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SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................... 3 2. Edema ............................................................................ 3 3. Hiperemia e congestão............................................ 8 4. Hemostasia: hemorragia e trombose ...............10 5. Embolia ........................................................................23 6. Infarto ...........................................................................25 7. Choque.........................................................................27 Referências bibliográficas ........................................30 3DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 1. INTRODUÇÃO O funcionamento adequado do cor- po humano necessita, entre outras coisas, do bom aporte sanguíneo para os tecidos. Para isso, é impor- tante que todos os componentes do sistema cardiovascular (coração, va- sos sanguíneos e sangue) estejam íntegros. Problemas em qualquer um desses componentes podem gerar diversos distúrbios, sendo os principais: ede- ma, congestão e choque, que são os distúrbios hemodinâmicos pro- priamente ditos, ou seja, relacionados com a fração mecânica do sistema cardiovascular, e ainda hemorragia e trombose, que são distúrbios mais relacionados aos mecanismos de he- mostasia. Esses problemas estão en- tre as doenças cardiovasculares, que são o grupo de doenças que mais causam mortalidade e morbidade na contemporaneidade, daí a im- portância de seu conhecimento. 2. EDEMA Para compreender os mecanismos que provocam edema, é preciso o conhecimento da distribuição dos compartimentos corporais. De forma geral, os líquidos corporais se dividem em três compartimentos: intracelular, extracelular (interstício/ terceiro espaço) e vasos sanguíneos. Ou seja, toda a água do organismo (cerca de 60% do peso corporal) pode estar dentro dos células, no espaço entre elas ou compondo o sangue, que na verdade recebe a menor fração de água entre os três compartimentos. Na água, estão dissolvidos os de- mais componentes do organismos. O movimento da água e dos solutos de baixo peso, como os sais, entre os espaços intravascular e intersticial é regulado pelas pressões hidrostáti- ca/capilar, composta pelos líquidos, e coloidosmótica, composta principal- mente pelas proteínas. Essas pres- sões funcionam de forma oposta, ou seja, quando a pressão hidrostática está elevada, a pressão coloidal tende a estar mais baixa, o que basicamen- te significa “tem muita água, ou seja, as proteínas estão mais dissolvidas por m³, ou seja, a pressão exercida por elas é menor’. Figura 1. Efeito das pressões hidrostática e oncótica no fluxo dos líquidos. Fonte: https://bit.ly/2PFi0A3 4DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS O líquido sai dos vasos sanguíneos pela terminação arteriolar da micro- circulação para o interstício, e daí a maior parte é reabsorvida na termi- nação venular. No entanto, uma par- te desse líquido fica retido no terceiro espaço, sendo drenada pelos vasos linfáticos para retornar ao sangue através do ducto torácico. Esse fluxo se repete de forma cons- tante e ininterrupta na circulação san- guínea, porém, quando o líquido se acumula no interstício ocorre o ede- ma, o que é provocado pelo aumento da pressão capilar ou diminuição da pressão coloidal. O edema pode se formar em qual- quer cavidade do corpo, e com isso recebe diferentes nomenclaturas, como ascite, que se refere ao edema na cavidade abdominal, hidrotórax, quando o líquido se acumula na ca- vidade torácica, e assim por diante. Entretanto, o edema também pode ser generalizado, ou seja, por todo o corpo, o que é chamado de anasar- ca (mesmas causas dos edemas não inflamatórios). Vale ressaltar que os edemas mais comuns ocorrem nos tecidos subcutâneos (sinal de cacifo), pulmões e cérebro. Figura 2. Pressões hidrostática e osmótica e drenagem linfática. Fonte: https://bit.ly/3ksCgmC ander Realce 5DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Normalmente, o edema é composto por líquido pobre em proteína, sendo chamado de transudato, e esses ca- sos são gerados por muitas doenças, especialmente insuficiência cardíaca, renal, hepática e desnutrição. Mas há também os tipos de edema gerados pelo processo inflamatório, no qual é chamado de exsudato e nesse caso o líquido é rico em proteínas – o ede- ma aqui é causado pelo aumento da permeabilidade vascular, gerado na inflamação com o objetivo de facilitar a chegadas das células imunes para as regiões afetadas. SAIBA MAIS! Insuficiência cardíaca é uma condição na qual o coração se torna incapaz de bombear san- gue suficiente para atender às necessidades do corpo, devido a anormalidades no miocár- dio. Isso pode ser provocado por algumas infecções, infartos, defeitos valvulares, sobrecarga hemodinâmica (especialmente hipertensão arterial e DAC), entre outros fatores que causam lesão ao miocárdio. A insuficiência cardíaca pode ser tanto na câmara direita quanto na es- querda, que podem ser diferenciadas por algumas manifestações características, porém em estágios mais avançados da doença as duas câmaras costumam estar comprometidas. O edema, no entanto, é mais característico da IC ventricular direita, devido à congestão venosa. Além de edema, pacientes com ICC podem cursar com dispneia, fadiga, dor torácica, entre outros sintomas cardiorrespiratórios. Com isso, é possível se dividir duas classes de edemas: edemas inflama- tórios e edemas não inflamatórios. Edema inflamatório O edema inflamatório é causado pelo acúmulo de líquido nos locais de in- flamação, o que ocorre graças ao au- mento da permeabilidade vascular, que permite o escape do exsudato. A permeabilidade vascular pode ser au- mentada por vários mecanismos: • Contração das células endote- liais, gerando espaços intersticiais aumentados; • Lesão endotelial, causando necro- se da célula endotelial e conse- quentemente seu desprendimento; • Transporte aumentado de fluidos e proteínas através da célula endo- telial (transcitose). Vale ressaltar ainda que o edema in- flamatório normalmente estará acom- panhado dos outros sinais flogísticos: rubor (vermelhidão), calor, dor e/ou perda de função. 6DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Edema não inflamatório As causas do edema não inflamató- rio são: aumento da pressão hidros- tática, redução da pressão coloidal, retenção de sódio e água e obstru- ção linfática. Como já mencionado, o aumento da pressão hidrostática pode provocar drenagem venosa de- ficiente na região gerando edema, o que ocorre, por exemplo, na trombo- se venosa profunda que causa ede- ma nas extremidades. Por outro lado, na insuficiência cardíaca, o edema é sistêmico, visto que a deficiência no bombeamento do sangue da câmara direita cardíaca para a artéria pulmo- nar causa acúmulo de sangue na cir- culação venosa. A redução da pressão coloidal é mais frequentemente causada pela defi- ciência de albumina, principal pro- teína plasmática, quando esta não é sintetizada adequadamente ou quan- do a mesma é perdida, principalmen- te na urina. Esse quadro se apresenta principalmente nas síndromes renais (nefrótica) e hepáticas (cirrose), mas também é comum em casos severos de desnutrição proteica. Sem a pres- são exercida pela albumina, o líquido é “perdido” para o terceiro espaço, e então o edema é formado. Síndromes renais também podem causar edema por meio da retenção de sal, que ocorrem tanto nas desor- dens primárias renais, quanto nos ca- sos de hipoperfusão renal, comumen- te causada pela insuficiência cardíaca (ICC). Como na ICC o maior problema é o déficit do débito cardíaco, o siste- ma renina-angiotensina-aldosterona é ativado para reverter esse quadro, elevando as concentrações de ADH, retendo sal e consequentemente EDEMA INFLAMATÓRIO Rubor Perda de função Calor Dor Resolução da inflamação Sinais flogísticos Aumento da permeabilidade vascular Exsudato Local ander Realce ander Realce 7DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS água. No início, esse mecanismofun- ciona, mas com o agravamento da ICC, o líquido retido aumenta apenas a pressão venosa, gerando edema. Na disfunção renal grave, é comum que inicialmente se forma edema periorbital. Por fim, a obstrução linfática pode ge- rar linfedema, cuja causa mais conhe- cida é a filariose (elefantíase). Nesse caso, a obstrução é gerada pela fibro- se nos vasos linfáticos e linfonodos, que por sua vez é gerada pela presen- ça das filárias (inflamação crônica). Filariose Obstrução linfática Transudato ICC Síndromes hepáticas Síndromes renais Aumento da pressão hidrostática Diminuição da pressão coloidal Retenção de sódio e água Normalmente generalizado Ausência de sinais flogísticos Causas Características EDEMA NÃO - INFLAMATÓRIO SAIBA MAIS! A Síndrome nefrótica é caracterizada por proteinúria maciça (>3,5g/dia), hipoalbuminemia, edema generalizado (anasarca) e hiperlipidemia. Essa condição pode ser causada por qual- quer doença que provoque o desarranjo das paredes dos capilares glomerulares, o que au- menta a permeabilidade para as proteínas plasmáticas. Assim, pode ser idiopática ou secun- dária a doenças como diabetes, amiloidose e lúpus eritematoso sistêmico (LES). O edema pode apenas sinalizar algu- ma doença mas também pode gerar complicações. O edema pulmonar, por exemplo, que normalmente na insuficiência ventricular esquerda, impede a difusão do oxigênio e tor- na o ambiente mais vulnerável a in- fecções bacterianas. Em outro caso, o edema cerebral pode causar hernia- ção, devido a incapacidade craniana 8DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS de se expandir, gerando lesão dos centros bulbares, o que é fatal – o cé- rebro é “expulso” pelo forame magno ou comprime a perfusão do tronco cerebral. 3. HIPEREMIA E CONGESTÃO A hiperemia e congestão são resulta- do do aumento local do volume san- guíneo. A hiperemia é um processo ativo, que ocorre como consequência da dilatação arteriolar, como ocor- re no músculo esquelético durante o exercício ou nos locais de inflamação, gerando aumento do fluxo sanguí- neo. Nesses casos, forma-se eritema no tecido afetado por conta do “con- gestionamento” dos vasos com san- gue oxigenado. Em outras palavras, a hiperemia é provocada por processos fisiológicos que visam aumentar o flu- xo sanguíneo em determinado local com a alguma finalidade. Figura 3. Hiperemia dos vasos oculares. Fonte: https:// bit.ly/3gO30Mi O processo de congestão por outro lado, é passivo e resulta da redução do fluxo sanguíneo no tecido, o que pode ser uma condição sistêmica, como ocorre na insuficiência cardía- ca, ou local, como na obstrução veno- sa isolada (trombose), ou seja, é um processo patológico. Os tecidos que sofrem congestão normalmente se apresentam com cianose, por conta da estase dos glóbulos vermelhos e acúmulo de hemoglobina desoxige- nada. A congestão frequentemente provoca edema, por conta do aumen- to do volume e da pressão. Nos ca- sos crônicos, a congestão pode causa hipóxia crônica, gerando lesão teci- dual isquêmica e cicatrização (fibro- se). Além disso, a congestão crônica pode ainda causar pequenos focos hemorrágicos, que podem se apre- sentar com grupamentos de macró- fagos carregados de hemossiderina (pigmento amarelado), por conta do catabolismo dos glóbulos vermelhos extravasados. Os tipos de congestão mais comuns são a congestão pulmonar e a con- gestão hepática, ambos podem ter manifestação aguda ou crônica. Na congestão pulmonar aguda, os capila- res alveolares ficam congestionados, cursando com edema septal alveolar (aumento da pressão hidrostática) e hemorragia intra-alveolar focal. Já na congestão pulmonar crônica, os sep- tos alveolares estão espessados e fibróticos, devido aos processos de ander Realce 9DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS inflamação crônica e cicatrização, e nesses casos os alvéolos costumam apresentar macrófagos carregados de hemossiderina (células da insufici- ência cardíaca). Na congestão hepática aguda, a veia central e os sinusoides hepáticos se apresentam distendidos, os hepatóci- tos centrolobulares podem estar se- veramente isquêmicos, ao passo que os hepatócitos periféricos continuam bem oxigenados, porém apresentam alteração gordurosa. Já na congestão hepática crônica, as regiões centrolo- bulares apresentam coloração entre vermelho e marrom e se apresentam deprimidas, graças à morte celular, contrastando com a região periféri- ca que se apresenta com coloração amarelo-acastanhada (fígado em noz-moscada). Figura 4. Edema pulmonar. Fonte: www.mdsaude.com XHiperemia Congestão Fisiológico – Ativo Exercício físico Inflamação Eritema Congestionamento de sangue oxigenado Patológico - passivo Congestão Pulmonar Congestão Hepática Cianose Congestionamento de sangue desoxigenado 10DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS SAIBA MAIS! Congestão pulmonar e Congestão Hepática: Tanto a congestão pulmonar quanto a hepá- tica podem ser consequência da insuficiência cardíaca. A insuficiência ventricular esquerda gera congestão pulmonar por conta da redução da fração de ejeção, que provoca acúmulo de sangue nas câmaras esquerdas, que consequentemente sobrecarregam os vasos pulmona- res, que não conseguem vencer a pressão, e consequentemente o sangue (oxigenado) fica acumulado nos vasos pulmonares. No caso da congestão hepática, normalmente a causa é a insuficiência cardíaca direita, visto que a incapacidade de expulsar o sangue da câmara direita para a artéria pulmonar gera uma congestão no sistema veia cava, consequentemente gerando sobrecarga venosa no fígado. Vale ressaltar que a insuficiência ventricular esquerda, quando não tratada, costuma gerar insuficiência na câmara direita também. • Vasoconstrição: mediada por me- canismos neurogênicos reflexos e fatores de secreção local (endoteli- na). É uma medida paliativa e transi- tória, que visa diminuir a perda san- guínea diminuindo o fluxo sanguíneo na região, porém o sangramento pode retornar caso as próximas fa- ses da hemostasia não ocorram. • Hemostasia primária: consiste na formação do tampão hemos- tático pela agregação plaquetária. A lesão endotelial expõe a matriz extracelular (MEC), favorecendo a aderência e ativação plaquetá- ria, resultante da alteração de seu formato (de discos arredondados para placas planas). • Hemostasia secundária: nessa fase o início do tampão plaque- tário é consolidado. Isso ocorre com a exposição do fator tecidual no local da lesão endotelial. O fa- tor tecidual, também chamado de fator III ou tromboplastina, é uma 4. HEMOSTASIA: HEMORRAGIA E TROMBOSE A hemostasia consiste no proces- so que regula o equilíbrio volêmico, mantendo o sangue em seu estado lí- quido nos vasos normais, ou seja, não lesados, e permitindo a formação de tampão hemostático (trombo) nos lo- cais de lesão vascular, a fim de evitar a perda significativa de sangue. De- feitos nos processos de hemostasia podem causar hemorragias e trom- bose, que consiste na formação de coágulos sanguíneos (trombos) den- tro de vasos normais, o que pode ser causado por vários fatores. Tanto os mecanismos da hemosta- sia quanto da trombose envolvem três componentes principais: parede vascular (especialmente o endotélio), plaquetas e a cascata de coagula- ção. De maneira geral, os eventos he- mostáticos no local da lesão vascular passa pelas seguintes fases: 11DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS proteína pró-coagulante que atua em conjunto com o fator II, que é o principal ativador da cascata de coagulação e normalmente resul- ta em trombina. A trombina cliva o fibrinogênio circulante em fibrina insolúvel, formando uma rede de fibrina e induzindo o recrutamento e ativação de mais plaquetas, for- mando um tampão permanente, um trombo sólido. • Eventos anti-trombóticos regu- latórios: Com isso a formação do trombo são ativados os mecanis- mos anti-trombóticos, que visam limitar o tampão evitando trom- bose. Um dos principais agentes dessa fase é o ativador de plas- minogênio tecidual(t-PA), o qual converte o plasminogênio circu- lante em plasmina, que é uma en- zima fibrinolítica. Figura 4. Estágios da hemostasia. Fonte: ROBBINS & COTRAN. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 9ªed CONCEITO: Hemostasia não é a mesma coisa que homeostasia. Home- ostasia se refere ao equilíbrio entre as funções e componentes do corpo, o que será melhor descrito na seção sobre edema, enquanto hemostasia, como já visto, é referente aos mecanismos que buscam evitar a perda de sangue em casos de lesão dos vasos, além de manter o sangue em seu estado líquido (não trombótico), permitindo seu fluxo adequado. 12DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Endotélio A regulação da hemostasia é feita principalmente pelas células endo- teliais, que mantém em equilíbrio as atividades trombóticas e anti-trom- bóticas. Quando íntegro, o endotélio apresenta propriedades antipla- quetárias, anticoagulantes e fibri- nolíticas, mas a lesão desse tecido ativa os fatores pró-coagulantes, que também podem ser ativados por mi- croorganismos invasores, citocinas, mediadores plasmáticos e forças he- modinâmicas (tríade de Virchow). As propriedades antitrombóticas en- volver a produção de fatores que bloqueiam a adesão e agregação plaquetária, inibem a coagulação e quebram o trombo. O endotélio intacto impede que as plaquetas se encontrem com a MEC, então tanto plaquetas não ativadas (formato arre- dondado) quanto ativadas (conforma- ção plana) não conseguem se aderir ao endotélio. No caso de plaquetas ativadas, a prostaciclina (PGI2) e o óxido nítrico produzido pelas células endoteliais impedem a adesão pla- quetária. Além disso, PGI2 e o óxido nítrico são mediadores vasodilata- dores, cuja síntese é estimulada por fatores produzidos durante a coagu- lação. O endotélio também inibe a agregação plaquetária por meio da adenosina difosfatase, que degrada o ADP plaquetário, impedindo que o mesmo se ative. HEMOSTASIAHemostasia primária Vasoconstrição Efeitos anti-trombóticos regulatórios Hemostasia secundária Endotelina Temporário Trombina Tampão permanente Fibrinogênio Fibrina Plasminogênio T-PA Plasmina Agregação plaquetária Tampão primário Ativação de plaquetas 13DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Os efeitos anticoagulantes são media- dos pelo endotélio associado a molé- culas semelhantes à heparina, trom- bomodulina e inibidor da via do fator tecidual. As moléculas semelhantes à heparina agem como cofatores au- mentando a inativação da trombina e de outros fatores da coagulação por meio da proteína antitrombina III. A trombomodulina se liga à trombina, convertendo-a em um fator antico- agulante ativando a proteína C, que por sua vez inibe a coagulação atra- vés da inativação dos fatores Va e VIIIa. Além disso, o endotélio produz um cofator da proteína C, a prote- ína S, e o inibidor da via do fator tecidual (TFPI), que é uma proteína inibidora dos fatores teciduais VIIa e Xa. (Os fatores aqui mencionados serão melhor descritos na seção so- bre a cascata de coagulação). Os efeitos fibrinolíticos envolvem principalmente a síntese de t-PA, que cliva plasminogênio em plas- mina, como já menciona, e essa por sua vez converte a fibrina para de- gradar o trombo. Entretanto, quando lesado, o en- dotélio ativa suas propriedades pró-trombóticas. O contato das plaquetas com a MEC permite sua adesão graças ao fator de von Wil- lebrand (vWF). Além disso, citocinas como TNF e IL-1, bem como endo- toxinas bacterianas, estimulam as células endoteliais a sintetizarem o fator tecidual, principal ativador da cascata de coagulação, e as células endoteliais ativadas também aumen- tam a função catalítica dos fatores de coagulação ativados IXa e Xa. As propriedades pró-trombóticas do en- dotélio também possuem efeitos an- tifibrinolíticos, por meio da secreção de inibidores do ativador de plasmi- nogênio (PAI), limitando a fibrinólise e favorecendo a trombose. Impede contato das plaquetas com a MEC ENDOTÉLIO Atividades anti- trombóticas TFPI PGI2 t-PA Adenosina difosfatase Óxido nítrico Trombomodulina Moléculas semelhantes à heparina Fator de von Willebrand (adesão plaquetária) Atividades pró- trombóticas Fatores de coagulação Ixa e Xa Fator tecidual TNF e IL-1 PAI Endotoxinas 14DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Plaquetas As plaquetas, além de formar o tam- pão inicial, possuem uma face que recruta e concentra os fatores de co- agulação ativados. A função dessas células depende de vários receptores, citoesqueleto contrátil e dois tipos de grânulos citoplasmático: grânulos α e grânulos densos. Os grânulos α expressam a molécula P-selectina e possui fibrinogênio, fibronectina, fa- tores V e VIII, fator plaquetário 4 (qui- miocina ligada à heparina), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator de crescimento trans- formador-α. Os grânulos densos, por sua vez, possuem ADP e ATP, cál- cio ionizado, histamina, serotonina e epinefrina. Com o encontro com a MEC, as plaquetas passam pelos se- guintes eventos: • Adesão e mudança conforma- cional: a adesão, como já mencio- nado, é mediada principalmente pelo vWF, que faz uma ponte en- tre o colágeno exposto da MEC e a superfície plaquetária (através da glicoproteína Ib - Gplb) – a jun- ção vWF-Gplb resiste às forças de cisalhamento do fluxo sanguíneo, porém as plaquetas podem se as- sociar a outros componentes da MEC também. • Secreção: nessa etapa são libera- dos os conteúdos de ambos os grâ- nulos, sendo a liberação do corpo denso especialmente importante, visto que o cálcio é necessário na cascata de coagulação e o ADP é um ativador da agregação plaque- tária. A agregação plaquetária per- mite o surgimento de fosfolipídios com carga negativa em sua super- fície, os quais se ligam ao cálcio e servem como local de formação de complexos com diferentes fatores de coagulação. • Agregação: além do ADP, a agre- gação plaquetária também é esti- mulada pelo vasoconstritor trom- boxano A2 (TxA2 – derivado das plaquetas), levando à formação do tampão primário. Essa agre- gação inicial é reversível, e com a ativação da cascata de coagula- ção, a trombina estabiliza o trom- bo. Para isso, a trombina se liga a um receptor ativado por protease (PAR) na membrana plaquetária, que gera agregação adicional em conjunto com o TxA2 e ADP. Após isso, a contração plaquetária cria uma massa fundida de plaquetas, formando o tampão secundário definitivo. Com isso, a trombina converte fibrinogênio em fibrina ci- mentando as plaquetas no local da lesão. O fibrinogênio não clivado também é importante na agregação plaquetária. A ativação plaquetária por ADP pro- move uma alteração conformacional nos receptores plaquetários GPIIb-IIIa, 15DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS que induz a ligação ao fibrinogênio, que por sua vez faz a ponte entre as plaquetas, favorecendo a agregação plaquetária. Figura 5. Formação do coágulo por plaquetas. Fonte: https://bit.ly/3abnNH7 Eritrócitos e leucócitos também são compõem os tampões he- mostáticos. Os leucócitos se aderem às plaquetas através da P-selectina e ao endotélio por meio de várias receptores, e essas células contribuem para a inflamação no processo de trom- bose. A trombina também se dirige à inflamação ligada ao trombo esti- mulada por neutrófilos e monócitos e pela geração de produtos quimio- táticos da degradação da fi- brina durante a clivagem do fibrinogênio. Grânulos α PLAQUETAS Secreção Adesão e mudança conformacional Agregação Grânulos densos Fibrinogênio Fibronectina Fatores V e VIII Fator plaquetário 4 PDGF Fator de crescimento transformador-β ADP ATP Cálcio Histamina Serotonina Epinefrina vWF-Gplb MEC ADP Cálcio TxA2 16DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS SAIBA MAIS! A doença de von Willebrand (DVW) é uma deficiência hereditária do fator de von Willebrand (FVW), que causa disfunção plaquetária. A tendência ao sangramento geralmente é discreta. Exames de triagem mostram uma contagem plaquetária normal e, possivelmente,PTT ligei- ramente prolongado. O diagnóstico baseia-se em níveis baixos do antígeno do FVW e na atividade de cofator de ristocetina anormal. O tratamento envolve o controle do sangramento com terapia de reposição (concentrado intermediário do grau de pureza do fator VIII inativa- dos para vírus) ou desmopressina. exposto e se liga ao FVII circulante no plasma. O fator tecidual atua como receptor e cofator para o FVIII, e uma vez complexados, o FVII é rapidamen- te convertido em FVII ativado (FVIIa) e o complexo FT/FVIIa resultante ativa os fatores IX e X. O fator Xa se liga ao FVa e converte pequenas quantida- des de protrombina em trombina. A quantidade de trombina formada de início é insuficiente para a formação do coágulo, mas é suficiente para re- troalimentar a coagulação através da ativação dos fatores V, VIII e IX e de receptores da superfície plaquetária. Amplificação: Inicia-se a partir do efeito de peque- nas quantidades de trombina gerada na etapa de iniciação. A trombina liga- -se avidamente a GpIb, e, com isso, a trombina sofre uma alteração confor- macional, que permite a clivagem dos receptores ativadores de protease pla- quetária (PAR) pela trombina. Dessa forma, observa-se que a interação da trombina com a PAR-1 engatilha um processo de sinalização em cascata, Cascata da Coagulação Sabe-se que o processo de coagula- ção tem a potencialidade de amplificar um pequeno estímulo inicial em um tampão hemostático, composto por fibrina e plaquetas ativadas, sendo um processo dinâmico, que envolve: iniciação, amplificação e propagação. Iniciação: Essa etapa ocorre em resposta ao dano vascular, que expõe o subendotélio ao sangue. As plaquetas se aderem ao lo- cal danificado, e, uma vez próximas ao subendotélio se ligam ao colágeno pela glicoproteína GpVI, sendo que essa li- gação é responsável por promover uma sinalização em cascata e ativação das integrinas plaquetárias, que mediam a ligação das plaquetas com o subendo- télio. O fator de von Willebrand (FvW), que circula no plasma, pode se ligar ao colágeno exposto na matriz extracelu- lar e à glicoproteína (Gp) Ib, presente na superfície plaquetária. Concomitante a isso, o fator tecidu- al (FT), presente no subendotélio, é 17DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS o que resulta na ativação plaquetária, que provoca várias alterações, como: mudança no citoesqueleto plaquetá- rio, aumento da expressão de fosfati- dilserina (FS) na superfície externa da plaqueta, um fato de extrema impor- tância para o incremento da atividade coagulante e a degranulação plaque- tária com liberação dos conteúdos dos grânulos alfa e denso. Diante disso, sabe-se que o conteúdo dos grânu- los densos, em especial o difosfato de adenosina (ADP), exerce uma re- troalimentação positiva nas plaquetas adjacentes para promover ativação plaquetária adicional. Enquanto isso, o FV parcialmente ativado, presente nos grânulos alfa, é convertido para sua forma completamente ativa por ação da trombina ou do FXa. Propagação: Após as duas eta- pas anteriores, as plaquetas se en- contram em seu es- tado ativado. Logo, juntamente com os cofatores Va e VIIIa ligados em sua su- perfície, as plaque- tas funcionam como plataforma para o ancoramento de proteínas e forma- ção de complexos tenase e protrombi- nase. O FIXa, formado durante a etapa de iniciação, liga-se às plaquetas ati- vadas de duas formas: dependente e independente do FVIIIa, sendo que na ação dependente do FVIII, ocorre for- mação do complexo fixa/FVIIIa (com- plexo tenase), que ativa o fator FX. Ademais, o FXa ligado a plaqueta for- ma um complexo com o FVa também ligado a plaqueta (complexo protrom- binase), que é capaz de converter a protrombina em trombina. Nesse con- texto, a trombina cliva o fibrinogênio, formando assim, os monômeros de fibrina, os quais se agregam esponta- neamente em protofibrilas. Por último, outra função da trombina é a de ati- var o FXIII, responsável por estabilizar essas protofibrilas e tornar o coágulo estável. Figura 6. Coagulação in vivo. Fonte: ZAGO, Marco An- tônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2013. 18DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS A ativação da cascata de coagulação também promove uma cascata fibri- nolítica, cuja importância é limitar o tamanho do trombo. Esse processo é realizado principalmente pela plas- mina, uma enzima que interfere na polimerização da fibrina. Além disso, os produtos da degradação da fibri- na também podem atuar como an- ticoagulantes fracos, e o nível sérico desses produtos pode ser utilizado no diagnóstico de eventos trombóti- cos anormais, como os que ocorrem na CID, TVP e TEP (melhor descritos adiante). A plasmina é formada pela conversão do plasminogênio circu- lante pela ação do t-PA, principal- mente, o qual é ativado pela ligação com a fibrina e isso é importante pois “restringe” a ação do t-PA aos locais de trombose recente. A plasmina livre é inativada pelo inibidor α2-plasmina. Além da ação do t-PA, o endotélio li- mita a coagulação com a liberação do inibidor do ativador do plasminogênio (PAI), que impede a fibrinólise inibin- do a ligação do t-PA à fibrina, ou seja, o PAI é um fator pró-coagulante, cuja produção é aumentada pela presença de trombina. Observações experimentais e estu- dos clínicos demonstraram que as re- ações de coagulação ocorrem como processos simultâneos nas superfí- cies celulares. Logo, os componentes das denominadas vias intrínsecas e extrínsecas participam da iniciação e propagação da coagulação, respecti- vamente, assumindo papéis distintos e complementares. Dessa forma, ob- serva-se que é pouco provável que essas vias operem de modo indepen- dente in vivo. Figura 7. Sistema fibrinolítico. Fonte: ROBBINS & COTRAN. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 9ªed 19DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Trombose A formação do trombo envolve três principais alterações, agrupadas na tríade de Virchow, sendo elas: le- são endotelial, estase do fluxo san- guíneo (turbulência) e estado de hipercoagulabilidade. A lesão endotelial é importante na formação de trombos no coração ou na circulação arterial, onde as taxas de fluxo podem impedir a coagulação prevenindo a adesão plaquetária e di- luindo os fatores de coagulação ati- vados. Assim, a formação de trombos nas câmaras cardíacas (após infarto do miocárdio, por exemplo), nas pla- cas de ateroma e nos locais de vascu- lite são resultada da lesão endotelial, visto que ocorre a exposição da MEC, CASCATA DE COAGULAÇÃO Via Extrínseca Via Intrínseca Regulação Fator de Hageman Fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio TPPI t-PA PAI Fator tecidual Lesão vascular Fatores VII, X, II, V e fibrinogênio Ativação do fator X Antitrombinas Ativação dos fatores nos locais de exposição da MEC Proteínas C e S 20DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS desencadeando os processos de co- agulação aqui já descritos. Porém, o endotélio não contribui para a trom- bose apenas quando está rompido, mas qualquer alteração no equilíbrio dinâmicos entre as atividades pró e antitrombóticas podem causar coa- gulação local. Ou seja, disfunções en- doteliais na expressão de fatores pró e anticoagulantes causam trombose e essas disfunções podem ser conse- quência de várias complicações, como hipertensão, lesões por radiação, fluxo sanguíneo turbulento (fibrilação atrial), endotoxinas bacterianas, toxinas do cigarro e anormalidades metabólicas. A turbulência do fluxo sanguíneo (estase) leva à formação de trombos devido à lesão e/ou disfunção endo- telial que provoca. A estase sanguí- nea é a principal agente na formação de trombo venoso. O fluxo sanguíneo normal é laminar, ou seja, as plaque- tas e as outras células sanguíneas fluem na porção central do lúmen do vaso, separada do endotélio por uma camada de plasma com movimento mais lento. Com isso, a estase e tur- bulência sanguínea promovem a ati- vação endotelial, aumentandoa ativi- dade pró-coagulante; rompe o fluxo laminar, fazendo com que as plaque- tas entrem em contato com o endoté- lio; e impede a diluição dos fatores de coagulação, devido falta de fluxo san- guíneo fresco e influxo dos inibidores dos fatores de coagulação. A turbu- lência e estase podem ser causadas por infarto do miocárdio, estenose da válvula mitral, hiperviscosidade (poli- citemia vera), doença falciforme e ou- tras complicações. O estado de hipercoagulabilidade, também chamado de trombofilia, é fator que menos contribui para a for- mação de trombose, porém pode pre- dominar em algumas condições. A hipercoagulabilidade é definida como qualquer alteração nas vias de coa- gulação que predispõe à trombose, podendo ter origem de desordens pri- márias (genéticas) ou secundárias (ad- quiridas). As causas primárias são re- lacionadas com defeitos em diversos fatores envolvidos nos processos de coagulação, como mutação do gene do fator V, deficiência de antitrombina III, de proteína C, entre outras anorma- lidades. As causas secundárias, por sua vez, estão relacionadas com re- pouso no leito e imobilizações prolon- gadas, infarto do miocárdio, fibrilação atrial, lesão tecidual (cirurgia, fratura, queimaduras), tumores, síndrome ne- frótica, uso de contraceptivos orais ou gestação (estado hiperestrogênico), tabagismo, entre outras doenças e condições que tornam o sangue mais viscoso. Ao contrário das doenças hereditárias, a trombofilia adquirida é normalmente multifatorial. Os trombos podem se desenvolver em qualquer parte do sistema car- diovascular, e seu tamanho e forma depende do local de origem e causa de formação. Assim, podem existir 21DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS trombos arteriais e trombos venosos. Os trombos arteriais ou cardíacos normalmente se formam em locais de turbulência (regiões de bifurcação arterial) ou de lesão endotelial (placas de ateroma, HAS), enquanto os trom- bos venosos normalmente ocorrem em locais de estase. Ambos os trom- bos se propagam na direção do co- ração, ou seja, o trombo arterial cres- cem em direção retrógrada do ponto de ligação e os trombos venosos na direção do fluxo sanguíneo. Os trombos nas câmaras cardíacas são chamados de trombos murais, que são causados por anormalidade de contração do miocárdio ou lesão endomiocárdica. As placas de ate- roma e aneurismas comumente pro- vocam trombos aórticos. Os trombos arteriais normalmente são oclusivos, e também podem ser causados por vasculite e trauma, apesar da causa mais comum ser a ruptura das placas de ateroma. Os trombos nas válvulas cardíacas são chamados de vegeta- ções, comumente causados por infec- ções bacterianas. A trombose arterial pode embolizar e provocar infartos. A trombose venosa é quase inva- riavelmente oclusiva e seus coágulos são conhecidos como trombos verme- lhos ou de estase. As veias dos mem- bros inferiores são as mais afetadas, mas também podem acometer outras veias do corpo. A trombose venosa também pode causar infarto, porém é mais comum apenas congestão, e nesses casos os canais colaterais au- xiliam no fluxo vascular, melhorando o influxo arterial. Por isso, os infartos por trombose venosa são mais prová- veis em órgãos com uma única veia aferente, como os testículos e ovários. Por outro lado, a trombose venosa profunda é a principal causa de trom- boembolismo pulmonar (TEP), que será melhor descrito adiante. Após sua formação, o trombo, quan- do não fatal, pode ter os seguintes destinos: • Propagação: acumulam plaquetas e fibrinas, crescendo e promoven- do obstrução do vaso. • Embolização: se desprendem e deslocam para outras locais da vasculatura. • Dissolução: resultado da fibrinóli- se, podendo ser administrado t-PA nas primeiras horas do evento trombótico. • Organização e recanalização: trombos mais velhos são organi- zados por células endoteliais, célu- las do músculo liso e fibroblastos, que ocasionalmente conseguem formam canais capilares por den- tro do trombo, permitindo a conti- nuidade do lúmen, ainda que mais estreitado que o normal. Para isso, os centros do trombos sofrem di- gestão enzimática, por enzimas lisossômicas dos leucócitos e pla- quetas recrutados. ander Realce ander Realce 22DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS A hemorragia consiste no extravasamento de sangue para o espa- ço extravascular, que pode ser provocado por traumas, aterosclerose, inflamação ou neopla- sia na parede do vaso e congestão crônica. Algu- mas doenças que geram maior predisposição a hemorragias são chama- das de diáteses hemor- rágicas. Quando a lesão ocorre em capilares e arteríolas, a hemorragia costuma ser menor, de fácil controle, no entanto, o comprometimento de grandes artérias e vasos podem cau- sar grande perda de sangue, o qual pode se acumular no te- cido subcutâneos e ca- vidades do corpo, como também pode extravasar para fora do corpo. Per- das maiores que 20% do volume sanguíneo po- dem causar choque hemor- rágico (hipovolêmico), o qual é potencialmente fatal e será melhor descrito adiante. Daí a importância da regulação adequada dos mecanis- mos de hemostasia. TROMBOSETríade de Virchow Destino do trombo Trombose Venosa (TVP) Trombose Arterial Dissolução Organização e recanalização Estase sanguínea Lesão endotelial Hipercoagulabilidade Grandes veias dos membros inferiores Congestão venosa TEP Traumas Vasculite Infartos Propagação Embolização Placas de ateroma Trombos murais 23DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS SE LIGA! Aspirina é um inibidor irrever- sível da ciclo-oxigenase. É utilizada em pacientes com risco de trombose coro- nariana pois bloqueia permanentemen- te a síntese de TxA2 pelas plaquetas. A aspirina também inibe a produção pelo endotélio de PGI2 (inibidor da agregação plaquetária), porém as células endote- liais conseguem realizar nova síntese de ciclo-oxigenase ativa, superando o blo- queio. Ciclo-oxigenase é a enzima que converte o ácido araquidônico em pros- taciclinas, e por isso a aspirina consegue parar permanentemente a produção de TxA2 (um tipo de prostaciclina) nas pla- quetas, visto que as plaquetas são célu- las anucleadas e assim não conseguem sintetizar mais ciclo-oxigenase como as células endoteliais. Por outro lado, esse efeito da aspirina aumenta as chances de hemorragias espontâneas. 5. EMBOLIA Um êmbolo é uma massa intravas- cular solta, que pode ser sólida, líqui- da ou gasosa, a qual é transportada pelo sangue para um local distante do seu ponto de origem. A maioria dos êmbolos, no entanto, têm origem em um trombo, por isso o termo trombo- embolismo, mas também pode existir êmbolos de gordura, bolhas de nitro- gênio, fragmentos da medula óssea e até mesmo corpo estranho. A principal consequência da embolia é o infarto do tecido distal, visto que os êmbolos normalmente provocam oclusão dos vasos onde se alojam. De maneira geral, os êmbolos se abrigam ou na circulação pulmonar ou na circulação sistêmica. Embolia Pulmonar (Tromboembolismo pulmonar – TEP) A TEP é normalmente causada por trombose venosa profunda das per- nas, quando os trombos são trans- portados para o lado direito do co- ração, antes de se alojar nas artérias pulmonares. A depender do tamanho, o êmbolo pode ocluir a artéria pulmo- nar principal, impactar-se através da bifurcação da artéria (êmbolo em sela) ou se distribuir pelas arteríolas meno- res. De maneira geral, o indivíduo que teve TEP tem maior risco de desen- volver outros êmbolos. Um êmbolo venoso pode passar para a circulação sistêmica através de um defeito inte- ratrial ou interventricular, porém isso é mais raro (embolia paradoxal). A maioria dos êmbolos pulmonares são pequenos, e por isso são assin- tomáticos. Essas trombos podem provocar morte súbita, insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale) ou colapso cardiovascular quando ocor- re obstrução superior a 60% da cir- culação pulmonar. A obstrução de artérias de médio calibre com ruptura vascular podecausar hemorragia, po- rém não causa infarto pulmonar devi- do à existência da circulação brônqui- ca, que mantém a perfusão da área afetada. Entretanto, indivíduos com 24DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS insuficiência cardíaca esquerda apre- sentam comprometimento do fluxo da artéria brônquica e com isso pode ocorrer infarto. Por outro lado, quando os êmbolos atigem pequenas artérias pulmonares, normalmente ocorre he- morragia ou infarto. Êmbolos múltiplos ao longo do tempo podem causar hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular direita. Figura 8. Tromboembolismo pulmonar. Fonte: www.http://www.hcfmb.unesp.br/tromboembolia-pulmonar/ Tromboembolismo Sistêmico A maioria dos êmbolos na circulação arterial surgem de trombos murais, sendo a maioria deles associados a infartos da parede ventricular es- querda, dilatação atrial esquerda e fibrilação. Porém, há ainda êmbolos originados de aneurismas aórticos, trombos das placas de ateroma ulce- radas ou fragmentação da vegetação na válvula cardíaca. Os êmbolos arteriais podem percor- rer vários locais, e seu local de aloja- mento depende da fonte e do volume relativo do fluxo sanguíneo aos teci- dos. Os locais mais comuns de em- bolias arteriais são as extremidades inferiores, cérebro, intestino e baço. Os danos aos tecidos afetados serão de maior ou menor grau de acordo com a vulnerabilidade desses teci- dos à isquemia, calibre do vaso oclu- ído e existência ou não de circulação 25DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS colateral. Porém, a maioria dos êmbolos sistêmicos provocam infarto nos tecidos afetados. causados por vasoespasmo, rompi- mento de placa de ateroma e tumores (compressão extrínseca do vaso). Os infartos são classificados de acor- do com a cor e presença ou ausência de infecção. Assim, eles podem ser: vermelhos (hemorrágicos) ou brancos (anêmicos) e podem ser sépticos ou assépticos. Os infartos vermelhos são causa- dos por oclusões venosas; em tecidos TVP EMBOLIA Embolia pulmonar Insuficiência ventricular direita Hipertensão pulmonar Hemorragias Infartos Trombos murais Tromboembolismo sistêmico Trombos de placas de ateroma Infarto da parede ventricular esquerda Trombos aórticos Infartos 6. INFARTO Um infarto é definido como uma área de necrose isquêmica causada pela falta de suprimento arterial ou dre- nagem venosa. Pode acometer qual- quer tecido do corpo, porém os infar- tos mais comuns são do miocárdio e cerebral. Normalmente os infartos são causa- dos pela oclusão arterial trombótica ou embólica, mas também podem ser ander Realce 26DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS frouxos onde o sangue pode se acu- mular na região infartada; em tecidos com circulação dupla, como o pulmão, pois isso permite o fluxo sanguíneo de um vaso paralelo desobstruído; na zona necrótica; em tecidos conges- tionados pelo fluxo venoso lento; e quando o fluxo é restabelecido em um local de necrose ou que estava ocluí- do. Esses infartos são mais frequentes no pulmão, onde aparecem macrófa- gos carregados de hemossiderina. Os infartos brancos ocorrem com oclusões arteriais em órgãos sólidos que possuem circulação arterial ter- minal, como coração, baço e rim, e onde a densidade do tecido limita a entrada de sangue dos leitos capila- res próximos à área necrótica. Os infartos sépticos ocorrem quan- do as vegetações das válvulas cardí- acas infectas embolizam ou quando microorganismos se instalam no teci- do necrótico. Esses infartos são subs- tituídos por abscessos, acompanhado de reação inflamatória mais vigorosa. A característica histológica do in- farto é a necrose coagulativa is- quêmica. Mas vale ressaltar que se a oclusão ocorrer antes do indivíduo morrer, não será possível identificar alterações histológicas, pois o tecido leva de 4 a 12 horas para exibir necro- se evidente. Além disso, nas margens do infarto se inicia uma inflamação aguda em poucas horas, que se de- fine dentro de 2 dias, e normalmente essa inflamação é acompanhada por mecanismos de reparo. A maioria dos infartos são substituídos por cicatriz (áreas de fibrose), com exceção do cérebro, onde o infarto causa necrose liquefativa. Os principais fatores que causam in- farto são: • A natureza do suprimento vas- cular: a falta de circulação cola- teral determina o quanto de dano a oclusão do vaso irá causar. Os pulmões, por exemplo, são mais protegidos de um infarto causado por trombo, pois apresentam du- plo suprimento arterial (pulmonar e brônquico). • A taxa de desenvolvimento da oclusão: as oclusões de desenvol- vimento lento têm menor probabi- lidade de provocar infarto, pois seu crescimento permite que haja tem- po para que se desenvolva circu- lação colateral alternativa, promo- vendo fluxo sanguíneo ainda que o vaso principal esteja obstruído. • A vulnerabilidade à hipóxia: quando privados de oxigênio por mais de 4 minutos os neurônios sofrem danos irreversíveis. As cé- lulas miocárdicas são mais resis- tentes à hipóxia, sobrevivendo até 30 minutos em isquemia, e após esse tempo os fibroblastos ainda estão ativos, vistos que participa- rão do processo de cicatrização da área infartada. 27DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS • Teor de oxigênio sanguíneo: a obstrução parcial de um vaso me- nor, que não causaria problemas em indivíduos normais, pode provocar infarto em paciente anêmico ou cianótico, visto que nesses casos, o indivíduo possui complicações no transporte de oxigênio (deficiências na hemoglobina). Necrose coagulativa INFARTO Vermelho (hemorrágico) Séptico Branco (anêmicos) Órgãos com dupla circulação Cicatriz fibrótica Abscessos Órgãos sólidos com circulação arterial terminal Necrose liquefativa 7. CHOQUE A principal característica do choque é hipoperfusão tecidual, o que normal- mente é causado por um estado de hipotensão sistêmica, que pode ser provocado por diminuição do débi- to cardíaco ou do volume sanguíneo circulante. Assim, o choque pode ser classificado em hipodinâmico, quan- do há déficit no débito cardíaco e consequente aumento da resistência vascular periférica (vasoconstrição), ou hiperdinâmico, relacionado à um alto débito cardíaco e baixo resistên- cia vascular periférica (vasodilatação acelerada). Porém, essas classifica- ções podem apresentar associadas nos casos de choque misto. As causas de choque se dividem nas seguintes categorias gerais: • Choque cardiogênico: ocorre quando o débito cardíaco está bai- xo devido à falência do miocárdio, o que pode ser causado por infartos, arritmias, compressão extrínseca (tamponamento cardíaco) ou obs- trução do fluxo (embolia pulmonar). • Choque hipovolêmico: resulta da diminuição do débito cardíaco como consequência da perda do volume sanguíneo ou plasmático, como ocorrem em casos de he- morragias graves e perda de líqui- dos nos grandes queimados. • Choque distributivo: A má perfu- são tecidual é resultado de vaso- dilatação periférica global que leva 28DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS a redução acentuada da pressão de enchimento capilar, compro- metendo o fornecimento de oxigê- nio pelos capilares. A vasodilata- ção periférica que leva ao choque distributivo pode ser causada por subtipos de choque: ◊ Séptico (inflamação -> ativação imunoló- gica -> lesão endo- telial -> aumento da permeabilidade vascular + síntese de óxido nítrico) ◊ Anafilático (prurido, rash cutâ- neo, rouquidão, dispneia, ma- nifestações do TGI) ◊ Neurogênico (lesão da medula espinhal acima do nível torácico superior, grave TCE ou fármacos anestésicos) Séptico TIPOS DE CHOQUE Hiperdinâmico Neurogênico Anafilático Hipovolêmico (hemorrágico) Hipodinâmico Cardiogênico Obstrutivo Distributivo As vias de morte celular no choque séptico ainda não são totalmente elu- cidadas, porém os choques hipovo- lêmico e cardiogênico normalmente evoluem passando pelos seguintes estágios: • Estágio inicial não progressivo: nesse momento, os mecanismos compensatórios reflexos são ati- vados e a perfusão dos tecidosé mantida. • Estágio progressivo: caracteriza- do por hipoperfusão tecidual e iní- cio do agravamento circulatório e desequilíbrio metabólico, cursando inclusive com acidose. • Estágio irreversível: é o estado em que o organismo sofreu lesão celular e tecidual incompatíveis com a vida, ainda que o equilíbrio hemodinâmico seja restabelecido. Os mecanismos compensatórios que mantém a perfusão dos órgãos 29DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS vitais no início do choque incluem os reflexos barorreceptores, liberação de catecolaminas, ativação do siste- ma renina-angiotensina-aldosterona (RAA), liberação de ADH e estimula- ção simpática generalizada. Tudo isso resulta em taquicardia, vasoconstri- ção periférica e conservação do líqui- do renal. Nos casos de não reversão do choque, o mesmo evolui substi- tuindo a respiração aeróbica intrace- lular por glicólise anaeróbica, visto a persistência do déficit de oxigênio, causando a produção excessiva de ácido lático. Com isso, se instala uma acidose metabólica, que diminui a resposta vasomotora, gerando vaso- dilatação e acúmulo de sangue na mi- crocirculação. No estágio irreversível, a lesão celular generalizada é causa- da pela saída das enzimas lisossômi- cas, o que agrava o estado de cho- que, consequentemente compromete a função contrátil do miocárdio (devi- do à síntese de óxido nítrico) e outros tecidos vitais, levando à óbito. ESTÁGIOS DO CHOQUE Mecanismos compensatórios ativos Perfusão mantida Hipoperfusão Desequilíbrio metabólico Agravamento circulatório Lesão celular e tecidual incompatíveis com a vida Estágio progressivo Estágio inicial não progressivo Estágio irreversível 30DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Robbins & Cotran - Patologia - Bases Patológicas Das Doenças - 9ª Ed. 2016. GOLDMAN, L. et al: Cecil Medicina. 25 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. Hoffbrand, A. Victor. Fundamentos em hematologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed,2013. ZAGO, Marco Antônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hemato- logia. São Paulo: Atheneu, 2013. FRANCO, Rendrik F. Fisiologia da coagulação, anticoagulação e fibrinólise. Medicina (Ribei- rão Preto. Online), v. 34, n. 3/4, p. 229-237, 2001. 31DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS
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