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teorico A Geopolítica do Brasil no período democrático

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Geopolítica Geral e 
do Brasil
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Flávio Silva
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
A Geopolítica do Brasil no período democrático
5
• Introdução
• A geopolítica do Brasil no governo FHC
• A geopolítica do Brasil no governo Lula
• A geopolítica do Brasil no governo Dilma
• O BRASIL e os BRICS
Esta unidade de Geopolítica tem o objetivo de destacar a geopolítica do Brasil 
após o final dos governos militares, considerando as questões regionais através 
da mediação de conflitos, da formação e participação de blocos regionais e/ou 
econômicos, entre outros fatores. Também analisaremos os desdobramentos do 
processo de redemocratização e as relações de poder no período atual.
É importante que você leia todo o material teórico com atenção e assista às videoaulas para 
que possa construir conhecimentos acerca do tema.
Ao final, as referências bibliográficas poderão ser utilizadas, caso queira, para que você se 
aprofunde no tema.
Lembre-se também de que esta disciplina faz parte da grade curricular do seu curso; portanto, 
é importante ao seu processo de formação.
A Geopolítica do Brasil no período 
democrático
6
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
Contextualização
Brasil e polos emergentes do poder mundial: Rússia, Índia, China e África do 
Sul – os BRICS
Uma das mudanças geopolíticas mais significativas em anos recentes foi a 
emergência no cenário mundial de novos Estados relevantes nos planos global e 
regional. Não existe definição consensual entre os especialistas – as variações de 
nomenclatura incluem “potências médias”, “países intermediários”, “potências 
regionais” e “emergentes”. Também são variados os critérios sugeridos para a 
classificação desta categoria de países, tais como:
a) capacidades materiais suficientes que os diferencie dos demais países em 
desenvolvimento na estratificação internacional; 
b) especificidades com relação ao desempenho de um papel diferenciado no 
sistema internacional, em especial a utilização de estratégias internacionais 
pró-ativas nos planos multilateral e regional; e 
c) indicadores de autopercepção e de reconhecimento dos demais.
Uma questão relevante, e na qual existe razoável variação entre os 
emergentes, é até que ponto o reconhecimento global depende do regional. 
Para alguns autores, a legitimidade e o reconhecimento no plano regional é 
imprescindível para alcançar projeção internacional, uma vez que as potências 
tendem a valorizar a contribuição dos emergentes para a estabilidade regional. 
No entanto, esta delegação de responsabilidade pode soar como nova forma 
de subimperialismo, acarretando a perda de legitimidade e o temor, entre os 
vizinhos, de pretensões hegemônicas no plano regional. Como quer que seja, 
existe enorme variação entre os países emergentes no que diz respeito a sua 
projeção regional.
(Fonte: Baumann, Renato (org). O Brasil e os demais BRICs – Comércio e Política. Brasília, DF: CEPAL. 
Escritório no Brasil / IPEA, 2010, p. 155-156.)
7
Introdução
Durante a década de 1980, o Brasil conheceu mudanças sociais e constitucionais. No 
entanto, apresentou resultados econômicos insatisfatórios, quando comparado a outros países. 
Na década de 1990, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o país 
conheceu um novo processo de formatação do Estado através do neoliberalismo, processo 
este formatado pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, além do ingresso de sua população em 
programas sociais e em um cenário de estabilização econômica. 
No campo da defesa e da segurança nacional, o Brasil passou a ser signatário de acordos 
internacionais inerentes a armas nucleares e mísseis de longo alcance, que, segundo o governo 
da época, seria uma exigência da comunidade internacional, a fim de que o país pudesse ter 
acesso às tecnologias disponíveis no exterior. 
Na geopolítica das nações, não há lugar para alianças baseadas 
apenas em médias estatísticas, semelhanças sociológicas ou 
analogias históricas. E as coincidências ideológicas só operam 
com eficácia quando coincidem com as necessidades dos países, 
do ponto de vista do seu desenvolvimento e de sua segurança. 
(FIORI, 2007.)
Nessa linha de raciocínio, pode-se observar que, em decorrência de estarem geograficamente 
próximos aos Estados Unidos, os países da América Latina acabam por sofrer influência nos 
mais diversos aspectos. Uma dessas situações pode ser exemplificada com a criação do Nafta 
(Tratado Norte-Americano de Livre Comércio) em 1994, em que participam EUA e Canadá 
(com economias desenvolvidas) e México (com custos dos produtos bem menos elevados). 
O Brasil, por sua vez, assinou em 1986 com a Argentina um tratado que estabelecia as 
bases para criação de um mercado comum, o Mercosul (Mercado do Cone Sul), tendo aderido 
a este, em 1996, o Paraguai e o Uruguai. 
No entanto, o desenvolvimento da integração entre os países, no caso do Mercosul, acaba 
por esbarrar em vários obstáculos:
[...] a tendência latino-americana de fragmentação [...]; as 
rivalidades tradicionais entre os diversos Estados [...]; o desnível de 
desenvolvimento industrial e econômico entre os diversos países; as 
diferenças dentre salários mínimos internacionais; a concorrência 
entre produtos de países diversos; a instabilidade política que 
caracteriza vários países [...]; a pressão feita pelos Estados Unidos 
sobre os países latino-americanos, visando exercer um controle 
político e econômico sobre eles. (KUNZLER; MACIEL, 1995.)
8
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
Como se não bastassem os obstáculos ao processo de integração da região, tem-se ainda a 
proibição, pelo Mercosul, de que seus membros (chamados de “Estados Parte”) participem de 
outras associações, situação esta, por exemplo, que inviabiliza a participação do Chile como 
Estado Parte, já que tem um acordo com o México. A Venezuela integrou-se ao bloco em 
2012, e a Bolívia está em processo de integração. Os Estados Unidos, no entanto, através 
da criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), poderá desestabilizar os demais 
blocos regionais.
O tema Mercosul/Alca é um ponto de desacordo entre o Brasil e os EUA, em decorrência 
da divergência dos interesses econômicos, políticos e estratégicos que os envolvem. Já 
à época do Governo Sarney, houve parecer contrário à participação do Brasil, ou do 
Mercosul, na Alca: 
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que fora um dos 
encarregados das negociações dos acordos de integração Brasil-
Argentina, em 1986/1987, [...], denunciou a ALCA como parte 
da estratégia de manutenção da hegemonia política e econômica 
dos Estados Unidos, “que realizariam seu desígnio histórico de 
incorporação subordinada da América Latina a seu território 
econômico e a sua área de influência político-militar”, e insistiu 
em que o governo brasileiro devia abandonar os acordos para 
sua implementação. “A ALCA levará ao desaparecimento do 
Mercosul” – advertiu. (BANDEIRA, 2009, p. 82.)
A geopolítica do Brasil no governo FHC
Os interesses geopolíticos norte-americanos esbarram frontalmente com os interesses 
brasileiros. Um fato que comprova tal situação ocorreu em 2001, quando o presidente 
Fernando Henrique Cardoso (FHC) declarou que o “Mercosul é mais que um mercado, 
o Mercosul é, para o Brasil, um destino” e que a ALCA seria uma opção. Tal situação 
provocou reação imediata dos Estados Unidos, através do seu diplomata Henry Kissinger, 
que afirmou que o Mercosul estava trilhando as mesmas tendências da União Europeia, 
que buscava uma manifesta oposição aos Estados Unidos.
Em 2002, foi aprovado o “Consenso de Guayaquil sobre Integração, Segurança e 
Infraestrutura para o Desenvolvimento”, que tem como objetivo a manutenção de uma 
política permanente de cooperação entre os países da América do Sul, além de uma 
convivência pacífica. Nessa ocasião, o Brasil exercia a liderança no continente, com a 
aceitação pelos demais governoslocais, em decorrência ao reconhecimento de seu peso 
político, econômico e estratégico.
O Brasil também exerceu a liderança no processo de paz entre o Equador e o Peru, em 
1995, através da mediação do presidente Fernando Henrique Cardoso, após a ocorrência de 
combates esporádicos pelo controle da fronteira em torno do rio Cenepa, com a ratificação, 
pelas partes, do acordo realizado em 1942, no Rio de Janeiro. Nesse contexto, o exército 
brasileiro liderou a fiscalização local para o cumprimento do acordo entre os dois países.
9
Figura 1. Área de conflito entre o Equador e o Peru.
Fonte: The University of Texas at Austin/Wikimedia Commons
Em abril de 1996, instalou-se uma crise política no Paraguai em decorrência ao veto, por 
parlamentares ligados ao general Lino Oviedo, ao projeto de construção de uma segunda ponte 
entre o Brasil e o Paraguai. O presidente paraguaio à época, Wasmosy, dedicou-se a passar 
Oviedo para a reserva; no entanto, este ameaçou resistir a qualquer custo. Os embaixadores 
do Mercosul (Brasil, Argentina e Paraguai), dos EUA e o secretário executivo da Organização 
dos Estados Americanos (OEA) negociaram um acordo, sob o risco de o Paraguai sofrer um 
isolamento político e econômico, além do congelamento de sua participação no Mercosul. O 
resultado foi a manutenção da legalidade constitucional paraguaia e o pedido voluntário do 
general Oviedo de passar para a reserva.
10
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
Figura 2. Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Fonte: iStock/Getty Images
As desavenças internas no Paraguai, no entanto, não cessaram, já que, em 1999, o candidato 
à presidência daquele país, Luís Carlos Argaña, que se opusera à libertação do general Oviedo 
e o principal adversário do presidente Raúl Cubas, foi assassinado. Tal situação resultou em 
uma grave crise política interna, tendo os chefes de governo do Brasil e da Argentina que 
intervirem, com a ameaça de isolar o Paraguai econômica e politicamente e afastá-lo do 
Mercosul, em conformidade com a cláusula democrática do Tratado de Assunção, caso um 
golpe de Estado se consumasse. Raúl Cubas ouviu diretamente Fernando Henrique Cardoso, 
que o aconselhou a renunciar à presidência antes que a crise se agravasse e produzisse uma 
situação de ilegalidade. Concluindo que não tinha condições de resistência, já que o Brasil 
absorvia cerca de 30% das exportações dos produtos paraguaios, como algodão e soja, e essa 
dependência chegava a atingir 70%, considerando o total estimado de suas reexportações, 
Cubas, em março de 1999, renunciou à presidência do Paraguai e asilou-se no Brasil, depois 
de Oviedo partir para a Argentina, após o presidente Carlos Ménem lhe dar refúgio. 
Outro ponto de conflito na América do Sul era a guerra civil na Colômbia, que preocupava 
o Brasil devido à possibilidade de uma intervenção militar articulada pelos Estados Unidos, em 
2000, chamada de Plano Colômbia, e que consistia em bombardear as regiões dominadas pelas 
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de Libertação Nacional 
(ELN), juntamente com a dispersão de agentes biológicos sobre as plantações de coca, já que 
uma intervenção por terra nas províncias de Caquetá e Putumayo, localizadas na Amazônia 
colombiana, resultaria em muitas perdas de vidas.
11
Figura 3. Zonas de Influência das FARC e ELN na Colômbia.
Fonte: donolito.files.wordpress.com
O governo brasileiro considerava que uma operação militar como a proposta pelos Estados 
Unidos não resolveria a crise, tendo se recusado a permitir a utilização de qualquer base ou 
outras instalações militares em seu território para operações na Colômbia. Essa posição não 
significava qualquer apoio às FARC e ao ELN, mas sim o entendimento de que não se poderia 
vincular a necessidade de combater às drogas com o problema da insurgência, que era da 
competência interna da Colômbia e que deveria ser politicamente resolvido.
A partir do final da década de 1990, as relações entre Brasil e Venezuela, onde Hugo 
Chávez havia chegado ao governo, estreitaram-se. Na Cúpula das Américas, realizada em 
Quebec entre 20 e 22 de abril daquele ano, Chávez alinhou-se com FHC nas críticas à ALCA 
e compareceu à reunião da Cúpula do Mercosul, realizada em Assunção, em 21 e 22 de 
junho, aproveitando para formalizar o pedido de ingresso da Venezuela no bloco.
12
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
Figura 4. Brasil e Venezuela.
Fonte: iStock/Getty Images
Em 2002, a Venezuela passou a enfrentar dificuldades políticas, fomentadas pela CIA 
(Agência Central de Inteligência), DIA (Agência de Inteligência de Defesa), entre outras, todas 
ligadas ao governo norte-americano. Em abril de 2002, generais do exército venezuelano 
prenderam Chávez, anunciando sua renúncia à presidência da República. Pedro Carmona 
Estanca, presidente da Fedecámaras, assumiu o governo da Venezuela, com o apoio dos 
meios de comunicação e o respaldo discreto do presidente americano George W. Bush. A fim 
de tornar essa transição legal, já que a Carta Democrática Interamericana condenava qualquer 
ruptura da legalidade, o Departamento de Estado norte-americano solicitou que a transição 
conservasse as formas constitucionais venezuelanas, ou seja, que a Assembleia Nacional e a 
Corte Suprema aprovassem a renúncia de Chávez e que novas eleições, com observadores 
da OEA, fossem convocadas para dentro de um prazo aceitável. A manobra, no entanto, 
fracassou, já que as camadas mais pobres da população, favoráveis a Chávez, ocupavam as 
ruas de Caracas, promovendo agitação, tanto pela capital quanto por outras cidades do país. 
Além disso, o Grupo do Rio, que realizava em Costa Rica a XVI Cimeira presidencial, 
reprovou prontamente a ruptura da ordem constitucional na Venezuela e solicitou ao secretário-
geral da OEA a convocação urgente do Conselho Permanente, tendo a questão sido levantada 
primeiramente pelo Brasil, e a aprovação, pelos Embaixadores na OEA, de uma resolução 
em que condenaram “a alteração da ordem constitucional na Venezuela”, após a atitude de 
todos os demais Estados da região, inclusive México e Canadá, de repudiar o golpe contra o 
governo de Hugo Chávez, tendo a delegação dos EUA subscrito a moção da OEA somente 
após Chávez ter voltado ao poder.
No início da década de 2000, a situação agravou-se em quase todos os países da América 
do Sul, com o fracasso do processo de paz na Colômbia, em que os Estados Unidos 
aprofundaram sua intervenção na luta contra as FARC, não exatamente para combater o 
13
grupo guerrilheiro ou o narcotráfico, mas a fim de garantir o fluxo do petróleo, que saía de 
lá e do Equador. A Argentina entrou em colapso financeiro, além de uma convulsão social 
e de uma crise política tão profunda que levou Fernando Henrique Cardoso a advertir o 
presidente George W. Bush sobre o perigo de uma ruptura institucional, caso o governo 
argentino não recebesse ajuda internacional. 
O Equador também se submeteu à instabilidade política interna em decorrência aos 
indígenas, em fevereiro de 2002, que anunciaram que realizariam novas manifestações de 
massa em Quito, contra as privatizações promovidas pelo governo. 
A geopolítica do Brasil no governo Lula
A fim de promover a estabilidade na Venezuela, o Brasil teve uma atuação ainda mais 
decisiva, em dezembro de 2002, quando o governo FHC, com o respaldo do presidente 
eleito Luiz Inácio Lula da Silva (2003 - 2010), decidiu vender ao governo venezuelano um 
navio petroleiro com 82 milhões de litros de combustível para enfrentar o desabastecimento 
provocado pela greve dos trabalhadores da Petróleo de Venezuela SA (PdVSA), evitando, 
assim, sua desestabilização, apesar das críticas por parte da oposição venezuelana em relação 
à iniciativa do Brasil. 
O Brasil, que tinha investimentos na Venezuela, e portanto interesses econômicos, 
políticos e estratégicos, não poderia permitir a desestabilização do governo. Assim sendo, 
para intermediar uma soluçãopacífica para a crise, o presidente Lula enviou seu assessor 
de Assuntos internacionais, que em conjunto com a participação dos Estados Unidos e da 
Espanha, sob a coordenação do secretário-geral da OEA, intermediou uma solução pacífica, 
legal e constitucional para o impasse que perdurava há vários meses.
O presidente Lula, desde o início do seu mandato, demonstrou que sua política exterior 
trataria de enfatizar a parceria estratégica com a Venezuela e aprofundar os vínculos com a 
Argentina, o principal sócio do Brasil no Mercosul, além da integração da América do Sul 
ser sua prioridade. Seu governo entendia que a base econômica, além da política, deveria 
fortalecer a liderança do Brasil na América do Sul e que ela exigia o aumento das parcerias 
comerciais, em um comércio regional mais equilibrado.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abriu uma linha 
de crédito para financiar a venda ao mercado brasileiro de máquinas, componentes e peças 
fabricadas no Mercosul, em especial na Argentina, ao mesmo tempo em que se previa dar 
tratamento semelhante aos do produto nacional nos financiamentos de bens de capital fabricados 
na Argentina, Uruguai e Paraguai. O BNDES também financiou a ampliação de um gasoduto na 
Argentina, ampliando a capacidade de transporte de gás natural da Companhia de Investimentos 
de Energia (Ciesa), ligada à filial da Petrobrás, para a região da Grande Buenos Aires.
Em relação à Venezuela, o governo brasileiro aprofundou a parceria, principalmente na 
área energética, com a assinatura, entre a Petrobrás e a PdVSA, de 15 acordos, que incluíam, 
entre outros projetos, a exploração de gás e a extração de petróleo pesado, pela indústria 
brasileira, na região do rio Orinoco, e a construção de uma nova refinaria no Brasil. Com 
14
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
a entrada da Petrobrás na exploração de gás na Venezuela, houve a quebra do monopólio 
exercido pelas empresas dos Estados Unidos e da Europa.
O governo do presidente Lula deu continuidade ao projeto de integração física e energética, 
elaborado no governo de FHC, com a ampliação da participação do BNDES. 
O Brasil deu total ênfase ao projeto de formação de uma Comunidade Sul-Americana de 
Nações, criada na Terceira Reunião dos Presidentes da América do Sul, ocorrida em dezembro 
de 2004, na cidade de Cuzco (Peru), em que foi assinada a Declaração de Cuzco pelos 
presidentes e representantes dos 12 países da região, dos quatro países do Mercosul (Brasil, 
Argentina, Uruguai e Paraguai), dos cinco da Comunidade Andina (Venezuela, Colômbia, 
Peru, Equador e Bolívia), bem como do Chile, Suriname e Guiana. 
Na mesma ocasião, o presidente Lula anunciou a construção da Rodovia Interoceânica, 
entre o Brasil e o Peru, de grande interesse por todos os países da região. Lula procurou 
demonstrar que a Comunidade Sul-Americana de Nações exprimia o empenho dos países da 
região em superar as distâncias que ainda os separavam.
Figura 5. Brasil e Cuba.
Fonte: iStock/Getty Images
Em relação ao embargo econômico a Cuba pelos EUA, o Brasil continuou a condenar tal 
situação, tendo o presidente Lula visitado Havana em 2003, momento este em que assinou 
12 acordos de cooperação, inclusive para a exploração de petróleo pela Petrobrás, tendo 
rejeitado, no entanto, as pressões internacionais para que intercedesse pela liberdade de presos 
políticos em Cuba. “Não é boa política um chefe de Estado se meter em assuntos internos de 
outro país. Vou tratar dos interesses do Brasil. Não vou dar palpite em política interna de outro 
país”, afirmou Lula no México. 
15
Em outro momento, Lula 
[...] apelou para que Castro aceitasse que o “Brasil pode ajudar a 
construir o processo democrático em Cuba” e reiterou a condenação 
do embargo vigente há mais de 40 anos pelos EUA, dizendo: “Temos 
muito a fazer pela democracia em Cuba. Temos que ajudar na luta 
contra o embargo” (econômico imposto pelos norte-americanos 
há quatro décadas). O Brasil tem uma chance de ajudar a dar 
normalidade nas relações de Cuba.” [...] (BANDEIRA, 2008.)
Figura 6. Brasil e Haiti.
 Fonte: iStock/Getty Images
O governo Lula decidiu enviar um contingente de 1100 soldados ao Haiti, como força 
internacional de paz (integrada por americanos, franceses, canadenses e países do Caribe), de 
acordo com resolução do Conselho de Segurança da ONU, com a missão de estabilizar o país após 
a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristides, com o apoio e suporte dos Estados Unidos.
O objetivo do Brasil, nessa situação, foi dar uma demonstração de que se dispusera a 
exercer um papel no cenário internacional, pelo menos no âmbito do hemisfério, e a reforçar 
a sua posição de candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Durante uma reunião de Chefes de Estado e de Governo dos países sul-americanos, realizada 
em Cusco, no Peru, foi proposto um projeto de criação de um bloco em que se estabeleceria 
a Comunidade Sul-Americana de Nações, que passou a ser chamada de União de Nações Sul-
Americanas (UNASUL) em 2007.
16
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
A UNASUL é um bloco que visa a fortalecer as relações comerciais, culturais, políticas e 
sociais entre as doze nações da América do Sul – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, 
Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela – além da participação, 
como observadores, de dois países da América Latina: México e Panamá. A UNASUL é 
composta, em sua estrutura, pelos Conselho de Chefes de Estado e Governo; Conselho de 
Ministros das Relações Exteriores; Conselho de Delegados; e Secretaria Geral.
A geopolítica do Brasil no governo Dilma
Ao contrário de seus antecessores, a presidente Dilma Rousseff (2011-) procurou envolver 
menos sua administração em questões geopolíticas, priorizando as questões internas. 
No entanto, em 2013, o Brasil, tal como ocorreu também com outros países no mundo, 
foi vítima de espionagem cibernética pela Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-
americana. Tal situação não passou despercebida, já que Rousseff, na abertura da Assembleia 
Geral da ONU, fez duras críticas aos Estados Unidos, classificando as ações como “ilegais” e 
“inadmissíveis” e afirmando que “sem respeito à soberania, não há base para o relacionamento 
entre as nações”. Em paralelo, Rousseff cancelou a visita que faria aos EUA em outubro do 
mesmo ano, intensificando o afastamento do Brasil nas relações internacionais com os EUA. 
Isso não significa dizer que o Brasil não tenha qualquer dependência norte-americana; muito 
pelo contrário, já que no campo das exportações, os EUA ocupam a terceira posição no 
comércio internacional, ficando atrás da União Europeia e da China1 , ou ainda, no campo 
financeiro, o Brasil é o quarto maior credor dos EUA2 .
1- Dados obtidos no relatório “Brasil – Comércio Exterior” (dados até janeiro de 2014), 
elaborado pelo Ministério das Relações Exteriores, Departamento de Promoção Comercial e 
Investimentos e Divisão de Inteligência Comercial em Fevereiro de 2014.
2- Fonte: GGN/Luis Nassif online. Disponível em: 
http://jornalggn.com.br/noticia/a-divida-publica-e-o-pib-dos-eua. Acesso em: 15 dez. 2014.
Em contrapartida, os norte-americanos também mantêm uma intensa movimentação militar 
em torno do Brasil, garantindo sua presença no continente sul americano com a manutenção 
de bases e de operações militares nos países vizinhos, conforme pode ser demonstrado na 
figura a seguir:
http://jornalggn.com.br/noticia/a-divida-publica-e-o-pib-dos-eua
17
Figura 7. Presença Militar doa EUA na América do Sul Bases e Operações Militares.
Fonte: COSTA, 2014, p. 23
Segundo o geógrafo Wanderley Messias da Costa:
[...] os norte-americanos também estão desenvolvendo gestões 
junto ao governo paraguaio, visando implantar naquele país uma 
base de apoio logístico-militar (em área relativamente próxima 
ao Brasil), com a declarada justificativa de que esta se destinaria 
às atividadesde monitoramento direto da Tríplice Fronteira e do 
suposto apoio da sua comunidade árabe ao terrorismo islâmico. 
(COSTA, 2014, p. 24.)
Os EUA não se mantêm apáticos em relação à América do Sul e, consequentemente, em 
relação ao Brasil, já que, apesar de não estarem fisicamente em território brasileiro, estão bem 
concentrados à sua volta.
Outro aspecto geopolítico que foi considerado nos governos Lula e Rousseff foi a questão da 
exploração energética, especificamente o petróleo e o gás. Atualmente, o Brasil tem consolidado 
seus direitos e o consequente domínio do Atlântico Sul, sendo a soberania territorial (12 milhas) 
e a soberania na zona econômica exclusiva (ZEE) de 200 milhas, fato este que ocorreu devido a 
uma articulação entre o Itamaraty e a Marinha brasileira, batizada como Amazônia Azul. Outro 
ponto importante foi a apresentação em 2004 à Comissão de Limites da Plataforma Continental 
(CLPC), órgão ligado à ONU, de uma proposta dos limites exteriores da plataforma continental 
para casos em que ela se estende para além da ZEE. No momento atual, existe a necessidade 
de esclarecimentos envolvendo aspectos residuais dessa solicitação, situação esta que fez com 
que o Brasil iniciasse, em 2012, nova submissão à CLPC/ONU nesse sentido. Essa área está 
intimamente relacionada com a extração de petróleo na camada do pré-sal.
18
Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
A consolidação da presença e o prolongamento da soberania do Brasil no Atlântico Sul 
ocorreram através da localização geográfica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (a 540 
milhas do Rio Grande do Norte) e da Ilha de Trindade e Vaz de Lima (a 760 milhas do Rio de 
Janeiro), que permitiram a aplicação da Convenção do Mar, autorizando a aplicação das ZEEs 
nos territórios insulares habitados.
Figura 8. Plataforma Continental Brasileira.
Fonte: COSTA, 2012, p. 13
O BRASIL e os BRICS
BRICS é um acrônimo formado pelas iniciais dos países Brasil, Rússia, Índia, China e África 
do Sul (do inglês South Africa). Essa expressão foi criada pelo economista Jim O’Neill, em 2001, 
sob a forma de BRIC (sem a África do Sul), relacionando-se aos países emergentes com grande 
capacidade de investimento e que teriam tendência em se transformar em potências econômicas 
até 2050. No entanto, no ano de 2006, o BRIC passou a ser um acordo internacional, mas sem 
a configuração de um bloco econômico como o Mercosul, por exemplo.
19
Figura 9. Países pertencentes ao BRICS.
Fonte: COSTA, 2012, p. 13
Atualmente, os BRICS apresentam sucessivos aumentos no IDH (Índice de Desenvolvimento 
Humano), no PIB (Produto Interno Bruto) e na renda per capita, tendo sido responsáveis por 
cerca de 55% do crescimento econômico mundial, cenário no qual os países desenvolvidos 
contribuíram apenas com 20%. Mas nem tudo é positivo, já que mais de 40% da população 
mundial e mais da metade do número de pessoas sofrendo com a fome e a miséria fazem parte 
desses países.
Neste contexto, passou-se a atribuir aos quatro países – que 
não conformavam ainda um grupo diplomático, no sentido 
formal da expressão – uma grande capacidade transformadora 
da geopolítica e da geoeconomia mundiais, numa dimensão 
provavelmente maior que o seu real poder de atuação nesses 
cenários, individualmente ou em conjunto. Pode-se argumentar 
que a acumulação de poder econômico, de capacidade militar e 
de inovação tecnológica, pelos quatro países, isoladamente ou 
em conjunto, seja capaz de, a partir de certo ponto de gravitação, 
fazer pender o eixo das relações internacionais num sentido “anti-
hegemônico”, como pretendem alguns; mas não era seguro que 
eles formassem um grupo unificado com harmonia de propósitos 
quanto a esse projeto grandioso de mudança nas relações de 
força no plano mundial. (BAUMANN, 2010, p.132.)
O primeiro passo dado para, talvez, elucidar essa afirmação ocorreu em 2014, quando 
os BRICS decidiram pela criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), cuja sede será 
em Xangai, além de terem acertado a criação do Arranjo de Contingente de Reservas (ACR), 
que será um fundo destinado a socorrer os membros dos BRICS em caso de necessidade. As 
duas instituições se assemelham ao Banco Mundial, no caso do NBD, e ao Fundo Monetário 
Internacional, no caso do ACR.
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Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
Material Complementar
Em O Brasil e a América do Sul: cenários geopolíticos e os desafios da integração, Wanderley 
Messias da Costa procura “[...] abordar o delicado tema que envolve o penoso processo que 
é a tentativa da construção política de uma região de escala Sub-Continental no mutante e 
conturbado mundo dos nossos dias. [...]
A alternativa à integração é o percurso do alinhamento automático de cada estado isolado 
a uma Grande Potência e a sua dependência política e econômica, um status político que 
sociedade alguma deveria almejar em qualquer tempo. Por outro lado, é indubitável que as 
dissensões e as fricções internas tenderão a se agravar, estimuladas pelas assimetrias de poder, as 
disparidades de todo tipo entre os parceiros e, sobretudo, os impactos das ingerências externas 
ao sistema, mas é preciso ter em conta que, caso elas não sejam enfrentadas internamente, 
divergências poderão tornar-se fraturas, e estas promoverão, ao cabo, o definhamento do 
Bloco Regional.” (COSTA, 2007.) 
Trata-se de um material complementar interessante para não só complementar o 
conhecimento, mas também como objeto de reflexão.
Leituras:
Para baixar a publicação, acesse: 
http://geopoliticausp.files.wordpress.com/2014/07/wanderley-messias-da-costa-o-brasil-e-a-america-do-sul-cenarios-geopoliticos-e-os-desafios-da-integracao.pdf
COSTA, Wanderley Messias da. O Brasil e a América do Sul: cenários geopolíticos e os 
desafios da integração. Disponível em: 
http://geopoliticausp.files.wordpress.com/2014/07/wanderley-messias-da-costa-o-brasil-e-a-america-do-sul-cenarios-geopoliticos-e-os-desafios-da-integracao.pdf. 
Acesso em: 20 jan. 2015.
http://geopoliticausp.files.wordpress.com/2014/07/wanderley-messias-da-costa-o-brasil-e-a-america-do-sul-cenarios-geopoliticos-e-os-desafios-da-integracao.pdf
http://geopoliticausp.files.wordpress.com/2014/07/wanderley-messias-da-costa-o-brasil-e-a-america-do-sul-cenarios-geopoliticos-e-os-desafios-da-integracao.pdf
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Referências
ALBUQUERQUE, Edu Silvestre de. O lugar do Brasil no cenário geopolítico mundial 
contemporâneo. In: Revista da ANPEGE, vol. 7, n. 1 (2011). Disponível em: 
http://anpege.org.br/revista/ojs-2.2.2/index.php/anpege08/article/view/158. Acesso em: 14 dez. 2014.
ANDRADE, Manuel Correia de. Geopolítica do Brasil. Campinas-SP: Papirus, 2001.
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Brasil como potência regional e a importância estratégica 
da América do Sul na sua política exterior. In: Revista Espaço Acadêmico, n. 91, dez. 2008. 
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/091/91bandeira.htm. Acesso em 20 jan. 2015.
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Geopolítica e política exterior: Estados Unidos, Brasil e 
América do Sul. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009.
BAUMANN, Renato (org). O Brasil e os demais BRICs – Comércio e Política. Brasília, DF: 
CEPAL. Escritório no Brasil/IPEA, 2010.
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território 
e o poder. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1992.
COSTA, Wanderley Messias da. O Brasil e a América do Sul: cenários geopolíticos e os desafios 
da integração. In: Geopolítica no Século XXI (online). São Paulo, 2014. Disponível em: 
http://geopoliticausp.files.wordpress.com/2014/07/wanderley-messias-da-costa-o-brasil-e-a-america-do-sul-cenarios-geopoliticos-e-os-desafios-da-integracao.pdf. 
Acesso em: 14 dez. 2014.
COSTA, Wanderley Messias da. Projeção do Brasil no Atlântico Sul: geopolítica e estratégia. In: 
Revista USP, n. 95. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2012.
FIORI, José Luis. A nova geopolítica das nações e o lugar da China, Índia, Brasil e África 
do Sul.Rio de Janeiro: Revista Oikos, vol. 6, n. 2 (2007). Disponível em: http://www.
revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/ article/viewArticle/10. Acesso em: 14 dez. 2014.
KUNZLER, Jacob Paulo. MACIEL, Carlos. Mercosul e o mercado internacional. 2ª edição. 
Porto Alegre: Ortiz, 1995.
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Unidade: A Geopolítica do Brasil no período democrático
Anotações

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