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Conceitos de saúde pública e saúde coletiva APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, iremos estudar os conceitos de saúde coletiva e saúde pública que, por vezes, são confundidos ou usados como sinônimos, mas que têm diferenças importantes nas suas concepções. Enquanto a saúde pública tem como objeto o adoecimento do coletivo, baseada principalmente na epidemiologia tradicional, a saúde coletiva trabalha para a qualidade de vida da população, considerando os determinantes sociais na produção do processo saúde- doença. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os conceitos de saúde pública e de saúde coletiva.• Diferenciar os conceitos de saúde pública e de saúde coletiva.• Combinar as potencialidades de ambos conceitos para aplicar em situações problemas.• DESAFIO O município "Viver Bem" (fictício) recebeu do Ministério da Saúde os testes rápidos de HIV na Atenção Básica. Levando em consideração os conceitos e o objeto de trabalho de cada um deles, que sempre traz para a análise a Epidemiologia Tradicional (no caso da saúde pública), os determinantes sociais (na saúde coletiva), como fazer o planejamento das ações? INFOGRÁFICO No esquema abaixo, é possível diferenciar aspectos importantes dos conceitos de saúde pública e saúde coletiva, como o objeto de trabalho de cada uma delas, as concepções teóricas e a interferência do Estado nestes dois processos. CONTEÚDO DO LIVRO Leia o capítulo Conceitos de saúde pública e saúde coletiva da obra Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição que é a base teórica desta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. POLÍTICAS PÚBLICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Andrei Valerio Paiva O65p Ordonez, Ana Manuela. Políticas públicas de alimentação e nutrição [recurso eletrônico] / Ana Manuela Ordonez, Andrei Valerio Paiva. – 2. ed. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-9502-029-0 1. Saúde pública. 2. Nutrição – Políticas públicas. 3. Alimentação – Assistência em saúde. I. Paiva, Andrei Valerio. II. Título. CDU 614:612.39 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Politicas_publ_alim_nutri.indb 2 16/01/17 16:21 Conceitos de saúde pública e saúde coletiva Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os conceitos de saúde pública e de saúde coletiva. � Diferenciar os conceitos de saúde pública e de saúde coletiva. � Combinar as potencialidades dos dois conceitos para aplicar em situações problema. Introdução Neste texto, você irá estudar os conceitos de saúde coletiva e saúde pública. Às vezes, os termos são confundidos ou usados como sinôni- mos, mas têm diferenças importantes. A saúde pública estuda o adoecimento com base principalmente na epidemiologia tradicional. Por sua vez, a saúde coletiva trabalha para a qualidade de vida da população, considerando os determinantes sociais na produção do processo saúde-doença. Doença, processo saúde-doença, vacinação e prevenção Antes de conceituarmos saúde pública e saúde coletiva, vamos caracterizar alguns itens importantes. A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença são sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece. É na dimensão do ser que ocorrem as definições do normal ou patológico. O considerado normal em um indivíduo pode não ser em outro; não há rigidez no processo. Assim, você deduz que o ser humano precisa se autoconhecer e avaliar as transforma- ções sofridas por seu corpo e identificar os sinais expressos por ele. Esse pro- cesso só é viável em uma perspectiva relacional entre o normal e o patológico. Politicas_publ_alim_nutri.indb 13 16/01/17 16:21 Muito se tem escrito sobre o processo saúde-doença no que se refere à dis- tinção entre a doença (definida pelo sistema da assistência à saúde) e a saúde (percebida pelos indivíduos). É preciso levar em conta a dimensão do bem- -estar, um conceito mais amplo, no qual a contribuição da saúde não é a única e nem a mais importante. O sofrimento experimentado por pessoas, famílias e grupos sociais não corresponde necessariamente à concepção de doença que orienta provedores como os profissionais da Estratégia de Saúde da Família. Por outro lado, uma alternativa para a superação dos modelos causais clás- sicos, centrados em ações individuais (métodos diagnósticos e terapêuticos, vacinação, educação em saúde) seria privilegiar a dimensão coletiva do fenô- meno saúde-doença por meio de modelos interativos que incorporassem ações individuais e coletivas. Uma nova maneira de pensar a saúde e a doença deve incluir explicações para os achados universais de que a mortalidade e a morbi- dade obedecem a um gradiente que atravessa as classes socioeconômicas, de modo que menores rendas e status social estão associados a uma pior condição em termos de saúde. Essa evidência é um indicativo de que os determinantes da saúde estão localizados fora do sistema de assistência à saúde. O conceito de prevenção é definido como ação antecipada, baseada no co- nhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso poste- rior da doença. A prevenção apresenta três fases. A prevenção primária ocorre no período de pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde é um dos ní- veis da prevenção primária, definido como medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente”. A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce, e o segundo, limitação da invalidez. Por fim, a prevenção terciária diz respeito a ações de reabilitação. Políticas públicas de alimentação e nutrição14 Politicas_publ_alim_nutri.indb 14 16/01/17 16:21 Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Juan Cesar Garcia A Opas protagonizou a difusão do ensino da Medicina Preventiva na América Latina, patrocinando a realização dos seminários de Vina del Mar (Chile) e Tehuacan (México), na década de 1950 (OPS, 1976). Mais tarde, apoiou e promoveu o desenvolvimento da denominada Medicina Social Latino-Americana, com a brilhante atuação de Juan Cesar Garcia, médico e sociólogo argentino (Nunes, 1989). Garcia não apenas formulou as linhas gerais de um programa de estudos e ação, mas também desempenhou o papel de liderança política, mobilizando recursos institucionais para apoiar os programas emergentes de medicina preventiva e introduzir neles o ensino das ciências sociais em saúde de abordagem histórico-estrutural (Spinelli et al., 2012). A Opas contou com o financiamento da Fundação Milbank nessas atividades. Os programas visavam à for- mação de lideranças, permitindo que intelectuais críticos imprimissem direção ao pro- cesso, cujas iniciativas eram vistas como inovadoras (Garcia, 1985). Definição de saúde pública e saúde coletiva Em 1920, Charles Edward A. Winslow, então professor de Medicina Experi- mental da Universidade de Yale, foi procurado por dois estudantes da gradu- ação que queriam uma orienta ção sobre as carreiras a seguir. Eles estavam particularmente interessados em entender o que era saúde pública. Winslow sentiu a necessidade de formular uma melhor definição que englobasse as tendências e possibilidades dessa estimulante área. Assim, elaborou um artigo para a revista Science definiu saúde pública: Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a saúde física e a eficiência através dos esforços da comunidade organizada para o saneamento do meio ambiente, o controle das infec- ções comunitárias, a educa ção dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organiza ção dos serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precocee o tratamento preventivo da doença e o desenvol- vimento da máquina social que assegurará a cada indivíduo na comuni- dade um padrão de vida adequado para a manutenção da saúde. (WINS- LOW, 1920, p. 23). Conceitos de saúde pública e saúde coletiva 15 Politicas_publ_alim_nutri.indb 15 16/01/17 16:21 As origens da saúde coletiva são situadas por Nunes (1994) na década de 1950. Vieira-da-Silva, Paim e Schraiber (2014) reforçam o final da década de 1970 utilizando como marco o surgimento do termo saúde coletiva no Brasil e a criação da Associação Brasileira de Pós-Graduação em saúde coletiva (Abrasco), sem negar as raízes apontadas por Nunes em períodos anteriores. A saúde coletiva consolidou-se, então, com esse nome e com suas especifi- cidades no Brasil. Apesar de o nome não ter sido adotado em outros países, muitos autores percebem a saúde coletiva como parte de um movimento mais amplo da América Latina, como aponta o próprio Nunes (1994). No Brasil, as intervenções sobre a saúde da coletividade ganham força durante a República Velha, como estratégia de saneamento dos espaços de circulação da economia cafeeira. É a época de Oswaldo Cruz e das campa- nhas sanitárias, em que se destacam as medidas de saneamento voltadas à er- radicação da febre amarela urbana e a vacinação obrigatória contra a varíola. Então, a saúde coletiva abrange as necessidades sociais de saúde (e não apenas as doenças, os agravos ou os riscos) e entende a situação da saúde como um processo social (o processo saúde-doença) relacionado à estrutura da sociedade. Por fim, a saúde coletiva concebe as ações de atenção à saúde como práticas simultaneamente técnicas e sociais. A saúde coletiva propõe a superação das intervenções sanitárias sob a forma de programas temáticos, voltados a problemas ou grupos populacionais específicos, com base em uma epidemiologia meramente descritiva e em uma abordagem normativa de planejamento e administração. Você verifica, então, que a saúde coletiva adota intervenções articuladas de promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde, com base em uma abordagem multidisci- plinar, com a contribuição das ciências sociais, da epidemiologia crítica e do planejamento e da gestão estratégicas e comunicativas. Políticas públicas de alimentação e nutrição16 Politicas_publ_alim_nutri.indb 16 16/01/17 16:21 A expressão saúde coletiva era utilizada desde a década de 1960 para se referir a pro- blemas de saúde no nível populacional (OPS, 1976) e em documentos oficiais que mencionavam uma dada matéria do currículo mínimo do curso médico, proposta pela Reforma Universitária de 1968. Essa matéria incluía a epidemiologia, a estatística, a organização e administração sanitária as ciências sociais, entre outras. Portanto, a introdução desses conteúdos na graduação dos profissionais de saúde foi iniciativa dos departamentos de Medicina Preventiva, junto a seus equivalentes nas escolas de enfermagem, farmácia, veterinária, odontologia etc. Nos cursos de aperfeiçoamento e especialização, essas disciplinas eram ministradas pelas escolas de saúde pública, que passaram a contribuir para a constituição da área. No final da década de 1970, a expressão saúde coletiva foi usada como título do primeiro encontro nacional de cursos de pós-graduação existentes no Brasil, denominados Medicina Social, Medicina Preventiva, Saúde Comunitária e saúde pública. Nessa oportunidade, foi proposta a criação da Associação Brasileira de Pós-graduação em saúde coletiva (ABRASCO), cuja formalização foi discutida em reuniões posteriores, sendo fundada em 1979 em Brasília. Comparação entre saúde pública e saúde coletiva Para comparar e identificar as diferenças entre a saúde pública e a saúde co- letiva, parte-se do pressuposto teórico de que as necessidades de saúde e as intervenções sociais voltadas para atendê-las são determinadas pela estrutura da sociedade, em seus planos socioeconômico e político-ideológico. Características da saúde coletiva A saúde coletiva teve suas origens nos anos 70, com o processo de institu- cionalização da formação de recursos humanos e dos conhecimentos que se encontravam dispersos em escolas de saúde pública, Departamentos de Medi- cina Preventiva e cursos de Medicina Social. Caracteriza-se como um movi- mento contra-hegemônico que critica o modelo sanitário brasileiro. Na mesma linha, afirma-se que a saúde coletiva representa um esforço de qualificar problemas de saúde pela temática da ‘modernização periférica’ em voga nos anos 60 e 70, com a atenção voltada para a expansão dos aglome- Conceitos de saúde pública e saúde coletiva 17 Politicas_publ_alim_nutri.indb 17 16/01/17 16:21 rados humanos nos grandes centros urbanos, a mudança nos padrões demo- gráficos do mercado de trabalho, a intensificação da conflitividade social e as práticas de regulação desfechadas pelo Estado de Bem-estar Social, em sua fraca versão local. A filiação teórica e metodológica da saúde coletiva, no seu nascimento, liga-se ao materialismo histórico e tinha como desafio principal integrar o indivíduo aos processos coletivos. A saúde coletiva se fundamenta na interdisciplinaridade como condição necessária à produção de um conhecimento ampliado da saúde, em que se fazem presentes os desafios de trabalhar com as dimensões qualitativas e quantitativas, sincrônicas e diacrônicas, objetivas e subjetivas do processo saúde-doença. Mais recentemente, saúde coletiva foi definida como: [...] campo de produção de conhecimentos voltados para a compreensão da saúde e a explicação de seus determinantes sociais, bem como âmbito de práticas direcionadas prioritariamente para a sua promoção, além de voltadas para a prevenção e o cuidado a agravos e doenças, tomando por objeto não apenas os indivíduos, mas, sobretudo, os grupos sociais, portanto, a coletividade. Características da saúde pública Quanto à saúde pública, além da definição do professor Winslow, mencio- nada antes, é possível dizer que ela envolve ações do Estado e da sociedade civil para proteger e melhorar a saúde das pessoas. Não é uma disciplina aca- dêmica, mas uma prática social interdisciplinar. Não é sinônimo de atuação estatal na área da saúde, pois engloba ações não estatais e não abarca tudo o que o Estado pode fazer em matéria de saúde. O documento da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) menciona a dificuldade de separar, nitidamente, as responsabilidades próprias da saúde pública, relacionadas à prevenção de doenças e à promoção da saúde de grupos populacionais definidos, e aquelas relativas à organização da atenção individual curativa. Seria obrigação da saúde pública dedicar-se às primeiras, ao passo que as segundas são objetos de sua preocupação quanto ao acesso equitativo e o controle da qualidade, mas não são objetos de sua intervenção direta. Com base nessas concepções, a Opas enumera onze funções essenciais da saúde pública: 1) monitoramento, análise e avaliação da situação de saúde; Políticas públicas de alimentação e nutrição18 Politicas_publ_alim_nutri.indb 18 16/01/17 16:21 2) vigilância, investigação, controle de riscos e danos à saúde; 3) promoção da saúde; 4) participação social em saúde; 5) desenvolvimento de políticas e capacidade institucional de planejamento e gestão pública da saúde; 6) capa- cidade de regulação, fiscalização, controle e auditoria em saúde; 7) avaliação e promoção do acesso equitativo da população aos serviços de saúde neces- sários; 8) administração, desenvolvimento e formação de recursos humanos em saúde; 9) promoção e garantia da qualidade dos serviços de saúde; 10) pesquisa e incorporação tecnológica em saúde; 11) condução da mudança do modelo de atenção à saúde. No Brasil, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde assume o prota- gonismo na adoção da abordagem, adaptando esse rol de funções às caracte- rísticas do SUS, em especial, ao princípio da integralidade, que não admite a separação entre as ações dirigidasà coletividade e aquelas destinadas aos indivíduos, nem permite que o Estado se ocupe apenas das primeiras. Objetos de trabalho da saúde pública e da saúde coletiva A saúde pública toma como objeto de trabalho os problemas de saúde, defi- nidos em termos de mortes, doenças, agravos e riscos. A concepção da saúde pública é a ausência de doenças. A saúde coletiva, por sua vez, toma como objeto as necessidades de saúde, ou seja, todas as condições necessárias não só para evitar a doença e prolongar a vida, mas também para melhorar a qualidade de vida e permitir o exercício da liberdade humana na busca da felicidade. Assim, duas ordens de diferenças se destacam nessa comparação. A conceituação de saúde pública menciona “ciência e arte”. A conceituação de saúde coletiva cita “campo de conheci- mentos” e “práticas de saúde”. Essas menções distintas indicam, essencialmente, a adesão dos pensa- dores da saúde pública, de um lado, e dos da saúde coletiva, de outro, a dife- rentes marcos conceituais. A segunda ordem de diferenças significativas é observada quando se con- sideram os momentos constituintes do processo de trabalho – o objeto, os instrumentos e o trabalho propriamente dito – de cada um dos movimentos. Como instrumentos de trabalho, a saúde pública mobiliza a epidemiologia tradicional, o planejamento normativo e a administração taylorista, em abor- dagens caudatárias da clínica e, portanto, da concepção biologista da saúde. De fato, são as ações isoladas da Vigilância Epidemiológica e da Vigilância Conceitos de saúde pública e saúde coletiva 19 Politicas_publ_alim_nutri.indb 19 16/01/17 16:21 Sanitária ou o desenvolvimento de programas especiais, desarticulados das demais ações, como a Saúde Materno-Infantil ou o Programa Nacional de Imunização, que configuram os meios de trabalho característicos da saúde pública. Já a saúde coletiva se propõe a utilizar como instrumentos de trabalho a epidemiologia social ou crítica que, aliada às ciências sociais, prioriza o estudo da determinação social e das desigualdades em saúde, o planejamento estratégico e comunicativo e a gestão democrática. Além disso, abre-se às con- tribuições de todos os saberes – científicos e populares – que podem orientar a elevação da consciência sanitária e a realização de intervenções intersetoriais sobre os determinantes estruturais da saúde. Assim, os movimentos como promoção da saúde, cidades saudáveis, políticas públicas saudáveis, saúde em todas as políticas compõem as estratégias da saúde coletiva. Quanto ao trabalho em si, o agente da saúde pública desempenha as ati- vidades das vigilâncias tradicionais (epidemiológica e sanitária), aplica os modelos de transmissão de doenças (controle de riscos), realiza ações de edu- cação sanitária e fiscaliza a produção e a distribuição de bens e serviços con- siderados de interesse da saúde na perspectiva reducionista do risco sanitário, definido pela clínica biomédica. Além disso, é o agente que assume as tarefas do planejamento normativo, define objetivos e metas considerando apenas o ponto de vista estatal, sem levar em conta a distribuição do poder na socie- dade. Também assume as tarefas da administração sanitária, orientada pelas tentativas de controle burocrático de colaboradores subalternos. Por outro lado, o agente da saúde coletiva tem um papel abrangente e es- tratégico: a responsabilidade pela direção do processo coletivo de trabalho, seja na dimensão epidemiológica e social de apreensão e compreensão das necessidades de saúde, seja na dimensão organizacional e gerencial de seleção e operação de tecnologias para o atendimento dessas necessidades. Você ou- virá dizer que o profissional da saúde coletiva é um técnico de necessidades de saúde e um gerente de processos de trabalho em saúde, comprometido com os valores de solidariedade, igualdade, justiça e democracia. É, portanto, um militante sociopolítico da emancipação humana. Para a saúde pública, o Es- tado é o ator político por excelência, capaz por si só de assegurar a prevenção das doenças. Para a saúde coletiva, além do Estado, há outros atores e poderes na socie- dade civil que devem atuar para promover a democratização da saúde. Essa comparação revela que são distintas as articulações desses dois movimentos ideológicos com a atual estrutura da sociedade. A saúde pública encontra-se Políticas públicas de alimentação e nutrição20 Politicas_publ_alim_nutri.indb 20 16/01/17 16:21 institucionalizada nas atividades cotidianas dos serviços do SUS. A saúde coletiva inspirou o projeto da Reforma Sanitária que deu origem ao SUS, mas persiste como alternativa contra-hegemônica. Concluindo, a saúde pública, em seu atual formato institucionalizado, tenderia a ficar dialeticamente superada, aproveitando-se seus elementos téc- nicos de modo a integrá-los nas estratégias da atenção integral à saúde. E, em um cenário otimista em que o SUS constitucional encontrasse um ambiente favorável para sua conversão em realidade concreta, a saúde coletiva teria um papel político a cumprir especialmente na definição de rumos condizentes com as propostas preconizadas pela Reforma Sanitária Brasileira. Em termos concretos, haveria um ambiente propício para a multiplicação de centros de produção e reprodução de conhecimento, tecnologias e inova- ções, tendo em vista o aprimoramento do SUS e o avanço da democratização da saúde. 1. Considerando os conceitos apresen- tados, é possível afirmar que a saúde pública: a) É sinônimo exclusivo de atuação estatal na área da saúde. b) Abarca tudo o que o Estado pode fazer em matéria de saúde. c) É uma prática social interdisci- plinar. d) É exclusivamente uma disciplina acadêmica. e) Não embasa sua prática na epide- miologia tradicional. 2. NÃO faz parte do campo da saúde pública: a) Monitoramento e avaliação em saúde. b) Controle de riscos, vigilância e danos à saúde. c) Fiscalização e regulação da saúde. d) Planejamento estratégico e gestão democrática em saúde. e) Controle e auditoria em saúde. 3. A dinâmica das mudanças a serem promovidas pelo profissional da saúde é mais um ponto de diver- gência entre os conceitos de saúde pública e saúde coletiva. Na saúde pública, as mudanças são localizadas e graduais, de acordo com as pos- sibilidades do Estado. Já na saúde coletiva, as mudanças devem ser resultantes de esforços e vontades entre Estado e sociedade. A partir dessa afirmação, é CORRETO afirmar: a) A saúde pública é baseada em discussões sobre as formas de atenção à saúde problematizando a relação profissional-usuário. b) A saúde coletiva problematiza a relação profissional-usuário trazendo para a discussão as pos- sibilidades do usuário em aplicar o projeto terapêutico. c) A saúde pública traz para a discussão de atenção à saúde Conceitos de saúde pública e saúde coletiva 21 Politicas_publ_alim_nutri.indb 21 16/01/17 16:21 a perspectiva do processo de trabalho das equipes. d) A saúde coletiva é promotora de discussões sobre o fazer em saúde que proporciona uma abordagem profissional-paciente baseado em ações centradas nos profissionais de saúde. e) A saúde pública é um campo de prática na qual a saúde coletiva traz discussões objetivando melhorias da relação profissional- -paciente. 4. É CORRETO afirmar que a contri- buição da saúde coletiva para o fortalecimento e qualificação do Sistema Único de Saúde, tem desdo- brado em: a) Gestão sem restrições econô- micas b) Atividades isoladas e orientadas para o controle de riscos e a prevenção de doenças c) Atividades das vigilâncias tra- dicionais, aplica os modelos de transmissão de doenças d) Incapacidade de resistência en- quanto projeto contra-hegemônico e) Dimensão organizacional e ge- rencial de seleção e operação de tecnologias para o atendimento das necessidades epidemioló- gicas e sociais 5. Considerando que a saúde coletiva propõe o pressuposto filosófico- -teórico da saúde e da vida, podemosafirmar que: a) O agente de saúde coletiva é militante partidário que acredita na emancipação humana. b) O agente de saúde coletiva tra- balha na perspectiva de organizar o Sistema de Saúde de forma centralizada e especializada. c) A saúde coletiva adota também o filosófico-teórico da doença e da morte como ponto de partida para a explicação da situação de saúde. d) O profissional da saúde coletiva é um técnico de necessidades de saúde e um gerente de processos de trabalho em saúde. e) A saúde coletiva entende o Estado como único ator capaz de, por si só, assegurar a prevenção. Políticas públicas de alimentação e nutrição22 Politicas_publ_alim_nutri.indb 22 16/01/17 16:21 GARCIA, J. C. Juan Cesar Garcia entrevista Juan Cesar Garcia. In: NUNES, E. D. (Ed.). As ciências sociais em saúde na América Latina: tendências e perspectivas. Brasília, DF: OPAS, 1985. p. 21-28. NUNES, E. (Org.). Medicina social: aspectos teóricos e históricos. São Paulo: Global, 1983. NUNES, E. D. As contribuições de Juan Cesar Garcia às ciências sociais em saúde. In: NUNES, E. D. (Ed.). Juan Cesar Garcia: pensamento social em saúde na América Latina. São Paulo: Cortez, 1989, p. 11-33. ORGANIZATION PANAMERICANA DE LA SALUD. Enseñanza de la medicina preventiva y social: 20 años de experiencia latinoamericana. Washington, D. C.: OPS, 1976. (OPS - Publ. Cient., 234). PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. (Org.). Saúde coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: Me- dBook, 2014. SCHRAIBER, L. B. Saúde coletiva: um campo vivo. In: PAIM, J. Reforma sanitária brasileira: contribuição para a compreensão e crítica. Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p. 9-19. SOUZA, L. E. P. F. de. Saúde pública ou saúde coletiva?. Revista Espaço para Saúde, Londri- na, v. 15, n. 4, p. 7-21, out./dez. 2014. VIANNA, L. A. C. Processo saúde-doença: módulo político gestor. [2010?]. Disponível em: <http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/Uni- dade_6.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016. VIEIRA-DA-SILVA, L. M.; PAIM, J. S.; SCHRAIBER, L. B. O que é saúde coletiva? In: PAIM, J. S.; ALMEIDA-FILHO, N. (Org.). Saúde coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. p. 3-12. WINSLOW, C. E. A. The untilled fields of Public Health. Science, Washington, DC, v. 51, n. 1306, p. 23-33, jan. 1920. Leituras recomendadas LIMA, N. T. et al. (Org.). Saúde e Democracia: histórias e perspectivas do SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. PAIM, J. S. Desafios para a saúde coletiva no século XXI. Salvador: EDUFBA, 2006. PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo aberto a novos paradigmas?. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 4, p. 299-316, jun. 1998. Referências Conceitos de saúde pública e saúde coletiva 23 Politicas_publ_alim_nutri.indb 23 16/01/17 16:21 Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Este vídeo apresenta o conceito de saúde coletiva, determinantes em saúde e sujeito. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Considerando o conceito apresentado sobre saúde pública, é possível afirmar que a referida: A) É sinônimo exclusivo de atuação estatal na área da saúde. B) Abarca tudo o que o Estado pode fazer em matéria de saúde. C) É uma prática social interdisciplinar. D) É exclusivamente uma disciplina acadêmica. E) Não embasa sua prática na epidemiologia tradicional. 2) Não faz parte do campo da saúde pública: A) Monitoramento e avaliação em saúde. B) Controle de riscos, vigilância e danos à saúde. C) Fiscalização e regulação da saúde. D) Planejamento estratégico e gestão democrática em saúde. E) Controle e auditoria em saúde. 3) A dinâmica das mudanças a serem promovidas pelo profissional da saúde é mais um ponto de divergência entre os conceitos de saúde pública e saúde coletiva. Na saúde pública, as mudanças são localizadas e graduais, de acordo com as possibilidades do Estado. Já na saúde coletiva, as mudanças devem ser resultantes de esforços e vontades entre Estado e sociedade. A partir desta afirmação, é correto afirmar: A) A saúde pública é baseada em discussões sobre as formas de atenção à saúde problematizando a relação profissional-usuário. B) A saúde coletiva problematiza a relação profissional-usuário trazendo para a discussão as possibilidades do usuário em aplicar o projeto terapêutico. C) A saúde pública traz para a discussão de atenção à saúde a perspectiva do processo de trabalho das equipes. D) Saúde Coletiva é promotora de discussões sobre o fazer em saúde que proporciona uma abordagem profissional-paciente baseado em ações centradas nos profissionais de saúde. E) A saúde pública é um campo de prática na qual a saúde coletiva traz discussões objetivando melhorias da relação profissional-paciente. 4) É correto afirmar que a contribuição da Saúde Coletiva para o fortalecimento e qualificação do Sistema Único de Saúde, tem desdobrado em: A) Gestão sem restrições econômicas; B) Atividades isoladas e orientadas para o controle de riscos e a prevenção de doenças; C) Atividades das vigilâncias tradicionais, aplica os modelos de transmissão de doenças; D) Incapacidade de resistência enquanto projeto contra-hegemônico; E) Dimensão organizacional e gerencial de seleção e operação de tecnologias para o atendimento das necessidades epidemiológicas e sociais. 5) Considerando que a saúde coletiva propõe o pressuposto filosófico-teórico da saúde e da vida, podemos afirmar que: A) O agente de saúde coletiva é militante partidário que acredita na emancipação humana. B) O agente de saúde coletiva trabalha na perspectiva de organizar o Sistema de Saúde de forma centralizada e especializada. C) A saúde coletiva adota também o filosófico-teórico da doença e da morte como ponto de partida para a explicação da situação de saúde. D) O profissional da saúde coletiva é um técnico de necessidades de saúde e um gerente de processos de trabalho em saúde. E) A saúde coletiva entende o Estado como único ator capaz de, por si só, assegurar a prevenção. NA PRÁTICA Vemos alguns paradigmas do campo da saúde pública e saúde coletiva. Epidemiologicamente é indicada a vacinação contra o HPV antes do início da vida sexual. Assim, o público-alvo da campanha do Ministério da Saúde são meninas de 11 a 13 anos (objetivando iniciar a vacinação ainda mais cedo, incluindo meninas de 09 e 10 anos). Ainda que a saúde pública faça este indicativo, outras construções históricas e sociais entram na análise dos pais, que devem autorizar ou não o procedimento. Afinal, explicar para as meninas sobre o porquê da vacina, implica conversar sobre educação sexual: aí entram as dificuldades de se falar sobre o assunto, ora por questões religiosas, falta de conhecimento ou por julgar ser muito cedo para tratar sobre isso; além do medo do procedimento, pode causar efeitos colaterais etc. Assim, mais do que promover a prevenção distribuindo a vacina, é necessário pensar nestes e outros atravessamentos sociais que podem aparecer. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Saúde pública ou saúde coletiva - Qual a diferença entre os termos? Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saúde coletiva: uma "nova saúde pública" ou campo aberto a novos paradigmas? Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saúde Pública ou Saúde Coletiva? Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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