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Axiomatic Design: uma ferramenta para descrição completa dos requisitos Luciano Sales1; Sanderson Barbalho2; Shirley Moura3 Resumo – O gerenciamento de requisitos é uma importante ferramenta para a concepção e planejamento de um projeto, porém, a despeito da sua importância e de sua relativa maturidade, observam-se erros frequentes nesse processo, devido, principalmente, a ênfase inapropriada, ou mesmo exclusão, de um ou mais tipos de requisitos durante a fase de concepção de um projeto. O Axiomatic Design (AD) é uma abordagem para o desenvolvimento de produtos que procura gerar a melhor solução para um determinado problema proposto, tendo avançado para criar uma base científica para a concepção de um projeto, permitindo que os engenheiros e designers tomem decisões de projetos corretas, aumentando a probabilidade de sucesso. Assim, o objetivo deste artigo é o de identificar e descrever uma estrutura para a concepção de requisitos que leve em consideração o AD, evitando os erros identificados nesse processo. (Palavras-chave: Requisitos; Coletar Requisitos; Axiomatic Design) Introdução Erros em projetos podem ocorrer em todas as suas fases, porém, um dos mais prejudiciais está relacionado com erros na elicitação de requisitos (SINGH, 2014; RAMINGWONG, 2012). Segundo Kossman (2013), erros no gerenciamento de requisitos acarretam retrabalho, gerando custos maiores que o planejado e atrasos nos projetos. Assim, tempo e foco investido no gerenciamento de requisitos são fundamentais para o desenvolvimento de produtos com qualidade (RAMINGWONG, 2012; SUDIN; AHMED-KRISTENSEN, 2011). Segundo Singh (2012), a engenharia de requisitos possui um importante papel no desenvolvimento de produtos, possuindo métodos e técnicas relativamente maduras. No entanto, a despeito da importância do gerenciamento de requisitos e de sua relativa maturidade, observam-se erros frequentes nesse processo, devido, principalmente, a ênfase inapropriada, ou mesmo exclusão, de um ou mais tipos de requisitos durante a fase de concepção de um projeto (RAMINGWONG, 2012). Segundo Mulla e Girase (2012), as atuais abordagens para elicitação de requisitos mostraram-se insuficientes para registrar de forma correta, completa e consistente os requisitos, sendo um dos grandes desafios para a engenharia de requisitos a melhoria nesse processo. O Guia PMBOK (5ª edição), possui um processo, dentro do gerenciamento do escopo do projeto, que trata de forma específica da coleta de requisitos: o processo Coletar Requisitos. Esse processo, Artigo Candidato Versão: <1.0> procura fornecer uma base para a "definição e gerenciamento do escopo do projeto, INCLUINDO o escopo do produto". Na literatura, também, existem uma série de técnicas para a identificação, coleta de requisitos e especificações técnicas, como o desdobramento da função qualidade (QFD) – citado no Guia PMBOK (5ª edição) - e o axiomatic design (AD). Neste artigo, o AD será́ analisado como alternativa de mitigação aos problemas relacionados com o gerenciamento de requisitos em projetos, através da seguinte questão de pesquisa: Como o AD pode alavancar o processo Coletar Requisitos? Assim, o objetivo deste artigo é o de identificar e descrever uma estrutura para a concepção de requisitos que leve em consideração o AD, evitando os erros identificados nesse processo. Para isso serão apresentados os conceitos relacionados ao processo de coleta de requisitos e as suas principais falhas de acordo com a literatura, bem como serão apresentados o AD e a sua possível contribuição para o desenvolvimento de um processo mais robusto para o gerenciamento de projetos. A importância dos requisitos no gerenciamento de projetos Para o PMBOK (5ª edição), requisito é uma condição ou capacidade cuja presença em um produto, serviço ou resultado é exigida para satisfazer um contrato ou outra condição formalmente imposta. Segundo Kossman (2013), um requisito é um detalhamento de um aspecto específico de uma necessidade do cliente. Para Singh e Vyas (2012), um requisito é uma condição ou capacidade necessária para um usuário resolver um problema ou alcançar determinado objetivo. Segundo esse mesmo autor, a maior causa do comprometimento dos resultados dos projetos está associada a problemas com os requisitos, seja por problemas na definição desses requisitos, por esquecimento no rastreamento dos mesmos e pobreza nos processos relacionados a elicitação desses requisitos. No cenário atual, os produtos possuem características cada vez mais complexas e de natureza multidisciplinar, pois precisam atender às necessidades de clientes cada vez mais interessados na qualidade e no desempenho (GONÇALVES-COELHO et al, 2005). Assim, desenvolver um produto complexo, que contém inúmeros sistemas e componentes é um grande desafio a ser implementado. De nada adianta ter uma equipe multidisciplinar, se não houver uma complexa coordenação de todos os requisitos identificados, compreensão das prioridades e gerenciamento de um grande número de Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 2 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> tarefas que precisam permanecer alinhadas com o tempo e orçamento planejado, para alcançar as necessidades e expectativas dos clientes (BHISE, 2013). Não há como escapar: produtos precisam ser desenvolvidos para satisfazer certas necessidades das pessoas. A qualidade de um produto depende de inúmeras atividades, sendo o processo de concepção (design) uma das atividades mais importantes (GONÇALVES-COELHO et al, 2005). Assim, o sucesso do projeto é diretamente influenciado pelo envolvimento ativo das partes interessadas na descoberta e decomposição das suas necessidades em requisitos, e pelo cuidado tomado na determinação e gerenciamento dos requisitos do produto, serviço ou resultado (PMBOK, 5ª edição). Para esse guia, “Coletar os Requisitos” é o processo de determinar, documentar e gerenciar as necessidades e requisitos das partes interessadas, a fim de atender aos objetivos do projeto. O Tribunal de Contas da União, em seu Guia de Boas Práticas em Contratação de Soluções de Tecnologia da Informação (2014), recomenda que, nas compras da administração pública, devem ser considerados, pelo menos, os seguintes tipos de requisitos: Requisitos Internos Funcionais (são aqueles ligados diretamente às funcionalidades esperadas pela área requisitante e necessárias aos usuários finais, de maneira a atender à necessidade da contratação; Requisitos Internos Não Funcionais (são os não vinculados diretamente à necessidade da contratação, mas igualmente importantes para sua satisfação); e os Requisitos Externos (são os gerados fora da organização, como as demandas legais, regulatórias e de padronização estabelecidas pelo Governo Federal). Ou seja, quer nas empresas privadas ou na administração pública, a coleta e consequente definição derequisitos devem sempre ocorrer. Sem requisitos claros, vinculados às necessidades dos clientes e/ou do negócio, a execução de um projeto se torna onerosa para as organizações, pois os padrões de qualidade não serão atingidos, resultando em retrabalho, custos adicionais em aditivações contratuais e desmotivação das equipes e dos clientes. Ferramentas para a coleta dos requisitos No Guia PMBOK (5ª edição), são apresentadas 11 (onze) ferramentas para o processo Coletar Requisitos, são elas: entrevistas, grupos de discussão, oficinas facilitadas, técnicas de criatividade em grupo, técnicas de tomada de decisão em grupo, questionários e pesquisas, observações, protótipos, benchmarking, diagramas de contexto e análise de documentos. Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 3 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Essas ferramentas devem ser utilizadas para produzir, como saída do processo, dois documentos: a) Documentação dos requisitos: onde é descrito como os requisitos individuais atendem às necessidades do negócio. Nesse documento, os requisitos não devem ser descritos de forma ambígua, ou seja, devem ser mensuráveis e passíveis de testes. Também devem ser rastreáveis, completos, consistentes e aceitáveis pelas partes interessadas. b) Matriz de rastreabilidade dos requisitos: uma tabela que liga os requisitos de produto desde as suas origens até as entregas que os satisfazem, conforme Figura 1. Figura 1 – Matriz de rastreabilidade de requisitos Fonte: PMBOK, 5ª edição O que podemos observar é que tanto na documentação dos requisitos, quanto na matriz de rastreabilidade, é necessário que as necessidades dos clientes sejam claramente decompostas em requisitos, sejam eles de negócio, de solução (funcionais e não funcionais), de projeto etc. Porém, as ferramentas apresentadas pelo PMBOK (5ª edição), não apresentam de forma clara um processo de decomposição dessas necessidades em requisitos. Apenas na ferramenta “oficinas facilitadas” é sugerida a possiblidade de utilização do QFD para alcançar esse resultado e na ferramenta “diagramas de contexto”, onde podemos visualizar, de forma vaga, o desenho de requisitos funcionais. Axiomatic Design Axiomatic Design (AD) é uma abordagem para o desenvolvimento de projetos que procura gerar a melhor solução para um determinado problema proposto (CARNEVALLI et al., 2010). Ele foi criado e Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 4 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> popularizado pelo professor Suh do Massachusetts Institute of Technology (MIT), podendo ser aplicado em todas as atividades de concepção de um produto (PARK, 2007). O AD tem avançado para criar uma base científica para a concepção de um projeto, permitindo que os engenheiros e designers tomem decisões de projetos corretas, aumentando a probabilidade de sucesso (SUH, 1998). O AD é uma abordagem que inicia com uma declaração explícita do “o que nós queremos alcançar” e termina com uma clara descrição do “como nós alcançaremos isso” (THOMPSON, 2013). Segundo Suh (1998), o AD nada mais é que o mapeamento de um conjunto de variáveis, que se inicia com as necessidades dos clientes, em outros domínios, de forma que se chegue a uma solução ótima da concepção de um produto que atenda aquelas necessidades inicialmente levantadas. Do ponto de vista do AD, a concepção de um produto necessita passar por quatro domínios distintos (GONÇALVES-COELHO et al, 2005): − Domínio do cliente, através da identificação das necessidades dos clientes ou do negócio (as características que o cliente pretende encontrar em um objeto, seja ele um produto, um processo, ou qualquer sistema tangível ou intangível); − Domínio conceitual, através da identificação dos requisitos funcionais do objeto (um requisito funcional descreve um comportamento que um dispositivo deve ter) e suas restrições (representam os limites de uma solução aceitável); − Domínio físico, através de parâmetros conceituais ou requisitos técnicos (o conjunto de propriedades que descrevem fisicamente o objeto); e − Domínio do processo, através de um esboço de como fazer o objeto concebido (ligado ao processo de manufatura). Esses domínios podem ser compreendidos através do processo representado pela Figura 2. Figura 2 – O processo de concepção mapeado através dos quatro domínios do AD Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 5 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Fonte: Gonçalves-Coelho et al (2005) Segundo Suh (1998), o AD deve ser utilizado da seguinte forma: “O primeiro passo no desenho de um sistema é determinar as necessidades dos clientes (CN) ou atributos, no domínio do cliente, que o sistema deverá satisfazer. Então, os requisitos funcionais e restrições do sistema, no domínio funcional, são determinados para satisfazer às necessidades levantadas. O próximo passo é mapear os requisitos funcionais dentro do domínio físico, ou seja, escolher os parâmetros conceituais, tomando o cuidado para não gerar conflitos com as restrições. Uma vez escolhidos esses parâmetros, passa-se para a etapa do domínio do processo, onde as varáveis dos processos serão identificadas, com o objetivo de desenvolver um novo processo de fabricação ou usar algum processo existente”. Além do processo descrito acima, o AD possui dois importantes axiomas (PARK, 2007): Axioma 1: Independência – Os requisitos funcionais precisam ser mantidos de forma independente, ou seja, a concepção mais otimizada irá sempre manter a independência entre requisitos funcionais. Além disso, uma concepção aceitável deve levar em consideração que um requisito técnico e um requisito funcional devem estar relacionados de tal forma, que um ajuste em um requisito técnico para satisfazer seus correspondente requisito funcional, não afetará outros requisitos funcionais. Ou seja, a melhor solução ocorre quando há uma relação de 1:1 entre requisitos funcionais e técnicos. Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 6 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Axioma 2: Informação – Deve-se minimizar o conteúdo da informação da concepção (complexidade), ou seja, a melhor definição de requisito deve possuir o mínimo de conteúdo possível. Assim, entre as inúmeras soluções possíveis para descrever um requisito que atenda ao axioma 1, deve-se escolher aquela que atenda o axioma 2. É importante ressaltar que o desenho da solução requer um contínuo processo de construção entre e dentro dos quatro domínios, ou seja, o conteúdo de cada domínio evolui de conceitos abstratos para informações mais detalhadas, conforme mais informações são agregadas ao projeto (ALBANO E SUH, 1994). O AD possui inúmeras aplicações, também, na área de TI, incluindo na Engenharia de Software. Segundo Suh (2001), a lógica permanece a mesma: O primeiro passo é determinar os atributos dos clientes (no domínio clientes), depois os requisitos funcionais e restrições do software precisam ser estabelecidos (domíniofuncional), para satisfazer as necessidades dos clientes. O próximo passo é desenhar esses requisitos funcionais dentro do domínio físico, através da identificação dos requisitos técnicos (“como” o desenho irá satisfazer os requisitos funcionais – do ponto de vista lógico: seja por uma função, por uma classe etc.). Ao final, o processo de implementação precisa ser definido, no domínio dos processos. Axiomatic Design e a coleta de requisitos em projetos: exemplo e estudo de caso Assim, o AD pode ser utilizado como ferramenta que torna o processo de coleta de requisitos mais simples e ao mesmo tempo completo, permitindo a identificação plena do que se deseja implementar. Serão apresentados dois exemplos: o primeiro um exemplo conceitual, para melhor compreensão da ferramenta, o segundo, um caso implementado na definição de requisitos do projeto para implementação da rede de telecomunicações de longa distância do Exército. Imaginem que um projeto deve ser desenvolvido para a construção de carteiras escolares para adolescentes de escolas públicas. O gerente do projeto precisa coletar os requisitos desse projeto e definir todos os requisitos em uma documentação de requisitos, como recomenda o Guia PMBOK. As técnicas de entrevistas, grupos de discussão etc., ajudarão na identificação das principais necessidades do cliente, bem como no mapeamento dessas necessidades em requisitos funcionais, como descrito no processo do AD. Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 7 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Necessidade do Cliente 1: Carteiras para alunos do ensino médio. Requisito Funcional 1: A carteira deverá ser utilizada por, pelo menos, 3 anos. Requisito Funcional 2: O aluno precisa ter um espaço para acomodar os livros que não estão sendo usados. Requisito Funcional 3: A carteira deverá proporcionar conforto ao aluno (Restrição: a carteira deverá ser acolchoada). Requisito Funcional 4: A carteira deverá permitir o uso de notebook pelo aluno. Requisito Funcional 5: Deve atender a alunos destros ou canhotos. Após a definição dos requisitos funcionais (ou seja, o comportamento que o produto deve ter), serão definidos requisitos técnicos (preferencialmente, atendendo ao Axioma 1 e 2). Tabela 1: Mapeamento Requisitos Funcionais em Requisitos Técnicos Requisito Funcional Requisito Técnico Requisito Funcional 1: A carteira deverá ser utilizada por, pelo menos, 3 anos. Requisito Técnico 1: A carteira será produzida com estrutura em metal, reforçada nos pontos de contato direto dos alunos, para suportar um peso máximo de 100 quilos. Requisito Funcional 2: O aluno precisa ter um espaço para acomodar os livros que não estão sendo usados. Requisito Técnico 2: Imediatamente abaixo do assento do aluno será inserida uma grade de aço, Requisito Funcional 3: A carteira deverá proporcionar conforto ao aluno (Restrição: a carteira deverá ser acolchoada). Requisito Técnico 3: Nos pontos localizados nas costas e no assento, a estrutura de ferro deverá ter um estofamento a ser produzido com o polímero X. Requisito Funcional 4: A carteira deverá permitir o uso de notebook pelo aluno e apoio para os livros. Requisito Técnico 4: Na carteira, para escrituração e leitura, deverá ser construída um braço de apoio. Esse braço deve possuir uma barra de metal no lado inferior (próximo ao aluno) que permita o encaixe de um notebook. Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 8 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Requisito Funcional 5: Deve atender a alunos destros ou canhotos. Requisito Técnico 5: A estrutura da cadeira deve comportar uma modularização tal que ajustes no processo de manufatura permitam facilmente o setup entre cadeiras para destro e canhoto. Com a definição dos requisitos funcionais e técnicos, surge a necessidade de definição dos processos que irão permitir a implementação ou fabricação de cada um desses requisitos: Tabela 2: Mapeamento Requisitos Funcionais e Requisitos Técnicos em Processos de Fabricação Requisito Funcional Requisito Técnico Processo de Fabricação ou Implementação RF1: A carteira deverá ser utilizada por, pelo menos, 3 anos. RT 1: A carteira será produzida com estrutura em metal, reforçada nos pontos de contato direto dos alunos, para suportar um peso máximo de 100 quilos. PF1: A estrutura de metal será desenhada e produzida na fábrica X. RF 2: O aluno precisa ter um espaço para acomodar os livros que não estão sendo usados. RT 2: Imediatamente abaixo do assento do aluno será inserida uma grade de metal. PF2: No desenho da estrutura deverá ser incluída essa grade de metal, fabricada também na fábrica X. RF 3: A carteira deverá proporcionar conforto ao aluno (Restrição 1: a carteira deverá ser acolchoada). RT 3: Nos pontos localizados nas costas e no assento, a estrutura de ferro deverá ter um estofamento a ser produzido com o polímero X. PF 3: O estofamento deverá ser levado em consideração no desenho da estrutura, porém, o mesmo será produzido na fábrica Y. Após cada lote da estrutura de metal ser produzido, serão transportados para a Fábrica Y para estofamento. RF 4: A carteira deverá permitir o uso de notebook RT 4: Na carteira, para escrituração e leitura, deverá ser PF 4: O braço de apoio de madeira, com as dimensões M e Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 9 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> pelo aluno e apoio para os livros. construída um braço de apoio de madeira com as seguintes dimensões: M e N. Esse braço deve possuir uma barra de metal no lado inferior (próximo ao aluno) que permita o encaixe de um notebook. N será fabricado na Fábrica Y. O metal para encaixe do notebook será produzido na Fábrica X, devendo ser transportado para a Fábrica Y, uma vez que a montagem final ocorrerá nessa fábrica. RF 5: Deve atender a alunos destros ou canhotos. RT 5: A estrutura da cadeira deve comportar uma modularização tal que ajustes no processo de manufatura permitam facilmente o setup entre cadeiras para destro e canhoto. PF 5: 10% da estrutura metálica das carteiras devem ser fabricadas com o braço de apoio para atender os alunos canhotos. Assim, teremos identificados todos os requisitos necessários para confeccionar a documentação dos requisitos, e, ao mesmo tempo, teremos uma rastreabilidade dos requisitos desde a necessidade do negócio até as suas entregas. No segundo exemplo, o AD foi utilizado na prática para a elaboração de um Termo de Referência (TR)para a contratação da rede de telecomunicações de longa distância do Exército (EBNet), pelo Centro Integrado de Telemática do Exército (CITEx), o provedor de serviços de TI do Exército, e suas 12 (doze) unidades operacionais, espalhadas pelo território brasileiro, os Centros de Telemática (CT). Cabe ressaltar que, é obrigatório na Administração Pública que os requisitos funcionais (ou mesmo os técnicos), para justificar a sua inclusão em um termo de referência, estejam mapeados em uma necessidade clara do negócio. Assim, a matriz utilizada atende (e auxilia nesse atendimento), a uma exigência legal dos processos de contrataçãoda Administração Pública. Nesse caso, resumido, já que o TR completo possuía mais de 100 páginas, as principais necessidades do negócio, eram a “melhoria da qualidade dos links da EBNet” e uma “maior disponibilidade da EBNet”. Todas as necessidades foram identificadas através de entrevistas e grupos de discussão com integrantes do negócio e clientes (Organizações Militares), realizadas pela Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 10 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> equipe do projeto. Os requisitos funcionais foram identificados através de grupos de discussão com integrantes da alta administração do CITEx e a equipe do projeto. Os requisitos técnicos e processos de fabricação foram identificados e definidos através de entrevistas às principais empresas interessadas na implantação do projeto, conforme processos de aquisição do Guia PMBOK. Tabela 3: Extrato da Matriz de Rastreabilidade dos Requisitos do Projeto EBNet Necessidade do Cliente ou do Negócio Requisitos Funcionais Requisitos Técnicos Processo de fabricação ou Implementação Melhoria da qualidade dos links: internet e corporativo O tráfego corporativo deve ser separado do tráfego de internet Implantação de duas redes: rede principal corporativa e rede de internet Deverá ser implantada duas redes, com roteadores diferentes para cada tipo de tráfego, sendo os endereços definidos pela Contratante. A separação do tráfego não deverá aumentar a complexidade da rede nas Organizações Militares Os dois tipos de tráfego devem ser integrados nas Organizações Militares, através de um roteador de integração que deverá ser conectado diretamente na LAN da Organização Haverá a aquisição de um roteador para integrar as duas redes nas Organizações Militares, devendo esse roteador suportar esse tipo de integração (porta da rede corporativa, porta da rede de internet, porta da rede LAN e porta reserva) A separação do tráfego não deverá representar um aumento da complexidade para gerenciar a EBNet Será utilizado o protocolo de roteamento PfR (Performance Routing), pois é um protocolo que permite a integração do tráfego sem aumentar a complexidade da gerência O roteador de integração a ser adquirido deverá suportar o protocolo PfR (o pessoal técnico deverá ser treinado nesse protocolo) O tráfego de dados corporativo deve priorizar dados de videoconferência Implantação de uma rede IP Multisserviços para o tráfego corporativo 3 (três) classes de serviço Todos os roteadores a serem usados na rede corporativa devem permitir a Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 11 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> distintas: aplicações de videoconferência corporativa (prioridade 1), voz corporativa (VoIP – prioridade 2) e dados (prioridade 3) implementação de QoS O tráfego de internet deve seguir os padrões de mercado A rede de Internet, deve operar no sistema de Best Effort Serão admitidos roteadores com características técnicas mais básicas, desde que sigam os requisitos técnicos definidos EBNet com maior disponibilidade que a solução atual Os dados corporativos das Organizações Militares devem trafegar da forma mais eficiente até chegarem no seu destino Para o tráfego de dados corporativos, a rede a ser implantada deverá possuir topologia full mesh Os roteadores da rede corporativa devem ser configurados para permitir a arquitetura full mesh Os links de internet das Organizações Militares devem ser providos pelo seu Centro de Telemática de apoio (Restrição determinada pelo Projeto Provedor de Internet) Os CTA/CT são os pontos de concentração regionais que deverão concentrar o tráfego das OM a eles vinculadas, de acordo com uma topologia hub-and-spoke Os roteadores da rede internet devem ser configurados para permitir a arquitetura hub-and-spoke e todas as demais configurações que permitam as redundâncias apontadas Os links de internet devem possuir redundância Em caso de indisponibilidade na prestação do serviço pelo Centro de Telemática, a CONTRATADA deverá fornecer acesso dos pontos de presença das Organizações Militares da região de abrangência do referido Centro de Telemática ao sítio central (CITEx), de forma automática e transparente para o usuário O sítio central (redundância do sistema) deverá, A contingência do CITEx, em caso de indisponibilidade deste Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 12 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> também, possuir um ponto de redundância Centro, será́ o 7° Centro de Telemática Por serem os pontos mais importantes da EBNet, os Centros de Telemática necessitam ter uma disponibilidade maior que as demais Organizações Militares Os acessos aos PP do sítio central, do sítio redundante e dos sítios localizados nos CTA/CT deverão possuir caminhos físicos distintos e independentes Logicamente, para as empresas licitantes, quanto mais claros forem os requisitos, menores serão os riscos e, consequentemente, menores serão os custos ocultos. Além disso, com o entendimento do projeto, mais concorrentes tendem a participar do processo de contratação: quanto mais concorrência, menores os custos. Essa matriz permite um mapeamento claro do que efetivamente se deseja construir com um projeto, agregando informações para a documentação dos requisitos e para a matriz de rastreabilidade dos requisitos, tornando a definição do escopo mais fácil para ser desenvolvida. O resultado do projeto EBNet 2015 levou a uma economia de mais de 50% na contratação da nova rede (comparando-se ao contrato anterior), aumentando a disponibilidade e dobrando a velocidade dos links para as Organizações Militares: um grande sucesso para a organização. Conclusão Neste artigo, o AD foi analisado como alternativa de mitigação aos problemas relacionados com o gerenciamento de requisitos. Assim, o objetivo deste artigo foi identificar e descrever uma estrutura para a concepção de requisitos que leve em consideração o AD, evitando os erros identificados nesse processo. A questão de pesquisa “Como o AD pode alavancar o processo Coletar Requisitos?” foi respondida através da aplicação prática do conhecimento teórico desenvolvido e, também, da proposta de incorporação do seu uso no processo Coletar Requisitos do PMBOK. O processo Coletar Requisitos utilizado no Guia PMBOK é bem recente, sendo incorporado a esse Guia apenas na sua quarta edição, o que, permite especular que ainda passa por um processo de melhoria contínua e maturidade. O AD pode vir a contribuir com o PMBOK como uma ferramenta Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 13 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> robusta para coleta e elicitação dos requisitos, agregando valor para as atuais ferramentas descritas no Guia PMBOK (5ª edição). Para o gerenciamento de projeto, o AD alavanca o processo de coleta de requisitos, contribuindo para a qualidade dos produtos e serviços a serem desenvolvidos, permitindo a rastreabilidade clara de tudo o queestá sendo desenvolvido, alavancando o gerenciamento do escopo do projeto e, finalmente, contribuindo de forma decisiva nos resultados perseguidos pelas organizações. Bibliografia ALBANO, Leonard D., SUH, Nam P. Axiomatic design and concurrent engineering. Computer-Aided Design, (26) 7, 1994. BHISE, Vivek D. Design Complex Products with Systems Engineering Processes and Techniques. CRC Press. 2013. CARNEVALLI, José Antonio, et al. Axiomatic design application for minimising the difficulties of QFD usage. Production Economics 125 (2010) 1-12. GONÇALVES-COELHO, Antonio M., et al. Improving the use of QDF with Axiomatic Design. Concurrent Engineering: Research and Applications. Vol. 13, N. 3, 2005. KOSSMANN, Mario. 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Sobre o Autores: Luciano Sales, lucianofrc@gmail.com Luciano Sales, é o gerente do Programa Amazônia Conectada no Centro Integrado de Telemática do Exército e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV); doutorando em sistemas mecatrônicos pela Universidade de Brasília, mestre em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação pela Universidade Católica de Brasília (UCB); é pós-graduado (MBA) em Gestão Estratégica pela Fundação Getúlio Vargas (FGV); Engenheiro de Computação pelo Instituto Militar de Engenharia (IME); Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN); certificado Program Management Professional (PgMP) e Project Management Professional (PMP) pelo Project Management Institute (PMI); MSP Foundation e Practitioner, PRINCE2 Foundation e Practitioner, ITIL V2 Service Manager e ITIL V3 EXPERT, pelo Office of Government Commerce (OGC); foi Diretor de Certificação do Capítulo PMI-AM. Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1993), mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1997) e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (2006), ambos, mestrado e doutorado, desenvolvidos na área de Engenharia de Produção. É pós-doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É profissional em gestão de projetos com certificado PMP (Project Management Professional), pelo Project Management Institute (PMI). Atualmente é professor adjunto do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de Brasília (UnB). Atuou entre janeiro de 2003 e janeiro de 2008 como engenheiro de desenvolvimento sênior e gerente de projetos, e entre janeiro de 2008 e agosto de 2012 como Gerente do Escritório de Projetos da OPTO ELETRÔNICA S.A. Tem experiência nas áreas de Engenharia Eletrônica, Processos de Fabricação e de Gerência da Produção, com ênfase em Desenvolvimento de Produto. Tem atuado em projetos de mapeamento de processos de planejamento e controle da produção em organizações militares e em projetos vinculados à defesa cibernética no âmbito do Governo Brasileiro. Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 15 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 16 of 17 Artigo Candidato Versão: <1.0> Confidencial ©MundoPM, 2015 Pagina 17 of 17