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Coordenação: Denise de Oliveira Schoeps Drauzio Viegas Coordenação Denise de Oliveira Schoeps Drauzio Viegas “ESTE EVENTO RECEBEU PATROCÍNIO DE EMPRESAS PRIVADAS, EM CONFORMIDADE COM A LEI Nº 11.265, DE 3 DE JANEIRO DE 2006". “COMPETE DE FORMA PRIORITÁRIA AOS PROFISSIONAIS E AO PESSOAL DE SAÚDE EM GERAL ESTIMULAR A PRÁTICA DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO ATÉ OS SEIS MESES E CONTINUANDO ATÉ OS DOIS ANOS DE IDADE OU MAIS”. PORTARIA Nº 2.051 DE 08/11/2001 - MS E RESOLUÇÃO Nº 222 DE 05/08/2002 -ANVISA. PREFÁCIO Este manual foi idealizado com muito carinho pelos Profissionais da Pediatria Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Fundação ABC, destinado a você, jovem estudante, para sensibilizá-lo quanto à importância da Pediatria e o “poder” que a Puericultura tem e também aos que militam no exercício da Pediatria, como forma de encorajá-los e assessorá-los nessa árdua tarefa.Queremos convidá-los a ser “Agentes Transformadores”.Acredito que a Puericultura poderá transformar o mundo, criando uma cultura de Paz, Respeito às diferenças, Solidariedade, Fra- ternidade, enfim, Amor! A Puericultura é definida como um conjunto de ensinamentos e práticas visan- do o adequado desenvolvimento físico, psíquico e social da criança. É a Medicina Preventiva da criança e do adolescente. Caminha de mãos dadas com a Pediatria. A Puericultura acompanha o indivíduo do nascimento até a vida adulta pro- piciando que ele cresça e se desenvolva na plenitude de seu potencial, evitando doenças, protegendo-o de fatores ambientais e sociais dentro de uma sociedade injusta, agressiva, violenta, com muitas possibilidades de acidentes e intercorrên- cias.Se algo contraria essa expectativa, entra em ação a Pediatria, recuperando o indivíduo e reduzindo danos. Aqui vocês receberão informações importantes quanto à avaliação do estado nutricional, alimentação adequada a cada faixa etária, calendário vacinal, etc. Mas, isto não basta! Cada qual terá que colocar sua “arte”, seu toque pessoal, visando um bom relacionamento com a mãe de seu paciente, conquistando sua confiança, sendo perspicaz para dar a orientação que garantirá mudanças no meio social, propiciando melhor desenvolvimento, segurança e afeto ao seu paciente. Preceitos morais são fundamentais. Posso lhes garantir que exercer a Puericultura e a Pediatria com amor, compro- misso, no rigor do respeito à criança e ao adolescente é extremamente gratifican- te, dignificante e nos faz sentir mais humanos! Desejo sucesso a todos: autores e leitores! Com especial carinho pediátrico, Alice Lang Simões Santos Presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo Regional do Grande ABC. (2007 / 2010) 4 1. O Exercício da Puericultura – histórico 7 2. A Humanização na Consulta Pediátrica 11 3. Semiologia do Adolescente 16 4. Alimentação na Infância 22 5. O papel da Nutrição na Prevenção de Doenças 33 6. Crescimento 42 7. Avaliação do Crescimento 49 8. Desenvolvimento Infantil 71 9. Avaliação do Desenvolvimento Neuro-psicomotor 87 10. Imunização 96 11. Distúrbios de Audição e linguagem 104 12. Prevenção dos Distúrbios do Sono 114 13. Atividade Física na Infância e Adolescência 119 14. Transporte de Crianças e adolescentes em Veículos Automotores 123 15. Maus Tratos na Infância e Adolescência – Sinais de Alerta 130 16. Crianças Adotivas: Informações que os Pediatras precisam conhecer 140 ÍndICEAPREsEntAçãO Este Manual nasceu da necessidade de padronização de conduta dos vários serviços de Puericultura da Faculdade de Medicina do ABC e não tem outra preten- são a não ser um instrumento rápido de consulta para pediatras e outros profis- sionais que atuam em consultórios ou ambulatórios de pediatria. As informações aqui contidas foram resumidas de documentos da Organização Mundial de saúde, Ministério da Saúde e Sociedade de Pediatria. Além disso, contou com a participação de profissionais não médicos abordando temas importantes para o desenvolvimento e crescimento saudáveis de crianças e adolescentes, como distúrbios auditivos, de sono, adoção, etc. O volume ora publicado trata especificamente da prevenção e do diagnostico precoce em Pediatria e foi elaborado por professores, preceptores e colaboradores da Faculdade de Medicina do ABC. Esperamos que seja útil e que atinja sua finalidade maior que é auxilia-los no cuidado à saúde de crianças e adolescentes. Denise de Oliveira Schoeps Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC Coordenadora de Ensino de Pediatria Preventiva e Social 5 1. O Exercício da Puericultura – histórico 7 2. A Humanização na Consulta Pediátrica 11 3. Semiologia do Adolescente 16 4. Alimentação na Infância 22 5. O papel da Nutrição na Prevenção de Doenças 33 6. Crescimento 42 7. Avaliação do Crescimento 49 8. Desenvolvimento Infantil 71 9. Avaliação do Desenvolvimento Neuro-psicomotor 87 10. Imunização 96 11. Distúrbios de Audição e linguagem 104 12. Prevenção dos Distúrbios do Sono 114 13. Atividade Física na Infância e Adolescência 119 14. Transporte de Crianças e adolescentes em Veículos Automotores 123 15. Maus Tratos na Infância e Adolescência – Sinais de Alerta 130 16. Crianças Adotivas: Informações que os Pediatras precisam conhecer 140 ÍndICEAPREsEntAçãO Este Manual nasceu da necessidade de padronização de conduta dos vários serviços de Puericultura da Faculdade de Medicina do ABC e não tem outra preten- são a não ser um instrumento rápido de consulta para pediatras e outros profis- sionais que atuam em consultórios ou ambulatórios de pediatria. As informações aqui contidas foram resumidas de documentos da Organização Mundial de saúde, Ministério da Saúde e Sociedade de Pediatria. Além disso, contou com a participação de profissionais não médicos abordando temas importantes para o desenvolvimento e crescimento saudáveis de crianças e adolescentes, como distúrbios auditivos, de sono, adoção, etc. O volume ora publicado trata especificamente da prevenção e do diagnostico precoce em Pediatria e foi elaborado por professores, preceptores e colaboradores da Faculdade de Medicina do ABC. Esperamos que seja útil e que atinja sua finalidade maior que é auxilia-los no cuidado à saúde de crianças e adolescentes. Denise de Oliveira Schoeps Chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC Coordenadora de Ensino de Pediatria Preventiva e Social 6 1. O EXERCÍCIO dA PUERICULtURA Alice Lang Simões Santos Presidente da Sociedade de Pediatria de SP – regional do grande ABC; Coordenadora do Programa de Saude da Criança e do Adolescente de Santo André. Falar da História da Puericultura no mundo e no Brasil seria algo extenso, assunto para um livro específico, que já existe por iniciativa da Sociedade Brasileira de Pediatria.Sabe-se que no Código de Hamurabi (2500 a.C ) haviam leis de proteção à criança; Hipócrates (460 a.C.) defendia o aleitamento materno, sendo o primeiro a reconhecer sua importância na diminuição da mortalidade infantil. No século XII, surge em Roma o Asilo do Espírito Santo com a “roda” para recolher crianças abandonadas de forma sigilosa e, sob influência do Cristianismo, na Idade Média um clima de amor e caridade em relação à criança domina a Europa. No Brasil, em 1738, Romão de Mattos Duarte funda a “Roda dos Expostos na Misericórdia do Rio de Janeiro”, similar às da Europa.Há referências ao “Patrono da Independência”, José Bonifácio de Andrada e Silva, por seus esforços em proteger as escravas durante a gravidez e amamentação. Todas as ações e instrumentos que levem à proteção da criança e do adolescente e pro- piciem seu pleno desenvolvimento nos aspectos biopsicosociais são considerados ações da Puericultura. Assim, a Declaração dos Direitos da Criança, em 20 de novembro de 1959,pela Organização das Nações Unidas, o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13 de julho de 1990, são instrumentos da Puericultura. A Pediatria, em bases científicas, surgecom Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, no final do século XIX, sendo o responsável pela formação dos primeiros pediatras do Brasil, na Policlínica do Rio de Janeiro, onde criou o primeiro curso regular de pediatria.Moncorvo também criou o “Regulamento para Amas de Leite”, em 1880, buscando bases éticas, uma vez que tal atividade, em sua maioria, era praticada por escravas ou negras alforriadas. O Pediatra deve ser, acima de tudo, um amante da criança e do adolescente e seu defen- sor. Ambos devem ser vistos como sujeitos de direitos. É preciso ensinar aos pais a amá-los, respeitá-los e criá-los num ambiente familiar seguro, livre de qualquer forma de constrangimento.O amor materno não é algo instintivo como já se pensou. Não dá para pensar numa sociedade melhor, pacífica, justa, sem pensar num ser hu- mano com pleno desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, com um organismo saudável, garantido por uma alimentação adequada desde seu nascimento, pela imunização, por hábi- tos de vida saudáveis como a prática de atividades esportivas e a eliminação do tabagismo, álcool e drogas. O que se quer é uma vida com qualidade, que leve o indivíduo ao exercício da cidadania e ao mercado de trabalho, o que garantirá a sua autonomia. Hoje sabemos que a origem das doenças crônicas da vida adulta está na infância.Portanto, cabe a nós, Pediatras, ba- talhar por condições de saúde adequadas, por uma melhor educação de nossas crianças, o que garantirá um melhor desenvolvimento intelectual que propiciará ao indivíduo, quando adulto, desenvolver o autocuidado,tão fundamental,e a consciência de sua responsabilidade pela própria saúde.Também precisamos batalhar por um sistema de saúde pública melhor, com maior investimento do Estado. Se não houver um adequado investimento na criança, no futuro não haverá recursos para tratar as doenças crônicas não transmissíveis dos adultos. 7 1. O EXERCÍCIO dA PUERICULtURA Alice Lang Simões Santos Presidente da Sociedade de Pediatria de SP – regional do grande ABC; Coordenadora do Programa de Saude da Criança e do Adolescente de Santo André. Falar da História da Puericultura no mundo e no Brasil seria algo extenso, assunto para um livro específico, que já existe por iniciativa da Sociedade Brasileira de Pediatria.Sabe-se que no Código de Hamurabi (2500 a.C ) haviam leis de proteção à criança; Hipócrates (460 a.C.) defendia o aleitamento materno, sendo o primeiro a reconhecer sua importância na diminuição da mortalidade infantil. No século XII, surge em Roma o Asilo do Espírito Santo com a “roda” para recolher crianças abandonadas de forma sigilosa e, sob influência do Cristianismo, na Idade Média um clima de amor e caridade em relação à criança domina a Europa. No Brasil, em 1738, Romão de Mattos Duarte funda a “Roda dos Expostos na Misericórdia do Rio de Janeiro”, similar às da Europa.Há referências ao “Patrono da Independência”, José Bonifácio de Andrada e Silva, por seus esforços em proteger as escravas durante a gravidez e amamentação. Todas as ações e instrumentos que levem à proteção da criança e do adolescente e pro- piciem seu pleno desenvolvimento nos aspectos biopsicosociais são considerados ações da Puericultura. Assim, a Declaração dos Direitos da Criança, em 20 de novembro de 1959,pela Organização das Nações Unidas, o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13 de julho de 1990, são instrumentos da Puericultura. A Pediatria, em bases científicas, surge com Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, no final do século XIX, sendo o responsável pela formação dos primeiros pediatras do Brasil, na Policlínica do Rio de Janeiro, onde criou o primeiro curso regular de pediatria.Moncorvo também criou o “Regulamento para Amas de Leite”, em 1880, buscando bases éticas, uma vez que tal atividade, em sua maioria, era praticada por escravas ou negras alforriadas. O Pediatra deve ser, acima de tudo, um amante da criança e do adolescente e seu defen- sor. Ambos devem ser vistos como sujeitos de direitos. É preciso ensinar aos pais a amá-los, respeitá-los e criá-los num ambiente familiar seguro, livre de qualquer forma de constrangimento.O amor materno não é algo instintivo como já se pensou. Não dá para pensar numa sociedade melhor, pacífica, justa, sem pensar num ser hu- mano com pleno desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, com um organismo saudável, garantido por uma alimentação adequada desde seu nascimento, pela imunização, por hábi- tos de vida saudáveis como a prática de atividades esportivas e a eliminação do tabagismo, álcool e drogas. O que se quer é uma vida com qualidade, que leve o indivíduo ao exercício da cidadania e ao mercado de trabalho, o que garantirá a sua autonomia. Hoje sabemos que a origem das doenças crônicas da vida adulta está na infância.Portanto, cabe a nós, Pediatras, ba- talhar por condições de saúde adequadas, por uma melhor educação de nossas crianças, o que garantirá um melhor desenvolvimento intelectual que propiciará ao indivíduo, quando adulto, desenvolver o autocuidado,tão fundamental,e a consciência de sua responsabilidade pela própria saúde.Também precisamos batalhar por um sistema de saúde pública melhor, com maior investimento do Estado. Se não houver um adequado investimento na criança, no futuro não haverá recursos para tratar as doenças crônicas não transmissíveis dos adultos. 8 BREVE HIstÓRIA dA PEdIAtRIA nO ABC Luiz Alberto da Silva Prof. Assistente da Disciplina de Clinica Pediátrica da FMABC. Na década de 1960 foi criada a Fundação de Assistência à Infância de Santo André – FAISA, um marco histórico da Pediatria, não só em Santo André como em todo o ABC. A FAISA foi pioneira sob vários aspectos, dentro os quais: foi estruturada de forma incomum em serviços médico-assistencias; traçada uma filosofia inicial de atenção médico- -assistencial, a mesma teve continuidade, fato inusitado em nosso País; imprimiu um ritmo de seriedade, granjeando a confiança da comunidade e resgatando o prestigio do serviços assistenciais de utilidade publica. A Profª. Dra. Maria Aparecida Sampaio Zacchi, com larga experiência na formação de pe- diatras na Clínica Infantil do Ipiranga e Livre-Docente de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, assumiu como Superintendente da FAISA, cujas atividades tiveram início em 01 de junho de 1967. A FAISA cresceu e desenvolveu-se dentro de um pioneirismo sem precedentes, mostran- do-se à comunidade pediátrica brasileira e internacional como a expressão maior da visão, do arrojo e da tenacidade da Dra. Zacchi. As suas bases conceituais e o desenvolvimento das suas atividades constituíam-se em pressupostos que, em grande parte, foram compatíveis com aqueles do Sistema Único de Saúde – SUS, que seria criado duas décadas após. Na FAISA a Dra. Zacchi reuniu uma pleiade de pediatras, dentro os quais destacamos: Marie Louise Stein, Emilio Jaldin Calderón, Pedro Luiz Gaiarsa, Neusa Falbo Wandalsen, Luiz Alberto da Silva, Neide / Mauricio Tangary, Wilma Tomazini, Alice Lang Simões Santos, Maria de Fátima Salgado, Maria de Lourdes Falcão Belo, Maria de Assunção/Robinson Guimarães Lins, Plínio Moreira, Sóstenes José da Silveira Teixeira, Wlademyr Moya de Godoy. Uma das preocupações da Diretoria da FAISA foi criar um Centro de Estudos (CEFAISA), que congregava todos os profissionais universitários da Instituição, propiciando a oportu- nidade de atividades de educação permanente, através de reuniões aos sábados, visando manter a melhor qualidade possível na assistência prestada aos usuários. Vale lembrar que não era um serviço escola. Nesta época, na região, atuavam com destaque alguns médicos pediatras: Alfredo Bar- bosa, Hélio da Matta Souza, Peretz Krakauer, Adanor Quadros, Osvaldo Nacione, Lair Carlos Rodrigues, Israel Zecker, Nilton Fernandes de Oliveira, em Santo André: Cesar Magnus Pus- ch e Enzo Ferrari, em São Bernardo; Elbe Moulin Sardemberg e Nestor Berilo Barbosa,em São Caetano. No ano de 1973, foi criada a Disciplina de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, que teve como primeira regente a Profª. Dra. Maria Aparecida Sampaio Zacchi. Nesta Dis- ciplina, cujo ensino prático passou a ser exercido nos Serviços da FAISA, a Profª. Zacchi compôs a sua equipe com os pediatras Adanor Quadros, Suetoshi Takashima, Lair Carlos Rodrigues, além de elementos do corpo clínico da FAISA (Marie Louise Stein, Emilio Calde- ron, Pedro Gaiarsa, Luiz Alberto da Silva e Silvia Espiridião), nos primórdios. Depois vieram Drauzio Viegas, Pedro Muñoz Fernandez, Ligia de Fátima Nóbrega Reato, Marisa Lazzer Poit, Neusa Falbo Wandalsen, Roseli Oselka Saccardo Sarni, Denise de Oliveira Schoeps, Maria Aparecida Dix Chehab, Rosa Maria Pinto de Aguiar, Sandra Mitie Ueda de Palma, Simone Holzer, Marisa da Silva Laranjeira e outros. Referências Bibliográficas: 1. Alcântara, Pedro; Marcondes, Eduardo. Pediatria Básica – São Paulo: Sarvier, 1970. 2. Crespin, Jacques Puericultura: ciência, arte e amor. Jacques Crespin - São Paulo: Ed. Fundação Byk, 1972. 3. Crespin, Jacques Puericultura: ciência, arte e amor. Jacques Crespin – 3ªed.rev. e ampliada – São Paulo: Roca, 2007 9 BREVE HIstÓRIA dA PEdIAtRIA nO ABC Luiz Alberto da Silva Prof. Assistente da Disciplina de Clinica Pediátrica da FMABC. Na década de 1960 foi criada a Fundação de Assistência à Infância de Santo André – FAISA, um marco histórico da Pediatria, não só em Santo André como em todo o ABC. A FAISA foi pioneira sob vários aspectos, dentro os quais: foi estruturada de forma incomum em serviços médico-assistencias; traçada uma filosofia inicial de atenção médico- -assistencial, a mesma teve continuidade, fato inusitado em nosso País; imprimiu um ritmo de seriedade, granjeando a confiança da comunidade e resgatando o prestigio do serviços assistenciais de utilidade publica. A Profª. Dra. Maria Aparecida Sampaio Zacchi, com larga experiência na formação de pe- diatras na Clínica Infantil do Ipiranga e Livre-Docente de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, assumiu como Superintendente da FAISA, cujas atividades tiveram início em 01 de junho de 1967. A FAISA cresceu e desenvolveu-se dentro de um pioneirismo sem precedentes, mostran- do-se à comunidade pediátrica brasileira e internacional como a expressão maior da visão, do arrojo e da tenacidade da Dra. Zacchi. As suas bases conceituais e o desenvolvimento das suas atividades constituíam-se em pressupostos que, em grande parte, foram compatíveis com aqueles do Sistema Único de Saúde – SUS, que seria criado duas décadas após. Na FAISA a Dra. Zacchi reuniu uma pleiade de pediatras, dentro os quais destacamos: Marie Louise Stein, Emilio Jaldin Calderón, Pedro Luiz Gaiarsa, Neusa Falbo Wandalsen, Luiz Alberto da Silva, Neide / Mauricio Tangary, Wilma Tomazini, Alice Lang Simões Santos, Maria de Fátima Salgado, Maria de Lourdes Falcão Belo, Maria de Assunção/Robinson Guimarães Lins, Plínio Moreira, Sóstenes José da Silveira Teixeira, Wlademyr Moya de Godoy. Uma das preocupações da Diretoria da FAISA foi criar um Centro de Estudos (CEFAISA), que congregava todos os profissionais universitários da Instituição, propiciando a oportu- nidade de atividades de educação permanente, através de reuniões aos sábados, visando manter a melhor qualidade possível na assistência prestada aos usuários. Vale lembrar que não era um serviço escola. Nesta época, na região, atuavam com destaque alguns médicos pediatras: Alfredo Bar- bosa, Hélio da Matta Souza, Peretz Krakauer, Adanor Quadros, Osvaldo Nacione, Lair Carlos Rodrigues, Israel Zecker, Nilton Fernandes de Oliveira, em Santo André: Cesar Magnus Pus- ch e Enzo Ferrari, em São Bernardo; Elbe Moulin Sardemberg e Nestor Berilo Barbosa, em São Caetano. No ano de 1973, foi criada a Disciplina de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC, que teve como primeira regente a Profª. Dra. Maria Aparecida Sampaio Zacchi. Nesta Dis- ciplina, cujo ensino prático passou a ser exercido nos Serviços da FAISA, a Profª. Zacchi compôs a sua equipe com os pediatras Adanor Quadros, Suetoshi Takashima, Lair Carlos Rodrigues, além de elementos do corpo clínico da FAISA (Marie Louise Stein, Emilio Calde- ron, Pedro Gaiarsa, Luiz Alberto da Silva e Silvia Espiridião), nos primórdios. Depois vieram Drauzio Viegas, Pedro Muñoz Fernandez, Ligia de Fátima Nóbrega Reato, Marisa Lazzer Poit, Neusa Falbo Wandalsen, Roseli Oselka Saccardo Sarni, Denise de Oliveira Schoeps, Maria Aparecida Dix Chehab, Rosa Maria Pinto de Aguiar, Sandra Mitie Ueda de Palma, Simone Holzer, Marisa da Silva Laranjeira e outros. Referências Bibliográficas: 1. Alcântara, Pedro; Marcondes, Eduardo. Pediatria Básica – São Paulo: Sarvier, 1970. 2. Crespin, Jacques Puericultura: ciência, arte e amor. Jacques Crespin - São Paulo: Ed. Fundação Byk, 1972. 3. Crespin, Jacques Puericultura: ciência, arte e amor. Jacques Crespin – 3ªed.rev. e ampliada – São Paulo: Roca, 2007 10 2. A HUMAnIZAçãO nA COnsULtA PEdIÁtRICA Drauzio Viegas Professor titular de Clínica Pediátrica da FMABC; Professor Livre Docente pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O recado veio pela internet: Cirurgião para operar o pintinho do Gustavo. E o texto: Doutor, não vou operar meu filho com o médico que o senhor indicou. Ele não leu ainda o seu livro sobre humanização. Um abraço e obrigada. Raquel. Ontem a mãe trouxe o menino com fimose ao meu consultório e explicou: - É um médico muito antipático. Quis marcar a operação da fimose do Gustavo para o dia do início da Copa do Mundo. Como a cirurgia não é urgente e nesse dia o trânsito é muito complicado, perguntei se ela não poderia ser feita durante as férias de julho de meu filho. Ele não aceitou: - Não gosto de futebol. A que hora começa a Copa do Mundo? - Às 15h30. - Então dou alta ao seu filho às 13 horas. Marquei e depois desmarquei a operação. Assim não dá. Indiquei outro cirurgião. Foi tudo bem. O Gustavinho está preparado para o futuro. Essa foi uma relação médico-paciente-família defeituosa. Faltou a compreensão do cirur- gião em uma situação tão simples. Humanização. Humanização é o uso do conhecimento com sensibilidade. Sensibilidade nessa relação é perceber a necessidade do outro, se possível procurar atendê-la, ou, ao menos, com- preendê-la. Mostrar interesse, a busca de uma solução – nem sempre o médico cura, mas procurar melhor qualidade de vida para o doente e sua família é sempre o ideal, o que nem sempre conseguimos - a vida é misteriosa, às vezes tem seus segredos que a gente não consegue descobrir, nos sentimos frustrados. O conhecimento ou perspicácia não bastam - é preciso adivinhar, mas quando dá certo, quanta felicidade! Em todos os momentos e locais o médico tem que se preocupar com isso, a solução, mesmo que parcial – sua missão é prevenir, diminuir ou afastar o sofrimento – e este não é apenas a dor, mas também a ansiedade e a angústia, a necessidade de orientação. Ser médico nem sempre é fácil, mas ele é uma pessoa especial. E nós, pediatras, somos privilegiados: uma pessoa nasce e você está, de certo modo e mesmo sem perceber, parti- cipando de toda a sua vida – o seu crescimento e desenvolvimento, prevenindo ou tratando doenças que, no futuro, possam deixá-la ou não feliz. Somos educadores, transmitimos cultura, sociabilidade, noções de responsabilidade e oportunidades para desabrochar o seu potencial. Cultivamos a sensibilidade com ela, e a família, com a comunidade. Tornando- -as mais humanas. Sem exagero, como médicos somos pessoas especiais sim, e, por isso, muito responsáveis pela humanização. Isto traz modificações em nossas vidas, gratidão, formação de vínculos que persistem. E que nos deixam realizados e felizes. Na humanização a consulta médica é um momento excepcional. É onde a relação pro- fissional-paciente-família se realizade modo completo, se conseguirmos torná-la assim. Vamos analisar alguns aspectos do ambiente, do paciente ou doente, sua família, o médico e a equipe de saúde. A integração entre FAISA e Faculdade de Medicina do ABC veio contribuir enormemente na constante qualificação dos profissionais, resultando dest’arte uma contínua melhoria da assistência prestada, sobretudo na atenção primária, bem como o surgimento de serviços especializados. No período de 4 a 7 de julho 1987, realizou-se em Santo André, o I Congresso de Pe- diatria do ABCD, como parte integrante das comemorações dos 20 anos da FAISA. Vale registrar que este congresso nasceu da iniciativa de três pediatras da região: Cesar Magnus Pusch (São Bernardo), Elbe Moulin Sardemberg (São Caetano) e Luiz Alberto da Silva (Santo André), com periodicidade prevista para realização a cada 2 anos, rodiziando-se o municí- pio sede, em ordem alfabética (inclusive Diadema). É oportuno referir que já vivemos o IX Congresso de Pediatria do ABCD. Em 1992 era fundada a Sociedade de Pediatria do Grande ABC, liderada por uma Co- missão Organizadora composta por: Cesar Magnus Pusch, Francisco Ribeiro Pintão (seu pri- meiro presidente), Hélio Krakauer, Jair Marcelo Kuhn, Luiz Alberto da Silva, Marcio Armani, Wasni Esqueisaro Junior, Nestor Berilo Barbosa e Wayner Leonardi. A Sociedade de Pediatria do Grande ABCD (SPGABC), que tem foros de regional da Sociedade de Pediatria de São Paulo, promove atividades cientificas e culturais voltada aos seus membros. Visando a garantia da perpetuidade dos congressos pediátricos e, sobretudo, para feli- cidade e tranqüilidade dos seus mentores, a SPGABC assumiu inteiramente o compromisso de mantê-los. Foi eleita em novembro de 2009, como Chefe do Departamento de Pediatria da Facul- dade de Medicina do ABC, a Dra. Denise de Oliveira Schoeps que, na Disciplina de Clinica Pediátrica, é responsável pela área de Pediatria Preventiva e Social, setor fundamental na busca incessante de atividades docente-assistenciais consentâneas com a preocupação ho- lística em busca da saúde integral de nossa infância. 11 2. A HUMAnIZAçãO nA COnsULtA PEdIÁtRICA Drauzio Viegas Professor titular de Clínica Pediátrica da FMABC; Professor Livre Docente pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O recado veio pela internet: Cirurgião para operar o pintinho do Gustavo. E o texto: Doutor, não vou operar meu filho com o médico que o senhor indicou. Ele não leu ainda o seu livro sobre humanização. Um abraço e obrigada. Raquel. Ontem a mãe trouxe o menino com fimose ao meu consultório e explicou: - É um médico muito antipático. Quis marcar a operação da fimose do Gustavo para o dia do início da Copa do Mundo. Como a cirurgia não é urgente e nesse dia o trânsito é muito complicado, perguntei se ela não poderia ser feita durante as férias de julho de meu filho. Ele não aceitou: - Não gosto de futebol. A que hora começa a Copa do Mundo? - Às 15h30. - Então dou alta ao seu filho às 13 horas. Marquei e depois desmarquei a operação. Assim não dá. Indiquei outro cirurgião. Foi tudo bem. O Gustavinho está preparado para o futuro. Essa foi uma relação médico-paciente-família defeituosa. Faltou a compreensão do cirur- gião em uma situação tão simples. Humanização. Humanização é o uso do conhecimento com sensibilidade. Sensibilidade nessa relação é perceber a necessidade do outro, se possível procurar atendê-la, ou, ao menos, com- preendê-la. Mostrar interesse, a busca de uma solução – nem sempre o médico cura, mas procurar melhor qualidade de vida para o doente e sua família é sempre o ideal, o que nem sempre conseguimos - a vida é misteriosa, às vezes tem seus segredos que a gente não consegue descobrir, nos sentimos frustrados. O conhecimento ou perspicácia não bastam - é preciso adivinhar, mas quando dá certo, quanta felicidade! Em todos os momentos e locais o médico tem que se preocupar com isso, a solução, mesmo que parcial – sua missão é prevenir, diminuir ou afastar o sofrimento – e este não é apenas a dor, mas também a ansiedade e a angústia, a necessidade de orientação. Ser médico nem sempre é fácil, mas ele é uma pessoa especial. E nós, pediatras, somos privilegiados: uma pessoa nasce e você está, de certo modo e mesmo sem perceber, parti- cipando de toda a sua vida – o seu crescimento e desenvolvimento, prevenindo ou tratando doenças que, no futuro, possam deixá-la ou não feliz. Somos educadores, transmitimos cultura, sociabilidade, noções de responsabilidade e oportunidades para desabrochar o seu potencial. Cultivamos a sensibilidade com ela, e a família, com a comunidade. Tornando- -as mais humanas. Sem exagero, como médicos somos pessoas especiais sim, e, por isso, muito responsáveis pela humanização. Isto traz modificações em nossas vidas, gratidão, formação de vínculos que persistem. E que nos deixam realizados e felizes. Na humanização a consulta médica é um momento excepcional. É onde a relação pro- fissional-paciente-família se realiza de modo completo, se conseguirmos torná-la assim. Vamos analisar alguns aspectos do ambiente, do paciente ou doente, sua família, o médico e a equipe de saúde. A integração entre FAISA e Faculdade de Medicina do ABC veio contribuir enormemente na constante qualificação dos profissionais, resultando dest’arte uma contínua melhoria da assistência prestada, sobretudo na atenção primária, bem como o surgimento de serviços especializados. No período de 4 a 7 de julho 1987, realizou-se em Santo André, o I Congresso de Pe- diatria do ABCD, como parte integrante das comemorações dos 20 anos da FAISA. Vale registrar que este congresso nasceu da iniciativa de três pediatras da região: Cesar Magnus Pusch (São Bernardo), Elbe Moulin Sardemberg (São Caetano) e Luiz Alberto da Silva (Santo André), com periodicidade prevista para realização a cada 2 anos, rodiziando-se o municí- pio sede, em ordem alfabética (inclusive Diadema). É oportuno referir que já vivemos o IX Congresso de Pediatria do ABCD. Em 1992 era fundada a Sociedade de Pediatria do Grande ABC, liderada por uma Co- missão Organizadora composta por: Cesar Magnus Pusch, Francisco Ribeiro Pintão (seu pri- meiro presidente), Hélio Krakauer, Jair Marcelo Kuhn, Luiz Alberto da Silva, Marcio Armani, Wasni Esqueisaro Junior, Nestor Berilo Barbosa e Wayner Leonardi. A Sociedade de Pediatria do Grande ABCD (SPGABC), que tem foros de regional da Sociedade de Pediatria de São Paulo, promove atividades cientificas e culturais voltada aos seus membros. Visando a garantia da perpetuidade dos congressos pediátricos e, sobretudo, para feli- cidade e tranqüilidade dos seus mentores, a SPGABC assumiu inteiramente o compromisso de mantê-los. Foi eleita em novembro de 2009, como Chefe do Departamento de Pediatria da Facul- dade de Medicina do ABC, a Dra. Denise de Oliveira Schoeps que, na Disciplina de Clinica Pediátrica, é responsável pela área de Pediatria Preventiva e Social, setor fundamental na busca incessante de atividades docente-assistenciais consentâneas com a preocupação ho- lística em busca da saúde integral de nossa infância. 12 profissionais das UTIs. 5. Procure descansar, cultivar o lazer, o apoio familiar e de sua equipe. 6. Leia sobre humanização, participe de reuniões, jornadas e congressos sobre este tema. 7. Preste atenção em certos médicos humanizados e procure segui-los como modelos. Tenha muito cuidado, evite você ser a causa de reclamações dos pacientes e suas fa- mílias, sua imagem fica muito ruim. Mas lute pelos seus direitos e pela melhoria das condições de atendimento. O sistema de trabalho, as autoridades, os gestores, inclusive você, todos são responsáveis pelos seus pacientes. Paciente No consultório a expressão mais utilizada é cliente, o que na prática se equivale a pa- ciente. Paciente está mais ligada à pessoa em outros locais, sobretudo pronto socorro ou hospital,sem estar ligado unicamente apenas a um profissional. Em Pediatria os problemas são diferentes conforme o objetivo do atendimento, o mo- mento que a criança, o adolescente e suas famílias estão vivendo, idade e sexo do cliente ou paciente, se está saudável ou doente, seu temperamento, suas expectativas e grau de confiança. Ele também precisa ser humanizado, sensível, o que nem sempre acontece, prin- cipalmente quando é de convênio e considera o médico simplesmente um profissional à sua disposição. Um detalhe: sejam o paciente e seus familiares pessoas educadas e sensíveis, ou, ao contrário, exigentes e grosseiras, lembre-se sempre de que elas estão precisando de ajuda. Se forem insensíveis, não se iguale a elas, talvez depois percebam como estão sendo aten- didas e mudem o comportamento. Caso contrário, você continue na sua, humanizado, seja orientando e cuidando de crianças e adolescentes saudáveis ou doentes e de suas famílias. Em minha experiência as crianças até mais ou menos 5 anos de idade são as que mais procuram o consultório do pediatra, por Puericultura ou doenças. Na Puericultura se cuida da criança saudável de modo amplo, não apenas prevenindo possíveis doenças, mas também de sua inserção na sociedade, pelo estudo (se necessário é importante o contato com a escola), noções de responsabilidade, modo de sentir a vida e seus semelhantes – não é exagero, nossa missão é esta mesmo. Estamos ajudando a criar uma pessoa. Com interesse, conhecendo os seus problemas, promovendo em todos os sentidos bem estar físico, psíquico e social - é a saúde da criança e do adolescente, através de medidas preventivas: higiene, alimentação, imunização, afastando os fatores de risco (doenças agudas ou crônicas, com diferentes gravidades) ou curativas, através de todos os meios diagnósticos e terapêuticos disponíveis. Aqui entra um aspecto importante: compreender os limites familiares e sociais, e, se necessário, procurar superá-los. Com a família, através da compreensão e convencimento - somos responsáveis por nossos doentes, nos transformamos, de certo modo, em pais, mães, educadores. Como as crianças reagem? Os pequeninos inicialmente choram ao se deparar com o mé- dico, estranham este personagem, sobretudo se estiver com avental branco (lembranças da dor sentida na aplicação de vacinas ou atitudes anteriores indelicadas?) e também durante o exame físico, mas logo se acomodam, sorriem, brincam, desenham durante a consulta, contam de seus amigos na escola, nos dão abraços e beijos, dizem tchau ao sair da sala. No retorno, trazem lembranças, geralmente desenhos coloridos, com a figura do doutor ou doutora – durante a consulta você não fez nada de mais, simplesmente os conquistou com um sorriso, atenção, delicadeza. Isso traduz amor. Com crianças maiores e adolescentes as reações são semelhantes, sobretudo se surgiu entre vocês um clima de confiança. Para que tudo isto aconteça é necessário ética nas consultas: a relação nunca deve ser erotizada, Ambiente Pode ser em uma cidade grande, com bons recursos sócio-econômicos-sociais e cultu- rais, ou pequena, com muitas dificuldades. O local um consultório particular, de convênio ou SUS, ambulatório, creche, pronto atendimento, pronto socorro, hospital, em escolas médi- cas. Existem diferenças. Mas em todos a humanização tem que existir. No consultório, simples ou mais estruturado, no ambulatório e na creche, a relação com o paciente e sua família tem mais oportunidades, há mais tempo para esse contato, maior privacidade, geralmente recursos como telefone ou computador. Um cuidado importante: mesmo quando o número de pacientes for grande, procure você ser sempre igual. Nos ambulatórios os doentes e as famílias chegam muito cedo, de madrugada, para ficar em uma fila enorme e se sujeitam a toda a burocracia – aguardar a senha para atendimento, continuar esperar ser chamados e quando a consulta acontece... simplesmente não acon- tece: o médico não os cumprimenta, mal sabe o nome do doente e frequentemente nem o examina - existem regulamentos que dificultam o seu trabalho, o tempo de cada atendi- mento é muito curto, ele está já cansado e muitas vezes mal-humorado. Mas é importante pensar: o doente está no seu direito de ser atendido, os problemas e as doenças são sempre os mesmos – na verdade o que os diferencia são esses regulamentos e o pagamento do profissional, quase sempre indigno. Alguns aspectos são vantajosos nos ambulatórios ou clínicas, onde o número de médicos é maior e existem mais recursos. Você conta com a possibilidade de compartilhar suas dúvi- das com a equipe multidisciplinar de saúde e possivelmente contar com exames subsidiários que possam facilitar o diagnóstico e mesmo o tratamento, às vezes até nesse mesmo local. Nunca deixe de examinar com cuidado o seu paciente, é impossível, antiético e até crimino- so solicitar exames e fazer prescrições sem examiná-lo antes – como você vai saber como ele está e o que tem? No pronto atendimento os problemas são menos graves (urgência), o que já não aconte- ce no pronto socorro (emergência), mas estes são locais onde a verdadeira humanização se realiza: maior atenção, delicadeza, saber ouvir e falar, um gesto de apoio e de conforto. O sofrimento é pela doença, possibilidade de morte, você tem que utilizar rapidamente o seu conhecimento e experiência, mas é onde a sensibilidade é essencial. Como frequentemente são profissionais mais jovens que atendem nesses locais, não é raro o doente ou a família se referir a eles como “aquele moço ou aquela moça que atendeu” e demonstrarem inseguran- ça em suas condutas – cabe a nós, profissionais, adquirirmos bons conhecimentos e saber utilizá-los. Isso também é necessário nas internações hospitalares e unidades de terapia intensiva – ao contrário, o doente e sua família, quando essa relação é bem realizada, se apegam pro- fundamente ao profissional, este passa a ser o “seu” médico, o vínculo afetivo de gratidão nasce e persiste talvez pela vida toda. sugestões importantes: 1. Durante o seu curso na escola médica, principalmente se você está no internato ou residência, preste atenção e procure ter como modelos professores e preceptores que possam ser seus modelos de humanização. 2. Evite discussões clínicas perto do leito do enfermo. De um modo ou outro, ele entende o que está acontecendo e o resultado muitas vezes é negativo. 3. Não critique a conduta do colega que você está substituindo no plantão – o doente e sua família perdem a confiança na equipe. 4. Se você tem temperamento difícil, não se sentindo ajustado ao ambiente e, em sã consciência, não se sente humanizado, procure ajuda em terapia, como fazem muitos 13 profissionais das UTIs. 5. Procure descansar, cultivar o lazer, o apoio familiar e de sua equipe. 6. Leia sobre humanização, participe de reuniões, jornadas e congressos sobre este tema. 7. Preste atenção em certos médicos humanizados e procure segui-los como modelos. Tenha muito cuidado, evite você ser a causa de reclamações dos pacientes e suas fa- mílias, sua imagem fica muito ruim. Mas lute pelos seus direitos e pela melhoria das condições de atendimento. O sistema de trabalho, as autoridades, os gestores, inclusive você, todos são responsáveis pelos seus pacientes. Paciente No consultório a expressão mais utilizada é cliente, o que na prática se equivale a pa- ciente. Paciente está mais ligada à pessoa em outros locais, sobretudo pronto socorro ou hospital, sem estar ligado unicamente apenas a um profissional. Em Pediatria os problemas são diferentes conforme o objetivo do atendimento, o mo- mento que a criança, o adolescente e suas famílias estão vivendo, idade e sexo do cliente ou paciente, se está saudável ou doente, seu temperamento, suas expectativas e grau de confiança. Ele também precisa ser humanizado, sensível, o que nem sempre acontece, prin- cipalmente quando é de convênio e considera o médico simplesmente um profissional à sua disposição.Um detalhe: sejam o paciente e seus familiares pessoas educadas e sensíveis, ou, ao contrário, exigentes e grosseiras, lembre-se sempre de que elas estão precisando de ajuda. Se forem insensíveis, não se iguale a elas, talvez depois percebam como estão sendo aten- didas e mudem o comportamento. Caso contrário, você continue na sua, humanizado, seja orientando e cuidando de crianças e adolescentes saudáveis ou doentes e de suas famílias. Em minha experiência as crianças até mais ou menos 5 anos de idade são as que mais procuram o consultório do pediatra, por Puericultura ou doenças. Na Puericultura se cuida da criança saudável de modo amplo, não apenas prevenindo possíveis doenças, mas também de sua inserção na sociedade, pelo estudo (se necessário é importante o contato com a escola), noções de responsabilidade, modo de sentir a vida e seus semelhantes – não é exagero, nossa missão é esta mesmo. Estamos ajudando a criar uma pessoa. Com interesse, conhecendo os seus problemas, promovendo em todos os sentidos bem estar físico, psíquico e social - é a saúde da criança e do adolescente, através de medidas preventivas: higiene, alimentação, imunização, afastando os fatores de risco (doenças agudas ou crônicas, com diferentes gravidades) ou curativas, através de todos os meios diagnósticos e terapêuticos disponíveis. Aqui entra um aspecto importante: compreender os limites familiares e sociais, e, se necessário, procurar superá-los. Com a família, através da compreensão e convencimento - somos responsáveis por nossos doentes, nos transformamos, de certo modo, em pais, mães, educadores. Como as crianças reagem? Os pequeninos inicialmente choram ao se deparar com o mé- dico, estranham este personagem, sobretudo se estiver com avental branco (lembranças da dor sentida na aplicação de vacinas ou atitudes anteriores indelicadas?) e também durante o exame físico, mas logo se acomodam, sorriem, brincam, desenham durante a consulta, contam de seus amigos na escola, nos dão abraços e beijos, dizem tchau ao sair da sala. No retorno, trazem lembranças, geralmente desenhos coloridos, com a figura do doutor ou doutora – durante a consulta você não fez nada de mais, simplesmente os conquistou com um sorriso, atenção, delicadeza. Isso traduz amor. Com crianças maiores e adolescentes as reações são semelhantes, sobretudo se surgiu entre vocês um clima de confiança. Para que tudo isto aconteça é necessário ética nas consultas: a relação nunca deve ser erotizada, Ambiente Pode ser em uma cidade grande, com bons recursos sócio-econômicos-sociais e cultu- rais, ou pequena, com muitas dificuldades. O local um consultório particular, de convênio ou SUS, ambulatório, creche, pronto atendimento, pronto socorro, hospital, em escolas médi- cas. Existem diferenças. Mas em todos a humanização tem que existir. No consultório, simples ou mais estruturado, no ambulatório e na creche, a relação com o paciente e sua família tem mais oportunidades, há mais tempo para esse contato, maior privacidade, geralmente recursos como telefone ou computador. Um cuidado importante: mesmo quando o número de pacientes for grande, procure você ser sempre igual. Nos ambulatórios os doentes e as famílias chegam muito cedo, de madrugada, para ficar em uma fila enorme e se sujeitam a toda a burocracia – aguardar a senha para atendimento, continuar esperar ser chamados e quando a consulta acontece... simplesmente não acon- tece: o médico não os cumprimenta, mal sabe o nome do doente e frequentemente nem o examina - existem regulamentos que dificultam o seu trabalho, o tempo de cada atendi- mento é muito curto, ele está já cansado e muitas vezes mal-humorado. Mas é importante pensar: o doente está no seu direito de ser atendido, os problemas e as doenças são sempre os mesmos – na verdade o que os diferencia são esses regulamentos e o pagamento do profissional, quase sempre indigno. Alguns aspectos são vantajosos nos ambulatórios ou clínicas, onde o número de médicos é maior e existem mais recursos. Você conta com a possibilidade de compartilhar suas dúvi- das com a equipe multidisciplinar de saúde e possivelmente contar com exames subsidiários que possam facilitar o diagnóstico e mesmo o tratamento, às vezes até nesse mesmo local. Nunca deixe de examinar com cuidado o seu paciente, é impossível, antiético e até crimino- so solicitar exames e fazer prescrições sem examiná-lo antes – como você vai saber como ele está e o que tem? No pronto atendimento os problemas são menos graves (urgência), o que já não aconte- ce no pronto socorro (emergência), mas estes são locais onde a verdadeira humanização se realiza: maior atenção, delicadeza, saber ouvir e falar, um gesto de apoio e de conforto. O sofrimento é pela doença, possibilidade de morte, você tem que utilizar rapidamente o seu conhecimento e experiência, mas é onde a sensibilidade é essencial. Como frequentemente são profissionais mais jovens que atendem nesses locais, não é raro o doente ou a família se referir a eles como “aquele moço ou aquela moça que atendeu” e demonstrarem inseguran- ça em suas condutas – cabe a nós, profissionais, adquirirmos bons conhecimentos e saber utilizá-los. Isso também é necessário nas internações hospitalares e unidades de terapia intensiva – ao contrário, o doente e sua família, quando essa relação é bem realizada, se apegam pro- fundamente ao profissional, este passa a ser o “seu” médico, o vínculo afetivo de gratidão nasce e persiste talvez pela vida toda. sugestões importantes: 1. Durante o seu curso na escola médica, principalmente se você está no internato ou residência, preste atenção e procure ter como modelos professores e preceptores que possam ser seus modelos de humanização. 2. Evite discussões clínicas perto do leito do enfermo. De um modo ou outro, ele entende o que está acontecendo e o resultado muitas vezes é negativo. 3. Não critique a conduta do colega que você está substituindo no plantão – o doente e sua família perdem a confiança na equipe. 4. Se você tem temperamento difícil, não se sentindo ajustado ao ambiente e, em sã consciência, não se sente humanizado, procure ajuda em terapia, como fazem muitos 14 Médico Acho que ser médico é uma vocação. Compreender que o seu preparo profissional e a sua preocupação é com o sofrimento do outro não é para qualquer um. Infelizmente nos dias atuais, com o enorme desenvolvimento da Medicina, surgiram inúmeros técnicos e poucos médicos. A humanização (conhecimento com sensibilidade) se reduziu, mas já está havendo uma reação, senão nosso trabalho perde o sentido. Nas linhas acima já conversamos com você o que é ser pediatra nas diferentes situações. Se você entendeu o que escrevemos, acho que basta. Se não, é bom mudar de profissão, não é nada demais, é honestidade. Mas se você aceitar, aqui vão algumas sugestões. Você precisa ter alma de pediatra, saber olhar diretamente nos olhos do seu paciente ou familiar com carinho, ouvir com calma, compreender e apreender a falar com clareza e simplicidade coisas que esclareçam, sinceras – nunca minta, se as situações forem graves demais, com proximidade da morte, não se desespere, procure confortar e transmitir al- guma esperança sobre outros aspectos que minimizem o sofrimento. Se você não souber, por falta de conhecimento, seja verdadeiro, estude mais a situação, divida a sua dificuldade numa discussão com outra pessoa ou num grupo, ou transfira o caso para outro profissional que possa cuidar melhor que você, não é humilhante – a ciência é vasta demais, você não precisa conhecer tudo, mesmo sendo um especialista. Seja ético, tenha mãos suaves para descobrir patologias, sem erotização e abusos. Te- nha paciência, tolerância, sem discriminações. Transmita delicadeza. Você será valorizado, mesmo que não perceba. Seus clientes se lembrarão com saudade de você. Cultive a sensibilidade, seja humanizado. Muitas vezes isso não vem naturalmente, há acertos e erros.Treine bastante. Equipe de saúde Atualmente é muito difícil trabalhar sozinho. A ajuda de outros profissionais facilita o maior entendimento de problemas mais complexos. Eles nos ajudam muito, especificamente conhecem melhor do que nós certos aspectos de saúde e doenças. É importante trabalhar- mos juntos, com muito respeito e colaboração. O paciente e suas famílias podem ser ava- liados em diferentes ângulos, facilitando melhor a compreensão de seus problemas. Todos devem também procurar ser humanizados. Em resumo esta é visão que devemos ter como pediatras, do atendimento em consul- tório das pessoas que nos procuram. Nosso empenho é tratá-los sempre com sensibilidade – assim, a Medicina adquire sua razão de ser. Referências Bibliográficas 1. Crespin J. Puericultura – ciência, arte e amor. Fundo E. Byk, São Paulo: 1996; P 21-23. 2. Crespin J. Consulta Médica do adolescente e patologias mais frequentes. In Crespin J, Reato LFN. Hebiatria – Medicina do Adolescente. Roca. São Paulo: 2007, P 160-169. 3. Sucupira ACSL, Novaes HMD. A consulta em Pediatria. In Marcondes E, Vaz FAC. Ramos JLKA, Okay Y. Pediatria Básica, 9ª ed. Sarvier Ed. São Paulo: 2002; P 52-58. 4. Sucupira ACSL. A relação médico-paciente em Pediatria. In Marcondes E, Vaz FAC, Ramos JLKA, Okay Y. Pediatria Básica, 9ª ed. Sarvier Ed. São Paulo: 2002; P 45-52. 5. Viegas D. Em Busca da Humanização. Wak Ed. Rio de Janeiro: 2010; P 165-249. 6. Viegas D, Van Onselen LES. ABC na Pediatria. Aché Lab. Farmacêuticos S/A. São Paulo: 2003; P 1-10 7. Vitole MR, Gama CM, Campagnolo PD. Frequency of public child care service use and associated factors. J. Pediatr. (Rio J) 2010; 86 (1): 80-84. sendo totalmente evitados a sedução e o abuso sexual, e também qualquer preconceito. Da boa conduta do médico nascem e crescem vínculos. Se o paciente estiver doente, existe medo, ansiedade e angústia, é quando há necessi- dade de maior atenção, delicadeza, a confiança em suas condutas tem que ser conquistada. Havendo necessidade de transferi-lo para outro profissional (inter-consulta) ou indicação de hospitalização, sua experiência e o bom senso irão nortear essa decisão. Nos últimos anos tem sido notada nos médicos atitudes que não condizem com a sua profissão: indiferença no trato com os pacientes e suas famílias, arrogância, não se cumpri- menta quem os procuram, nem se olha para os seus rostos, não se sabe os seus nomes, a consulta se resume em um atendimento super-rápido, com pedido de numerosos exames subsidiários sem nem examinar o paciente, como se fosse possível, desta maneira, ser fei- to um verdadeiro diagnóstico e avaliação do tratamento. Evitam-se receber telefonemas, sobretudo de conveniados, como se estes fossem diferentes dos clientes particulares: as doenças são as mesmas, os honorários é que são diferentes. Qual razão destas atitudes anti-éticas? Tem sido considerado o excesso de trabalho, com salários indignos – é verdade, mas os pacientes não são culpados disso, e são mais vítimas porque estão doentes. Outro motivo que deve ser lembrado é a sedução pelos enormes avanços da ciência e da tecnologia – o médico, talvez mesmo sem perceber, se considera importante demais - surgiram numerosos técnicos e não verdadeiros médicos. O despreparo nas escolas médicas também é importante, não apenas na ausência de conhecimento mas também do cultivo da sensibilidade. Família A família chega preocupada, embora nem sempre transpareça, principalmente nas con- sultas por Puericultura, como se fosse simples rotina para avaliação e orientação do cresci- mento, desenvolvimento, alimentação, vacinações. No fundo há ansiedade. Na doença da criança ou adolescente a família também adoece – seus hábitos se mo- dificam, a preocupação cresce e se transforma em tristeza e angústia, os cuidados com o doente ficam até exagerados. Você, pediatra ou hebiatra, é também o médico dessa família. O seu cliente ou paciente não está sozinho, a não ser que seja abandonado, mas esta já é uma outra situação, que foge a este texto. Tudo o que acontece com ele reflete na família, mesmo naquelas aparente ou realmente negligentes. As suas condutas médicas precisam sempre estar direcionadas ao grupo familiar. Atender às suas necessidades, mesmo que pareçam abusivas, como telefo- nemas durante a noite ou durante a sua refeição – é sempre importante explicar aos pais, no consultório, quando há realmente motivos para preocupações (e que eles percebam que você, como ser humano, também precisa comer e dormir sossegado...). Infelizmente não são todos os cursos de Medicina que se preocupam em preparar o mé- dico para uma boa relação com as famílias de seus pacientes, como se isso fosse aprendido naturalmente na prática profissional, o que nem sempre acontece. Esta relação é essencial para a compreensão do que está acontecendo com o seu paciente, com o cumprimento de suas orientações, para a colaboração nas situações mais diferentes. Saber como pais e irmãos entendem a criança ou o adolescente no lar, na escola, como se realiza a relação intra-familiar e na sociedade, o que esperam deles. Saber ouvir, compreender, falar é essencial neste contato com a família. Em todos os momentos não se esquecer da humanização. Alguns pediatras e hebiatras têm o cuidado de entender a possibilidade de transmissão intra-familiar de processos infecciosos, por exem- plo, e cuidam também dos adultos infectados, examinando-os, medicando-os, procurando entender suas peculiaridades – para isso é necessário possuir uma visão e preparo mais completo na Medicina, no fundo ser um clínico bem geral. 15 Médico Acho que ser médico é uma vocação. Compreender que o seu preparo profissional e a sua preocupação é com o sofrimento do outro não é para qualquer um. Infelizmente nos dias atuais, com o enorme desenvolvimento da Medicina, surgiram inúmeros técnicos e poucos médicos. A humanização (conhecimento com sensibilidade) se reduziu, mas já está havendo uma reação, senão nosso trabalho perde o sentido. Nas linhas acima já conversamos com você o que é ser pediatra nas diferentes situações. Se você entendeu o que escrevemos, acho que basta. Se não, é bom mudar de profissão, não é nada demais, é honestidade. Mas se você aceitar, aqui vão algumas sugestões. Você precisa ter alma de pediatra, saber olhar diretamente nos olhos do seu paciente ou familiar com carinho, ouvir com calma, compreender e apreender a falar com clareza e simplicidade coisas que esclareçam, sinceras – nunca minta, se as situações forem graves demais, com proximidade da morte, não se desespere, procure confortar e transmitir al- guma esperança sobre outros aspectos que minimizem o sofrimento. Se você não souber, por falta de conhecimento, seja verdadeiro, estude mais a situação, divida a sua dificuldade numa discussão com outra pessoa ou num grupo, ou transfira o caso para outro profissional que possa cuidar melhor que você, não é humilhante – a ciência é vasta demais, você não precisa conhecer tudo, mesmo sendo um especialista. Seja ético, tenha mãos suaves para descobrir patologias, sem erotização e abusos. Te- nha paciência, tolerância, sem discriminações. Transmita delicadeza. Você será valorizado, mesmo que não perceba. Seus clientes se lembrarão com saudade de você. Cultive a sensibilidade, seja humanizado. Muitas vezes isso não vem naturalmente, há acertos e erros. Treine bastante. Equipe de saúde Atualmente é muito difícil trabalhar sozinho. A ajuda de outros profissionais facilita o maior entendimento de problemas mais complexos. Eles nos ajudam muito, especificamente conhecem melhor do que nós certos aspectos de saúde e doenças. É importante trabalhar- mos juntos, com muito respeito e colaboração. O paciente e suas famílias podem ser ava- liados em diferentes ângulos, facilitando melhor a compreensão de seus problemas. Todos devem também procurar ser humanizados. Em resumo esta é visão que devemos ter como pediatras, do atendimentoem consul- tório das pessoas que nos procuram. Nosso empenho é tratá-los sempre com sensibilidade – assim, a Medicina adquire sua razão de ser. Referências Bibliográficas 1. Crespin J. Puericultura – ciência, arte e amor. Fundo E. Byk, São Paulo: 1996; P 21-23. 2. Crespin J. Consulta Médica do adolescente e patologias mais frequentes. In Crespin J, Reato LFN. Hebiatria – Medicina do Adolescente. Roca. São Paulo: 2007, P 160-169. 3. Sucupira ACSL, Novaes HMD. A consulta em Pediatria. In Marcondes E, Vaz FAC. Ramos JLKA, Okay Y. Pediatria Básica, 9ª ed. Sarvier Ed. São Paulo: 2002; P 52-58. 4. Sucupira ACSL. A relação médico-paciente em Pediatria. In Marcondes E, Vaz FAC, Ramos JLKA, Okay Y. Pediatria Básica, 9ª ed. Sarvier Ed. São Paulo: 2002; P 45-52. 5. Viegas D. Em Busca da Humanização. Wak Ed. Rio de Janeiro: 2010; P 165-249. 6. Viegas D, Van Onselen LES. ABC na Pediatria. Aché Lab. Farmacêuticos S/A. São Paulo: 2003; P 1-10 7. Vitole MR, Gama CM, Campagnolo PD. Frequency of public child care service use and associated factors. J. Pediatr. (Rio J) 2010; 86 (1): 80-84. sendo totalmente evitados a sedução e o abuso sexual, e também qualquer preconceito. Da boa conduta do médico nascem e crescem vínculos. Se o paciente estiver doente, existe medo, ansiedade e angústia, é quando há necessi- dade de maior atenção, delicadeza, a confiança em suas condutas tem que ser conquistada. Havendo necessidade de transferi-lo para outro profissional (inter-consulta) ou indicação de hospitalização, sua experiência e o bom senso irão nortear essa decisão. Nos últimos anos tem sido notada nos médicos atitudes que não condizem com a sua profissão: indiferença no trato com os pacientes e suas famílias, arrogância, não se cumpri- menta quem os procuram, nem se olha para os seus rostos, não se sabe os seus nomes, a consulta se resume em um atendimento super-rápido, com pedido de numerosos exames subsidiários sem nem examinar o paciente, como se fosse possível, desta maneira, ser fei- to um verdadeiro diagnóstico e avaliação do tratamento. Evitam-se receber telefonemas, sobretudo de conveniados, como se estes fossem diferentes dos clientes particulares: as doenças são as mesmas, os honorários é que são diferentes. Qual razão destas atitudes anti-éticas? Tem sido considerado o excesso de trabalho, com salários indignos – é verdade, mas os pacientes não são culpados disso, e são mais vítimas porque estão doentes. Outro motivo que deve ser lembrado é a sedução pelos enormes avanços da ciência e da tecnologia – o médico, talvez mesmo sem perceber, se considera importante demais - surgiram numerosos técnicos e não verdadeiros médicos. O despreparo nas escolas médicas também é importante, não apenas na ausência de conhecimento mas também do cultivo da sensibilidade. Família A família chega preocupada, embora nem sempre transpareça, principalmente nas con- sultas por Puericultura, como se fosse simples rotina para avaliação e orientação do cresci- mento, desenvolvimento, alimentação, vacinações. No fundo há ansiedade. Na doença da criança ou adolescente a família também adoece – seus hábitos se mo- dificam, a preocupação cresce e se transforma em tristeza e angústia, os cuidados com o doente ficam até exagerados. Você, pediatra ou hebiatra, é também o médico dessa família. O seu cliente ou paciente não está sozinho, a não ser que seja abandonado, mas esta já é uma outra situação, que foge a este texto. Tudo o que acontece com ele reflete na família, mesmo naquelas aparente ou realmente negligentes. As suas condutas médicas precisam sempre estar direcionadas ao grupo familiar. Atender às suas necessidades, mesmo que pareçam abusivas, como telefo- nemas durante a noite ou durante a sua refeição – é sempre importante explicar aos pais, no consultório, quando há realmente motivos para preocupações (e que eles percebam que você, como ser humano, também precisa comer e dormir sossegado...). Infelizmente não são todos os cursos de Medicina que se preocupam em preparar o mé- dico para uma boa relação com as famílias de seus pacientes, como se isso fosse aprendido naturalmente na prática profissional, o que nem sempre acontece. Esta relação é essencial para a compreensão do que está acontecendo com o seu paciente, com o cumprimento de suas orientações, para a colaboração nas situações mais diferentes. Saber como pais e irmãos entendem a criança ou o adolescente no lar, na escola, como se realiza a relação intra-familiar e na sociedade, o que esperam deles. Saber ouvir, compreender, falar é essencial neste contato com a família. Em todos os momentos não se esquecer da humanização. Alguns pediatras e hebiatras têm o cuidado de entender a possibilidade de transmissão intra-familiar de processos infecciosos, por exem- plo, e cuidam também dos adultos infectados, examinando-os, medicando-os, procurando entender suas peculiaridades – para isso é necessário possuir uma visão e preparo mais completo na Medicina, no fundo ser um clínico bem geral. 16 globa consultas de rotina como avaliação da puberdade, do crescimento e desenvolvimento, queixas orgânicas variadas como alterações ginecológicas, alérgicas, dermatológicas, gas- trointestinais, infecciosas, doenças crônicas e assim por diante e queixas psicológicas como ansiedade, depressão, agressividade, somatização e dificuldades de relacionamento familiar. Neste momento além da compreensão do motivo da consulta, deve-se procurar ter uma visão do cotidiano desse adolescente, assim como sua inserção na sociedade que o cer- ca. Por isso dividimos a seguir inúmeros questionamentos a serem feitos numa consul- ta de Hebiatria para melhor compreensão do nosso paciente e toda a dinâmica social, cultural,econômica e familiar que gira em torno dele. O heredograma consiste na visualização da estrutura familiar, assim como uma análi- se das suas relações com o adolescente. Desta maneira podemos usar como instrumento facilitador uma escala de notas de 0 a 10, por exemplo, para o adolescente quantificar a qualidade de sua relação com os familiares mais próximos. A avaliação adequada da interação entre a família e o adolescente pode nos ajudar numa série de diagnósticos, principalmente no âmbito psicológico, como estados de ansiedade, depressão, vulnerabilidades a situações de risco como tabagismo, etilismo, uso de drogas ilícitas, facilitando possíveis abordagens e propostas terapêuticas ao nosso paciente. Da mesma forma também devemos procurar entender a inserção deste adolescente no seu ambiente escolar, como é seu relacionamento com os colegas de turma, com os pro- fessores, seu desempenho escolar e eventuais dificuldades em relação a uma matéria ou a seguir as recomendações e exigências da escola. Estas informações são úteis para podermos trabalhar questões como dificuldade esco- lar por alterações de comportamento, falta de estímulos, déficits de atenção, distúrbios de aprendizagem até situações de bullying além de avaliarmos as relações do adolescente com a família e escola também devemos nos preocupar com situações de seu cotidiano, impor- tante para mantermos sua vida mais equilibrada. As condições sócio-econômicas também devem ser pesquisadas, como presença de sa- neamento básico, fator indispensável à qualidade de saúde, renda familiar, atividade ocupa- cional dos pais e estrutura do domicílio em relação ao numero de moradores, como forma de avaliar a privacidade do adolescente. Em virtude da alta incidência de distúrbios e transtornos alimentares como obesidade, dietas hipercalóricas, substituição de refeições , anorexia e bulimia na adolescência, faz par- te da consulta um longo e extenso inquérito alimentar devendo-se pesquisar horários e lo- cais das refeições e qualidade e quantidade de alimentos ingeridos. Sabemos que nesta fai- xa etária devido ao intenso crescimento e conseqüentes necessidades calórico-energéticas uma dieta bem balanceada evita aparecimento de patologias mais propíciasneste momento como anemia ferropriva. A inserção do adolescente num ambiente saudável atua como fator de proteção ao jovem quanto ao uso de drogas ilícitas além de propiciar uma melhor qualidade de vida e desenvol- vimento cultural. Por isso dados como suas atividades de lazer (prática de esportes, música, televisão, leitura, uso do computador) relatando o tempo gasto nestas atividades são infor- mações úteis para uma melhor abordagem preventiva e até terapêutica. A religião é outro dado a ser perguntado, uma vez que na adolescência é comum o ques- tionamento das religiões, assim como atitudes que podem variar do ateísmo ao fanatismo extremo. Além disso a questão religiosa pode influenciar no momento de se propor mudan- ças alimentares ou terapias especificas de acordo com o credo ou religião assumidos. Com o andamento da consulta e o fortalecimento da relação médico-paciente inicia-se a investigação de seus hábitos como uso ou experimentação de tábaco, álcool e drogas. Na sexualidade , devem ser abordados temas como namoro, envolvimento físico, prática masturbatória, preferências sexuais, números de parceiros, conhecimento ou uso de méto- dos anticoncepcionais, abrindo um espaço importante para o esclarecimento de dúvidas tão freqüentes nesta faixa etária. 3. sEMIOLOGIA dO AdOLEsCEntE Marcelo Nunes Iampolsky Preceptor da Disciplina de Hebiatria da FMABC; Professor de Hebiatria da Faculdade de Me- dicina São Camilo, Mestre em Medicina pela FMABC. Um olhar para o passado A preocupação com a saúde do adolescente, principalmente com seu comportamento vem sendo relatado desde a idade antiga com descrições ressaltando a vitalidade, sua condição de mutabilidade frente as diversas situações com os sentimentos mais intensos, assim como criticas quanto às suas posturas e ações desrespeitosas e desprovidas de conhecimento. A Idade Média não trouxe grandes evoluções à adolescência, que não era visto como um período de transição, não existindo como conceito e importância , a infância logo era subs- tituída pela vida adulta do campo, com grande repressão social. Apenas após o Renascimento e suas conseqüentes fases culturais do romantismo, natu- ralismo e realismo, a adolescência passou a ter um papel mais fundamental na estruturação da sociedade. Porém foram os estudos antropológicos que deram um impulso ao desenvolvimento dos primeiros conceitos sobre a psicologia do adolescente, assim como diferenças entre a puberdade (desenvolvimento físico) e a adolescência (transformações físicas, psicológicas e sócio-culturais). Desta forma o grande marco de ínicio das produções cientificas ocorre com a publicação do livro Adolescência – sua psicologia e relações com a fisiologia, antropologia, sociologia, sexo, crime, religião e educação, por Stanley Hall, em 1904. A partir deste momento , seguiu-se uma série de publicações, seminários, congressos, criação de associações médicas, levando à formação das bases da medicina do adolescente, designada de Hebiatria (termo derivado da deusa grega da juventude Hebe e iatros-trata- mento). Um olhar para o presente A adolescência é uma fase evolutiva na qual ocorrem profundas modificações e trans- formações físicas e psicológicas preparando o individuo para a vida adulta. Este período de intensa vulnerabilidade compreende, segundo a Organização Mundial da Saúde a faixa etária dos 10 aos 19 anos incompletos. Neste momento o jovem precisa lidar com a formação de sua personalidade, conceitos, escolhas de amizades, futuro profissional, descoberta da sexualidade, assim como lidar com uso de drogas, álcool, tábaco e violência urbana. Desta maneira a abordagem à saúde do adolescente precisa ter um atendimento integral e multiprofissional visando uma abordagem ampla e holística com apoio dos médicos, psi- cólogos, nutricionistas, enfermeiros, assistentes sociais, assim como um espaço adequado que preserve sua individualidade durante a consulta médica. Particularidades da Consulta Médica do Adolescente Primeiro tempo Inicialmente deve-se abordar o motivo da procura ao serviço médico que geralmente en- 17 globa consultas de rotina como avaliação da puberdade, do crescimento e desenvolvimento, queixas orgânicas variadas como alterações ginecológicas, alérgicas, dermatológicas, gas- trointestinais, infecciosas, doenças crônicas e assim por diante e queixas psicológicas como ansiedade, depressão, agressividade, somatização e dificuldades de relacionamento familiar. Neste momento além da compreensão do motivo da consulta, deve-se procurar ter uma visão do cotidiano desse adolescente, assim como sua inserção na sociedade que o cer- ca. Por isso dividimos a seguir inúmeros questionamentos a serem feitos numa consul- ta de Hebiatria para melhor compreensão do nosso paciente e toda a dinâmica social, cultural,econômica e familiar que gira em torno dele. O heredograma consiste na visualização da estrutura familiar, assim como uma análi- se das suas relações com o adolescente. Desta maneira podemos usar como instrumento facilitador uma escala de notas de 0 a 10, por exemplo, para o adolescente quantificar a qualidade de sua relação com os familiares mais próximos. A avaliação adequada da interação entre a família e o adolescente pode nos ajudar numa série de diagnósticos, principalmente no âmbito psicológico, como estados de ansiedade, depressão, vulnerabilidades a situações de risco como tabagismo, etilismo, uso de drogas ilícitas, facilitando possíveis abordagens e propostas terapêuticas ao nosso paciente. Da mesma forma também devemos procurar entender a inserção deste adolescente no seu ambiente escolar, como é seu relacionamento com os colegas de turma, com os pro- fessores, seu desempenho escolar e eventuais dificuldades em relação a uma matéria ou a seguir as recomendações e exigências da escola. Estas informações são úteis para podermos trabalhar questões como dificuldade esco- lar por alterações de comportamento, falta de estímulos, déficits de atenção, distúrbios de aprendizagem até situações de bullying além de avaliarmos as relações do adolescente com a família e escola também devemos nos preocupar com situações de seu cotidiano, impor- tante para mantermos sua vida mais equilibrada. As condições sócio-econômicas também devem ser pesquisadas, como presença de sa- neamento básico, fator indispensável à qualidade de saúde, renda familiar, atividade ocupa- cional dos pais e estrutura do domicílio em relação ao numero de moradores, como forma de avaliar a privacidade do adolescente. Em virtude da alta incidência de distúrbios e transtornos alimentares como obesidade, dietas hipercalóricas, substituição de refeições , anorexia e bulimia na adolescência, faz par- te da consulta um longo e extenso inquérito alimentar devendo-se pesquisar horários e lo- cais das refeições e qualidade e quantidade de alimentos ingeridos. Sabemos que nesta fai- xa etária devido ao intenso crescimento e conseqüentes necessidades calórico-energéticas uma dieta bem balanceada evita aparecimento de patologias mais propícias neste momento como anemia ferropriva. A inserção do adolescente num ambiente saudável atua como fator de proteção ao jovem quanto ao uso de drogas ilícitas além de propiciar uma melhor qualidade de vida e desenvol- vimento cultural. Por isso dados como suas atividades de lazer (prática de esportes, música, televisão, leitura, uso do computador) relatando o tempo gasto nestas atividades são infor- mações úteis para uma melhor abordagem preventiva e até terapêutica. A religião é outro dado a ser perguntado, uma vez que na adolescência é comum o ques- tionamento das religiões, assim como atitudes que podem variar do ateísmo ao fanatismo extremo. Além disso a questão religiosa pode influenciar no momento de se propor mudan- ças alimentares ou terapias especificas de acordo com o credo ou religião assumidos. Com o andamento da consulta e o fortalecimento da relação médico-paciente inicia-se a investigação de seus hábitoscomo uso ou experimentação de tábaco, álcool e drogas. Na sexualidade , devem ser abordados temas como namoro, envolvimento físico, prática masturbatória, preferências sexuais, números de parceiros, conhecimento ou uso de méto- dos anticoncepcionais, abrindo um espaço importante para o esclarecimento de dúvidas tão freqüentes nesta faixa etária. 3. sEMIOLOGIA dO AdOLEsCEntE Marcelo Nunes Iampolsky Preceptor da Disciplina de Hebiatria da FMABC; Professor de Hebiatria da Faculdade de Me- dicina São Camilo, Mestre em Medicina pela FMABC. Um olhar para o passado A preocupação com a saúde do adolescente, principalmente com seu comportamento vem sendo relatado desde a idade antiga com descrições ressaltando a vitalidade, sua condição de mutabilidade frente as diversas situações com os sentimentos mais intensos, assim como criticas quanto às suas posturas e ações desrespeitosas e desprovidas de conhecimento. A Idade Média não trouxe grandes evoluções à adolescência, que não era visto como um período de transição, não existindo como conceito e importância , a infância logo era subs- tituída pela vida adulta do campo, com grande repressão social. Apenas após o Renascimento e suas conseqüentes fases culturais do romantismo, natu- ralismo e realismo, a adolescência passou a ter um papel mais fundamental na estruturação da sociedade. Porém foram os estudos antropológicos que deram um impulso ao desenvolvimento dos primeiros conceitos sobre a psicologia do adolescente, assim como diferenças entre a puberdade (desenvolvimento físico) e a adolescência (transformações físicas, psicológicas e sócio-culturais). Desta forma o grande marco de ínicio das produções cientificas ocorre com a publicação do livro Adolescência – sua psicologia e relações com a fisiologia, antropologia, sociologia, sexo, crime, religião e educação, por Stanley Hall, em 1904. A partir deste momento , seguiu-se uma série de publicações, seminários, congressos, criação de associações médicas, levando à formação das bases da medicina do adolescente, designada de Hebiatria (termo derivado da deusa grega da juventude Hebe e iatros-trata- mento). Um olhar para o presente A adolescência é uma fase evolutiva na qual ocorrem profundas modificações e trans- formações físicas e psicológicas preparando o individuo para a vida adulta. Este período de intensa vulnerabilidade compreende, segundo a Organização Mundial da Saúde a faixa etária dos 10 aos 19 anos incompletos. Neste momento o jovem precisa lidar com a formação de sua personalidade, conceitos, escolhas de amizades, futuro profissional, descoberta da sexualidade, assim como lidar com uso de drogas, álcool, tábaco e violência urbana. Desta maneira a abordagem à saúde do adolescente precisa ter um atendimento integral e multiprofissional visando uma abordagem ampla e holística com apoio dos médicos, psi- cólogos, nutricionistas, enfermeiros, assistentes sociais, assim como um espaço adequado que preserve sua individualidade durante a consulta médica. Particularidades da Consulta Médica do Adolescente Primeiro tempo Inicialmente deve-se abordar o motivo da procura ao serviço médico que geralmente en- 18 e ausculta. Membros Avaliar as articulações e extremidades com aferição do pulso. Ginecológico Avaliar a inspeção dos órgãos genitais femininos, pela classificação de Tanner. Andrológico Avaliar a inspeção dos órgãos genitais masculinos, palpação dos testículos, pela classificação de Tanner e medição dos testículos com orquidômetro de Prader. A avaliação dos critérios de Tanner é realizada de acordo com a figura abaixo: Genitália G1 G2 G3 G4 G5 Pré-adolescência (infantil) Aumento do escroto e dos testículos, sem aumento do pênis Ocorre também o aumento do pênis, inicialmente em toda a sua extensão Aumento do diâmetro do pênis e da glande, crescimento do escroto, cuja pele escurece 9 1/2 10 1/2 11 1/2 15 13 1/2 16 Tipo adulto 12 1/2 17 Puberdade precoce Desenvolvimento normal Pelos Pubianos P1 P2 Fase pré-adolescência (não há pelugem) Presença de pelos longos, macios, ligeiramente pigmentados na base do pênis 11 15 1/2 P3 11 3/4 P4 P5 Pelos mais escuros e ásperos sobre o púbis Pelugem do tipo adulto, mas a área coberta é consideravelmente menor do que a do adulto Tipo adulto extendendo-se até a face interior das coxas 16 12 16 1/2 13 17 sexo Masculino Critérios de Tanner para avaliação do desenvolvimento puberal masculino. Questões como avaliação de sua imagem corporal, satisfação com o corpo, ajudam a esclarecer eventuais conflitos do adolescente, assim como são dados indiretos para uma avaliação da aceitação quanto às mudanças corporais neste período. Perguntas como suas aspirações futuras constituem uma forma de trabalharmos sua auto estima, verificar projetos de vida e incentivar a realização dos seus sonhos. segundo tempo – Entrevista com a Família Neste momento tenta-se obter mais dados sobre o motivo principal da consulta, comple- mentar eventuais informações para melhor elucidação diagnóstica. É importante que o adolescente esteja presente durante essa fase da consulta, pois além dele ser o paciente em questão, é reforçado o vínculo com o adolescente uma vez que não há motivos de sua exclusão na consulta médica. Também através da anamnese com os familiares verificamos questões como anteceden- tes pessoais do adolescente: doenças na infância, doenças crônicas, alergias a medicamen- tos, cirurgias ou internações hospitalares realizadas, uso de medicamentos para completar o entendimento do histórico do paciente Os antecedentes familiares, como em qualquer consulta médica, são dados de grande relevância na prevenção e investigação de enfermidades, como hipertensão arterial, diabe- tes, hipercolesterolemia, tireoidopatia, doenças coronarianas e neoplasias. Dados sobre os antecedentes obstétricos, como peso ao nascer, tipo de parto, idade gestacional e intercorrências no período neonatal são importantes para esclarecer dúvidas quanto ao seu desenvolvimento. E, por fim, abordar se o adolescente encontra-se em dia com sua situação vacinal, atu- ando assim, na profilaxia de doenças como Tétano, Hepatite B e outras enfermidades. terceiro tempo - Exame Físico O Código de Ética Médica recomenda a presença de um acompanhante durante o exame físico. Essa medida atua como uma forma de respeito ao paciente e também de proteção ao médico, já que muitos adolescente podem fantasiar a consulta dando a ela um entendimen- to erótico. Contudo nem sempre este parceiro precisa ser um familiar, muitos adolescentes acabam se sentindo mais confortáveis na presença de um outro profissional, assim podemos chamar outro médico, enfermeira ou até um funcionário treinado para essa situação. O importante é que o exame físico ocorra respeitando o adolescente, que deverá ser in- formado sobre tudo o que se está fazendo durante o exame físico, para aliviar o nervossismo da consulta e facilitar o prosseguimento do exame. Obtemos dados gerais como peso, estatura, índice de massa corporal, pressão arterial e freqüência cardíaca. É realizado o exame físico geral com avaliação do estado geral do paciente, pele, muco- sas, padrão respiratório e aferição da temperatura. O exame físico especifico compreende os seguinte dados: Cabeça e Pescoço Avaliar o couro cabeludo, mucosas, olhos, ouvidos, orofaringe, presença de gânglios sub- mandibulares, cervicais, palpação da tireóide. tórax Avaliar a parte muscular, ósseo, ausculta pulmonar e cardíaca. Abdome Avaliar a palpação superficial e profunda do abdome, fígado, baço, rins, alénm da percussão 19 e ausculta. Membros Avaliar as articulações e extremidades com aferição do pulso. Ginecológico Avaliar a inspeção dos órgãos genitais femininos, pela classificação de Tanner. Andrológico Avaliar a inspeção dos órgãos genitais masculinos, palpação dos testículos, pela classificação de Tanner e medição dos testículos com orquidômetro de Prader.
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