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1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS - Chapecó/SC. E-mail: gerguarda@hotmail.com 2 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS - Chapecó/SC. E-mail: tatianentt@hotmail.com 3 Acadêmica do curso de Licenciatura em pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS - Chapecó/SC. Bolsista remunerada no projeto Ludoteca: Uma Proposta em Construção no Contexto da Pedagogia. E-mail: tammyres09@hotmail.com 4 Docente pela Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS. Coordenadora da Ludobrinc (Laboratório de vivências e experiências lúdicas e de brincar) da UFFS. Membro voluntária da Associação Regional Oeste Catarinense – OMEP – BR – SC. Pesquisadora na área de educação infantil, infância, ludicidade (jogo, brinquedo e brincares). E-mail: lisaura@unochapeco.edu.br ISSN 2176-1396 A RODA DE CONVERSA COMO METODOLOGIA EDUCATIVA: O DIÁLOGO E O BRINCAR OPORTUNIZANDO O PROTAGONISMO INFANTIL NA SALA DE AULA Gelvane Nicole Guarda1 - UFFS Tatiane Nicaretta Luz2 - UFFS Tamires Rodrigues3 - UFFS Lisaura Maria Beltrame4 - UFFS Eixo – Educação da Infância. Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo aborda experiências vivenciadas no Estágio Supervisionado em anos iniciais do ensino fundamental. A proposta de estágio objetivou realizar a inserção metodológica da roda de conversa como mecanismo de construção dialógica no processo de ensino e aprendizagem, além de contemplar o brincar, como possibilidades metodológicas para uma comunicação dinâmica e produtiva entre as crianças e professores. No contexto da Roda de Conversa, o diálogo é um momento singular de partilha, uma vez que pressupõe um exercício de escuta e fala. Ao contemplar as brincadeiras, procuramos destacar a importância da mesma, no desenvolvimento da aprendizagem na sala de aula, e sua influência enquanto recurso pedagógico no desenvolvimento do processo ensino e aprendizagem. O estudo proporcionou, ampliar nossos conhecimentos sobre o brincar e a roda de conversa, como prática pedagógica cotidiana, possibilitando que, através de um processo dialético, entre professor e alunos, novos conhecimentos pudessem ser construídos coletivamente. Assim, constata-se que a roda de conversa é um elemento imprescindível, que deve ser explorado pelos professores, pela sua relevância e contribuições que proporciona às crianças e ao fazer docente. Além disso, constitui-se um alicerce para a construção do novo e um espaço que também revela as mailto:tatianentt@hotmail.com mailto:tammyres09@hotmail.com mailto:lisaura@unochapeco.edu.br 12887 pluralidades infantis. Para essa discussão trouxemos como apoio teórico, autores como Bakhtin (2000); Geraldi (2005); Sarmento (2007); Vygotsky (1984). Diante das análises feitas, com os subsídios teóricos acima citados, concluímos que só é possível envolver a criança no processo de ensino e aprendizagem, se ela se sentir como parte desse processo. A criança deve ser vista como o foco central, ou seja, uma educação que considere a criança como sujeito capaz e detentor de direitos, como protagonista deste processo. Palavras-chave: Aprendizagem; Roda de conversa; Brincar. Introdução Historicamente a construção da escola como mecanismo de construção intelectual dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, demonstra-se como utensílio flácido de construção humana e emancipatória das classes sobre a hierarquia estatal, e sobre a própria conjuntura educacional que configura os espaços escolares. Neste sentido, é necessário pensar dentro dos parâmetros educacionais, práticas pedagógicas que fortaleçam o direito à educação pública subjetiva, e que esta educação venha a primar pelos direitos que regem o desenvolvimento da autonomia, do desenvolvimento cidadão, a consciência social e política dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, conforme consta na Constituição Federal de 1988. Nesta perspectiva o artigo, objetiva socializar as experiências vividas durante o Estágio Curricular Supervisionado de Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pensado e teorizado sob a perspectiva de autores vinculados a teoria Histórico-Cultural de Vygotsky (1984), da qual se compreende o homem em sua historicidade social e cultural, o que significa que o Estágio Curricular, em suas mais amplas complexidades teve como objetivo compreender o processo histórico de aprendizagem nas instituições de ensino, vinculando esta perspectiva a formação de professores críticos e reflexivos. O trabalho apresenta a metodologia das rodas de conversa para a prática pedagógica na infância. Destaca-se a importância de se discutir as rodas de conversa como prática metodológica com as crianças da educação básica, no sentido de se prolongar uma concepção histórico-cultural de infância e de crianças que comumente é entendida na educação infantil, mas relegada quando se passa aos anos iniciais, em que a ênfase recai sobre o "educando". Através das diversas análises resultantes do processo de pesquisa vinculado a temática orientada do estágio, pudemos compreender que apesar de anos de evolução tecnológicas e das próprias políticas públicas que regem o desenvolvimento intelectual e social dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, ainda vivemos a 12888 estagnação dos princípios educacionais. Constatamos, ao longo do processo de observação que a escola ainda encontra-se moldada à princípios tradicionais de ensino, tanto no que diz respeito aos espaços e tempos vigorados nas instituições, quanto no que diz respeito às aplicações práticas metodológicas da maioria dos professores do “ensino normal”. As análises correspondem a aspectos relativos ao Estágio Curricular Supervisionado nos Anos Iniciais, desenvolvido na Escola de Ensino Fundamental Neiva Maria Andreatta Costella localizada em Chapecó – Santa Catarina, criada em 20 de dezembro de 1988, sendo mantida pelo Estado e administrada pela Secretaria de Estado da Educação. A escola oferece o ensino fundamental de 1º a 9ª ano organizados em séries anuais. Funciona no período matutino com educandos do 6º ao 9º ano e no período vespertino do 1º ao 5º ano, totalizando assim 184 educandos. Tem como público filhos de empresários, trabalhadores da agroindústria e do comércio. O quadro de professores conta com 20 professores, destes 4 efetivos e 16 ACTs (Contrato temporário). O Estágio supervisionado é um momento de reflexão, e de encontro com a docência, pelo qual passa o estudante do curso de Pedagogia em sua formação inicial. O espaço acadêmico e a sala de aula, onde ocorre o estágio, são os principais locais onde a identidade do futuro pedagogo é construída. Tendo como um dos objetivos, desenvolver a aprendizagem através da vivência, da observação, norteada pela práxis. Todo trabalho realizado durante a docência teve como foco a criança, a infância e o direito de acesso ao conhecimento, possibilitando experiências que lhes fossem significativas. Destacamos a necessidade de considerar a criança como ator social e como sujeito histórico- cultural, nos diferentes espaços, e a importância das crianças serem vistas como sujeitos ativos socialmente, principalmente na área da educação. Por serem elas que experienciam as práticas educativas, que vivenciam, diariamente as relações em sala de aula. Diante disso, precisam ser consideradas suas singularidades, sua maneira de ver e compreender o mundo. Se pondo a escuta de suas vozes, quase sempre caladas. Com base nessas premissas, o artigo foi dividido em três seções: I) designada Fundamentos Metodológicos, onde enfatizamos teórica e metodologicamente a importância de se construir dentro do processo de mediação do conhecimento do protagonismo da criança, comoser social em constante processo de desenvolvimento dialógico consigo mesma e com o mundo. II) A Roda de Conversa na construção ou ressignificação do conhecimento, que objetiva esclarecer teoricamente o movimento feito por nós, para tentar evidenciar cientificamente este processo de construção do conhecimento pela mediação dialógica entre educador e educando. III) Brincar e aprendizagem tem como objetivo, fazer a mediação do 12889 conhecimento dialógico e o processo de interação que o brincar proporciona por desenvolver funções específicas de pensamento vinculado ao processo dialógico no qual a práxis pedagógica estava ancorada. Fundamentos Metodológicos O presente artigo apresenta a roda de conversa como instrumento metodológico, pois a mesma abre espaço para que os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem estabelecem um espaços de diálogos e interações no contexto escolar, ampliando suas percepções sobre si e sobre o outro, em um movimento de alteridade e compreensão sobre a voz do outro em seu contínuo espaço de tempo. Como destaca Barbosa e Horn (2008), [...] a construção de um campo dialógico e democrático, no qual a criança ganha vez e voz, mas que não fala sozinha, já que o adulto, parceiro e sensível às suas necessidades, estão com ela em diferentes momentos. Reconhece-se a criança como sujeito de direitos e ativos na construção de conhecimentos[...]”. (BARBOSA; HORN, 2008, p. 33). A utilização desta metodologia nos proporcionou algumas reflexões referentes a seguinte problemática que rege este artigo. Como evidencia-se o protagonismo das crianças frente às demandas educativas que regem as salas de aulas de educação básica? Deste modo, observou-se que historicamente a voz, ou o protagonismo das crianças frente às demandas educativas é inexistente, mas que com a utilização da metodologia indicada neste artigo, tal protagonismo pode evidenciar-se nitidamente pelo anseio de ser ouvido, e que este protagonismo desenvolve como mecanismo de construção da autonomia, do discurso, do pensamento crítico-reflexivo e das expressões linguísticas. Porém é importante ressaltar que este processo não deve ser compreendido, como prática descomprometida e unilateral, como destaca Freire (1983) “Não é dizer-se descomprometidamente dialógico; é vivenciar o diálogo. Ser dialógico é não invadir, é não manipular, é não organizar. Ser dialógico é empenhar- se na transformação constante da realidade. Esta é a razão pela qual, sendo o diálogo o conteúdo da forma de ser própria à existência humana, está excluído de t0da relação na qual alguns homens sejam transformados em “seres para outro” por homens que são falsos “seres para si”. (FREIRE, 1983, p. 43) Nesta perspectiva, o desenvolvimento do estágio desde seus primórdios já apontava, os sinais de que esta técnica utilizada como mecanismo de interação e para o 12890 desenvolvimento dialógico entre todos professor/aluno, aluno/professor e aluno/aluno, era de extrema riqueza metodológica para dar seguimento ao processo educativo, pois a maioria dos alunos mesmo que timidamente apresentava-se para o diálogo proposto. Visando este suporte metodológico, durante o estágio buscamos então em nossa proposta educativa, evidenciar a criança como sujeito, uma proposta priorizando o conhecimento científico e focada na criança. Esta foi convidada ser a protagonista de seu processo de ensino e aprendizagem. Buscamos levar para a sala de aula atividades que faziam sentido para a criança. Acreditamos que a escola deve ser um lugar significativo e prazeroso para as crianças. Assim como declara Becker: “Procurei pensar as condições que julgo necessário para que a vida retorne à escola, para que a escola torne-se um lugar significativo para o aluno. Lembrando sempre que a criança e o adolescente não deixam de fazer coisas por serem difíceis, mas por não terem sentido”. (BECKER, 2003, p.23) Dentre as atividade desenvolvidas, uma das que se mostraram mais significativas, foi a roda de conversa, propostas no 1º e no 5º ano e os jogos de alfabetização propostos ao 1ª ano do Ensino Fundamental, os quais serão apresentados e teorizados como base na perspectiva proposta neste estudo. A Roda de Conversa na construção e ressignificação do conhecimento Para que essa proposta de aula seja possível, o professor deve observar, ouvir a criança, buscar os seus interesses, para a partir disso, propiciar estímulos que ampliem, diversifiquem e sistematizam o repertório de conhecimentos das crianças. Segundo Rojas, Souza e Cintra (2008): Faz-se necessário, no contexto escolar, de um profissional que acredite na mudança, nas possibilidades, nas ambiguidades, que ouse, que invente, que faça, que se refaça no cotidiano, refazendo sua postura ante sua experiência. A educação grita desesperadamente à procura de pessoas comprometidas com seu caminhar e pessoas que se admiram desse processo, que admiram a vida, que admiram o próprio processo de educar, pessoas acima de tudo competentes, coerentes, perseverantes, que acreditam nos sujeitos, nas mudanças, enfim, na educação. (ROJAS, SOUZA, CINTRA, 2008, p. 31). Para Quinteiro (2002, p. 21), “pouco se conhece sobre as culturas infantis, porque pouco se ouve e pouco se pergunta às crianças”. Para essa autora, ainda há, em diversas áreas 12891 do conhecimento, resistência em aceitar a fala infantil como fonte de pesquisa confiável e respeitável. O papel da criança como sujeito ativo deve ser valorizado bem como sua posição no mundo, e as suas compreensões sobre o contexto em que vive. Os adultos devem entender que as crianças estão envolvidas com os acontecimentos sociais, históricos e culturais de seu tempo/espaço e que esses acontecimentos influenciam as suas formas de definir o mundo. Ao dar voz e vez às crianças, o professor ou pesquisador pode revelar os modos de atuação da criança no mundo em situações em que ela, ao mesmo tempo se apropria da cultura historicamente elaborada, também produz uma cultura infantil. Segundo Sarmento (2007), “[...] tempo das crianças é um tempo recursivo, continuamente reinvestido de novas possibilidades, um tempo sem medida, capaz de ser sempre reiniciado e repetido[...]” (SARMENTO, 2007, p. 120) A cultura infantil pode se expressar de diferentes maneiras gestos, brincadeiras, jogos de papéis sociais, jogos protagonizados e movimentos. Como sujeito capaz de produzir uma cultura infantil a criança passa a assumir na pesquisa o papel de sujeito ativo, expondo seus sentimentos e pensamentos. Dentre as atividades desenvolvidas, uma das que se mostraram mais significativas, foi a roda de conversa, propostas no 1º e no 5º ano e os jogos de alfabetização propostos ao 1ª ano do Ensino Fundamental relatados brevemente a seguir. Roda de conversa no 1ª ano: todas as aulas eram iniciadas com uma história relacionada a um dos temas que seriam trabalhados no dia. Sentados no chão, formávamos um grande círculo e depois de ouvir a história, a professora fazia alguns questionamentos acerca das experiências das crianças sobre o assunto, dando a elas a oportunidade de recontar a história, conversar e falar o que mais gostaram e sobre suas vivências e experiências. A roda de conversa permite que a criança tenha voz e vez naquele espaço, sentindo-se parte do grupo, das escolhas e das decisões. Era também uma oportunidade de trabalharmos o pôr-se a escuta do outro, do respeito às diferentes opiniões. Segundo Geraldi “[...] as histórias que nos fazem únicos e ‘irrepetíveis’. Unicidade incerta, pois se compreendo com palavras que, antes de serem minhas, foram e são também de outro, nunca terei certeza se estou falando ou se algo fala por mim [...]”. (GERALDI, 2005, p. 22). É importante a criança se ver no outro, compartilhar suas opiniões, iguais ou diferentes das dosdemais e aprender a respeitar. Esse protagonismo, esse ser ouvido, faz toda diferença na hora de motivar a criança para ir à escola ou aprender algo. Na sala de aula a 12892 escuta sensível se adotada pelo professor, facilita o diálogo tão necessário na prática docente, uma vez que promove a confiança absoluta entre o professor e aluno. Buscamos durante o período de estágio partir do olhar e da escuta sensível do educador junto a criança. Nas rodas de conversa quando usamos um olhar diferenciado, para analisar as ações das crianças, conseguimos vislumbrar caminhos possíveis na direção de tornar a aula atrativa e a criança protagonista. Dessa forma, podemos afirmar que o desenvolvimento de uma boa prática pedagógica se faz na escuta e no olhar para as crianças, articulados com as aprendizagens significativas, que agregam maior sentido e significações, a criança como sujeito. As rodas de conversa, também nomeadas por Paulo Freire: “Círculos de Cultura”, proporcionam momentos de fala e de escuta. Para Freire (1983) os Círculos de Cultura são o diálogo, é a pronúncia do mundo, ou seja, é o processo de ler o mundo, problematizá-lo, compreendê-lo e transformá-lo. É um diálogo, em que “[...] o pensar do educador somente ganha autenticidade, na autenticidade do pensar dos educandos, mediatizados ambos pela realidade, portanto na intercomunicação[...]” (FREIRE, 1983, p.64). A Roda de conversa no 5º ano: Mantendo a proposta de protagonismo da criança usada no 1º ano, a roda de conversa foi estendida ao 5º ano. Nas atividades, destacamos a leitura das lendas brasileiras, a história dos balseiros e os tipos de energia. No início de todas as aulas a professora fazia a leitura de uma lenda brasileira, sentados no chão, formávamos um grande círculo para ouvir a história. Posteriormente, todos eram convidados a expor sua opinião sobre a leitura e contar breves experiências sobre o tema. Sempre surgiam dúvidas que as próprias crianças tentavam responder, de forma que quando era necessário a professora interferia. Dar às crianças a possibilidade de fazerem as suas interpretações usando suas vivências, é dar voz a uma categoria social que normalmente não é ouvida. Para Sarmento (2007): “A infância é, simultaneamente, uma categoria social, do tipo geracional, e um grupo de sujeitos ativos, que interpretam e agem no mundo. Nessa ação estruturam e estabelecem padrões culturais. As culturas infantis constituem, com efeito, o mais importante aspecto na diferenciação da infância” (SARMENTO, 2007, p. 36) Tudo que é disponibilizado ou pensado para as crianças, parte do pensamento adulto, não permitindo que as crianças se expressem ou mudem qualquer conceito cultural, eternizando assim, a definição de infância e de mundo do adulto. Por esse motivo é essencial 12893 que demos voz às crianças, se na escola isso não acontecer, onde aprenderão a ser sujeitos críticos, capazes de fazer análises conscientes de seu mundo? Acreditando nessa necessidade e buscamos em todos os momentos, considerar a criança como sujeito de direitos, capazes de protagonizar a própria aprendizagem. Tal prática está em consonância com o programa nacional de fortalecimento dos conselhos escolares, que em seu texto ressalta: No Círculo de Cultura trabalha-se com relações entre pares, em círculo, olho no olho, partilhando e contrapondo entendimentos, compreensões diferentes numa construção coletiva de soluções. Superam-se e evitam-se as relações de “ensinação”, que fazem com que no grupo um fale e os outros ouçam submissamente. No Círculo de Cultura todos aprendem e ensinam. Esta metodologia exige respeito e reconhecimento da contribuição do outro e dialogicidade (BRASIL, 2006, p.39). Durante as atividades, tods aprendem e ensinam. A aprendizagem baseada na troca, na valorização das individualidades e na construção coletiva do conhecimento. A criança é a esperança do novo de soluções para a sociedade, como defende Arendt (2003), “[...] além do papel de agentes no nível micro social, as crianças também são importantes no nível macro histórico, nos modos como sua participação e ação contribuem para trazer a novidade para as sociedades[...]”. (ARENDT, 2003, p. 65) Essa contribuição só será possível se dermos voz às crianças, se permitirmos que elas vejam e pensem o mundo de uma maneira diferente, da que nós já vemos e pensamos. Não temos o direito de negar as novas gerações a possibilidade criar algo novo. Outro momento significativo no 5º ano foi a roda de conversa para discussão dos tipos de energia e a história dos balseiros. Nesse momento, também sentamos em círculo no chão, fizemos uma leitura coletiva do texto explicativo, posteriormente abrimos para perguntas e relato de experiências. No caso dos tipos de energia surgiram muitas perguntas, dúvidas histórias de vivências, análises do impacto do homem sobre a natureza, a turma ficou muito animada e curiosa. Já na aula sobre a história dos balseiros, as crianças ficaram fascinadas, pois era a história da nossa região. Além do texto, assistimos um vídeo de época, com imagens das viagens, perigos e dos desafios enfrentados pelos balseiros. O fato de todos conhecerem o rio fez com que se percebessem como sujeitos da história. Tornando a aula participativa, dinâmica e interessante para as crianças. As aulas mais significativas ficaram evidentes, quando no último dia de docência solicitamos que desenhassem ou escrevessem sobre as coisas que mais gostaram de aprender. 12894 Como resultado recebemos vários desenhos, de geradores elétricos, dos balseiros, e de lendas Brasileiras que foram contadas as crianças. De modo, que todos esses conteúdos foram trabalhados nas rodas de conversa. Brincar e aprendizagem “[...] Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor pra formação do homem[...]” (Carlos Drummond de Andrade) Abaixo temos um relato de um menino do 1º ano do Ensino Fundamental referente às aulas: [...] Na aula da profe Tati e da profe Ge, a gente quase só brincava, não ficava só sentado fazendo atividade [...] (CRIANÇA A) Essa frase, de um dos meninos do 1º ano, prova que a escola pode ser prazerosa e que se as atividades sugeridas forem dinâmicas e participativas, a criança nem percebe que está estudando e aprendendo. Durante o estágio de docência no 1º ano propomos jogos matemáticos, jogos com a escrita, leitura com o guarda-chuva de parlendas, construção coletiva da lista de alimentos saudáveis e não saudáveis, desenho coletivo sobre a paisagem do campo e da cidade, construção de brinquedo com material reciclado e faz de conta com fantoches. Com isso, firmando a importância das brincadeiras, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), nos mostra a brincadeira como uma linguagem: “A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação, isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada. (...) A brincadeira favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorizaçãode determinados modelos de 12895 adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil” (BRASIL, 1998, p.27). Desse modo, durante o estágio evidenciou-se que a brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, a criança brincando pode transformar e produzir novos significados. Através dessas metodologias conseguimos dar voz a essas crianças, através do brincar. Os brinquedos, jogos e brincadeiras geraram nas crianças a vontade de viver, conhecer e consequentemente aprender. Segundo Rubem Alves “[...] o lúdico privilegia a criatividade e a imaginação, por sua própria ligação com os fundamentos do prazer. Não comporta regras preestabelecidas, nem velhos caminhos já trilhados, abre novos caminhos, vislumbrando outros possíveis [...]” (ALVES, 1987, p. 89). É necessário que o professor perceba a importância dos jogos e brincadeiras no cotidiano escolar, como condição indispensável. Dessa forma, por meio do lúdico, as crianças conseguem, ultrapassar suas dificuldades de aprendizagem e se relacionar melhor com o meio em que estão inseridas. De acordo com Cardoso (2009): “[...] no cotidiano da educação infantil, o brincar tem papel vital para o desenvolvimento integral das crianças. É por meio do brincar que elas adquirem experiências e desenvolvem seu conceito sobre o mundo, pois se trata de uma ação que as motiva explorar, experimentar e a recriar. As ações do jogo e da brincadeira geram um ambiente especial para a aprendizagem, sejam os aprendizes crianças ou adultos”. (CARDOSO, 2009, p. 10) Segundo Leontiev (1991, p. 79), “brincando a criança irá pouco a pouco aprendendo a se conhecer melhor e a aceitar a existência dos outros, organizando suas relações emocionais e, consequentemente, estabelecendo suas relações sociais”. Bakhtin (2000) nos convida a assumir a responsabilidade do outro que me constitui, adotar a não indiferença pelas crianças e começar a olhá-las e a tentar compreendê-las como outro, num exercício de alteridade e diálogo. De acordo com Souza: “[...] As crianças são o meu outro. O outro que pesquiso, estudo, produzo interrogações. O outro com quem trabalho, converso, aprendo. O outro que me desestabiliza, me questiona, me desafia, me dá carinho e afetos. O outro, diferente de mim [...]” (SOUZA, 2009, p.26). A criança que aprende brincando, não está só explorando o 12896 mundo ao seu redor mas também, comunicando sentimentos, ideias, fantasias, intercambiando, o real e o imaginário, nesse espaço chamado brincadeira. Diante disso, pode-se concluir que a brincadeira auxilia o desenvolvimento da criança, de forma tão intensa e marcante, que a criança leva, todo o conhecimento adquirido para o resto de sua vida. Borba (2006) explicita que: “É importante demarcar que o eixo principal em torno do qual o brincar deve ser incorporado em nossas práticas é o seu significado como experiência de cultura. Isso exige que a garantia de tempos e espaços para que as próprias crianças e os adolescentes criem e desenvolvam suas brincadeiras, não apenas em locais e horários destinados pela escola a essas atividades (como os pátios e parques para recreação), mas também nos espaços das salas de aula, por meio da invenção de diferentes formas de brincar com os conhecimentos (BORBA,2006, p.44)”. Hoje é preciso, deixar que as crianças, e os adolescentes brinquem, é preciso aprender com eles a rir, a inverter a ordem, a representar, a imitar, a sonhar e a imaginar. E tudo isso, é aprendizagem. Como explica Horn (2004) ao mencionar os fundamentos de Vygotsky sobre o brincar: “[...] Vygotsky (1984) afirma que apesar da relação brincadeira-desenvolvimento poder ser comparada à relação instrução- desenvolvimento, o ato de brincar proporciona um suporte básico para as mudanças das necessidades de consciência. A atuação da criança no âmbito da imaginação, em uma dada situação imaginária, oportuniza a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e das motivações da vontade [...]” (HORN, 2004, p. 19) Torna-se, cada vezes mais evidente a necessidade de superar a ideia de que a brincadeira e aprendizagem não possam andar juntas. Esse pensamento ultrapassado ainda se encontra impregnado no conceito de aprendizagem de grande parte dos professores, fazendo com que normalmente, o brincar fique afastado das metodologias de ensino. Considerações finais Diante das experiências vividas, consideramos que devemos primar por uma educação com cunho voltado para o desenvolvimento dos princípios humanos. Dessa forma, a prática educativa deve partir da infância, das crianças como sujeitos e o brincar deve estar sempre presente nas atividade educativas propostas pelos educadores. 12897 Destacamos que a aprendizagem e o ensino nos anos iniciais devem ser construídos a partir das brincadeiras, do diálogo, da escuta sensível, do respeito às singularidades da criança e sua infância. As atividades precisam ser direcionada primordialmente ao sujeito da aprendizagem, ou seja, a criança objetivando o crescimento intelectual, social e cognitivo de todos os envolvidos neste processo. O diálogo, como ferramenta de aproximação com a criança, como maneira de entrar no seu mundo, é insubstituível. Pensar uma escola acolhedora e atrativa para a criança passa essencialmente pelo escutar, pelo estar para o outro e com o outro. Este é um ser que sente, vive, sonha, chora, sorri e nunca está descolado de um contexto, de uma história única em qualquer tempo. Crianças são crianças hoje, agora, não foram, e nem serão no futuro. Dialogar com a criança não é dizer como o mundo é, e sim apresentá-lo. É dar à criança a chance de fazer novas interpretações, de reinventar algo, que, para nós adultos, já está posto e dado como imutável. Consideramos que, a educação deve ser permeada de dialogicidade, onde a criança participa, é ouvida e é convidada a viver sua infância. Precisamos sair da condição de que apenas o professor é o protagonista na sala de aula, precisamos dar voz e espaço a criança. O diálogo, o ouvir as crianças, dar voz e vez a elas enriqueceram nossa prática de docência, ampliando nossa visão de educador e não somente professor que repassa conteúdo. 12898 REFERÊNCIAS: ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. ALVES, Rubem. A gestação do futuro. Campinas: Papirus, 1987. ANDRADE, Carlos Drummond de. In: www.pensador.info. Acesso em: 18 de maio de 2017. BRASIL, Ministério da Educação. 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