Buscar

PARTE 01 - Introdução_ao_Estudo_Histórico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Parte I
A NATUREZA DO
 CONHECIMENTO HISTÓRICO
1 História: Trajetória e Defi nições
A disciplina Introdução ao Estudo Histórico tem por finali-
dade dar familiaridade ao aluno iniciante de História em relação 
às especificidades do saber histórico. Que conteúdos estudar 
nesta disciplina? Isso dependerá de uma escolha do professor, 
pois é vasta a quantidade de saberes necessários aos estudantes 
de História. Nossa opção privilegia a metodologia, a noção de 
tempo e a função da história.
Neste tema os assuntos abordados versarão sobre o fazer 
histórico da Antiguidade aos tempos atuais, enfocando algumas 
questões específicas como o pensamento do historiador, a cien-
tificidade de sua produção, a escolha dos fatos e os diferentes 
usos do passado pelas sociedades humanas.
1.1 CRIAÇÃO DO MÉTODO
Iniciaremos a nossa discussão sobre os estudos históricos 
com uma afirmação do filósofo Collingwwod. Na obra A ideia de 
história, ele diz que a história serve para o autoconhecimento 
humano. Argumentando que por não termos meios de prever o 
14 Introdução ao Estudo Histórico
futuro, só podemos conhecer o que 
o homem fez, por isso, ele explica 
que o valor da história está então 
em nos ensinar. O que o homem tem 
feito e, deste modo, o que o homem 
é. Diante da afirmativa fica eviden-
ciada a importância do conheci-
mento histórico e a necessidade de 
dominar os seus métodos.
O método histórico: Heródoto
O discurso histórico ainda em vigor na sociedade atual teve 
o seu início na Antiguidade entre os gregos. É consenso entre os 
estudiosos que o primeiro historiador cuja obra sobreviveu aos 
nossos dias foi Heródoto1. Mas, quem foi Heródoto e quais 
as características de sua obra? Heródoto foi um geógrafo e his-
toriador grego, nascido no século V a.C. (485–420 a.C.) em Ha-
licarnasso (hoje Bodrum, na Turquia). É considerado por muitos 
como o pai da História, por ser autor de uma obra com o nome 
de História. O livro narra a invasão da Grécia pelos persas no 
século V a.C. A originalidade do seu texto consiste em relatar os 
acontecimentos a partir do uso de testemunhas.
Estátua de Heródoto, historiador da 
antiguidade, século V a. C. considerado 
o pai da História.
Fonte: http://pt.wikipedia.org
1 Para conhecer mais este 
assunto leia: HERÓDOTO. 
História: estudo crítico 
por Vitor de Azevedo. São 
Paulo: Ediouro, 2001. p 
9-42; e BLOCH, M. Apologia 
da história, ou o ofício do 
historiador. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar 2001. p.15-34.
Tema I | História: trajetória e defi nições 15
Heródoto inaugura o gênero da história com testemunhas, 
ou como dizemos hoje, com fontes. As fontes utilizadas pelo 
autor para compor a narração da guerra entre gregos e per-
sas foram os rapsodos (o nome dado a um artista popular ou 
cantor que, na antiga Grécia, ia de cidade em cidade recitando), 
soldados e os sátrapas (governadores das províncias persas). 
Outra característica importante da sua obra é que ela é fruto das 
viagens do autor pelo Egito, Fenícia, Babilônia e Pérsia. Isso o 
transforma em um geógrafo e, para alguns, numa espécie de 
antropólogo moderno, pois nestas viagens fazia a observação de 
sociedades e lugares.
História é a narrativa minuciosa das invasões médicas. É 
uma história universal, pois visa contar a história do mundo 
conhecido à época, com destaque para a guerra entre gregos e 
asiáticos. Faz também a descrição geográfica, étnica, costumes, 
religião dos lugares e povos visitados pelo autor.
A obra tem muitos méritos, mas não está isenta de críticas. 
Os estudiosos apontam entre os seus defeitos a credulidade no 
maravilhoso, ou seja, a crença em milagres ou na participação de 
seres sobrenaturais nos acontecimentos humanos, o excesso de 
elementos anedóticos, a ausência de julgamentos, pois o autor 
se limita a narrar os acontecimentos e deixar o julgamento para 
os leitores, e inexatidões. Entre as críticas positivas está o fato 
de o autor não fazer panegírico, isto é, um discurso que exalta 
as qualidades de uma pessoa. A proposta de Heródoto é fazer o 
relato simples e veraz.
Se compararmos Heródoto com Tucídides, outro histo-
riador grego da Antiguidade, século V a.C, perceberemos que 
aquele é um cronista atento e minucioso, faz incursões pelo 
extraordinário e maravilhoso. Os equívocos presentes na obra 
de Heródoto devem-se aos erros de informantes, intérpretes e 
guias. Uma diferença da obra de Tucídides é a concepção de que 
a ação humana é resultado do caráter e da situação do indivíduo, 
16 Introdução ao Estudo Histórico
portanto, ele abandona a explicação das ações humanas a partir 
do fantástico. Esta é uma de suas críticas ao seu antecessor.
Estátua de Tucídides, historiador grego 
do século V antes de Cristo.
Fonte: http://pt.wikipedia.org
Antes de Heródoto existiam outras 
formas de contar a história. Por exemplo, 
Cadmos antes do século V a.C. reuniu a tradição oral misturada 
à fantasia mitológica, mas Heródoto marcou o fim deste estilo 
de transportar a epopeia para a historiografia. Antes dele exis-
tiam os logógrafos que recolhiam notícias recheadas de ide-
alizações. Heródoto foi o primeiro a fazer a narrativa singela 
de fatos reais. Entretanto, nem todos seguiram o seu exemplo, 
um milênio após a invenção do seu método histórico, o bispo e 
teólogo francês Bossuet (1627-1704), já no século XVII, fala na 
providência divina interferindo nos acontecimentos históricos.
O método histórico no século XX: Marc Bloch
Para entendermos a visão de história na atualidade, recor-
ramos a análise da obra Apologia da história feita por Jacques 
Le Goff. Desde Heródoto até o século XX, a história passou por 
avanços e recuos. Por volta dos anos 1930, Marc Bloch estabele-
ceu um método e defendeu a história como uma ciência. O autor 
tem como ponto de partida uma pergunta sobre a legitimidade 
da história ou sua serventia, a qual responde dizendo que a história 
distrai, “tem seus gozos estéticos próprios” e que “Evitemos re-
tirar de nossa ciência sua parte de poesia”. Esta é uma das suas 
legitimidades, mas não é a única. A distração da história e a sua 
Tema I | História: trajetória e defi nições 17
aproximação com a arte não tira o seu caráter científico, não a 
transforma em ficção. Ela tem métodos que devem ser conheci-
dos por todos os que pretendem enveredar por seus caminhos.
A visão moderna de história valoriza o fundamento científico 
positivista, mas critica a estrita observância dos fatos que 
despreza a interpretação. Critica a história que mutila o homem, 
visualizando-o apenas no seu aspecto 
político ou econômico, e se interessa pelo 
homem integral, fazendo uma história do 
corpo, da sensibilidade, da mentalidade e 
não apenas ideias e atos.
Não há questionamentos ao fato de que a história come-
çou a sua maturidade com o início da crítica dos documentos 
de arquivos. O auge deste movimento foi o século XIX, quan-
do surgiram métodos para a divulgação destes procedimentos. 
Mas atualmente tal método foi aperfeiçoado, em muitos aspec-
tos foi superado. A aproximação com as ciências sociais, espe-
cialmente a sociologia, contribuiu para tal superação. Mas, Marc 
Bloch não abandona o acontecimento e o individual. Daí uma das 
diferenças entre história e sociologia. Após sofrer várias críticas, 
a história avançou muito em seus métodos e nas últimas déca-
das aconteceu a sua ampliação e aprofundamento. Como fruto 
destas transformações ela passou a tratar de novos problemas, 
novas abordagens e novos objetos.
Marc Bloch foi fuzilado pelos alemães em 
1944 por fazer parte da resistência francesa 
à II Guerra.
Fonte: http://laviedesbetes.files.wordpress.com
18 Introdução ao Estudo Histórico
Superando a ideia convencional de que a história é o estu-
do do passado humano, Marc Bloch traz a noção de que a histó-
ria é busca e que o seu objeto de estudo são os homens no tem-
po. Esta noção é inovadora porque fala dos homens no plural, 
superando a história dos homens ilustres. E também falana com-
preensão do presente pelo passado e do passado pelo presente. 
Em outras palavras, o passado não é recuperado pelo presente, 
mas o conhecimento que temos dele é fruto de interpretações, 
questionamentos e silenciamentos.
Bloch também atenta para um elemento importante na in-
vestigação histórica, o fato de os documentos e testemunhos do 
passado só falarem quando sabemos interrogá-los. Neste caso, 
percebemos a importância da imaginação e do questionamento 
do pesquisador. Nesta questão do método, ele também diz que 
o historiador deveria relatar os problemas enfrentados durante a 
sua investigação como as ausências de testemunhos ou as res-
postas não encontradas para algumas questões. Desta forma, o 
leitor conheceria as fontes do historiador e o caminho que ele 
percorreu até chegar as suas conclusões.
Por fim, uma lição valorosa que aprendemos com o mestre 
Bloch é que o papel da história é compreender e não julgar o 
passado. Enquanto sujeitos, podemos até nos indignarmos com 
um fato do passado, mas como estudiosos nossa tarefa consiste 
em entender e explicar a conjuntura em que os acontecimentos 
se deram.
Tema I | História: trajetória e defi nições 19
Texto Complementar
LIVRO I (CLIO) DE HERÓDOTO.
Ao escrever a sua História, Heródoto de Halicarnasso teve 
em mira evitar que os vestígios das ações praticadas pelos ho-
mens se apagassem com o tempo e que as grandes e maravi-
lhosas explorações dos Gregos, assim como as dos bárbaros, 
permanecessem ignoradas; desejava ainda, sobretudo, expor os 
motivos que os levaram a fazer guerra uns aos outros.
I — Os Persas mais esclarecidos atribuem aos Fenícios a 
causa dessas inimizades. Dizem eles que esse povo, tendo vindo 
do litoral da Eritréia para as costas do nosso país, empreendeu 
longas viagens marítimas, logo depois de haver-se estabeleci-
do no país que ainda hoje habita, transportando mercadorias do 
Egito e da Assíria para várias regiões, inclusive para Argos. Esta 
cidade era, então, a mais importante de todas as do país conheci-
do atualmente pelo nome de Grécia. Acrescentam que alguns fe-
nícios, ali desembarcando, puseram-se a vender mercadorias, e 
que cinco ou seis dias após sua chegada, quase concluída a ven-
da, grande número de mulheres dirigiu-se à beira-mar. Entre elas 
estava a filha do rei. Esta princesa, filha de Inaco, chamava-se Io, 
nome por que era conhecida pelos Gregos. Quando as mulheres, 
postadas junto aos barcos, compravam objetos de sua preferên-
cia, os fenícios, incitando uns aos outros, atiraram-se sobre elas. 
A maior parte delas logrou fugir, mas Io foi capturada, juntamen-
te com algumas de suas companheiras. Os fenícios conduziram-
nas para bordo e fizeram-se à vela em direção ao Egito.
II — Eis como, segundo os Persas — nisto pouco de 
acordo com os Fenícios — Io veio parar no Egito. Essa questão 
foi o início de todas as outras. Acrescentam os Persas que, 
20 Introdução ao Estudo Histórico
pouco depois, alguns gregos, cujos nomes não gravaram, vieram 
a Tiro, na Fenícia, e raptaram Europa, filha do rei. Eram, sem 
dúvida, Cretenses. Ficaram, assim, quites os dois povos, mas os 
Gregos tornaram-se depois culpados de uma segunda ofensa. 
Dirigiram-se num grande navio a Aea, na Cólquida, sobre o Faso, 
e, ultimados os negócios que ali os levaram, arrebataram Me-
déia, filha do rei, e tendo esse príncipe enviado um embaixador 
à Grécia para exigir a entrega da filha e a reparação da injúria, 
responderam-lhe que, como os Colquidenses não haviam dado 
nenhuma satisfação pelo rapto de Io, eles não o dariam absoluta-
mente pelo de Medéia.
III — Dizem ainda os Persas que na geração seguinte, Páris, 
filho de Príamo, tendo ouvido falar no caso, quis também raptar 
e possuir uma mulher grega, persuadido de que se outros não 
foram punidos, não o seria também. Raptou, então, Helena; mas 
os Gregos resolveram, antes de qualquer outra iniciativa, enviar 
embaixadores para exigir a devolução de Helena e pedir satisfações.
Os Troianos, além de invocar aos Gregos o rapto de Medéia, 
ainda os censuraram por exigirem satisfações, uma vez que eles 
não as tinham dado aos outros e nem entregue a pessoa reclamada.
IV — Até então, não houvera de uma parte e de outra mais 
do que raptos; mas depois do acontecido, os Gregos, julgando-se 
ofendidos em sua honra, fizeram guerra à Ásia, antes que os 
asiáticos a declarassem à Europa. Ora, conquanto lícito não seja 
raptar mulheres, dizem os Persas, é loucura vingar-se de um 
rapto. Manda o bom senso não fazer caso disso, pois sem o 
seu próprio consentimento decerto não teriam as mulheres sido 
raptadas. Asseguram os Persas que, embora asiáticos, ainda não 
haviam tido conhecimento de casos semelhantes, naquela par-
te do mundo. Entretanto, os Gregos, por causa de uma mulher 
lacedemônia, equiparam uma frota numerosa, desembarcaram 
Tema I | História: trajetória e defi nições 21
na Ásia e destruíram o reino de Príamo. Desde essa época, os 
Persas passaram a encarar os Gregos como inimigos, pois jul-
gam que a Ásia lhes pertence tanto quanto as nações bárbaras 
que ocupam, enquanto consideram a Europa e a Grécia como 
formando um continente à parte.
V — Tal é a maneira pela qual os Persas narram esses acon-
tecimentos. À tomada de Tróia atribuem eles a causa do seu ódio 
aos Gregos. No que concerne a Io, os Fenícios não estão de acor-
do com os Persas. Dizem não ter havido rapto; que apenas a con-
duziram ao Egito com o seu próprio consentimento. Vendo-se 
grávida, a princesa, receando a cólera dos pais, entrou em enten-
dimento com o comandante do navio fenício, em Argos, com ele 
partindo, a fim de ocultar sua desonra. Eis aí como Persas e Fení-
cios narram os fatos. Quanto a mim, não pretendo absolutamen-
te decidir se as coisas se passaram dessa ou de outra maneira; e 
depois de ter narrado o que conheço sobre o primeiro autor das 
injúrias feitas aos Gregos, prossigo minha história, na qual trata-
rei tanto dos pequenos Estados como dos grandes. Os outrora 
florescentes, encontram-se hoje, na sua maioria, em completa 
decadência, e os que florescem hoje, eram outrora bem pouca 
coisa. Persuadido da instabilidade da ventura humana, estou de-
cidido a falar igualmente de uns e de outros.
VI — Creso era lídio por nascimento, filho de Aliata e rei 
das nações banhadas pelo Hális, no seu curso. Este rio, corre do 
sul, atravessa os países dos Sírios e dos Paflagônios, e desem-
boca ao norte, no Ponto Euxino. Pelo que me é dado saber, foi o 
príncipe o primeiro bárbaro a forçar uma parte da Grécia a lhe 
pagar tributo e não ter-se aliado com a outra. Submeteu os 
Iônios, os Eólios e os Dórios estabeledos na Ásia, e fez aliança 
com os Lacedemônios. Antes do seu reinado, todos os gregos 
eram livres. A expedição dos Cimerianos contra a Jônia, anterior a 
22 Introdução ao Estudo Histórico
Creso, não fez mais do que arruinar as cidades, pois não passou 
de incursão seguida de pilhagem.
FONTE: Heródoto (484 a.C. - 425 a.C.). História. Traduzido por Pierre Henri 
Larcher (1726–1812). Versão para eBook, eBooksBrasil. 2006.
Para Refletir
• Junte-se aos seus colegas e discutam no fórum do AVA a 
partir da leitura do tema:
• O que você entendeu sobre o método histórico inventado 
por Heródoto?
• O que você entendeu sobre o fazer histórico na atualidade?
1.2 TRABALHO DO HISTORIADOR
O objetivo deste conteúdo é falar 
do trabalho do historiador enquanto 
um procedimento científico. Destaca-
remos de que forma o pesquisador faz 
uma observação direta ou indireta do 
passado e mencionaremos a importân-
cia das fontes, elementos fundamentais 
para a credibilidade da história.
O olhar do historiador
O objeto de estudo do historiador não é mais o passado 
humano, mas “os homens no tempo2”. Esta definição leva em 
2 Saiba mais sobre 
este assunto lendo: 
BLOCH, M. Apologia 
da história, ou, o ofício 
do historiador. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 
2001. p.69-87.
Tema I | História: trajetória e defi nições 23
consideraçãoque o passado não chega puro até o presente, 
porque os pesquisadores do presente lançam questões sobre o 
passado. Assim, o acesso do historiador ao seu objeto de estudo 
se dá a partir do distanciamento. Isto ocorre porque diferente de 
outros cientistas, o historiador não presencia a maioria dos even-
tos que estuda, portanto, para ele é impossível constatar os fatos 
que estuda. Por este raciocínio, quem se ocupa do presente pro-
duziria um conhecimento direto, e, quem se ocupa do passado 
produziria um conhecimento indireto. Esta é a crítica que muitas 
vezes é feita à História.
Entretanto, a observação direta do presente é um artifício. 
A capacidade de observarmos o que ocorre a nossa volta é limi-
tada. Tomemos o exemplo de um general no teatro da guerra. 
Ele só pode parcialmente observar diretamente o que ocorre a 
sua volta, o restante das notícias que chegam as suas mãos de-
pende da observação dos seus tenentes e outros comandantes 
que preparam os seus relatórios. Vemos que, mesmo em relação 
a fatos da nossa época, dependemos de outros informantes para 
termos acesso a eles. Esta situação não difere da posição do his-
toriador. Este também depende dos testemunhos de quem pre-
senciou os eventos passados. Do ponto de vista da observação 
dos acontecimentos, a situação de quem observa o presente ou 
o passado remoto é similar, isto é, não consegue observar tudo 
o que ocorre a sua volta.
Fonte: http://batalhamedieval.queroumforum.com
24 Introdução ao Estudo Histórico
A observação do passado seria tão indireta? Se analisarmos 
bem, a resposta é não. O pesquisador que defende a necessidade 
de presenciar os fatos está imbuído de uma concepção de histó-
ria específica. É, portanto, a História Política, predominante no fi-
nal do século XIX e início do XX, baseada na descrição dos acon-
tecimentos, grandes acontecimentos, que mais carece da obser-
vação direta. Da mesma forma, o uso dos testemunhos escritos 
e não-escritos permite a observação direta do passado, para a 
concepção de história que busca o entendimento contextual. Ao 
recorrer aos documentos, objetos ou outros testemunhos, o his-
toriador está tendo um acesso direto ao passado. Percebemos 
que o conhecimento histórico necessita de vestígios, também 
chamados de fontes, testemunhos ou registros.
A observação direta ou indireta do passado implica em 
presenciar ou não os acontecimentos. A diferença entre a inves-
tigação do mais remoto ou do mais recente é apenas de grau. Se 
no presente alguém não fizer os registros necessários dos acon-
tecimentos, ou se a memória de quem presenciar um evento não 
for confiável, fica impossível após algum tempo recuperar tais 
informações com precisão.
Sabemos que o passado é imutável, mas o seu conheci-
mento é progressivo. Nos séculos XIX e XX, graças à arqueologia, 
muitas civilizações, antes ignoradas, passaram a ser conhecidas. 
Cidades, línguas, religiões até então desconhecidas foram des-
cobertas. Mas a nossa capacidade de conhecer o passado não é 
ilimitada. Só conhecemos aquilo que o passado nos permite sa-
ber. Para certas épocas, o pensamento, as atividades quotidianas 
entre outras, não são possíveis de serem recuperadas. Às vezes, 
o passado é um mundo sem indivíduos, exatamente porque eles 
não deixaram suas memórias. Portanto, o pesquisador quando 
necessário for deve honestamente confessar a sua ignorância.
Tema I | História: trajetória e defi nições 25
Os testemunhos
Os testemunhos do passado que chegam aos historiadores 
podem ser classificados como voluntários ou involuntários. 
Livros, cartas, biografias, diários, podem ilustrar esta primeira 
categoria de documentos. Ou seja, aqueles produzidos para ser-
virem de prova, para informar ao leitor. Estes têm a vantagem 
de oferecer um enquadramento cronológico preciso. Porém, às 
vezes, não é a informação contida nestas fontes que interessa 
ao pesquisador, mas exatamente o que elas deixam 
de falar, as entrelinhas, demandando a curiosidade e 
a astúcia do investigador.
Vaso grego. Exemplo de testemunho do 
passado usado como fonte pelo historiador.
Fonte: http://calcanhar.wordpress.com
O segundo caso, os documentos involuntários, 
como os restos de cozinha descartados, moedas, inscrições, ar-
tefatos e determinados tipos de documentos escritos, podem 
servir como testemunhos de um modo de vida. São involuntá-
rios porque sua produção não visou informar à opinião pública 
ou aos historiadores futuros. Eles poderiam ser tratados como 
mais confiáveis, por serem produzidos à revelia e não trazer uma 
mensagem préestabelecida. Não que existam documentos mais 
verdadeiros que outros, porém, a preferência do pesquisador recai 
sobre as fontes menos carregadas, mensagens intencionais.
Por mais claro que seja o documento, ele só fala quando sa-
bemos interrogá-lo. Quem se especializa no estudo da Idade Mé-
dia ou da Pré-história sabe precisamente o que perguntar a cada 
documento da época. A observação passiva não é produtiva. 
É necessário que se façam perguntas aos documentos para se 
obter respostas. Sem essa inquirição o historiador não aparece, 
sua existência seria desnecessária.
ao
de
p
Fon
26 Introdução ao Estudo Histórico
À disposição do historiador existe uma diversidade de tes-
temunhos históricos. Vai muito além do texto escrito, “tudo o 
que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo que toca 
pode e deve informar sobre ele”, diz Marc Bloch (2001, p. 79). As 
fontes não se limitam aos textos escritos oficiais como apregoavam 
os positivistas. A ausência de estudos sobre determinados temas 
ou épocas, às vezes, não se deve à falta de testemunhos, mas à 
falta de investigação, de pesquisa.
Não existe uma fonte específica para cada problema 
histórico. A profundidade dos fatos só pode ser atingida com o 
maior número possível de testemunhos. Assim, textos, pinturas, 
fotografias e outros testemunhos, podem e devem ser usados 
conjuntamente. Qualquer estudo histórico torna-se mais rico, 
mais confiável se estiver alicerçado em várias fontes.
Onde e como encontrar os documentos? Marc Bloch (2001, 
p. 82) dá uma pista:
Reunir os documentos que estima necessários é uma 
das tarefas mais difíceis do historiador. De fato ele não 
conseguiria realizá-la sem a ajuda de guias diversos: 
inventários de arquivos ou de bibliotecas, catálogos 
de museus, repertórios bibliográficos de toda sorte.
Os testemunhos necessários ao historiador comumente 
não estão acessíveis. A dificuldade de acessá-los é um dos 
problemas da profissão. A negligência de uns pode causar a 
perda ou a destruição dos documentos. A paixão pelo sigilo 
de outros faz com que inúmeros documentos de ordens reli-
giosas, de instituições bancárias, de famílias etc. sejam interdi-
tos ao grande público. A acessibilidade ou a inacessibilidade aos 
registros é o que interfere no conhecimento ou esquecimento de 
uma época, de um contexto, de uma geração inteira, até de 
um povo.
Tema I | História: trajetória e defi nições 27
Texto Complementar
A IMPORTÂNCIA DA OBSERVAÇÃO HISTÓRICA
[Mas tem mais.] A observação do passado, mesmo de um 
passado muito recuado, será com certeza sempre “indireta” a 
esse ponto?
Vemos muito bem por que razões a impressão desse dis-
tanciamento entre o objeto do conhecimento e o pesquisador 
impôs-se com tanta força a tantos teóricos da história. É que 
pensavam antes de tudo em uma história de acontecimentos, 
até mesmo de episódios: quero dizer, aqueles que, certo ou erra-
do -não é o momento de examinar -, dão extrema importância 
a retraçar exatamente os atos, palavras ou atitudes de alguns 
personagens, agrupados em uma cena de duração relativamente 
curta, em que se concentram, como na tragédia clássica, todas 
as forças da crise do momento: jornada revolucionária, combate, 
entrevista diplomática. Conta-se que, em 2 de setembro de 1792, 
a cabeça da princesa Lamballe havia desfilado na ponta de um 
chuço sob as janelas da família real. É verdade isso? É falso? O 
sr. Pierre Caron,que escreveu sobre os Massacres um livro de 
admirável probidade, não ousa se pronunciar. Se lhe houvesse 
sido dado contemplar, ele próprio, de uma das torres do Templo, 
o terrível cortejo, teria seguramente a que se ater. Pelo menos 
supondo que, tendo preservado, como podemos acreditar, nessas 
circunstâncias todo seu sangue-frio de cientista, houvesse, além 
disso, por uma justa desconfiança de sua memória, tomado cui-
dado de anotar imediatamente suas observações. Em tal caso, 
sem nenhuma dúvida, o historiador se sente, em relação à boa 
testemunha de um fato presente, em uma posição algo humi-
lhante. Fica como que no fim de uma fila na qual os avisos são 
transmitidos, desde a frente, de fileira em fileira. Não é um lugar 
28 Introdução ao Estudo Histórico
muito bom para se ser informado com segurança. Assim, um 
tempo atrás, presenciei, durante uma troca de guarda noturna, 
passar, ao longo da fila, o grito: “Atenção! Buracos [de obus] à 
esquerda!” O último homem recebeu-o sob a forma “Para a es-
querda”, deu um passo nesse sentido e foi tragado.
(...)
Ora, assim também muitos outros vestígios do passado 
nos oferecem um acesso do mesmíssimo nível. É o caso, em 
sua quase totalidade, da imensa massa de testemunhos não-
escritos, e até de um bom número de escritos. Se os mais co-
nhecidos teóricos de nossos métodos não tivessem manifesta-
do tão espantosa e soberba indiferença em relação às técnicas 
próprias da arqueologia, se tivessem sido, na ordem documen-
tária, obcecados pelo relato, ao passo que na ordem dos fatos, 
pelo acontecimento, sem dúvida os veríamos menos prontos a 
nos jogar para uma observação eternamente dependente. Nos 
túmulos reais de Ur, na Caldéia, encontraram-se contas de colar 
feitas de amazonita. Como as jazidas mais próximas dessa pedra 
situam-se no coração da Índia ou nos arredores do lago Baikal, 
parece se impor a conclusão de que, a partir do terceiro milênio 
antes de nossa era, as cidades do Baixo Eufrates mantinham re-
lações de troca com terras extremamente longínquas. A indução 
pode parecer boa ou frágil. Qualquer juízo que se faça sobre ela, 
trata-se inegavelmente de uma indução do tipo mais clássico; 
fundamenta-se na constatação de um fato e a palavra de outro 
em nada interfere nisso. Mas os documentos materiais não são, 
longe disso, os únicos a possuir esse privilégio de poderem ser 
apreendidos de primeira mão. Do mesmo modo o sílex, talhado 
outrora pelo artesão da idade da pedra,] um traço de linguagem, 
uma regra de direito incorporada em um texto, um rito fixado 
por um livro de cerimônias ou representado sobre uma estela 
são realidades que nós próprios captamos e que exploramos por 
um esforço de inteligência estritamente pessoal. [Nenhum outro 
Tema I | História: trajetória e defi nições 29
cérebro humano precisa ser convocado para isso, como interme-
diário. Não é absolutamente verdade, para retomar a comparação de 
ainda há pouco, que o historiador seja necessariamente reduzido 
a só saber o que acontece em seu laboratório por meio de relatos 
de um estranho. Ele só chega depois de concluído o experimen-
to, sempre. Mas, se as circunstâncias o permitirem, o experimen-
to terá deixado resíduos, os quais não é impossível que perceba 
com os próprios olhos.]
Fonte: BLOCH, M. Apologia da história, ou, o ofício do historiador. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p.70-73.
Para Refletir
• Reflita e debata com seus colegas no fórum do AVA os 
questionamentos a seguir:
• O que você entendeu sobre a ideia de que a observação 
direta do presente é um artifício?
• Como explicar a afirmativa de que o conhecimento histórico 
é progressivo?
• Como você entendeu a comparação entre a situação de 
um historiador e a de um guarda noturno?
30 Introdução ao Estudo Histórico
1.3 RELAÇÃO ENTRE PASSADO E PRESENTE
Qual é o passado que interessa à história? Existe alguma 
relação entre passado e presente? A primeira pergunta Marc 
Bloch (2001, p.41) responde afirmando que é aquele em que 
há predomínio das ações humanas. Seu esclarecimento 
para a segunda pergunta é que ambos, passado e presente 
se influenciam.
Preservar a memória das ações humanas é uma prática 
muito antiga, assim como é antiga a palavra história. Desde o 
século V antes de Cristo ela já era empregada com o sentido que 
tem hoje - investigação das ações dos homens através de tes-
temunhos (fontes, registros etc.). Mas, diferentemente da histo-
ria construída pelos antigos, para a história contemporânea não 
é somente a ação individual que interessa. Sua preocupação é 
mais ampla, tem a ver com a coletividade. Não procuramos mais 
destacar apenas os atos dos heróis como se fazia no passado, 
pelo contrário, as ações, as crenças, o comportamento dos indi-
víduos devem ser levados em consideração e estudados.
O objeto de estudo do historiador, segundo o pensador 
francês Marc Bloch é a investigação dos “homens” através do 
tempo. Não se trata apenas do passado, mas da relação entre 
passado e presente e vice-versa. Considerar que a história es-
tuda “o passado humano” implicaria dizer que, o presente não 
influencia o passado e este chegaria intacto até nós. Existem al-
guns fenômenos naturais que são vistos numa perspectiva histó-
rica como as erupções vulcânicas, os avanços e recuos do mar 
etc. Porém, só são de domínio da história os acontecimentos nos 
quais existe a prevalência do homem, quando ele é agente ou 
paciente. Outras ciências estudam os acontecimentos que não 
são frutos da ação humana como a geologia, a geomorfologia, a 
astronomia, etc.
Tema I | História: trajetória e defi nições 31
Os homens são percebidos pela História através de diver-
sificados testemunhos, entre eles, vestígios na paisagem, textos 
escritos, monumentos, cultura material e imaterial entre outros. 
Procede-se a análise desses registros de forma precisa e tam-
bém com o uso da imaginação, da sugestão. O conhecimento 
histórico não é atingido apenas por meio da ciência, dos dados 
exatos, é necessária uma dose de arte, de interpretação. Para 
ilustrar este caso, basta pensar como se faz a análise de uma 
fotografia, de uma pintura.
O papel do pesquisador é analisar os acontecimentos, ele 
não deve apenas listar os fatos cronologicamente, mas deve 
situá-los dentro de um contexto. Por exemplo, se falamos de 
Martinho Lutero e da reforma protestante no século XVI, temos 
que situar os fatos ante aos problemas sociais, culturais e eco-
nômicos da época, as relações entre a religião e a política, enfim, 
o contexto.
Diz Marc Bloch (2001, p. 58): “devemos considerar o 
conhecimento do mais antigo como necessário ou supérfluo 
para a compreensão do mais recente?”. Esta questão é funda-
mental para entendermos que relação há entre o passado e o 
presente.
Martinho Lutero. Autor da Reforma 
Protestante que dividiu o cristianismo. 
É tarefa do historiador compreender a 
sua época, as suas ideias e a aceitação 
delas.
Fonte: http://www.ielpa.org
32 Introdução ao Estudo Histórico
Alguns estudiosos procuravam “explicar o mais próximo 
pelo mais distante”, esclarecer o presente pelo mais antigo. Neste 
caso, a origem seria o começo ou a causa dos acontecimentos? 
É um proceder problemático, pois onde localizar a origem? Onde 
buscar a origem do feudalismo: em Roma ou na Germânia? Na 
maior parte dos eventos históricos a localização desse ponto ini-
cial é algo impreciso, inalcançável. Fazer uso desse expediente, 
geralmente, redunda na justificação ou condenação do passado. 
Mas o julgamento é inimigo da história. Cabe a esta entender, 
compreender e não louvar ou condenar o que os homens do 
passado fizeram. Em suma, não devemos esquecer que os fe-
nômenos históricos também são explicados pelo seu momento.
Castelo de Bodian, Inglaterra. Simboliza o Feudalismo e ilustra 
a pergunta sobre onde encontrar a sua origem, em Roma, na 
Germania.
Fonte: http://www.historiadomundo.com.br
Outros historiadores agiam de forma contrária, eram 
adeptos do “presentismo”, istoé, viam os acontecimentos do 
presente como se fossem desligados do passado, como se em 
algum momento surgisse uma barreira separando o presente do 
Tema I | História: trajetória e defi nições 33
passado. Mas, o que é o presente? É um instante que, mal 
nasce, já morre. Então, a separação entre passado e presente é 
arbitrária, só existe nas nossas cabeças. Alguns pesquisadores 
pretendiam distanciar-se da época de estudo. Assim, defendiam 
que a história estudaria a época antiga e os fatos recentes seriam 
dominados por sociólogos, economistas, jornalistas, etc. Acha-
vam que as mudanças técnicas ocorridas no século XIX distan-
ciaram os homens do passado. Porém, é preciso considerar que, 
mesmo durante as mudanças rápidas, há permanências, uma 
geração não esquece totalmente o que aprendeu com a sua an-
tecessora, pois as gerações mantêm contatos e se influenciam. 
Tal influência não pode ser medida pela distância entre o mais 
antigo e o mais recente.
De acordo com Marc Bloch (2001, p.65), a solidariedade 
das épocas tem sentido duplo, isto é, a compreensão do presen-
te requer o conhecimento sobre o passado. Através das nossas 
experiências cotidianas podemos reconstituir o passado, desta-
cando as mudanças e as permanências. Também o presente lan-
ça novas questões ao passado, novas interrogações. É assim que 
se une “o estudo dos mortos ao dos vivos”. Em síntese, é inegá-
vel que existe um relacionamento entre o presente e o passado. 
Nosso papel enquanto indivíduos ou historiadores é perceber 
essa relação, como ela ocorre.
34 Introdução ao Estudo Histórico
Texto Complementar
A IMPORTÂNCIA DA IMAGINAÇÃO NA HISTÓRIA.
Pois o frêmito da vida humana, que exige um duríssimo 
esforço de imaginação para ser restituído aos velhos textos, é 
[aqui], diretamente perceptível a nossos sentidos. Li muitas ve-
zes, narrei freqüentemente, relatos de guerras e de batalhas. Co-
nhecia eu verdadeiramente, no sentido pleno do verbo conhecer, 
conhecia por dentro, antes de ter eu mesmo experimentado a 
atroz náusea, o que são, para um exército, o cerco, para um povo, 
a derrota? Antes de ter eu mesmo, durante o verão e o outono 
de 1918, respirado a alegria da vitória – na expectativa, e decerto 
espero, de com ela encher uma segunda vez meus pulmões, mas 
o perfume, ai de mim, não será mais completamente o mesmo 
-, sabia eu verdadeiramente o que encerra essa bela palavra? Na 
verdade, conscientemente ou não, é sempre a nossas experiên-
cias cotidianas que, para nuançá-las onde se deve, atribuímos 
matizes novos, em última análise os elementos, que nos servem 
para reconstituir o passado: os próprios nomes que usamos a 
fim de caracterizar os estados de alma desaparecidos, as formas 
sociais evanescidas, que sentido teriam para nós se não hou-
véssemos antes visto homens viverem? Vale mais [cem vezes] 
substituir essa impregnação instintiva por uma observação vo-
luntária e controlada. Um grande matemático não será menos 
grande, suponho, por haver atravessado de olhos fechados o 
mundo onde vive. Mas o erudito que não tem o gosto de olhar a 
seu redor nem os homens, nem as coisas, nem os acontecimen-
tos, [ele] merecerá talvez, como dizia Pirenne, o título de um útil 
antiquário. E agirá sensatamente renunciando ao de historiador.
Além de tudo, a educação da sensibilidade histórica nem 
sempre está sozinha em questão. Ocorre de, em uma linha dada, 
o conhecimento do presente ser diretamente ainda mais impor-
tante para a compreensão do passado.
Tema I | História: trajetória e defi nições 35
Com efeito, seria um erro grave acreditar que a ordem 
adotada pelos historiadores em suas investigações deva neces-
sariamente modelar-se por aquela dos acontecimentos. Livres 
para em seguida restituir à história seu movimento verdadeiro, 
eles frequentemente têm proveito em começar por lê-la, como 
dizia Maitland, “as avessas”. Pois a demarche natural de qualquer 
pesquisa é ir do mais ou do menos mal conhecido ao mais obs-
curo. Sem dúvida, falta, e muito, para que a luz dos documentos 
se faça regularmente mais viva à medida que percorremos o fio 
das eras. Somos incomparavelmente menos informados sobre 
o século X de nossa era, por exemplo, do que sobre a época de 
César ou de Augusto. Na maioria dos casos, os períodos mais 
próximos não coincidem menos nesse aspecto com as zonas de 
clareza relativa. Acrescentem que, ao proceder, mecanicamente, 
de trás para frente, corre-se sempre o risco de perder tempo na 
busca das origens ou das causas de fenômenos que, à luz da 
experiência, irão revelar-se, talvez, imaginários. Por ter-se omitido 
de praticar, ali onde se impunha, um método prudentemente re-
gressivo, os mais ilustres dentre nós às vezes se entregaram a 
estranhos erros.
Fonte: BLOCH, M. Apologia da história, ou, o ofício do historiador. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2001. p. 66-67.
36 Introdução ao Estudo Histórico
Para Refletir
• A respeito do objeto de estudo da História, o que ela busca 
ao se debruçar nos documentos escritos, vestígios na pai-
sagem, instituições.
• Escolha um fato histórico de qualquer época e exercite a sua 
análise considerando o contexto em que ele aconteceu.
• Na hora de interpretar os fatos históricos o historiador pode 
fazer várias opções. Dentre estas, esclareça como você en-
tendeu os seguintes procedimentos: explicar o presente 
pela origem mais remota; analisar o presente sem nenhu-
ma relação com o passado.
• É possível alguém ser historiador e não gostar de olhar 
ao seu redor, nem de observar os homens, as coisas e os 
acontecimentos? (ver texto complementar)
1.4 HISTÓRIA COMO CIÊNCIA
O que a História tem de ciência e de arte? A História é a 
mesma desde seu nascimento na Grécia Antiga, no século V a.C. 
até os dias de hoje? Como se deu a formação deste campo do 
conhecimento? Serão estas as temáticas discutidas a seguir.
No século XX travou-se uma discussão a propósito da história 
ser uma ciência ou uma arte. Jacques Le Goff sustenta ser ela 
uma ciência porque precisa de técnicas, de métodos e de ser ensinada. 
Concordando com as ideias do século anterior, frisa que a história 
se faz com documentos, mas o documento já é pré-selecionado 
antes de ser usado pelo historiador. Logo, existe uma parte de 
subjetividade na produção desse conhecimento. Seria uma ciên-
Tema I | História: trajetória e defi nições 37
cia especial que precisa e muito da 
imaginação. Nesse sentido, é também 
uma arte.
Os historiadores do XIX acredi-
tavam ser possível a fidelidade aos do-
cumentos. Fustel de Coulanges3 dizia 
que devemos procurar os fatos não na imaginação, nem na lógi-
ca, mas nos textos escritos e na falta de textos dever-se-ia pedir 
as línguas mortas o seu segredo. Ou seja, a fonte predominante era 
o texto escrito e abria-se uma exceção para 
o uso de outras fontes somente quando não 
houvesse documentos escritos.
Após as limitações impostas ao fazer histórico, observadas 
neste século, houve renovações. Entre elas, a possibilidade de fa-
zer uso de documentos não escritos. Esta mudança já vinha ocor-
rendo desde o século XVIII, mas não tinha tanto sucesso entre 
os historiadores. Trata-se do papel da Arqueologia que ampliou o 
conhecimento sobre a História Antiga, a Proto-História e a Pré-His-
tória, a partir das escavações e do uso dos artefatos encontrados.
A Arqueologia influenciou bastante a História devido ao 
seu interesse pelos estudos globais, urbanos ou rurais, sobre 
a paisagem, enfim, pela cultura material. Começou a emergir 
reflexões sobre os motivos das ausências de documentos, 
possibilitando o estudo de temas silenciados como feitiçaria, 
loucura, festas, literatura popular, camponeses, etc. Antes os 
Manuscrito sergipano do século XIX. Era 
a fonte ideal para a maioria dos historia-
dores da época.
Fonte:http://www.tjse.jus.br
3 Fustel de Coulanges 
– historiador francês do 
século XIX. Autor de “A 
história antiga”.
38 Introdução ao Estudo Histórico
historiadores davam maior atençãoà 
história política, destacando os feitos 
dos “grandes” homens.
O fazer histórico se modificou 
profundamente. Contra a ideia de uma 
verdade histórica, insurge-se Paul Veyne4 
dizendo que fazer história é questionar 
o conhecimento produzido, ou seja, é reavaliar o que foi escrito 
pelas gerações anteriores, sabendo identificar as crenças, as 
visões de mundo, as opções políticas etc., impregnadas nesses 
textos.
O método da crítica documental interna e externa (este as-
sunto será detalhado no tema “O século da História), inaugura-
do no século XIX, sofreu alterações. A crítica externa que visa-
va saber se o documento era verdadeiro ou falso, tomou outro 
sentido, porque o documento falso passou a ser considerado 
também como histórico, por informar sobre a época e as razões 
da sua falsificação. A crítica interna que procurava a autoria, a 
sinceridade e a exatidão do documento, passou a preocupar-se 
com o contexto de produção dos documentos. Como nenhum 
documento é inocente, na crítica do documento o pesquisador 
desmistifica o documento, ou seja, analisa o momento e a pessoa 
que produziu.
História da história
Até tomar a configuração que tem hoje, o fazer histórico 
passou por várias transformações. Desde o seu nascimento na 
Grécia Antiga com Heródoto, passando pela época medieval e 
moderna, muitos foram os avanços e recuos.
4 Paul Veyne - historia-
dor da segunda metade 
do século XX. Funda-
menta-se na psicologia, 
sociologia e na antropo-
logia.
Tema I | História: trajetória e defi nições 39
Heródoto5, que viveu no século 
V a.C., é considerado o pai da Histó-
ria porque fundamentava seu trabalho 
nos testemunhos (hoje diríamos fon-
tes). Utilizava o testemunho pessoal, 
registrando o que via e ouvia em suas 
viagens. Era um método que dava 
conta do passado recente. Tucídides6, 
outro historiador da época, falava da 
necessidade de fazer a crítica dos tes-
temunhos (não acreditar cegamente 
nos relatos dos depoentes). É acusado, 
inclusive, de alterar os depoimentos 
para adequar ao que ele considerava 
correto. O pensador antigo Políbio7 agregou outras contribuições 
à História com suas investigações das causas, a proposta de uma 
história geral, sintética e comparativa. Políbio fazia uma história 
que buscava a verdade. Concebida como “mestra da vida”, servia 
para os homens não repetirem os erros de seus antepassados.
Os primeiros cristãos dos séculos IV ao VI, também deram 
algumas contribuições à História. Entre elas, o enquadramento 
cronológico (a divisão em períodos) e a citação fiel dos docu-
mentos, com o intuito de não alterar os documentos. Durante a 
Idade Média, apesar de diminuir o interesse pela produção e o 
ensino da História, continuou o esforço histórico representado 
pelo acúmulo e preservação de documentos nas igrejas e mos-
teiros, obra dos monges copistas. Graças aos homens medievais 
temos preservados documentos e obras da Antiguidade.
5 Heródoto – 484 -420 
a.C., historiador grego 
considerado o pai da 
história.
6 Tucídides – historiador 
grego nascido em 455 
a.C.? Autor de História da 
guerra do Peloponeso.
7 Políbio – historiador 
grego já sob o domínio 
romano.
40 Introdução ao Estudo Histórico
A partir do Renascimento a História ganha novas con-
cepções e técnicas como a crítica dos documentos com aju-
da da filologia, a laicização (abordando temas não religiosos), 
a eliminação de mitos e lendas. Começa a haver uma relação 
entre história e erudição. Os “eruditos” eram especialistas em 
antiguidades. As antiguidades eram os objetos da cultura ma-
terial pertencentes ao mundo antigo, considerados importantes 
para se conhecer a época. Essa prática foi importante porque 
dos utensílios também se extraíam informações para o conhe-
cimento das sociedades passadas. No caso dos períodos sem 
escrita (proto-história) foi um avanço significativo. História e 
erudição caminhavam separadas, quando se encontraram hou-
ve um avanço no conhecimento do mundo antigo e medieval.
As inovações persistiram. Entre os séculos XV e XVI, surge 
a história profana, sem fábulas e sem aspectos sobrenaturais; 
estudos eruditos sobre numismática, filologia (línguas mortas), 
dicionários e a noção de século. No século XVII assistimos ao 
Monge copista. Era o responsável pelo ensino medieval e 
pela preservação dos livros.
Fonte: http://www.pedagogiaespirita.org
Tema I | História: trajetória e defi nições 41
avanço da erudição e certo eclipse 
da História. Os monges bolandistas8, 
nessa época, aprimoram a crítica de 
documentos (diplomas) para identificar 
sua veracidade ou falsidade. Durante o 
século XVIII predomina o Racionalismo 
filosófico com Voltaire, dando origem a uma filosofia da história 
com explicação racional dos acontecimentos. As ideias da época 
rejeitam a Providência (Deus como motor da História) e a procu-
ra de causas naturais. A História passou a ser estendida a todos 
os aspectos da sociedade e a todas as civilizações. Aparecem na 
França as primeiras instituições (arquivos e museus) dedicadas ao 
passado.
Até o século XIX a História acumulou estas contribuições. 
Neste século ocorreu a atualização e a difusão da crítica docu-
mental entre historiadores, antes utilizada apenas por eruditas. 
Deu-se também ênfase no ensino universitário e nas publica-
ções, na criação de arquivos nacionais e de revistas nacionais 
de história em várias nações europeias. Neste cenário, a Prússia 
(hoje Alemanha) se destacou com a instalação do ensino de his-
tória nas universidades, com a criação de institutos de pesquisa 
e com a publicação de coleções de documentos.
8 Monges bolandistas 
– religiosos da França 
especializados em 
estudar a vida dos 
santos.
42 Introdução ao Estudo Histórico
Texto Complementar
A MENTALIDADE HISTÓRICA: OS HOMENS E O PASSADO
Anteriormente citei alguns exemplos do modo como os 
homens constroem e reconstroem o seu passado. É, em geral, 
o lugar que o passado ocupa nas sociedades o que aqui me inte-
ressa. Adoto, neste ensaio, a expressão ‘cultura histórica’, usada 
por Bernard Guenée (1980). Sob este termo, Guenée reúne a ba-
gagem profissional do historiador, sua biblioteca de obras histó-
ricas, o público e a audiência dos historiadores. Acrescento-lhes 
a relação que uma sociedade, na sua psicologia coletiva, mantém 
com o passado. Minha concepção não está muito afastada da-
quilo a que os anglo-saxônicos chamam historical mindedness. 
Conheço os riscos desta reflexão: considerar unidade uma reali-
dade complexa e estruturada em classes ou, pelo menos, em ca-
tegorias sociais distintas por seus interesses e cultura, ou supor 
um ‘espírito do tempo’ (Zeitgeist), isto é, um inconsciente coleti-
vo, o que são abstrações perigosas. No entanto, os inquéritos e 
os questionários usados nas sociedades ‘desenvolvidas’ de hoje 
mostram que é possível abordar os sentimentos da opinião pú-
blica de um país a respeito de seu passado, assim como sobre 
outros fenômenos e problemas (cf. Lecuir, 1981).
Como estes inquéritos são impossíveis no que se refere ao 
passado, esforçar-me-ei por caracterizar – sem dissimular o as-
pecto arbitrário e simplificador deste procedimento – a atitude 
dominante de algumas sociedades históricas perante seu pas-
sado e sua história. Considerarei os historiadores os principais 
interpretes da opinião coletiva, procurando distinguir suas idéias 
pessoais da mentalidade coletiva. Sei bem que ainda continuo a 
confundir passado com história na memória coletiva. Devo, pois, 
dar algumas explicações suplementares que tornam mais preci-
sas as minhas idéias sobre a história.
Tema I | História: trajetória e defi nições 43
A história da história não se deve preocupar apenas com 
a produção histórica profissional, mas com todo um conjunto 
de fenômenos que constituem a cultura histórica, ou melhor, a 
mentalidade histórica de uma época. Um estudo dos manuais es-
colaresde história é um aspecto privilegiado, mas esses manuais 
praticamente só passam a existir depois do século XIX. O estudo 
da literatura e da arte pode esclarecer este ponto. O lugar que 
Carlos Magno ocupa nas canções de gesta, o nascimento do ro-
mance no século XII e o fato de ter assumido a forma de roman-
ce histórico (argumento antigo, cf. Nouvelle Revue Française, nº 
238, Le Roman Historique, 1972), a importância das obras históri-
cas no teatro de Shakespeare (Driver, 1960) são testemunhas do 
gosto de algumas sociedade históricas por seu passado. Integra-
do numa recente exposição de um grande pintor do século XV, 
Jean Fouquet, Nicole Reynaud mostrou (1981) como, a par do 
interesse pela história antiga, sinal do Renascimento (miniaturas 
da Antiquités judaiques, da Histoire ancienne, de Tite-Live), Fou-
quet manifesta um gosto acentuado pela história moderna (Heu-
res de Étienne Chevalier, Tapisserie de Tormisuy, Grandes Chro-
niques de France etc.). dever-se-ia acrescentar-lhes o estudo dos 
nomes próprios, dos guias de peregrinos e turistas, das inscri-
ções, da literatura de divulgação, dos monumentos etc. Marc 
Ferro (1977) mostrou como o cinema acrescentou à história uma 
nova fonte fundamental: o filme torna claro, aliás, que o cinema 
é ‘agente e fonte da história’. Isto é verdadeiro para o conjunto 
da media, o que bastaria para explicar que a relação dos homens 
com a história conhece, como a media moderna (comunicação 
de massa, cinema, radio, televisão), um avanço considerável. É 
este alargamento da noção de história (no sentido de historiogra-
fia) que santo Mazzarino defendeu no grande estudo Il pensiero 
storico clássico (1966).
Fonte: LE GOFF, J. História e memória. 5. ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2003. p. 47-49.
44 Introdução ao Estudo Histórico
Para Refletir
• O que significa dizer que a História é um conhecimento 
subjetivo?
• Qual foi a contribuição de Heródoto, Tucídides e Políbio 
para o nascimento do ofício do historiador?
• O fazer histórico conheceu várias transformações, quais 
delas ocorreram durante a época Iluminista (século 
XVIII)?
• No século XIX a História conheceu um aprimoramento 
significativo, discuta uma das novidades deste período:
RESUMO DO TEMA I
Até aqui tratamos de algumas questões iniciais da histó-
ria. Falamos do método histórico inventado por Heródoto na 
Antiguidade, que fala na história como investigação e desta-
ca a importância dos testemunhos que viram ou ouviram os 
acontecimentos. Frisamos os procedimentos do historiador 
com a observação direta e indireta do passado, destacando 
que os vestígios por ele investigados sempre lhe dão o aces-
so direto ao passado. A respeito da relação entre passado e 
presente, aprendemos que ambos se influenciam e que as 
questões do presente são indispensáveis para interrogarmos 
o passado. Metodologicamente não é a investigação das ori-
gens que deve motivar o pesquisador. Para entendermos as 
transformações vivenciadas pela ciência histórica, vimos os 
avanços e os recuos que a história teve ao longo dos séculos.

Continue navegando