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Saúde Pública x Saúde Coletiva Por: Patrícia Dias – Mestranda em Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ https://cadernodefarmacia.blogspot.com/ Instagram: @cadernodefarmacia A expressão "Saúde Pública" pode dar margem a muitas discussões quanto a sua definição, campo de aplicação e eventual correspondência com noções veiculadas, muitas vezes, de modo equivalente, tais como "Saúde Coletiva", "Medicina Social/Preventiva/Comunitária", "Higienismo", Sanitarismo". SAÚDE PÚBLICA Em geral, a "Saúde Pública" costuma se referir a formas de agenciamento político/governamental (programas, serviços, instituições) no sentido de dirigir intervenções voltadas às denominadas "necessidades sociais de saúde". A saúde pública é um campo que deriva do saber médico, tendo seu surgimento em meados do século XVIII em decorrência de necessidades oriundas do capitalismo, aonde não mais se podia descartar a importância das condições de vida do sujeito de suas condições de saúde, visando atender e atentar-se as questões de salubridade dos trabalhadores, onde a saúde do indivíduo dependia das condições socioambientais que ele estava inserido, num conceito naturalista e epidemiológico, no qual o saber era cientificista e de exclusividade das ciências da saúde o que proporcionou a medicalização e o mercantilismo das atividades e práticas em saúde. No entanto, ainda que no campo da Saúde Pública, haja um olhar atento as questões sociais dos sujeitos, esse olhar não é descolado do saber médico, caminhando nesse sentido, para a medicalização de patologias que nada mais são que sofrimentos em decorrência do social que cerca o sujeito. A Saúde Pública é ferramenta do Estado para manutenção da saúde de uma forma naturalista, quase sempre por meio de medicalização e controle dos corpos. Na perspectiva assumida pela ABRASCO, fazem-se as seguintes distinções: A Saúde Pública toma como objeto de trabalho os problemas de saúde, definidos em termos de mortes, doenças, agravos e riscos em suas ocorrências no nível da coletividade. Nesse sentido, o conceito de saúde que lhe é próprio é o da ausência de doenças. O agente da Saúde Pública é o trabalhador que desempenha as atividades das vigilâncias tradicionais (Epidemiológica e Sanitária): ▪ Aplica os modelos de transmissão de doenças (controle de riscos); ▪ Realiza ações de educação sanitária; ▪ Fiscaliza a produção e a distribuição de bens e serviços definidos como de interesse da saúde na perspectiva reducionista do risco sanitário, definido pela clínica biomédica. ▪ Assume as tarefas do planejamento normativo; ▪ Define objetivos e metas sem considerar outros pontos de vista que o do Estado e sem ter em conta a distribuição do poder na sociedade, e da administração sanitária, orientada pelas tentativas de controle burocrático dos trabalhadores subalternos. Saúde Pública x Saúde Coletiva Por: Patrícia Dias – Mestranda em Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ https://cadernodefarmacia.blogspot.com/ Instagram: @cadernodefarmacia O médico sanitarista Oswaldo Cruz foi um dos responsáveis por difundir práticas higienistas pelo Brasil. Famoso pela Revolta da Vacina (também conhecida como Quebra-Lampiões), movimento ocorrido no Rio de Janeiro em novembro de 1904, como um grande protesto contra a obrigatoriedade então decretada da vacinação contra a varíola, o médico foi um pioneiro no estudo de doenças tropicais e da medicina experimental brasileira. Como instrumentos ou meios de trabalho, a Saúde Pública mobiliza a epidemiologia tradicional, o planejamento normativo e a administração de inspiração taylorista, em abordagens caudatárias da clínica e, portanto, da concepção biologista da saúde. De fato, são as ações isoladas da Vigilância Epidemiológica e da Vigilância Sanitária ou o desenvolvimento de programas especiais, desarticulados das demais ações, como a Saúde Materno-Infantil ou o Programa Nacional de Imunização que configuram os meios de trabalho característicos da Saúde Pública. A área sanitária abrange não só a questão da saúde humana, das populações, dos indivíduos, mas também a questão ambiental, que extrapola os indivíduos. Após a inserção da saúde como direito social na Constituição de 1988, compete aos legisladores a criação e aprovação de leis que implementem as políticas públicas para esse setor. O Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, é regulamentado pelas leis 8080/1990 e 8142/1990. Além disso, a aprovação do orçamento da saúde e a fiscalização dos atos do governo também são deveres dos parlamentares. É inegável a contribuição da Saúde Pública no bem-estar social, no entanto, também é evidente que ela vem falhando em prover saúde de forma completa e equânime. Figura 1- Revolta da vacina - Charge capa da revista "O Malho", de 1904. Saúde Pública x Saúde Coletiva Por: Patrícia Dias – Mestranda em Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ https://cadernodefarmacia.blogspot.com/ Instagram: @cadernodefarmacia SAÚDE COLETIVA A terminologia “Saúde Coletiva” só é adotada no Brasil, em outros lugares do mundo não existe. Na América Latina é utilizado Medicina Social Latino-americana e Saúde Pública. A Saúde Coletiva nasceu no começo do século XX, como proposta de crítica às estruturas cientificistas das práticas de Saúde Pública da época, na qual valoriza a introdução de outros saberes de outros campos do conhecimento, principalmente da inserção das ciências sociais, quebrando o paradigma do saber epidemiológico naturalista exclusivo e ampliando com a epistemologia. BIRMAN (1991) afirma que o campo da Saúde Coletiva é fundamentalmente multidisciplinar, admitindo a diversidade de objetos e de discursos teóricos, sobretudo, entendendo a importância dos diferentes discursos biológicos, no entanto, isso não implica uma posição hegemônica em relação a outros saberes. A Saúde Coletiva preconiza a inclusão de diversos saberes e a qual a melhor estratégia de implementação de ações que visem a prevenção de doenças e a promoção da saúde nos diferentes níveis e âmbitos que os diversos corpos e instituições e atores que participam do processo se encontram no momento e a flexibilização temporal que possa ocorrer. A Saúde Coletiva, ao romper com o naturalismo imbricado no conceito de Saúde Pública relativiza o “biologismo”, e traz o conceito de saúde em sentido amplo, com base e auxílio de outras ciências, em especial as ciências humanas. A Saúde Coletiva se propõe a utilizar como instrumentos de trabalho a epidemiologia social ou crítica que, aliada às ciências sociais, prioriza o estudo da determinação social e das desigualdades em saúde, o planejamento estratégico e comunicativo e a gestão democrática. Além disso, abre-se às contribuições de todos os saberes - científicos e populares - que podem orientar a elevação da consciência sanitária e a realização de intervenções intersetoriais sobre os determinantes estruturais da saúde. Assim, os movimentos como promoção da saúde, cidades saudáveis, políticas públicas saudáveis, saúde em todas as políticas compõem as estratégias da Saúde Coletiva. PAIM (1998) descreve que a Saúde Coletiva contempla o processo saúde/doença na coletividade e fundamenta-se na epidemiologia e nas ciências sociais, ao contrário do modelo da história natural das doenças que privilegia o indivíduo e a fisiopatologia. A Saúde Coletiva, na perspectiva assumida pela ABRASCO, toma como objeto as necessidades de saúde, ou seja, todas as condições requeridas não apenas para evitar a doença e prolongar a vida, mas também para melhorar a qualidade de vida e, no limite, permitir o exercício da liberdade humana na busca da felicidade. O agente da Saúde Coletiva se atribui um papel abrangente e estratégico: A responsabilidade pela direção do processo coletivo de trabalho, tanto na dimensãoepidemiológica e social de apreensão e compreensão das necessidades de saúde, quanto na dimensão organizacional e gerencial de seleção e operação de tecnologias para o atendimento dessas necessidades. Saúde Pública x Saúde Coletiva Por: Patrícia Dias – Mestranda em Saúde Pública – ENSP/FIOCRUZ https://cadernodefarmacia.blogspot.com/ Instagram: @cadernodefarmacia REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ▪ BIRMAN, J. A Physis da Saúde Coletiva. Revista Physis, Rio de Janeiro, IMS/UERJ, vol.1, n.1, 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312005000300002 ▪ PAIM, Jairnilson da Silva; ALMEIDA FILHO, Naomar. Saúde Coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo aberto a novos paradigmas? Ver Saúde Públ, vol.32 (4): 2999-316, jun.1998. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v32n4/a2593.pdf ▪ http://www.fiocruz.br/bibsp/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=107 ▪ https://www.ufg.br/n/82100-saiba-a-diferenca-entre-saude-coletiva-e-saude-publica ▪ https://www.abrasco.org.br/site/noticias/opiniao/presidente-da-abrasco-fala-sobre-11o-abrascao/12157/ ▪ http://www.juventudect.fiocruz.br/saude-coletiva ▪ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81231996000100055 ▪ http://www.redeunida.org.br/media/ckeditor_files/2020/06/09/456-texto-do-artigo-2291-1-10-20061201- 2-min. ▪ http://etes-sustentaveis.org/educacao-sanitaria/
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