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PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 1 de 7 1. ORIGEM DO DIREITO EMPRESARIAL 1.1. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA: Os bens e serviços de que todos precisamos para viver — isto é, os que atendem às nossas necessidades de vestuário, alimentação, saúde, educação, lazer etc. são produzidos em organizações econômicas especializadas e negociadas no mercado. Quem estrutura essas organizações são pessoas vocacionadas à tarefa de combinar determinados componentes (fatores de produção) e fortemente estimuladas pela possibilidade de ganhar dinheiro com isso. São os empresários. O Direito Comercial cuida do exercício dessa atividade econômica organizada de fornecimento de bens ou serviços, denominada empresa. Seu objeto: é o estudo dos meios socialmente estruturados de superação dos conflitos de interesses envolvendo empresários ou relacionando às empresas que exploram. A leis e a forma pela qual são interpretadas pela jurisprudência e doutrina, os valores prestigiados pela sociedade, bem assim o funcionamento dos aparatos estatal e paraestatal, na superação desses conflitos de interesses, formam o objeto da disciplina. Como mencionado, os bens e serviços que homens e mulheres necessitam ou desejam para viver (isto é, vestir, alimentar-se, dormir, divertir-se etc.) são produzidos em organizações econômicas especializadas. Nem sempre foi assim, porém, na Antiguidade, roupas e víveres eram produzidos na própria casa, para os seus moradores; apenas os excedentes eventuais eram trocados entre vizinhos ou na praça. Na Roma antiga, a família dos romanos não era só o conjunto de pessoas unidas por laços de sangue (pais e filhos), mas também incluía os escravos, assim como a morada não era apenas o lugar de convívio íntimo e recolhimento, mas também o de produção de vestes, alimentos, vinho e utensílios de uso diário. PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 2 de 7 O comércio gerou e continua gerando novas atividades econômicas. Foi a intensificação das trocas pelos comerciantes que despertou em algumas pessoas o interesse de produzirem bens de que não necessitavam diretamente; bens feitos para serem vendidos e não para serem usados por quem os fazia. Em 1942, na Itália, surge um novo sistema de regulação das atividades econômicas dos particulares. Nele, alarga-se o âmbito de incidência do Direito Comercial, passando as atividades de prestação de serviços e ligadas à terra a se submeterem às mesmas normas aplicáveis às comerciais, bancárias, securitárias e industriais. No Brasil, o Código Comercial de 1850, cuja primeira parte é revogada com a entrada em vigor do Código Civil de 2002 sofreu forte influência da teoria dos atos de comércio. Atualmente, o Direito Comercial e/ou Empresarial é regido nos ulteriores termos do Código Civil – Lei Federal 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1.2. CONCEITO DE EMPRESÁRIO: O conceito de empresário, encontra-se esculpido no artigo 966 do Código Civil Brasileiro. Vejamos: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Insurge ponderar, que o empresário detém o mais importante ponto a ser conceituado, ou seja, informações sobre o produto ou o serviço objeto de sua empresa. Como o empresário é um profissional, as informações sobre os bens ou serviços que oferece ao mercado, especialmente as que dizem respeito às suas condições PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 3 de 7 de uso, qualidade, insumos empregados, defeitos de fabricação, riscos potenciais à saúde ou vida dos consumidores, costumam ser de seu inteiro conhecimento. Atividade. Se empresário é o exercente profissional de uma atividade econômica organizada, então empresa é uma atividade; a de produção ou circulação de bens ou serviços. Na linguagem cotidiana, mesmo nos meios jurídicos, usa-se a expressão “empresa” com diferentes e impróprios significados. Se alguém diz “a empresa faliu” ou “a empresa importou essas mercadorias”, o termo é utilizado de forma errada, não técnica. A empresa, enquanto atividade, não se confunde com o sujeito de direito que a explora, o empresário. É ele que fale ou importa mercadorias. Similarmente, se uma pessoa exclama “a empresa está pegando fogo!” ou constata “a empresa foi reformada, ficou mais bonita”, está empregando o conceito equivocadamente. Não se pode confundir a empresa com o local em que a atividade é desenvolvida. O conceito correto nessas frases é o de estabelecimento empresarial; este sim pode incendiar--se ou ser embelezado, nunca a atividade. Econômica. A atividade empresarial é econômica no sentido de que busca gerar lucro para quem a explora. Note-se que o lucro pode ser o objetivo da produção ou circulação de bens ou serviços, ou apenas o instrumento para alcançar outras finalidades. É evidente que, no capitalismo, nenhuma atividade econômica se mantém sem lucratividade. Organizada. A empresa é atividade organizada no sentido de que nela se encontram articulados, pelo empresário, os quatro fatores de produção: capital, mão de obra, insumos e tecnologia. Produção de bens ou serviços. Produção de bens é a fabricação de produtos ou mercadorias. Toda atividade de indústria é, por definição, empresarial. São exemplos de produtores de bens: montadoras de veículos, fábricas de eletrodomésticos, confecções de roupas. Produção de serviços, por sua vez, é a prestação de serviços e de produtores de serviços: bancos, seguradoras, hospitais, escolas, estacionamentos, provedores de acesso à internet. PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 4 de 7 2 . ATIVIDADES ECONOMICAS CIVIS Diz respeito às exploradas por quem não se enquadra no conceito legal de empresário. Se alguém presta serviços diretamente, mas não organiza uma empresa (não tem empregados, por exemplo), mesmo que o faça profissionalmente (com intuito lucrativo e habitualidade), ele não é empresário e o seu regime será o civil. Aliás, com o desenvolvimento dos meios de transmissão eletrônica de dados, estão surgindo atividades econômicas de relevo exploradas sem empresa, em que o prestador dos serviços trabalha sozinho em casa. As demais atividades civis são as dos profissionais intelectuais, dos empresários rurais não registrados na Junta Comercial e a das Cooperativas. 2.1. PROFISSIONAIS INTELECTUAIS Não se considera empresário, por força do parágrafo único do art. 966 do Código Civil o exercente de profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo que contrate empregados para auxiliá-lo em seu trabalho. Vejamos o disposto no Parágrafo único do artigo 966 do Código Civil: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Estes profissionaisexploram, portanto, atividades econômicas civis, não sujeitas ao Direito Comercial. Entre eles se encontram os profissionais liberais (advogado, médico, dentista, arquiteto etc.), os escritores e artistas de qualquer expressão (plásticos, músicos, atores etc.). PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 5 de 7 2.2. EMPRESÁRIO RURAL O empresário rural encontra-se descrito no artigo 971 do Código Civil. Vejamos: Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito à registro. Se ele requerer sua inscrição no registro das empresas (Junta Comercial), será considerado empresário e submeter-se-á às normas de Direito Comercial. Esta deve ser a opção do agronegócio. Caso, porém, não requeira a inscrição neste registro, não se considera empresário e seu regime será o do Direito Civil. Esta última deverá ser a opção predominante entre os titulares de negócios rurais familiares. Não obstante, o artigo 984 do Código Civil descreve a formalização do empresário rural. Vejamos: Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Será rural a empresa que existe a organização de capital e de trabalho destinados à produção ou à mediação de bens ou de serviços agrários para o mercado, coordenada pelo empresário que lhe assume os resultados e os riscos. Três elementos devem estar presentes, para caracterizar a empresa: 1) O empresário; 2) O estabelecimento; 3) Atividade. PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 6 de 7 Por sua vez, é empresário rural aquele que exerce profissionalmente determinada atividade econômica ligada ao uso, ao cultivo ou à exploração da terra, ou à produção de animais destinados ao abate e à comercialização da carne, tudo visando a colocação dos produtos ao mercado. Inclui-se na atividade rural o cultivo de florestas que se destinem ao corte para comercialização, consumo ou industrialização, de acordo com o art. 59 da Lei 9.430, de 27.12.1996. Importante esclarecer que a Lei Federal 8.023, de 12 de abril de 1990 a qual estabeleceu a legislação do imposto de renda sobre o resultado da atividade rural é a legislação competente para descrever as atividades caracterizadas como empresa rural. Vejamos: Art. 2º Considera-se atividade rural: I - a agricultura; II - a pecuária; III - a extração e a exploração vegetal e animal; IV - a exploração da apicultura (abelha), avicultura (aves), cunicultura (coelho), suinocultura (porcos), sericicultura (bicho da seda), piscicultura (peixe) e outras culturas animais; V - a transformação de produtos agrícolas ou pecuários, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura e não configure procedimento industrial feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-prima produzida na área rural explorada. V - a transformação de produtos decorrentes da atividade rural, sem que sejam alteradas a composição e as características do produto in natura, feita pelo próprio agricultor ou criador, com equipamentos e utensílios usualmente empregados nas atividades rurais, utilizando exclusivamente matéria-prima produzida na área PROFESSOR – JOSÉ AUGUSTO CARVALHO GOMES DE SOUZA DIREITO COMERCIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO Página 7 de 7 rural explorada, tais como a pasteurização e o acondicionamento do leite, assim como o mel e o suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentação. É de suma importância esclarecer que NÃO se incluem no conceito de empresa agrária as atividades ligadas à produção pelo cultivo da terra considerada de mera subsistência, em que os produtos obtidos são suficientes só para a subsistência do produtor e de sua família.
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