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A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES DE TRABALHO

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UNIVERSIDADE INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES – URI CAMPUS 
SANTIAGO 
 
 
 
TANISE PINTO FERREIRA 
 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES DE TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santiago 
2015 
 
2 
 
TANISE PINTO FERREIRA 
 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES DE 
TRABALHO 
 
 
 
 Monografia apresentada ao Curso de Direito, da 
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e 
das Missões – URI Campus de Santiago, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
Bacharel. 
 
Orientadora: Esp. Angélica Chechi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santiago 
2015 
3 
 
TANISE PINTO FERREIRA 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES DE 
TRABALHO 
 
 
 Monografia apresentada ao Curso de Direito, da 
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e 
das Missões – URI Campus de Santiago, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
Bacharel. 
 
 
COMISSÃO EXAMINADORA 
 
______________________________________________ 
Prof. Esp. Angélica Chechi 
Orientadora 
 
_______________________________________________ 
Prof. Me. Astrid Heringer 
Examinador 
 
_______________________________________________ 
Prof. Me. João Érico Lucas Coelho 
Examinador 
 
Aprovado em 31 de outubro de 2015. 
 
4 
 
RESUMO 
 
 
 
 
 
O presente trabalho apresenta a evolução histórica e o novo conceito de empresa à luz 
do ordenamento jurídico brasileiro. Após, busca-se expor os direitos e deveres dos 
empregados e empregadores no cumprimento do contrato de trabalho, previstos na 
Constituição Federal e na Consolidação das Leis do Trabalho. Discute-se, também, as 
teorias acerca da responsabilidade civil do empregador nos casos de acidente de 
trabalho, adotadas pelo Código Civil de 2002, e seus reflexos da Previdência Social. 
Por fim, realiza-se um paralelo entre as decisões proferidas pelo Tribunal Superior do 
Trabalho e pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região acerca do assunto. Desta 
forma, aborda-se um entendimento legal, doutrinário e jurisprudencial concernentes ao 
tema. 
 
 
Palavras-chave: Código Civil. Constituição Federal. Responsabilidade civil do 
empregador. Acidente de trabalho. Jurisprudência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 6 
1 A EMPRESA ................................................................................................................ 7 
1.1 O CONCEITO DE EMPRESA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E SUA FUNÇÃO 
SOCIAL ....................................................................................................................................................... 7 
1.2 A LEGISLAÇÃO PROTETIVA DO EMPREGADO ............................................................... 12 
2 RESPONSABILIDADE CIVIL........... ......................................................................... 18 
2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................................ 18 
2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA ................................................... 24 
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR FRENTE AO ACIDENTE DE 
TRABALHO .................................................................................................................. 28 
3.1 ACIDENTE DE TRABALHO E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR28 
3.2 JURISPRUDÊNCIAS DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO E DO TRIBUNAL 
REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO 
EMPREGADOR NOS CASOS DE ACIDENTE DE TRABALHO ............................................ 33 
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 37 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Devido à evolução mercantil ocorrida nas últimas décadas, o Código Civil, Lei 
10.406 de 10 de janeiro do ano de 2002, passou a disciplinar desde a concepção, a 
estrutura até a extinção da empresa, atendendo às novas necessidades no âmbito 
trabalhista. O presente trabalho, em um primeiro momento, traz a noção de empresa e 
sua função social, bem como os direitos e obrigações dos empregados e empregadores 
e, perante a crescente demanda de litígios trabalhistas, ressalta a legislação protetiva 
do trabalhador. 
 Em um segundo momento, analisa-se o instituto da responsabilidade civil, 
salientando seu conceito, evolução histórica e pressupostos, tais como: conduta, nexo 
de causalidade, dano e culpa, sob a ótica das relações laborais. O instituto da 
responsabilidade civil, movida pelas constantes transformações no cenário trabalhista, 
visa amparar o trabalhador, no sentido de não deixar as vítimas sem a devida reparação 
do dano sofrido. Nesse sentido, o Código Civil, em seu artigo 186 em concomitância 
com o caput do artigo 927, instituiu a responsabilidade subjetiva, ou seja, a 
responsabilidade decorrente de dolo ou culpa do empregador ao praticar ato ilícito. 
 Já a responsabilidade civil objetiva, prevista no artigo 927, parágrafo único, 
obriga a reparação do dano independente de culpa, quando a atividade por si só 
implicar riscos à saúde do trabalhador. Isto posto, é necessário questionar: a 
responsabilidade objetiva se aplica indiscriminadamente ao empregador em razão da 
Teoria do Risco Criado? 
 Por fim, será realizado um paralelo entre as disposições, pertinentes ao assunto 
no Código Civil, em confronto com as leis protetivas dos trabalhadores, bem como os 
reflexos previdenciários e jurisprudenciais no ordenamento jurídico brasileiro. O 
presente trabalho se dará pelo procedimento monográfico e, diante das pesquisas 
doutrinárias, normativas e jurisprudenciais acerca do tema, obtém-se, pelo método 
indutivo, a aplicação da norma mais benéfica ao trabalhador, ou seja, aplica-se a 
melhor norma para todos os casos após a análise de casos específicos.
7 
 
 
1 A EMPRESA 
O Código Civil de 2002, com a finalidade de atender às diversas transformações 
ocorridas no cenário econômico e social nas últimas décadas, surgiu em substituição ao 
Código Comercial existente desde 1850. O novo Código passou a regulamentar sobre 
os direitos e deveres concernentes à atividade empresarial, bem como sua função 
social inerentes ao interesse público e privado. 
 
1.1 O CONCEITO DE EMPRESA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E SUA FUNÇÃO 
SOCIAL 
A empresa exerce grande importância, pois suas atividades são voltadas para o 
interesse da produção, trazendo vantagens sócio econômicas na região em que a 
mesma se estabelece e repercutindo no cenário nacional, quando recolhe os tributos. 
A evolução do Direito Comercial pode ser dividida em quatro fases: a primeira; 
denominada primitiva, havia troca de produtos entre os indivíduos pertencentes a 
grupos sociais. Nessa fase, as atividades comerciais eram regidas, basicamente, pelos 
costumes. Na segunda fase; denominada corporativa, os mercadores e artesãos 
organizavam-se em corporações de ofício, transformando os costumes em normas 
escritas, os Estatutos.1 
O terceiro período; do ato do comércio, iniciou-se após a Revolução Francesa e 
de acordo com ele, somente era considerado comerciante quem praticava um dos atos 
enumerados pelo Código Comercial francês de 1807. Essa codificação foi adotada em 
vários países, inclusive no Brasil, anos mais tarde. Com a expansão econômica 
promovida pela Revolução Industrial, o período do ato do comércio deu lugar à última 
fase, a teoria da empresa. 
O art. 16 da Lei Federal do Trabalho do México, determina que: 
Art. 16. Para os efeitos das normas trabalhistas, a empresa, uma unidade 
econômica de produção ou distribuição de bens ou serviços e do 
estabelecimentoda unidade técnica como uma sucursal, agência ou forma 
semelhante, é parte integrante e contribuir para a consecução dos objetivos da 
empresa. 
 
1 MEDEIROS, Luciana Maria de. Evolução histórica do Direito Comercial. Disponível em < 
http://jus.com.br/artigos/18219/evolucao-historica-do-direito-comercial > Acesso em: 20 abr. 2015. 
8 
 
 
 Logo, a empresa não se confunde com o estabelecimento, pois este é parte 
daquela. Estabelecimento é o “conjunto de bens operados pelo comerciante, sendo 
uma universalidade de fato, ou seja, objeto e não sujeito de direitos. Compreende as 
coisas corpóreas existentes em determinado lugar da empresa, como instalações, 
máquinas, equipamentos, utensílios etc, e as incorpóreas, como a marca, as patentes, 
os sinais etc”.2 
 Portanto, não se pode confundir a empresa com o local onde ela exerce suas 
atividades. O art.1.142 do Código Civil considera estabelecimento como sendo “todo 
complexo de bens organizados, para exercício da empresa, por empresário, ou por 
sociedade empresária”. O essencial de qualquer empresa é sua obtenção de lucro por 
parte do empresário, a exceção à regra, são as associações beneficentes, as 
cooperativas, os clubes, entre outros, podendo a empresa ter a obtenção de outros fins. 
O art. 966 também do Código Civil define o que seja empresário: 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de 
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir 
elemento de empresa. 
 
Assim, todas as empresas que se enquadrarem nessa conceituação, qualquer que 
seja o seu gênero de atividade, inclusive as prestadoras de serviços, serão 
consideradas empresárias e terão a inscrição obrigatória no registro mercantil, 
conforme artigo 967 do Código Civil. No entanto, o parágrafo único do art. 966 diz que a 
profissão intelectual não é empresarial por não possuir fatores de produção, porém, 
pode constituir elemento de empresa por denotar caráter econômico. Completa, 
afirmando que não basta a contratação de auxiliares ou colaboradores para configurar a 
existência jurídica de uma empresa. Para isto, é necessário um outro elemento, o 
estabelecimento, o conjunto de bens. 
Como elemento essencial para o exercício da atividade empresarial tem-se a 
figura do empregador. 
O art. 2º da Consolidação das Leis do Trabalho prevê que: Considera-se 
 
2 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 
2013. p.34. 
 
9 
 
 
empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade 
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoas do serviço. 
 Ou seja, o empregador deve arcar com os lucros e perdas do empreendimento, 
tem a obrigação de assalariar o trabalhador, respeitar o serviço, o contrato e os direitos. 
CARRION fala que “empresa é o conjunto de bens materiais, imateriais e pessoais para 
a obtenção de certo fim. Juridicamente, a empresa é uma universalidade, 
compreendendo duas universalidades parciais, a de pessoas e a de bens, funcionando 
em direção a um fim”.3 
A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, dispõe sobre a Previdência Social e prevê 
em seu art. 14, inciso I: 
Art. 14. Consideram-se: 
I – empresa – a firma individual ou sociedade que assumo o risco de atividade 
econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e 
entidades da administração pública direta, indireta ou fundacional; 
Este conceito de empresa no Direito Previdenciário não é o mesmo do Direito do 
Trabalho, pois aqui não importa se a atividade é lucrativa ou não e nem se o 
empreendimento econômico é rural ou urbano. O que realmente importa é o empresário 
assumir os desafios da atividade econômica, tonando-se sujeito passivo de obrigações 
fiscais. 
A empresa é empreendimento humano visualizável sob vários prismas. Do 
ponto de vista previdenciário, interessam apenas os econômicos e jurídicos, em 
particular, o condutor da exploração mercantil, o empresário. Hoje, é sinônimo 
da organização, corporação, associação, atividade humana voltada para a 
produção de bens e serviços, entidade necessária diante do crescimento da 
população e desenvolvimento da tecnologia.4 
 A empresa desempenha papel importante na sociedade contemporânea, tendo 
em vista sua influência na fixação do comportamento de outras instituições, envolvendo 
interesses públicos e privados. Sendo assim, “a função social da empresa representa 
um conjunto de fenômenos importantes para coletividade e é indispensável para a 
satisfação dos interesses inerentes à atividade econômica”.5 
 
3 CARRION, Valentin. op. cit. p.34. 
4 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social: Plano de Custeio. 7 
ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 160. 
5 ALMEIDA, Maria Christina de. A Função Social da Empresa na Sociedade Contemporânea: 
10 
 
 
 A função social da empresa não visa lucro, mas sim os reflexos que suas 
decisões têm perante a sociedade, voltadas para a coletividade ou para o empresário e 
todos aqueles que colaboram para alcançar a sua finalidade. Nesse sentido, ZANOTI 
fala que: 
A empresa cumpre a sua função social quando se limita a atender a todas as 
exigências positivadas nos textos legais, em benefício da sociedade. Por outro 
lado, somente será considerada uma empresa socialmente responsável se, 
além de cumprir plenamente a sua função social, proporcionar, por mera 
liberalidade, porém, sem imposição coercitiva, e de forma regular, perene, uma 
gama de benefícios sociais para a sociedade, com o intuito de se promover a 
valorização da dignidade da pessoa humana, comprometendo-se, inclusive, 
com a eficácia da aplicação desses recursos financeiros e/ou materiais, bem 
como com os resultados sociais que se pretende atingir.6 
Ao empresário é facultado utilizar todos os meios para alcançar a finalidade da 
empresa, desde que observe as normas legais. A função social da empresa deriva da 
função social da propriedade, prevista no art. 5º, XXIII, da Constituição Federal, onde “a 
propriedade atenderá sua função social”. Assim, o objetivo final daquela não é apenas o 
lucro, mas também deve observar o interesse da sociedade, tendo em vista a 
predominância dos interesses coletivos. 
A empresa está inserida no ambiente social e dele depende para sua existência, 
devendo contribuir para que o princípio da dignidade humana continue soberano no 
ordenamento jurídico. O art. 5º da Declaração dos Direitos Humanos de Viena prevê 
que “todos os direitos humanos são universais, independentes e inter-relacionados. A 
comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente de forma justa e 
equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase”. Desta forma, os trabalhadores 
representam este princípio no Direito do Trabalho, onde as normas legais dos sindicatos 
e associações devem reger as atividades empresariais de modo a obter uma sociedade 
mais justa e igualitária. 
 [...] a realização do direito ao trabalho fará com que a dignidade humana 
assuma nítido conteúdo social, na medida em que a criação de melhores 
condições de vida resultar benéfica não somente para o indivíduo em seu 
 
Perspectivas e Prospectivas. São Paulo: Unimar, 2003. Disponível em 
<http://www.unimar.br/biblioteca/publicacoes/pos/Direito_vol_03.pdf> Acesso em: 20 abr. 2015. 
6 ZANOTI, Luiz Antonio Ramalho. A Função Social da empresa como formade valorização da 
Dignidade Da Pessoa Humana. 2006. Disponível em 
<http://www.unimar.br/pos/trabalhos/arquivos/e8922b8638926d9e888105b1db9a3c3c.pdf> Acesso em: 
30 abr. 2015. 
http://www.unimar.br/biblioteca/publicacoes/pos/Direito_vol_03.pdf
11 
 
 
âmbito particular, mas para o conjunto da sociedade.7 
 
Os direitos do trabalhador são indisponíveis por serem direitos fundamentais, e 
as condições dignas para efetivação do trabalho devem atender, no mínimo, para a 
conservação do princípio da dignidade humana. GABRIELA DELGADO afirma que: 
[...] os direitos indisponíveis do trabalhador estão previstos em três eixos: o 
primeiro diz respeito às normas e tratados internacionais ratificados pelo Brasil; 
(...) o segundo eixo trata dos Direitos Fundamentais elencados no art. 7º da 
Constituição Federal; (...) e o terceiro encontra-se em normas 
infraconstitucionais, e dizem respeito às normas de saúde e segurança do 
trabalho, bem como identificação profissional e proteção contra acidentes de 
trabalho.8 
 
O art. 170 da Constituição Federal dispõe que “a ordem econômica, fundada na 
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos 
existência digna, conforme os ditames da justiça social”. A proteção à saúde do 
trabalhador encontra-se em maior evidência, devido à aceleração tecnológica, que 
potencializou os riscos no ambiente de trabalho. Nesse sentido, é que o princípio da 
dignidade humana age como norma, pois é preciso dar tratamento adequado aos 
trabalhadores por meio de regras que efetivamente assegurem seus direitos. 
Conforme MANCUSO, conceitua-se o ambiente de trabalho, como sendo: 
O meio ambiente do trabalho vem a ser o ̳habitat laboral, isto é, tudo que 
envolve e condiciona, direta e indiretamente, o local onde o homem obtém os 
meios para prover o quanto necessário para a sua sobrevivência e 
desenvolvimento, em equilíbrio com o ecossistema. A contrario sensu, portanto, 
quando aquele ̳habitat se revele inidôneo a assegurar as condições mínimas 
para uma razoável qualidade de vida do trabalhador, aí se terá uma lesão ao 
meio ambiente do trabalho.9 
 O ambiente de trabalho é onde as pessoas desenvolvem suas atividades 
laborais, tornando-se imprescindível a aplicação de normas jurídicas a fim de garantir o 
pleno desenvolvimento das atividades e a dignidade daquele que labora. No art. 196 da 
Constituição Federal o legislador salienta o dever do Estado: 
Art.196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante 
“políticas sociais” e econômicas que visem a redução do risco de doença e de 
outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua 
 
7 LEDUR, José Felipe. A realização do Direito ao Trabalho. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 
1998, p. 98. 
8 DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. São Paulo: LTr, 2006. p.214. 
9 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública trabalhista: análise de alguns pontos 
controvertidos. Revista de Processo, São Paulo, vol. 93, RT, 1999. p. 161. 
 
12 
 
 
promoção, proteção e recuperação. 
 
O art. 7º, inciso XXII, também da Constituição Federal, prevê, no mesmo 
contexto, que “são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que 
visem à melhoria de sua condição social, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, 
por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. A manutenção de um meio 
ambiente saudável é direito do trabalhador e um dever do empregador, sendo 
obrigação deste o fornecimento de equipamentos de segurança e condições físicas 
adequadas para a efetivação das atividades laborais 
 Com o intuito de reduzir os acidentes de trabalho no Brasil, na qual são 
registrados cerca de 700 mil casos por ano, conforme dados oriundos do Anuário 
Estatístico da Previdência de 201310, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) 
instituiu normas para que a saúde e integridade do trabalhador possa ser preservada 
conforme se abordará na sequência do presente estudo. 
 
1.2 A LEGISLAÇÃO PROTETIVA DO EMPREGADO 
 Durante a Primeira Guerra Mundial, inúmeras manifestações dos trabalhadores 
levaram à criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1919, por meio 
do Tratado de Versalhes, que deu ao trabalhador proteção no que diz respeito às 
normas de segurança, garantindo sua integridade física. 
 A OIT é dotada de convenções, dentre as quais destaca-se a Convenção nº 155, 
que trata da Segurança dos Trabalhadores, assim como a Convenção nº 161, que diz 
respeito aos Serviços de Saúde do Trabalho. A primeira, em seu art. 3º, definiu que “a 
saúde, com relação ao trabalho, abrange não só a ausência de afecções ou doenças, 
mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente 
ligados com a segurança e a higiene do trabalho”. Desta forma, impôs aos Estados a 
criação de uma política nacional que garantisse a proteção, a segurança e saúde física 
ou mental do trabalhador, em todas as áreas da atividade econômica. Essa convenção 
também coloca o empregado como parte na elaboração das normas que regulamentam 
 
10 BRASIL, Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social. Disponível em: 
<http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/aeps-2013-anuario-estatistico-da-previdencia-social-
2013/aeps-2013-secao-iv-acidentes-do-trabalho/> Acesso em: 30 abr. 2015. 
13 
 
 
o ambiente de trabalho, e ainda o informa dos riscos da atividade exercida. 
 Já a segunda Convenção é uma complementação da primeira, pois fazem parte 
dela os médicos especialistas na área, ergonomistas, enfermeiros e todos aqueles que 
estejam relacionados à saúde no meio ambiente de trabalho. 
 A Convenção nº 187 surgiu em decorrência dos altos números de acidentes de 
trabalho, no início do século XXI, cuja principal ideia era “promover a melhoria contínua 
da segurança e saúde do trabalho”, ou seja, observar constantemente as normas de 
prevenção e criar métodos para combater riscos.11 
 O capítulo V, da Consolidação das Leis do Trabalho, trata das especificações no 
que tange às normas de Segurança e de Medicina do Trabalho, devido a tutela da 
saúde do trabalhador, MARTINS define como 
[...] o segmento do Direito do Trabalho incumbido de oferecer condições de 
proteção à saúde do trabalhador no local de trabalho, e de sua recuperação 
quando não estiver em condições de prestar serviços ao empregador.12 
 A Norma Regulamentadora (NR) -7, que trata da medicina do trabalho estabelece 
que: 
7.1 Do objeto 
7.1.1 Esta Norma Regulamentadora – NR- estabelece a obrigatoriedade de 
elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições 
que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle 
Médico de Saúde Ocupacional -PCMSO, com o objetivo de promoção e 
preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. 
 
Da mesma forma, a NR-9 dispõe sobre a segurança, nos seguintes termos: 
9.1.Do objetivo e campo de aplicação 
9.1.1 Esta Norma Regulamentadora – NR- estabelece a obrigatoriedade da 
elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições 
que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de 
Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade 
dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e 
consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que 
venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção 
do meio ambiente e dos recursos naturais. 
 
Para cumprir as normas concernentes à segurança do trabalho, foi instituída a 
NR-4, em virtude do art. 200 da CLT, que criou os Serviços Especializados em 
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), composto esse órgão por 
 
11 GENEBRA, Organização Internacional do Trabalho.Convenção nº 187. Disponível em 
<http://www.gso.org.br/files/file_id266.pdf > Acesso em: 30 abr. 2015. 
12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 711. 
 
14 
 
 
profissionais ligados à saúde e segurança do trabalho, possuindo função preventiva e 
educativa. Sua dimensão depende da gradação do risco da atividade laboral e do 
número total de empregados existentes no estabelecimento. 
 O art. 163 da lei consolidada também obriga a constituição de uma Comissão 
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), regulada através da NR nº 5, que deve ser 
instituída em empresas que tenham número igual ou superior a cinquenta (50) 
empregados. A CIPA tem por objetivo observar e relatar as condições de risco, nos 
ambientes de trabalho, e solicitar as medidas para reduzir ou eliminar os riscos 
existentes, discutindo os acidentes ocorridos e solicitando medidas que os previnam, 
assim como orientando os trabalhadores quanto a sua prevenção. É composta por 
representantes da empresa e dos empregados, com mandato de um ano, permitida a 
reeleição, porém, os representantes dos empregadores não poderão ser eleitos por 
mais de duas vezes consecutivas. 
A CIPA não poderá ter seu número de representantes reduzido, nem ser 
desativada antes do término do mandato de seus membros, ainda que haja 
redução do número de empregados da empresa ou reclassificação de risco, 
salvo em caso de encerramento da atividade do estabelecimento.13 
Os membros da CIPA, por força do art. 165 da CLT, não poderão sofrer 
despedida arbitrária, salvo em casos econômicos, financeiros, técnicos ou disciplinares. 
Ou seja, os empregados eleitos para a Comissão têm estabilidade no emprego, desde o 
registro da candidatura até 1(um) ano após o final de seu mandato, com determinação 
do art. 10, inciso II, alínea ‘a’ do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
(ADCT). 
Entre as obrigações cabíveis à empresa, prevê o art. 157 da Consolidação das 
Leis do Trabalho: 
[...] 
I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; 
II – instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções 
a tomar no sentido de evitar acidentes de trabalho ou doenças profissionais; 
III – adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelo órgão regional 
competente; 
IV – facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. 
 
Os empregados deverão observar as normas de segurança e medicina de 
trabalho, inclusive as instruções ou ordens de serviços, quanto às precauções no local 
 
13 MARTINS, Sérgio Pinto. op. cit. p. 715. 
 
15 
 
 
de trabalho. Inclusive, considera-se falta grave do empregado quando este não observa 
as instruções do empregador e também quando não usa os Equipamentos de Proteção 
Individual que lhe são fornecidos pela empresa, culminando com a interdição do 
estabelecimento ou equipamento. Conforme preconiza o artigo 166: 
Art. 166. A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, 
equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de 
conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não 
ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos 
empregados. 
 
Tal obrigação também está incorporada à NR-6, que dispõe sobre os 
Equipamentos de Proteção Individual. As Delegacias do Trabalho apontadas no art. 156 
da CLT deverão promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança e 
medicina do trabalho nas empresas, adotando as medidas necessárias, determinando 
obras e reparos que, em qualquer local de trabalho, sejam exigíveis e impondo as 
penalidades pelo descumprimento de tais regras. 
A importância e a tutela da saúde, vem disposta no artigo 168 da CLT: 
Art. 168. Será obrigatório exame médico, por conta doempregador, nas 
condições estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a serem 
expedidas pelo Ministério do Trabalho: 
I – na admissão; 
II - na demissão; 
III – periodicamente. 
§ 1º O Ministério do Trabalho baixará instruções relativas aos casos em que 
serão exigíveis exames: 
a) por ocasião de demissão; 
b) complementares. 
§ 2º Outros exames complementares poderão ser exigidos, a critério médico, 
para apuração da capacidade ou aptidão física e mental do empregado para a 
função que deva exercer. 
§ 3º O Ministério do Trabalho estabelecerá, de acordo com o risco da atividade 
e o tempo de exposição, a periodicidade dos exames médicos. 
§ 4º O empregador manterá, no estabelecimento, o material necessário à 
prestação de primeiros socorros médicos, de acordo com o risco da atividade. 
§ 5º O resultado dos exames médicos, inclusive o exame complementar, será 
comunidade ao trabalhador, observados os preceitos da ética médica. 
Constatada doença profissional ou produzida em virtude de condições especiais 
do trabalho, ou se dela se suspeitar, a empresa deverá encaminhar o empregado 
imediatamente ao Instituto Nacional da Seguro Social (INSS). 
O art. 20, da Lei nº 8.213/91 dispõe sobre os Planos de Benefícios da 
Previdência Social e conceitua acidente de trabalho e as doenças advindas da seguinte 
16 
 
 
forma: 
Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as 
seguintes entidades mórbidas: 
I- Doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo 
exercício do trabalho peculiar à determinada atividade e constante da respectiva 
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social; 
II- Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em 
função das condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se 
relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. 
 
A doença profissional é aquela característica de determinada profissão ou 
atividade, já a doença de trabalho resulta de condições especiais em que o trabalho é 
desenvolvido e com ele se relaciona. Em ambos os casos, a legislação brasileira exige 
que as doenças constatadas se encontrem previstas na relação elaborada pelo 
Ministério do Trabalho e Previdência Social, conforme o artigo acima citação, incisos I e 
II. Porém, diante da dificuldade em elencar todas as doenças profissionais ou do 
trabalho, dispõe os parágrafos 1º e 2º do referido artigo 20: 
 [...] 
§ 1 Não são consideradas como doença do trabalho: 
a) Doença degenerativa; 
b) Inerente a grupo etário; 
c) A que não produza incapacidade laborativa; 
d) A doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela 
se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato 
direto determinado pela natureza do trabalho. 
§ 2 Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação 
prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que 
o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social 
deve considerá-la acidente do trabalho. 
Ambas as doenças ocasionam a interrupção temporária da prestação do 
trabalho, restando ao empregador pagar a remuneração relativa aos 15 (quinze) 
primeiros dias após o afastamento do trabalhador. O empregador arcará com os gastos 
referentes a medicamentos, próteses e tratamentos médicos. Após o 16º (décimo sexto) 
dia, o empregado segurado passa a receber o auxílio-doença da Previdência Social e o 
empregador continua depositando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço daquele. 
Além da responsabilidade indenizatória, o acidente de trabalho pode gerar 
estabilidade acidentária, prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/91, que dispõe: 
Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo 
mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, 
após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de 
percepção de auxílio-acidente. 
17 
 
 
O segurado que sofreu acidente ou doença ocupacional passa a ter direitos 
perante o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Primeiramente, o auxílio-doença 
pago ao empregado diretamente pela Previdência Social, corresponde a 91% do 
salário-benefício, estendendo-se durante o tempo em que o acidentado permanecer na 
condição de enfermo, conforme preconizado no artigo 59 e seguintes da Lei nº 
8.213/91. 
 Enquanto o auxílio-acidente previdenciário, visa ressarcir o empregado em 
razão do acidente ou da doença ocupacional que provoque a redução da sua 
capacidade laborativa, tendo cunho indenizatório. O valor corresponde a 50% do 
salário-benefício e se estende até à aposentadoria ou falecimento do segurado (art. 86 
e seguintes da referida Lei). 
Em se tratando de aposentadoria por invalidez, a sua concessão ao trabalhador 
depende do mesmo ser considerado incapaz de laborar e insuscetível de reabilitação 
(nos termos do art. 89 da Lei) para voltar a exercer suas atividades, 
independentemente, de estar ou não recebendo o auxílio-doença e perdurará enquanto 
permanecer nessa condição. 
Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar 
ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas 
portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação 
profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do 
contexto em que vive. 
 Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende: 
a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para 
locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser 
atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação e 
reabilitação social e profissional; 
b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso anterior, 
desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do 
beneficiário; 
c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário. 
 
Por fim, a pensão por morte derivada do acidente de trabalho, encontra-se 
regulada no artigo 74 da Lei nº 8.213/91: 
Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do 
segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: 
I – do óbito, quando requerida até trinta dias depois deste; 
II – do requerimento, quando requerida após o prazo previsto do inciso anterior; 
III – da decisão judicial, no caso de morte presumida. 
 
Diante dos direitos elencados pelo trabalhador que sofreu danos em razão de 
18 
 
 
doença profissional, doença do trabalho ou acidente de trabalho, o capítulo seguinte 
tratará da responsabilidade civil do empregador frente aos acidentes. 
19 
 
 
2 RESPONSABILIDADE CIVIL 
 A responsabilidade civil sofre constantes mudanças para sanar as necessidades 
da sociedade atual. Com o final da 2ª Guerra Mundial, desencadeou-se uma onda de 
cidadania, da dignidade da pessoa humana, com vista a levar em consideração o 
homem-pessoa, valores reforçados com a promulgação da Constituição Federal de 
1988. 
 
2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela 
desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar determinada 
pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida. Neste sentido, fala-se, 
respectivamente, em responsabilidade civil contratual ou negocial, e em 
responsabilidade civil extracontratual, também denominada responsabilidade civil 
aquiliana, diante da Lex Aquilia de Dammo, do final do século III a.C. Os parâmetros da 
responsabilidade civil extracontratual, vem afirmados por TARTUCE, citando Venosa 
“ao conferir à vítima de um dano injusto o direito de obter o pagamento de uma 
penalidade em dinheiro do seu causador (e não mais a retribuição do mesmo mal 
causado), independentemente de relação obrigacional preexistente”.14 
A Lei Aquiliana surgiu no Direito Romano,no momento em que a 
responsabilidade civil sem culpa era a regra, onde o causador do dano era punido com 
a pena de Talião (olho por olho, dente por dente) prevista na Lei das XII Tábuas. Surge, 
então, a necessidade de comprovação de culpa. Mais tarde, foi introduzido na 
interpretação da Lex Aquilia o intitulado “dammun injuria datum” que substituiu a multa 
fixada por uma pena proporcional ao dano causado. 
Nesse sentido, DIAS fala que 
[...] a indenização permanecia substituindo o caráter da pena, sendo que os 
textos relativos a ações de responsabilidade se espraiaram de tal forma que, 
em último grau do direito romano, já não mais faziam menção apenas aos 
danos materiais, mas também aos danos morais.15 
 A partir de então, a responsabilidade mediante culpa passou a ter regra em todo 
 
14 TARTUCE, Flávio (2014) apud VENOSA, Silvio de Salvo. p. 305. 
15 DIAS, José Aguiar. Da responsabilidade civil. vol. 2. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. p. 26. 
20 
 
 
o Direito, influenciando a legislação francesa, como o Código Civil de Napoleão, em 
1804 e, mais tarde, em 1916, o Código Civil brasileiro. 
 Em suma, o que a doutrina generalista da responsabilidade civil costuma 
sublinhar é a límpida separação entre a esfera do direito civil e penal, uma conquista 
dos ordenamentos modernos, como resultado de uma lenta, mas constante evolução, 
no curso da qual, progressivamente, se atenuou o caráter originariamente sancionatório 
da reação contra os fatos ilícitos.16 
 A responsabilidade civil é definida no Direito Civil como “obrigação de reparar 
danos que infringimos por nossa culpa e, em certos casos determinados pela lei; em 
direito penal, pela obrigação de suportar o castigo”.17 Todo aquele que está submetido a 
essa obrigação de reparar ou se sofrer a pena é responsável. Há, então, o acoplamento 
entre duas obrigações, a de agir em conformidade com a lei e a de reparar o dano ou 
cumprir a pena. 
 Conforme SILVA, a responsabilidade civil denomina-se: 
[...] dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja 
em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a prestação 
convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe são impostas. Onde 
quer, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não fazer alguma coisa, de 
ressarcir danos, de suportar sanções legais ou penalidades, há a 
responsabilidade, em virtude da qual se exige a satisfação ou o cumprimento da 
obrigação ou da sanção.18 
 A responsabilização está ligada a ideia de uma contraprestação, encargo e 
obrigação, porém, vale salientar que a obrigação é sempre um dever jurídico originário, 
ao passo que a responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, consequente à violação 
da obrigação. 
 Maria Helena Diniz afirma que o objeto da responsabilidade civil é, 
invariavelmente, uma prestação de ressarcimento por inexecução contratual, de forma 
mais ampla e consentânea com o Código Civil, poderia se dizer negocial e por lesão a 
direito subjetivo. Conforme a autora, o objeto da obrigação é uma prestação que não 
 
16 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 2: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. 9 ed. Rio de 
Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2014. p. 32. 
17 RICOEUR, Paul. O Justo 1: A justiça como regra moral e como instituição. São Paulo: Martins Fontes, 
2008. p.33. 
18 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico conciso. Rio de Janeiro. Forense, 2008. p. 642. 
 
21 
 
 
decorre de tal situação necessariamente, pois pode advir não apenas de um ilícito por 
natureza (teoria na culpa, na responsabilidade subjetiva) ou por resultado (teoria do 
risco, na responsabilidade objetiva), mas decorre de uma norma jurídica ou de negócio 
jurídico.19 
 Necessário conhecer a função da responsabilidade, pois garante o direito lesado 
e serve como sanção civil. Tal sanção atua como uma segurança jurídica, aplicando 
uma contraprestação ao causador do dano. 
Assim, LISBOA leciona que são duas as funções da responsabilidade civil, sendo 
elas: 
a) a de garantir o direito lesado, prevenindo-se a coletividade de novas 
violações que poderiam eventualmente ser realizadas pelo agente em desfavor 
de terceiros determinados ou não (titulares, portanto, dos interesses difusos e 
coletivos) e 
b) servir como sanção civil, decorrente da necessidade de segurança jurídica 
que a vítima possui, para o ressarcimento dos danos sofridos; a sanção decorre 
da ofensa à norma jurídica imputável ao agente causador do dano, e importa 
em compensação em favor da vítima lesada.20 
 Se o agente dos negócios e atos jurídicos, por ação ou omissão, pratica ato 
contra o Direito, com ou sem intenção manifesta de prejudicar, mas ocasiona prejuízo, 
dano a outrem, situa-se no campo dos atos ilícitos. O ato ilícito pode constituir-se de ato 
único, ou de série de atos ou de conduta ilícita. A ação ou omissão pode acarretar dano 
indenizável. Essa mesma conduta pode ser punível no campo penal.21 
No campo do Direito Civil, a conduta ilícita gera efeito exclusivamente reparatório 
na recomposição patrimonial. Significa, destarte, saber se o ato ilícito desencadeou 
dano a ser indenizado. 
Pondera Sérgio Cavalieri Filho que o ato ilícito, tal como o lícito, é também uma 
manifestação de vontade, uma conduta humana voluntária, só que contrária à 
ordem jurídica. Observa que, todavia, enquanto os atos jurídicos podem se 
restringir a meras declarações de vontade (...) o ato ilícito consistirá numa 
simples declaração de vontade. Importa dizer que ninguém pratica ato ilícito 
simplesmente porque promete a outrem causar-lhe um prejuízo.22 
 O Código Civil de 2002 traz, em seu artigo 186, o conceito de ato ilícito: Aquele 
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
 
19 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. 5 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2010 p. 256. 
20 Idem. 
21 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 14 ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 561. 
22 GONÇALVES, Carlos Roberto (2009) apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. p. 454. 
22 
 
 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 A infração à norma pode sofrer reprimenda penal, consistente em pena corporal 
ou multa, correlatamente a indenização civil ou tão somente indenização civil, caso a 
norma violada não tenha cunho penal. O artigo referido menciona tanto o dolo como a 
culpa, assim considerados no campo penal. Fala o dispositivo em “ação ou omissão 
voluntária”. O Código Penal define dolo como a situação em que o agente quer o 
resultado ou assume o risco de produzi-lo (art.18, I). (...) A culpa, vem estatuída da 
expressão negligência ou imprudência. O Código Penal, no artigo 18 acrescenta a 
imperícia. Na conduta culposa, há sempre ato voluntário determinante do resultado 
involuntário. O agente não prevê o resultado, mas há previsibilidade do evento, isto é, 
ele é objetivamente previsível. O agente, portanto, não prevê o resultado.23 
 Portanto, a responsabilidade civil denota uma conduta humana, o nexo causal, a 
culpa e o dano. 
[...] assim sendo, a conduta humana pode ser causada por uma ação (conduta 
positiva) ou omissão (conduta negativa) voluntária ou por negligência, 
imprudência ou imperícia, modelos jurídicos que caracterizam o dolo e a culpa, 
respectivamente. 24 
O agente é aquele que pratica a conduta, qualquer pessoa física ou jurídica, 
pode agir de forma a lesionar o interesse alheio, reputando-se assim, como sendo ato 
ilícito a conduta que contrariar o ordenamento jurídico. A responsabilidade decorrente 
de ato ilícito traz a ideia de culpa, ao mesmo tempo em que a responsabilidade sem 
culpa se baseia na teoria do risco criado. 
 Na esfera civil, a existência do dano é essencial para que haja deverde 
indenização e ressarcimento, como argumenta CAVALIERI FILHO: 
O ato ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera 
conduta; será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem dano 
pode haver responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil. 
Indenização sem dano importaria enriquecimento ilícito; enriquecimento sem 
causa para quem a recebesse e pena para quem a pagasse, porquanto o 
objetivo da indenização, sabemos todos, é reparar o prejuízo sofrido pela 
vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava antes da prática do ato 
ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda evidência, não haverá 
o que ressarcir. Daí a afirmação, comum a praticamente todos os autores, de 
 
23 VENOSA, Sílvio de Salvo. op. cit. p. 565. 
24 TARTUCE, Flávio. op. cit. p. 359. 
 
23 
 
 
que o dano é não somente o fato constitutivo, mas, também, determinante do 
dever de indenizar.25 
 Portanto, o dano é elemento essencial para obtenção de reparação, 
independente de se tratar de responsabilidade subjetiva ou objetiva. Existirá a 
obrigação de reparar o dano, seja ele moral ou material. 
No que se refere à indenização, esta deve ser fixada de acordo com o grau de 
culpa dos envolvidos, ou seja, segundo sua contribuição causal (artigos 944 e 945 do 
Código Civil26). 
Dessa forma, havendo dolo, por regra, deverá o agente pagar indenização 
integral, sem qualquer redução. Isso porque, em casos tais e na grande maioria das 
vezes, não se pode falar na culpa concorrente da vítima ou de terceiros, a gerar a 
redução por equidade da indenização. Por outro lado, se a vítima tiver concorrido 
culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta 
a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.27 
 É necessária a presença de alguns requisitos para que a indenização seja 
devida: a violação de interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa 
física ou jurídica. A violação de interesse jurídico patrimonial é aquela que causa 
diminuição ou destruição de um bem de valor econômico, também chamado de 
material; já o extrapatrimonial, chamado de moral, diz respeito a um bem que não tem 
caráter econômico e que não pode voltar ao estado anterior. Ou seja, são bens 
relacionados à pessoa humana, como o direito à vida, integridade moral, psíquica ou 
física. 
 FERNANDO NORONHA esclarece que: 
A reparação de todos os danos que não sejam suscetíveis de avaliação 
pecuniária obedece em regra ao princípio da satisfação compensatória: o 
quantitativo pecuniário a ser atribuído ao lesado nunca poderá ser equivalente a 
um ‘preço’, será o valor necessário para lhe proporcionar um lenitivo para o 
sofrimento afligido, ou uma compensação pela ofensa à vida ou a integridade 
 
25 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9 ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 
2008. p. 71. 
26 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz 
reduzir, equitativamente, a indenização. 
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada 
tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. 
27 TARTUCE, Flávio. op. cit. p. 362. 
24 
 
 
física.28 
 O dano patrimonial divide-se em lucros cessantes e danos emergentes. Dano 
emergente é aquele que se refere efetivamente ao que a vítima perdeu em razão da 
lesão, já o lucro cessante diz respeito ao que a vítima deixou de ganhar em decorrência 
do dano, ou seja, deixou de lucrar. Nesse sentido, o art. 402 do Código Civil prevê: 
Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao 
credor abrangem, além do ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de 
lucrar. 
Os lucros cessantes são também conhecidos pela teoria da perda de uma 
chance, assim, trata de um dano certo quanto à sua existência, porém no que concerne 
à sua delimitação, o que deve ser analisado no decorrer da instrução processual, à 
semelhança do que sucede com os demais prejuízos juridicamente possíveis.29 
Ou seja, a indenização baseia-se no lucro que, por razão do dano sofrido, a 
pessoa deixará de perceber. 
 O nexo de causalidade é a relação de causa e efeito entre a conduta praticada e 
o resultado. Para que se possa caracterizar a responsabilidade civil do agente, não 
basta que o mesmo tenha praticado uma conduta ilícita, e nem mesmo que a vítima 
tenha sofrido o dano. É imprescindível que o dano tenha sido causado pela conduta 
ilícita do agente e que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito30. 
 Em vista disso, o nexo de causalidade é pressuposto para qualquer espécie de 
responsabilidade civil. A quebra do vínculo causal, entre a conduta do agente e o dano 
sofrido pela vítima, importa na inexistência de responsabilidade civil da pessoa tida 
como causadora do dano. Conforme PABLO SANTOS 
[...] a culpa não é definida e nem conceituada na legislação pátria. A regra geral 
do Código Civil Brasileiro para caracterizar o ato ilícito, contida no artigo 186, 
estabelece que este somente se materialize se o comportamento for culposo. 
Neste artigo está presente a culpa lato sensu, que abrange tanto a dolo quanto 
a culpa, em sentido estrito. Por dolo entende-se, em síntese, a conduta 
intencional na qual o agente atua conscientemente de forma que deseja que 
ocorra o resultado antijurídico ou assume o risco de produzi-lo. Já na culpa 
stricto sensu não existe a intenção de lesar. A conduta é voluntária, mas o 
 
28 NORONHA, Fernando. Direito das Obrigações. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 569. 
29 LISBOA, Roberto Senise. op. cit. p. 284. 
30 SANTOS, Pablo de Paula Saul. Responsabilidade civil: origem e pressupostos gerais. Disponível em 
< http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11875> Acesso em: 30 
jun. 2015. 
25 
 
 
resultado alcançado não. O agente não deseja o resultado, mas acaba por 
atingi-lo ao agir sem o dever de cuidado. A inobservância do dever de cuidado 
revela-se pela imprudência, negligência ou imperícia.31 
Isto posto, na responsabilidade civil basta que no momento da conduta, o sujeito 
cause prejuízo intencional à vítima, no caso do dolo ou, ainda, causou prejuízo sem 
observância do dever de cuidado, no caso da culpa. Desta forma, o artigo 186 do 
Código Civil indica a culpa como sendo condição necessária para o ato ilícito e, 
consequentemente, da responsabilização. 
 
2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA 
 Os quatro pressupostos (conduta humana, o nexo causal, a culpa e o dano) se 
amoldam à teoria subjetiva da responsabilidade civil que provém da prática do ato 
ilícito. Entretanto, na teoria objetiva, sobejam banidos da obrigação de indenizar os 
pressupostos do ato ilícito e da culpa, concentrando-se a atenção dos civilistas nos 
pressupostos do risco da atividade, nexo causal e dano.32 
 A responsabilidade subjetiva é aquela baseada na culpa do agente, a vítima deve 
comprovar tal culpa para que então seja devida a indenização. Desta forma, não se 
pode responsabilizar o agente sem que haja culpa do mesmo. Nesse sentido, 
RODRIGUES ensina que: 
[...] se diz ser subjetiva a responsabilidade quando se inspira na ideia de culpa, 
e que de acordo com o entendimento clássico a concepção tradicional, a 
responsabilidade do agente causador do dano só se configura se agiu 
culposamente ou dolosamente. De modo que a prova da culpa do agente 
causador do dano é indispensável para que surja o dever de indenizar. A 
responsabilidade, no caso, é subjetiva, pois depende do comportamento do 
sujeito.33 
Entende-se, pois, que a responsabilidade do empregador depende da 
constatação de culpaou dolo para o efetivo dever de indenizar. No mesmo sentido, 
PEREIRA afirma: 
A essência da responsabilidade subjetiva vai assentar, fundamentalmente, na 
 
31 SANTOS, Pablo de Paula Saul. Responsabilidade civil: origem e pressupostos gerais. Disponível em 
< http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11875> Acesso em: 30 
jun. 2015. 
32 FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson; BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Curso de Direito 
Civil: Responsabilidade Civil. vol. 3. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 123. 
33 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. vol. 4. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 11. 
26 
 
 
pesquisa ou indagação de como o comportamento contribui para o prejuízo 
sofrido pela vítima. Assim procedendo, não considera apto a gerar o efeito 
ressarcitório um fato humano qualquer. Somente será gerador daquele efeito 
uma determinada conduta, que a ordem jurídica reveste de certos requisitos ou 
de certas características. Assim considerando, a teoria da responsabilidade 
subjetiva erige em pressuposto da obrigação de indenizar, ou de reparar o 
dano, o comportamento culposo do agente, ou simplesmente a culpa, 
abrangendo no seu contexto a culpa propriamente dita e o dolo do agente.34 
 Portanto, deve-se observar, inicialmente, se houve descumprimento de norma 
legal por parte do empregador, criando o nexo de causalidade e, então, é criada a 
presunção de culpa. O agente, ao descumprir uma norma legal, ou seja, ao cometer ato 
ilícito, como já visto, age com dolo (imperícia) ou culpa (imprudência ou negligência), 
características da responsabilidade subjetiva previstas no caput do artigo 927 do 
Código Civil. Cabe, nesse momento, confrontar a Teoria do Risco, prevista no parágrafo 
único do mesmo artigo: 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem. 
 
A teoria do risco criado tem como fundamento o fato de que todo dano é 
indenizável e deve ser reparado, independentemente de culpa. Assim, não se faz 
necessária a prova de culpa do empregador, pois esta é estabelecida por lei. 
A responsabilidade civil desloca-se na noção de culpa para a ideia de risco, ora 
encarado como “risco- proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é 
reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade 
realizada em benefício do responsável; ora mais genericamente como “risco 
criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser 
alguém a suportá-lo.35 
 Segundo essa teoria, todo aquele que desempenha atividade cria risco de dano 
para terceiros, devendo reparar o dano, mesmo que o agente não tenha atuado com 
culpa. A obrigação de reparação é proveniente do risco do exercício que determinada 
atividade causa a terceiros, em função do proveito econômico auferido pelo agente 
causador. O fato do agente se beneficiar de sua atividade gera obrigação de suportar os 
 
34 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense,1990. p. 35. 
35 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 22. 
27 
 
 
danos que, porventura, outros sofram por sua atividade.36 
O dever de ressarcir do agente decorre do risco inerente à atividade exercida 
pelo empregado, constatado o nexo de causalidade entre tal atividade e o dano sofrido. 
Sempre que houver risco à vida, à saúde ou à segurança de pessoas que se 
utilizam da atividade do agente ou, ainda, de quem sequer delas se beneficia, poderá o 
juiz impor o dever de reparação do dano, justificando a desnecessidade da 
demonstração de culpa por causa da natureza da atividade exercida pelo réu.37 
A responsabilidade civil objetiva tem como finalidade reparar todo o dano 
causado em relação à atividade que, apesar de lícita, apresenta riscos à saúde e 
segurança do trabalhador. O empregador, então, deve assumir os riscos do contrato 
perante a sociedade. FACCHINI NETO pondera que 
[...] o fato é que a teoria da responsabilidade civil comporta tanto a culpa como 
o risco. Um como o outro devem ser encarados não propriamente como 
fundamentos da responsabilidade civil, mas sim como meros processos 
técnicos de que se pode lançar mão para assegurar às vítimas o direito à 
reparação dos danos injustamente sofridos. Onde a teoria subjetiva não puder 
explicar e basear o direito a indenização, deve-se socorrer da teoria objetiva. 
Isto porque, numa sociedade realmente justa, todo dano deve ser reparado.38 
 A aplicação do parágrafo único do artigo 927 não exclui a regra prevista na 
Constituição Federal, sendo possível a adoção das duas teorias. Porém, a tendência da 
legislação brasileira é, cada vez mais, afastar-se da ideia de culpa, ou seja, da 
responsabilidade subjetiva, pois há uma grande dificuldade na comprovação do ato 
culposo atribuído ao empregador. Desta forma, estende-se o conceito de 
responsabilidade até os atos lícitos que resultarem dano, atribuindo, assim, o dever de 
indenizar, independentemente da comprovação de culpa na conduta do agente 
causador. 
 
36SHALLKYTTON, Erasmo. Responsabilidade civil: subjetiva e objetiva. Disponível em < 
http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/2191012> Acesso em: 30 jun. 2015. 
37 LISBOA, Roberto Senise. op. cit. p.363. 
38 FACCHINI NETO, Eugênio. Da responsabilidade civil no novo Código. Porto Alegre: Liv. do 
Advogado, 2003. p.160. 
 
28 
 
 
3 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR FRENTE AO ACIDENTE DE 
TRABALHO 
 A Constituição Federal de 1988 preconiza a responsabilidade civil do 
empregador no ressarcimento dos danos originários de acidente de trabalho. Tal 
responsabilidade pode decorrer da culpa do empregador, seja por negligência, 
imprudência ou imperícia, denominada subjetiva ou, ainda, a obrigação de reparar o 
dano subsiste independente de culpa, ou seja, objetiva, baseada na Teoria do Risco 
Criado, como veremos neste capítulo. 
 
3.1 ACIDENTE DE TRABALHO E A RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR 
 O art. 19 da Lei 8.213, que dispõe sobre os benefícios da Previdência Social, traz 
o conceito de acidente de trabalho típico: 
Art. 19. Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço 
da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII 
do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que 
cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da 
capacidade para o trabalho. 
 Acidente de trabalho, portanto, é aquele que ocorre no exercício da atividade 
laboral ou a serviço da empresa. O artigo seguinte traz o conceito de acidente de 
trabalho atípico, como já visto, equiparando-se a este as seguintes entidades mórbidas: 
[...] 
I- Doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo 
exercício do trabalho peculiar à determinada atividade e constante da respectiva 
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social; 
II- Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em 
função das condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se 
relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. 
 
Não são consideradas doenças decorrentes do trabalho, as doenças 
degenerativas; as inerentes ao grupo etário; as que não produzam incapacidade 
laborativa e doenças endêmicas adquiridas por segurado habitante de região em que 
ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato 
direito determinado pela natureza do trabalho (§1º). 
Em casos excepcionais, constatando-se que a doença, não incluídana relação 
prevista nos incisos I e II deste artigo, resultou das condições especiais em que o 
29 
 
 
trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve 
considerá-la acidente do trabalho (§2º). 
Equiparam-se, também, ao acidente de trabalho, conforme o art. 21 da mesma 
lei: 
[...] 
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja 
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da 
sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica 
para a sua recuperação; 
II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em 
consequência de: 
a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou 
companheiro de trabalho; 
b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa 
relacionada ao trabalho; 
c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de 
companheiro de trabalho; 
d) ato de pessoa privada do uso da razão; 
e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de 
força maior; 
III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no 
exercício de sua atividade; 
IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de 
trabalho: 
 
Ou seja, aqueles acidentes ocorridos na execução de ordem ou na realização de 
serviço sob a autoridade da empresa, na prestação espontânea de qualquer serviço à 
empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito, em viagem a serviço da 
empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para 
melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção 
utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado e, ainda, no percurso da 
residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de 
locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. 
O parágrafo 1º deste artigo faz referência aos períodos destinados a refeição ou 
descanso, ou, para satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho 
ou durante este, na qual o empregado também é considerado no exercício do trabalho. 
Portanto, os incidentes que acontecerem em decorrência da atividade exercida 
não são os únicos considerados acidente de trabalho, pois os que ocorrerem no local 
de serviço, por uma ação externa ou de terceiro, ou também, aquele que acontece fora 
30 
 
 
do local de trabalho, mas em um momento que o empregado estava se locomovendo 
para chegar ao emprego ou para executar suas funções, também estão incluídos na 
legislação.39 
Faz-se aqui uma observação, o acidente in itinere é considerado como acidente 
do trabalho somente para fins previdenciários, não implicando em responsabilização 
civil do empregador em face da inexistência de culpa ou mesmo de nexo de 
causalidade entre as atividades desenvolvidas e o evento danoso. Tal observação está 
prevista no art. 21 IV, alínea “d” da Lei 8.213/91. 
A empresa, com previsão no art. 22 da Lei 8.213/91, deverá comunicar o 
acidente de trabalho à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil, seguinte ao do 
acidente e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de 
multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, 
sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência 
Social. 
[...] para a existência do acidente de trabalho, exista um nexo entre o trabalho e 
o efeito do acidente. Inexistindo essa relação de causa-efeito entre o acidente e 
o trabalho, não se poderá falar em acidente do trabalho. Mesmo que haja lesão, 
mas que esta não venha a deixar o segurado incapacitado para o trabalho, não 
haverá direito a qualquer prestação previdenciária.40 
O doutrinador explica que, para haver caracterização do acidente de trabalho, é 
necessário o nexo de causa entre a atividade exercida pela vítima e o dano sofrido por 
esta, caso contrário, não terá direito ao recebimento de qualquer prestação 
previdenciária. Conforme mencionado, os artigos 186 e 927 do Código Civil trazem a 
responsabilidade subjetiva e a objetiva, respectivamente, de indenização no caso de 
violação de direito e cometimento de ato ilícito que cause danos a outrem. Nesse 
sentido, DINIZ: 
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a 
reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por 
ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a 
ela pertencente ou de simples imposição legal.41 
 
39 SANTOS, Felipe do Prado. A saúde do trabalhador, o princípio da dignidade da pessoa humana e 
seus reflexos na Previdência Social. Disponível em 
<http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/Juridica/article/viewFile/2819/2598> p. 44. Acesso em: 30 
jun. 2015. 
40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 1999. p. 399. 
41 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 19 ed. São Paulo: 
31 
 
 
Em outras palavras, a responsabilidade civil é parte do direito obrigacional, sendo 
decorrente da violação de um dever jurídico ou de um direito. DELGADO afirma que: 
[...] é do empregador, evidentemente, a responsabilidade pelas indenizações 
por dano moral ou à imagem resultante de conduta ilícita por ele cometida ou 
por suas chefias, contra o empregado, sem relação com a infortunística do 
trabalho. (...) Do mesmo modo, não apenas a conduta ofensiva direta cometida 
pelo empregador poderá ser passível de responsabilização: também será do 
empregador a responsabilidade pelas indenizações por dano material, moral ou 
estético decorrentes de lesões vinculadas à infortunística do trabalho, sem 
prejuízo do pagamento pelo INSS do seguro social, é claro.42 
 
Para que a indenização seja devida, é necessária a verificação dos quatro 
elementos essenciais já analisados nesse trabalho: ação ou omissão, dano, nexo 
causal e culpa ou dolo do agente. Esses elementos constituem a responsabilidade 
subjetiva do empregador, na qual dependerá de culpa deste, seja porque não forneceu 
os equipamentos necessários para o exercício da atividade, ou porque não realização a 
manutenção dos mesmos, dentro outros motivos. Porém, devido à grande dificuldade 
da produção de provas, o art. 927, parágrafo único, do Código Civil de 2002 trouxe a 
ideia da responsabilidade objetiva, na qual independe de culpa “quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem”. 
Portanto, quem pratica determinada atividade perigosa, tirando proveito de um 
terceiro, responde pelos danos causados, independente de culpa. 
Com a inserção deste dispositivo legal, muitos juristas adotaram esta teoria. 
Assim, basta comprovar a existência do acidente do trabalho ou da doença 
ocupacional do empregado (dano) e a relação dessa com o trabalho por este 
desenvolvido (nexo causal) para ser o empregador obrigado, a indenizar o 
trabalhador, por esta teoria. Entretanto, deve-se ter em mente que mencionado 
artigo do Código Civil relacionou tal ideia ao elemento risco, explicitando que tal 
obrigação decorrerá quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor 
do dano implicar risco para os direitos de outrem. Deste modo, este elemento é 
imprescindível para tal teoria, que também é conhecida como teoria do risco.43 
 
Com a introdução do parágrafo único do artigo 927, basta relacionar a atividade 
exercida com o acidente de trabalho para que o empregador fique obrigado a prestar 
 
Saraiva, 2005. p. 35. 
42 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 8 ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 578 e 
579. 
43 MAGALHÃES, Leluana.A polêmica da responsabilidade civil do empregador no acidente do 
trabalho na visão da jurisprudência do TST. Disponível em 
<http://www.calvo.pro.br/media/file/colaboradores/leluana_magalhaes/leluana_magalhaes_responsabilida
de_civil.pdf> p. 5. Acesso em: 30 jun. 2015. 
32 
 
 
indenização ao trabalhador. O elemento essencial dessa teoria é o risco, segundo Caio 
Mário Pereira, citado por SCHIAVI 
O conceito de risco que melhor se adapta às condições de vida social é o que 
se fixa no fato de que, se alguém põe em funcionamento uma qualquer 
atividade, responde pelos eventos danosos que esta atividade gera para os 
indivíduos, independentemente de determinar se em cada caso, isoladamente, 
o dano é devido à imprudência, à negligência, a um erro de conduta (...).44 
 
Assim, a responsabilidade civil do empregador seria, em regra, objetiva, devido 
ao risco e à periculosidade da atividade exercida, somente podendo ser excluída em 
situações de caso fortuito ou força maior ou, ainda, no caso de culpa exclusiva da 
vítima. MELO defende essa teoria alegando que: 
O mais fundamental direito do homem, consagrado em todas as declarações 
internacionais, é o direito à vida, suporte para existência e gozo dos demais 
direitos humanos. Mas esse direito, conforme assegura a nossa Constituição 
Federal no art. 225, requer vida com qualidade e para que o trabalhador tenha 
vida com qualidade é necessário que se assegurem seus pilares básicos: 
trabalho decente em condições seguras e salubres. Daí porque assegura o art. 
1.º da Constituição Federal, como fundamentos da República Federativa do 
Brasil e do Estado Democrático de Direito, a cidadania, a dignidade da pessoa 
humana e os valores sociais do trabalho, entre outros.45 
 
O ordenamento jurídico deve fundar-se na valorização do trabalho humano, 
assegurando condições dignas no ambiente laboral. 
[...] A doutrina costuma apresentar as mais equívocas compreensões dos dois 
fenômenos. Ambas as figuras se equivalem, na prática, para afastar o nexo 
causal. Para alguns autores, o caso fortuito se ligaria aos critérios da 
imprevisibilidade e irresistibilidade. Assim, o caso fortuito seria aquela situação 
normalmente imprevisível, fato da natureza ou fato humano a que não se 
poderia resistir, ainda que possível previr sua ocorrência.46 
 
 
44 SCHIAVI, Mauro. apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Aspectos polêmicos do acidente do 
trabalho: responsabilidade objetiva do empregador pela reparação dos danos causados ao empregado. 
Prescrição. Disponível em 
http://www.calvo.pro.br/media/file/colaboradores/mauro_schiavi/mauro_schiavi_aspectos_polemicos_acid
ente_trabalho.pdf> p.5. Acesso em: 30 jun. 2015. 
45 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: 
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético. São Paulo: LTr, 2004. p. 37 
46 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 57. 
 
33 
 
 
Atribui-se, geralmente, ao caso fortuito, os eventos imprevisíveis, ligados a fato 
humano e os casos de força maior, seriam os eventos irresistíveis da natureza, como as 
enchentes. Preconiza o artigo 393 do Código Civil: 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito 
ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato 
necessário, cujos efeitos não eram possíveis evitar ou impedir. 
Para a configuração de ambos, excluem-se a responsabilidade civil por quebra 
do nexo causal, salvo se havia responsabilização expressa em contrato para tal 
situação específica. 
Diante do exposto, confere-se validade ao artigo 927, parágrafo único, do Código 
Civil, nos acidentes de trabalho, pois o inciso XXVIII do art. 7º da Constituição Federal 
deve ser interpretado em harmonia com o caput deste. Não há dúvida de que a garantia 
de ressarcimento pelos danos sofridos acha respaldo na responsabilidade sem culpa, 
naquelas atividades desenvolvidas que expõem o trabalhador a um risco considerado 
anormal. 
A partir das noções sobre a responsabilidade, suas espécies e efeitos, serão 
analisadas as jurisprudências dos Tribunais Regional do Trabalho da 4ª Região e do 
Superior do Trabalho, acerca do assunto proposto. 
 
3.2 JURISPRUDÊNCIAS DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO E DO TRIBUNAL 
REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO 
EMPREGADOR NOS CASOS DE ACIDENTE DE TRABALHO 
 Com o advento da Constituição de 1988, o país foi colocado em patamar 
avançado de tratamento do problema dos danos sofridos no trabalho, relacionados à 
doença ocupacional e ao acidente do trabalho. Isso porque tanto a higidez, física como 
a mental, inclusive a emocional do ser humano, são bens fundamentais de sua vida, 
privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação social e, nesta 
medida, também de sua honra. São bens, portanto, inquestionavelmente tutelados, 
regra geral, pela Constituição (art. 5º, V e X). Agredidos em face de circunstâncias 
laborativas, passam a merecer tutela, ainda mais forte e específica, da Constituição 
34 
 
 
Federal que se agrega à genérica anterior (art. 7º, XXVIII, CF/88).47 
 Nesse sentido, o julgamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
 
Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DO TRABALHO. 1. 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. DIREITO DE DEFESA. 
CERCEAMENTO. INOCORRÊNCIA. O direito à ampla defesa não é absoluto, 
cabendo ao juiz indeferir as provas inúteis ou protelatórias. Princípio da 
utilidade da prova, cuja justificativa incumbe à parte que a requerer. 2. MORTE 
DE TRABALHADOR. CULPA DA EMPREGADORA ESTABELECIDA. Incumbe 
ao empregador oferecer as condições de segurança à atividade do empregado, 
fiscalizar a execução dos serviços dentro dos padrões de segurança 
necessários e formalizar adequado treinamento visando à prevenção de 
acidentes. Operário morto por eletropressão ao realizar manutenção de linha de 
transmissão de energia elétrica. Condição insegura de trabalho. Deficiência de 
treinamento e supervisão. Responsabilidade exclusiva da empregadora pelo 
acidente. (Apelação Cível Nº 70047263017, Décima Câmara Cível, Tribunal de 
Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 
28/11/2013).48 
 
O empregador, ao não realizar o fornecimento e a manutenção dos 
equipamentos, visando a segurança e a saúde do trabalhador, assume os riscos da 
atividade e será responsável civilmente independente de prova de culpa. Considerando 
tais argumentos, o Tribunal Superior do Trabalho também decidiu pela 
responsabilização objetiva do empregador no caso do Embargo em Recurso de Revista 
nº TST-E-RR-367600-35.2006.5.12.0053: 
RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI Nº 11.496/2007. RECURSO 
DE REVISTA. EXPLORAÇÃO DE MINAS DE SUBSOLO DE CARVÃO. 
PNEUMOCONIOSE. I NDENIZAÇÃO POR DANO MORAL DECORRENTE DE 
DOENÇA PROFISSIONAL. APLICAÇÃO DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE 
OBJETIVA. INFORTÚNIO ANTERIOR À VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 
2002. POSSIBILIDADE. Quando a atividade desenvolvida pelo empregador 
pressupõe a existência de risco potencial à integridade física e psíquica do 
trabalhador, é possível aplicar a teoria da responsabilidade objetiva, inclusive 
quando o infortúnio (acidente de trabalho ou doença ocupacional) tiver ocorrido 
antes da vigência do Código Civil de 2002, diploma legal que reconheceu 
expressamente tal teoria (parágrafo único do artigo 927), porque, mesmo antes 
do seu advento, já se sedimentava a responsabilização por culpa presumida e a 
inversão do ônus da prova ao causador do dano em atividades de risco. 
Recurso de embargos conhecido e não provido.49 
 
47 BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista RR 206006020055050371 20600-
60.2005.5.05.0371. Disponível em < http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23048458/recurso-de-

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