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PROBLEMA 3- INTERMEDIÁRIA 1 PATOGÊNESE DO DIABETES MELLITUS - O diabetes mellitus (DM) é um importante e crescente problema de saúde para todos os países, independentemente do grau de desenvolvimento. O número de pessoas com diabetes está aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior prevalência de obesidade e do sedentarismo, bem como à maior sobrevida dos indivíduos com diabetes. - Diversos processos patogênicos estão envolvidos no desenvolvimento do diabetes mellitus, que variam desde a destruição autoimune das células beta do pâncreas, com consequente deficiência de insulina, até anormalidades que resultam na resistência à ação da insulina em órgãos-alvo. - O diabetes é um distúrbio definido pela presença de hiperglicemia. Os critérios diagnósticos utilizados são: 1. Nível de glicose plasmática em jejum de 126 mg/dL ou mais 2. Sintomas clássicos de hiperglicemia mais um nível de 200 mg/dL ou mais 3. Nível de 200 mg/dL ou mais após dose oral de 75g de glicose (teste de tolerância à glicose, TTGO). - Acredita-se que mais de 90% dos casos de diabetes melito ocorram no contexto de uma predisposição genética, e são classificados como diabetes mellitus (DM) tipo 1 ou DM tipo 2. DIABETES TIPO 1 - Compreende cerca de 5% a 10% do total de casos de diabetes e é subdividido em: 1 A - Corresponde a 90% dos casos de DM1 e se relaciona aos casos atribuíveis a um processo autoimune de destruição das células beta pancreáticas. 1 B - Não tem causa conhecida (idiopático) e foi descrito inicialmente em africanos e asiáticos LADA - Na latente auto- imune diabetes in adults também existe uma destruição autoimune das células β, mas ela é muito mais lenta e acontece em indivíduos acima de 30 anos. - Embora a destruição autoimune não aconteça de forma aguda, alguns sintomas geralmente aparecem depois de apenas dias ou semanas, como: Poliúria Polidipsia Perda de peso com glicemia acentuadamente elevada EXPLICANDO A AUTODESTRUIÇÃO - A destruição seletiva de células beta pancreáticas ocorre devido aos linfócitos T alvejando antígenos maldefinidos de células beta. No início de doença, infiltrados linfocitários de células ativadoras de macrófagos e células secretoras de citocinas, circundam as células beta. A destruição autoimune ocorre gradualmente ao longo de vários anos, até que seja perdida uma massa de células suficiente para causar sintomas de deficiência de insulina. - Acredita-se que autoanticorpos contra células das ilhotas e insulina, embora apareçam cedo no curso da doença, sirvam como marcadores da destruição de células beta. Dessa forma, eles têm sido usados para ajudar no diagnóstico diferencial de DM tipo 1 versus DM tipo 2 em crianças. - Anticorpos às células das ilhotas (ICAs) estão presentes em 50% dos portadores da doença em parentes de primeiro grau DIABETES TIPO 2 - Compreende mais de 90% do total de casos de diabetes e resulta de graus variáveis de deficiência relativa de secreção e resistência insulínicas. Ocorre mais comumente em adultos, aumentando a prevalência em decorrência da idade. A maioria dos indivíduos com essa forma de diabetes é obesa ou tem maior percentagem de distribuição de gordura corporal na região abdominal. - Como esses pacientes com frequência têm quantidades variáveis de secreção residual de insulina que impedem hiperglicemia grave ou cetose, eles muitas vezes são assintomáticos e são diagnosticados após 5 a 7 anos do início real da doença. - Uma vez diagnosticados com DM tipo 2, a maioria dos indivíduos é tratada com modificação do estilo de vida (p. ex., dieta, exercício, controle do peso), isoladamente ou em combinação com medicamentos: Sulfonilureias: aumentam a secreção endógena de insulina glicose-independente Incretinas, como GLP-1: aumentam a secreção endógena de insulina glicose- dependente Metformina: diminui a resistência à insulina em tecidos hepáticos Glitazonas: diminui a resistência em tecidos periféricos Inibidores intestinais de alfa- glicosidase: interferem na absorção intestinal de carboidratos - Pacientes diabéticos tipo 2 geralmente não requerem tratamento com insulina para sobrevivência, exceto aqueles que estão em estado avançado e necessitam da insulina para conseguir controle ótimo da glicose. EXPLICANDO A RESISTÊNCIA À INSULINA - A resistência à insulina é a lesão primária do DM2 e resulta em um aumento compensador da secreção de insulina que não pode ser mantido pelo pâncreas. Quando o pâncreas fica sobrecarregado e não pode acompanhar as demandas por insulina, resulta o diabetes clínico. Essa resistência é o fator determinante de ligação entre obesidade e DM 2. O excesso de tecido adiposo leva à liberação aumentada de vários fatores a partir do tecido adiposo visceral, o que direciona a resistência à insulina. Os mediadores essenciais são: 1. Lipotoxicidade: efeitos tóxicos do excesso de ácidos graxos livres liberados do tecido adiposo por lipólise. 2. Adipocinas: desregulação na secreção dessas proteínas lipoespecíficas, como a adiponectina, que é um hormônio sensibilizador de insulina. 3. Citocinas inflamatórias: produção aumentada dessas citocinas dentro do tecido adiposo. MODY - O Maturity Onset Diabetes of the Young (MODY), é um subtipo que acomete indivíduos abaixo dos 25 anos, não obesos, sendo caracterizado por defeito na secreção de insulina, mas sem provocar dependência da mesma. Apresenta herança autossômica dominante, envolvendo, portanto, várias gerações de uma mesma família. Existem 6 subtipos de MODY classificados de acordo com a mutação genética: MODY 1 MODY 2: mutação no gene da glicoquinase MODY 3 MODY 4: mutação no insulin promoter fator (IPF) MODY 5 MODY 6 DIABETES GESTACIONAL - Tem sido definido como qualquer grau de intolerância à glicose, com início ou primeira identificação durante a gravidez. Ele ocorre em mulheres grávidas, com uma incidência variando de 3 a 8% na população geral e tende a ser resolvido com o parto. - Durante a gravidez ocorrem adaptações na produção hormonal materna para permitir o desenvolvimento do bebê. A placenta é uma fonte importante de hormônios que reduzem a ação da insulina. O pâncreas materno, consequentemente, aumenta a produção de insulina para compensar este quadro de resistência à sua ação. Entretanto, em algumas mulheres este processo não ocorre e elas desenvolvem o diabetes gestacional caracterizado pelo aumento do nível de glicose no sangue. Os níveis crescentes de hormônios como somatomamotrofina coriônica, progesterona, cortisol e prolactina possuem efeitos contrarreguladores anti-insulina. CETOACIDOSE DIABÉTICA A cetoacidose diabética (CAD) é a principal e mais grave complicação aguda do diabetes tipo 1. Além disso, é a maior causa de mortalidade entre crianças e adultos jovens com DM1. Os principais fatores que desencadeiam essa cetoacidose são: Infecção Parada de aplicação de insulina ou obstrução do cateter da bomba de infusão de insulina Estresse cirúrgico e emocional Uso de fármacos hiperglicemiantes, como os corticosteroides, os tiazídicos e os antipsicóticos Ocorreu um aumento dos números de casos de cetoacidose sem causa precipitante em crianças, adolescentes e adultos com diabetes do tipo 2. Foi demonstrado que crianças com uma infecção precedente e que receberam diagnóstico errôneo ou tratamento tardio tiveram risco aumentado de desenvolver CAD. - O principal distúrbio hormonal causador da CAD é a deficiência de insulina associada ao aumento de hormônios hiperglicemiantes. A diminuição da secreção de insulina ativa lipase no tecido adiposo, que atua degradando os triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol. A grande quantidadede ácidos graxos que se direcionam para o fígado sofrem beta- oxidação, resultando em excesso de acetil- CoA. Esse excesso, quando não utilizado totalmente pelo ciclo de Krebs, forma 2 ácidos fortes: o beta-hidroxibutírico e o acetoacético, que sofrem descarboxilação no pulmão e na bexiga formando as cetonas. Esses produtos da CAD causam a acidose metabólica e o paciente começa a hiperventilar (respiração de Kussmaul), levando a alcalose respiratória (tentativa do corpo de manter a homeostasia do pH corporal) e ao hálito cetônico. A acidose metabólica, em nível cerebral, pode levar ao coma. Já no aparelho gastrointestinal, essa acidose causa náuseas, vômitos (leva à desidratação) e dor abdominal. A diminuição de insulina provoca menor captação de glicose pelos tecidos, o que provoca uma produção hepática excessiva de glicose, resultando em uma hiperglicemia. Essa hiperglicemia gera poliúria e polidipsia (sede excessiva). DIAGNÓSTICO - A CAD é caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica e aumento de corpos cetônicos. Os principais exames laboratoriais para diagnóstico são: 1. Glicemia: varia de 250 a 600 mg/ dL. Em aproximadamente 10% dos casos de CAD os níveis glicêmicos são menos do que 250 mg/ dL, caracterizando a CAD euglicêmica, que pode ser justificada pela aplicação de insulina a caminho do hospital ou longos períodos de jejum. 2. Corpos cetônicos: podem ser dosados no sangue ou na urina e se encontram fortemente elevados no estado de CAD. 3. Gasometria: revela a acidose metabólica (pH e bicarbonato diminuídos) com alcalose respiratória (pCO2 diminuída). 4. Eletrólitos: Sódio: no início do quadro de CAD, o sódio plasmático tende a ser baixo, devido a hiperglicemia causar fluxo de água para o meio extracelular, o que causa diluição do sódio. Potássio: devido à acidose metabólica, o potássio migra da célula para o extracelular em troca de íons hidrogênio, tentando tamponar a acidose. 5. Ureia e creatinina: podem estar elevadas pela desidratação e pelo aumento do catabolismo proteico. 6. Urina: além de eventual identificação de infecção urinária, podem-se encontrar glicosúria maciça e cetonúria. - Hipertrigliceridemia acentuada também pode acompanhar a cetoacidose diabética, devido produção aumentada e depuração diminuída de VLDL que ocorre em estados de deficiência de insulina. Esse aumento da produção deve-se a: Fluxo hepático aumentado de ácidos graxos, os quais, além de servirem de energia para cetogênese, podem ser reembalados e secretados como VLDL. Produção hepática de VLDL aumentada devido à perda de efeitos inibidores da insulina sobre proteínas necessárias para a montagem de VLDL, como a apoB. Depuração diminuída devido à atividade reduzida da lipase lipoproteica TRATAMENTO - A cetoacidose diabética é tratada por reposição de água e eletrólitos (Na+ e K+) e administração de insulina. Com a reposição de líquidos e eletrólitos, a perfusão renal é aumentada, restaurando a depuração renal da glicose sanguínea elevada, e a produção de hormônios contrarreguladores é diminuída, reduzindo a produção hepática de glicose. A administração de insulina corrige a hiperglicemia por restabelecer a captação de glicose sensível à insulina e inibir o efluxo hepático de glicose. Além disso, a insulina é capaz de inibir a lipólise, eliminando substratos para cetogênese, e para inibir cetogênese hepática, corrigindo a cetoacidose. ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPERSMOLAR (EHH) - O EHH é uma complicação aguda grave que ocorre geralmente em idosos com DM2, principalmente quando o paciente não sabe ser diabético. O EHH tem como característica apresentar-se com desidratação grave, ausência de cetonúria, níveis glicêmicos sempre elevados, frequentes sinais e sintomas neurológicos e alto índice de mortalidade. - A ausência de acidose e cetose ocorre devido ao nível de insulina, que é incapaz de evitar a descompensação diabética, mas suficiente para inibir a lipólise e evitar a cetose e a acidose. A hiperglicemia resulta de produção aumentada de glicose pelo fígado e menor utilização tecidual. O que realmente eleva a glicemia é a menor capacidade de eliminação renal da glicose, que se concentra em um espaço extracelular já contraído pela intensa desidratação. HORMÔNIOS PANCREÁTICOS - Os hormônios são moléculas que agem como sinalizadores químicos. Eles são liberados por células especializadas chamadas endócrinas, que se unem formando glândulas endócrinas, em que se organizam geralmente sob forma de cordões celulares. As células endócrinas estão sempre muito próximas de capilares sanguíneos, que recebem os hormônios secretados e os distribuem pelo organismo, diluídos no plasma. Alguns hormônios agem distantes do seu local de secreção, e outros atuam em curtas distâncias, fazendo diferentes tipos de controle: Parácrino: os hormônios chegam ao seu local de ação por meio de curtos trechos de vasos sanguíneos. Justácrino: o hormônio é liberado na matriz extracelular, difunde-se por essa matriz e atua em células situadas a uma distância muito curta de onde foram liberadas. Autócrino: as células podem produzir moléculas que agem nelas próprias ou em células do mesmo tipo. - Os tecidos e órgãos nos quais os hormônios atuam são chamados tecidos-alvo ou órgãos-alvo, que possui receptores que reconhecem especificamente determinados hormônios. ILHOTAS DE LANGERHANS - São o componente endócrino do pâncreas e são mais numerosas na cauda. É possível distinguir pelo menos cinco tipos de células nas ilhotas, sendo que elas estão dispostas em cordões irregulares e curtos que são revestidos com uma rede de capilares fenestrados. As células são: A ou Alfa (30%): produz o glucagon, que age em vários tecidos para tornar a energia estocada sob forma de glicogênio e gordura disponível pela glicogenólise e lipólise. B ou Beta (60%): produz insulina, que age em vários tecidos promovendo a entrada de glicose nas células. D ou Delta (10%): produz somatostatina, que regula a liberação de hormônios de outras células das ilhotas F ou PP (1%): produz polipeptídio pancreático, que provoca diminuição do apetite e aumento de secreção do suco gástrico. Épsilon: produz grelina, que estimula o apetite através do hipotálamo. - Essas ilhotas são mais vascularizadas do que o tecido pancreático exócrino e ocorre drenagem para veia porta hepática, assim, os hormônios das células das ilhotas vão diretamente para o fígado. As ilhotas também são abundantemente inervadas, tanto por axônios parassimpáticos quando simpáticos. INSULINA - É uma proteína composta por duas cadeias de peptídeos, chamadas de cadeias A e B, conectadas por duas pontes dissulfeto. Esse hormônio possui um precursor, chamado de pré-pró-insulina, que é sintetizado nos ribossomos e entra no retículo endoplasmático rugoso das células beta, onde é clivado. Ocorre então a formação da pró- insulina, possuindo as 2 cadeias A e B juntas por um peptídeo C de 31 aminoácidos. Em seguida: A pró-insula é transportada em microvesículas para o complexo de Golgi, onde é embalada dentro de vesículas secretoras. Na vesícula, uma protease remove o peptídeo C e isso resulta na formação da insulina madura. - A insulina tem uma meia-vida circulatória de 3 a 5 minutos, sendo que, 50% dela são catabolizadas em sua primeira passagem pelo fígado depois de secretada pelo pâncreas para a veia porta. Em contrapartida, peptídeo C e pró-insulina são catabolizados somente pelo rim e, portanto, têm meias-vidas três a quatro vezes mais longas. REGULAÇÃO DA SECREÇÃO - A glicose é o estimulante fisiológico primário da liberação de insulina, sendo que a entrada dessa glicose em células beta é facilitada por um ou mais transportadoresde glicose (GLUT), que possibilitam o transporte bidirecional de glicose, criando um equilíbrio entre as concentrações. A glicoquinase, funciona como um sensor da glicose da célula beta, porque sua atividade controla o primeiro passo limitador de velocidade no metabolismo da glicose, que é a fosforilação em glicose- 6- fosfato. Esse processo ocorre da seguinte maneira: 1. A glicose entra na célula Beta pancreática via GLUT 2. 2. A glicose sofre ação da glicoquinase e forma a glicose-6-fosfato, a qual é metabolizada por meio da glicólise, do ciclo TCA e da fosforilação oxidativa. 3. Essas reações aumentam o nível de ATP dentro das células beta. Com a proporção ATP/ADP aumentada, a atividade dos canais de K+ dependentes de ATP da membrana da célula é inibida, ou seja, esses canais se fecham. 4. O fechamento desses canais causa a despolarização da membrana, a qual ativa voltagem nos canais de Cálcio que permite influxo nas células beta. 5. O aumento intracelular de Ca2+ estimula a fusão das vesículas que contêm insulina com a membrana plasmática, resultando na secreção de insulina. Apesar da glicose ser o estimulador mais potente da liberação de insulina, outros fatores, como aminoácidos ingeridos em uma refeição ou estimulação vagal, também resultam em liberação de insulina. - Até 50% da secreção de insulina em resposta a uma carga oral de glicose podem ser atribuídos a hormônios entéricos (incretinas), como peptídeo-1 (GLP-1), que são liberados após ingestão oral de nutrientes e aumentam a secreção de insulina glicose-estimulada pelas células beta por meio da ativação de vias de sinalização AMPc/PKA. Essa secreção de insulina é inibida pela somatostatina e por catecolaminas. A epinefrina, secretada em resposta a jejum, estresse, trauma e exercício vigoroso, diminui a secreção de insulina. MECANISMO DE AÇÃO - A insulina exerce seus efeitos por ligação a receptores de insulina presentes no fígado, nos músculos e na gordura. Esses receptores possuem dois tipos de subunidades: Subunidade alfa, a qual a insulina se liga Subunidade beta, que atravessa a membrana e se estende até o citosol. A parte no citosol tem atividade da tirosinaquinase. - Ao se ligar com a insulina, a tirosina quinase fosforila resíduos de tirosina na subunidade beta, ocorrendo a autofosforilação do receptor. Isso corre com várias outras enzimas no citosol. - A ativação do receptor de insulina inicia uma cascata de fosforilação dentro da célula, começando com a fosforilação de uma rede de proteínas de ancoragem, que são os chamados substratos de receptor de insulina (IRSs). O IRS-1 reconhece a fosforilação e se liga a várias proteínas transdutoras de sinais, levando finalmente aos efeitos biológicos da insulina. EFEITOS - Nos tecidos como fígado, músculos e gordura, a insulina promove armazenagem da energia (anabolismo) e impede a quebra e liberação da energia (catabolismo). É importante ressaltar que a falta total ou o excesso de insulina é incompatível com a vida. - No fígado, a insulina promove armazenagem da energia por estimulação da síntese e armazenagem de glicogênio. A insulina impede o efluxo hepático de glicose por inibição da gliconeogênese e glicogenólise. A insulina também promove a glicólise, causando a formação de precursores para a síntese de ácidos graxos. Ela também estimula lipogênese enquanto inibe a oxidação de ácidos graxos e a produção de corpos cetônicos (cetogênese). - No tecido adiposo, a insulina estimula armazenagem de gordura por estimulação da lipase lipoproteica, a enzima que hidrolisa os triglicerídeos carreados nas VLDLs. Nos adipócitos, a insulina também inibe lipólise, impedindo a liberação de ácidos graxos. GLUCAGON - O glucagon é um peptídeo de 29 aminoácidos que é produzido nas células alfa do pâncreas, no intestino e no encéfalo, através do processamento do pró- glucagon. - O processamento diferencial feito pelas células L no intestino resulta na produção de peptídeo semelhante a glucagon (GLP)-1 e GLP-2 em resposta a uma refeição. Esses peptídeos possuem efeitos opostos no metabolismo de carboidratos: Enquanto o glucagon pancreático é contraposto aos efeitos hepáticos da insulina, os GLPs atuam como incretinas, aumentando secreção de insulina glicose-estimulada. - A meia-vida circulante do glucagon é de 3 a 6 minutos e, como a insulina, ele é metabolizado no fígado e nos rins. REGULAÇÃO DA SECREÇÃO - Ao contrário da estimulação da secreção de insulina pela glicose, a secreção de glucagon é inibida por glicose. Além disso, evidências atuais sugerem que a insulina desempenha um papel importante na inibição da secreção de glucagon. A síntese do glucagon ocorre nas células alfa a partir das seguintes etapas: 1) O pré-pró-glucagon é produzido no retículo endoplasmático rugoso e é convertido em pró-glucagon assim que entram no lúmen do reticulo endoplasmático. 2) A clivagem proteolítica de vários sítios irá produzir o glucagon maduro com 29 aminoácidos. 3) O glucagon também é sintetizado como um pró-hormônio e clivado a glucagon maduro, o qual é armazenado nas vesículas, em grandes fragmentos contendo glucagon, glucagon 1 e 2. 4) A liberação é regulada mediante a situações de hipoglicemia. - A glicose provavelmente apresenta um efeito supressor direto na secreção do glucagon a partir das células α, bem como um efeito indireto, mais lento, mediado pela habilidade da glicose em estimular a liberação de insulina. Além disso, a somatostatina, o GABA e o zinco insulina-associado também inibem o glucagon. Certos hormônios, como as catecolaminas e o cortisol, estimulam a secreção de glucagon. MECANISMO DE AÇÃO - O principal papel biológico do glucagon é manter níveis normais de glicose durante o jejum pela indução da produção hepática de glicose. Isso ocorre através das seguintes etapas: I. O glucagon liga-se a um receptor de glucagon acoplado à proteína G presente na superfície celular de hepatócitos, ativando adenilato- ciclase e gerando AMPc (monofosfato de adenosina cíclico). II. O AMPc ativa a proteína-quinase A (proteína- quinase dependente do AMPc), a qual modifica a ação de enzimas por fosforilá-las a resíduos específicos. A fosforilação ativa algumas enzimas e inibe outras. - A proteína G tem papel de acoplar o receptor do glucagon à adenilato-ciclase e são proteínas de membrana que ligam trifosfato de guanosina e que possuem subunidade dissociadas que interagem tanto com o receptor quanto com a adenilato-ciclase. - O AMPc irá transmitir o sinal do hormônio para a célula por ativar a proteína-quinase A. O AMPc se liga à subunidade regulatória da proteína-quinase-A e assim essa subunidade se dissocia das subunidades catalíticas, as quais dessa forma são ativadas. EFEITOS - O glucagon é um hormônio contrarregulador, agindo de modo catabólico para se opor aos efeitos da insulina. Os seus efeitos hepáticos são: a) Efluxo hepático de glicose aumentado por meio da glicogenólise, em conjunto com outros hormônios contrarreguladores, estimulação da gliconeogênese. b) Captação hepática de aminoácidos aumentada, o que serve de energia para a gliconeogênese. c) Estimulação da oxidação de ácidos graxos e cetogênese, fornecendo energia alternativa (corpos cetônicos) que pode ser usada pelo encéfalo quando glicose não está disponível. Os hormônios peptídicos são hidrossolúveis, o que permite que entrem facilmente no sistema circulatório, para serem transportados para seus tecidos-alvo. SOMATOSTATINA - Existe a síntese de uma pré-pró-somatostatina no pâncreas, trato gastrointestinal (TGI) e encéfalo. A somatostatina 14 (SS-14) é um peptídeo de 14 aminoácidos que foi encontrado inicialmente no hipotálamo como fator deinibição de hormônio do crescimento (GH). Depois de certo tempo, reconheceram que as células delta do pâncreas também secretam SS-14. No encéfalo e intestino, a pré-pró-somatostatina produz a somatostatina-28 (SS-28), um peptídeo que possui uma ação comparável à da SS-14, mas uma potência maior. - A somatostatina possui meia-vida menor do que 3 minutos e é mais curta que a da insulina ou a do glucagon. Esse hormônio inibe a síntese e secreção da maioria dos hormônios peptídeos, por meio de ligação a uma família de receptores (SSTl-5) acoplados à proteína G inibidora (Gi). No pâncreas endócrino, acredita-se que a somatostatina aja por meio de efeitos parácrinos sobre as outras células das ilhotas, inibindo a liberação de insulina e glucagon. A octreotida é um fármaco análogo da somatostatina de ação prolongada. Ela inibe a secreção de diversos hormônios e é utilizada clinicamente para o alívio de sintomas de vários tumores endócrinos. POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO (PP) - É um peptídeo de 36 aminoácidos, produzido pelas células PP (células F) nas ilhotas do lobo posterior da cabeça do pâncreas. Ele é liberado após a refeição e está ligado ao controle da ingestão de alimentos, agindo em receptores acoplados à proteína G. - Além disso ele também inibe a secreção pancreática exócrina e a contração do músculo liso biliar e do intestinal. Evidências recentes sugerem que o PP também pode controlar saciedade e peso, inibindo ingestão de alimentos e estimulando gasto de energia. MEDIDAS TERAPÊUTICAS DO DIABETES INSULINA - Antigamente, a insulina para uso clínico era de origem porcina ou bovina, porém, atualmente ela é quase inteiramente humana, produzida pela tecnologia do DNA recombinante. - A insulina é essencial para o tratamento do diabetes tipo 1 e é um importante componente do tratamento de muitos pacientes portadores do tipo 2 da doença. Ela é degradada no TGI e geralmente é administrada por injeção subcutânea, sendo que em casos de emergência podem ser utilizadas as vias intravenosa ou intramuscular. INDICAÇÕES DE USO - Aproximadamente um terço dos pacientes portadores de DM 2 acaba necessitando de tratamento com insulina. - Utiliza-se a insulina no tratamento em curto prazo de pacientes portadores de DM2 ou com intolerância à glicose durante eventos intercorrentes (p. ex., cirurgias, infecções, infarto do miocárdio). - Durante a gravidez, para o diabetes gestacional não controlado apenas com a dieta. - Tratamento de emergência da hipercalemia: a insulina é administrada juntamente com a glicose com a finalidade de reduzir o K+ extracelular através de redistribuição para o interior das células. TEMPO DE AÇÃO - Existe a insulina solúvel, que produz um efeito rápido e pouco duradouro. As preparações de ação mais prolongadas são produzidas através da precipitação da insulina com protamina ou com zinco, formando, com isso, cristais sólidos amorfos relativamente insolúveis, que são injetados como suspensão a partir da qual a insulina é lentamente absorvida. Essas preparações incluem a insulina isófana e as suspensões de insulina zinco amorfa ou cristalina. - A insulina lispro é um análogo de insulina e age mais rapidamente, porém por um período mais curto de tempo do que a insulina normal, o que permite que os pacientes possam injetá-la neles mesmos imediatamente antes de uma refeição. - A insulina glargina é outro análogo de insulina modificada desenvolvido com a intenção oposta, ou seja, a de propiciar um aporte basal constante de insulina e “imitar” a secreção fisiológica basal pós- absortiva de insulina. Quando utilizada em conjunto com uma insulina de ação curta, ela reduz a concentração plasmática pós-absortiva de glicose. EFEITOS ADVERSOS - O principal efeito adverso da insulina é a hipoglicemia. Em casos de hipoglicemia, ingere-se uma bebida ou um alimento doce ou, se o paciente estiver inconsciente, administra-se glicose por via intravenosa ou glucagon por via intramuscular. - A alergia à insulina humana não é comum, muito embora possa ocorrer. Ela pode manifestar-se sob a forma de reações locais ou sistêmicas. BIGUANIDAS - A metformina é a única biguanida utilizada clinicamente no tratamento do diabetes tipo 2 e é o fármaco de primeira escolha. AÇÕES E MECANISMO - As ações bioquímicas das biguanida são: 1. Redução da produção da glicose hepática (gliconeogênese, que está aumentada de forma acentuada no DM2); 2. Aumento da captação de glicose e utilização no músculo esquelético (reduz a insulinoresistência); 3. redução da absorção de carboidratos pelo intestino; 4. Aumento da oxidação de ácidos graxos; 5. Redução das lipoproteínas circulantes de baixa e alta densidades (LDL e VLDL) - O principal efeito da metformina é reduzir a produção da glicose hepática ao inibir o complexo I da cadeia respiratória mitocondrial. A consequente diminuição nos níveis de energia hepática ativa a AMPK (proteína quinase ativada pela AMP), que aumenta a expressão de genes importantes para a gliconeogênese no fígado. A metformina possui uma meia-vida de cerca de 3 horas e é eliminada de forma inalterada na urina. EFEITOS INDESEJÁVEIS - A metformina, ao mesmo tempo em que previne a hiperglicemia, não causa hipoglicemia, e os efeitos indesejáveis mais comuns incluem os distúrbios gastrointestinais relacionados com a dose (p. ex., anorexia, diarreia, náuseas), os quais são em geral, transitórios. USOS CLÍNICOS - A metformina é utilizada para tratar pacientes portadores de DM2. Ele não estimula o apetite, pelo contrário e, dessa forma, é o fármaco de primeira escolha na maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 que são obesos. Pode ser utilizada em combinação com as sulfonilureias, as glitazonas ou com a insulina. SULFONILUREIAS - As sulfonilureias foram desenvolvidas após a observação de que um derivado da sulfonamida causava hipoglicemia. As primeiras sulfonilureias a serem utilizadas terapeuticamente foram a tolbutamida e a clorpropamida. - A clorpropamida tem uma duração de ação longa e uma fração substancial é eliminada na urina. Consequentemente, ela pode causar hipoglicemia grave, especialmente nos pacientes idosos. Esse fármaco possui ação semelhante à do hormônio antidiurético sobre o néfron distal. - As sulfonilureias de segunda geração (p. ex., glibenclamida e glipizida) são mais potentes, porém seu efeito hipoglicemiante máximo não é maior, e o controle da glicemia não é melhor do que o obtido com a tolbutamida - A principal ação das sulfonilureias se dá sobre as células B, estimulando a secreção de insulina e reduzindo, dessa forma, os níveis de glicose no plasma. Elas são bem absorvidas após a administração por via oral, e a maioria alcança as concentrações plasmáticas máximas em 2 a 4 horas. EFEITOS INDESEJÁVEIS - O efeito adverso mais comum é a hipoglicemia, a qual pode ser grave e prolongada, sendo que a incidência é maior com os fármacos de longa duração como a clorpropamida e a glibenclamida. Dessa forma, é melhor evitar o uso da glibenclamida no indivíduo idoso e nos pacientes que apresentam, comprometimento renal. - As sulfonilureias estimulam o apetite e esse fato é uma preocupação importante em pacientes diabéticos obesos. Cerca de 3% dos pacientes apresentam desconforto gastrointestinal. Esses fármacos requerem a presença de células B funcionantes, dessa forma, eles são inúteis no tratamento do diabetes tipo 1 ou nos estágios mais tardios do diabetes tipo 2. TIAZOLIDINADIONAS (GLITAZONAS) - A pioglitazona é o único fármaco desta classe que continua a ter uso clínico; os seus predecessores, rosiglitazona e troglitazona, foram retirados devido, respectivamente, ao risco aumentado de ataques cardíacos e de danos hepáticos. EFEITOS EMEANISMO DE AÇÃO - Os efeitos desses fármacos sobre a glicemia são de início lento, sendo o efeito máximo atingido apenas com 1-2 meses após o início do tratamento. Atuam através do reforço da eficácia da insulina endógena e, desse modo, reduzindo a produção de glicose hepática e aumentando a captação da glicose no músculo. - As tiazolidinadionas ligam-se a um receptor nuclear denominado receptor-γ ativado por proliferadores de peroxissomo (PPARγ). O PPARγ está presente principalmente no tecido adiposo, mas também pode ser encontrado no músculo e no fígado. Ele promove diferenciação dos adipócitos (tal fato contribui para o ganho ponderal, que é um efeito indesejado com o uso do fármaco), o que aumenta a lipogênese e estimula a captação de ácidos graxos e de glicose. INIBIDORES DE ALFA-GLICOSIDASE - A acarbose, um inibidor da α-glicosidase intestinal, é utilizada nos pacientes portadores de DM2 cuja doença é controlada com a dieta ou sem outros agentes. Ela retarda a absorção de carboidratos, reduzindo a elevação da glicemia pós-prandial. De forma semelhante à metformina, esse fármaco é importante nos pacientes obesos portadores de diabetes tipo 2, além de poder ser administrado em conjunto com a metformina. GLIPTINAS - As gliptinas (sitagliptina, vildagliptina, saxagliptina, linagliptina) são fármacos sintéticos que inibem competitivamente a dipeptidil proteinase-4 (DPP-4). Desse modo, diminuem a glicose no sangue ao potenciar as incretinas endógenas (GLP-1 e GIP) que estimulam a secreção de insulina. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO - Até o momento não existe uma forma de tratamento para o DM2 que promova resposta terapêutica ou alcance de modo similar em todos os pacientes. Portanto, a primeira etapa para a decisão terapêutica é estabelecer uma meta de controle glicêmico de maneira individualizada. - Alguns cuidados devem ser considerados, como: a idade, o tempo de diagnóstico, a presença de complicações micro/macrovasculares, as condições psicossociais, a capacidade de autocontrole e se há suporte familiar ou institucional diante de potenciais situações adversas. - Para melhores resultados no controle metabólico nos diferentes estágios evolutivos de DM2, frequentemente há necessidade de combinação de dois ou mais compostos farmacológicos associados às mudanças de estilo de vida. A literatura tem mostrado que a ingestão regular de alimentos integrais e de baixo índice ou carga glicêmica é importante para prevenção e controle da diabetes e deveriam estar incluídos do cardápio diário das pessoas em geral, particularmente de diabéticos. - A terapêutica não-farmacológica tem sido apontada como a primeira linha de enfrentamento da DM, pois tem se mostrado muito relevante, especialmente no tocante à redução de custos diretamente envolvidos, bem aqueles destinados aos agravos ou comorbidades decorrentes da doença.
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