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Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 1 Caderno do Estudante Ciências Humanas Conhecimento, mito e verdade 1º ano/2º bimestre Uma parceria entre a SEEDUC/RJ e o Instituto Ayrton Senna Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 2 Introdução Caro (a) jovem, Bem-vindo às aulas de Ciências Humanas. Neste Caderno do Estudante, você encontra as orientações de aulas para o 2 o bimestre do 1 o ano do Ensino Médio. Este material tem o objetivo de apoiar as atividades que serão propostas por seus professores. Vamos lá? Bom trabalho! S u m á ri o Filosofia p. 03 Geografia p. 20 História p. 27 Sociologia p. 34 Ciências Humanas Conhecimento, mito e verdade 1º ano/2º bimestre Caderno do Estudante Uma parceria entre a SEEDUC/RJ e o Instituto Ayrton Senna Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 3 Filosofia Ficha 1 – Mito e filosofia 1. Leia com a mediação do professor os três textos a seguir: O QUE É UM MITO? Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos Astros, da Terra, dos Homens, das Plantas, dos Animais, do Fogo, da Água, dos Ventos, do Bem e do Mal, da Saúde e da Doença, da Morte, dos Instrumentos de trabalho, das Raças, das Guerras, do Poder etc.). Para os Gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem a narrativa como verdadeira porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que o narrador ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados. (...) O mito não se importava com as contradições com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2010, p. 43-46. ETIMOLOGIA Mito. Mythos, em grego, significa "palavra", "o que se diz", "narrativa". A consciência mítica é predominante em culturas de tradição oral, quando ainda não há escrita. ARANHA, Maria Lucia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. “Etimologia Mito. O que é mito? Os rituais”. In: Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna. 2ª edição, 2010, p. 26-27. Disponível em: bit.ly/mitosopa acessado em 03/01/2017. DOIS RELATOS MÍTICOS Costumamos dizer que a filosofia é grega, por ter nascido nas colônias gregas no século VI a.C. E antes da filosofia, que tipos de pensamentos ocupavam a mente das pessoas? Vamos primeiro examinar o mito, modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e que nas civilizações da Antiguidade ainda exerceu significativa influência. Ao contrário, porém, do que muitos supõem o mito não desapareceu com o tempo. Está presente até hoje, permeando nossas esperanças e temores, como veremos. Entre os povos indígenas habitantes das terras brasileiras, encontramos várias versões sobre a origem da noite. Um desses relatos é o dos maués, nativos dos rios Tapajós e Madeira. Segundo eles, no início só havia o dia. Cansados da luz foram ao encontro da http://bit.ly/mitosopa Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 4 Cobra-Grande, a dona da noite. Ela atendeu ao pedido com a condição de que os indígenas lhe dessem o veneno com que os pequenos animais como aranhas, cobras e escorpiões se protegiam. Em troca, receberam um coco com a recomendação de só abri-lo ao chegarem à maloca. Ao ouvirem ruídos estranhos saindo dele, não resistiram à tentação e assim deixaram escapar antecipadamente a escuridão da noite. Atônitos e perdidos pisaram nos pequenos bichos, cujas picadas venenosas mataram muitos deles. Desde então, os sobreviventes aprenderam os cuidados que deveriam tomar quando a noite viesse. De modo semelhante aos maués, os gregos dos tempos homéricos narram o mito de Pandora, a primeira mulher. Em uma das muitas versões desse mito, Zeus enviou um presente aos humanos, mas com a intenção de puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu, que o roubara dos Céus. Pandora levava consigo uma caixa, que abriu por curiosidade, deixando escapar todos os males que afligem a humanidade. Conseguiu, porém, fechá-la a tempo de reter a esperança, única maneira de suportarmos as dores e os sofrimentos da vida. Nos dois relatos, percebemos situações aparentemente diversas, mas que se assemelham, pois ambos tratam da origem de algo: entre os indígenas, como surgiu a noite; e entre os gregos, a origem dos males. E trazem como consequências dificuldades que as pessoas devem enfrentar. A leitura apressada do mito nos leva a compreendê-lo como uma maneira fantasiosa de explicar a realidade, quando esta ainda não foi justificada pela razão. Sob esse enfoque, os mitos seriam lendas, fábulas, crendices e, portanto, um tipo inferior de conhecimento, a ser superado por explicações mais racionais. Tanto é que, na linguagem comum, costuma-se identificar o mito com a mentira. No entanto, o mito é mais complexo e muito mais expressivo e rico do que supomos quando apenas o tomamos como o relato frio de lendas desligadas do ambiente que as fez surgir. Não só́ os povos tribais ou as civilizações antigas elaboram mitos. A consciência mítica persiste em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender e, sobretudo sentir a realidade, como veremos adiante. O que é mito? Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, pura fantasia, mas verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos à coerência lógica, garantida pelo rigor da argumentação e pela apresentação de provas. A verdade do mito, porém, resulta de uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam na emoção e na afetividade. Nesse sentido, antes de interpretar o mundo de maneira argumentativa, o mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos. Não se trata, porém, de qualquer intuição. Para melhor circunscrever o conceito de mito, precisamos de outro componente o mistério –, pois ele sempre é um enigma a ser decifrado e como tal representa nosso espanto diante do mundo. Os rituais Segundo Mircea Eliade, historiador romeno estudioso das religiões, uma das características do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas. Desse modo, os gestos dos deuses são imitados nos rituais. Essa é a justificativa dada pelos teólogos e ritualistas hindus: “Devemos fazer o que os deuses fizeram no principio’’; “Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens”“. Eliade exemplifica com a resposta dada pelos arunta, povos nativos da Austrália, a respeito da maneira pela qual celebravam as cerimônias: "Porque os ancestrais assim o Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 5 prescreveram". Em seus rituais, porém, os arunta não se limitavam a representar ou imitar a vida, os feitos e as aventuras dos ancestrais:tudo se passava como se os antepassados aparecessem de fato nas cerimônias. O tempo sagrado é, portanto, reversível, ou seja, a festa religiosa não é simples comemoração, mas a ocasião pela qual o evento sagrado, que teve lugar no passado mítico, acontece novamente. Caso contrário, a semente não brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará́ frutos, o dia não sucederá à noite. Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar. [...] Ainda hoje, a maioria das religiões contemporâneas mantém os ritos próprios de sua crença: cultos, cerimônias, oferendas, preces, templos, festas e objetos religiosos. Transgressão do tabu No ambiente da tribo, o equilíbrio pessoal depende da preponderância do coletivo, o que facilita a adaptação do indivíduo à tradição. Ora, no universo em que predomina a consciência coletiva, a desobediência ultrapassa quem violou a proibição, podendo atingir a família, os amigos e, às vezes, toda a tribo. É o caso do tabu, termo que significa proibição, interdita, e que entre os povos tribais assume caráter sagrado. O mais primitivo tabu é o do incesto, mas há inúmeros outros, como o impedimento de tocar em algum objeto, animal ou em alguém. Por exemplo: em algumas tribos indígenas as mulheres menstruadas não devem tocar nos utensílios masculinos porque, contaminados, provocariam males e desgraças; a vaca é ainda hoje um animal sagrado na Índia e não deve ser molestada. Quando nas tribos a proibição é transgredida, são feitos ritos de purificação, como abster-se de alimentos, retirar-se para local isolado, submeter-se a cerimônias de ablução, em que se lava o corpo ou parte dele. Outros procedimentos são os rituais do "bode expiatório”: após a transgressão ter provocado doença em um indivíduo ou o mal ter atingido toda a tribo, o sacrifício de animais ou de pessoas é um processo de "expiação", ou seja, de purificação. As funções do mito Alguns teóricos explicam o mito pela função que desempenha no cotidiano da tribo, garantindo a tradição e a sobrevivência do grupo. ARANHA, Maria Lucia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Introdução à Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna. 2ª edição, 2010, p. 26-27. Disponível em: bit.ly/mitosopa acessado em 03/01/2017. 2. Faça o registro do que você entendeu sobre: a. O que é mito? b. Para que serve o mito? c. Existe mito na sociedade contemporânea? http://bit.ly/mitosopa Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 6 Filosofia Ficha 2 – Mito e filosofia 1. Faça a leitura e fichamento do texto a seguir. Procedimentos: a. Enumere os parágrafos. b. Grife as palavras desconhecidas. c. Pesquise o significado. d. Sublinhe os trechos que você considera importante. A CONTEMPORANEIDADE DOS MITOS Para entender os diversos mitos sobre a conservação do mundo natural de nossos dias é fundamental compreender que eles ainda hoje coexistem, de forma muitas vezes antagônica, segundo os tipos de sociedades que as formulam, sejam elas as chamadas tradicionais, sejam as modernas. Na concepção mítica das sociedades primitivas e tradicionais existe uma simbiose entre o homem e a natureza, tanto no campo das atividades do fazer, das técnicas e da produção, quanto no campo simbólico. Essa unicidade é muito mais evidente nas sociedades indígenas brasileiras, por exemplo, em que o tempo para pescar, caçar e plantar é marcado por mitos ancestrais, pelo aparecimento de constelações estelares no céu, por proibições e interdições. Mas ela também aparece em culturas como a caiçara do litoral sul nos ribeirinhos amazonenses, de forma menos clara talvez, mas nem por isso menos importante. Como são culturas decorrentes da mistura de elementos indígenas, negros e portugueses, os remanescentes das culturas mais antigas (indígenas e negras) são, numa maior proporção, responsáveis pelas porções míticas do pensamento caiçara e dos ribeirinhos amazônicos. Entretanto, o sincretismo religioso, no qual o elemento católico tradicional é fundamental, também dá a sua contribuição ao pensamento mítico dessas sociedades tradicionais. (...). Considerando a importância da simbiose homem-ciclos naturais existentes nas populações tradicionais, a noção de parques ou áreas de proteção protegidas que excluam as populações tradicionais é incompreensível para as culturas portadoras desse pensamento bioantropomorfo.. A disjunção forçada entre a natureza e a cultura tradicional, em que os homens são proibidos pelo Estado de exercer as suas atividades do fazer patrimonial, e também do saber, representa a imposição de um mito moderno: o da natureza intocada e intocável, próprio da sociedade urbano-industrial sobre mitos das sociedades tradicionais. DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. 5ª ed. São Paulo: Ed. Hucitec, 2004, p. 61-62. 2. Faça o resumo do texto em, no máximo, 10 linhas. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 7 Filosofia Ficha 3 – Mito e filosofia 1. Organizem-se em times de 5 pessoas. 2. Pesquisem o mito da criação do mundo: a. Escolham uma civilização ameríndia, africana ou asiática e combinem com o(a) professor(a). b. Pesquisem o mito da criação. c. Dividam as tarefas de preparação da apresentação oral. d. Não se esqueçam de colocar a fonte e as referências de pesquisa. e. Preparem uma apresentação de 5 minutos. f. Entreguem o registro da pesquisa para o(a) professor(a). Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 8 Filosofia Ficha 4 – Mito contemporâneo Observe a imagem ao lado. O que você vê? Um homem caindo? Nem sempre o real é o que parece ser... Olhe de novo: Certa estranheza no “modo de cair” põem dúvida nossa constatação inicial. Intrigados, nos perguntamos sobre o significado daquele movimento: o que é isso? O que vejo de fato? Essa fotografia faz parte de uma sequência de imagens de dançarinos-malabaristas de Paris. Nela, o fotógrafo conseguiu flagrar o momento exato em que um dançarino está no meio de uma pirueta. Essas fotos constituem a série “Queda” que lhe rendeu o prêmio da World Photo 2007. Nelas, Darzaq imprimiu às imagens de aparente queda livre sua percepção das mobilizações de jovens, a maioria estudantes, que em 2016 agitaram a França em protesto contra as dificuldades de emprego para as novas gerações do país. Qual é a relação que podemos fazer entre nossa primeira reação diante da imagem e a experiência filosófica? Depois de ler o capítulo, responda a essa pergunta indicando uma ou mais passagens que se relacione com as percepções que você teve da imagem. ***** 1. Como é o pensar filosófico? Leia o relato do filósofo francês André Comte-Sponville: [...] A cena se desenrola no início do século XX, num lugarejo da França rural. Um jovem professor de filosofia passeia com um amigo e encontra um camponês, que seu amigo conhece, lhe apresenta e com o qual nosso filósofo troca algumas palavras. - O que o senhor faz? – Indaga o camponês. - Sou professor de filosofia. - Isso é profissão? - Por que não? Acha estranho? - Um pouco! - Por quê? - Um filósofo é uma pessoa que não liga pra nada... Não sabia que se aprendia isso na escola. Na continuidade do texto, Sponville assim comenta o diálogo: O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedoria ou da felicidade. É isso se aprende na escola? Tem de ser aprendido, já que ninguém nasce filósofo e já que a filosofia é, antes de mais nada, um trabalho.Tanto melhor, se ele Veja a imagem clicando com o leitor de QR-Code do seu celular! Disponível em: bit.ly/fotoquedalivre (acesso em 03/01/2017). http://bit.ly/fotoquedalivre Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 9 começar na escola. O importante é começar, e não parar mais. Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro [...] Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mais um motivo para filosofar sem mais tardar. O texto de Sponville termina com uma constatação: a de que só não filosofam aqueles para quem “já não é possível pensar de modo algum”. Nesse ponto, cabe a pergunta: afinal, só pensa e reflete quem filosofa? É claro que não, já que você pensa quando resolve uma equação matemática, reflete criticamente ao estudar história geral, pensa antes de decidir sobre o que fazer no final de semana, pensa quando escreve um poema. Então, que tipo de “pensar” é esse, do filósofo? Não é melhor nem superior a todos os outros, mas sim diferente, porque se propõe a “pensar nossos pensamentos e ações”. “Dessa atitude resulta o que chamamos experiência filosófica”. Ao criar conceitos, os filósofos delimitam os problemas que os pais intrigam e buscam o sentido desses pensamentos e ações, para não aceitarem certezas e soluções fáceis demais. Se olharmos com atenção a tira do cartunista argentino Quino (QR-Code abaixo), constatamos que Mafalda faz uma interrogação filosófica sobre o sentido da existência, mas seu amigo Felipe quer se livrar o mais rapidamente de questão, ou seja, recusa-se a essa forma de pensar. Veja a imagem clicando com o leitor de QR-Code do seu celular! Tirinha Mafalda (Quino). Disponível em: bit.ly/mafaldamundo (acesso 30/01/2017) Heráclito e Demócrito, afresco de Donato Bramante, C. 1500. O artista representa uma velha história sobre os pré-socráticos Heráclito e Demócrito (séc. V a. C.) segundo a qual o primeiro era o “filósofo que chora” e o outro o “filósofo que ri”. http://bit.ly/mafaldamundo Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 10 2. Dois relatos míticos Costumamos dizer que a filosofia é grega, por ter nascido nas colônias gregas do século VI a.C. E antes da filosofia, que tipos de pensamentos ocupavam a mente das pessoas? Vamos primeiramente examinar o mito, modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e que nas civilizações da antiguidade ainda exerceu significativa influência. Ao contrário, porém, do que muitos supõem o mito não desaparece com o tempo. Está presente até hoje, permeando nossas esperanças e temores, como veremos. Entre os povos indígenas habitantes das terras brasileiras, encontramos várias versões sobre a origem da noite. Um desses relatos é dos maués, nativos dos rios Tapajós e Madeira. Segundo eles no início só havia o dia. Cansados da luz, foram ao encontro da Cobra-Grande, a dona da noite, ela atendeu ao pedido com a condição de que os indígenas dessem o veneno com que os pequenos animais como aranhas, cobras e escorpiões se protegiam. Em troca, receberam um coco com a recomendação de só abri-lo ao chegarem à maloca, ao ouvirem ruídos estranhos saindo dele, não resistiram à tentação e assim deixaram escapar antecipadamente a escuridão da noite. Atônito e perdidos pisaram nos pequenos bichos, cujas picadas venenosas mataram muitos deles. Desde então, os sobreviventes aprenderam os cuidados que deveriam tomar quando a noite viesse. De modo semelhante aos maués, os gregos dos tempos homéricos narram o mito de Pandora, a primeira mulher. Em uma das muitas versões desse mito, Zeus enviou um presente aos humanos, mas com a intenção de puni-los por terem recebido o fogo do titã Prometeu, que roubara dos Céus. Pandora levava consigo uma caixa, que abriu por curiosidade, deixando escapar todos os males que afligiam a humanidade. Conseguiu, porém, fechá-la a tempo de reter a esperança, única maneira de suportarmos as dores e os sofrimentos da vida. Nos dois relatos, percebemos situações aparentemente diversas, mas que se assemelham, pois ambos tratam da origem de algo: entre os indígenas como surgiu a noite; e entre os gregos, a origem dos males E trazem como consequências dificuldades que as pessoas devem enfrentar. A leitura apressada do mito nos leva a compreendê-lo como uma maneira fantasiosa de explicar a realidade, quando esta ainda não foi justificada pela razão. Sob esse enfoque, os mitos seriam lendas, fábulas, crendices e, portanto, um tipo inferior de conhecimento, a ser superado por explicações mais racionais. Tanto é que, na linguagem comum, costuma-se identificar o mito à mentira. Veja a imagem clicando com o leitor de QR-Code do seu celular! Segundo a lenda do Boto-Cor-de-Rosa, à noite ele emerge do rio e se transforma em um belo e irresistível homem que seduz as moças e as engravida. As mães advertem as filhas para o perigo que ele representa. ETIMOLOGIA: Mito. Mythos, em grego, significa “palavra”, “o que se diz”, “narrativa”. A consciência mítica predomina em culturas de tradição oral, quando ainda não há escrita. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 11 O Boto, Vicente do Rego Monteiro, 1921. Disponível em: http://bit.ly/obotoobra (acesso 30/01/2017) No entanto, o mito é mais complexo e muito mais expressivo e rico do que supomos quando apenas p tomamos como o relato frio de lenda desligadas do ambiente que as fez surgir. Não só os povos tribais ou as civilizações antigas elaboram mitos. A consciência mítica persiste em todos os tempos e culturas como componente indissociável da maneira humana de compreender e, sobretudo sentir a realidade, como veremos adiante. 3. O que é o mito? Como processo de compreensão da realidade, o mito não é lenda, pura fantasia, mas verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos à coerência lógica, garantida pelo rigor da argumentação e pela apresentação de provas. A verdade do mito, porém, resulta de uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam na emoção e na afetividade. Nesse sentido, antes de interpretas o mundo e maneira argumentativa, o mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas coisas ou com delas nos afastamos. Não se trata, porém, de qualquer intuição. Para melhor circunscrever o conceito de um mito, precisamos de outro componente – o mistério -, pois ele sempre é um enigma a decifrado e como tal. Apresenta nosso espaço diante do mundo. Segundo alguns intérpretes, o “falar sobre o mundo” simbolizado pelo mito está impregnado do desejo humano de afugentar a insegurança, os temores e a angústia diante do desconhecido do perigo e da morte. Para tanto, os relatos mítico0s se sustentam na crença, na fé em forças superiores que protegem, encorajam, recompensam ou castigam. Entre as comunidades tribais, os mitos constituem um discurso de tal força que se estende por todas as esferas da realidade vivida. Desse modo o sagrado (ou seja, a relação entre a pessoa e o divino) permeia tosos os campos da atividade humana. Por isso, os modelos de construção mítica são de natureza sobrenatural, isto é, recorre-se aos deuses para essa compreensão do real. 4. Os rituais Segundo Mircea Eliade, historiador romeno e estudioso das religiões, uma das características do mito é fixar modelos exemplares de todos os ritos e todas as atividades humanas significativas. Desse modo, os gestos dos deuses dão imitados nos rituais. Essa é a justificativa dada pelos teólogose ritualistas hindus. “Devemos fazer o que os deuses fizeram no princípio. ”: “Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens”. Eliade exemplifica com a resposta dada pelos arunta, povos nativos da Austrália, a respeito da maneira pela qual celebravam as cerimônias: “Por que os ancestrais assim o prescreveram”. Em seus rituais, porém, os arunta não se limitavam a representar ou imitar a Para refletir: O mistério é algo que não podemos compreender, por ser inacessível à razão e depender da fé. Um problema é algo que ainda não compreendemos, mas para o qual nos esforçamos por descobrir a resposta. Você poderia dar um exemplo de cada um desses conceitos? http://bit.ly/obotoobra Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 12 vida, os feitos e as aventuras dos ancestrais: tudo se passava como se os antepassados aparecessem de fato nas cerimônias. O tempo sagrado é, portanto, reversível, ou seja, a festa religiosa não simples comemoração, mas a ocasião pela qual a o evento sagrado, que teve lugar no passado mítico, acontece novamente, Caso contrário, a semente não brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará frutos, o dia não sucederá a noite. Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar. Exemplos de rituais A maneira mágica pela qual os povos tribais agem sobre o mundo pode ser exemplificada pelos inúmeros ritos de passagem: do nascimento, da infância, para a idade adulta, do casamento, da morte. Assim diz Mircea Eliade: Diferentemente do que hoje entendemos por virtude, para os gregos esse valor correspondia à excelência e à superioridade, objetivo supremo do herói guerreiro. Essa virtude se destacava igualmente na assembleia dos guerreiros, pelo poder de persuasão do discurso. I. Hesíodo Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta do final do século VIII a.C., produziu uma obra com particularidades que tendem a superar a poesia impessoal e coletiva das epopeias. Essas características novas são indicativas do período arcaico, que então se iniciava. Mesmo assim, suas obras ainda refletem o interesse pela crença nos mitos. Em Teogonia, Hesíodo relata as origens do mundo e dos deuses, em que as forças emergentes da natureza vão se transformando nas próprias divindades. Por isso a teogonia é também uma cosmogonia, na medida em que narra como todas as coisas surgiram do Caos para compor a ordem do cosmo. Por exemplo, do Caos surgiu Gaia, ou Geia (a Terra, elemento primordial), que, sozinha, deu origem a Urano (o Céu). Em seguida, uniu-se a Urano, gerando os deuses e as divindades femininas. Um de seus filhos é Cronos (Tempo), que toma o poder do pai e é destronado pelo filho Zeus. Os deuses gregos permaneceram por muito tempo na cultura ocidental da Antiguidade e foram assimilados pelos romanos, com outros nomes. Por exemplo, Cronos é Saturno, Zeus é Júpiter, Atena é Minerva, Afrodite é Vênus e assim por diante. ETIMOLOGIA: Teogonia. Do grego theos, “deus”, e gonos, “origem”. Cosmogonia. Do grego kósmos, “mundo”, “ordem”, “beleza” Caos. Para os gregos, o vazio inicial. Para refletir: O conceito de virtude variou entre os filósofos, mas em geral designa uma disposição ética para realizar o bem, o que supõe autonomia e nãos imposição do destino. Você saberia indicar algumas virtudes desejáveis para o convívio humano? Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 13 5. O mito hoje Perguntamos então: e hoje, o desenvolvimento do pensamento reflexivo teria decretado a morte da consciência mítica? Augusto Comte, fundador do positivismo, responde afirmativamente: ao explicar a evolução da humanidade, define a maturidade do espírito humano pela superação de todas as formas míticas e religiosas. Dessa maneiram opõe radicalmente mito e razão, ao mesmo tempo em que inferioriza o mito como tentativa fracassada de explicação da realidade. No entanto, ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente, o positivismo fez nascer o mito do cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber possível. Desse modo, o positivismo mostra-se reducionista, já que bem sabemos, a ciência não é a única interpretação válida do real. De fato, existem outros modos de compreensão, como o senso comum, a filosofia, a arte, a religião, e nenhuma delas exclui o fato de o mito estar na raiz da inteligibilidade. A função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas - casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte - cuja definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria subjetividade. Essas palavras nos remetem a valores arquetípicos, modelos universais que existem na natureza inconsciente e primitiva de todos nós. 6. A permanência do mito O mito ainda é uma expressão fundamental do viver humano, o ponto de partida para a compreensão do ser. Em outras palavras, tudo o que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo trabalho posterior da razão. Personalidades como artistas, políticos e esportistas, que os meios de comunicação se incumbem de transformar em imagens exemplares, passam a representar todo tipo de anseios: sucesso, poder, liderança, atração sexual etc. Por esses motivos, figuras míticas como as do guerrilheiro Che Guevara, da princesa Lady Diana, da superstar Madonna, do tricampeão de automobilismo Ayrton Senna exaltam o imaginário das pessoas. Hoje em dia, com rapidez da mídia, essas influências tornam-se múltiplas e também mais fugazes. Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo1 exprime o arquétipo da luta entre o bem e o mal, enquanto a dupla personalidade do super-herói atinge em cheio o desejo da pessoa 1 Maniqueísmo. Atitude de quem estabelece uma oposição simplista entre algo (ou alguém) que representa o bem e o outro que representa o mal. ETIMOLOGIA: Arquétipo. Arché, em grego, significa “princípio”, “origem”. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 14 comum de superar a própria inexpressividade e impotência, tornando-se excepcional e poderosa. Também os contos de fada retomam os mitos universais do herói em luta contra as forças do mal, apaziguando os temores infantis. No campo da política, quando alguém diz que o socialismo é um mito, pode estar dizendo que se trata de uma mentira, de uma ilusão que não leva a lugar algum. Porém, outros, verão positivamente o mito do socialismo como utopia, o lugar do “ainda não”, cuja força mobiliza a construção daquilo que um dia poderá “vir a ser”. Até as mais racionais adesões a partidos políticos e correntes de pensamento supõe esse plano de fundo mítico no qual nos movemos em direção a valores que só posteriormente explicitamos pela razão. O nosso comportamento também é permeado de rituais, mesmo que secularizado, isto é, não rigorosas: as comemorações de nascimentos, casamentos e aniversários, a entrada do ano novo, as festas de formatura e de debutantes, os trotes de calouros nos fazem lembrar ritos de passagem. Examinando as manifestações coletivas no cotidiano da vida urbana do brasileiro, descobrimos componentes míticos no carnaval e no futebol, ambos como manifestações do imaginário racional e da expansão de forças inconscientes. 7. Aspectos sombrios do mito O mito se estressa ainda sobre formas negativas, por exemplo quandoas ideias de Hitler encontraram um eco naqueles que acreditavam na ideia da raça ariana como raça pura, desencadeando movimentos apaixonados de perseguição que culminaram no genocídio de judeus, ciganos e homossexuais. 8. Para finalizar O mito não se reduz a simples mentira, mas faz parte da vida humana desde seus primórdios e ainda persiste no nosso cotidiano como umas das experiências possíveis do existir humano, expressas por meio de crenças, dos temores e desejos que nos mobilizam. No entanto, hoje os mitos não emergem com a mesma força com que se impuseram nas sociedades tribais, porque o exercício da crítica racional nos permite legitima-los ou rejeita- los quando nos desumanizam. Para refletir: Os arianos são um subgrupo indo-europeu que veio das estepes da Ásia e se expandiu pela Europa. Segundo a concepção racista do nazismo, deles descendiam os alemães, que constituíam uma “raça pura”. Você já notou como as doutrinas racistas consideram inferiores pessoas ou grupos que são apenas diferentes? Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 15 Filosofia Ficha 5 – Mito contemporâneo MITO DE NARCISO Narciso era um belo rapaz, filho do deus Céfiso e da ninfa Liríope. Por ocasião de seu nascimento, seus pais consultaram o oráculo Tirésias para saber qual seria o destino do menino. A resposta foi que ele teria uma longa vida, se nunca visse a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso, quando ele chegou à idade adulta. Porém, o belo jovem não se interessava por nenhuma delas. A ninfa Eco, uma das mais apaixonadas, não se conformou com a indiferença de Narciso e afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde definhou até que somente restaram dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Nêmeses apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Descuidando-se de tudo o mais, ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. No próprio Hades ele tentava ver nas águas do Estige as feições pelas quais se apaixonara. 1. Toda narrativa mítica veicula uma espécie de lição de ordem moral, comportamental, podendo mesmo estabelecer algum tipo de censura ou coerção, no âmbito das relações de convívio interpessoal, familiar ou social. Concorre para a dimensão trágica do mito narcísico a ocorrência desmedida do traço de sua personalidade literária, identificado como: a) Egoísmo, por não querer ver a beleza de mais ninguém. b) Vaidade, já que não conseguia parar de se admirar. c) Orgulho, pois todos o consideravam muito bonito. d) Parcialidade, porque não conseguia admitir os próprios defeitos. e) Altruísmo, visto que usava sua beleza para ajudar as mulheres. 2. Após a resolução da questão em sala, se organize novamente no mesmo time de pesquisa do trabalho de mitologia e, sob orientação do professor, identifique os valores morais presentes no mito e quais os benefícios e malefícios. Prepare, com seu time, uma apresentação oral de 10 minutos e escreva a apresentação para entregar ao professor. Os apresentadores devem ser distintos dos que apresentaram anteriormente. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 16 Filosofia Ficha 6A – A busca da Verdade IGNORÂNCIA E VERDADE A verdade como um valor “Não se aprende Filosofia, mas a filosofar”, já disse Kant. A Filosofia não é um conjunto de ideias e de sistemas que possamos apreender automaticamente, não é um passeio turístico pelas paisagens intelectuais, mas uma decisão ou deliberação orientada por um valor: a verdade. É o desejo do verdadeiro que move a Filosofia e suscita filosofias. Afirmar que a verdade é um valor significa: o verdadeiro confere às coisas, aos seres humanos, ao mundo um sentido que não teriam se fossem considerados indiferentes à verdade e à falsidade. Ignorância, incerteza e insegurança Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis, de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber. A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança. Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche de espanto e de admiração, não sabemos o que pensar ou o que fazer com a novidade do que vimos ou ouvimos porque as crenças, opiniões e ideias que possuímos não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade, nos fazem querer saber o que não sabemos, nos fazem querer sair do estado de insegurança ou de encantamento, nos fazem perceber nossa ignorância e criam o desejo de superar a incerteza. Quando isso acontece, estamos na disposição de espírito chamada busca da verdade. O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos como desejo de confiar nas coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que as coisas são exatamente tais como as percebemos e o que as pessoas nos dizem é digno de confiança e crédito. Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana é feita de pequenas e grandes decepções e, por isso, desde cedo, vemos as crianças perguntarem aos adultos se tal ou qual coisa “é de verdade ou é de mentira”. Quando uma criança ouve uma história, inventa uma brincadeira ou um brinquedo, quando joga, vê um filme ou uma peça teatral, está sempre atenta para saber se “é de verdade ou de mentira”, está sempre atenta para a diferença entre o “de mentira” e a mentira propriamente dita, isto é, para a diferença entre brincar, jogar, fingir e faltar à confiança. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 17 Quando uma criança brinca, joga e finge, está criando um outro mundo, mais rico e mais belo, mais cheio de possibilidades e invenções do que o mundo onde, de fato, vive. Mas sabe, mesmo que não formule explicitamente tal saber, que há uma diferença entre imaginação e percepção, ainda que, no caso infantil, essa diferença seja muito tênue, muito leve, quase imperceptível – tanto assim, que a criança acredita em mundos e seres maravilhosos como parte do mundo real de sua vida. Por isso mesmo, a criança é muito sensível à mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do “de mentira”, isto é, a mentira é diferente da imaginação e a criança se sente ferida, magoada, angustiada quando o adulto lhe diz uma mentira, porque, ao fazê-lo, quebra a relação de confiança e a segurança infantis. Quando crianças, estamos sujeitos a duas decepções: a de que os seres, as coisas, os mundos maravilhosos não existem “de verdade” e a de que os adultos podem dizer-nos falsidades e nos enganar. Essa dupla decepção pode acarretar dois resultados opostos: ou a criança se recusa a sair do mundo imaginário e sofre com a realidade como alguma coisa ruim e hostil a ela; ou, dolorosamente, aceitaa distinção, mas também se torna muito atenta e desconfiada diante da palavra dos adultos. Nesse segundo caso, a criança também se coloca na disposição da busca da verdade. Nessa busca, a criança pode desejar um mundo melhor e mais belo que aquele em que vive e encontrar a verdade nas obras de arte, desejando ser artista também. Ou pode desejar saber como e por que o mundo em que vive é tal como é e se ele poderia ser diferente ou melhor do que é. Nesse caso, é despertado nela o desejo de conhecimento intelectual e o da ação transformadora. A criança não se decepciona nem se desilude com o “faz-de-conta” porque sabe que é um “faz-de-conta”. Ela se decepciona ou se desilude quando descobre que querem que acredite como sendo “de verdade” alguma coisa que ela sabe ou que ela supunha que fosse “de faz- de-conta”, isto é, decepciona-se e desilude-se quando descobre a mentira. Os jovens se decepcionam e se desiludem quando descobrem que o que lhes foi ensinado e lhes foi exigido oculta a realidade, reprime sua liberdade, diminui sua capacidade de compreensão e de ação. Os adultos se desiludem ou se decepcionam quando enfrentam situações para as quais o saber adquirido, as opiniões estabelecidas e as crenças enraizadas em suas consciências não são suficientes para que compreendam o que se passa nem para que possam agir ou fazer alguma coisa. Assim, seja na criança, seja nos jovens ou nos adultos, a busca da verdade está sempre ligada a uma decepção, a uma desilusão, a uma dúvida, a uma perplexidade, a uma insegurança ou, então, a um espanto e uma admiração diante de algo novo e insólito. Convite à Filosofia (CHAUI, Marilena de Souza. São Paulo: Ed. Ática. 14º Edição, ANO, 2000). p. 111-113). Acessado em 10.12.2015. Disponível em: bit.ly/convitefilosofiachauí http://bit.ly/convitefilosofiachauí Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 18 Filosofia Ficha 6B – A busca da Verdade AS CONCEPÇÕES DA VERDADE Grego, latim e hebraico Nossa ideia da verdade foi construída ao longo dos séculos, a partir de três concepções diferentes, vindas da língua grega, da latina e da hebraica. Em grego, verdade se diz aletheia, significando: não-oculto, não-escondido, não dissimulado. O verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito; a verdade é a manifestação daquilo que é ou existe tal como é. O verdadeiro se opõe ao falso, pseudos, que é o encoberto, o escondido, o dissimulado, o que parece ser e não é como parece. O verdadeiro é o evidente ou o plenamente visível para a razão. Assim, a verdade é uma qualidade das próprias coisas e o verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste, enquanto a falsidade depende de que ela se esconda ou se dissimule em aparências. Em latim, verdade se diz veritas e se refere à precisão, ao rigor e à exatidão de um relato, no qual se diz com detalhes, pormenores e fidelidade o que aconteceu. Verdadeiro se refere, portanto, à linguagem enquanto narrativa de fatos acontecidos, refere- se a enunciados que dizem fielmente as coisas tais como foram ou aconteceram. Um relato é veraz ou dotado de veracidade quando a linguagem enuncia os fatos reais. A verdade depende, de um lado, da veracidade, da memória e da acuidade mental de quem fala e, de outro, de que o enunciado corresponda aos fatos acontecidos. A verdade não se refere às próprias coisas e aos próprios fatos (como acontece com a aletheia), mas ao relato e ao enunciado, à linguagem. Seu oposto, portanto, é a mentira ou a falsificação. As coisas e os fatos não são reais ou imaginários; os relatos e enunciados sobre eles é que são verdadeiros ou falsos. Em hebraico, verdade se diz emunah e significa confiança. Agora são as pessoas e Deus quem são verdadeiros. Um Deus verdadeiro ou um amigo verdadeiro são aqueles que cumprem o que prometem, são fiéis à palavra dada ou a um pacto feito; enfim, não traem a confiança. A verdade se relaciona com a presença, com a espera de que aquilo que foi prometido ou pactuado irá cumprir-se ou acontecer. Emunah é uma palavra de mesma origem que amém, que significa: assim seja. A verdade é uma crença fundada na esperança e na confiança, referidas ao futuro, ao que será ou virá. Sua forma mais elevada é a revelação divina e sua expressão mais perfeita é a profecia. Aletheia se refere ao que as coisas são; veritas se refere aos fatos que foram; emunah se refere às ações e as coisas que serão. A nossa concepção da verdade é uma síntese dessas três fontes e por isso se refere às coisas presentes (como na aletheia), aos fatos passados (como na veritas) e às coisas futuras (como na emunah). Também se refere à própria realidade (como na aletheia), à linguagem (como na veritas) e à confiança- esperança (como na emunah). Palavras como “averiguar” e “verificar” indicam buscar a verdade; “veredicto” é pronunciar um julgamento verdadeiro, dizer um juízo veraz; “verossímil” e “verossimilhante” significam: ser parecido com a verdade, ter traços semelhantes aos de algo verdadeiro. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 19 Diferentes teorias sobre a verdade Existem diferentes concepções filosóficas sobre a natureza do conhecimento verdadeiro, dependendo de qual das três ideias originais da verdade predomine no pensamento de um ou de alguns filósofos. Assim, quando predomina a aletheia, considera-se que a verdade está nas próprias coisas ou na própria realidade e o conhecimento verdadeiro é a percepção intelectual e racional dessa verdade. A marca do conhecimento verdadeiro é a evidência, isto é, a visão intelectual e racional da realidade tal como é em si mesma e alcançada pelas operações de nossa razão ou de nosso intelecto. Uma ideia é verdadeira quando corresponde à coisa que é seu conteúdo e que existe fora de nosso espírito ou de nosso pensamento. A teoria da evidência e da correspondência afirma que o critério da verdade é a adequação do nosso intelecto à coisa, ou da coisa ao nosso intelecto. Quando predomina a veritas, considera-se que a verdade depende do rigor e da precisão na criação e no uso de regras de linguagem, que devem exprimir, ao mesmo tempo, nosso pensamento ou nossas ideias e os acontecimentos ou fatos exteriores a nós e que nossas ideias relatam ou narram em nossa mente. Agora, não se diz que uma coisa é verdadeira porque corresponde a uma realidade externa, mas se diz que ela corresponde à realidade externa porque é verdadeira. O critério da verdade é dado pela coerência interna ou pela coerência lógica das ideias e das cadeias de ideias que formam um raciocínio, coerência que depende da obediência às regras e leis dos enunciados corretos. A marca do verdadeiro é a validade lógica de seus argumentos. Finalmente, quando predomina a emunah, considera-se que a verdade depende de um acordo ou de um pacto de confiança entre os pesquisadores, que definem um conjunto de convenções universais sobre o conhecimento verdadeiro e que devem sempre ser respeitadas por todos. A verdade se funda, portanto, no consenso e na confiança recíproca entre os membros de uma comunidade de pesquisadores e estudiosos. O consenso se estabelece baseado em três princípios que serão respeitados por todos: 1. que somos seres racionais e nosso pensamento obedece aos quatro princípios a razão (identidade, não-contradição, terceiro-excluído e razão suficiente ou causalidade); 2. que somos seres dotados de linguagem e que ela funciona segundo regras lógicas convencionadas e aceitas por uma comunidade; 3. que os resultados de uma investigação devem ser submetidos à discussão e avaliação pelos membros da comunidade de investigadores que lhe atribuirãoou não o valor de verdade. Convite à Filosofia (CHAUI, Marilena de Souza. São Paulo: Ed. Ática. 14º Edição, ANO, 2000. p. 121-124). Acessado em 10.12.2015. Disponível em: bit.ly/convitefilosofiachauí http://bit.ly/convitefilosofiachauí Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 20 Geografia Ficha 7 - Fatores e elementos do clima Caros estudantes, Na aula anterior, começamos o nosso estudo sobre os elementos do clima. Agora, vamos estudar como alguns fatores interferem na dinâmica do clima. Completem a tabela abaixo a lápis, com base nas hipóteses levantadas pelo seu time. Vocês devem escrever os “efeitos” que ocorrem nos elementos do clima quando varia cada fator, conforme apontado na tabela. Atenção! Não é preciso pesquisar as informações solicitadas! A ideia é que vocês elaborem hipóteses para, em sala de aula, conversar sobre o tema e chegarmos, todos juntos, às definições corretas; Exemplo: na primeira linha o time deve pensar o que ocorre com a temperatura em lugares mais próximos e outros mais distantes da Linha do Equador. Se possível, explique como o grupo chegou a esta afirmação. Elementos Fatores “Efeitos” Temperatura Latitude Altitude Maritimidade e Continentalidade (Proximidade do mar) Precipitação/ chuva Latitude Maritimidade e Continentalidade (Proximidade do mar) Pressão Atmosférica Altitude Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 21 Geografia Ficha 8 – Proposta de avaliação Olá, estudantes! Durante os encontros deste bimestre estudamos aspectos relacionados às dinâmicas climáticas e à distribuição dos biomas no mundo e no Brasil. Vocês elaboraram hipóteses para explicar a influência dos fatores na variação do clima preenchendo, em times, uma tabela (que depois foi corrigida e compartilhada com a toda a turma). Também conhecemos aspectos gerais dos biomas do mundo e, como tarefa para os Estudos Orientados, vocês trouxeram informações sobre os biomas brasileiros. Agora, com todos estes registros em mãos, elaborem a atividade que segue. Organizem respostas completas, como começo, meio e fim. Bom trabalho! 1. Observem a tabela abaixo. Ela mostra as médias das temperaturas em algumas capitais do Brasil: Cidade Médias térmicas anuais Belém 26,8°C Salvador 25,2°C Vitória 24,8°C Porto Alegre 19,5°C 2. Escrevam um pequeno texto para explicar por que as capitais acima apresentam médias de temperaturas diferentes. Vocês devem mencionar os fatores do clima estudados em sala para argumentar. Para auxiliar a resposta do time, utilizem o mapa abaixo: Fonte: bit.ly/mapabrasilestadoscap (acesso: 30/01/17) http://bit.ly/mapabrasilestadoscap Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 22 Observem o mapa abaixo para responderem o que se pede: a. Segundo as nossas discussões em sala, qual cidade deve ter médias de temperaturas mais elevadas (mais calor) levando em conta apenas o fator de latitude: Montevidéu ou Quito? Justifiquem. b. Entre Lima e Brasília, qual deve ter maior variação de temperatura entre o dia a e à noite, levando em conta os efeitos de maritimidade e continentalidade? Por quê? Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 23 3. Leiam o texto abaixo. Ele é um trecho modificado de uma notícia publicada do site globoesporte.com no dia 23 de agosto de 2015. Em seguida, respondam ao que se pede: Mal da montanha: como prevenir e tratar a temida doença da altitude Distúrbio causado pela falta de oxigênio em altitudes elevadas gera aumento da frequência cardíaca, dores de cabeça, edemas pulmonares e até mesmo cerebral A doença da altitude elevada (mal da montanha) é um distúrbio causado pela falta de oxigênio em altitudes elevadas. O distúrbio pode ter várias formas. À medida que a altitude aumenta, a pressão atmosférica também aumenta e menos moléculas de oxigênio estão disponíveis no ar mais rarefeito. Esta diminuição afeta o corpo de muitas maneiras: a frequência e a profundidade da respiração aumentam, alterando o equilíbrio entre gases nos pulmões e no sangue, elevando a alcalinidade do sangue e alterando a distribuição de sais (potássio e sódio) nas células. Como consequência, a água é distribuída de modo diferente entre o sangue e os tecidos. a) O texto apresenta a relação equivocada entre um fator e um elemento do clima. Localize esta informação e reescreva corretamente segundo as nossas discussões. b) Segundo o texto, por que o ar rarefeito pode causar danos à saúde? c) De acordo com o que discutimos em sala, qual a interferência da altitude na temperatura? Explique como o ar rarefeito interfere nesta relação. 4. Observe a imagem abaixo. Ela mostra a alteração de um bioma brasileiro representando a distribuição dele no século XVI (primeiro mapa) e no século XXI (segundo mapa). a. A partir de suas pesquisas, mencione qual bioma está sendo representado. Justifique a sua opção. b. Escreva um pequeno texto caracterizando este bioma em relação aos aspectos da fauna, flora e temperatura. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 24 5. (UEL) O mosaico botânico brasileiro resulta da expansão e da retração de florestas, cerrados e caatingas, provocadas pela alternância de climas úmidos e secos nas regiões tropicais durante os períodos glaciais. Com base nessas considerações, analise a tabela a seguir. BIOMA Temperatura Média Anual (ºC) Pluviosidade média anual (mm) Solo Vegetação X 25 800 Possui nutrientes, porém sem capacidade de reter umidade. Árvores e arbustos caducifólios e redução da superfície foliar. Y 26 1200 Ácido, rico em alumínio Árvores como caules retorcidos, com cascas grossas e folhas coriáceas. Z 28 2000 Pobre em minerais, Árvores de grande porte com folhas largasse perenes e maior densidade no estrato arbustivo. Com base na tabela, assinale a alternativa que apresenta, correta e respectivamente, a sequência dos biomas representados pelas letras X, Y e Z. a) Caatinga, cerrado e floresta. b) Caatinga, floresta e cerrado. c) Cerrado, caatinga e floresta. d) Floresta, caatinga e cerrado. e) Floresta, cerrado e caatinga. 6. (PUC-RJ) Levando-se em consideração a paisagem ao lado, a única característica climática correta para a região destacada é: a) Alta amplitude térmica. b) Elevada evapotranspiração. c) Reduzida taxa de insolação. d) Inexistência de pluviosidade. e) Intensa umidade relativa do ar. 7. (UNESP) O pau-brasil foi a primeira matéria tintorial vinda da América a ser comercializada na Europa [...] A exploração do pau-brasil é reconhecida como o primeiro ciclo econômico da história do Brasil. [...] foi explorado pelas maiores potências comerciais de então (portugueses, franceses, holandeses e ingleses, entre outros). [...] em 1501, dom Manuel declarou o pau- brasil monopólio da Coroa portuguesa. [...]embora tenha sido oficialmente designado como espécie em perigo de extinção, o pau-brasil continua sendo alvo de comércio ilegal e também avança incessantemente o desmatamento de seu hábitat natural. [...] A redução da área original é o fator que mais coloca em risco a sobrevivência do pau-brasil, implacavelmentedevastada ao longo dos últimos 500 anos. (Eduardo Bueno. Pau-Brasil, 2002. Adaptado.) O hábitat natural do pau-brasil é o bioma a) Amazônico. b) Cerrado. c) Mata Atlântica. d) Caatinga. e) Pantanal. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 25 Geografia Ficha 9 – Orientações para o trabalho: “Conferência: mudanças climáticas resultantes da interação homem-natureza” Caros estudantes, Cotidianamente vemos nos noticiários as mais diversas mudanças climáticas no mundo. Alguns lugares registram temperaturas mais elevadas da história, outros invernos rigorosos. Secas em algumas regiões, chuvas intensas e alagamentos em outras. O que são fenômenos naturais e o que podem ter sido ocasionados pela ação humana ao longo dos últimos séculos? OBJETIVOS: Nas próximas aulas estaremos envolvidos em mais um importante trabalho de Geografia. O trabalho consiste em uma pesquisa sobre um determinado problema ambiental climático causado pela ação humana e a elaboração de um seminário de 15 minutos como forma de socializar os resultados da sua pesquisa. Há alguns pontos obrigatórios que o grupo deverá pesquisar, mas não se restrinjam a eles. É importante que vocês trilhem caminhos próprios e tenham autonomia no processo de pesquisa, trazendo informações que julgarem relevantes para tratar do tema. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO TIME O problema ambiental que seu time irá pesquisar será decidido e informado pelo seu professor. Assim que receberem o tema de pesquisa, façam uma rodada dentro do time compartilhando o que vocês já conhecem sobre o tema. Em seguida, dividam algumas tarefas dentro do time. Vocês podem dividi-las de acordo com os pontos obrigatórios que listamos abaixo: METODOLOGIA DE PESQUISA O primeiro passo para a realização da pesquisa é a seleção de fontes. Façam uma busca na biblioteca da escola, no livro didático e sites. Lembrem-se de focar a pesquisa nos pontos obrigatórios e optativos que ressaltamos a seguir. O próximo passo é a leitura atenta do material selecionado e o registro das informações coletadas. Traga seus registros para conversar com seu time antes do momento da organização dos seminários. PONTOS OBRIGATÓRIOS DE PESQUISA Explique o que é o problema ambiental climático pesquisado pelo seu grupo. Como os cientistas descobriram este problema? Quais as causas que levaram ao problema? Quais as consequências principais decorrentes desta alteração climática? O que já feito para evitar o agravamento deste problema? O que pode ainda ser feito para evitarmos maiores danos em relação a estas alterações? PONTOS OPTATIVOS O time pode e deve buscar aspectos que não foram abordados acima. Um exemplo é a Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 26 busca de uma música que trate do tema; alguma curiosidade sobre o tema; um filme ou documentário que pode ilustrar a abordagem feita pelo time; uma notícia recente além de outros pontos que surgirem a partir das discussões realizadas no time. Não se esqueçam de fundamentar o trabalho com mapas, dados, gráficos e imagens sobre o tema! CRONOGRAMA DO TRABALHO Tempo Data Tarefa 1 e 2 Entrega do roteiro de trabalho. Divisão das responsabilidades. Organização das tarefas que deverão ser realizadas pelos alunos. 3 e 4 Socialização das pesquisas feitas pelos integrantes. Início da organização do seminário. Nova organização das tarefas a serem realizadas nos Estudos Orientados. 5 e 6 Socialização das pesquisas feitas pelos integrantes. Ensaio e últimos ajustes para finalização das apresentações. Nova organização das tarefas a serem realizadas nos Estudos Orientados. 7 e 8 Conferência: as mudanças climáticas resultantes da interação homem-natureza. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 27 História Ficha 10 - Conhecer é Poder? APÓS A NONA Onde se visita o scriptorium e se fica conhecendo muitos estudiosos, copistas e rubricadores além de um velho cego que espera pelo Anticristo. (...). A abundância de janelas fazia com que a grande sala fosse alegrada por uma luz contínua e difusa, embora estivéssemos numa tarde de inverno. As vidraças não eram coloridas como as da igreja, e os encaixes de chumbo prendiam quadrados de vidro incolor, para que a luz entrasse do modo mais puro possível, não modulada por arte nenhuma, e servisse à sua finalidade, que era a de iluminar o trabalho de leitura e de escritura. (...) Severino explicou-nos que os monges que trabalhavam no scriptorium estavam dispensados dos ofícios da terceira, da sexta e da nona para não precisar interromper o seu trabalho durante as horas de luz, e terminavam suas atividades somente ao pôr-do-sol, para as vésperas. Os lugares mais iluminados eram reservados aos antiquários, miniaturistas mais habilidosos, aos rubricadores e aos copistas. Cada mesa tinha todo o necessário para miniaturar e copiar: chifres de tinta, penas finas que alguns monges estavam afinando com uma faca afiada, pedra polmes para deixar liso o pergaminho, régua para traçar as linhas sobre as quais seria estendida a escritura. Junto a cada escriba, ou no topo do plano inclinado de cada mesa, ficava uma estante, sobre a qual apoiava o códice a ser copiado, a página coberta por moldes que enquadravam a linha que era transcrita no momento. E alguns tinham tintas de ouro e de outas cores. Outros, porém estavam apenas lendo livros, e transcreviam apontamentos em seus cadernos particulares ou tabuletas. (...) meu mestre começou a conversar com Malaquias louvando a beleza e a operosidade do scriptorium e pedindo-lhe notícias sobre o andamento do trabalho que ali se cumpria porque, disse com muita sagacidade, tinha ouvido falar por toda parte daquela biblioteca e gostaria de examinar muitos dos livros. Malaquias explicou-lhe o que lhe disse o Abade, que o monge pedia ao bibliotecário a obra para a consulta e este iria busca-la na biblioteca superior, se a requisição fosse justa e pia. Guilherme perguntou como podia conhecer o nome dos livros guardados nas elevadas estantes, e Malaquias mostrou-lhe, preso por uma correntinha de outro à sua mesa, um volumoso códice repleto de densos elencos. Guilherme enfiou as mãos no hábito, onde este se abria no peito formando uma espécie de sacola, e de lá tirou um objeto que já vira em suas mãos e no rosto, no curso da viagem. Era uma forquilha, construída de modo a poder ficar sobre o nariz de um homem (e melhor ainda sobre o dele, tão proeminente e aquilino), como um cavaleiro na garupa de seu cavalo ou com um pássaro num tripé. E dos dois lados da forquilha, de modo a corresponder aos olhos, expandiam-se dois círculos ovais de metal, que encerravam duas amêndoas de vidro grossas como fundo de garrafa. Com aquilo nos olhos, Guilherme lia, de preferência, e dizia que enxergava melhor do que a natureza o havia dotado, ou do que sua idade avançada, especialmente quando declinava a luz do dia, lhe permitia. (...) explicara-me que, passando o home da metade de sua vida, mesmo que sua vista tivesse sido sempre ótima, o olho se endurecia e relutava em adaptar a pupila, de modo que muitos sábios estavam mortos para leitura e a escritura depois dos cinquenta anos. Grave dano para os homens que poderiam dar o melhor de uma inteligência por muitos anos ainda. Por isso devia-se dar graças a Deus que alguém tivesse descoberto e fabricado aquele instrumento. E me falava isso para sustentar as ideias de seu Roger Bacon, quando dizia que o objetivo da sabedoria era Cadernodo Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 28 também prolongar a vida humana. Os demais monges olharam Guilherme com muita curiosidade, mas não ousaram fazer-lhes perguntas. E eu percebi que, mesmo num lugar tão ciumenta e orgulhosamente dedicado à leitura e à escritura, o admirável instrumento ainda não penetrara. Senti-me orgulhoso de estar em companhia de um homem que tinha algo com que estarrecer outros homens famosos no mundo por sua sabedoria. (...) Malaquias mostrou-lhe umas anotações que ladeavam cada título. (...). Compreendi que o primeiro número indicava a posição do livro na estante, indicado pelo segundo número, o armário sendo indicado pelo terceiro número, e compreendi ainda que as outras expressões designavam uma sala ou corredor da biblioteca e ousei pedir mais informações sobre essas últimas distinções. Malaquias fitou-me severamente: “Talvez não saibas ou tenhas esquecido que o acesso à biblioteca é consentido apenas ao bibliotecário. E, portanto, é justo e suficiente que apenas o bibliotecário saiba decifrar essas coisas.” “A biblioteca mergulha sua origem na profundeza dos tempos”, disse Malaquias, “e os livros são registrados segundo a ordem das aquisições, doações, do ingresso em nossos muros. ” “Difícil de encontrar”, observou Guilherme. “Basta que o bibliotecário os conheça de memória e saiba de cada livro a época em que chegou. Quando aos outros monges podem confiar em sua memória”, e parecia falar de outrem que não fosse ele próprio; e entendi que ele falava da função que naquele momento indignamente exercia, e que fora exercida por outros cem, já desaparecidos, que haviam transmitido seu saber um para outro. “Entendi”, disse Guilherme. “Se eu então procurasse algo, sem saber o quê, sobre o pentágono de Salomão, vós saberíeis indicar-me que existe o livro do qual acabei de ler o título, e poderíeis individuar sua posição no andar superior”. “Se vós precisásseis realmente aprender alguma coisa sobre a estrela de Salomão”, disse Malaquias. “Mas este é justamente um livro que antes de dá-lo a vós preferia pedir o conselho do Abade” (...). ECO, Umberto. O nome da rosa; trad. de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de S. Paulo, 2003, p.76-80. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 29 História Ficha 11 - Renascimento para quem? Fonte: bit.ly/HomemVitruviano2 - acesso em 03/01/2017. http://bit.ly/HomemVitruviano2 Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 30 História Ficha 12 –Para que religião? IGREJA (Titãs) Disponível em: bit.ly/IgrejaTitãs - acesso 30/01/17 Veja a letra da música clicando com o leitor de QR- Code do seu celular! http://bit.ly/IgrejaTitãs Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 31 História Ficha 13 –Para que religião? Até na Justiça, candomblé é alvo de intolerância Para Justiça Federal do Rio, candomblé e umbanda deveriam ter um texto sagrado como fundamento e venerar a uma só divindade suprema. Por Jean Wyllys. Texto disponível na imagem acima e no link: bit.ly/Jeancandomblé - acesso em 30/01/17 Veja o texto clicando com o leitor de QR-Code do seu celular! http://bit.ly/Jeancandomblé Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 32 História Ficha 14 –Os fins justificam os meios? A ERA DAS REVOLUÇÕES “Com exceção da Grã-Bretanha, que fizera sua revolução no século XVII, e alguns Estados menores, as monarquias absolutas reinavam em todos os Estados em funcionamento no continente europeu; aqueles em que elas não governavam ruíram devido à anarquia e foram tragados por seus vizinhos, como a Polónia. Os monarcas hereditários pela graça de Deus comandavam hierarquias de nobres proprietários, apoiados pela organização tradicional e a ortodoxia das igrejas e envolvidos por uma crescente desordem das instituições que nada tinham a recomendá-las exceto um longo passado. É verdade que a simples necessidade de coesão e eficiência estatais em uma era de aguçada rivalidade internacional tinha de há muito obrigado os monarcas a pôr freio às tendências anárquicas de seus nobres e outros interesses estabelecidos e a preencher seu aparelho estatal tanto quanto possível com pessoal civil não aristocrata. Além disso, na última parte do século XVIII, estas necessidades e o evidente sucesso internacional do poderio capitalista britânico levaram a maioria destes monarcas (ou melhor, seus conselheiros) a tentar programas de modernização intelectual, administrativa, social e económica. Naquela época, os príncipes adotavam o slogan do "iluminismo" do mesmo modo como os governos de nosso tempo, por razões análogas, adotam slogans de "planejamento"; e, como em nossos dias, alguns dos que adotavam slogans em teoria muito pouco fizeram na prática, e a maioria dos que fizeram algum^ coisa estava menos interessada nas ideias gerais que estavam por trás da sociedade "iluminada" (ou "planejada") do que na vantagem prática de adotar os métodos mais modernos de multiplicação de seus impostos, riqueza e poder. Reciprocamente, as classes média e instruída e as empenhadas no progresso quase sempre buscavam o poderoso aparelho central de uma monarquia "iluminada" para levar a cabo suas esperanças. Um príncipe necessitava de uma classe média* e de suas ideias para modernizar o seu Estado; uma classe média fraca necessitava de um príncipe para quebrar a resistência ao progresso, causada por arraigados interesses clericais e aristocráticos. Contudo, de fato, a monarquia absoluta, não obstante quão moderna e inovadora, achava impossível e pouco se interessava em libertar-se da hierarquia dos nobres proprietários, à qual, afinal de contas, pertencia, e cujos valores simbolizava e incorporava, e de cujo apoio dependia grandemente. A monarquia absoluta, apesar de teoricamente livre para fazer o que bem entendesse, na prática pertencia ao mundo que o iluminismo tinha batizado de fé ou feudalismo, termo mais tarde popularizado pela Revolução Francesa. Uma monarquia deste tipo estava pronta a usar todos os recursos disponíveis para fortalecer sua autoridade, aumentar a renda tributável dentro de suas fronteiras e seu poderio fora delas, e isto bem poderia levá-la a fomentar o que de fato eram as forças da sociedade em ascensão. Ela se achava preparada para fortalecer seu poderio político lançando uma propriedade, uma classe ou uma província contra a outra. Contudo, seus horizontes eram o de sua história, de sua função e de sua classe.” Fonte: bit.ly/prefácioHobsbawm - acesso: 03/01/2017. http://bit.ly/prefácioHobsbawm Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 33 História Ficha 15 - Questão Enem: Os fins justificam os meios? ENEM 2012/ QUESTÃO 1 Na França, o rei Luís XIV teve sua imagem fabricada por um conjunto de estratégias que visavam sedimentar uma determinada noção de soberania. Neste sentido, a charge apresentada demonstra: a. A humanidade do rei, pois retrata um homem comum, sem os adornos próprios à vestimenta real. b. A unidade entre o público e o privado, pois a figura do rei com a vestimenta real representa o público e sem a vestimenta real, o privado. c. O vínculo entre monarquia e povo, poisleva ao conhecimento do público a figura de um rei despretensioso e distante do poder político. d. O gosto estético refinado do rei, pois evidencia a elegância dos trajes reais em relação aos de outros membros da corte. e. A importância da vestimenta para a constituição simbólica do rei, pois o corpo político adornado esconde os defeitos do corpo pessoa. Charge anônima. BURKE, P. A fabricação do rei. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. (Foto: Enem) Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 34 Sociologia Ficha 16 – Cultura: modo de vida DIVERSIDADE CULTURAL - ESTUDOS DE CASO A cultura de uma determinada sociedade pode diferir profundamente de outra, o que é sagrado para uma pode ser repugnante para outra, o que é certo para uma pode ser errado para outras. Veja alguns exemplos: “O homem recebe do meio cultural, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável." Deste modo, os chineses preferem os ovos podres e os Oceanenses o peixe em decomposição. Para dormir, os Pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os Japoneses deitam a cabeça em duro cepo. O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que são e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso. O homem também retira do meio cultural as atitudes afetivas típicas. Entre os Maoris [Nova Zelândia], onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos Esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu (...). Nas ilhas Alor [Indonésia], a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha de Normanby onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. O respeito pelos pais sofre igualmente flutuações geográficas. O pai conserva o direito de vida e de morte entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camarões e do Daomé. Em compensação, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos Kamtchatka [da Sibéria] pré-comunistas ou nos aborígenes do Brasil. As crianças Taraumaras [do México] batem e injuriam facilmente os pais. Entre os Esquimós o casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outros homens. No Ceilão [atual Sri Lanka] reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. (…) O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres [Austrália] e nas ilhas Andaman [Índia], em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, como sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos Tchambuli [Nova Guiné], por exemplo, em que na família é a mulher quem domina e assume a direção. Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo. Lucien Malson, As crianças selvagens, Livraria Civilização, 1988, pp. 26-28. Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 35 Sociologia Ficha 17 – Cultura: modo de vida Trabalho de leitura em duplas. Orientações para a leitura do texto: 1. Antes da leitura: Identifique o povo Xikrin com as informações do Instituto Socioambiental disponível em: bit.ly/KayapóXikrin - acesso: 31/01/17. a) Localização do povo Kayapó Xikrin. b) Quantos são. c) Língua. d) Características gerais do povo. 2. Durante a leitura, identificar: a) Frases-chave sobre a cultura do povo. Ex: o nascimento da criança consuma o casamento. b) Ideia principal do texto. c) O modo de vida: papel do homem e da mulher; casamento; a importância dos filhos; cuidados e educação das crianças; as brincadeiras; educação das crianças; desenvolvimento das crianças a partir do nascimento. A CRIANÇA XIKRIN E SEU LUGAR NA SOCIEDADE Texto da antropóloga Clarice Cohn Mas quem são as crianças Xikrin e qual seu espaço na vida social? Essa questão, claro, não será completamente respondida nessas poucas linhas, mas podemos começar por dar uma ideia de seu lugar na sociedade Xikrin. (...) O nascimento da criança consuma um casamento (assim como a falta de crianças e principalmente a morte de filho (s) são motivos para separação), e dá aos pais a condição de adulto, tornando-os mekrare, coletivo/filhos, os que têm filhos. É também pelo número de filhos que um homem ganha maior participação na oratória, ao alcançar uma quantidade que é sempre especificada com um mínimo de quatro filhos. Quanto à mulher, ela passa a fazer parte das reuniões para a pintura corporal coletiva apenas depois do nascimento de seu primeiro filho, sendo até então pintada em casa, pela mãe; as atividades coletivas dividem-nas, também, de acordo com o número de filhos, em três grupos: as que têm poucos filhos, as que têm muitos e as velhas. A velhice também é explicada pelos Xikrin e tem por referência os filhos: velho (mebengêt) é aquele que não tem mais filhos. (...) os filhos são muito desejados, e não há preferência entre os sexos. Mas os Xikrin dizem que o melhor é ter filhos de sexos alternados: se o primeiro for homem, espera-se que o segundo seja mulher, e assim por diante. Para entender isso, basta lembrar que o ideal (ou seja, o que nem sempre pode ou é realizado na prática, mas é uma referência para todos) é que os irmãos "troquem nomes", ou seja, que o irmão dê seu nome para o filho da irmã e vice-versa. Ter filhos de sexo alternado é, portanto, também um arranjo ideal. As crianças são excluídas de pouquíssimos acontecimentos que importam no cotidiano e http://bit.ly/KayapóXikrin Caderno do Estudante - Ciências Humanas – 1ºano/2º bimestre 36 nos rituais dessa sociedade. Seu cuidado toma a maior parte do tempo dos adultos; sua saúde, andanças e novos aprendizados são parte importante das conversas cotidianas, especialmente das mulheres. A elas, pouco é proibido. Elas ocupam quase todo o espaço da aldeia, mas sua inserção maior se dá no domínio feminino - a periferia da aldeia, o círculo das casas. Se as meninas vão passar toda a sua vida aí, os meninos começam cedo a se distanciar da casa materna e a se voltar ao centro, o espaço masculino, onde passam a dormir até que se casem e vão morar na casa da esposa. (...), mas o que deve ficar claro é que os homens passam seus primeiros anos mais ligados ao universo feminino, e devem, ao longo da vida, desligar-se dele para ocupar seu lugar no centro, o domínio masculino. (...) as brincadeiras (apenas das crianças) algumas das quais, aliás, seus avós também brincavam quando tinham sua idade; os brinquedos, uma parte da cultura material voltada só à criança; e sua mobilidade, especialmente entre as casas. Não há, porém, entre os Xikrin um repertório musical infantil, como não há também para os adultos um repertório musical que seja independente de festas; ambos, adultos e crianças, cantam no cotidiano as músicas dos rituais, mengrere. Por outro lado, a pintura corporal é um importante marcador de sua condição, diferenciando-as dos adultos em motivos e contextos de uso, e explicitando o fim de um ciclo, o fim da infância, quando formam uma nova família. Não se pode dizer que a participação das crianças nas atividades produtivas seja crucial. A das meninas talvez seja mais necessária, já que, cuidando das crianças menores, possibilitam à mãe realizar suas tarefas cotidianas. No entanto,
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