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7 Transferência de Calor e Massa 1. Introdução Neste tópico apresenta-se uma breve descrição, importância e alguns exemplos de aplicações de transferência de calor e massa, bem como das equações básicas que governam estes processos. 1.1 Importância de Transferência de Calor (Energia) e Massa A Civilização Moderna depende fortemente de como ela manuseia e usa sua energia, energia esta suprida através de recursos naturais, nem sempre fáceis de serem explorados. O uso de energia pode ser identificado como trabalho, potência e calor, mas na realidade o trabalho e potência que são usados finalmente degeneram em calor. Calor é a troca de energia entre objetos (sistemas) “quentes” e “frios” e a troca ocorre espontaneamente do “quente” para o “frio” (Transferência) de Calor é a ciência que explica e prediz quão rápida ocorre a troca de energia como calor. É a ciência que integra as várias ferramentas analíticas e empíricas provendo um fórum, um corpo de conhecimento, para projetistas, construtores, operadores, gerentes e pesquisadores de forma mais acurada estudar calor como uma troca de energia. A preocupação com energia, sua conservação ou economia pela sociedade requer numa extensão importante a compreensão dos conceitos de transferência de calor e transferência de massa. Alguns casos de aplicação de transferência de calor: - isolamento (por fibra de vidro) de tetos e paredes de edifícios para manter determinadas condições climáticas; - quantificação da perda de energia através de janelas modernas e isoladas para manter o ambiente confortável tanto no inverno quanto no verão; - projeto e operação de geradores de vapor (caldeiras) ou ebulidores requer a compreensão da transferência de calor que ocorre da queima (combustão) de carvão, gás ou óleo para a água nos tubos; 8 - projeto e construção de um radiador (convector) para um motor de automóvel para mantê- lo “frio” quando em operação envolve transferência de calor e massa; - dissipação de calor em linhas de potência elétrica devido à resistência elétrica; - proteção de cabos elétricos contra fogo e altas temperaturas; - manutenção de temperaturas adequadas em circuitos de computadores e outros sistemas; - condicionamento de ar para conforto térmico; - processos sanitários, manuseio de lixo, esterilização; - manuseio e processamento de alimentos. Transferência de massa é o estudo do movimento de massa de um local para outro através do uso de dispositivos mecânicos ou naturalmente devido a diferença de densidade. A diferença de densidade provoca difusão (transporte microscópico) de massa (uma espécie penetra em outra) ou convecção natural (transporte macroscópico) de massa. Os dispositivos mecânicos (bombas, ventiladores e compressores) provocam difusão e convecção forçada de massa. Exemplos onde ocorre transferência de massa: - processos químicos; - poluição do ar; - combustão; - processos criogênicos (baixas temperaturas) tais com produção de N2, H2 e O2 líquidos, gelo seco (CO2 líquido) 1.2 Conceitos 1.2.1 Sistema Físico Um sistema físico pode ser considerado com sendo constituído de um sistema material (subsistema 1) mais um campo de radiação (subsistema 2). O sistema material, geralmente, considerado como meio contínuo, é composto a nível elementar de moléculas (incluindo íons e átomos), de elétrons e de partículas fictícias tais como fônons (quanta de energia vibracional num sólido), etc. Um meio pode ser considerado como contínuo quando o menor elemento de volume ainda contém de 1015 a 1020 moléculas. Sob determinadas condições físicas, tais elementos podem ser caracterizados estatisticamente por propriedades físicas macroscópicas médias sobre todas as moléculas que eles contêm (massa média, velocidade, pressão ou temperatura). 9 O campo de radiação eletromagnética é caracterizado em escala macroscópica pela definição em cada ponto r do espaço e para cada direção Δ de uma quantidade νI ′ , a intensidade monocromática relacionada com a freqüência ν . O campo de radiação resulta da distribuição de fótons (quanta de energia particular de Bose-Einstein que em repouso possuem massa nula) cada caracterizado pela freqüência ν , momentum p e spin s. Um quanta tem energia νhe = , onde 346 6256 10h , x Js−= é a constante de Planck. 1.2.2 Equilíbrio Termodinâmico Em termodinâmica, o conceito de equilíbrio termodinâmico perfeito envolve equilíbrio térmico (T uniforme), equilíbrio mecânico (P uniforme) e equilíbrio químico (potencial químico μ uniforme) e é utilizado para equacionamento dos problemas. O equilíbrio térmico significa que o sistema material é isotérmico a temperatura T; o campo de radiação tem uma distribuição uniforme dependente apenas de T; o campo de radiação e sistema material estão na mesma temperatura. Entretanto, para ocorrer transferência de calor, os sistemas devem estar em não equilíbrio térmico. 1.2.3 Equilíbrio Termodinâmico Local O não equilíbrio térmico causa a transferência de calor devido colisões entre moléculas ou entre moléculas e uma parede; interações moléculas/fótons (absorção, emissão espontânea, emissão estimulada); interações entre fônons, entre fônons e elétrons, elétrons e fótons, outras interações. Como as leis da termodinâmica são utilizadas para equacionar problemas de transferência, tem-se que lançar mão do conceito de equilíbrio termodinâmico local (LTE). A hipótese de equilíbrio termodinâmico local permite definir variáveis físicas T( r ,t ), P( r ,t ), ( r ,t )μ , etc. em qualquer instante de tempo e para cada ponto r . Sob esta hipótese, pode-se assumir que durante um intervalo dt e em um elemento de volume arbitrariamente pequeno (mas macroscópico, contínuo) o sistema material está localmente infinitamente próximo a um estado de equilíbrio, descrito por propriedades intensivas e extensivas. 10 Em LTE adotado para estudo de problemas de transferência de calor o sistema físico é o local dos seguintes processos macroscópicos irreversíveis com os quais um fluxo está associado: - relativo a um elemento de matéria, o efeito cumulativo em escala macroscópica do transporte de várias quantidades físicas (carga elétrica, no de moléculas de um dado tipo, energia) por partículas (moléculas, elétrons, fônons, etc.) traduz para fluxos por difusão: condução elétrica, difusão de uma espécie em outra, condução térmica; - simultaneamente associado com cada transferência macroscópica por um movimento global de parte do sistema material estão associados fluxos macroscópicos de carga elétrica, energia, etc. Estes são chamados fenômenos convectivos: convecção elétrica, convecção térmica, etc.; - interações entre moléculas do sistema material e os fótons do campo de radiação, quando eles não estão em equilíbrio térmico resulta num fluxo macroscópico de energia na forma de radiação. 1.2.4 Meio Contínuo Em teoria cinética dos gases o conceito de meio contínuo é apresentado através da seguinte definição de temperatura: ∑ = = N s s B mv TNk 1 2 22 3 (1.1) na qual N é o no de átomos idênticos de massa m cada em equilíbrio térmico num elemento de volume dV ( 2015 1010 −≈N ) o meio é considerado contínuo; KJxkB /1038054,1 23−= é a constante de Boltzmann e sv é velocidade de um átomo em relação a dV. 1.3 Modos Principais de Transferência de Energia Os modos principais de transferência de energia na forma de calor são condução, convecção e radiação. A condução térmica ocorre através de um elemento material no qual existe um gradiente de temperatura. Ela representa o efeito global do transporte de energia por portadores elementares (moléculas, fônons: partícula fictícia que representa quanta de energia vibracional de um sólido, elétrons, etc.). Em fluidos os portadores elementares (moléculas, átomos, íons, etc.) são caracterizados por energia de translação,possivelmente vibração e rotação, energia eletrônica. 11 Em sólidos os átomos são arranjados em uma estrutura cristalina mais ou menos perfeita. Os vetores de energia são fônons (quanta de vibração da estrutura cristalina) e talvez elétrons livres (condução elétrica e térmica). Em radiação, energia é permanentemente trocada entre um sistema material e um campo de radiação pelos seguintes processos: - emissão espontânea de radiação que consiste na conversão de energia térmica (energia de vibração ou rotação, energia eletrônica, energia de fônons, etc. para uma energia radiativa (de fótons); - absorção de radiação pela conversão inversa de energia radiativa para energia térmica. Sob o ponto de vista de radiação, pode-se definir três tipos de meio: - meio transparente como aquele que não emite, não absorve, não reflete ou difunde, mas transmite toda radiação incidente qualquer que seja sua direção e freqüência; - meio opaco que não transmite qualquer radiação incidente (Ii) que pode ser absorvida (Ia) ou refletida (Ir). O meio opaco também pode emitir a radiação (Ie); - meio semitransparente que reflete, absorve ou difunde a radiação incidente, ou a transmite em distâncias finitas. Figura 1.1 Radiação em meios transparente e opaco Os modos de transferência de energia por condução e radiação são objeto de estudo deste curso de TCMI. O modo de transferência de energia por convecção será objeto de estudo do curso TCMII e será abordado ao longo daquela disciplina. 12 1.4 Objetivos e Convenções O objetivo principal é determinar para qualquer sistema em LTE, a evolução do campo de temperatura ),( trT e o fluxo de energia (para todas as formas de energia) que é necessário para controlar um processo. Um processo será em regime transiente (RT) se as quantidades físicas A (escalares, vetores, tensores) dependem do tempo, isto é, 0),( ≠ ∂ ∂ t trA (1.2) Para processos em regime permanente (RP), não há variação das grandezas físicas com o tempo. Ou seja, 0),( = ∂ ∂ t trA (1.3) Define-se fluxo de energia como a potência Φd (em Watts) atravessando um elemento de superfície dS , cuja normal é n e cujo vetor densidade de fluxo é q [W/m2]. Numericamente, dSnqd •=Φ (1.4) Define-se a densidade de fluxo [W/m2] como nqq •=′′ (1.5) ou dS dq Φ=′′ (1.6) Figura 1.2 Vetor densidade de fluxo através de um elemento dS com normal n . 13 1.4.1 Lei de Fourier da Condução Nos processos de condução térmica, define-se o vetor densidade de fluxo condutivo, pela Lei de Fourier, como Tkq cd ∇−= (1.7) na qual k é denominada condutividade térmica do material que pode depender da temperatura e da direção espacial (caso em que k é um tensor e Tkq cd ∇•−= ). O sinal negativo na Lei de Fourier é requerido pela 2a Lei da Termodinâmica. O fluxo condutivo pode, então, ser calculado na forma n TknTknqq cd ∂ ∂ −=•∇−=•=′′ (1.8) para q ′′ no sentido da normal ao contorno. Compare a Lei de Fourier com as lei de Ohm e lei de Fick de difusão. A Lei de Ohm estabelece que o vetor densidade de corrente j é dado na forma: elVEj ∇−== σσ (1.9) na qual E é o campo elétrico, σ é a condutividade elétrica e elV é o potencial elétrico. Já a Lei de Fick de difusão de massa, estabelece que a taxa de difusão αj de uma espécie α numa espécie β é definida pela equação ααβα CDj ∇−= (1.10) na qual αβD é a difusividade de α em β e αC é a concentração molar definida por n n M C αα ρ = (1.11) onde ρ é a massa específica da mistura e M é o peso molecular da mistura. 1.4.2 Fluxo Conduto-Convectivo – Condução e Convecção Combinadas numa Parede Considere um fluido a temperatura fT escoando paralelo a uma parede mantida a uma temperatura sT diferente da temperatura do fluido, Figura 1.3. Na interface do lado sólido o fluxo por condução será w s s cd s y T kq ∂ ∂ −= (1.12) 14 Figura 1.3 Escoamento sobre uma parede O fluxo condutivo do lado do fluido pode ser definido como w f f cd f y T kq ∂ ∂ −= (1.13) de modo que se tem a igualdade dos fluxos, ou seja, w f f w s s y T k y T k ∂ ∂ −= ∂ ∂ − (1.14) Para o fluxo condutivo do lado do fluido, o problema é determinar o gradiente de temperatura na parede y T f ∂ ∂ que depende da convecção. Este fluxo deveria chamar fluxo conduto-convectivo ccq (mas é erroneamente chamado de fluxo convectivo). 1.4.3 Coeficiente de Transferência de Calor Convectiva Considere o escoamento de um fluido com velocidade )(rV e temperatura )(rT num canal de altura l , cuja parede inferior ( 0y = ) está a 1T e a parede superior ( 1y = ) está a 2T . Suponha que a distribuição de temperatura em função de y seja como ilustrado na Figura 1.4 O fluxo conduto-convectivo na parede inferior pode ser definido como )( 1 1 0 0 m m f y f fy cc TTh TT k y T kq −= − −= ∂ ∂ −= = = ξ (1.15) na qual ),( escoamentodonaturezafluidodoespropriedadfunçãoh = e é denominado de coeficiente de transferência de calor por convecção. Generalizando pode-se calcular o fluxo conduto-convectivo por cw cc TThq −= (1.16) 15 na qual wT é a temperatura na parede e cT é uma temperatura característica do fluido. A ordem de grandeza do coeficiente de transferência de calor é apresentada na Tabela 1.1. Figura 1.4 Temperatura de um fluido num canal em função de y. Tabela 1.1. Valores de h para determinados escoamentos Tipo Fluido h [Wm-2K-1] Convecção natural gás 5-30 água 100-1000 Convecção forçada gás 10-300 água 300-12000 óleo 50-1700 metal líquido 6000-110000 Mudança de fase ebulição (água) 3000-60000 condensação (água) 5000-110000 16 O fluxo conduto-convectivo será denominado pela sigla convencional, qqcc ′′= ou simplesmente q (este último símbolo em T.C. é equivalente a Q ). Desta forma fw TT qh − ′′ = , para fw TT > (1.17) ou 0= ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎝ ⎛ ∂ ∂ − − = yfw y T TT kh (1.18) h é uma propriedade do escoamento; k é a condutividade térmica do fluido; wT é a temperatura em 0=y que coincide com a interface entre o fluido e o outro meio (por exemplo, um parede sólida); fT é uma temperatura característica da corrente de fluido longe da parede; 0= ⎟⎟ ⎠ ⎞ ⎜⎜ ⎝ ⎛ ∂ ∂ yy T é o gradiente de temperatura do lado do fluido na interface. 1.4.4 Radiação - Transferência de calor entre superfícies negras Considere o problema de determinar a taxa líquida de transferência de calor ( )1 2q W− entre duas superfícies negras isotérmicas ( )1 1,A T e ( )2 2,A T mostradas na Figura 1.5. Um corpo negro é aquele que emite uma intensidade de radiação de acordo com a lei ( ) 5 4 4 4 2 2 2 3 0 2 15b k T TI T n n c h π σ π π = = (1.19) na qual 5 4 2 3 0 2 15 k c h πσ = (1.20) é a constante de Stefan-Boltzmann e seu valor em unidades SI é 8 2 45,67 10 W/(m K )xσ −= ⋅ . h e k são, respectivamente, as constantes de Planck e de Boltzmann, 0c é a velocidade da luz no vácuo, T é a temperatura absoluta e ν é a freqüência de propagação da onda. Esta análise pode ser feita nos seguintes passos: 1. A fração da radiação emitida pelo elemento de área 1dA e interceptada (absorvida totalmente) pelo elemento de área 2dA ; 2. A fração da radiação emitida pelo elemento de área 2dA e interceptada (absorvida totalmente) pelo elemento de área 1dA ; 17 3. A taxa de transferência líquida de 1dA para 2dA , isto é, a diferença entre as respostas da parte 1. e 2. e finalmente, 4. A taxa de transferência líquida de 1A para 2A , que é entre as duas áreas finitas isotérmicas. Figura 1.5 – Parâmetros geométricos para cálculo do fator de forma Se r é a distância entre os elementos de áreas 1dA e 2dA , então o ângulo sólido através do qual 2dA é visto por um observador estacionado em 1dA é igual a 2 2 2cos /dA rφ . Note que 2 2cosdA φ é a dimensão de 2dA após ele ter sido projetadona direção da linha 1 2dA dA− . Viajando de 1dA na direção de 2dA (e para todo o resto do espaço) tem-se a intensidade total de radiação de corpo negro ( ),1 1b bI I T= . O tamanho da área emitente que é normal à direção r é a área “ 1dA projetada”, 1 1cosdA φ . Portanto, a resposta ao item 1. é: 1 2 2 2 ,1 1 1 2 coscosdA dA b dAq I dA r φφ→ = (1.21) A seta usada no subscrito 1 2dA dA→ é para lembrar que 1 2dA dAq → representa a transferência de energia unidirecional por unidade de tempo, neste caso, de 1dA (emissor) para 2dA (alvo). Analogamente, a resposta ao item 2. será: 18 2 1 1 1 ,1 2 2 2 coscosdA dA b dAq I dA r φφ→ = (1.22) O terceiro passo consiste simplesmente de subtrair a Eq. (1.22) da Eq. (1.21) para calcular a transferência de calor líquida de 1dA para 2dA : ( ) 1 2 1 2 2 1 1 2 ,1 ,2 1 22 cos cos dA dA dA dA dA dA b bq q q I I dA dAr φ φ − → →= − = − (1.23) Usando a equação (1.19) para as intensidades de radiação de corpo negro, com 1n = , a Eq. (1.23) pode ser reescrita como ( )1 2 4 4 1 21 2 1 22 cos cos dA dAq T T dA dAr φ φσ π− = − (1.24) Para se calcular ( )1 2q W− deve-se somar as contribuições de todos os elementos de área de 1A e 2A , ou seja, ( ) 1 2 4 4 1 2 1 2 1 2 1 22 cos cos A A q T T dA dA r φ φσ π− = − ∫ ∫ (1.25) No lado esquerdo da Eq. (1.25) o subscrito 1-2 estabelece que a taxa de transferência ( )1 2q W− deixa a superfície 1A e entra (cruza) a superfície 2A . A unidade da integral dupla na Eq. (1.25) é metro quadrado ( )2m . É conveniente definir um fator adimensional formado pela razão da integral dupla por 1A , denominado de fator de forma geométrico baseado em 1A : 1 2 1 2 12 1 22 1 1 cos cos A A F dA dA A r φ φ π = ∫ ∫ (1.26) A equação (1.25) pode, então, ser reescrita como ( )4 41 2 1 2 1 12q T T A Fσ− = − (1.27) O fator de forma é puramente geométrico, pois depende apenas de dimensões, orientações e posições relativas das duas superfícies. Alternativamente poderia se definir 1 2 1 2 21 1 22 2 1 cos cos A A F dA dA A r φ φ π = ∫ ∫ (1.28) de modo que ( )1 2q W− fica na forma ( )4 41 2 1 2 2 21q T T A Fσ− = − (1.29) 19 Assim para se calcular ( )1 2q W− deve-se calcular ou 12F ou 21F . Ao se integrar a Eq. (1.21) obtém-se o resultado 1 2 41 2 1 2 ,1 1 2 1 1 122 cos cos b A A q I dA dA T A F r φ φ σ→ = =∫ ∫ (1.30) Se 1b,E representa o fluxo emissivo total ou poder emissivo total da superfície 1, este fluxo é da forma 4 ,1 1bE Tσ= (1.31) Portanto, pode-se demonstrar que 4 1 1 ,1 1bT A E Aσ = (1.32) que é o número de watts de radiação de corpo negro emitida pela superfície 1A em todas as direções que os pontos de 1A podem “olhar”. Apenas uma porção de ,1 1bE A é interceptada e absorvida por 2A ( porque, em geral, 1A pode ser cercada por outras superfícies além de 2A ); aquela porção é 1 2q → ou ,1 1 12bE A F . Em conclusão, o significado físico do fator de forma é: 1 2 1 2 12 ,1 1 1 radiaçao deixando e sendo interceptada por radiaçao deixando em todas as direçoesb q A AF q A A →= = (1.33) A razão formulada na Eq. (1.33) sugere que o fator de forma está no intervalo entre 0 e 1. Livros textos de transferência de calor apresentam gráficos e tabelas de fatores de forma para várias configurações. Vide Bejan (1993) Cap. 10, por exemplo. 1.5 Medições de temperatura usando termopares: (Prática 1) Nesta parte do curso será realizado um experimento de medições de temperatura através de termopares. O experimento consiste na confecção, aferição e fixação de termopares, bem como o manuseio de milivoltímetros e registradores potenciómetricos. Temperatura é um conceito intuitivo de quente e frio. Existem várias maneiras de medir temperatura, por exemplo, baseando-se na variação de pressão, variação de volume, resistência elétrica, coeficientes de expansão, etc., uma vez que todos estes efeitos são relacionados com a temperatura através da estrutura molecular da matéria. Eles mudam com a temperatura e estas mudanças podem ser usadas para medir temperatura. Os termômetros de gás baseiam-se no efeito de variação da pressão para medir a temperatura através da equação de estado de gases ideais. Medida de temperatura por efeito mecânico baseia-se na dilatação 20 de um material, como por exemplo, a dilatação de mercúrio em um tubo de vidro graduado. O efeito bi metálico baseia-se na colagem de duas fitas de metais de diferentes coeficientes de expansão que se deformam de forma diferente sob o efeito da temperatura. Efeito elétrico é uma maneira conveniente de medir porque o sinal elétrico pode ser facilmente detectado, amplificado, ou usado para propósitos de controle. O método elétrico mais comum de se medir temperatura usa termopares. Quando dois metais diferentes são unidos por uma de suas extremidades, Figura 1.6, aparece entre as extremidades livres uma força eletromotriz (emf – electromotive force) que será função da temperatura da junção. Este fenômeno é chamado efeito Seebeck. Se os dois materiais são conectados a um circuito externo de tal maneira que origina uma corrente, a emf pode ser alterada levemente devido ao fenômeno chamado efeito Peltier. Além do mais, se um gradiente de temperatura existe ao longo de um ou ambos os materiais, a emf da junção sofre uma alteração adicional chamada de efeito Thomsom. Existem, portanto, três emf’s presentes no circuito: o efeito Seebeck causado pela junção de materiais não similares; o efeito Peltier causado pelo efeito de escoamento de corrente elétrica no circuito; e o efeito Thomson, que resulta de gradiente de temperatura nos materiais. A emf de Seebeck é a mais importante visto que ela depende da temperatura da junção. Se a emf gerada da junção de dois materiais diferentes é cuidadosamente medida como uma função da temperatura, então tal junção pode ser utilizada para medida de temperatura. Figura 1.6 Junção de dois metais não similares indicando efeito termoelétrico. Duas regras estão disponíveis para análise de circuitos termoelétricos: 1) Se um terceiro metal é conectado no circuito como mostrado na Figura 1.7, a emf líquida não é afetada se ambas as conexões estiverem na mesma temperatura. Isto pode ser provado com ajuda da segunda lei da termodinâmica e é conhecido como lei de metais intermediários. 2) Considere o arranjo da Figura 1.8. Os circuitos simples de termopares são construídos dos mesmos materiais mas operam entre diferentes limites de temperaturas. O circuito 21 na Figura 1.8a desenvolve uma emf de valor E1 entre as temperaturas T1 e T2; o circuito na Figura 1.8b desenvolve uma emf de valor E2 entre as temperaturas T2 e T3 . A lei das temperaturas intermediárias estabelece que este mesmo circuito desenvolve uma emf E3= E1 + E2 quando operando entre as temperaturas T1 e T3, como mostrado na Figura 2.8c. Figura 1.7 Influência de um terceiro metal no circuito termoelétrico; lei de metais intermediários. Figura 2.8 Circuitos ilustrando a lei de temperaturas intermediárias. Os circuitos termopares devem envolver pelo menos duas junções. Se a temperatura de uma junção é conhecida, então, a temperatura da outra junção pode ser facilmente calculada usando as propriedades termoelétricas dos materiais. A temperatura conhecida é chamada de temperatura de referência. Um arranjo comum para estabelecer a temperatura de referência é banho de gelo como mostrado na Figura 1.9. Uma mistura de gelo e ar saturado de água destilada à pressão atmosférica produz uma temperatura de 0 oC. Quando a mistura é mantida numa garrafa térmica, ela pode ser mantida por longos períodos. Ambos os fios do termopar podem ser mantidos à temperatura de referência como mostrado na Figura 1.9a ou apenas um fio pode ser mantido na temperatura de referência como mostra a Figura 1.9b. O arranjo da Figura 1.9a seria necessário seos conectores no medidor de voltagem estiverem à diferentes temperaturas, enquanto a conexão na Figura 1.9b seria satisfatório se os conectores estiverem na mesma temperatura. Para ser efetivo o sistema na Figura 1.9a deve ser de mesmo material. 22 Figura 1.9 Métodos convencionais para estabelecer temperatura de referência em circuito termopar. Termopar ferro-constantan ilustrado. É comum expressar a emf do efeito termoelétrico em termos do potencial gerado com a junção de referência a 0 oC. Tabelas de termopares padrões têm sido elaboradas com base nisso e um sumário das características de saída dos termopares mais comuns é apresentado na Tabela 1.2, na qual também está indicado o tipo de termopar: T, E, J, K, S. Estes dados são mostrados graficamente na Figura 1.10, juntamente com o comportamento de alguns dos mais exóticos materiais. Tabela 1.2 - Emf térmica em milivolts absolutos para combinações de termopares comumente usados (Junção de referência a 0oC) Temperatura Cobre Constantan1 (T) Cromel2 Constantan (E) Ferro Constantan (J) Cromel Alumel3 (K) Platina Platina-10%Ródio (S) oF oC -300 -184,4 -5,341 -8,404 -7,519 -5,632 -250 -156,7 -4,745 -7,438 -6,637 -5,005 -200 -128,9 -4,419 -6,471 -5,760 -4,381 -150 -101,1 -3,365 -5,223 -4,623 -3,538 -100 -73,3 -2,581 -3,976 -3,492 -2,699 1 Liga de 60% Cu – 40% Al 2 Liga de 90% Ni – 10% Al 3 Liga de 95% Ni-2%Mn-2%Al-1%Si 23 -50 -45,6 -1,626 -2,501 -2,186 -1,693 0 -17,8 -0,674 -1,026 -0,885 -0,692 -0,092 50 10 0,422 0,626 0,526 0,412 0,064 100 37,8 1,518 2,281 1,942 1,520 0,221 150 65,6 2,743 4,075 3,423 2,667 0,408 200 93,3 3,967 5,869 4,906 3,819 0,597 250 121,1 5,307 7,788 6,425 4,952 0,807 300 148,9 6,647 9,708 7,947 6,092 1,020 350 176,7 8,085 11,728 9,483 7,200 1,247 400 204,4 9,523 13,748 11,023 8,314 1,478 450 232,2 11,046 15,844 12,564 9,435 1,718 500 260,0 12,572 17,942 14,108 10,560 1,962 600 315,6 15,834 22,287 17,178 12,865 2,472 700 371,1 19,095 26,637 20,253 15,178 2,985 800 426,7 31,108 23,338 17,532 3,524 1000 537,8 40,056 29,515 22,251 4,609 1200 648,9 48,927 26,911 5,769 1500 815,6 62,240 33,913 7,514 1700 926,7 38,287 8,776 2000 1093,3 44,856 10,675 2500 1371,1 54,845 14,018 3000 1648,9 17,347 A voltagem de saída de um circuito termopar simples é usualmente escrita na forma 2 31 1 2 3 E AT BT CT= + + (1.34) na qual T é a temperatura em graus Celsius e E é baseada na temperatura de junção de 0 oC. As constantes A, B e C são dependentes do material do termopar. A sensibilidade ou coeficiente de Seebeck, ou potência termoelétrica, de um termopar é definida por 2dES A BT CT dT = = + + (1.35) 24 A Tabela 1.3 contém valores do coeficiente de Seebeck (sensibilidade) de vários materiais versus platina. Figura 1.10 Relações emf temperatura para materiais termopares, eletrodo positivo listado primeiro. A Figura 1.11 ilustra um termopar com duas junções de referência para os dois materiais. Neste circuito termopar pode-se demonstra que a relação entre a força eletromotriz a temperatura é da forma da Eq. (1.36): ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Ref . Tip Ref . Gage out lead A B LeadGage Ref Tip Ref Tip Ref . A BRef Tip Tip A BRef dT dT dT dTE S T dx S T dx S T dx S T dx dx dx dx dx S T dT S T dT S T S T dT = + + + = + ⎡ ⎤= −⎣ ⎦ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ (1.36) 25 Figura 1.11 – Circuito termopar Tabela 1.3 – Sensibilidade de termo elementos feitos de materiais listados contra platina, 1oV Cμ − (Junção de referência mantida a 0oC) Bismuto -72 Prata 6,5 Constantan -35 Cobre 6,5 Níquel -15 Ouro 6,5 Patássio -9 Tungstênio 7,5 Sódio -2 Cádmio 7,5 Platina 0 Ferro 18,5 Mercúrio 0,6 Nicromo 25 Carbono 3 Antimônio 47 Alumínio 3,5 Germânio 300 Chumbo 4 Silício 440 Tântalo 4,5 Telúrio 500 Ródio 6 Selênio 900 Se os coeficientes de Seebeck forem aproximadamente constates com a temperatura, a Eq.(1.36) pode ser integrada resultando ( )( )out A B Tip RefE S S T T= − − ou outTip Ref A B VT T S S = + − (1.37) Para cálculos computacionais, fórmulas polinomiais, por exemplo, de nona ordem podem ser usadas na forma 26 2 9 0 1 2 9T a a E a E a E= + + + + ou (1.38) ( )( )( )( )( )( )( )0 1 2 3 4 5 6 7 8 9T a E a a a a a a a a a E E E E E E E E⎛ ⎞= + + + + + + + + +⎜ ⎟⎝ ⎠ (1.39) na qual T é a temperatura em oC; E é a voltagem do termopar em volts referente a junção a 0 oC e a são os coeficientes do polinômio dados na Tabela 1.4 para várias combinações de termopares. Tabela 1.4 - Coeficientes de polinômios para Eq. (1.39) para várias combinações termopares padrões. Tipo E Tipo J Tipo K Tipo R Tipo S Tipo T Cromel(+) Contantan(-) Ferro(+) Constantan(-) Cromel(+) Ni-5%(-) (Al-Si) Pt-13%-Rh(+) Platina(-) Pt-10%-Rh(+) Platina(-) Cobre(+) Constantan(-) 100oC a 1000 oC ± 0,5 oC Nona ordem 0oC a 1000 oC ± 0,1 oC Quinta ordem 0oC a 1370 oC ± 0,7 oC Oitava ordem 0oC a 1000 oC ± 0,5 oC Oitava ordem 0oC a 1750 oC ± 1oC Nona ordem -160oC a 400 oC ± 0,5 oC Sétima ordem a0 0,104967248 -0,048868252 0,226584602 0,263632971 0,927763167 0,100860910 a1 17189,45282 19873,14503 24152,10900 179075,491 169526,5150 25727,94369 a2 -282639,0850 -218614,5353 67233,4248 -48840341,37 -31568363,94 -767345,8295 a3 12695339,5 11569199,78 2210340,682 1,90002E+10 8990730663 78025595,81 a4 -448703084,6 -264917531,4 -860963914,9 -4,82704E+12 -1,63565E+12 -9247486589 a5 1,10866E+10 2018441314 4,83506E+10 7,62091E+14 1,88027E+14 6,97666E+11 a6 -1,76807E+11 -1,18452E+12 -7,20026E+16 -1,37241E+1? -2,66192E+13 a7 1,71842E+12 1,38690E+13 3,71496E+18 6,17501E+17 3,94078E+14 a8 -9,19278E+12 -6,33708E+13 -8,03104E+19 -1,56105E+19 a9 2,06132E+13 1,69535E+20
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