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CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO A UNIDADE ESTILÍSTICA DE UM FILME Curso Online de Cinema - AULA 004 INTRODUÇÃO Muitas vezes analisamos um filme a partir de seus elementos isolados. Pensamos sobre a fotografia, sobre a montagem, sobre o roteiro, sobre a atuação. A unidade estilística do filme é a forma como o diretor amarra todos esses elementos em apenas uma visão. É quando todos esses elementos juntos estão tão equilibrados que existe um efeito total. Em um filme, a fotografia sugere a atmosfera desejada pelo diretor, a montagem determina o ritmo, e assim por diante. Nenhum elemento é colocado de forma aleatória, todos conversam entre si. Todos os elementos respondem a essa unidade. Cada filme é organizado estilisticamente da forma como o diretor quer se expressar. Cada filme tem a sua própria unidade estilística ou mise-en-scène. A unidade estilística define o olhar do diretor sobre a história que conta. PERSONA (1966) Persona, do diretor Ingmar Bergman, é um filme que explora o conceito de persona, que segundo a Psicologia é a personalidade que o indivíduo cria de si para o mundo externo, uma “máscara” que não corresponde a quem ele é de fato. Bergman questiona a real natureza das personagens do filme. A personagem de Liv Ullmann é uma atriz que fica muda sem motivo aparente. A forma como a atriz se manifesta inexpressivamente é uma característica que envolve o efeito que o diretor quer passar: o mistério sobre quem na realidade é essa personagem. Os cenário são crus, como se não existisse personalidade ali. Ou seja: os cenário nunca revelam quem as personagens são. Bergman utiliza planos fixos de forma rigorosa como se aprisionasse suas personagens nos espaços. Elas tem dificuldade de se expressar, de mostrar quem realmente são. A visão de Bergman sobre o tema abordado preserva o mistério do conceito de persona, mas é também uma visão que se fascina com isso. A unidade estilística do filme organiza os elementos (fotografia, atuação, roteiro) para atingir esse efeito de um enigma fascinante. PERSONA: A AMBIGUIDADE EM FUNÇÃO DA UNIDADE ESTILÍSTICA Persona é um filme obscuro que lida com temas psicológicos ambíguos, mas possui uma fascinação audiovisual. Por isso, em vários momentos, existem algumas experimentações audiovisuais na tela. Imagens misteriosas surgem do nada e a película se fragmenta. Essas CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO imagens ilustram a complexidade psicológica daquele mundo. Evidenciam um mundo inconsciente através disso. AMOR À FLOR DA PELE (2000) Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai, mostra um casal que se apaixona e que não pode concretizar o amor que sentem um pelo outro. É um filme com uma linguagem audiovisual muito rica. Possui elementos isolados muito belos e dramáticos, como a fotografia, os enquadramentos complexos, o uso de cores vibrantes, a trilha sonora, os cenários e os figurinos. AMOR À FLOR DA PELE: ALÉM DA BELEZA DOS ELEMENTOS ISOLADOS A perspectiva de Wong Kar-Wai sobre essa história é desoladora e não se reflete, exatamente, nos elementos isolados do filme, mas na unidade que os amarra. O diretor apresenta a unidade estilística de uma forma que a realidade oprime os personagens A fotografia, se analisada de maneira isolada, é bonita. Porém, dentro da unidade estilística, ela é articulada a partir de uma forma que oprime os personagens. Os cenários, se analisados de forma isolado, são belos em seus detalhes. Porém, dentro da unidade estilística, são articulados de uma forma que “engolem” os personagens. Elementos visualmente prazerosos, como as cores, luzes, imagens desfocadas, o slow motion, não podem ser observados individualmente, mas sim fazendo parte do contexto de um sistema maior, a unidade estilística. PRETENSÕES EQUIVOCADAS: TROPA DE ELITE (2007) Geralmente a ideia de um filme vai estar na forma em como o diretor mostra aquela história, ou seja, em sua unidade estilística. E dentro dessa dinâmica, podem existir casos em que a direção ressignifica o roteiro ou até mesmo o discurso do conteúdo do filme. Podem existir alguns casos em que o roteiro propõe algo, mas o filme, na prática, outra coisa. Em Tropa de Elite, a visão do diretor José Padilha alterou o resultado final imaginado pelo projeto. Na execução, Capitão Nascimento foi retratado de modo que sua truculência sociopática cativou a maior parte do público, quando na verdade a intenção era de problematizar essa figura. A trilha sonora vibrante, a câmera nas cenas de violência que captava o sadismo, a atuação carismática de Wagner Moura que transforma seu personagem em uma espécie de herói, reforçam uma ideia da direção de vibrar com esses atos. CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO DA IMPORTÂNCIA DE SE COMPREENDER A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA Se você quiser ser um diretor, é extremamente importante que entenda a maneira em que os elementos da linguagem do cinema dialogam entre si, a maneira em que esses elementos, juntos, respondem a uma visão do diretor. A “mensagem” ou a “moral” do filme não estão necessariamente no roteiro, mas sim na unidade estilística, nas escolhas estilísticas que o diretor articula ao contar aquela história. CITAÇÕES DA AULA LIVRO A Arte do Cinema: Uma Introdução (2014) - David Bordwell; Kristin Thompson FILMES E SÉRIES Persona (1966) - Ingmar Bergman Amor à Flor da Pele (2000) - Wong Kar-Wai Vestida para Matar (1990) - Brian de Palma Adeus à Linguagem (2014) - Jean-Luc Godard Tropa de Elite (2007) - José Padilha The Sopranos (1999-2005) - David Chase Breaking Bad (2008-2013) - Vince Gilligan e outros AUTORES David Bordwell Kristin Thompson
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