Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, ESTADO DO PARANÁ. José dos Santos, brasileiro, solteiro, residente na cidade de Curitiba, Estado do Paraná, por intermédio de seu advogado WILSON DOS SANTOS MACHADO NETO, vem com todo respeito e acatamento, diante de Vossa Excelência: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA: Em face da empresa de serviços telefônicos FALE., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n.º desconhecido, o que o faz pelas seguintes razoes fáticas e jurídicas a seguir aduzidas: 1 DOS FATOS . O autor após 2 (dois) anos de contrato com a empresa referida acima, recebeu uma carta de notificação do SPC (Serviço de Proteção ao crédito), informando ao mesmo que seu nome seria protestado no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), referente a uma fatura aberta no mês de janeiro de 2021. Cumpre salientar que José sempre pagou suas faturas regularmente, ao buscar os comprovantes antigos das faturas achou a do mês de janeiro de 2021, a mesma que estava sendo notificada. Ao entrar em contato com a Empresa de Telefonia, a reclamada não aceitou o comprovante do Sr. José e manteve a cobrança do débito. Subsequentemente o nome do Autor foi inscrito no SPC, tendo como consequência o seu score diminuído e consequentemente seu crédito abalado em razão do protesto Ainda, busca a tutela jurisdicional para que, diante às verossimilhanças das alegações que são corroboradas pelos documentos juntados, seja deferida antecipação da tutela no sentido de que realizem as baixas nos apontamentos em seu nome e CPF, vez que a demora somente aumentará seus prejuízos e danos. 2 DO DIREITO. Jamais tendo o autor contratado com o requerido e este por sua vez, não aceitando as justificativas daquele, mantendo cobrança indevida com apontamento de seu nome no rol de maus pagadores, está demonstrando o dano passível de reparação nos termos do que dispões o art. 5°, V e X da Constituição Federal. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; O Requerido, de acordo com o já exposto, agiu de forma ilícita protestando o autor por divida inexistente, conforme previsto no artigo 186 do Código Civil vejamos: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Com a prática do ato ilícito surge, então, a obrigação do requerido em indenizar pelos danos subsequentes, independente da existência de culpa, como bem dispõe o artigo 927 em seu parágrafo único do Código Civil de 2002. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Ainda com relação ao dever de indenizar, mediante a inexistência de culpa, invocam-se, também, os preceitos do Código de Defesa do Consumidor, que no caput do artigo 14, determina: Art. 14 - O fornecedor de serviço responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. É incontroverso o entendimento de nosso respeitável Tribunal de Justiça de que é cabível dano moral no caso em tela, veja-se: APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. NEGÓCIO JURÍDICO CELEBRADO POR ESTELIONATÁRIO. NEGLIGÊNCIA DA EMPRESA COMERCIAL. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE AFASTADA. TEORIA DO RISCO PROVEITO. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA Nº 385 DO STJ. AUSÊNCIA DE LEGÍTIMA INSCRIÇÃO PREEXISTENTE. QUANTUM DA INDENIZAÇÃO CORRETAMENTE FIXADO. PRECEDENTES DO STJ. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A falta de segurança na prestação do serviço afasta a aplicação da excludente de responsabilidade. A empresa comercial pratica atividade que envolve risco profissional e, por isso, tem o dever se precaver contra golpes engendrados por estelionatários. A teoria do risco-proveito considera civilmente responsável todo aquele que auferir lucro ou vantagem do exercício de determinada atividade, segundo a máxima ubi emolumentum, ibi onus (onde está o ganho, aí reside o encargo). 2. Não há que se falar, in casu, na aplicação do teor da súmula nº 385 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por ausência de legítima inscrição preexistente. 3.Valor condenatório fixado em atenção às circunstâncias da causa, pautado no que tem previsto o STJ para a espécie. Redução descabida. 4. Recurso desprovido.(TJPR - 6ª C.Cível - AC - 1071751-8 - Loanda - Rel.: Carlos Eduardo A. Espínola - Unânime - - J. 12.11.2013) 3 DO DANO MORAL Os danos morais resultaram da prática ilícita do reclamado ao protestar o nome do autor, pois coloca o mesmo em condições vexatórias perante terceiros, ademais, causa está causando frustração a negociação entre o requerido e instituição bancária para aquisição de financiamento imobiliário. Vale lembrar que para configuração do dano moral há de ser observado o enunciado 08 da Turma Recursal Única dos Juizados Especiais Cíveis do Paraná, a qual entende ser presumido o dano moral quando da realização de inscrição do nome da autora nos órgão de proteção ao crédito, vejamos: Enunciado 08 É presumida a existência de dano moral, nos casos de protesto de título e inscrição e/ou manutenção em órgão de proteção ao crédito, quando indevido. APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO.AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS PARTES. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DA AUTORA NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANO IN RE IPSA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. VALOR ARBITRADO EM QUANTIA INFERIOR AOS PARÂMETROS JURISPRUDENCIAIS PARA CASOS SEMELHANTES (ENTRE 30 A 50 SM) E QUE, POR ISTO, DEVE SER MAJORADO.ADEQUAÇÃO DOS JUROS DE MORA, DE OFÍCIO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MANTIDOS. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO.1. É pacífico o entendimento de que a inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito gera o dever de indenizar, não sendo necessária a prova objetiva do dano moral.2. Estando presentes todos os elementos essenciais da responsabilidade civil, configurado está o dever de reparação por parte do Banco.3. A indenização pelo dano moral deve ser estabelecida em montante razoável, atendidas as peculiaridades do caso concreto, notadamente as condições das partes envolvidas.4. Caso em que a indenização foi fixada abaixo dos parâmetros jurisprudenciais, que estariam em valores correspondentes entre 30 a 50 SM e que, por isto, deve ser majorada para R$20.000,00 (vinte mil reais).(TJPR - 9ª C.Cível - AC - 1095892-6 - Umuarama - Rel.: Francisco Luiz Macedo Junior - Unânime - - J. 07.11.2013) Desta forma, Requer a Vossa Excelência a condenaçãodo Requerido ao pagamento de uma indenização de 20 (vinte) salários mínimos, no tocante ao dano moral. 4 DA APLICAÇÃO DO CDC – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA Em regra, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato gerador do direito mencionado ou a quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, conforme disciplina o artigo 333, incisos I e II do Código de Processo Civil. O Código de Defesa do Consumidor, representando uma atualização do direito vigente e procurando amenizar a diferença de forças existentes entre polos processuais onde se tem num ponto, o consumidor, como figura vulnerável e no outro, o fornecedor, como detentor dos meios de prova que são muitas vezes buscados pelo primeiro, e às quais este não possui acesso, adotou teoria moderna onde se admite a inversão do ônus da prova justamente em face desta problemática. De acordo com o Artigo 6, Inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Havendo uma relação onde está caracterizada a vulnerabilidade entre as partes, como de fato há, este deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei no. 8.078/90, principalmente no que tange aos direitos básicos do consumidor, e a letra da Lei é clara. Ressalte-se que se considera relação de consumo a relação jurídica havida entre fornecedor (artigo 3º da Lei 8.078/90), tendo por objeto produto ou serviço, sendo que nesta esfera cabe a inversão do ônus da prova quando: “O CDC permite a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, sempre que foi hipossuficiente ou verossímil sua alegação. Trata-se de aplicação do princípio constitucional da isonomia, pois o consumidor, como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de consumo (CDC 4º,I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que seja alcançada a igualdade real entre os participes da relação de consumo. O inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio constitucional da isonomia, na medida em que trata desigualmente os desiguais, desigualdade essa reconhecida pela própria Lei.” (Código de Processo Civil Comentado, Nelson Nery Júnior et al, Ed. Revista dos Tribunais, 4ª ed.1999, pág. 1805, nota 13)”. Diante exposto com fundamento acima pautados, requer o autor a inversão do ônus da prova, incumbindo o réu à demonstração de todas as provas referente ao pedido desta peça. 5 DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. O autor necessita da urgência da tutela, vez que está impedido de praticar os atos do comércio em razão de existir restrições em seu crédito, haja vista que tal restrição. É possível a concessão da antecipação da tutela no sentido de oficiar ao órgão de proteção ao crédito para que procedam as baixas dos apontamentos em nome da autora, nos termos do art. 273 do CPC. Art. 273- O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: (Redação dada ao caput pela Lei n° 8.952, de 13.12.1994) I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;... É possível ainda a concessão de tutela antecipada, sem a necessidade de caução, haja vista entendimento do nosso Egrégio Tribunal de Justiça: "AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DECISÃO AGRAVADA QUE DEFERIU O PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA PARA, DETERMINANDO A EXCLUSÃO DO NOME DO AUTOR DOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO MEDIANTE A PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO. RECORRENTE BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. DEMANDA DE NATUREZA DECLARATÓRIA. RISCO DE IRREVERSIBILIDADE DA MEDIDA AUSENTE. POSSIBILIDADE DE REVOGAÇÃO DA TUTELA A QUALQUER TEMPO. CAUÇÃO. DISPENSÁVEL. DECISÃO REFORMADA. AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO" (TJPR - 10ª C.Cível - AI - 774705-1 - Londrina - Rel.: Arquelau Araujo Ribas - Unânime - - J. 29.09.2011) A necessidade de caução em tais casos vem sendo interpretado pelos Tribunais como excesso de formalismo, o que não admitido pelo judiciário: (...) EXIGÊNCIA DE PROVA DE FATO NEGATIVO. FORMALISMO EXCESSIVO. PROVA DIABÓLICA. APLICAÇÃO DAS CLÁUSULAS GERAIS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.(...) 3. Isso porque, em se tratando de fato negativo (ou seja, circunstância que ainda não tinha ocorrido) a exigência da produção probatória consistiria, no caso em concreto, num formalismo excessivo e levaria à produção do que a doutrina e a jurisprudência denominam de "prova diabólica", exigência que não é tolerada na ordem jurídica brasileira. Precedente: AgRg no AgRg no REsp 1187970/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 16/08/2010. 4. Agravo regimental a que se nega provimento" (STJ - AgRg no AREsp 262594/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 05.02.2013). Assim, requer desde logo, que seja concedida os efeitos da antecipação da tutela, nos termos do art. 273 do CPC, e conseguintemente oficiados os Órgãos de Proteção ao Crédito, ou seja, SERASA e SCPC, para que se faça a exclusão do nome do autor de seus apontamentos 6 DO PEDIDO Diante ao que fora exposto, requer a Vossa Excelência: a) preliminarmente, a ANTECIPAÇÃO DA TUTELA, no sentido de que seja expedido ofício ao Cartório competente para que, suspendendo- se os efeitos do protesto, não seja vinculada nenhuma informação sobre o ato notarial, até final decisão da lide principal, oficiando-se o SPC , dando baixa nas anotações já existentes referentes ao título em discussão; b) Que, ao final, seja julgada totalmente procedente a presente ação, devendo ser declarada inexigível a divida em nome do autor, com a consequente baixa definitiva do apontamento em seu nome, e ainda, com a condenação do requerido no valor equivalente a 20 (vinte) salários mínimos a título de indenização por danos morais; c) Que seja determinada a inversão do ônus da prova, conforme disposto no Art. 6º, VIII, da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990; d) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, especialmente pelo depoimento do representante do requerido, documentos presentes e futuros, oitiva de testemunhas, prova pericial. Dá-se à causa o valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais). Termos em que, pede deferimento. Curitiba, 17 de março de 2021.
Compartilhar