgicos/dopaminérgicos dos pacientes com transtorno de ansiedade em uso de ansiolíticos. Por fim, vale lembrar que o paciente em estado de carência alimentar, por qualquer razão, apresenta menor taxa de albumina no plasma, o que pode aumentar significativamente a fração livre circulante dos medicamentos, com possibilidade maior de ocorrerem efeitos indesejáveis e tóxicos não previstos. O processo de absorção dos fármacos pode ser condicionado pelos alimentos ou por alguns dos seus componentes, quer quanto à velocidade, quer quanto à quantidade de fármaco absorvida. Essa influência poderá ser de natureza fisiológica, originando uma modificação do esvaziamento gástrico ou um aumento da motilidade intestinal, ou de natureza físico-química, em que se destacam os fenômenos de quelação e de adsorção. A modificação da velocidade de esvaziamento gástrico é o fator com maior implicação em relação à absorção, e o efeito poderá ser de atraso, redução, aumento ou antecipação da absorção. 28 UNIDADE I │CONCEITOS Analgésicos e anti-inflamatórios, por exemplo, são, com frequência, administrados com alimentos. O objetivo é diminuir as irritações da mucosa gástrica provocadas, principalmente, pela administração desses medicamentos por tempo prolongado. De acordo com a maioria das pesquisas realizadas, os nutrientes diminuem a velocidade de absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o esvaziamento gástrico. Entre os fármacos nos quais se verifica uma redução pronunciada no processo de absorção, por interação com constituintes da dieta, podem-se destacar as tetraciclinas que formam quelatos não absorvíveis com íons di ou trivalentes, particularmente abundantes em alimentos ou bebidas contendo cálcio e em alimentos fortificados com ferro. Outro exemplo clássico é o da administração concomitante de fenoximetilpenicilina potássica, por via oral, com alimentos, o que ocasiona uma notável diminuição na biodisponibilidade do fármaco. Fazendo com que a absorção da penicilina ocorra, principalmente, no duodenoe no íleo, devido ao processo de decomposição no estômago decorrente do pH ácido e da presença de enzimas digestivas, os alimentos que favorecem a secreção ácida e o retardamento do esvaziamento gástrico constituem importante fator de diminuição da biodisponibilidade do medicamento. Existem, porém, alguns medicamentos cuja absorção ou biodisponibilidade é aumentada pela presença de alimentos. Na maioria das situações, esse acréscimo na absorção está relacionado com alterações no pH gástrico, na solubilidade do fármaco ou no esvaziamento gástrico. As interações que se repercutem no processo de distribuição são pouco relevantes clinicamente, sendo que as que conduzem a alterações do metabolismo dos fármacos resultam, principalmente, da interferência das enzimas de fase I, que integram o sistema enzimático citocromo P450, que, ao sofrer influência dos constituintes da alimentação, podem resultar em uma inibição ou indução enzimática. Nesse âmbito, têm sido identificadas numerosas interações, com significado clínico, entre o sumo de toranja e diversos medicamentos. Essas interações traduzem-se em um efeito inibitório provocado provavelmente por alguns flavonoides, como a naringenina encontrada em frutas cítricas, como toranja, laranja, limão, mexerica e outras, sobre o metabolismo dos fármacos metabolizados pelo CYP 3A4, o que ocasiona um aumento das suas concentrações plasmáticas, com eventual risco para o doente. Nessas circunstâncias, as interações conhecidas permitem contraindicar a ingestão das frutas citadas durante a terapêutica com, por exemplo, terfenadina, diazepam, carbamazepina, lovastatina, atorvastatina e sinvastatina. 29 CONCEITOS │ UNIDADE I Figura 12. Frutas com naringenina que interagem com medicamentos metabolizados pelo sistema CYP3A4. Fonte: http://www.farmaciaaguiadeouro.com.br/blog/frutas-citricas-os-verdadeiros-beneficios. No que diz respeito à eliminação dos fármacos, esse processo pode ser condicionado ao pH urinário, que influencia o processo de reabsorção tubular dos ácidos e das bases fracas por alteração do grau de ionização das moléculas. Entre os alimentos que acidificam a urina estão a carne de aves, o peixe, as uvas, o pão e o queijo, sendo que os frutos (com exceção das uvas), os legumes (com exceção do milho e da lentilha), o leite, as natas e a manteiga são alimentos suscetíveis de alcalinizar a urina. Quando administramos um medicamento via endovenosa, não ocorre absorção, pois o fármaco está totalmente disponível no sangue ao final da injeção, não necessitando atravessar nenhuma membrana. Ao contrário, na via oral, o fármaco precisa atravessar várias membranas e nunca é 100% absorvido, sendo parte retida na mucosa e excretada com as fezes. A absorção do fármaco pelo trato gastrintestinal pode ser influenciada por: » presença de alimentos no sistema digestório; » alteração da motilidade intestinal; » aumento da absorção de fármacos lipossolúveis; » variação do pH; » formação de complexos inativos ou não absorvíveis; » lesão de mucosa; » alteração da microflora intestinal; e » alteração do fluxo sanguíneo. 30 UNIDADE I │CONCEITOS A absorção dos fármacos ocorre, na sua maioria, já no estômago. Como o sistema digestivo está envolvido nos processos de digestão e absorção de nutrientes, a presença de alimentos altera a biodisponibilidade dos fármacos, reduzindo sua concentração plasmática por interferir na sua absorção pela mucosa intestinal. Esse parâmetro farmacocinético sofre a maior interferência de alimentos e representa o mais comum e clinicamente importante tipo de interação entre alimentos e medicamentos. Tabela 3. Fases da farmacocinética. Fases Descrição resumida da fase 1. Absorção Passagem da substância do local de administração até a corrente sanguínea. 2. Distribuição Transporte da substância através das proteínas plasmáticas. 3. Biotransformação Reações químicas e enzimáticas que transformam a substância em uma forma ativa para que possa promover efeitos benéficos ao organismo ou para se transformar em uma forma mais hidrossolúvel para que seja excretada do organismo. 4. Excreção Eliminação da substância do organismo. Fonte: própria autora, s.d. Distribuição e metabolismo Depois de administrada e absorvida, a droga é distribuída, isto é, transportada pelo sangue e outros fluidos a todos os tecidos do corpo. Apesar de ser um todo funcional, o organismo divide-se em diferentes compartimentos bem delimitados pelas membranas biológicas. Inicia-se a análise da distribuição a partir do momento em que a droga chega ao sangue, e então são estudados a concentração plasmática da droga, a permeabilidade do endotélio capilar, a ligação da droga às proteínas plasmáticas e à biodisponibilidade e o volume de distribuição da droga. Figura 13. Distribuição dos fármacos na corrente sanguínea. FÁRMACOS NO SANGUE PORÇÃO LIVRE FORMA ATIVA ATRAVESSA AS MEMBRANAS PORÇÃO LIGADA ÀS PROTEÍNAS PLASMÁTICAS FORMA INATIVA NÃO ATRAVESSA AS MEMBRANAS Fonte: própria autora, s.d. No sangue, quase todas as drogas subdividem-se em duas partes: uma livre, dissolvida no plasma, e outra que se liga às proteínas plasmáticas, especialmente à fração albumínica. A droga e a proteína formam um complexo reversível, 31 CONCEITOS │ UNIDADE I passível de dissociação. Do ponto de vista farmacológico, somente a parte livre é que pode ser distribuída, além de atravessar o endotélio vascular e atingir o compartimento extravascular. A parte ligada às proteínas plasmáticas constitui fração de reserva das drogas e só se torna farmacologicamente disponível no momento em que se converte em porção livre. Forma-se, no sangue, um equilíbrio entre a parte ligada e a parte livre da droga. À medida que a parte livre é utilizada pelo organismo, a parte ligada vai se desligando para substituir aquela livre que é distribuída, acumulada, metabolizada e excretada. Tipos de proteínas plasmáticas: » Albumina: › É a proteína plasmática mais importante. › Liga-se a muitas substâncias ácidas. · Exemplos: varfarina, AINEs, sulfonamidas. › Liga-se a um número menor de substâncias básicas. · Exemplos: antidepressivos tricíclicos, clorpromazina. » Betaglobulinas: › Ligam-se principalmente a hormônios esteroides. » Glicoproteínas ácidas: › Ligam-se principalmente a substâncias básicas. Muitos constituintes dos alimentos também se ligam à albumina e podem competir com fármacos pelo seu sítio de ligação. Um exemplo disso é a competição que ocorre entre ácidos graxos livres, cujos níveis são aumentados após refeições ricas em gorduras, e alguns fármacos que, por se ligarem aos mesmos sítios na albumina, são deslocados por competição, aumentando os seus efeitos adversos. As modificações químicas que ocorrem nos fármacos resultam de transformações enzimáticas que quase sempre ocorrem em sequência e são denominadas reações de fase I e de fase II. As reações de fase I consistem em reações de oxidação, redução ou hidrólise, que normalmente introduzem um grupo funcional mais reativo na molécula, o qual serve 32 UNIDADE I │CONCEITOS de suporte para uma posterior conjugação, sendo os produtos frequentemente mais reativos e mais tóxicos que as moléculas originais. As reações de fase II consistem em reações de conjugação com ácido glicurônico, com sulfato ou com acetato produzindo metabólitos menos reativos e consequentemente menos tóxicos. As reações de fase I e de fase II normalmente ocorrem no fígado, com exceção de algumas drogas que são metabolizadas no plasma, como alguns bloqueadores neuromusculares nos pulmões, como as prostaglandinas, ou no intestino, como o salbutamol. Essas reações ocorrem pela ação de enzimas como, por exemplo, do complexo enzimático do citocromo P450. Muitas dessas enzimas metabolizam também nutrientes e têm como cofatores vitaminas e minerais. Isso significa que, de algum modo, dependendo do fármaco ou do nutriente envolvido, pode haver competiçãopelas mesmas enzimas. Excreção A eliminação de substâncias, que consiste na sua perda irreversível do corpo, ocorre por meio de dois processos: metabolismo e excreção. O metabolismo, como já citado, envolve a conversão enzimática de um componente químico em outro, enquanto a excreção consiste na eliminação do corpo da substância quimicamente inalterada ou de seus metabólitos. As principais vias pelas quais as substâncias e seus metabólitos são removidos do corpo são: os rins, o sistema hepatobiliar e os pulmões (esse último, importante para anestésicos voláteis/gasosos). As substâncias são, em sua maioria, removidas do corpo pelos rins, em sua forma inalterada ou como metabólitos polares. Algumas substâncias são secretadas na bile pelo fígado; a maioria, porém, é então reabsorvida pelo intestino. Embora não existam estudos sobre a real interferência dos nutrientes sobre a excreção de fármacos, o pH da urina pode ser influenciado por alimentos. Entre os alimentos que alcalinizam a urina estão vegetais, amêndoas, castanhas, coco, frutas cítricas e produtos derivados do leite. Outros alimentos tendem a acidificar a urina, como, por exemplo, pão, bacon, milho, lentilha, carnes, peixes, aves e ovos. Assim, a taxa de excreção de alguns fármacos pode ser modificada. Em contrapartida, fármacos como os diuréticos, por sua ação sobre transportadores renais, podem influenciar a secreção de nutrientes de modo significativo. Esses medicamentos são utilizados não só para tratamento de edema, mas também como 33 CONCEITOS │ UNIDADE I anti-hipertensivos, sendo utilizados por longo tempo. Diuréticos como os tiazídicos (hidroclorotiazida), os de alça (furosemida) e o ácido etacrínico produzem depleção de potássio e aumentam a excreção de magnésio e zinco. Farmacodinâmica As interações de natureza farmacodinâmica, que são menos frequentes, ocorrem quando o efeito do fármaco no seu local de ação é modificado pela presença do alimento ou concretamente de alguns dos seus constituintes. Nesse tipo de interação, poderá ser constatado um efeito aditivo resultante da administração concomitante de fármacos que atuam no SNC (como hipnóticos, anti-histamínicos) com álcool, que apresenta, igualmente, uma atividade depressora. Em outras situações, a interação origina um efeito do tipo antagônico. Por exemplo, como os anticoagulantes prolongam o tempo de protrombina, seu efeito é antagonizado pela vitamina K, muito abundante em certos alimentos como aveia, trigo, fígado ou espinafre. Outro tipo de interação, de natureza farmacodinâmica, com consequências clinicamente relevantes, está relacionado a alterações na atividade de várias enzimas. Na literatura, há muitas referências à presença de tiramina em elevada quantidade em alguns alimentos e bebidas, quais sejam, bebidas alcoólicas fermentadas (cerveja), queijos curados e fermentados, carnes defumadas e outros que interferem no tratamento crônico com IMAOs, como já citado. Isso ocorre devido ao fato de a tiramina ser geralmente metabolizada pelas monoaminoxidases intestinais e hepáticas que, ao serem inibidas, dão origem a um aumento de tiramina na corrente sanguínea. Ao atuar como simpaticomimético indireto, a tiramina pode originar graves crises hipertensivas que, em situações limite, poderão culminar em hemorragia cerebral e coma. Em 1964, foram registrados 38 casos de hemorragia cerebral, dos quais 21 revelaram-se fatais, em doentes utilizando IMAOs, que se constatou serem consumidores regulares de queijos e outros alimentos e bebidas ricos em aminas pressoras, como a histamina, que são passíveis de determinar a mesma síndrome. Entre esse tipo de alimento estão o queijo gruyère, alguns peixes e molhos exóticos e o marisco. 34 UNIDADE IIMEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS CAPÍTULO 1 Fármacos para o sistema digestório Antiulcerosos e antiácidos O trato gastrointestinal tem como função armazenar, digerir e absorver nutrientes, eliminando os resíduos que não são aproveitados pelo organismo. Tal função é regulada pelo sistema nervoso central, pelo sistema nervoso entérico e por hormônios localizados no próprio TGI. Náusea, vômito e refluxo podem inibir diretamente a ingestão de alimentos, enquanto há a recusa de alimento nos casos de gastrite ou úlcera, pela dor associada ao aumento da secreção de ácido durante o processo de digestão. A diarreia, por sua vez, está associada a perdas nutricionais tão importantes que podem levar à morte. Úlcera é o termo médico para uma ferida aberta. A úlcera péptica desenvolve-se dentro do revestimento do estômago ou do intestino delgado. De 5% a 10% dos norte-americanos apresentam uma úlcera péptica em alguma fase da vida. Há dois tipos de úlcera péptica. A que ocorre no estômago é chamada de úlcera gástrica. Se a úlcera se desenvolve no intestino delgado, ela é denominada de acordo com o local onde se apresenta. A mais comum é a úlcera duodenal, que se desenvolve no duodeno, primeira porção do intestino delgado. O estômago possui o muco secretado por células especializadas, que, além de secretar o bicarbonato, formam uma camada inerte semelhante a um gel que protege a mucosa contra o suco gástrico. O desequilíbrio entre a produção de muco e a secreção ácida pode resultar em lesão da mucosa, que se manifesta como uma inflamação (gastrite), podendo progredir para a erosão (úlceras). A bactéria Helicobacter pylori (H.pylori) é muito relacionada ao aparecimento da úlcera, embora se deva verificar a possibilidade de algum distúrbio associado à hipersecreção de algumas glândulas. Além disso, alimentos condimentados, cigarro, 35 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II álcool, alguns medicamentos como o ácido acetilsalicílico e fatores emocionais como estresse podem alterar a produção de muco e assim expor a parede gástrica à ação do ácido clorídrico. O refluxo também pode produzir dor e queimação semelhantes à gastrite e à úlcera, mas, neste caso, a dor está localizada no esôfago. Isso pode ocorrer quando o indivíduo come excessivamente no jantar ou deita imediatamente após a refeição noturna. Quando o paciente apresenta azia e refluxo frequentemente, pode ser o caso de doença do refluxo gastroesofagiano, cujo tratamento é semelhante ao indicado para os pacientes com gastrite e úlcera. As substâncias do trato gastrintestinal que regulam a secreção ácida gástrica podem ser liberadas na corrente sanguínea como a gastrina, um hormônio local como a histamina ou um neurotransmissor como acetilcolina liberada por neurônios. O mecanismo de ação dos três secretagogos sobre a célula parietal não está bem esclarecido, mas os farmacologistas apresentam a hipótese da célula única. De acordo com essa hipótese, a célula parietal possui receptores H2 para a histamina, receptores M2 muscarínicos para a acetilcolina e receptores de gastrina. A estimulação desses receptores instiga uma bomba de prótons que secreta hidrogênio para o lúmen. O cloro utilizado para a formação de ácido clorídrico é ativamente transportado para o interior de canalículos existentes na célula, que se comunicam com a luz das glândulas gástricas e, portanto, com a luz do estômago. O tratamento da úlcera (Quadro 8), quando causada pela bactéria H. pylori, é uma associação de antibióticos e antiácidos ou antiulcerosos, e, quando não é causada pela bactéria, utilizam-se apenas antiácidos ou antiulcerosos. 36 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS Quadro 8. Medicamentos utilizados no tratamento de úlceras. CLASSE FARMACÊUTICA AÇÃO NOME COMERCIAL NOME GENÉRICO Antibióticos Amoxil® Amoxicilina Antiácidos/antiulcerosos Antagonistas de receptor H2 Antak® Famox® Tagamet® Ranitidina Famotidina Cimetidina Inibidores da bomba de prótons Losec®, Vitrix® Noprol®, Zurcal®, Pantozol ® Diprox®, Lanzol®, Prazol® Omeprazol Pantoprazol Lanzoprazol Nexium® esomeprazol Antiácidos Neutralização do ácido Gastrol®, Gelmax®, Maalox plus®, Simeco plus® Associações: bicarbonatode sódio, hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio, simeticona Fonte: própria autora, s.d. Podemos dividir os medicamentos utilizados para regulação da secreção ácida gástrica pelo seu mecanismo de ação, em quatro grupos: » inibidores da bomba de prótons; » antagonistas dos receptores H2; » agentes que aumentam as defesas da mucosa; e » antiácidos. Inibidores da bomba de prótons Pertencem a esse grupo, os medicamentos: » omeprazol; » lansoprazol; » rabeprazol; » pantoprazol; e » esomeprazol. São benzimidazólicos substituídos que se assemelham aos antagonistas dos receptores de histamina (H2) na sua estrutura, porém possuem mecanismo de ação bem diferente. 37 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II Os inibidores da bomba de prótons (iBP) são pró-fármacos ativados em ambiente ácido, o que explica a necessidade de ser administrado em jejum, cerca de trinta minutos antes das refeições. Após sua absorção na circulação sistêmica, na forma de pró-fármaco, difunde- se nas células parietais do estômago e acumula-se nos canalículos secretores ácidos, onde é ativado pela formação de uma sulfenamida tetracíclica catalisada por prótons, retendo o fármaco. Assim, a forma ativada pode ligar-se por ligação covalente a grupos sulfidrila de cisteínas na H+, K+-Atpase, inativando de forma irreversível a molécula da bomba. Dessa forma, somente após a síntese de novas moléculas da bomba, a secreção de ácido poderá voltar ao normal; com isso, ocorre uma supressão prolongada da secreção ácida, em torno de 24 a 48h. Mesmo com meia vida plasmática muito curta, entre 0,5 e 2h do composto original, como bloqueia a etapa final na produção de ácido, essa classe de medicamentos é eficaz na supressão ácida. A inibição da secreção gástrica por medicamentos como os inibidores de receptor H2 e inibidores da bomba de prótons interfere na secreção do fator intrínseco, liberado com o HCl pelas células parietais. O fator intrínseco é essencial para a absorção de vitamina B12 pelo nosso organismo. Portanto, o tratamento crônico com esses medicamentos pode resultar em sintomas como fadiga, anemia, formigamento das extremidades ou outros, relacionados à deficiência da vitamina B12, sendo necessário monitorar seus níveis. A vitamina B12 é absorvida no trato intestinal por mecanismos ativos ou de difusão passiva, dependendo do fator intrínseco, que é uma enzima mucoproteica, presente na secreção gástrica (OLIVEIRA; MARCHINI, 1998). A dosagem de B12 no sangue é o método padrão para diagnosticar a sua deficiência, definida quando o valor está abaixo de 150 pg/ml. No entanto, já foi observada deficiência em pessoas com níveis normais de B12 no exame, o que representa valores de 200 a 300 pg/ml. O paciente deve ser orientado a realizar uma dieta rica em vitamina B12, sendo sugerida a ingestão de ovos, leite e derivados, frutos do mar, fígado e peixe. Em relação a uma possível suplementação ou tratamento farmacológico, em alguns casos, deve-se considerar a necessidade de suplementação, como em pacientes idosos 38 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS tratados cronicamente. O tratamento farmacológico pode ser feito por injetáveis ou por dose oral. Além da interferência na absorção de vitamina B12, também é importante analisar que a redução da acidez gástrica produzida pelos medicamentos antiácidos e antiulcerosos altera a digestão de proteínas e prejudica a perfeita digestão dos alimentos. Assim, a indicação desses fármacos deveria ser restrita a situações específicas de desconforto ou necessidade. Como os antiácidos reduzem o conteúdo gástrico, disponibilizando menor quantidade de solução para desintegração de comprimidos e dissolução do fármaco, a velocidade de sua absorção é retardada. Os antiulcerosos também alteram o pH urinário, modificando a taxa de excreção de outros fármacos administrados concomitantemente. Além disso, a presença de alimentos pode reduzir a absorção dos derivados da cimetidina, sendo recomendada sua administração uma hora antes das refeições. Os inibidores da bomba de prótons são considerados medicamentos seguros e raramente provocam reações adversas. Os efeitos mais comuns são náuseas, dores abdominais, diarreia ou constipação e cefaleia. Antagonistas dos receptores de histamina (H2) Pertencem a esse grupo, os medicamentos: » cimetidina; » ranitidina; » famotidina; » nizatina. São rapidamente absorvidos pelo intestino. Inibem a produção de ácido, competindo de modo reversível com a histamina pela ligação aos receptores H2 na membrana basolateral das células parietais. São menos potentes que os inibidores da bomba de prótons, entretanto suprimem a secreção de ácido gástrico em 70% durante 24 horas. 39 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II Geralmente os antagonistas dos receptores de H2 são indicados para uso noturno, já que o determinante mais importante da cicatrização de úlceras duodenais consiste no nível de acidez noturna. São absorvidos após administração oral, com concentrações séricas máximas de 1 a 3h. A absorção pode ser aumentada pela presença de alimento ou diminuída por antiácidos. Os níveis terapêuticos são alcançados rapidamente após uma dose intravenosa e se mantêm por 4 a 5 horas (cimetidina), 6 a 8 horas (ranitidina) ou 10 a 12 horas (famotidina). A meia vida dos quatro agentes varia de 1,1 a 4h e a duração de ação depende da dose administrada. Os efeitos adversos são mínimos e incluem diarreia ou constipação, cefaleia, fadiga e dor muscular. Com a administração via intravenosa, podem ocorrer efeitos no SNC como delírios e alucinações. O uso de cimetidina em altas doses e por longo tempo promove efeitos androgênicos como galactorréia e ginecomastia, redução da contagem de espermatozoides e impotência nos homens. Os antagonistas do receptor de H2 podem promover o desenvolvimento de discrasias sanguíneas como trombocitopenia. Atravessam a placenta e são excretados no leite materno. Não foram relatados casos de teratogenia, porém seu uso na gravidez deve ser bem avaliado. Agentes que aumentam a defesa da mucosa Alguns agentes são chamados de citoprotetores pois potencializam os mecanismos de proteção da mucosa e/ou proporcionam uma barreira física sobre a superfície. Fazem parte de grupo os medicamentos: misoprostol, sucralfato, quelato de bismuto e carbenoxolona. » Misoprostol: › Conhecido com o nome comercial Citotec®, é um análogo metílico da PGE. › Após administração oral, sofre rápida absorção e metabolismo em um ácido livre metabolicamente ativo. › A meia-vida sérica é de menos de 30 minutos; assim, o misoprostol deve ser administrado de três a quatro vezes ao dia. 40 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS › É excretado na urina. › Os efeitos indesejáveis consistem em diarreia e cólica abdominais; além disso, podem ocorrer contrações uterinas e provocar aborto. Devido a esse motivo, o misoprostol foi proibido, sendo utilizado apenas em ambiente hospitalar. » Sucralfato: › É um sal de sacarose complexado com hidróxido de alumínio sulfatado. › Em água e em soluções ácidas, forma uma pasta viscosa e de consistência firme que se liga seletivamente a úlceras ou erosões por um período de até 6h. › Alguns estudos in vitro apontam que o sucralfato pode inibir a ação da pepsina, além de estimular os mecanismos protetores da mucosa, como a secreção de muco e de bicarbonato, e produção de prostaglandinas. › É importante lembrar que o sucralfato pode reduzir a absorção de alguns medicamentos, como: fluoroquinolona, teofilina, tetraciclina, digoxina e amitriptilina. › Já o efeito indesejável mais comum é a ocorrência de constipação. › Os efeitos colaterais menos comuns são ressecamento da boca, náusea, vômito, cefaleia e exantema. » Quelato de bismuto: › É utilizado em esquemas de combinação no tratamento da infecção por H. pylori na úlcera péptica, por possuir efeitos tóxicossobre o bacilo e também por impedir sua aderência à mucosa ou inibir suas enzimas proteolíticas. Assim como o sucralfato, o quelato de bismuto forma uma camada protetora contra o ácido e a pepsina. › Pequena parte do quelato de bismuto é absorvida e, assim, excretada pela urina. › O bismuto promove um escurecimento das fezes, o que pode ser confundido com um sangramento. Assim, deve-se alertar o paciente que esse efeito é normal. 41 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II › Esse medicamento não deve ser usado por tempo prolongado devido a provocar toxicidade. » Carbenoxolona: › É derivado da raiz do alcaçuz. › Promove a produção de muco, que reveste e protege o estômago. Antiácidos É muito comum a automedicação com antiácidos de venda livre devido a propagandas em diversos veículos de comunicação, em que são recomendados para azia, má digestão e excessos cometidos após as refeições. Entre os mais populares estão os sais de magnésio e alumínio e o bicarbonato de sódio (Quadro 9). Quadro 9. Antiácidos mais conhecidos. NOME DO ANTIÁCIDO NOMES COMERCIAIS hidróxido de magnésio Leite de magnésia®, Natusgel®, Alca-Luftal®, Gastrol®, Maalox Plus®, Gelmax®, Mylanta Plus®. hidróxido de alumínio Pepsamar®, Alca-Luftal®, Engov®, Maalox Plus®, Gastran®, Gastrogel®, Gelmax®, Mylanta Plus®. bicarbonato de sódio Alka-Seltzer®, Estomazil®, sal de Andrews®, Sonrisal®. Fonte: própria autora, s.d. Hidróxido de magnésio O hidróxido de magnésio é um sal presente em antiácidos em associação com o hidróxido de alumínio, pois, se utilizado sozinho, produz diarreia. Os sais de magnésio não-absorvidos podem causar diarreia osmótica e os sais de alumínio podem provocar prisão de ventre; sendo assim, esses medicamentos podem ser indicados para tratamento de constipação ou diarreia. Porém, como esses sais são excretados pelos rins, não devem ser utilizados por pacientes com insuficiência renal por muito tempo. Hidróxido de alumínio O hidróxido de alumínio combina-se com o cálcio, o fosfato e o ferro presentes nos alimentos, formando sais insolúveis e aumentando a excreção desses nutrientes nas fezes. Sendo assim, pacientes com dieta deficiente em cálcio, fósforo ou ferro têm aumentado o risco de osteoporose, anemia, mialgia, parestesia e fadiga pelo uso prolongado desse 42 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS antiácido. Além disso, o alumínio, se absorvido, pode ser tóxico para o sistema nervoso central, sendo os idosos e crianças mais suscetíveis a essa intoxicação. Bicarbonato de sódio O bicarbonato de sódio produz gazes após a dissociação com o ácido clorídrico, relacionados aos efeitos adversos de distensão estomacal e flatulência. O uso frequente e em altas doses produz alcalose, uma vez que o cálcio presente pode ser absorvido. Quando ingerido com leite, pode gerar a síndrome do leite álcali, caracterizada por náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão mental, perda de apetite, hipercalcemia e cálculo renal. Pela presença de sódio, pacientes com insuficiência cardíaca ou hipertensos, submetidos a dietas com restrição de sódio, devem evitar o uso desses antiácidos. Simeticona (surfactante usado em associação com antiácidos) A simeticona, por ser um surfactante que diminui a formação de espuma, pode promover um efeito benéfico no refluxo esofágico; dessa forma, é incluída em preparações de antiácidos. Interação importante de antiácidos com cálcio, fósforo e ferro. Não administrar antiácidos com leite e derivados. Laxantes Um dos principais trabalhos que o cólon realiza é absorver água dos resíduos alimentares. À medida que o resíduo alimentar permanece no cólon, ele perde progressivamente seu conteúdo de água. Com o tempo, o resíduo fica muito seco e difícil de passar. O tempo entre as evacuações pode variar de um indivíduo para outro. Algumas pessoas evacuam duas ou três vezes por dia. Outras, somente três ou quatro vezes por semana. Entretanto, se for apenas uma ou duas vezes por semana, já pode ser sinal de constipação. Com a dieta ocidental, ficou estabelecido que a frequência normal de evacuações é de pelo menos três vezes por semana. A constipação pode ocorrer por muitas razões e tende a tornar-se mais comum com a idade. À medida que a idade avança, os músculos do trato digestivo tornam-se menos ativos. O estilo de vida também pode mudar. Os fatores que aumentam o risco de 43 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II constipação incluem a ingestão insuficiente de líquidos e de fibras, além de ser efetuado pouco exercício. Além disso, certos medicamentos podem tornar a digestão mais lenta, produzindo constipação. Entre eles estão os narcóticos e os antiácidos que contêm alumínio. Algumas pessoas com síndrome do intestino irritável experimentam episódios alternados de diarreia e constipação. Geralmente, a constipação é uma condição temporária que pode ser facilmente corrigida. Entretanto, há ocasiões em que pode indicar um problema mais sério. Estão bem estabelecidos os critérios clínicos para o tratamento da constipação intestinal infantil, no adulto ou no idoso. Contudo, o uso popular de laxativos e purgativos sustentado por propagandas de cunho meramente comercial veiculadas pela mídia e, às vezes, indevidamente sustentado por orientação médica, persiste como forma de “tratamento” medicamentoso de escolha daquele “sintoma”, com significante prejuízo para os pacientes. Os laxantes e purgantes não se prestam para o tratamento de doença alguma e, em casos excepcionais, mediante orientação médica criteriosa, podem ser prescritos para a evacuação intestinal abrupta, em geral, necessária como preparo pré-operatório, para procedimentos radiológicos e endoscópicos intestinais, entre outros motivos. Excepcionalmente, sob adequada orientação médica, os laxantes e congêneres serão aconselháveis, como adjuvante inicial, no tratamento da constipação intestinal crônica (SANTOS JUNIOR, 2003). Os termos “laxantes”, “catárticos”, “purgantes”, “laxativos” e “evacuantes” frequentemente são utilizados como sinônimos. Porém, existe uma diferença: » Laxação quer dizer: evacuação do material fecal formado no reto. » Catarse quer dizer: evacuação do material fecal não formado, geralmente na forma líquida, de todo o intestino grosso. Os fármacos usados mais comumente produzem laxação, mas alguns são realmente catárticos, que funcionam como laxantes em doses baixas. Os laxantes podem atuar pelos seguintes mecanismos: 44 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS » aumento da retenção dos líquidos intraluminais por mecanismos hidrofílicos ou osmóticos; » redução da absorção global de líquidos por ações no transporte de líquidos e eletrólitos nos intestinos delgado e grosso; e » alteração da motilidade por inibição das contrações segmentares (não propulsoras) ou estimulação das contrações propulsoras. Tabela 4. Classificação dos laxantes. CLASSIFICAÇÃO CARACTERÍSTICA/FUNÇÃO FÁRMACOS 1. Fármacos ativos no lúmen intestinal a) Coloides hidrofílicos Formadores de bolo Farelo de aveia Psílio Metilcelulose b) Fármacos osmóticos Sais inorgânicos ou açúcares não absorvíveis Leite de magnésia Citrato de magnésio Sulfato de magnésio Fosfatos de sódio 2, Fármacos umectantes Surfactantes e emolientes fecais Docusato Óleo mineral Lactulose 3. Estimulantes ou irritantes inespecíficos Com efeito na secreção de líquidos e na motilidade Difenilmetanos (Bisacodil) Antraquinonas (Sene e Cáscara sagrada) Óleo de rícino 4. Fármacos procinéticos Atuam principalmente na motilidade Agonistas do receptor 5-HT4 (Prucaloprida) Antagonistas dos receptores da dopamina (metoclopramida e domperidona) Motilídeos (eritromicina) Fonte: Brunton, Chabner e Knollmann, 2012. As interações com alimentos ocorrem principalmente com laxantes emolientes e estimulantes. Emolientes Os emolientes lubrificam e amolecem as fezes, impedindo a sua dessecação, e diminuem a tensão superficialdas fezes. Essa classe é representada pelo óleo mineral (Nujol®), glicerina e óleo de rícino. O ducosato de sódio também pode ser classificado como emoliente, embora não seja lubrificante, pois possui propriedade detergente, reduzindo a consistência das fezes. 45 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II Esses laxantes estão associados à deficiência de vitaminas lipossolúveis como caroteno e vitaminas A, D e K, pois não são absorvidos e, como solubilizam essas vitaminas, elas são eliminadas nas fezes. O uso crônico desses laxantes pode ocasionar o aparecimento de letargia, vômito, queda de cabelo, hiperqueratose, queratomalácia, osteomalacia e até mesmo cegueira noturna. Laxantes estimulantes Os laxantes estimulantes aumentam diretamente a motilidade do intestino, decorrente da irritação da mucosa intestinal. São glicosídeos extraídos de várias espécies de plantas (sene, aloe, ruibarbo, cáscara sagrada). O efeito laxativo depende da liberação dos compostos antraquinônicos, a partir de enzimas bacterianas. Óleo de rícino, que é obtido das sementes de Ricinus comunis, além de ser emoliente também tem efeito estimulante, pois contém uma substância chamada ácido ricininoleico que irrita a mucosa gástrica. Outros laxantes que pertencem a essa classe são a fenolftaleína (Agarol®), o bisacodil (Lacto-purga® e Dulcolax®) e o picossulfato de sódio (Guttalax®), muito usados na preparação para exames ou cirurgia intestinal. O uso crônico de laxantes estimulantes acarreta redução da absorção de glicose e das vitaminas D e K, bem como de proteínas, cálcio e outros eletrólitos. A agressão à mucosa gástrica produzida pelos laxantes estimulantes pode alterar a flora intestinal, produzir inflamações da mucosa e prurido anal, além de cólicas, náuseas e vômitos. Seu uso crônico está associado ao aparecimento de nefrite e de uma pigmentação melanótica benigna da mucosa colônica, além do risco de diarreia crônica, esteatorreia, cólon catártico, hipoalbuminemia e gastroenteropatia, com perda de capacidade da musculatura intestinal para evacuação. O efeito inicial dos laxantes é a redução do peso por perda de líquido pelas fezes, e, como muitas vezes os laxantes são utilizados com diuréticos em fórmulas para emagrecimento, ocorre maior perda de água e eletrólitos como potássio e cálcio. 46 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS A hipopotassemia consequente do uso abusivo de laxantes estimulantes pode resultar em parestesia progressiva e dolorosa, com fasciculação e perda do reflexo do tendão. A dor e a fraqueza muscular são revertidas pela reposição de potássio, encontrado na banana, no tomate, em vegetais de folha verde e em cereais. O desequilíbrio eletrolítico pode ocasionar também distúrbios cardiovasculares como arritmia cardíaca, além de fraqueza, cansaço e atonia da bexiga. Esses sintomas são agravados pela perda de cálcio nas fezes que, associada à perda de vitamina D, está relacionada com o aparecimento de osteoporose e osteomalacia em humanos. Como os laxantes aceleram o tempo de esvaziamento gástrico, podem reduzir a absorção de nutrientes e de alguns fármacos, influenciando assim a digestão e a absorção dos alimentos, podendo reduzir a biodisponibilidade dos nutrientes. Interações importantes com laxantes: » emolientes – deficiência de vitaminas A, D e K; » laxantes estimulantes – redução da absorção de glicose, das vitaminas D e K, de proteínas, cálcio e eletrólitos. 47 CAPÍTULO 2 Antidiabéticos O diabetes é um distúrbio metabólico caracterizado pela incapacidade do organismo de utilizar adequadamente a glicose. O organismo converte o açúcar dos alimentos em glicose, que, com a ajuda de outros fatores, como a insulina (hormônio produzido no pâncreas), entra nas células, sendo utilizada como energia. No organismo diabético, essa glicose não consegue penetrar nas células, acumulando-se na corrente sanguínea. Veja algumas referências sobre diabetes, insulina, hipoglicemia e outros assuntos nos seguintes sites: Gross et al. Diabetes melito: Diagnóstico, Classificação e Avaliação do Controle glicêmico. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, vol. 46, no 4, pp. 16-26, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abem/v46n1/ a04v46n1.pdf. Acesso em: 23 fev. 2020. RHVida. Entendo o Diabetes. Disponível em: http://www.slideshare.net/1950/ diabetes-431580. Acesso em: 23 fev. 2020 SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Insulina. Disponível em: https://www. diabetes.org.br/publico/diabetes/insulina. Acesso em: 23 fev. 2020. Insulinas Há vários tipos de insulina, classificadas de acordo com o tipo de ação. As mais comuns são: » Insulina de curta duração: leva de 30 a 60 minutos para cair na corrente sanguínea e tem ação de duas a seis horas. » Insulina de ação intermediária: depois de aplicada, tem ação de duas a doze horas. » Insulina de ação prolongada: demora cerca de duas horas para cair na corrente sanguínea. Tem ação de até 24 horas. » Insulina de ação rápida: como o próprio nome diz, é rápida. Depois de injetada, leva de 5 a 10 minutos para fazer efeito. 48 UNIDADE II │ MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS Medicamentos Os hipoglicemiantes orais apresentam mecanismos de ações semelhantes, compartilhando a propriedade de estimular a secreção de insulina pelas células β-pancreáticas e/ou sensibilizar receptores periféricos de insulina. Eles pertencem basicamente a três diferentes classes farmacológicas: sulfonilureias, biguanidas e tiazolidinedionas. » Sulfonilureias: › Estimulam o pâncreas a liberar a insulina armazenada e a aumentar a quantidade de insulina na corrente sanguínea, além de aumentarem a sensibilidade dos receptores periféricos de insulina. › Em excesso, podem ocasionar hipoglicemia no usuário. › Esse medicamento pode aumentar o apetite do paciente, podendo causar aumento de peso. » Meglitinidas: › São secretagogos da insulina efetivos por via oral. › São moduladores dos canais de KATP não sulfonilureias. › Estimulam a liberação de insulina através do fechamento dos canais de KATP nas células beta do pâncreas. » Biguanidas: › Têm ação sobre os receptores da insulina, diminuindo a resistência a ela. › Aumentam a atividade da proteinoquinase dependente de AMP. › Podem causar efeitos colaterais como diarreia e ânsia de vômito, causando efeitos complexos no fígado. › A ingestão desses fármacos com as refeições ou a redução da dosagem pode diminuir tais efeitos adversos, sendo estes transitórios e diminuindo em algumas semanas de tratamento. › O uso crônico pode produzir depleção de vitamina B12. Pacientes com 49 MEDICAMENTOS VERSUS ALIMENTOS │ UNIDADE II problemas hepáticos e renais não devem tomar esse medicamento. Normalmente são receitados para obesos. » Agonistas do GLP-1: › Produzem uma melhora tanto no controle glicêmico quanto na perda de peso. › Estão indicadas para terapia adjuvante em pacientes que não conseguiram um controle da glicemia com metformina, sulfonilureia ou a combinação de metformina/sulfonilureia ou metformina/ tiazolidinediona. » Tiazolidinedionas: › São agonistas potentes e seletivos para os receptores “gama” ativados pelo proliferador de peroxissomo (PPARγ). › Em seres humanos, os receptores PPARγ são encontrados em tecidos- alvo, importantes para a ação da insulina, como tecido adiposo, musculoesquelético e fígado, levando à redução das concentrações de glicose no sangue. › É contraindicado para indivíduos com insuficiência cardíaca. › Pode ocorrer aumento de peso devido ao uso dessa medicação. › Entre os principais efeitos adversos observados estão náuseas, vômito, urina escura, bem como hipoglicemia, anemia e ganho de peso. » Inibidores da DPP-4: › Em pacientes que possuem diabetes tipo 2, reduzem os níveis de HbA1c em cerca de 80%. › São efetivos para controle crônico da glicose quando associados a hipoglicemiantes orais ou insulina. » Inibidor da alfaglicosidase:
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