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Concorrência, Relações de Consumo e Agências Reguladoras

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1 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 2 
UNIDADE 2 – RELAÇÕES DE CONSUMO................................................................ 4 
2.1 RELAÇÕES DE CONSUMO ....................................................................................... 4 
2.2 CONSUMIDOR ....................................................................................................... 5 
2.3 FORNECEDOR .................................................................................................... 10 
2.4 PRODUTO E SERVIÇO .......................................................................................... 16 
UNIDADE 3 – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES DE CONSUMO
 .................................................................................................................................. 19 
UNIDADE 4 – EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ................................ 29 
4.1 PREOCUPAÇÃO COM A DEFESA DO CONSUMIDOR – CDC ....................................... 29 
4.2 A POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÃO DE CONSUMO ................................................ 35 
UNIDADE 5 – ELEMENTOS DE DIREITO DE CONCORRÊNCIA ........................... 42 
UNIDADE 6 – RELAÇÕES ENTRE CONSUMIDOR E CONCORRÊNCIA .............. 49 
6.1 VALOR DA CONFIANÇA ......................................................................................... 49 
6.2 PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE .......................................................................... 50 
UNIDADE 7 – AGÊNCIAS REGULADORAS ........................................................... 51 
7.1 O SERVIÇO PÚBLICO E A REGULAÇÃO ................................................................... 58 
7.2 FUNÇÃO SOCIAL E APLICAÇÃO DO CDC ................................................................ 61 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66 
 
 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
2 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
Para falarmos da concorrência no mercado e, principalmente, a proteção do 
consumidor, passaremos por conceitos básicos que envolvem as relações de 
consumo (consumidor, fornecedor, produtos e serviços), os princípios que regem as 
relações de consumo, os elementos pertencentes ao direito de concorrência, bem 
como o papel das agências reguladoras em todo esse processo. 
A proteção da concorrência é assunto novo no Brasil se pensarmos em 
Direito Econômico, só vindo a ganhar relevo com a edição da Lei nº 8.884/94. Até o 
advento desta lei, o CDC figurava como o único instrumento à disposição dos 
cidadãos para resguardo de seus interesses e de sua posição no mercado de 
consumo. 
A Lei nº 8.078 elevou o consumidor a sujeito de direitos passando a ser visto 
como agente econômico, titular de posições agora garantidas pela ordem jurídica, 
conforme os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da 
isonomia. 
A partir do reconhecimento de sua vulnerabilidade como agente de mercado, 
o CDC surge no ordenamento brasileiro como norma protetiva, cuja aplicação busca 
alcançar a igualdade substancial entre as partes da relação de consumo. O 
consumidor passa a ser tutelado em vários aspectos: como contratante, como vítima 
de vícios e defeitos no fornecimento, como parte em demandas individuais e como 
beneficiário das ações coletivas (CARPENA, 2005). 
Pois bem, a proteção do consumidor jamais se realizará plenamente sem a 
defesa da concorrência. 
Nesse contexto e nesta sociedade, consumidor, mais do que o indivíduo que 
exerce seu poder de compra no mercado de consumo, é todo aquele que 
potencialmente tem ou deveria ter acesso a produtos e serviços essenciais. Dada a 
forma como as relações sociais se dão na sociedade moderna, a cidadania acaba 
por se materializar em relações de consumo. No caso, a cidadania se manifesta na 
possibilidade da população ter acesso efetivo e adequado a serviços públicos 
essenciais (BRASIL, 2010). A atuação das Agências e órgãos reguladores impacta 
diretamente o dia-a-dia dos consumidores, daí a importância de também falarmos 
sobre elas neste momento do curso. 
 
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de 
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
3 
 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas 
opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
inúmeras outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de 
todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao 
longo dos estudos. 
 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
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UNIDADE 2 – RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
2.1 Relações de consumo 
Entende-se por relação de consumo, toda relação jurídico-obrigacional que 
liga um consumidor a um fornecedor, tendo como objeto o fornecimento de um 
produto ou da prestação de um serviço. 
Em geral há uma cumulação de prestação de serviço com fornecimento de 
produto. Assim, para se determinar qual o regime jurídico a ser aplicado ao caso, é 
preciso “averiguar qual é o elemento nuclear do vínculo obrigacional: uma obrigação 
de dar ou uma obrigação de fazer. Tratando-se daquela, a hipótese é de produto; no 
outro caso, o objeto é um serviço.” (LISBOA, 1999, p. 189). 
Nem sempre a relação de consumo será um negócio jurídico; uma vez que a 
lei coloca sob a mesma denominação relações contratuais (negócios jurídicos) e não 
contratuais, decorrentes de atos e fatos jurídicos. Deste modo, temos que o Código 
de Defesa do Consumidor irá atuar de forma preventiva e repressiva nas relações de 
consumo tanto no âmbito contratual como no extracontratual, tanto no pré-contratual 
como no pós-contratual. 
No plano do direito privado material, o CDC trata sobre os seguintes temas: 
da responsabilidade civil (arts. 6º, VI; 8º a 28); das práticas comerciais (arts. 6º, I a 
IV; 29 a 45); e da proteção contratual (art. 6º, V e X; 46-54). 
Como veremos mais detalhadamente abaixo, o CDC traz quatro definições 
diferentes de consumidor: a duas delas (art. 2º, caput e parágrafo único), são 
aplicadas todas as disposições do Código; a outra (art. 17), as regras sobre 
responsabilidade civil extracontratual; e para a última categoria (art. 29), as regras 
sobre proteção contratual e práticas abusivas. 
Segundo MARCELO AZEVEDO CHAMONE (2007), temos, então, que a 
proteção do CDC recairá exclusivamente ao consumidor standard (art. 2º, caput) e 
aos “intervenientes”nas relações de consumo (art. 2º, parágrafo único), somente 
nas situações de responsabilidade civil contratual (vícios do produto ou serviço). 
Assim sendo, a princípio, todas as demais disposições do CDC se aplicariam quase 
que irrestritamente à coletividade, em geral, em face de redação genérica dos 
artigos que ampliam o conceito de consumidor. 
 
 
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios 
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
5 
 
2.2 Consumidor 
Inicialmente, consumidor é “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou 
utiliza produto ou serviço como destinatário final” (art. 2º, caput); em outros termos, é 
consumidor “qualquer pessoa física ou jurídica que, isolada ou coletivamente, 
contrate para consumo final, em benefício próprio ou de outrem, a aquisição ou a 
locação de bens, bem como a prestação de um serviço” (FILOMENO, 2001, p. 31). 
LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES (2005, p. 88) acrescenta que “a norma 
define como consumidor, tanto quem efetivamente adquire (obtém) o produto ou o 
serviço, como aquele que, não o tendo adquirido, utiliza-o ou o consome”, ao que, 
nas palavras de ROBERTO SENISE LISBOA (1999, p. 159), resulta em “substancial 
modificação do princípio geral da relatividade dos efeitos”, possibilitando a proteção 
de terceiro estranho ao contrato – há uma prevalência da “relação de consumo” 
sobre o “contrato de consumo”, na delimitação do âmbito de proteção oferecido pela 
lei. 
Apesar de não haver disposição expressa, ao contrário do que ocorre em 
relação ao fornecedor, JAMES MARINS (2005, p. 21) entende que também o ente 
despersonalizado pode ser tomado como consumidor, citando como exemplo a 
entidade familiar. MARIA ANTONIETA ZANARDO DONATO (1994) o acompanha 
em parte, discordando apenas da inclusão da família nessa situação, e cita como 
exemplos o condomínio edilício e o espólio – para a autora, cada um dos membros 
da família deveria pleitear seus interesses individualmente. 
Muito antes da edição do CDC, FÁBIO KONDER COMPARATO (1974, p. 
90), buscando apoio na doutrina estrangeira, buscou delimitar o conceito de 
consumidor, dando especial atenção à finalidade da aquisição do produto ou serviço: 
 
O consumidor é, pois, de modo geral, aquele que se submete ao poder de 
controle dos titulares de bens de produção, isto é, os empresários. É claro 
que todo produtor, em maior ou menor medida, depende por sua vez de 
outros empresários, como fornecedores de insumos ou financiadores, por 
exemplo, para exercer a sua atividade produtiva; e, nesse sentido, é 
também consumidor. Quando se fala, no entanto, em proteção do 
consumidor quer-se referir ao indivíduo ou grupo de indivíduos, os quais, 
ainda que empresários, se apresentam no mercado como simples 
adquirentes ou usuários de serviços, sem ligação com a sua atividade 
empresarial própria. 
 
 
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6 
 
Antes da edição do CDC, era comum encontrar esse tipo de definição, muito 
mais preocupada com a proteção do consumidor pessoa física. Porém, com a lei 
veio a superação desses conceitos baseados nas lições europeia e norte-americana; 
a legislação brasileira veio com uma proposta muito mais ousada, buscando uma 
proteção mais ampla e generalizada (CHAMONE, 2007). 
Apesar da disposição inequívoca da lei, surgiu na doutrina, com reflexos na 
jurisprudência, dissenso sobre quem poderia ser classificado como destinatário final 
do produto ou serviço. 
Duas correntes principais, e antagônicas, formaram-se: uma restringindo o 
conceito de consumidor, buscando aproximá-lo o mais possível da doutrina 
europeia, enquanto a outra trata de dar maior aplicabilidade à lei, defendendo a sua 
incidência sobre o maior número de relações jurídico-obrigacionais. 
Para os juristas que veem no CDC, uma regulamentação para o mercado de 
consumo em geral, o conceito de destinatário final não pode sofrer restrições, 
principalmente porque a própria lei não as faz. Eis que daqui tiramos o conceito 
objetivo de consumidor. 
ROBERTO SENISE LISBOA (1999) vê na expressão destinatário final a 
adoção pelo CDC da teoria da causa na relação jurídica de consumo, tornando 
necessária a análise da causa da aquisição ou da utilização do produto ou do 
serviço; a causa da formação da relação de consumo deverá estar relacionada à 
transmissão definitiva ou provisória de produto ou de atividade humana remunerada, 
sem que outra destinação seja objetivada pelo beneficiado (adquirente ou usuário). 
Não obstante, para a definição do conceito de consumidor deve-se tão 
somente analisar os critérios objetivos dados pela própria lei, não havendo qualquer 
necessidade de inquirir sobre aspectos subjetivos. Assim, consumidor é todo aquele 
que retira o produto ou serviço do ciclo produtivo-distributivo, i.e., aquele que não o 
revende nem o incorpora na produção de um novo. Podem ser citados como 
defensores dessa interpretação, com variações, Rizzatto Nunes, Nery Jr., Roberto 
Senise Lisboa, João Batista de Almeida e James Marins. 
Assim, LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES (2005) define como consumidor, 
além do destinatário final que adquire o produto ou serviço para uso próprio (sem 
finalidade de produção), também quando há a finalidade de produção, desde que o 
 
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produto ou serviço sejam oferecidos regularmente no mercado de consumo, 
independentemente do uso e destino que o adquirente lhes vai dar. Exclui as 
situações em que o produto ou serviço é entregue com a finalidade específica de 
servir como bem de produção para outro produto ou serviço e via de regra não está 
colocado no mercado de consumo como bem de consumo, mas como de produção; 
o consumidor comum não o adquire. 
JAMES MARINS (2005), JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2010) e ROBERTO 
SENISE LISBOA (1999) excluem do conceito de consumidor apenas o adquirente de 
produto que será objeto de transformação ou implementação com reinserção na 
cadeia produtiva-distributiva, ou simplesmente com o intuito de revendê-lo. Assim, 
se a implementação ou transformação é feita para o uso próprio do adquirente, ele 
será o destinatário do produto ou serviço e, portanto, consumidor – não se discute 
se o bem é de produção (utilizado para implementar a produção) ou não. Mais, como 
a lei não faz qualquer restrição quando utiliza o termo pessoa jurídica, não caberia 
ao intérprete/aplicador fazê-lo. 
É certo que dessa conceituação estaremos trazendo para a relação de 
consumo situações que vão contra o senso comum. Porém, bom ou mau, é o que 
nos é dado pela lei, não cabendo ao intérprete/aplicador impor suas opiniões sobre a 
norma. 
Quanto ao conceito subjetivo de consumidor, CLÁUDIA LIMA MARQUES 
(2004, p. 71) adepta da dita “corrente finalista”, dá um conceito restritivo de 
destinatário final: ela o identifica com a pessoa física que retira o bem de mercado, o 
destinatário fático e econômico do bem ou serviço, i.e., não pode estar adquirindo 
para revenda ou uso profissional, pois o bem seria novamente uminstrumento de 
produção cujo preço será incluído no preço final do profissional que o adquiriu. 
Admite, porém, que o profissional, pessoa física ou pequena empresa que tenha 
adquirido um produto fora de seu campo de especialidade, i.e., sem o intuito de 
obter lucro com a sua futura negociação, possam ser considerados consumidores – 
note-se que essa definição é intimamente ligada às qualidades econômicas do 
adquirente. 
Para MARIA ANTONIETA ZANARDO DONATO (1994), o consumidor deve 
ser conceituado dentro do âmbito da relação de consumo, não sendo possível fazê-
 
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lo sobre o ato de consumo. Assim, não se analisa o consumidor unicamente em 
relação à prática do ato, mas sim, em função da qualidade subjetiva daquele que 
pratica a relação de consumo e em função da destinação que ele dará ao produto, 
em outras palavras, a finalidade prática do ato e não o ato em si. Não basta que 
retire o produto do mercado; deve-se mesclar a qualidade do adquirente do produto 
com a finalidade para que o adquiriu. 
Desse modo, para que a pessoa jurídica, ou a pessoa física em atuação 
profissional (consumidor-profissional), possa ser considerada consumidora, haveria 
três fatores de discrímen: o primeiro estaria na aquisição de produto, retirando-o da 
cadeia produtiva e, não se caracterizando a aquisição para o uso profissional, i.e., 
sua utilização para implementar o processo produtivo; o segundo estaria na 
configuração no caso concreto da vulnerabilidade, havendo, porém, presunção de 
vulnerabilidade em seu favor; e por fim, deve haver comprovação de que a 
contratação se deu fora do seu campo de atuação usual (BOUGOIGNIE apud 
DONATO, 1994). 
De acordo com JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO (2005, p. 27), o Código 
teria adotado o conceito econômico de consumidor, é dizer: o personagem que no 
mercado de consumo adquire bens ou contrata serviços, como destinatário final, em 
benefício próprio ou de terceiro, agindo com vistas ao atendimento de uma 
necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma outra atividade negocial. 
Assim, somente se justificaria a inclusão da pessoa jurídica como 
consumidora na medida em que houver efetiva vulnerabilidade econômica em face 
do fornecedor a ser protegida, o que o citado autor identifica com as pessoas 
jurídicas que não tenham finalidade lucrativa, pois somente essas seriam 
“vulneráveis” (CHAMONE, 2007). 
Quanto à “vulnerabilidade” utilizada como elemento do conceito de 
consumidor, ROBERTO SENISE LISBOA (1999) tece as seguintes considerações, 
subscritas integralmente: 
 
A vulnerabilidade do consumidor é presunção absoluta no mercado de 
consumo, em face do fornecimento dos produtos e serviços e do domínio da 
tecnologia e da informação que o fornecedor possui sobre eles. É 
imperativo lembrar que a vulnerabilidade não se constitui, necessariamente, 
no critério legal para a definição do consumidor e da relação de consumo, 
pois é ela um posterius, que surge como consequência do reconhecimento 
 
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da existência da relação de consumo. E, por decorrência, de que a 
aquisição do produto ou do serviço foi realizada por um sujeito de direito 
que se enquadra na definição legal de consumidor. Aquele que vier a ser 
considerado consumidor é quem se beneficiará da presunção de 
vulnerabilidade diante do fornecedor. E essa presunção é iure et de iure, ou 
seja, não admite prova em sentido contrário. Mas a vulnerabilidade não é 
pressuposto do reconhecimento de que um sujeito adquiriu determinado 
produto ou serviço como consumidor. Pelo contrário. Do reconhecimento da 
situação de consumidor do sujeito em dada relação jurídica é que se impõe 
o princípio geral da vulnerabilidade. 
 
É interessante notar que com base no mesmo “conceito econômico de 
consumidor”, HERMAN BENJAMIN (1988, p. 71) afirma que o conceito de consumo 
final e intermediário estão unidos, de modo que, na teoria econômica, consumidor é 
“qualquer agente econômico responsável pelo ato de consumo de bens finais e 
serviços. Tipicamente, o consumidor é entendido como um indivíduo, mas, na 
prática, consumidores serão instituições, indivíduos e grupos de indivíduos.” 
Assim sendo, não obstante essas considerações, para que a pessoa jurídica 
possa ser considerada consumidora, além dos requisitos acima, os bens adquiridos 
devem ser bens de consumo e não de capital (que integram a cadeia produtiva); 
“aquele que utiliza o bem para continuar a produzir ou na cadeia de serviço” não 
pode ser considerado consumidor, mas tão somente aquele que “retira o bem do 
mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo (Endverbraucher), aquele que coloca 
um fim na cadeia de produção” (MARQUES, 2004, p. 71). 
 
Em outras palavras, consumidor 
 
seria toda pessoa situada no término da cadeia de consumo e que encerra 
a circulação econômica de um produto ou serviço em vez de sobre ele atuar 
com vistas a sua transformação, distribuição, fabricação ou prestação. 
(HERMAN, 1988, p. 72). 
 
A justificativa dessa posição mais restritiva é feita com base no argumento 
de que o consumidor deve receber tratamento especial e diferenciado, e a 
generalização da aplicação da legislação de proteção ao consumidor, estendendo o 
rol dos beneficiados por essa proteção, iria terminar por dar tratamento igual para 
todos, desvirtuando a finalidade do Direito do Consumidor de “proteger a parte mais 
fraca ou inexperiente na relação de consumo” (BENJAMIN, 1988, p. 77). 
 
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Como já notado acima, os defensores desta corrente interpretativa 
usualmente fundamentam suas posições não tanto nas disposições do CDC, mas 
mais presos às definições elaboradas antes da publicação da lei, e de doutrina e 
legislação estrangeira, passando muitas vezes ao largo do texto legal. 
Sobre esse ponto é relevante o pensamento de JAMES MARINS (2005, p. 
20-23): 
 
Esclareça-se, apenas, como premissa para este estudo, nosso 
entendimento de que havendo no direito positivo conceito preciso de 
consumidor – como em verdade ocorre com o art. 2º aqui objeto do nosso 
estudo –, e que albergue conceito próprio induvidoso, não se pode 
pretender submetê-lo às teorias jurídicas informadoras de sistemas 
alienígenas, teorias essas ora textualmente recebidas pelo legislador, ora 
textualmente afastadas em prol da elaboração de um sistema próprio. 
Condicionar-se o conceito de consumidor à constatação de sua 
hipossuficiência seria, em verdade, enfraquecer o sistema protetivo 
inaugurado pelo CDC, deslocando para o movediço critério subjetivo 
conceito que, no nosso sistema, é claramente e intencionalmente informado 
pela objetividade. 
 
2.3 Fornecedor 
Fornecedor, segundo a definição legal (CDC, art. 3º), 
 
é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, 
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de 
produção, montagem, criação,construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de 
serviços. 
 
Assim, não se exige que o fornecedor tenha personalidade jurídica, e nem mesmo 
capacidade civil. Em suma, fornecedor é todo e qualquer participante do ciclo 
produtivo-distributivo (DENARI, 2005, p. 174). 
A definição que nos é dada pela lei não exclui nenhum tipo de pessoa 
jurídica, seja sociedade empresarial, com ou sem fins lucrativos, fundações públicas 
ou privadas, sociedades de economia mista, empresas públicas, órgãos da 
Administração direta, etc. (NUNES, 2009, p. 101). 
Atente-se que nem todo fornecedor é empresário. Assim, o art. 966, 
parágrafo único, do CC, exclui o profissional liberal do conceito de empresário, mas 
não há dúvidas de que ele é tratado como fornecedor pelo CDC, ainda que mereça 
tratamento diferenciado (art. 14, 4º, do CDC). As sociedades simples (CC 981 e 982) 
 
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não são empresárias, mas isso não lhes afasta da incidência do CDC. Também o 
Estado, ostensivamente quando atua como agente econômico ou prestando serviços 
públicos mediante remuneração direta, está abrangido pelo conceito de fornecedor 
(PÜSCHEL, 2006, p. 59). 
JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO (2005, p.43) enquadra na definição de 
fornecedor todos que “propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado de 
consumo, de maneira a atender às necessidades dos consumidores, sendo 
despiciendo indagar-se a que título”. 
Para CLÁUDIA LIMA MARQUES (2004), o que caracteriza o fornecedor de 
produtos é o desenvolvimento de atividades tipicamente profissionais. Já quanto ao 
prestador de serviços, basta que a atividade seja habitual ou reiterada, não se 
exigindo que o prestador seja “profissional” da área. 
Já as entidades associativas e os condomínios em edificações não podem 
ser considerados fornecedores em face de seus associados e condôminos, pois seu 
fim ou objetivo social é deliberado pelos próprios interessados, em última análise, 
sejam representados ou não por intermédio de conselhos deliberativos, ou então 
mediante participação direta em assembleias gerais que, como se sabe, são os 
órgãos deliberativos soberanos nas chamadas sociedades contingentes. Porém, se 
a entidade associativa tiver como fim precípuo a prestação de serviços, cobrando 
mensalidade ou algum outro tipo de contribuição, deve ser considerada fornecedora 
desses serviços (FILOMENO, 2005, p. 45). 
Dentre os elementos que caracterizam o fornecedor temos a atividade 
econômica, o profissionalismo, a autonomia e a obtenção de ganho, sobre os quais 
discorremos brevemente abaixo: 
 
Por atividade econômica se entende o conjunto de atos ordenados em 
função de um determinado objetivo (...), devendo ser avaliada de forma 
autônoma em relação aos atos singulares de que é composta; de onde se 
conclui não bastar a prática de atos isolados para que se caracterize a 
figura do fornecedor. Qualquer ato singular deve poder ser reconduzido a 
uma atividade para ser considerado ato de fornecimento e submeter-se às 
normas do CDC (PÜSCHEL, 2006). 
 
Ainda, pela análise do dispositivo legal que define quem pode ser 
considerado fornecedor, temos que não bastará o exercício de qualquer atividade, 
mas sim de uma atividade econômica. 
 
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Igualmente, tal atividade econômica deve ser desenvolvida com 
profissionalismo, i.e., com regularidade, objetivo de satisfação de necessidade 
alheia, e o propósito de obter um ganho (PÜSCHEL, 2006). 
A regularidade consiste no exercício constante e estável da atividade, de 
modo que, como ressalta FLÁVIA PÜSCHEL (2006, p. 63), não são considerados 
profissionais aqueles que exercem atividade econômica acidentalmente e cuja 
organização exaure sua função no cumprimento do próprio ato para o qual foi criada. 
Porém, é importante ressaltar que não se exige a habitualidade da atividade – i.e., 
que seja ininterrupta – para que se configure uma relação de consumo; a atividade 
comercial sazonal ou eventual não obsta a incidência das regras do CDC. 
De acordo com LUIZ ANTONIO RIZZATTO NUNES (2005, p. 61), a 
atividade que ocorra com certa regularidade, ainda que não de forma contínua, com 
o objetivo de auferir lucros, basta para que se configure a relação de consumo. 
É indispensável que o desenvolvimento da atividade econômica seja voltado 
para a satisfação de necessidade alheia, pouco importando se para poucos ou para 
muitos, não sendo possível a caracterização de profissionalismo na pessoa que 
produz exclusivamente para a satisfação de necessidade pessoal. 
Quanto ao último elemento, a obtenção de ganho, há divergência 
doutrinária. 
Para alguns – como Giuseppe Ferri e Tullio Ascarelli (s.d apud PÜSCHEL, 
2006) – deverá haver finalidade de obtenção de lucro, de incremento no patrimônio, 
de modo que as entidades que desenvolvem atividades sem fins lucrativos não 
seriam consideradas fornecedoras. 
Porém, prevalece que basta ter “por objetivo buscar o reembolso dos fatores 
de produção empregados ou evitar perdas e gastos, sem procurar o incremento 
patrimonial propriamente dito” (PÜSCHEL, 2006, p. 65). Entender de outro modo 
poderia fomentar a concorrência desleal entre entidades sem fins lucrativos – 
sujeitas, a princípio, à responsabilidade subjetiva, e ressalvada a aplicação dos arts. 
927, parágrafo único e 931, do CC – e as com finalidade lucrativa, que, tendo que 
incluir no custo de sua operação o ônus de responder objetivamente aos danos que 
der causa, não conseguiria competir com os preços da primeira. 
 
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13 
 
Além disso, o objetivo de ganho deve referir-se à atividade em si, e não aos 
atos singulares, ou seja, não há necessidade de que cada ato singular seja praticado 
com o objetivo de obter ganho. O fornecedor é responsável, por exemplo, por 
produtos distribuídos gratuitamente como amostra, pois, embora não haja 
remuneração por tais amostras, tal distribuição gratuita faz parte do exercício da 
atividade econômica profissional do fornecedor (PÜSCHEL, 2006, p.65). 
Por fim, para que se caracterize determinado ente como fornecedor, é 
preciso que exerça sua atividade econômica de forma autônoma, i.e., não 
subordinada. A definição de atividade autônoma é obtida como contraposição de 
atividade subordinada: desenvolvida na dependência de outrem e cujos resultados 
se referem a bens alheios ou a serviços depois fornecidos por outrem (ASCARELLI 
(apud PÜSCHEL, 2006). Assim, aquele que exerce atividade na qualidade de 
empregado de outrem, não é fornecedor, mas está inserido na cadeia produtiva, e, 
portanto, é fornecedor, aquele que desenvolve suas atividades. 
Uma vez estabelecida a amplitude do conceito de fornecedor dada pela 
redação do art. 3º do CDC, vamos às espécies deste integrante das relações de 
consumo, traçando as diferenças eventuais entre os diversos participantesda cadeia 
produtiva-distributiva. 
A princípio, todos são tratados de forma uniforme ao longo do CDC, e 
referidos sob a denominação comum de fornecedor. Há uma exceção, porém: na 
seção que trata da ‘responsabilidade por fato do produto ou serviço’ (arts. 12-14), a 
lei dá tratamento específico e diferenciado para o produtor (PÜSCHEL, 2006), o 
comerciante, e o prestador de serviços. 
 
Produtor final e produtor de matéria-prima ou parte componente 
De acordo com as etapas da produção, é possível identificar três espécies 
de produto: a matéria-prima (materiais e substâncias destinados à fabricação de 
produtos), a parte componente (que se destina à incorporação a um produto final), e 
o produto final (pronto para servir ao uso a que se destina) (PÜSCHEL, 2006). 
Um mesmo produto pode, dependendo das circunstâncias, estar 
enquadrado em qualquer uma dessas categorias, dependendo, sobretudo, de uma 
análise da função do produto e do modo como é oferecido no mercado. 
 
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14 
 
Perante o consumidor, tal distinção não apresenta relevância prática nas 
questões relativas ao vício do produto, em razão da responsabilidade solidária 
imposta pela lei (CDC, art. 18). Mas quando adentramos no tema da 
responsabilidade pelo fato do produto mostra-se de grande importância, uma vez 
que, de acordo com FLAVIA PÜSCHEL (2006, p. 69), “cada produtor responde pelos 
defeitos surgidos durante o seu próprio processo de produção ou em fases 
anteriores”, de modo que o “produtor final responde pelos defeitos da parte 
componente, bem como pelos defeitos da matéria-prima empregada na produção da 
parte componente (...), assim como por aqueles resultantes diretamente de sua 
própria atividade”. 
 
Produtor real, presumido e aparente 
Produtor real é aquele que participa de maneira autônoma no processo de 
produção de um bem, contribuindo em qualquer medida para a confecção de um 
produto apto para a distribuição, seja de um produto final, seja de uma parte 
componente, seja de uma matéria-prima (PÜSCHEL, 2006). 
Produtor presumido é o importador. Tal ficção legal existe como 
concretização do postulado que determina a facilitação da defesa do consumidor em 
juízo, evitando que ele tenha que buscar a reparação em face do produtor real 
estrangeiro. 
Produtor aparente é aquele que simplesmente apõe ao produto o seu nome 
ou marca, de modo a ocultar a indicação do produtor real do produto, criando a 
aparência de ter ele mesmo produzido o bem. Ainda que não tenha efetivamente 
participado da produção, o produtor aparente é tratado como se tivesse em razão da 
situação de aparência criada para o consumidor. Atente-se, porém, que não fica 
excluída a eventual responsabilidade do produtor real (PÜSCHEL, 2006). 
 
Comerciante 
Comerciante, na definição de FLAVIA PÜSCHEL (2006), é todo sujeito que 
distribui produtos no âmbito de sua atividade profissional, sem exercer ele próprio 
atividade de produção. 
 
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15 
 
Para diferenciar a atividade produtiva da mera distribuição, deve ser levada 
em conta a influência da atividade em questão sobre a configuração e qualidades 
essenciais do produto. Assim, se há influência sobre a estrutura ou qualidades 
essenciais do bem, trata-se de atividade de produção. Existindo, ao contrário, 
apenas uma manipulação insignificante, trata-se de atividade de simples distribuição 
(PÜSCHEL, 2006). 
O tratamento dado pelo CDC ao comerciante é diferente dos demais 
fornecedores. Enquanto a responsabilidade pelo vício do produto é solidária de 
todos os participantes da cadeia produtivo-distributiva, o comerciante somente é 
responsabilizado pelo fato do produto direta e isoladamente quando houver má-
conservação do produto, ou ainda, de forma subsidiária, quando o produtor final 
(PÜSCHEL, 2006) do produto não for suficientemente identificado, impedindo que o 
consumidor acione diretamente o produtor real. 
 
Prestador de serviços 
Prestador de serviços é aquele ator da cadeia produtiva-distributiva que 
presta qualquer tipo de atividade no mercado de consumo, envolvendo ou não o 
concomitante fornecimento de produto. 
Quando houve fornecimento de produto juntamente com a prestação de 
serviços, deverá ser analisada qual a atividade preponderante para que se possa 
dar o tratamento legislativo adequado à relação de consumo. 
 
O Poder Público como fornecedor 
O CDC, em seu art. 3º, diz que o fornecedor pode ser ente público ou 
privado, i.e., inclui-se no conceito de fornecedor o próprio Poder Público, por si ou 
então por suas empresas públicas que desenvolvam atividade de produção, ou 
ainda as concessionárias de serviços públicos (RODRIGUES, 2005). 
Em face da redação explícita da lei, não há como negar a sua incidência em 
relação ao Poder Público, sempre que configurados os elementos acima expostos. 
 
 
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16 
 
2.4 Produto e serviço 
Produto, na econômica definição do CDC, “é qualquer bem, móvel ou 
imóvel, material ou imaterial” (art. 3º, §1º). Bens, por sua vez, são coisas úteis aos 
homens, que provocam a sua cupidez, sendo objeto de apropriação privada; assim, 
bens econômicos são as coisas úteis e raras, suscetíveis de apropriação 
(RODRIGUES, 2005, p. 47). 
Produto é “qualquer objeto de interesse em dada relação de consumo, e 
destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente, como destinatário final” 
(FILOMENO, 2005, p. 48). 
É de relevância a classificação dos bens com base em sua taxa de consumo 
(CDC, art. 26): bens duráveis (bens tangíveis que normalmente sobrevivem a muitos 
usos), bens não duráveis (bens tangíveis que normalmente são consumidos em um 
ou em alguns poucos usos) (FILOMENO, 2005; NUNES, 2005). O simples fato de o 
produto não se extinguir numa única utilização não lhe retira o status de não durável 
“o que caracteriza essa qualificação é sua maneira de extinção ‘enquanto’ é 
utilizado” (NUNES, 2005, p. 106). 
Surge a dúvida de onde classificar os produtos descartáveis, que têm 
essência de duráveis, mas vida útil de não-duráveis. LUIZ ANTONIO RIZZATTO 
NUNES (2005) defende que, não havendo tratamento legislativo específico, e como 
o produto não-durável tem características diversas, o descartável deve receber o 
tratamento dispensado ao durável. 
Uma outra classificação se mostra relevante para fins de se determinar a 
incidência ou não da legislação consumerista: bem de insumo, e bem de custeio. 
Bem de insumo, ou de produção, é aquele utilizado para fins de transformação e 
posterior transmissão; enquanto bem de custeio, ou de consumo, é a coisa adquirida 
para desenvolvimento da própria atividade, como instrumento hábil para a 
consecução dos fins objetivados, sem qualquer transferência para a clientela. 
ROBERTO SENISE LISBOA (2006) entende não ser razoável a exclusão 
pura e simples do bem de insumo da proteção do CDC, uma vez que a lei não faz 
qualquerressalva; a limitação deve ser feita somente com base na finalidade 
(motivo) da aquisição do produto (consumo como destinatário final), de modo que o 
bem transformado para uso posterior próprio não retira do adquirente ou utente a 
 
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17 
 
situação jurídica de consumidor. No mesmo sentido, LUIZ ANTONIO RIZZATTO 
NUNES (2005) defende que o CDC é aplicado nos casos em que os produtos e 
serviços são oferecidos no mercado de consumo para a aquisição por qualquer 
pessoa como destinatária final, independente do uso que o adquirente faça, para a 
produção ou não de outros produtos ou serviços. 
Outra classificação extremamente útil nos é trazida por ROBERTO SENISE 
LISBOA (1999) quanto à substituição das peças: entre produto compósito e produto 
essencial (não compósito). Produto compósito é aquele resultante do 
justaposicionamento de peças e componentes que podem ser substituídos sem que 
se proporcione a sua inadequação, enquanto produto essencial é aquele que não 
pode ter qualquer de seus componentes retirados ou substituídos, sob pena de 
comprometer a sua substância, de modo que seus elementos são insuscetíveis de 
dissociação. Este não pode ser reparado no caso de existência de vício intrínseco, 
cabendo ao consumidor, neste caso, a adoção das outras soluções propugnadas 
pelo legislador (redibição, estimação ou troca), enquanto o produto compósito, 
apresentando vício em alguma peça, ao fornecedor será aberto o prazo legal para 
realizar os reparos necessários. 
Por fim, é relevante ressaltar que o produto (assim como o serviço) gratuito, 
“amostra grátis”, também está regulado pelo CDC (art. 39, parágrafo único), estando 
sujeito a todas as suas regras. 
Serviço “é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante 
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, 
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista” (CDC, 3º, § 2º). 
ROBERTO SENISE LISBOA (1999) ressalta que a lei somente excepciona 
os serviços prestados em relações trabalhistas, e nenhum outro mais. Assim, haverá 
relação de consumo sempre que preenchidos os requisitos legais, pouco importando 
que o serviço, como atividade remunerada, seja de natureza civil, comercial ou 
administrativa. 
Por outro lado, estariam excluídos da aplicação do CDC, segundo JOSÉ 
GERALDO BRITO FILOMENO (2005), as relações locatícias de imóveis, mesmo 
quando firmada entre pessoas jurídicas; justifica-se tal posição na existência de 
legislação própria (Lei nº 8245/91), que contém ainda dispositivo contra prática 
 
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18 
 
abusiva (denúncia vazia na vigência de contrato por prazo determinado, art. 4º). Tal 
posição se coaduna, outrossim, com o posicionamento reiterado do STJ (p. ex.: 
REsp nº 689266, e 575020; AgRg no Ag nº 363679, e 636897), que tem, porém, 
aplicado CDC em relação à administradora de imóveis (REsp nº 614981). 
Outrossim, a utilização da expressão “ mediante remuneração” , ao invés de 
“oneroso”, significaria abranger também os serviços remunerados de forma indireta – 
a lei se refere à remuneração do serviço e não à sua gratuidade. (MARQUES, 2004; 
NUNES, 2005; MARINS, 2005) 
Assim, os contratos unilaterais de prestação de serviços e os contratos 
gratuitos puros não são regidos pelo CDC, mesmo que prestados por sujeito que 
normalmente atua como fornecedor no mercado de consumo, pois não haverá a 
necessária onerosidade da relação obrigacional (LISBOA, 1999). 
Classificam-se os serviços em “duráveis” e “não duráveis”; estes são os que 
se esgotam uma vez prestados; aqueles são os que têm continuidade no tempo em 
decorrência de estipulação contratual, e os que deixam como resultado um produto. 
(NUNES, 2005). 
 
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19 
 
UNIDADE 3 – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES DE 
CONSUMO 
 
Dada a importância do tema e necessidade de sermos concisos e claros, 
utilizamos excerto de trabalho bibliográfico desenvolvido por NADIALICE 
FRANCISCHINI DE SOUZA (2009), o qual estuda justamente os princípios que 
norteiam as relações de consumo. 
A relação de consumo é o vínculo jurídico entre o consumidor e o 
fornecedor, regulada pela Lei nº 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor – que 
dispõe sobre a proteção do consumidor. Essa relação jurídica é norteada por 
princípios que refletem os valores tutelados e protegidos. 
Afirma RICARDO MAURÍCIO FREIRE SOARES (2007, p. 84) que “não há 
mais como pensar numa hermenêutica jurídico-constitucional sem referir-se aos 
princípios, como referência valorativa para a interpretação finalista do direito”. Ou 
seja, para a correta aplicação prática do direito é necessária a observância dos 
princípios que regem o sistema jurídico. 
Neste condão o CDC, em seu artigo 4º, caput, determinou que a Política 
Nacional de Consumo deve atender aos princípios ali elencados. Eles são o 
princípio da vulnerabilidade; o princípio da intervenção estatal; o princípio da 
harmonização das relações de consumo; o princípio da boa-fé; o princípio da 
informação e transparência e o princípio da educação. 
O rol de princípios trazidos pelo CDC é ampliado por alguns autores, como 
ROBERTO SENISE LISBOA (2006), que acrescenta, a proteção dos direitos 
extrapatrimoniais e patrimoniais, o acesso à justiça, a facilitação da defesa do 
consumidor, a defesa individual e coletiva dos direitos, a reparabilidade integral do 
dano e a aplicação subsidiária das normas de direito comum. 
Outros autores, a exemplo de PAULO BRASIL DILL SOARES (2001), 
restringem o rol, afirmando que o CDC somente consagrou três princípios: a 
vulnerabilidade, a boa-fé e a harmonia das relações de consumo. Por sua vez, JOSÉ 
GERALDO BRITO FILOMENO (2001) entende que os princípios que regem as 
relações de consumo são dois: a vulnerabilidade do consumidor como participante 
das relações de consumo, em face dos produtores de bens e serviços; e o fato de 
 
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20 
 
ser ele, consumidor, o destinatário final de tudo aquilo que é produzido no mercado 
de consumo. 
 
Princípio da Intervenção Estatal ou da Obrigação Governamental 
O princípio da intervenção estatal ou obrigação governamental está previsto 
nos artigos 5º, XXXII e 170, ambos da CF/88, que determina que o Estado tem o 
dever de promover a defesa do consumidor, e no artigo 4º, II, CDC. 
Com base neste princípio, o Estado tem obrigação de atuar nas relações de 
consumo com a finalidade de proteger a parte mais fraca, a saber, o consumidor, por 
meios legislativos e administrativos, e para garantiro respeito aos interesses deste 
(MORAES, 2009). 
Neste sentido, também cabe observar o entendimento de HUGO 
LEONARDO PENNA BARBOSA (2009, p. 6), para quem a participação do Estado é 
imprescindível para que haja o equilíbrio de condições entre o fornecedor e o 
consumidor. Para tanto, deve atuar em dois “momentos distintos, inicialmente na 
elaboração de normas que atendam ao interesse da coletividade e, a posteriori na 
entrega da efetiva prestação jurisdicional”. 
A obrigação governamental não se trata de intervenção do Estado de forma 
pura e simples no sentido de inviabilizar a relação entre as partes, mas sim, de 
operar condições motivadoras do respeito e consideração contratual, tornando 
equivalentes as posições das partes envolvidas no negócio. Na busca da efetivação 
dos direitos dos consumidores, o Estado deve atuar de forma direta, inclusive 
mediante o uso do seu poder de polícia (MORAES, 2009, p. 46), ou indireta, através 
de políticas governamentais, de incentivo às associações de consumidores, etc. 
A necessidade de intervenção estatal para a efetivação da proteção dos 
consumidores é de tal importância para a efetivação dos direitos dos consumidores 
que também encontra previsão nos ordenamentos estrangeiros. Como exemplo, 
têm-se a Carta do Conselho da Europa sobre a Proteção do Consumidor, que possui 
tal disposição no artigo A, (ii) e (iii), que determina que incumbe ao Estado assegurar 
aos consumidores uma completa proteção jurídica e uma assistência ativa; ainda em 
âmbito da Comunidade Europeia, a Diretiva 93/13/CEE, que trata sobre as cláusulas 
abusivas nos contratos celebrados por consumidores, previu no artigo 7º, que os 
 
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Estados-membros deveram providenciar meios adequados e eficazes para por 
termo à utilização de cláusulas abusivas (SOUZA, 2009). 
A legislação portuguesa, no artigo 1º da Lei nº 24/96, também traz entre 
seus princípios gerais a necessidade de o Estado proteger os consumidores, 
determinando que ao Estado, às Regiões Autônomas e às autarquias locais devem 
proteger o consumidor; bem como o artigo 6º da Lei Espanhola nº 26/84, que dispõe 
que os poderes públicos, diretamente ou em colaboração com as organizações de 
consumidores, deveram atuar no controle de qualidade dos produtos e serviços. 
Verifica-se que o Estado tem obrigação de, mediante ação direta ou indireta, 
proteger os interesses dos consumidores, bem como garantir a efetividade dos 
direitos desses. A necessidade da intervenção governamental se dá em virtude de o 
consumidor ser, reconhecidamente, a parte mais fraca da relação jurídica de 
consumo. 
 
Princípio da Harmonia das Relações de Consumo ou Princípio do Equilíbrio 
Econômico e Jurídico 
O princípio da harmonia das relações de consumo (ou princípio do equilíbrio 
econômico e jurídico1) encontra-se previsto no CDC no artigo 4º, caput e inciso III. 
Ele é informativo da relação de consumo que possui por fundamento a justiça 
distributiva (LISBOA, 2006) e tem por objetivo equilibrar os interesses envolvidos 
nesta relação jurídica. 
Busca-se o atendimento das necessidades dos consumidores e o 
cumprimento do objeto principal que justifica a existência do fornecedor, qual seja, 
fornecer bens e serviços de forma a atender o mercado (MORAES, 2009). Na 
satisfação de suas necessidades, acaba por se submeter aos sortilégios dos 
fornecedores de produtos e serviços, gerando um desequilíbrio na relação jurídica. 
Essa situação de desequilíbrio é prejudicial para o convívio dos atores sociais, 
motivo pelo qual, a busca da harmonia visa assegurar a igualdade no seio do 
mercado de consumo (SOARES, 2001). 
 
1 Denominação dada por alguns autores como Roberto Senise Lisboa e Paulo Brasil Dill Soares, mas 
em virtude da denominação Princípio da Harmonia das Relações de Consumo ser a elegida pelo 
Código de Defesa do Consumidor no artigo 4º, caput e inc. III, do Código de Defesa do Consumidor é 
esta que usaremos. 
 
 
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Almeja-se acabar com a separação perniciosa que colocava o consumidor 
de um lado e o fornecedor de outro, como se fossem litigantes sociais e estivessem 
eternamente em situações antagônicas. Isso porque os objetivos maiores do 
princípio da harmonia das relações de consumo são a paz e o desenvolvimento sem 
traumas (BONATTO; SOARES, 2009, p. 53). 
ROBERTO SENISE LISBOA (2006, p. 108) sintetiza que a relação de 
consumo deve ser harmônica e justa, a fim de que o vínculo entre o fornecedor e o 
consumidor seja constituído de maneira tal que se estabeleça o equilíbrio econômico 
da equação financeira e das obrigações jurídicas pactuadas ou contraídas pelos 
interessados. 
Nas relações de consumo, o tratamento dado ao consumidor e ao 
fornecedor deve ser efetuado de forma a possibilitar a harmonização dos interesses, 
com o fim de possibilitar o desenvolvimento econômico e social, bem como a 
pacificação entre as partes (SOUZA, 2009). 
 
Princípio da Boa-Fé Objetiva 
O princípio da boa-fé é um fator de limitação da autonomia da vontade na 
fase pré-contratual e pós-contratual e mesmo durante a execução do contrato 
(TIMM; DRESCH, 2004). Isso porque, conforme Reale (2009), ele é uma norma que 
condiciona e legitima toda a experiência jurídica, desde a interpretação dos 
mandamentos legais e das cláusulas contratuais até as suas últimas consequências; 
e para Morato (2008), na busca de coibir abusos e de contribuir para um 
comportamento adequado e ético nas relações jurídicas. 
Ele é um conceito jurídico indeterminado, referindo-se ao tipo de 
comportamento exigido aos que são integrantes de uma relação jurídica (SOARES, 
2001). 
É uma norma proteifórmica, vez que não se pode, efetivamente, tabular ou 
arrolar o significado da valoração a ser procedida, dependendo sempre das 
concretas circunstâncias do caso (MARTINS-COSTA, 2000, p. 412). 
Segundo NADIALICE FRANCISCHINI DE SOUZA (2009), esse princípio 
deve ser estudado sob dois enfoque: a boa-fé objetiva e a boa-fé subjetiva. 
 
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23 
 
No tocante à boa-fé objetiva, também denominada concepção ética da boa-
fé, traduz-se num dever ser, impondo aos partícipes da relação jurídica o dever de 
agir com correção, segundo os padrões de comportamento do homem médio, 
estabelecidos e reconhecidos no meio social (CORRÊA; CORRÊA, 2007). Essa 
acepção configura um dever jurídico, que obriga a prática de certa conduta em vez 
de outra, não se limitando a operar como uma justificativa para um determinado 
comportamento (PIMENTEL; PIMENTAL, 2003, p. 28). 
JUDITH MARTINS-COSTA (2000, p. 412) afirma que é 
 
uma regra de conduta fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e, 
principalmente, na consideração para com os interesses do ‘alter’, visto 
como um membro do conjunto social que é juridicamente tutelado. 
 
Neste sentido também RICARDOMAURÍCIO FREIRE SOARES (2001) ressalta que 
expressa um modelo de conduta social ou standard jurídico, segundo o qual cada 
pessoa deve ajustar a própria conduta ao arquétipo normativo, atuando com 
honestidade, lealdade e probidade. 
Por sua vez, a boa-fé subjetiva, conhecida também por concepção 
psicológica da boa-fé, traduz-se na crença, daquele que manifesta a sua vontade, de 
que sua atitude é correta (CORRÊA; CORRÊA, 2007). É nitidamente um estado 
psicológico, não se atendo ao comportamento externo do agente (PIMENTEL; 
PIMENTEL, 2003). Ela denota um estado de consciência de atuar em conformidade 
ao direito (SOARES, 2001), ou uma ideia de ignorância, de crença errônea, ainda 
que excusável, acerca da existência de uma situação regular (MARTINS-COSTA, 
2000). 
O CDC, no art. 4º, III, in fine, prevê que a boa-fé objetiva integrar seu 
sistema de princípios. Também o Código Civil Brasileiro, nos artigos 113 e 422, e o 
Código de Defesa do Consumidor, no artigo 51, VI, dispõe sobre tal instituto. 
JUDITH MARTINS-COSTA (2000) afirma que as funções da boa-fé objetiva 
são três. A primeira função é a hermenêutico-integrativo que atua como um kanon 
hábil ao preenchimento de lacunas nas relações contratuais. A segunda função é a 
criadora de deveres jurídicos e tem correlação com os deveres secundários ou 
laterais decorrentes da confiança e lealdade que as partes têm que agir. E a terceira 
 
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eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e 
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 
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função é a limitadora ao exercício de direitos subjetivos e, também, veda a prática 
de condutas que contrariem o mandamento de agir com lealdade e correção. 
ADEMIR PAULO PIMENTEL e FERNANDA PONTES PIMENTEL (2003, p. 
29) sustentam que as três funções inerentes ao princípio da boa-fé são: 
a) função interpretativa – visa determinar o sentido das cláusulas 
contratuais, averiguando se o seu teor, conteúdo, encontra-se em conformidade com 
os valores vigentes; 
b) função controladora – serve de elemento balizador, controlador do 
comportamento humano, limitando o exercício dos direitos e buscando impedir que o 
titular do direito subjetivo exerça-o de forma abusiva; 
c) função integrativa ou integradora – sendo um dos elementos de 
integração do direito, o princípio geral da boa-fé objetiva também pode integrar à 
medida que pode adequar e verificar as lacunas da lei ou do contrato diante do 
contexto que reuniu sua celebração. 
A legislação estrangeira também prevê a boa-fé como princípio geral que 
deve ser observado pelas partes, principalmente nas relações de consumo, como se 
observa no Código Civil Português, artigos 227, 239 e 768, 2, que determinam que 
as partes devem, nas relações contratuais, desde a formação preliminar até o seu 
exaurimento, agir de forma a buscar a harmonia nas relações, de acordo com os 
ditames da boa-fé; na Lei Portuguesa 24/96 – Lei de Defesa do Consumidor, artigo 
9º, 1, dispõe que o consumidor tem direito a proteção dos seus interesses, devendo 
ser levado em consideração a igualdade, a lealdade e a boa-fé; a Lei de Defesa dos 
Consumidores Espanhola, nº 26/1984, no artigo 10, 1, c, também prevê que a boa-fé 
e o equilíbrio entre os direitos e as obrigações das partes devem ser observadas 
para excluir as cláusulas abusivas (SOUZA, 2009). 
Como já salientado, o princípio da boa-fé visa assegurar que as partes nas 
relações contratuais se tratem com lealdade e com ética, coibindo comportamentos 
abusivos. 
 
Princípios da Transparência e da Informação 
Os princípios da transparência e da informação estão intimamente ligados, 
isso porque, transparência é clareza qualitativa e quantitativa da informação que 
 
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incumbe às partes conceder reciprocamente, na relação jurídica. O consumidor não 
pode ter informação se não houver transparência no conteúdo da relação jurídica 
(LISBOA, 2006). 
Pelo princípio da transparência o fornecedor tem o dever de prestar 
informações claras e corretas sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser 
firmado, refletindo na lealdade e respeito entre as partes da relação de consumo. A 
ideia central é possibilitar uma aproximação e uma relação contratual mais sincera e 
menos danosa entre consumidores e fornecedor (MARQUES, 2004b). 
No direito brasileiro, ele está previsto no artigo 4º, caput, CDC, que dispõem 
que a transparência é objetivo da Política Nacional das Relações de Consumo. Na 
legislação estrangeira, observa-se previsão da transparência no artigo 1, 2, e, da Lei 
Italiana nº 281 de 1998, que disciplina dei diritti dei consumatori e degli utenti, que 
determina que os consumidores têm o direito a ter a certeza e transparência na 
contratação de aquisição de bens e serviços (SOUZA, 2009). 
No Brasil, diferentemente, o fornecedor está obrigado a agir com 
transparência não só na formação dos contratos, como também na publicidade que 
fizer, devendo ser claro sobre as características e qualidade do produto ofertado, 
inclusive quanto às condições do contrato. Desta forma, o legislador pretendeu evitar 
qualquer tipo de lesão ao consumidor, pois sem ter conhecimento do conteúdo do 
contrato, das obrigações que estará assumindo, poderia vincular-se a obrigações 
que não pode suportar ou que simplesmente não deseja. Assim, também adquirindo 
um produto sem ter informações claras e precisas sobre suas qualidades e 
características pode adquirir um produto que não é adequado ao que pretende ou 
que não possui as qualidades que o fornecedor afirma ter, ensejando mais 
facilmente o desfazimento do vínculo contratual (MARQUES, 2004b). 
Por sua vez, o princípio da informação está previsto no artigo 4º, IV e 6º, III, 
do CDC, que dispõem que devem ser proporcionados ao consumidor informações 
claras e precisas sobre seus deveres, direitos e do bem ou serviço adquirido. Tal 
previsão também encontra respaldo em ordenamentos jurídicos estrangeiros, como 
por exemplo, o artigo 5º, Diretiva 93/13/CEE, que determina que as cláusulas devem 
ser redigidas de forma clara e compreensível, devendo em caso de dúvida ser 
interpretadas de forma mais favorável ao consumidor; o artigo A, b), (vi) e o artigo C 
 
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da Carta do Conselho da Europa sobre a Protecção do Consumidor, ambos da 
Comunidade Europeia, dispõe que as informações dos rótulos dos produtos, bem 
como nos anúncios publicitários devem ser exatos e suficientes sobre todos os seus 
aspectos, inclusive sobre a segurança, o fornecedor e dados do produto ou serviço; 
os artigos 7º e 8º da Lei Portuguesa 24/96, determina que os consumidores devem 
ter acesso a informação sobre os direitos dos consumidores, bem como sobre os 
produtos e serviços comercializados; o artigo 1, 2, c) da Lei Italiana nº 281/1998, 
afirma que o consumidor tem direito a adequada informação e a correta publicidade. 
A determinação de que os poderes públicos devem promover e fiscalizar o 
acesso a informação pelosconsumidores, que deve ser objetiva, certa, veraz, eficaz 
e suficiente sobre as características essenciais dos produtos e serviços também está 
previsto no artigo 6º, C), da Lei Uruguaia 17.250, no artigo 4º da Lei Argentina 
24.240, e no artigo 51, 2, da Constituição Espanhola, bem como no artigo 13 da Lei 
Espanhola 26/1984. 
O princípio da informação pressupõe, necessariamente, a comunicação 
prévia do fornecedor ao consumidor para que lhe sejam proporcionadas condições 
para julgar se o caso é de proceder à aquisição ou a utilização do produto ou 
serviço, sob pena de frustração dos seus interesses (LISBOA, 2006). Desta forma, 
ele é oponível a todos aqueles que fornecem produtos e serviços no mercado de 
consumo (LOBO, 2001), bem como desobriga o consumidor de arcar com os 
obrigações, bem como obedecer cláusulas contratuais às quais não foi informado ou 
não teve acesso. 
Enfim, pelos princípios da transparência e da informação, o fornecedor tem a 
obrigação de prestar as informações sobre os produtos ou serviços de forma clara, 
precisa e adequada, desde o momento da oferta até a execução do contrato 
(SOUZA, 2009). 
 
Princípio da educação 
A educação está prevista como sendo um princípio no artigo 4º, IV, do CDC, 
bem como nos artigos 6º, caput, da CF, e 6º, II, do CDC que a trata como um direito, 
um mecanismo básico na busca de melhoria no mercado de consumo. A educação é 
um comportamento fim que deve ser perquirido pela legislação protetiva do 
 
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consumidor, pela sociedade e pelo Poder Público. É um fim a ser alcançado 
(SOUZA, 2009). 
O princípio da educação como comportamento básico para a efetivação dos 
direitos do consumidor encontra respaldo na legislação estrangeira. Neste sentido a 
Resolução 39/248 da ONU, nos artigos 3, (d), e 31 a 33, determina que o 
consumidor tem direito à educação a ser promovido por ações governamentais; 
neste sentido também a Carta do Conselho da Europa sobre a Protecção do 
Consumidor Artigo D; o artigo 6º da Lei Portuguesa 24/96; o artigo 51, 2. da 
Constituição Espanhola; o artigo 18 da Lei Espanhola 26/1984; o artigo 6º, B) da Lei 
Uruguaia 17.250; e o artigo 1, 2, d) da Lei Italiana nº 281. 
Para Gomes (2006), a educação possui papel fundamental na formulação da 
mentalidade do consumidor, sendo considerado o elemento chave. Isso porque, 
conforme Furriela (2009), o consumidor educado tem uma postura consciente diante 
do ato de consumidor. Ela é importante para a formação de um consumidor-cidadão, 
que mesmo sendo a parte mais vulnerável na relação de consumo, educado, tem o 
poder de escolha sobre os produtos e serviços colocados à sua disposição no 
mercado (GOMES, 2006). 
Promover a educação do consumidor é obrigação do poder público e de toda 
a sociedade, com a finalidade de minimizar a desigualdade existente entre as partes 
nas relações de consumo. 
 
Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor 
O princípio da vulnerabilidade é o basilar das relações de consumo, isso 
porque é ele quem assegura que o consumidor, parte mais fraca, terá garantido a 
proteção face o poderio do fornecedor. Com ele, busca-se igualar uma relação que 
é, por natureza, desigual. 
HELOISA CARPENA (2005) afirma que apesar de ela não ser elemento da 
relação de consumo, não há como se analisar uma sem a observância da outra, isto 
porque, a “ideia de vulnerabilidade, que é o cerne do conceito de consumidor, e 
princípio que orienta seguramente a interpretação da expressão destinatário final”. 
 
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Esse entendimento decorre do fato de que o consumidor é a parte frágil na 
relação jurídica com o fornecedor, pois se sujeita às práticas do fornecimento de 
produtos e serviços no mercado de consumo. 
Desta forma, inexistindo vulnerabilidade não haveria relação de consumo e 
vice-versa, daí porque o legislador reconheceu a necessidade de existir uma 
presunção de caráter absoluto acerca da vulnerabilidade do consumidor no mercado 
de consumo (MORATO, 2008). Isso porque, ela é própria da relação de consumo, 
em virtude do consumidor não o entender, bem como em decorrência do 
desconhecimento que tem do próprio produto ou serviço que adquire. Ela é, como 
ressalta CLÁUDIA LIMA MARQUES (2006), um estado da pessoa, um estado 
inerente de risco ou um sinal de confrontação excessiva de interesses identificado 
no mercado, é uma situação permanente ou provisória, individual ou coletiva, que 
fragiliza, enfraquece o sujeito de direito, desequilibrando a relação. Este princípio 
encontra previsão legal no artigo 4º, I, do Código de Defesa do Consumidor que 
dispõe que a Política Nacional das Relações de Consumo tem que atender, na 
busca dos seus objetivos, o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no 
mercado de consumo, como presunção legal iure et de iure. 
Todo consumidor é vulnerável, porque está sujeito ao poder de controle dos 
meios e dados da produção dos fornecedores. Não se submete ao critério da 
razoabilidade para ser identificada no caso concreto, pois o legislador fixou que o 
destinatário final de produtos e serviços é a parte que necessita ser amparada de 
forma mais favorável pela legislação (LISBOA, 2006). 
Na legislação estrangeira também há previsão do princípio da 
vulnerabilidade, como observa na Lei Portuguesa 24/96, artigo 9º, 1, ao reconhecer 
que o consumidor é o ente mais fraco na relação de consumo, necessitando fazer 
incidir as regras da igualdade material. 
 
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UNIDADE 4 – EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
4.1 Preocupação com a defesa do consumidor – CDC 
JOÃO BATISTA DE ALMEIDA (2010) demonstra com propriedade que o 
consumo é parte indissociável do cotidiano do ser humano. 
É verdadeira a afirmação de que todos somos consumidores. 
Independentemente da classe social e da faixa de renda, consumimos desde o 
nascimento e em todos os períodos de nossa existência. Por motivos variados, que 
vão desde a necessidade da sobrevivência até o consumo por simples desejo, o 
consumo pelo consumo. 
As relações de consumo são bilaterais, pressupondo numa ponta o 
fornecedor – que pode tomar a forma de fabricante, produtor, importador, 
comerciante e prestador de serviço –, aquele que se dispõe a fornecer bens e 
serviços a terceiros, e, na outra ponta, o consumidor, aquele subordinado às 
condições e interesses impostos pelo titular dos bens ou serviços no atendimento de 
suas necessidades de consumo. 
Além disso, as relações de consumo são dinâmicas, posto que, 
contingenciadas pela própria existência humana, nascem, crescem e evoluem, 
representando, com precisão, o momento histórico em que estão situadas. 
Caracterizam relação de consumo, por exemplo, os contratos bancários, 
financeiros, seguro, cartão de crédito, leasing ou arrendamento mercantil, fornecedor 
de serviços em geral, inclusive os públicos, compra e venda e a respectivapromessa, seguro saúde, plano de saúde, hospedagem, depósito, estacionamento, 
turismo, transporte, viagem, poupança, programa de milhagem, previdência privada, 
administração de imóveis e locação de automóveis (ALMEIDA, 2010). 
É fato inegável que as relações de consumo evoluíram enormemente nos 
últimos tempos. Das operações de simples troca de mercadorias e das incipientes 
operações mercantis chegou-se, progressivamente, às sofisticadas operações de 
compra e venda, arrendamento, leasing, importação etc., envolvendo grandes 
volumes e milhões de dólares. De há muito, as relações de consumo deixaram de 
ser pessoais e diretas, transformando-se, principalmente nos grandes centros 
urbanos, em operações impessoais e indiretas, em que não se dá importância ao 
 
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fato de não se ver ou conhecer o fornecedor. Surgiram os grandes estabelecimentos 
comerciais e industriais, os hipermercados e os shopping centers. 
Com a mecanização da agricultura a população rural migrou para a periferia 
das grandes cidades, causando o inchaço populacional, a conturbação e a 
deterioração dos serviços públicos essenciais. Os bens de consumo passaram a ser 
produzidos em série, para um número cada vez maior de consumidores. Os serviços 
se ampliaram largamente. O comércio experimentou extraordinário desenvolvimento, 
ampliando a utilização da publicidade como meio de divulgação dos produtos e 
atração de novos consumidores e usuários. A produção e o consumo em massa 
geraram a sociedade de massa, sofisticada e complexa. 
Como era de esperar, essa modificação das relações de consumo culminou 
por influir na tomada de consciência de que o consumidor estava desprotegido e 
necessitava, portanto, de resposta legal protetiva (ALMEIDA, 2010). 
Era natural que a evolução das relações de consumo acabasse por refletir 
nas relações sociais, econômicas e jurídicas. Pode-se mesmo afirmar que a 
proteção do consumidor é consequência direta das modificações havidas nos 
últimos tempos nas relações de consumo, representando reação ao avanço rápido 
do fenômeno que deixou o consumidor desprotegido diante das novas situações 
decorrentes do desenvolvimento. 
Estudando o tema, CAMARGO FERRAZ, ÉDIS MILARÉ e NELSON NERY 
JUNIOR (1984, p. 54) concordam com a afirmação supra de que a tutela dos 
interesses difusos em geral e do consumidor em particular derivam das modificações 
das relações de consumo e evidenciam que o surgimento dos grandes 
conglomerados urbanos, das metrópoles, a explosão demográfica, a revolução 
industrial, o desmesurado desenvolvimento das relações econômicas, com a 
produção e consumo de massa, o nascimento dos cartéis, holdings, multinacionais e 
das atividades monopolísticas, a hipertrofia da intervenção do Estado na esfera 
social e econômica, o aparecimento dos meios de comunicação de massa, e, com 
eles, o fenômeno da propaganda maciça, entre outras coisas, por terem escapado 
do controle do homem, muitas vezes voltaram-se contra ele próprio, repercutindo de 
forma negativa sobre a qualidade de vida e atingindo inevitavelmente os interesses 
difusos. Todos esses fenômenos, que se precipitaram num espaço de tempo 
 
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relativamente pequeno, trouxeram a lume a própria realidade dos interesses 
coletivos, até então existentes de forma latente, despercebidos. 
A seu turno, MAURO CAPPELLETTI (1977) identificou os chamados 
interesses difusos e coletivos, que, sem serem públicos ou privados, no sentido 
tradicional da palavra, demandavam uma nova definição da legitimação ativa para a 
sua defesa. Além do que, ao reconhecer que um interesse pode pertencer muito 
mais à coletividade ou a um grupo social do que a um de seus membros 
individualmente, caracterizou-se sensível avanço no entendimento do termo 
“interesse”, com isso beneficiando, em termos de tutela, ao consumidor difusa e 
coletivamente considerado. 
OTHON SIDOU (1977, p. 5) ressalta que o que deu dimensão enormíssima 
ao imperativo cogente de proteção ao consumidor, a ponto de impor-se como tema 
de segurança do Estado no mundo moderno, em razão dos atritos sociais que o 
problema pode gerar e ao Estado incumbe delir, foi o extraordinário desenvolvimento 
do comércio e a consequente ampliação da publicidade, do que igualmente resultou, 
isto sim, o fenômeno conhecido dos economistas do passado – a sociedade do 
consumo, ou o desfrute pelo simples desfrute, a aplicação da riqueza por mera 
sugestão consciente ou inconsciente. 
Importante salientar, a seu turno, que o consenso internacional em relação à 
vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo representou fator importante 
para o surgimento da tutela em cada país. O reconhecimento de que o consumidor 
estava desprotegido em termos educacionais, informativos, materiais e legislativo 
determinou maior atenção para o problema e o aparecimento de legislação protetiva 
em vários países (ALMEIDA, 2010). 
Podemos afirmar que as profundas modificações das relações de consumo, 
a identificação dos interesses difusos e coletivos e a nova postura em relação à 
legitimação ativa e o reconhecimento da hipossuficiência do consumidor 
conduziram, no conjunto, ao surgimento da tutela respectiva. 
A verdade é que a proteção jurídica do consumidor não é tema que diga 
respeito a um único país; ao contrário, é tema supranacional, pois abrange todos os 
países, desenvolvidos ou em via de desenvolvimento. A relevância do tema, as 
repercussões sentidas nos segmentos sociais dos vários países, a sensibilidade 
 
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para os problemas sociais e os direitos humanos, em suma, todas essas 
modificações nas relações de consumo acabaram levando a Organização das 
Nações Unidas (ONU) a se preocupar com a defesa do consumidor, atitude, aliás, 
esperada do organismo internacional, caixa de ressonância dos grandes temas que 
envolvem a melhoria da qualidade de vida dos povos (ALMEIDA, 2010). 
Anteriormente, em 1969, ao aprovar-se a Resolução nº 2.542/69, foram 
dados os primeiros passos nesse sentido, ao ser proclamada a Declaração das 
Nações Unidas sobre o progresso e desenvolvimento social. Depois, em 1973, a 
Comissão de Direitos Humanos da ONU, dando outro passo significativo, enunciou e 
reconheceu os direitos fundamentais e universais do consumidor. 
Mas o avanço mais importante veio em 1985. Pela Resolução nº 39/248/85, , 
a ONU baixou normas sobre proteção do consumidor, tomando clara posição e 
cuidando detalhadamente do tema. Ao fazê-lo, reconheceu expressamente “que os 
consumidores se deparam com desequilíbrios em termos econômicos, níveis 
educacionais e poder aquisitivo”. 
Tais normas, segundo as Nações Unidas, teriam os seguintes objetivos: 
a) auxiliar países a atingir ou manter uma proteção adequada para a sua 
população consumidora; 
b) oferecer padrões de consumo e distribuição que preencham as 
necessidades

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