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101 dicas para estudar e passar Martha Vergine GUIA de PROVAS e CONCURSOS https://www.instagram.com/marthavergine/ https://www.youtube.com/MarthaVergine?sub_confirmation=1 http://euestudocerto.com.br/link-ebook Vamos tentar? 8 Sumário O primeiro passo é sempre o mais difícil 9 Manter o foco para não ter um futuro embaçado 24 Estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie 37 Autoconfiança, amor próprio e resiliência ou como não ser o ator da peça alheia 59 Determinação, disciplina, entusiasmo e mais uma fórmula mágica para ser aprovado 71 Família, namorada, amigos, professores e televisão: aliados ou vilões? 88 Ferramentas: nas mãos de quem não sabe dirigir, um carro é uma arma 108 O fim não tem fim 123 Antes de dizer adeus 129 9 O corpo de João Pedro balançava, seguindo os movimentos nada sutis que o motorista impunha ao ônibus. Aos 25 anos, seu cérebro também se movimentava, tentando entender sua primeira grande crise. Tudo bem, aos 15 também teve a crise das espinhas, aos 18 a do vestibular, mas nada tão profundo como a que tinha agora. “Já se passou quase um terço da minha vida, e o que fiz com ela?”, pensava. - Licença, licença, vou descer. 10 A senhora com as sacolas empurrava os passageiros. João Pedro, então, percebeu que já havia passado do seu ponto. Voltava do escritório de advocacia no qual trabalhava há dois anos, mas onde não era feliz. Nunca quis trabalhar com direito de família, contudo sua vida tinha seguido essa direção. O pai de um colega havia indicado aquela vaga e ele aceitou, pensando ser algo temporário, mas que já havia durado muito para ele. “Você tem objetivos na vida?”. Essa era a pergunta que um dia tinha lhe feito Daniela, uma colega da faculdade, e que agora ecoava na sua cabeça. Aliás, Daniela era alguém que ele admirava. Sempre soube o que queria e traçou passo a passo o caminho que seguiu para hoje se tornar uma das mais respeitadas juízas de sua cidade. Entrando em casa, começou a pensar. Como deixou que as coisas chegassem a esse ponto, sem nunca se questionar se era isso mesmo que queria. “A estratégia de vida que estava usando até ali era satisfatória? Seu sentimento era de realização ou ainda se sentia um pouco perdido?”. As respostas eram claras: a estratégia não era satisfatória e estava completamente perdido. Aonde pretendia chegar dessa forma? Ao observar as respostas que vinham à sua mente, percebeu que estava completamente fora do caminho. Ele nunca havia parado para decidir para onde gostaria ir. “Se você não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve”, também dizia sua amiga magistrada. João Pedro tinha que tentar colocar sua vida novamente no rumo certo. Então, resolveu desenterrar um velho sonho: prestar 11 concurso para advogado geral da União. Sempre protelou esse objetivo, achando que era muito difícil, que não passaria. Mas, antes que ele perca mais um ponto na sua vida, e o caminho fique ainda mais longe, ele vai seguir o rumo desejado. DICA Devemos avaliar se estamos agindo da melhor forma e, as- sim, decidir se devemos continuar do mesmo jeito ou, quem sabe, mudar alguns hábitos. Esse é o primeiro passo para nos colocarmos no rumo certo. E mesmo se em algum momento perdermos o ponto, sempre há chance de voltarmos atrás e recomeçarmos. DICA Se deixar para o acaso o comando de sua vida, nem sempre ele levará você para dentro dos seus sonhos. Uma das mi- nhas filosofias é acreditar que o universo sempre conspira a nosso favor, desde que façamos a nossa parte. Para isso, precisamos definir nossos objetivos. Fica difícil acreditar em ajuda se nem nós temos ciência do que queremos. DICA Em seu livro What They Don’t Teach You at Harvard Business School, o escritor Mark McCormack citou uma pesquisa realizada em Harvard. Em 1979, a seguinte pergunta foi feita aos formandos: “Você estabeleceu metas claras, por escrito, para o seu futuro e fez planos para concretizá-las?” O resultado foi que apenas 3% dos formandos tinham escrito planos e metas. Que tal tentar fazer parte da minoria? Trace suas metas a curto, médio e longo prazo. Monte seu plano de ação. 12 DICA Não adianta escrever um plano de ação, deixar guardado em uma gaveta e nunca mais se lembrar dele. Faça a sua lista no seu celular, na sua agenda ou em qualquer outro lugar que você tenha acesso fácil. Durante o ano, releia e, se necessário, ajuste e redirecione o caminho, pois você sabe aonde quer chegar e decidiu ir nessa direção. Já era sábado. O plano inicial era acordar cedo, procurar editais com a vaga desejada, buscar um material de estudo, planejar... Então, o toque do celular acordou João Pedro. Era sua namorada, Laura. O relógio mostrava que já era quase meio-dia. Sabia que, se quisesse mudar de vida, tinha muito a fazer, mas aquilo era mais forte que ele. Era como se a gravidade na Terra tivesse aumentado na última noite e o empurrasse para cama. Laura queria ir ao cinema. Com isso, preparação para o concurso ficaria para outro momento. No dia seguinte, claro, ele acordaria morrendo de culpa. Mesmo trabalhando, cuidando da casa, cozinhando, lavando roupa, praticando esporte, João Pedro ainda se sentia um preguiçoso em dias como aquele. Nesses poucos momentos em que dava um break na vida, ficava até um pouco perdido, pois achava que desperdiçava um tempo precioso. Estava tão viciado na adrenalina, que, fora desse contexto de prazos e correria, não sabia direito o que fazer. Depois do cinema, João Pedro parecia se sentir melhor. No dia seguinte, era domingo, e poderia planejar seus estudos com mais calma e ânimo. Isso se conseguisse se levantar da cama. 13 DICA Há situações em que usufruir da preguiça é essencial. Por exemplo, se você está completamente envolvido na meta de passar em uma prova e estuda diariamente por horas, abdicou da prática de atividade física, e diversão é apenas uma palavra no seu dicionário, está mais do que na hora de parar um pouquinho e refletir. DICA Temos a ideia de que sentir preguiça é coisa de vagabundo. Porém, ter alguns momentos de ócio é importantíssimo para a sua saúde mental e de seu organismo. Não estou defendendo a bandeira de largar tudo e viver na sombra e água fresca, mas, sim, inserir na sua rotina alguns momentos de “preguiça boa”. Afinal, tudo o que é demais não é saudável. Se não refletirmos sobre como estamos levando a nossa vida, o estresse chegará muito antes do que podemos imaginar. DICA Precisamos nos conscientizar da importância dessa parada para recarregar a bateria e melhorar o nosso rendimento mental e físico. Caso a sua agenda diária seja muito atribulada, e separar um dia ou dois interferirá em muito o seu cronograma de estudos, tente ao menos preservar suas sete ou oito horas de sono. O seu corpo não é uma máquina e precisa de cuidados. No início, você pode não sentir, mas, com o passar do tempo, com certeza ele sofrerá consequências dessa falta de atenção. 14 - Eu não sei o que faço! Odeio trabalhar naquele banco, é muita pressão, odeio meus colegas, minha vida, odeio tudo! As lágrimas de Laura sempre partiam o coração de João Pedro. - Você já tem um dinheiro guardado, certo? Somando com a grana que você vai pegar da rescisão de sua saída no banco, pronto. Você abre aquela franquia de sapatilhas que tanto queria. Eu já até pesquisei um ponto bacana, que está vago lá naquele shopping do centro... Nesse momento, João Pedro pensou que deveria ser psicólogo, pois conseguia facilmente encontrar soluções para os problemas dos outros, mas não para os seus próprios. E qual seria o motivode tanta discrepância quando se trata de resolver problemas que por vezes são tão similares? Quando era ele que estava no meio do furacão, as decisões, as dúvidas, os sentimentos pareciam que brigavam entre si. Afinal, quando era a sua pele que estava em risco, tudo parecia mais complicado. Não, não seria psicólogo, mas tinha que se tornar terapeuta de si mesmo. E se aconselhasse a si mesmo, chamando-se de Laura? Ok, melhor não, poderia criar uma crise de identidade que só pioraria as coisas. Era melhor conseguir um amigo imaginário, como a bola Wilson, do filme O Náufrago. Talvez fosse uma boa. Partiu para a loja de artigos esportivos... 15 DICA Dar palpite na vida dos outros sempre é mais tranquilo. Mas, então, como tratar os seus problemas com essa mesma serenidade? Selecione três problemas que você acredita que lhe atrapalham no processo de estudo e consequente preparação para a prova. Se está difícil encontrá-los, vai uma ajudinha: identifique quais desculpas você está se dando para não estudar? De posse dessas três situações- problema, atribua-as ao nosso personagem João Pedro. Agora, dê conselhos a ele. Isso mesmo, faça como se vocês fossem amigos de longa data. Dê sugestões sobre como ele poderia solucionar cada uma das desculpas, quer dizer, dos problemas que tem. Pode parecer bobo, quase uma brincadeira, mas, quando deslocamos a situação-problema de nós, atribuindo a um terceiro imaginário, fica mais fácil encontrar as melhores opções de soluções. DICA Analise os fatos de maneira mais afastada, como se fosse um terceiro na relação e, assim, tenha o panorama mais real do evento, de forma mais objetiva, sem estar se afogando nos sentimentos. – João Pedro, o chefe está chamando – disse a secretária, com a mesma entonação que usaria para avisar o falecimento da sua avó. Ou seja, ele poderia tanto ganhar uma promoção como levar mais uma chamada por ter redigido de forma incorreta uma 16 petição, esquecido de anexar algum documento a certo processo etc. A segunda opção era sempre a mais provável. Dorneles Jardim Dutra, da Dutra & Martins Associados, estava com a pele tão vermelha quanto à capa dos livros que compunham aquela tradicional estante do lado esquerdo de sua sala. “Será que ele havia lido todos aqueles livros”, pensava João Pedro, sem escutar a saraivada de palavrões que saíam dos lábios do chefe. Sabia que não aguentava mais aquilo. Definitivamente, tinha que fazer algo, e logo, muito logo, quando chegasse à sua casa. Pegaria os livros que já tem, pesquisaria na internet - tinha que estudar desde já. Mas ele ainda nem tinha encontrado nenhum edital de algum concurso que lhe interessava, iria estudar para quê? Será que deveria esperar ser publicado o edital ou já iniciar os estudos o quanto antes? Claro que seu instinto inicial mandava que aguardasse o edital ser lançado. Afinal, as provas de um concurso para outro sempre sofrem a inserção de novas matérias e a dispensa de outras. Não queria correr o risco de estudar disciplinas que não iriam cair, assim como não estudar outras que passariam a ser cobradas. Com o edital em mãos, já saberia as regras específicas do certame, as disciplinas e as fases exigidas. Mas e se milhares de outros candidatos já estivessem estudando? Sairia muito atrás e recuperar poderia não ser tão fácil, não? Sim. Tinha que pegar os livros e começar naquele mesmo instante. Resolvido isso, por onde iria começar? Que livro iria adotar? A que horas se deve estudar? Por quanto tempo? Qual, enfim, deve ser o meu próximo passo? Tinha que manter a calma, o 17 desespero só o levaria a ficar ainda mais paralisado, em um ciclo vicioso que nunca o iria tirá-lo do lugar. DICA Mesmo que o edital novo venha com a inclusão de alguma disciplina, será mais tranquilo nesse hiato de tempo se dedicar com mais afinco a essa nova matéria do que ter que aprender o conteúdo de todas em um tempo menor. E se a novidade for a exclusão de alguma matéria que você tenha estudado, tudo bem, não considere esse tempo como desperdício. Atingir o nível de preparo suficiente para ir com segurança para a prova demanda um tempo considerável de estudo, por isso é arriscado demais deixar para começar a se preparar só após o edital ser lançado. Normalmente, o tempo médio entre a publicação do edital e a data da primeira prova leva em torno de 60 a 90 dias, com algumas exceções. Portanto, se você é um “concurseiro” iniciante, a resposta para a pergunta “Posso esperar o edital sair para começar a estudar?” é “Não”. Comece agora. DICA A maneira mais utilizada pelos “concurseiros” experientes é o estudo baseado no edital do concurso anterior. Há um padrão seguido pelas instituições que aplicam esse tipo de prova e a tendência é seguir o mesmo método. Mas, como eu disse, é uma tendência, e às vezes pode haver mudanças, como o órgão responsável contratar outra empresa para elaborar a prova ou simplesmente alterar o seu método para a seleção. Isso não é tão comum, mas acontece. E quanto mais tempo tiver passado do último concurso para o cargo pretendido, maior é a chance de 18 mudança. Se esta é a sua situação, fique atento às disciplinas mais comuns nos concursos da área escolhida. DICA Você já decidiu a qual prova irá se submeter? Pode parecer estranha essa pergunta, mas muitas pessoas não sabem ao certo qual prova irão fazer. Alguns desconhecem realmente as opções existentes e outros, por sua vez, são novatos no assunto e estão perdidos. Sem identificar o que deseja fazer, fica mais difícil alcançar o seu objetivo de vida. Analise quais opções mais lhe agradam e qual tem o melhor custo- benefício. Claro que o retorno financeiro é importante e deve ser levado em conta, mas lembre-se: dependendo da sua escolha, essa atividade irá lhe acompanhar, se não por toda vida, por boa parte dela. – Ahhhh... Meu pé, caramba – gritou, sozinho, naquele quartinho em que quase não entrava. Por que livro de Direito é tão grosso? Só para os autores mostrarem como conseguem escrever de forma prolixa o que poderiam resumir em 100 ou 150 páginas? Não, não era verdade. Só estava com raiva porque aquele calhamaço de 600 páginas de Direito Penal acertou em cheio sua unha do pé. Fazia tempo que não mexia nos livros da faculdade, que já estavam empoeirados e esquecidos, junto com revistas antigas, brinquedos da infância, boletins do colégio. Com o ânimo que agora lhe tomava o corpo, João Pedro tirou tudo o que ainda tinha guardado, imprimiu uns artigos da Internet e, depois de algumas horas, ele se via ali, sentado no chão, com aquele monte de páginas à sua frente. Só de olhar aquilo, batia um desânimo, que depois se transformava em pânico, que desaguava na decepção de saber 19 que nunca iria conseguir organizar tudo aquilo. Já tinha decidido que não iria esperar o edital, que começaria a estudar já, mas por onde? Uma vez, Daniela – sempre ela – havia lhe dito: “Os estudos funcionam da mesma forma que a prática da corrida. Ninguém começa correndo uma maratona. Mesmo se estiver inteiramente disposto a ser um corredor, a pessoa iniciará seu treinamento de forma amena, para aos poucos condicionar seu corpo para um avanço saudável e duradouro”. Ele iria seguir seu conselho, começaria aos poucos e pelas matérias que tinha mais facilidade. Nesse exercício de reflexão, João Pedro se lembrou de quando era uma criança, quando cada nova descoberta se transformava numa fonte de prazer. No entanto, na época da escola e estudando para o vestibular, o aprendizado acabou se tornando um fardo, talvez pela obrigação, pela falha do método de ensino, pela dificuldade em compreender coisas que não sabia o motivo de saber. Era quase um castigo. A ideia era, então, restabelecer a paixão que tinha em aprender. E foi no meio daqueleslivros todos que João Pedro achou uma luz. Na faculdade, ele adorava Direito Constitucional, e pegar novamente aquele livro esquecido, no qual já havia se afundado por noites e mais noites, acendeu algo que estava adormecido dentro dele. 20 DICA No início da preparação para uma prova, não devemos começar os estudos pelas matérias e tópicos mais áridos e dos quais menos gostamos. Precisamos antes condicionar o nosso cérebro, que é a parte do corpo que será mais exigida, para ser fortalecido nesse treinamento. Assim, devemos fazer isso de forma saudável, para que esse novo hábito seja duradouro. Alguns estudantes, de forma afoita e equivocada, quando decidem começar a jornada do estudo, se jogam de cabeça. Começam pelas matérias que acreditam não ter nenhum conhecimento, isolados na biblioteca por infinitas horas, e nem percebem que, apesar da boa intenção, o resultado é, na grande maioria dos casos, improdutivo. DICA É preciso tomar cuidado com alguns pensamentos: "Coitado de mim, estudo tanto, a minha vida é tão difícil... só por isso mereço passar". Ninguém passa em nenhuma prova por ser um coitadinho. Na verdade, você poderá até ser um "coitado dedicado", mas ter pena de si mesmo e acreditar que porque está se matando de estudar merecerá aprovação é ilusão. Claro que a dedicação é um dos elementos-chave para a aprovação, mas ela dever ser feita com inteligência, para assim, maximizar os resultados. DICA O estudante tem que se conscientizar de que o processo de estudo demandará um tempo considerável da sua vida, e que por isso deve ser feito da forma mais agradável possível. Lembre-se de que estamos nessa vida para sermos felizes, 21 e não apenas para buscar a felicidade. A felicidade está em cada ato, cada fase que vivemos. Alguns acreditam que só serão felizes quando conseguirem a aprovação e se esquecem que o caminho até atingi-la também pode proporcionar momentos inesquecíveis. Ao abrir a porta do closet, sempre a mesma dúvida: o que vestir hoje? Antes de escolher dentre as opções de vestidos e tailleurs, Daniela consultou seu celular, quando notou um SMS de um antigo colega da faculdade. “Olá, Dani, tudo bem? É o João Pedro. Queria conversar com você, topa um café?” Fazia tempo que não falava com ele. Sugeriu na terça, às 18h, em um café perto do seu Fórum. Naquela terça, João Pedro deu um jeito de sair do trabalho mais cedo e quando chegou ao local combinado, apenas cinco minutos atrasado, Daniela já estava ali. Como ela podia ser tão pontual, eficiente e fazer bem tudo o que se propunha a fazer? João, então, contou-lhe sobre seus planos de prestar concurso e Daniela falou como, aos poucos, foi o processo para conseguir se tornar juíza. E na sua história, tudo parecia se encaixar: encontrar as pessoas certas na hora certa, ter um incentivo bem quando ele era necessário, ter tempo para se dedicar quando mais precisava... –Você deu sorte, hein, menina – disse João. – Sabe o Tiger Woods, aquele campeão de golfe? Uma vez, quando lhe perguntaram qual era o segredo para ser o esportista 22 mais bem pago do planeta, e ter ganhado tudo o que ganhou, ele respondeu: ‘Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho’. João Pedro tentou retrucar, mostrar como não tinha essa sorte, como era o último dos mortais a ser lembrado pelas combinações favoráveis do universo, e que sabia que a chance dele passar na prova era quase nula... Daniela logo o interrompeu. – Pensa comigo aqui, João, em um edital de concurso que tenha dez disciplinas. O candidato ‘X’ estuda apenas 20% dos assuntos. A chance de cair o que ele sabe é pequena, certo? Mas, se por uma aberração da combinação cósmica, apenas for cobrado o que ele estudou, é melhor ele desistir de concurso e jogar na loteria. Já o candidato ‘Y’ estudou 80% do edital. A probabilidade de a sorte lhe acompanhar é maior, entende? Ele concordou balançando a cabeça. – Até porque – ela continuou – será maior a chance de cobrarem os temas que ele tenha estudado. Resumindo, é mais ou menos assim que funciona a sorte. Saindo do encontro, João viu que seu ônibus tinha acabado de deixar o ponto. É, não poderia mesmo contar com a sorte. 23 DICA Será que podemos dar uma ajudinha para a sorte? Claro que sim. Como disse o atleta Tiger Woods, quanto mais treinarmos – no nosso caso estudarmos – mais sorte teremos. Será que o candidato “Y” é mais sortudo que o “X”? Nada disso, o universo conspirará a favor dos dois, apenas o segundo ampliou seu leque de possibilidades. Pense nisso quando ficar reclamando da vida e da sorte. Estude mais. Prepare-se mais. Faça exercícios, resumos, responda provas anteriores e assim a sua sorte também aumentará. 24 A louça já estava limpa e guardada. Agora faltava só dar uma olhadinha nas redes sociais, responder algumas mensagens de WhatsApp, tomar um banho quente, assistir à final daquele reality show, ligar para Laura para desejar boa noite e dormir, pois amanhã tinha que acordar cedo para trabalhar. Depois de três semanas de empolgação, separando livros, lendo editais antigos, pesquisando material na internet, a rotina mostrou sua força a João Pedro, que novamente se via acorrentado em sua zona de conforto. Só que as correntes eram 25 macias, não machucavam. Pelo contrário, traziam aquela velha sensação de segurança, de que a mudança já não era tão urgente assim. Sabia que tinha que manter o ritmo, mas qualquer dificuldade em entender um capítulo, ou mesmo uma frase, fazia com que ele voltasse para o PlayStation. Qualquer imprevisto fazia a motivação despencar. E a volta ao antigo comportamento foi inevitável. Daqui a alguns dias, estudar com afinco seria apenas uma vaga lembrança e aquele objetivo de ser aprovado no concurso voltaria a ser apenas um desejo, pois as atitudes necessárias para alcançá-lo praticamente iriam evaporar. Deitado na cama, João Pedro se lembrou da frase de sua amiga Daniela: “Tudo é culpa da nossa mente, amigo. Ela pode ser o nosso veneno, limitar nossos pensamentos, mas também pode ser a nossa cura. Se você mudar o conteúdo daquele papo interno com você mesmo, suas crenças e atitudes mudam também, vai por mim”. – Mas isso não é o suficiente – retrucou João Pedro, na ocasião. – Ok, pode não ser tudo, mas vamos combinar que já é um bom começo – ele pensou, agora de forma mais racional. Não conseguiu dormir bem naquela noite. Sabia que se quisesse atingir o seu objetivo, tinha que agir. E rápido. 26 DICA Esperar o momento certo e ter as condições propícias para um grande salto é uma tremenda ilusão, pois esse instante perfeito raramente chega. E caso surja, em regra, não vem com legendas, o que o torna quase invisível aos nossos olhos. Assim, resta a nós implementar pequenas mudanças. E o grande segredo está em manter a mudança e procurar agir de forma contínua. Se a cada dia melhorarmos 10% a nossa atitude, após o total de 10 atitudes, geramos uma mudança de 100% naquilo que parecia impossível de ser alterado. DICA Segundo Élson Teixeira e Andrea Machado, especialistas em leitura e memorização, concentração e atenção não são sinônimos. Para eles: "atenção é estar com os sentidos voltados para o foco de uma questão, enquanto que concentração é se envolver no foco da questão". Já aconteceu com você de chegar ao final da leitura de uma página e não se lembrar de nada do que acabou de ler? Fique tranquilo, pois não é só com você que isso acontece, isso é mais comum do que imagina. Para reter informações, é preciso concentração, que é a forma prolongada de atenção na atividade desempenhada. DICA A melhor notícia para quem acredita não ter uma boa concentração é que ela pode ser desenvolvida. Tudo é questão de treino.Da mesma forma que se faz exercícios para fortalecer os músculos, deve-se treinar o cérebro para 27 desenvolver a concentração. E para mantê-la, evite que o cansaço, o estresse, o sono de má qualidade e o abuso de substâncias como álcool ou drogas dificultem seu estudo. Elimine a ansiedade, a preocupação excessiva e a busca desenfreada pelo perfeccionismo, que em nada irão colaborar com o seu desempenho. E lembre-se de que nem todos se concentram da mesma forma, há aqueles para quem o silêncio total no ambiente é essencial, e outros para quem o acompanhamento de uma música tranquila é altamente produtivo. Descubra qual é a melhor forma para você. – Cuidado, assim você vai riscar todo o chão com essa mala. Não, não jogue as roupas sujas aí; esse tênis imundo no sofá, não. Não posso, agora estou estudando, ahhhhh!!!! Não bastasse toda a crise pela qual estava passando, João Pedro agora, tinha que aguentar seu irmão caçula, Arthurzinho, que ficaria uns meses em sua casa. Embora eles se parecessem fisicamente, não tinham muito em comum: um era popular no colégio, outro era antissocial; um gostava de esportes, outro era fã de música e cinema; um preferia o pai, o outro, a mãe; e assim por diante. Mas, para alegria dos pais, ambos eram relativamente estudiosos e se davam bem na escola. Arthurzinho teve que se mudar para São Paulo para fazer cursinho pré-vestibular. Seus pais moram no interior e não teria como ele percorrer 300 km na ida e na volta todos os dias. Queria morar em uma república, com amigos ou até sozinho, mas Dona Alda e seu Otávio, pais muito zelosos, não permitiram. Aliás, Arthurzinho admirava João Pedro, mas a recíproca não era tão verdadeira. 28 Agora os dois estavam ali, tentando criar o hábito para estudar, um para o vestibular, outro para o concurso público, enfrentando todos os mitos e lendas que percorrem o imaginário dos estudantes acerca das provas que estavam por vir: “Precisa ser muito inteligente, quase um Einstein para aprender tudo...”; “é um jogo de cartas marcadas, está tudo comprado...”; “só os apadrinhados conseguem uma vaga...” e por aí vai. Será que eles, pessoas normais, que não possuem nenhuma dessas facilidades, conseguiriam passar no vestibular mais disputado do país e num concurso ainda mais concorrido que um vestibular? Folheando o dicionário aleatoriamente, Arthurzinho abriu na letra P, no qual fincou os olhos na palavra “privilegiado”. Dentre os significados, alguns lhe chamaram a atenção: singularmente dotado, excepcional, único. Distinto, elevado, superior. – É isso! – gritou, e saiu correndo pela casa com o Houaiss na mão. – A gente tem que ser dotado, excepcional e único pra passar na prova. Deitado, João Pedro colocou o travesseiro sobre a cabeça para tentar dormir. DICA Prestam uma prova as pessoas que não trabalham e só estudam; as que trabalham e também estudam; e as que nem trabalham e nem estudam. Qual delas passará na prova primeiro? De cara você pode responder: aquelas que só estudam. Errado. Qualquer uma delas é capaz, mas é preciso se comprometer e agir. Não basta querer passar, tem 29 que decidir. Não basta estudar de vez em quando, tem que ter planejamento. Não basta fazer uma prova pra ver como é, tem que acreditar. Não bastar apenas começar e na primeira dificuldade desistir, tem que persistir. Em resumo, o estudo demandará planejamento adequado e dedicação diária, e tudo isso precisa acontecer independentemente das atividades e compromissos assumidos na sua rotina. Din-don, din-don, din-don… Toc, toc, toc… Laura tentou o celular, a campainha, bateu várias vezes na porta e nada. Será que aquele safado falou que ia ficar em casa estudando e saiu com alguma garota por aí? Toc, toc, toc, toc, toc... Bateu mais uma vez com força, e quando já estava se virando para ir embora, ouviu passos de uma corrida atrapalhada em direção à porta. Logo visualizou um menino de 18 anos, com bermuda de surfista, sem camisa e o fone de ouvido envolvendo seu pescoço, como se fosse um colar. Olhou novamente para o número da porta, para se certificar que estava no apartamento certo, e logo se lembrou de que João Pedro tinha mencionado que seu irmão passaria um tempo ali. – Arthur, certo? – Isso. – O João Pedro está? – Lá no quarto – respondeu. Colocou novamente o fone de ouvido, deu as costas para a garota, jogou-se no sofá e voltou a pegar seu livro de geografia. 30 A casa estava uma bagunça, com roupas jogadas para tudo que é lado e todos os aparelhos eletrônicos ligados. Laura entrou no quarto e logo ouviu o som alto que vinha da TV. João Pedro nem notou a presença da namorada e revezava sua atenção entre o livro e o notebook. Olhando para os dois irmãos, Laura visualizou na prática o conceito de multitasking, ou o famoso “tudo ao mesmo tempo agora”. Será que aqueles dois estavam conseguindo manter o foco naquele ambiente inóspito e selvagem no qual se encontravam? Laura foi aos poucos se aproximando e abraçou o namorado por trás. – O que é isso, seu pent... Ah, oi, Laurinha, você está aqui? – disse, fechando rapidamente as abas do Facebook e do Twitter. Laura tinha vindo pedir desculpa pela última briga, por bobeira, que os dois tinham travado há dois dias. Sabia que não podia distrair João Pedro com essas besteiras, que atrapalharia seus estudos, mas, ao presenciar aquela cena, percebeu que a briga não era a única distração para os dois irmãos. – Como vocês conseguem estudar assim, aliás, como conseguem viver dessa maneira? – falou, enquanto desligava a televisão, sob o protesto do namorado. – Se quiser se desconcentrar, pode contar comigo, mas, enquanto isso, foco! E Laura deu um beijo no namorado e foi até a cozinha, preparar um lanche, sem que Arthurzinho pudesse notar o que havia acontecido. 31 DICA Avise os familiares e os amigos que durante o seu estudo não atenderá ao telefone. A exceção será apenas para situações de emergência. Se não for usar computadores para aprender, fique longe deles também. Mas se faz pesquisas e anotações em um computador, resista às mídias sociais. E a televisão deve estar sempre desligada, claro. Pode parecer muito pesado, mas essas pequenas alterações na sua rotina irão produzir resultados excepcionais no seu aproveitamento de estudos. DICA Programe-se para estudar por blocos de tempo e faça um breve intervalo entre eles. Cuidado: são intervalos breves, não corra no erro de inverter, ou seja, ter mais tempo de folga do que de estudo. DICA A Técnica Pomodoro pode ajudar na divisão do tempo de estudos. Criada por Francesco Cirillo, esse método utiliza um cronômetro para dividir o estudo (ou qualquer tarefa) em períodos de 25 minutos chamados de “pomodoros”. Funciona da seguinte maneira: você escolhe a tarefa a ser executada, ajusta o alarme para 25 minutos, trabalha na tarefa até que o alarme toque e registra com um "x". Aí, é hora de fazer uma pausa de 3 a 5 minutos. A cada quatro "pomodoros", faz-se uma pausa mais longa, de 15 a 30 minutos. A ideia é que essas pausas frequentes possam aumentar a agilidade mental e amenizar os efeitos da ansiedade. 32 Quando chegou do trabalho, João Pedro percebeu que sua camisa estava molhada de suor. Não havia sido um dia fácil. Reuniões e mais reuniões, mais gritos do Dr. Dorneles. À noite, não conseguia se concentrar, ao pensar no que teria que encarar no dia seguinte. Isso sem contar o verão especialmente quente que fazia naquele ano. Quando lia duas ou três páginas sobre qualquer assunto, tinha que se levantar para beber água. Muita água. Mais três páginas, tinha que ir ao banheiro eliminar um pouco daquela água, e o estudo parecia não render. Tinha inveja de Arthurzinho que podia ficar ali estudando o dia inteiro, após voltar do cursinho pelamanhã, sem se preocupar com outras coisas, e não aproveitava. Dormia das 14h às 17h, jogava um pouquinho do videogame do irmão, ia rever velhos amigos do colégio, voltava tarde, acordava tarde, nesse eterno ciclo. E claro, separava algumas poucas horas para o estudo. Em um breve insight, João Pedro pensou que pudesse estar influenciando mal o irmão, ou vice-versa, e que, embora a empatia entre os dois não fosse das melhores, podia tentar reverter essa situação. Propôs um pacto: – Ô mala, chega mais. Seguinte: você quer passar no vestibular, certo? E eu quero passar no meu concurso, certo? O irmão, assustado, concordou com a cabeça. – Então, vamos definir prioridades na nossa rotina aqui em casa. Quando eu chegar do trabalho, nada de TV, PlayStation, redes sociais... Até minha namorada eu vou vetar em dia de semana. Vamos definir quantas horas de estudo, as matérias de cada dia. Cara, porque se a gente continuar desse jeito, não temos a 33 mínima chance. Então, se você quiser ficar aqui comigo, vai ter que ser assim. Minha casa, minhas regras, ok? Ao ouvir o discurso do irmão, Arthurzinho percebeu que precisava de uma autoridade que o fizesse estudar. Seus pais não estavam ali, e talvez essa liberdade havia tirado seu foco para o que realmente interessava naquele momento: passar no vestibular. E ver seu irmão, que tinha mil coisas para fazer durante o dia, ainda tentando manter o entusiasmo no estudo era uma inspiração. Mas é óbvio que ele não iria admitir isso. – Fechado – foi sua única resposta, mas satisfatória para João Pedro. DICA Quando queremos abraçar o mundo, um resultado é certo: perdemos o foco, que é o elemento primordial para se alcançar um objetivo. Se isso também acontece na sua vida, a sugestão é parar e analisar com carinho se todos os seus afazeres extras estão mais atrapalhando você do que ajudando no desempenho do que é principal para alcançar o seu objetivo. Caso a sua intenção seja ser aprovado em alguma prova de concurso público ou vestibular, verifique quais atividades na sua rotina estão dificultando ou até mesmo impossibilitando o seu estudo. Foque a sua energia principalmente em estudar. Lembre-se de que após a sua aprovação todas as demais atividades que foram temporariamente suspensas poderão ser retomadas a todo vapor. 34 DICA Evite estudar com fome, sede, sono, calor, frio ou com vontade de ir ao banheiro. Por se tratar de uma tarefa longa, evite a monotonia, procure alterar o método de estudo, leia, faça resumos, mapas mentais, dê aulas para um colega e por aí vai. DICA Mantenha em ordem as outras atividades diárias. Para isso, a organização é fundamental. Escolha também um ambiente de estudo adequado. E tenha com você todo o material que vai utilizar, dessa forma evitará ficar levantando a cada cinco minutos para pegar um livro, uma folha, canetas etc. Depois daquela conversa, o mundo de João Pedro havia caído. Não tinha mais ânimo para trabalhar, estudar, viver. Para que queria ter um emprego bom, se não tinha mais a mulher da sua vida? Pois é. Sua namorada tinha terminado com ele. Não sabe nem como começou aquela briga e como desaguou na sua convicção de que deviam acabar com aquele relacionamento. Ele sabia que era o resultado do conjunto de inúmeras partes, um complexo emaranhado de vontades, desejos, sonhos, dúvidas, inseguranças, sentimentos, interesses... Mas, naquele momento, ele era apenas um coração partido. E dentro do seu corpo eclodia uma grande guerra interna, que o forçava a marchar e bombardear tudo que havia construído até agora. Os efeitos colaterais eram sentidos por todos. Seus amigos, seu irmão, seus pais, o chefe, os colegas de trabalho... Na última reunião, até o Dr. Dorneles sentiu pena daquele jovem desolado, 35 perdido na vida. Analisando de fora, Arthurzinho pensou que tinha que fazer alguma coisa. João Pedro não podia jogar para o alto todo o tempo já dedicado aos estudos. Pois, com o tempo, quando ele retomasse a consciência do que aconteceu e as coisas entrassem nos eixos, iriam aparecer o arrependimento por ter desistido e todo o tempo perdido. Entrou no quarto do irmão, que estava atônito, olhando para o vazio, o mesmo vazio que assolava sua alma naquele momento. Como se fosse o irmão mais velho, Arthurzinho começou, com sua voz mansa: – Cara, posso conversar com você. Com o olhar, João Pedro apontou a beirada da cama. – Uma vez, lá no colégio, eu tinha sido cortado do time da escola. Você sabe como aquilo era importante pra mim. Tive vontade de largar tudo, nunca mais jogar basquete na vida. E naquele mesmo mês a vovó morreu, lembra? Estava tudo de cabeça pra baixo. Aí o professor Mário veio falar comigo, lembra dele? O que ele me disse nunca esqueço, está até anotado aqui, olha só: “há fases que somos bombardeados por mísseis de todos os lados ou até mesmo uma bomba atômica cai em nossos ombros; parece que a vida nos testa nessas horas. E aqui está a grande chance de mostrar o quanto o nosso sonho existe e queremos alcançá- lo a todo custo. Aprender a superar desafios é uma lição que não se pode fugir”. Pois é, eu não desisti, e dois meses depois estava no time de basquete novamente. Sei que são situações diferentes, nem imagino o que você está sentindo, mas não desiste, mano. A morte da vovó me deu energia pra voltar a treinar como nunca, tente usar esse seu “luto” pra isso também. Bom, qualquer coisa eu estou na sala. 36 Fechou a porta. O olhar de João Pedro continuava atônito, mas um pequeno brilho já havia brotado ali. DICA A capacidade do cérebro de se concentrar com diversos estímulos fica limitada quando temos um problema, seja ele físico ou emocional. O nosso sistema biológico é programado para nossa preservação e, nesse conflito interno, ele prejudicará a concentração em nome da dor. Racionalize ou emocione-se. Esfrie os ânimos ou dê-se gás. Busque seu autocontrole ou a sua motivação. Equilibre-se! Todos os recursos dos quais você precisa estão aí dentro. Encontre suas respostas e a força necessária para superar cada desafio. Eles sempre aparecerão na sua vida e você estará pronto para derrubá-los. Olhe para dentro, você sempre sabe o que deve fazer. 37 Não lembrava por que tinha aquela bola de tênis. Nunca havia praticado o esporte. Mas estava ali, na cama, jogando aquele objeto felpudo verde-marca-texto na parede, em um movimento tedioso e contínuo que já durava horas. Sabia que tinha que reagir. Tinha que colocar o foco em algo para que parasse de pensar na sua ex-namorada. Como seu trabalho não era a melhor das válvulas de escape, a melhor coisa era voltar ao seu projeto de passar em concurso 38 público. Mas no dia seguinte pensaria nisso. À noite, resolveu assistir novamente ao filme Tropa de Elite, que passava na TV. Em certo momento, o Capitão Nascimento explicava aos candidatos do Bope sobre estratégia, traduzindo a palavra em várias línguas. Nisso, teve um insight: precisava de uma estratégia, até porque não tinha todo o tempo para estudar tudo. Durante os anos da escola e da faculdade, João Pedro sempre estudou de qualquer jeito, sem nenhuma orientação e muitas vezes, após passar horas sobre os livros, ele se sentia totalmente despreparado, como se não tivesse aprendido nada. Tinha medo que isso acontecesse novamente, mas dessa vez não podia falhar. Sua vida dependia daquilo. Ele tinha que aprender a aprender. Após dar uma rápida pesquisada na internet, encontrou muitos textos sobre esse assunto, alguns muito técnicos, sobre programação neurolinguística e a capacidade de programar a mente. Leu diversas pesquisas sobre o funcionamento do cérebro que são realizadas mundo afora. Umas diziam que a repetição de informações éuma forma de gravar melhor o conteúdo, outras sugeriam relacionar coisas novas com o que já é conhecido. Porém, poucos materiais explicavam, de maneira didática, como podemos colocar em prática todas essas conclusões. Em um dos sites, havia a dica para procurar um teacher coach. Nunca havia ouvido falar disso. O site descrevia esse profissional como a combinação perfeita entre ser professor e também treinador de um estudante. Dizia que “sua função é estimular, impulsionar e ensinar os alunos a conquistarem seus objetivos por meio do estudo”. 39 Achou interessante. Poderia ser o primeiro caminho. Resolveu sair do marasmo e ter uma atitude de aprendiz mais proativa. Mandou uma mensagem para Daniela, perguntando se ela não queria ser sua teacher coach. João contou cada segundo, esperando a resposta. Depois de mais de duas horas: “Claro, João, adoraria”. E começaram a trocar e-mails para combinar como fariam isso. Em meio a várias mensagens, uma frase o animou: “Assim, eu vou orientar você para se tornar cada vez mais responsável pelo próprio aprendizado, igual fizeram comigo, ok?”. Era isso. Ele queria aprender, e não apenas decorar. Daniela lhe falou de técnicas para ter qualidade no estudo, como a metodologia da Aprendizagem Acelerada, e de várias maneiras que iriam trabalhar até a chegada do concurso. DICA A ideia é que o teacher coach mostre o passo a passo desse processo de estudos. Ele irá acompanhar o seu processo de formação. Se você não tem acesso a nenhum teacher coach, procure um professor que tenha uma excelente didática e peça para que o ajude a aprender a estudar melhor. E ainda, se não tiver nenhum professor com esse perfil, veja se algum amigo mais experiente poderá fazer esse papel. 40 – Putz, caramba, o Dr. Dorneles vai me matar! – disse João Pedro, enquanto jogava todos os papéis de sua pasta no chão, no meio do hall de entrada do Fórum. Não era possível, tinha esquecido o documento mais importante para a audiência que teria daqui a pouco. Ligou para o escritório, o motoboy havia saído, tiveram que contratar outro, chegou em cima da hora. Ele voltou e ouviu novamente aquela singela bronca de toda semana. Mas nada daquilo importava. No final do expediente, iria se encontrar com Daniela. Estava animado para começar sua caminhada rumo ao maior objetivo da sua vida. Marcaram na casa dela, que nem era tão longe. Ao chegar no portão, João Pedro logo percebeu que era uma bela casa, principalmente para quem morava sozinha. Tudo era incrível. A decoração, o bom gosto, os móveis, aquela TV gigante, tudo naquela casa despertava admiração, mas também um pouco de inveja e frustração em João. Afinal, eles tinham se formado no mesmo ano e hoje ela já tinha praticamente “se feito na vida”. – Água, refrigerante? Ah, café, você era viciado, né? Ainda é. Pegou um café e começaram a falar do que interessava. Daniela fazia com que João Pedro contasse sobre suas dificuldades, o que mais lhe afligia, até que chegaram ao problema do “branco”. – Desde sempre, tentava prestar atenção às aulas e ainda dava uma estudada depois, mas era só chegar a prova, que num passe de mágica toda a matéria desaparecia. – Você já ouviu falar de CAT, João Pedro? – Cat, gato? 41 – Não, CAT é acrônimo que irá ajudá-lo a lembrar da “tríade do estudante profissional”. Significa Conhecimento, Ação e Tempo – respondeu Daniela, e começou a escrever no seu caderno para que João Pedro fixasse aquilo. – O conhecimento é necessário para saber como funciona o cérebro e o processo de aprendizagem; a ação é a atitude diária, dedicar-se efetivamente ao estudo; e o tempo é para persistir no estudo até alcançar a bagagem de conteúdo suficiente para a prova. Esse é o primeiro passo. E garanto a você, quanto mais preparado você estiver, baseado nesses três princípios, menos chances do tal “branco” aparecer. Vamos aprofundar isso... E ficaram por duas horas conversando sobre diversos conceitos, e a cada um era como se a mente de João Pedro se iluminasse, e o caminho até a saída dessa longa caverna estivesse cada vez mais claro. DICA Tudo o que decidimos fazer na vida para obtermos os melhores resultados deve ser profissionalizado. Com o estudo não é diferente. Infelizmente, a maioria das pessoas não veem semelhanças entre o estudo e o exercício da profissão. Só que temos muito a incorporar na nossa rotina de estudo espelhando e aprendendo com as atividades profissionais. 42 DICA A tríade do estudante profissional é composta por três comportamentos que fazem a diferença nos resultados que serão alcançados por ele na hora da prova: Conhecimento, Ação e Tempo. Dose bem cada um desses fatores e o sucesso é garantido. – Cara, eu odeio física. Odeio com todas as minhas forças! Calorimetria, pra que eu vou usar isso na minha vida!? – bradava Arthurzinho, enquanto esmurrava sua apostila do cursinho. – Chega aí, mala. João Pedro tinha acabado de tirar um bolo do forno. – Pega esse pedacinho. Arthurzinho provou. O bolo de laranja, igual ao que a avó Mathilde fazia, estava realmente bom. Quando esticou a mão para pegar mais um pedaço, o irmão mais velho levantou repentinamente a forma e queimou o braço do caçula. – Está vendo. Isso é calorimetria. Por que você acha que conseguiu pegar o bolo, mas não consegue pegar a forma? – Sei lá, porque senão queimo minha mão. – Exato. O metal é condutor térmico. A transferência de calor entre a forma e a mão é mais rápida que entre o bolo e a mão. Ou seja, é melhor você começar a aprender isso, antes que queime toda sua mão. E por que você está com esse moletom? Está frio, certo? E você só sente frio porque seu organismo está a uma temperatura maior do que a do ambiente, e por isso cede calor. Esse moletom não permite que isso aconteça, pois é um 43 isolante térmico. Sacou? Agora pega mais um bolo e volte a estudar. DICA De acordo com o dicionário, a palavra contextualizar significa entender, analisar ou interpretar o significado de algo, levando em conta as circunstâncias em que ele ocorre. Com isso, uma das melhores formas para aprender é envolver o conteúdo do aprendizado em situações úteis do dia a dia, pois estudar uma matéria que aparentemente não tem nenhuma serventia não é estimulante para ninguém. Como alguns estudantes no período de preparação estão apenas no campo da teoria, é preciso encontrar uma forma de levar a doutrina para a prática. DICA Fica mais fácil treinar a contextualização na forma de questionamentos, em que os conteúdos são postos em situações práticas. Também é importante responder questões de concursos e provas anteriores, pois, dessa forma, você conhecerá como a instituição e a banca elaboram as perguntas, qual a metodologia utilizada e quais são os conteúdos preferidos do edital. DICA Ao fazer simulados ou responder questões de provas de concursos anteriores para treinar, é bom tomar certo cuidado: não leia as questões já respondidas. Isso é ruim, pois cria a ilusão de que você sabe sobre o assunto, quando, 44 na verdade, não treinou o raciocínio para resolver aquela pergunta. Veja o gabarito apenas depois de tentar solucionar sozinho a prova. DICA Outra estratégia para contextualizar o conteúdo é elaborar redações ou questões dissertativas sempre que possível. Imagine como aplicar na vida real o conteúdo estudado e produza um texto explicando o que estudou. Esse treinamento forçará você a pensar no conteúdo estudado como um todo e, naturalmente, fará com que entenda na prática como usá-lo. E mais: ainda preparará o seu cérebro a raciocinar com vários conceitos para responder as perguntas mais elaboradas. – Cara, que olheiras são essas? Aquela noite não tinha sido fácil. Depois de ajudar seu irmão em algumasquestões de física e matemática – aliás, não sabia por que não tinha seguido para área de exatas -, João Pedro ficou debruçado durante a noite e a madrugada inteiras sobre os livros de Direito. Dormiu cerca de três horas, foi trabalhar e agora estava ali, em frente à sua teacher coach, com olheiras tão fortes que parecia que havia sido golpeado várias vezes nessas lutas de vale-tudo. – Não adianta, eu estou muito defasado. Muita coisa que eu sabia na faculdade eu nem lembro mais, e outras eu nem sei se eu já soube... – Para com isso, João! Desse jeito, quando chegar o dia da prova, é capaz de você cair pregado em cima da carteira. Não é assim. Deixe eu contar a você uma coisa: quando resolvi prestar 45 concurso para juíza, eu trabalhava, fazia academia, inglês e ainda arrumava tempo para sair com minhas amigas. Mas todos os dias eu tinha meu horário de estudo. Tirava três horinhas sagradas para isso e não havia nada que me tirasse da frente dos livros nesse período. E você viu o resultado. Claro que cada um é cada um, mas se você continuar nesse ritmo... Nisso, os olhos de João Pedro pesaram, como se tivessem pequenas bigornas amarradas nos cílios. Poderia jurar que, naquele décimo de segundo, até sonhou. – João, acorda! Semana que vem nós continuamos. A tarefa para esta é você não estudar quando tem que dormir, e vice- versa, combinado? DICA Uma dúvida muito comum entre os estudantes é descobrir o período de tempo ideal para cada prática diária de estudo. A maioria tem a falsa impressão de que, para ter bons resultados, é preciso permanecer infinitas horas dedicadas aos livros. O mais importante é que o estudo seja constante. Será mais produtivo estudar duas horas diariamente, se esta for a sua disponibilidade, porém de forma contínua, do que ter a esperança de que, em algum momento, terá muito tempo disponível e postergar o início dos estudos. Sabemos que é muito raro acontecer esse tipo de oportunidade. 46 DICA A falta de planejamento e a sensação de não estar evoluindo no aprendizado após madrugadas em claro fará com que a motivação seja atingida. E estando cansado e estressado, o resultado já conhecemos: o estudante se irrita e nunca mais volta a pegar nos livros. DICA Sinto informar, mas infelizmente não existe resposta padrão para o título desse tópico. Claro que quem estuda quatro horas de forma comprometida tem mais aprendizado do que aquele que faz isso por duas horas. Porém, se as quatro horas não forem bem aproveitadas, aquele que estudou duas, com método e eficiência, levará vantagem. Tudo depende da sua vida, dos seus compromissos, do seu condicionamento para ficar sentado estudando e do seu conhecimento das técnicas de aprendizado. Por isso, evite se comparar com os outros. Cada um tem a sua cadência, seu tempo, sua rotina. – Cara, são dez livros, dez livros, sabe o que é isso!? – esperneava Arthurzinho, sacudindo a lista que teria que dar conta, além de ter que estudar física, química, geografia... – Vou mostrar para você o tamanho dos meus livros. Só esse de Direito Constitucional garanto que vale por todos esses dez. E me passa essa lista, vou dar uma olhada. Ao ver obras de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Mario de Andrade, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan, João Pedro sentiu inveja do irmão. Ele queria reler algumas daquelas obras, dessa vez por prazer, e não obrigado como fora na escola. 47 – Qual o último livro que você leu? – perguntou ao irmão caçula. – Sei lá, O Guia do Mochileiro das Galáxias, talvez. – Mas é um nerd mesmo. Então, aposto que terminou em um ou dois dias cada volume daquele, não? E aposto que, quando você lê esses blogs que gosta, consegue já dar um monte de opiniões a respeito. Se forem sobre esses super-heróis que curte então, devora os textos. É isso, rapaz. Pegue esse Grande Sertão: Veredas e leia dessa mesma forma, tente se envolver com a história. Você tem tempo, não se preocupe em decorar as nuances de cada obra para o vestibular. Apenas se entregue à leitura. – Mas, mano, isso é muito chato. – Talvez você esteja lendo com olhos viciados. Faz o seguinte: tente se colocar na pele do Riobaldo, como se estivesse vivendo aquelas condições daquele grande sertão. Pô, o livro tem até pacto com o demônio e você não gosta? Sério, tente ver a coisa com outros olhos, tudo fica mágico. – Você, por acaso, faz isso com essa sua “bíblia” de Direito aí? João Pedro olhou para aquele calhamaço que estava em suas mãos, entortou os lábios, e respondeu, não com tanta convicção: – É, acho que vou tentar também. 48 DICA Para quem protela até o último momento a preparação para aquela prova difícil que irá se submeter e quer ler tudo o que conseguir o mais rápido possível, saiba que a qualidade da apreensão do conteúdo acaba sendo quase nula. DICA Porque reagimos de forma tão diferente quando a leitura é para estudos e quando é por diversão? Basicamente porque colocamos uma carga emocional muito pesada no momento de estudos e, com isso, perdemos a naturalidade. Temos a falsa crença de que estudar, aprender e memorizar é um processo difícil. Só que o nosso cérebro absorve tudo o que de fato aprendemos. Tem música que você escutou na sua infância e se tocar agora garanto que sairá cantando, não? O desafio é ler o seu livro para a próxima prova com a mesma vontade que teria se fosse a um show ouvir as músicas de sua banda favorita. Em poucas semanas, os dois irmãos pareciam aquelas duplas de nado sincronizado. Um imitava e influenciava o outro. Usavam a mesma metodologia, com dicas que Daniela passava para João Pedro, que passava para Arthurzinho. Esse, por sua vez, também pegava dicas de professores e alunos do cursinho, e passava para o irmão mais velho. 49 Tudo parecia caminhar bem, até que João Pedro, ao olhar seu irmão mais novo, lembrou quando também prestou vestibular e tudo parecia mais fácil. Será que, ao juntar forças com Arthurzinho, acabaria em desvantagem, já que o concurso que iria prestar seria muito mais difícil? Pensou que aquilo podia estar funcionando como uma âncora, que não o deixava rumar para mais longe, e ficava preso em um método que talvez só servisse para vestibulandos. No meio da sua reflexão, olhou à sua volta para as pessoas do escritório em que trabalhava. Aquele chefe estúpido, que compensava sua quase nula competência com um autoritarismo insano; aqueles advogados sem grande perspectiva na vida; aquelas secretárias quase robóticas com pavor de perder o emprego e nunca mais conseguirem uma recolocação... Aquela rotina só funcionaria ali, se é que funcionava. Se fosse aplicada em outra empresa, esta iria à falência em um instante. Resolveu levar essa questão para sua teacher coach. Daniela pensou um pouco, deu um gole no seu cappuccino, com a elegância de sempre, e respondeu: – Se o que você está me perguntando é se a pessoa deve estudar com a mesma metodologia e estratégia para qualquer tipo de prova, a resposta certamente é não. As exigências serão distintas. E nem estou dizendo sobre a óbvia diferença entre as matérias que são cobradas, mas sim sobre os padrões dos testes e os graus de profundidade e complexidade na elaboração dos questionamentos. – Como assim, Dani? – Em primeiro lugar, você tem que saber como será a sua prova. Ela pode ser objetiva ou dissertativa, e tem alguns casos em que 50 há a possibilidade até de exames orais e entrevistas, como na prova para juiz que eu prestei. Sabe aquela história que está no livro do Sun Tzu, A Arte da Guerra, que eu emprestei a você, que diz que conhecer o adversário é o primeiro passo para enfrentá-lo. É isso! Mas aí você me pergunta: de que forma vou conhecer meu inimigo ou minha prova? João Pedro assentiu com a cabeça.– Sendo proativo, conhecendo as suas habilidades e capacidades. Não adianta você ter todo conhecimento na ponta da língua e não saber como isso vai ser exigido. A forma é tão importante quando o conteúdo, e você tem que treiná-la também. Estudar com seu irmão talvez não seja ruim, mas seria legal de vez em quando você se juntar a pessoas que estão se preparando para a mesma prova que a sua, que tal? DICA Para identificar qual método traz mais resultados para você, tente diversos métodos e tente adequá-los ao que a prova irá exigir. Se tiver exame oral, por exemplo, treine falar o conteúdo, e não apenas decorá-lo. Aplique em si mesmo vários testes e verifique se você adquire maior aprendizado fazendo leituras, redigindo resumos, fichas, mapas mentais, ensinando outras pessoas... Aja. Não espere passivamente. Construa o seu conhecimento. Como bem disse Albert Einstein: "Aprendizado é ação. Do contrário, é só informação". 51 DICA Estudar com os amigos é bom, principalmente com pessoas que irão prestar a mesma prova que você e também estão focadas no aprendizado. Só é preciso ficar atento para que essas reuniões de estudo não virem apenas diversão e conversa sobre outros assuntos. Não pode virar bagunça. O mesmo foco que precisamos ter quando estamos sozinhos, no quarto, deve ser mantido com os amigos. Na varanda, João Pedro via o sol se por entre os prédios da metrópole. O barulhinho do seu WhatsApp não parava. No dia seguinte, sairia para encontrar seus novos amigos. Seguindo o conselho de Daniela, encontrou no Facebook um grupo de estudantes para o mesmo concurso que o seu, que se reunia a cada quinze dias para trocar dicas e experiências. Logo já trocou contatos. Não sabia se seu irmão iria receber bem aquele pequeno afastamento, mas era necessário. Mas ainda restava aquela noite e não sabia o que iria fazer exatamente. Aliás, em quase nenhuma noite sabia. Ok, iria estudar. E fazer a janta. E comer. E tomar banho. Não necessariamente nessa ordem. Apenas era levado pelas horas e ia cumprindo seus afazeres de acordo com o que ia lembrando e aparecendo. Desde pequeno, João Pedro nunca foi organizado. Deixava seus bonecos jogados pelo chão aos 6, os jogos do videogame espalhados aos 12, seus discos em cima do sofá ou da cama aos 18. Também não planejava. Estudava na hora que dava ou 52 quando não tinha que se divertir. Até aqui, tinha dado certo. Mas sabia que para esse seu próximo grande desafio, a coisa poderia ser diferente. Ainda mais porque vivia inundado de tarefas do trabalho, quase sempre com prazos exíguos e pressão de tudo quanto é lado. Para ele, manter em dia as obrigações de casa, do trabalho e consigo mesmo era uma missão para herói. E nem sempre ele estava com seus superpoderes carregados. Estava cansado disso. Entrou no computador e resolveu montar uma planilha. Das 9h às 17h: trabalho. Das 18h às 19h30: preparar a janta e comer. Às 20h: encontro com o grupo de estudos... Pela primeira vez, sentiu que estava controlando o tempo, e não sendo atropelado por ele. DICA As desculpas para não conseguir dar conta de tudo em seu devido tempo são infinitas, e até acredito que às vezes sejam reais. Porém, dentre os diversos motivos que tornam alguém desorganizado, tem um, em especial, que quero chamar a atenção: a procrastinação. Quando deixamos de fazer determinada obrigação e empurramos para depois, a nossa lista vai se avolumando, pois as novas tarefas não deixam de surgir. E quando percebemos, o choque é inevitável, não damos conta nem da metade dos deveres. 53 DICA Para quem está estudando e se preparando para um concurso público ou vestibular, caso não tenha nascido com o “gene da organização”, precisa adquiri-lo. Uma ideia, para começar, é fazer uma lista de tudo que precisa fazer no dia, e a cada empreitada cumprida retirá-la da lista. A sensação de alívio ao perceber que o seu dia está rendendo é reconfortante. Como dizem: quando não se sabe o destino, qualquer vento serve. Escolha e defina o seu destino, e ajuste as vela para os bons ventos. Para ter sucesso na sua prova, você precisa programar o seu caminho de estudo, e para poder cumpri-lo, a maior parte da sua vida também precisa estar organizada. DICA Alcançar a aprovação demanda dedicação diária. Como pode ser difícil mudar completamente a sua rotina de uma hora para a outra e somente se dedicar aos estudos, precisamos garimpar espaço na nossa agenda para esse fim e, aos poucos, ir alargando esse espaço. Para isso acontecer, repito: organize-se. Com as obrigações divididas em seu espaço de tempo adequado, será possível encontrar mais tempo para os estudos. – Cara, eu já fiz isso também, coloquei tudo o que tenho para fazer no papel. Mas cumprir é que é difícil, né? Ando pecando em alguns aspectos, por exemplo, eu me propus a caminhar três vezes por semana para emagrecer, estou indo uma vez. Para o concurso, apenas comecei a ler um dos livros, mas não avanço. Profissionalmente, preciso mudar de emprego. E os ensaios com minha banda, que estavam marcados ali, todo sábado, às 15h, 54 não estão rolando por mil motivos. Colocar no papel é fácil, meu chapa, difícil é fazer. Pablo falava bastante. Seus 115 kg pareciam não pesar naquele 1,65m, e era mais ágil do que muitos magrinhos por aí. João Pedro o conheceu no grupo de estudos e parecia que já eram os melhores amigos desde os tempos de colégio. Aquelas últimas palavras ficaram ressoando na cabeça de João durante boa parte da noite. Nesses primeiros dias, até estava dando conta das tarefas que planejou, mas será que daqui a alguns dias também estaria nessa situação? Resolveu, mais uma vez, apelar à sua amiga Daniela, que parecia que tinha a solução para tudo. – Boa, João, estou orgulhosa que resolveu estudar com gente com objetivos mais parecidos que o seu. Agora, pelo que você me falou desse Pablo, é fácil perceber que ele tem vários objetivos e planos, e tudo ele julga importante. Claro, isso é bom, melhor do que não ter metas na vida. Ele sabe que precisa melhorar a sua saúde, estudar, mudar de emprego. Entretanto, há um detalhe. Ele diz que está "pecando" em alguns aspectos, é isso? – Pois é, Dani, e eu também tenho medo de virar esse pecador e ser excomungado da igreja dos concursos públicos – disse soltando um riso envergonhado. – Eu só acho que quanto mais abrangentes são as nossas metas, é mais difícil torná-las realidade. E ele quer meio que mudar tudo ao mesmo tempo agora, como diz aquela música dos Titãs. E não adianta, o ser humano não funciona assim. Já é tão difícil mudar. Imagina se você decide fazer um curso de fotografia, 55 para fazer bicos de fotógrafo por aí; de culinária, para cozinhar melhor, porque está enjoado de sua comida; e ainda quer passar no concurso e aprender alemão. É impossível. Tem que ser uma coisa por vez. Mesmo no universo dos estudos tem que ir com calma. Primeiro você cria o hábito de estudar, depois de fazer simulados, depois de trocar experiências, e assim por diante. Se você fizer tudo ao mesmo tempo, você pira, meu amigo. – É, talvez seja melhor eu adiar meu curso de alemão – brincou João. Ele não era o Pablo. Não precisava se preocupar. Estava indo bem. Dormiu muito bem naquela noite, como se os fantasmas que estava acostumado a ver estivessem cada vez mais tomando a forma que sempre devessem ter: invisíveis. DICA Dependendo das escolhas que fazemos, pode chegar um dia que cansamos e decidimos dar um basta. Queremos mudanças! Nós somos o que repetidamente fazemos, somos o resultado dos nossos hábitos. Então, é muito difícil querer trocar todos eles de uma vez só. É como querer ser outra pessoa, completamente diferente de uma hora para outra. Uma boa opção é tentar uma mudança por vez. Escolhao que é mais importante na sua lista de objetivos e concentre-se nesse item. Empenhe todas as forças para tornar essa meta realidade em sua vida. Somente após conseguir que esse objetivo seja um novo hábito instalado na sua rotina, passe para outro. Um a um, pouco a pouco, degrau por degrau. 56 – Sério, cara, toda segunda-feira, ao acordar, eu falo pra mim mesmo que vou perder peso. Só como legumes, verduras e frutas e tudo que é coisa light, diet. Até cheguei a me matricular na academia, acredita? – Acred... – E você acha que eu mantive por muito tempo? Fui só por dois meses na academia, ficava todo dolorido, suado e cansei – emendou Pablo. Era difícil interrompê-lo. – A mesma coisa agora para o concurso. Comprei aquele livro enorme com material de estudo na banca, caneta marca-texto e o escambau. Mas não sei por quanto tempo vou manter esse pique. E também... – Pablo, Pablo. Espera aí, é minha vez de falar. Na boa, todo mundo é assim. No primeiro momento está tudo certo, você está mais do que motivado, mas, conforme o tempo vai passando, perde a empolgação. Pô, até com alguns namoros e casamentos é assim. Com bom humor, João Pedro tentou falar para o seu amigo que boa intenção é importante, porém não é suficiente. Que era preciso dar continuidade. Dessa vez, Pablo ouviu calado. – Depender da força de vontade é bem arriscado, cara, até porque acredito que nós temos um estoque finito dela. E o que vejo de mais grave é essa tentativa de revolucionar sua vida de uma vez só, tentar alcançar todas essas metas de uma hora para a outra e ao mesmo tempo. Isso é loucura. Força de vontade gasta energia, e se depois de um dia de trabalho você não tiver 57 essa energia, provavelmente não irá pegar seu material e encarar duas horas de estudo. – Ok, saquei, mas o que eu faço? – Não sei, mas acho que a melhor estratégia é conseguir fazer com que tudo que você tenha que fazer de importante não seja um grande fardo. Tentar estudar como se estivesse indo ao cinema, sabe? Ouvindo suas próprias palavras, João Pedro percebeu como sua cabeça já tinha mudado, e que sua teacher coach ficaria muito orgulhosa se ouvisse isso. DICA Um bom exercício para reforçar o "músculo" da continuidade é se propor a terminar as coisas. Comece com as mais simples. Quando encontrar um amigo que não vê a longa data e com quem quase sempre a conversa termina com a promessa de marcar um encontro para matar as saudades e colocar do papo em dia, de fato marque esse dia. Se sabe que isso não irá acontecer, nem se comprometa, então. Termine a leitura daquela revista ou livro que está enrolando faz um tempo. Definitivamente, arrume o armário do qual você está fugindo há meses. Enfim, treine o seu poder de finalizar as coisas. Com o tempo será muito mais fácil dar continuidade e concluir os seus objetivos maiores. 58 DICA Tente incorporar tudo que é relevante em sua vida como um hábito. Assim, apenas no início será necessário contar com a disposição interna, pois, com o tempo, o hábito se instala e naturalmente será mais fácil cumprir aquilo com o que você se comprometeu. Seja se exercitar diariamente, manter a reeducação alimentar, ir para a sua aula de inglês, como também estudar para o concurso do seu interesse. DICA Não existe um prazo certo para continuar estudando. A intenção é conseguir estudar pelo tempo necessário para alcançar a preparação suficiente para ser aprovado. Uma vez que você decida começar, avalie todas as possibilidades e, quando acreditar que é momento certo, comece para valer. Lembre-se de que interromper um sonho por falta de energia o deixará descrente de sua capacidade. E nós sabemos que dentro de você há todas as habilidades para alcançar o seu sonho, só depende de dar o primeiro, o segundo, o terceiro e todos os outros passos necessários até a sua conquista. 59 Um dos clichês mais conhecidos no futebol é que é mais fácil destruir do que construir uma jogada. E, nesse sentido, há muito mais jogadores capazes de desarmar um drible do que aqueles gênios que criam lances extraordinários. Essa máxima vale para muitos aspectos na vida. João Pedro, ao ver seu time do Santos não conseguir ultrapassar a barreira defensiva de um time pequeno do interior, percebeu que a vitória vai muito além de um bom preparo físico e técnico. 60 Já havia se passado cinco meses desde que começou a se preparar para o concurso, mas seus sentimentos pareciam atrapalhar qualquer progresso racional que tinha feito até então. E assim como acontecia no jogo ao qual assistia, sabia que a construção do caminho para atingir seu sonho era muito mais fácil de ser destruída do que construída. Tinha que entender direito o que eram aqueles sentimentos que estavam afetando todas as facetas de sua vida, que no seu caso se resumia a estudar, estudar e estudar mais um pouco. Não havia ninguém com quem pudesse conversar a respeito. Daniela era muito prática, não entenderia; seu irmão menos ainda; Laura, com quem falava sobre essas coisas, não estava mais com ele; Pablo, seus amigos, colegas e pais estavam fora de cogitação. Tinha que entender isso sozinho, até porque, para falar com alguém, precisava saber exatamente o que se passava. Pensou que talvez o que tivesse atrapalhando fosse o maior de todos os sentimentos. Isso mesmo, o amor. Nesse caso, não o amor que sentia por sua família, seus amigos ou que já sentiu por suas namoradas. Era o amor por ele próprio. Em vez de pensar no famoso ditado bíblico “não faça com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você”, refletia sobre a sentença ao contrário: “Será que estou fazendo comigo aquilo que não faria nem com os meus inimigos?” Isso porque estava se cobrando além do normal. Se não entendia algum capítulo, já se desesperava, achava que estava sendo passado para trás, que seu destino era mesmo um emprego do qual não gostava. Essa falta de amor-próprio estava comprometendo um dos fatores que poderia ser a chave para seu bom desempenho: a autoconfiança. 61 Embora estivesse se dedicando, ele já tinha criado dúvidas sobre a sua real capacidade de estudar e aprender e se iria conseguir a aprovação. Mesmo estudando cada vez mais, ainda achava pouco. Na sua cabeça, os fantasmas voltavam a perturbar, e aquela voz que havia sumido por um período ficava dizendo que não valia a pena tamanho sacrifício, que é muito difícil, que só passa na prova quem tem padrinho importante e toda aquela bobagem de sorte. O pior é que, no encontro à noite com seu grupo de estudos, a situação não melhorou muito. Douglas e Melissa, dois de seus colegas, discutiam tópicos de Direito Administrativo os quais ele nem tinha noção do que se tratava. Sua vontade era correr para casa e pegar seu livro e ler tudo aquilo que falavam. Mas aí, provavelmente, na outra reunião, debateriam outro tópico do qual não teria nenhum conhecimento. Nessa hora, bateu o desespero, e sua vontade de destruir tudo que havia construído até agora era quase inevitável. DICA Temos essa mania de nos desvalorizar de tal maneira que, por vezes, acabamos desistindo de importantes planos, de tanto que minamos a nossa autoconfiança. E, no final, chegamos a acreditar que para o outro tudo é possível, mas para nós não. Pare de se olhar no espelho e se criticar duramente. Cada um de nós, com nossas características, virtudes e até defeitos, somos capazes de ir além sempre. Tenho comigo três palavrinhas como um mantra pessoal: foco, força e fé. De uma vez por todas, confie no seu 62 potencial, ele é que levará você à aprovação. Faça as pazes consigo e declare guerra àquela voz interna que tenta boicotá-lo. DICA No embalo de conciliar a vida corrida com os estudos,parar e refletir sobre os nossos sentimentos não é uma tarefa que damos a devida atenção. Porém, ao fazê-la, potencializamos a nossa produtividade. – Como assim desistir, você está louco cara? Arthurzinho, que, ao contrário do irmão mais velho, estava empolgado com seus resultados nos simulados para o vestibular, não entendia o desânimo do irmão. – Não, cara, você não pode desistir assim. Eu me inspirei em você para estudar para o vestibular, usando vários de seus ensinamentos, e você vai largar tudo?! – É diferente, mano. Lá nas reuniões do grupo vão de dez a quinze pessoas. Pelo menos metade tenho certeza que irá bem na prova, na minha frente. Imagine isso em proporção com todos os candidatos do país. Eu não tenho a mínima chance. – João, esse é só o meio do caminho. Já viu alguém perder antes do torneio começar? – Mas a diferença é grande, não vai dar pra tirar a vantagem até a prova. O conselho de Daniela para que João Pedro encontrasse pessoas com o mesmo interesse 63 que o seu em relação ao concurso acabou virando contra ele. Em vez de usar esses encontros para ajudar na sua empreitada, a tomada de conhecimento das experiências dos outros o desanimou. Depois de conversar com o irmão, tentou achar o motivo pelo qual estava se sentindo tão atrás dos outros concurseiros. Será que era por que não tinha tanto tempo disponível quanto seus colegas? Não era tão inteligente quanto eles? Não tinha pais ricos que o sustentasse enquanto estudava como alguns deles? Ou será que era uma dificuldade pessoal e não conseguia aprender na mesma velocidade que seus amigos? Tinha que tomar uma atitude naquele momento. Ou largava tudo ou tentava continuar. Se escolhesse a segunda opção, não era para se contorcer em crise, mas para retomar sua confiança e passar. Antes de decidir, ligou à noite para Daniela. Se ela também dissesse para ele desistir, não teria mais jeito. Com muita calma, Daniela pediu para que João Pedro se sentasse, caso estivesse de pé. E estava, andando de um lado para o outro, com uma agitação incomum. – É normal todo candidato ter essas crises, mas o negócio é seguir em frente. Eu já falei, João, pare de hipervalorizar a vantagem do outro e não enxergar as suas próprias vantagens. Uma vez escutei uma frase que resume bem essa situação: "Tendemos a comparar os nossos bastidores com o palco do outros”. Pense nisso e não desista, senão, irá se arrepender. Isso é certeza. 64 DICA Quando olhamos a vida do outro, apenas percebemos e ampliamos a parte boa, e muitas vezes, por desconhecer as dificuldades enfrentadas por eles, acreditamos que elas não existem. É a velha história de que o jardim do vizinho sempre é mais verde. Mera ilusão. Todos têm problemas. A diferença é que algumas pessoas aprenderam a encarar as contrariedades da vida com mais leveza, e sem dramas e alvoroço resolvem as situações e dificuldades com a energia necessária para a sua solução. DICA Em vez de deixar se abater por um problema, às vezes insolúvel, que tal se espelhar nas pessoas que parecem viver em um mar de rosas (e que, claro, também têm seus problemas). Para tudo existe solução, apenas nos cabe encontrar a melhor. Se o estudo comprometido é importante para você, encontre a melhor saída para o que lhe atrapalha e crie as melhores condições para realizar o seu objetivo. – Bom dia, Jailton. – Bom dia, Dr. Dorneles O advogado, chefe do escritório, era sempre muito cordial com o porteiro, o manobrista... Até mesmo com os funcionários, 65 quando estava calmo. Mas a chance de perder o equilíbrio em um dia qualquer de trabalho, por alguma coisa que saísse do planejado, era muito grande. Com seu terno bege, um pouco amarrotado, a pasta marrom, sapato e cintos caramelo, em um visual quase monocromático, ele atravessou o escritório, cumprimentando a todos. Olhou, então, para o lugar em que ficava João Pedro. A cadeira estava vazia, e apenas alguns papéis se embaralhavam na mesa. – Onde está o Oliveira? – perguntou à secretária. Ele tinha por hábito chamar a todos pelo sobrenome. – Não chegou ainda, Dr. Dorneles. As bochechas, já naturalmente rosadas, ganharam um grau de rubor um pouco maior. Então, ele se sentou em sua poltrona de couro, também marrom, esperando qual seria a justificativa para um atraso de mais de uma hora. A poucos metros dali, João Pedro corria, esbaforido, sabendo que qualquer história que contasse seria em vão. E, na realidade, não havia desculpa: apenas o despertador não tinha tocado e ele não tinha conseguido acordar no horário. Já esperava gritos e mais gritos do chefe, afinal, seria um dia cheio, daqueles que não era recomendável atrasar nem dez minutos. – Desculpe, Dr. Dorneles, não sei nem o que dizer, não tenho desculpa mesmo, eu tento compensar... Estranhamente, o chefe não esboçava reação. Apenas deu um sorriso e disse: – Pode voltar para casa, rapaz. Aqui está sua carta de demissão. Não precisa cumprir nem o aviso prévio. João Pedro jurou que, ao sair da sala, podia notar um sorriso sádico no canto dos lábios do seu ex-chefe. Chegou à sua casa arrasado. O que estava fazendo com sua vida? Colocou todas 66 suas fichas em um negócio que nem sabia se ia dar certo, e agora estava ali, sem namorada, sem emprego e com um irmão de 17 anos na casa que antes era só sua. Antes de deixar o escritório, enquanto recolhia suas coisas, Ana, uma das advogadas que trabalhava com ele, falou que ele devia exercitar sua resiliência. Na hora, não deu muita bola e agradeceu o conselho, sem entender bem o que era aquilo. Na frente do computador, já que não tinha nada a fazer, resolveu então procurar o significado daquela palavrinha. A melhor definição que achou foi: "é a capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum". Continuou não entendendo bem o que sua colega havia sugerido. Tentou, então, aprofundar-se um pouquinho mais e descobriu que essa expressão foi emprestada da Física, onde é definida como: "a propriedade dos materiais que acumulam energia quando são submetidos a situações de estresse como rupturas, logo após um momento de tensão podem ou não serem danificados, e caso sejam, terão a capacidade de voltar ao normal". Começou a entender, e realmente fazia sentido. Mais do que nunca, precisaria ser resiliente. 67 DICA Quando as coisas saem do que consideramos "normal", a nossa autoconfiança e a capacidade em perseverar devem ser exercitadas. Qual estudante pode afirmar que, na sua história, não passou por uma verdadeira crise durante seus estudos? Pressões, tensões, decepções... Impossível definir todos os contratempos que podem acontecer durante o processo de preparação. A diferença estará em como você vai encarar esses eventos e como irá reagir. O "normal" da vida é ir em busca da solução para cada problema que surge e a melhor estratégia é ter a capacidade de voltar ao perfeito estado para resolvê-lo o quanto antes. Logo em seguida, é preciso retomar as rédeas para continuar na busca dos seus sonhos. Em resumo: devemos ser resilientes. Por mais difícil que a situação tenha chegado, João Pedro sentiu que então tinha algo que há muito havia lhe escapado: o tempo. A questão era o que fazer com ele. Primeiro, resolveu planejar suas finanças. Com o dinheiro da rescisão, talvez conseguisse viver de quatro a cinco meses, economizando bastante. Era tempo suficiente para se dedicar aos estudos da maneira devida. Resiliência. Era isso. Tinha que, apesar de todos os problemas que estava vivendo, voltar ao seu estado inicial, com um objetivo a ser alcançado. Já visualizava seus dias mergulhado de cabeça 68 nos livros. Seriam horas, dias, meses intensos nessa busca, sem mais nada para atrapalhar.